a debil cesario verde
Post on 27-Jun-2015
11.644 Views
Preview:
DESCRIPTION
TRANSCRIPT
“A Débil”
Português2012/2013
Cesário Verde
Eu, que sou feio, sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,Nesta Babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorreste um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.
A Débil
« Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez que o não suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça;
Uma turba ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias dum monarca.
A Débil
Adorável! Tu, muito natural,Seguias a pensar no teu bordado;Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.
Sorriam, nos seus trens, os titulares;E ao claro sol, guardava-te, no entanto,
A tua boa mãe, que te ama tanto,Que não te morrerá sem te casares!
Soberbo dia! Impunha –me respeitoA limpidez do teu semblante grego;E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar sobre o teu peito.
A Débil
Com elegância e sem ostentação,Atravessavas branca, esbelta e fina,Uma chusma de padres de batina,E de altos funcionários da nação.
«Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!»De repente, paraste, embaraçada
Ao pé dum numeroso ajuntamento.
A Débil
E eu, que urdia estes fáceis esbocetos,Julguei ver, com a vista de poeta,Uma pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.
E foi, então, que eu, homem varonil,Quis dedicar-te a minha pobre vida,A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
A Débil
Este poema, redigido em 1875, aborda um dos elementos mais
comuns nas obras de Cesário Verde, a figura feminina.
Porém, neste poema em particular, a figura feminina retratada
contrasta com a típica mulher provocante e deslumbrante.
Assim, o poema “A Débil” representa uma
mulher que sobressai no meio citadino,
não pela sua excentricidade, mas pela
sua pureza e simplicidade.
Assunto
A mulher
O sujeito lírico serve-se de um conjunto de
termos para caracterizar esta típica mulher:
"frágil, assustada, recatada, honesta, fraca,
natural, dócil, recolhida", remetendo para a
sua caracterização psicológica.
Já os vocábulos "loura, de corpo alegre e
brando, cintura estreita, adorável, com
elegância e sem ostentação, esbelta e fina,
ténue" remetem para o seu aspeto físico.
A mulherEste poema põe em relevo uma figura feminina que escapa à
típica mulher citadina, a mulher que surge no espaço rural.
O retrato da figura feminina está associado à mulher do campo
que se movimenta num espaço que lhe é estranho. Assim, esta sente-
se perdida, necessitando de proteção masculina pois sente-se
desnorteada num espaço que não está adequado à sua fragilidade.
Vs
EspaçoO sujeito poético caracteriza os espaços citadinos de forma
negativa.
Nestes espaços movimentam-se figuras sórdidas, que ele
caracteriza por “turba ruidosa, negra" e por " uma chusma de
padres de batina". Tal permite destacar a fragilidade da jovem, que
torna estes locais mais brilhantes e atrativos.
Com o intuito de evidenciar o contraste entre o espaço e a jovem
senhora, o sujeito poético faz referência à agitação e à confusão que
predominam na cidade, onde sobressaem as diferentes classes
sociais.
Linguagem
Cesário Verde utiliza um vocabulário preciso e exato, e as suas
descrições dão-nos uma visão perfeita da realidade. Além disso,
imprime objetividade ao conteúdo, afastando-se do lirismo
romântico.
O poema está cheio de referências à realidade social, onde se
perceciona a crítica e a ironia de que Cesário Verde se serve e
que refletem o seu caráter subjetivo.
LinguagemCesário Verde utiliza, ainda, quadras e versos decassilábicos
que permitem uma maior aproximação à prosa. As sonoridades
mais utilizadas no poema são as aliterações e o tipo de frase
predominante é o tipo declarativo.
Ao longo de todo o poema são visíveis vários exemplos de
adjetivação expressiva, o que reforça a forma como o sujeito
poético caracteriza as duas realidades presentes – o campo e a
cidade.O sujeito lírico dá bastante
importância ao imperfeito do indicativo
neste poema para indicar que o fascínio
que a “Débil” exerceu sobre ele é
durável e que perdura.
• Composto por 13 quadras;
•Métrica - versos decassilábicos;Ex.: “Eu, que sou fe io, só li do, le al ” •Rima - interpolada (ABBA);
Ex.: interpolada:“Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.”
Forma
B
A
BA
Eu, que sou feio, sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.
A Débil
Contraste:Ele é feio, ela é bela.Ele é sólido, ela é frágil.
Introdução
A Débil
Sentado à mesa dum café devasso*,Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,Nesta Babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorreste um miserável,Eu, que bebia cálices de absinto*,Mandei ir a garrafa, porque sintoQue me tornas prestante, bom,
saudável.
* Devasso: libertino, indivíduo desregrado, depravado;* Absinto: licor realizado com uma planta aromática
Ambiente degradante em oposição à “Débil”
Influência da “Débil” no sujeito lírico
Eu, que sou feio, sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorreste um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,Mandei ir a garrafa, porque sintoQue me tornas prestante, bom,
saudável.
A Débil - recursos de estilo
Adjetivação expressiva/enumeração
Metáfora
Dupla adjetivação
Hipálage
Adjetivação expressiva / enumeração
Hipérbole
A Débil
« Ela aí vem!» disse eu para os demais;e pus-me a olhar, vexado* e suspirando,o teu corpo que pulsa, alegre e brando,
na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;E invejava, - talvez que o não suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,Nessa cintura tenra, imaculada.
Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça;Uma turba* ruidosa, negra, espessa,Voltava das exéquias* dum monarca.
Adjetivação dupla
Hipálage
Adjetivação expressiva / Enumeração
Sinestesia
* Vexado: humilhado*Turba: multidão*Exéquias: orações
Hipérbato / Inversão
Adorável! Tu, muito natural,Seguias a pensar no teu bordado;Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.
Sorriam, nos seus trens, os titulares;
E ao claro sol, guardava-te, no entanto,A tua boa mãe, que te ama tanto,
Que não te morrerá sem te casares!
A DébilExaltação
Distinção a vida no campo e a realidade da cidade.
Realce da fragilidade e inocência da “Débil
Titulares=Predadores reforço da vulnerabilidade da “Débil” face à cidadeNova distinção
entre a “Débil” e as mulheres da cidade
A Débil
Soberbo dia! Impunha-me respeitoA limpidez do teu semblante grego;E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar sobre o teu peito.
Experimentação do amor libertador
Ver a “Débil” melhorou o dia do poeta
A perfeição da mulher impõe respeito ao poeta.
Inicio da passagem do real para o irreal.
Adorável! Tu, muito natural,Seguias a pensar no teu bordado;Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.
Sorriam, nos seus trens, os titulares;E ao claro sol, guardava-te, no entanto,
A tua boa mãe, que te ama tanto,Que não te morrerá sem te casares!
Soberbo dia! Impunha-me respeitoA limpidez do teu semblante grego;E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar sobre o teu peito.
A Débil - recursos de estilo
Metáfora
Hipérbato / Inversão
Com elegância e sem ostentação,Atravessavas branca, esbelta e fina,Uma chusma* de padres de batina*,
E de altos funcionários da nação.
«Mas se a atropela o povo turbulento!Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, paraste, embaraçadaAo pé dum numeroso ajuntamento.
A Débil
* Chusma: multidão* Batina: vestido usado pelos eclesiásticos
Vícios negros da cidade
A atitude do sujeito
poético transfigura-
se nesta quadra e nas
seguintes
Descrição da agitação da cidade
Com elegância e sem ostentação,Atravessavas branca, esbelta e fina,Uma chusma* de padres de batina*,
E de altos funcionários da nação.
«Mas se a atropela o povo turbulento!Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, paraste, embaraçadaAo pé dum numeroso ajuntamento.
* Chusma: multidão* Batina: vestido usado pelos eclesiásticos
Adjetivação expressiva / Enumeração
A Débil - recursos de estilo
E eu, que urdia* estes fáceis esbocetos*,Julguei ver, com a vista de poeta,Uma pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.
E foi, então, que eu, homem varonil*,Quis dedicar-te a minha pobre vida,A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
A Débil
Conclusão(3ª Parte)
Cidade ameaça o campo, que é frágil
* Urdir: tecer; preparar ardilosamente; tramar;* Esbocetos: pequeno desenho para estudo de obras em ponto grande;* Varonil: viril, másculo
Fim da 2ª Parte -
Descrição
Parte da objetividade para a subjetividade
Corvos – simbolizam os padres. Os padres ameaçam a pureza.
Sentimento amoroso em relação à “Débil”
Contradição com o 1º verso: “Eu, que sou feio, sólido e leal”. Agora, o poeta está influenciado pelos valores do campo.
E eu, que urdia* estes fáceis esbocetos*,Julguei ver, com a vista de poeta,Uma pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.
E foi, então, que eu, homem varonil*,Quis dedicar-te a minha pobre vida,A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
* Urdir: tecer; preparar ardilosamente; tramar;* Esbocetos: pequeno desenho para estudo de obras em ponto grande;* Varonil: viril, másculo
Antítese metafórica
Antítese
A Débil - recursos de estilo
Bibliografia
• http://www.slideboom.com/presentations/242178/debil
• http://mym-pt.blogspot.pt/2011/09/debil-cesario-verde.html
•
• http://www.slideboom.com/presentations/242178/debil
• http://mym-pt.blogspot.pt/2011/09/debil-cesario-verde.html
• GUERRA, J.; VIEIRA, J. – “Aula Viva” - Porto Editora, Porto, 2001
top related