a debil cesario verde

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“A Débil” Português 2012/2013 Cesário Verde

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a débil, cesário verde, interpretação do poema e recursos de estilo

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Page 1: A debil cesario verde

“A Débil”

Português2012/2013

Cesário Verde

Page 2: A debil cesario verde

Eu, que sou feio, sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.

 Sentado à mesa dum café devasso,

Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,Nesta Babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.

 E, quando socorreste um miserável,

Eu, que bebia cálices de absinto,Mandei ir a garrafa, porque sinto

Que me tornas prestante, bom, saudável. 

 

A Débil

Page 3: A debil cesario verde

« Ela aí vem!» disse eu para os demais;

E pus-me a olhar, vexado e suspirando,

O teu corpo que pulsa, alegre e brando,

Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;

E invejava, - talvez que o não suspeites! -

Esse vestido simples, sem enfeites,

Nessa cintura tenra, imaculada.

 

Ia passando, a quatro, o patriarca.

Triste eu saí. Doía-me a cabeça;

Uma turba ruidosa, negra, espessa,

Voltava das exéquias dum monarca.

 

A Débil

Page 4: A debil cesario verde

Adorável! Tu, muito natural,Seguias a pensar no teu bordado;Avultava, num largo arborizado,

Uma estátua de rei num pedestal. 

Sorriam, nos seus trens, os titulares;E ao claro sol, guardava-te, no entanto,

A tua boa mãe, que te ama tanto,Que não te morrerá sem te casares!

Soberbo dia! Impunha –me respeitoA limpidez do teu semblante grego;E uma família, um ninho de sossego,

Desejava beijar sobre o teu peito. 

A Débil

Page 5: A debil cesario verde

Com elegância e sem ostentação,Atravessavas branca, esbelta e fina,Uma chusma de padres de batina,E de altos funcionários da nação.

 «Mas se a atropela o povo turbulento!

Se fosse, por acaso, ali pisada!»De repente, paraste, embaraçada

Ao pé dum numeroso ajuntamento.

A Débil

Page 6: A debil cesario verde

E eu, que urdia estes fáceis esbocetos,Julguei ver, com a vista de poeta,Uma pombinha tímida e quieta

Num bando ameaçador de corvos pretos. 

E foi, então, que eu, homem varonil,Quis dedicar-te a minha pobre vida,A ti, que és ténue, dócil, recolhida,

Eu, que sou hábil, prático, viril.

A Débil

Page 7: A debil cesario verde

Este poema, redigido em 1875, aborda um dos elementos mais

comuns nas obras de Cesário Verde, a figura feminina.

Porém, neste poema em particular, a figura feminina retratada

contrasta com a típica mulher provocante e deslumbrante.

Assim, o poema “A Débil” representa uma

mulher que sobressai no meio citadino,

não pela sua excentricidade, mas pela

sua pureza e simplicidade.

Assunto

Page 8: A debil cesario verde

A mulher

O sujeito lírico serve-se de um conjunto de

termos para caracterizar esta típica mulher:

"frágil, assustada, recatada, honesta, fraca,

natural, dócil, recolhida", remetendo para a

sua caracterização psicológica.

Já os vocábulos "loura, de corpo alegre e

brando, cintura estreita, adorável, com

elegância e sem ostentação, esbelta e fina,

ténue" remetem para o seu aspeto físico.

Page 9: A debil cesario verde

A mulherEste poema põe em relevo uma figura feminina que escapa à

típica mulher citadina, a mulher que surge no espaço rural.

O retrato da figura feminina está associado à mulher do campo

que se movimenta num espaço que lhe é estranho. Assim, esta sente-

se perdida, necessitando de proteção masculina pois sente-se

desnorteada num espaço que não está adequado à sua fragilidade.

Vs

Page 10: A debil cesario verde

EspaçoO sujeito poético caracteriza os espaços citadinos de forma

negativa.

Nestes espaços movimentam-se figuras sórdidas, que ele

caracteriza por “turba ruidosa, negra" e por " uma chusma de

padres de batina". Tal permite destacar a fragilidade da jovem, que

torna estes locais mais brilhantes e atrativos.

Com o intuito de evidenciar o contraste entre o espaço e a jovem

senhora, o sujeito poético faz referência à agitação e à confusão que

predominam na cidade, onde sobressaem as diferentes classes

sociais.

Page 11: A debil cesario verde

Linguagem

Cesário Verde utiliza um vocabulário preciso e exato, e as suas

descrições dão-nos uma visão perfeita da realidade. Além disso,

imprime objetividade ao conteúdo, afastando-se do lirismo

romântico.

O poema está cheio de referências à realidade social, onde se

perceciona a crítica e a ironia de que Cesário Verde se serve e

que refletem o seu caráter subjetivo.

Page 12: A debil cesario verde

LinguagemCesário Verde utiliza, ainda, quadras e versos decassilábicos

que permitem uma maior aproximação à prosa. As sonoridades

mais utilizadas no poema são as aliterações e o tipo de frase

predominante é o tipo declarativo.

Ao longo de todo o poema são visíveis vários exemplos de

adjetivação expressiva, o que reforça a forma como o sujeito

poético caracteriza as duas realidades presentes – o campo e a

cidade.O sujeito lírico dá bastante

importância ao imperfeito do indicativo

neste poema para indicar que o fascínio

que a “Débil” exerceu sobre ele é

durável e que perdura.

Page 13: A debil cesario verde

• Composto por 13 quadras;

•Métrica - versos decassilábicos;Ex.: “Eu, que sou fe io, só li do, le al ” •Rima - interpolada (ABBA);

Ex.: interpolada:“Eu, que sou feio, sólido, leal,

A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatada

Numa existência honesta, de cristal.”

Forma

B

A

BA

Page 14: A debil cesario verde

Eu, que sou feio, sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.

  

 

A Débil

Contraste:Ele é feio, ela é bela.Ele é sólido, ela é frágil.

Introdução

Page 15: A debil cesario verde

A Débil

Sentado à mesa dum café devasso*,Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,Nesta Babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorreste um miserável,Eu, que bebia cálices de absinto*,Mandei ir a garrafa, porque sintoQue me tornas prestante, bom,

saudável.

* Devasso: libertino, indivíduo desregrado, depravado;* Absinto: licor realizado com uma planta aromática

Ambiente degradante em oposição à “Débil”

Influência da “Débil” no sujeito lírico

Page 16: A debil cesario verde

Eu, que sou feio, sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.

 Sentado à mesa dum café devasso,

Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,

Nesta Babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.

 E, quando socorreste um miserável,

Eu, que bebia cálices de absinto,Mandei ir a garrafa, porque sintoQue me tornas prestante, bom,

saudável. 

 

A Débil - recursos de estilo

Adjetivação expressiva/enumeração

Metáfora

Dupla adjetivação

Hipálage

Adjetivação expressiva / enumeração

Hipérbole

Page 17: A debil cesario verde

A Débil

« Ela aí vem!» disse eu para os demais;e pus-me a olhar, vexado* e suspirando,o teu corpo que pulsa, alegre e brando,

na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;E invejava, - talvez que o não suspeites! -

Esse vestido simples, sem enfeites,Nessa cintura tenra, imaculada.

 Ia passando, a quatro, o patriarca.

Triste eu saí. Doía-me a cabeça;Uma turba* ruidosa, negra, espessa,Voltava das exéquias* dum monarca.

 

Adjetivação dupla

Hipálage

Adjetivação expressiva / Enumeração

Sinestesia

* Vexado: humilhado*Turba: multidão*Exéquias: orações

Hipérbato / Inversão

Page 18: A debil cesario verde

Adorável! Tu, muito natural,Seguias a pensar no teu bordado;Avultava, num largo arborizado,

Uma estátua de rei num pedestal.

 Sorriam, nos seus trens, os titulares;

E ao claro sol, guardava-te, no entanto,A tua boa mãe, que te ama tanto,

Que não te morrerá sem te casares!

 

A DébilExaltação

Distinção a vida no campo e a realidade da cidade.

Realce da fragilidade e inocência da “Débil

Titulares=Predadores reforço da vulnerabilidade da “Débil” face à cidadeNova distinção

entre a “Débil” e as mulheres da cidade

Page 19: A debil cesario verde

A Débil

Soberbo dia! Impunha-me respeitoA limpidez do teu semblante grego;E uma família, um ninho de sossego,

Desejava beijar sobre o teu peito.

Experimentação do amor libertador

Ver a “Débil” melhorou o dia do poeta

A perfeição da mulher impõe respeito ao poeta.

Inicio da passagem do real para o irreal.

Page 20: A debil cesario verde

Adorável! Tu, muito natural,Seguias a pensar no teu bordado;Avultava, num largo arborizado,

Uma estátua de rei num pedestal. 

Sorriam, nos seus trens, os titulares;E ao claro sol, guardava-te, no entanto,

A tua boa mãe, que te ama tanto,Que não te morrerá sem te casares!

Soberbo dia! Impunha-me respeitoA limpidez do teu semblante grego;E uma família, um ninho de sossego,

Desejava beijar sobre o teu peito. 

A Débil - recursos de estilo

Metáfora

Hipérbato / Inversão

Page 21: A debil cesario verde

Com elegância e sem ostentação,Atravessavas branca, esbelta e fina,Uma chusma* de padres de batina*,

E de altos funcionários da nação. 

«Mas se a atropela o povo turbulento!Se fosse, por acaso, ali pisada!»

De repente, paraste, embaraçadaAo pé dum numeroso ajuntamento.

A Débil

* Chusma: multidão* Batina: vestido usado pelos eclesiásticos

Vícios negros da cidade

A atitude do sujeito

poético transfigura-

se nesta quadra e nas

seguintes

Descrição da agitação da cidade

Page 22: A debil cesario verde

Com elegância e sem ostentação,Atravessavas branca, esbelta e fina,Uma chusma* de padres de batina*,

E de altos funcionários da nação. 

«Mas se a atropela o povo turbulento!Se fosse, por acaso, ali pisada!»

De repente, paraste, embaraçadaAo pé dum numeroso ajuntamento.

* Chusma: multidão* Batina: vestido usado pelos eclesiásticos

Adjetivação expressiva / Enumeração

A Débil - recursos de estilo

Page 23: A debil cesario verde

E eu, que urdia* estes fáceis esbocetos*,Julguei ver, com a vista de poeta,Uma pombinha tímida e quieta

Num bando ameaçador de corvos pretos. 

E foi, então, que eu, homem varonil*,Quis dedicar-te a minha pobre vida,A ti, que és ténue, dócil, recolhida,

Eu, que sou hábil, prático, viril.

A Débil

Conclusão(3ª Parte)

Cidade ameaça o campo, que é frágil

* Urdir: tecer; preparar ardilosamente; tramar;* Esbocetos: pequeno desenho para estudo de obras em ponto grande;* Varonil: viril, másculo

Fim da 2ª Parte -

Descrição

Parte da objetividade para a subjetividade

Corvos – simbolizam os padres. Os padres ameaçam a pureza.

Sentimento amoroso em relação à “Débil”

Contradição com o 1º verso: “Eu, que sou feio, sólido e leal”. Agora, o poeta está influenciado pelos valores do campo.

Page 24: A debil cesario verde

E eu, que urdia* estes fáceis esbocetos*,Julguei ver, com a vista de poeta,Uma pombinha tímida e quieta

Num bando ameaçador de corvos pretos. 

E foi, então, que eu, homem varonil*,Quis dedicar-te a minha pobre vida,A ti, que és ténue, dócil, recolhida,

Eu, que sou hábil, prático, viril.

* Urdir: tecer; preparar ardilosamente; tramar;* Esbocetos: pequeno desenho para estudo de obras em ponto grande;* Varonil: viril, másculo

Antítese metafórica

Antítese

A Débil - recursos de estilo

Page 25: A debil cesario verde

Bibliografia

• http://www.slideboom.com/presentations/242178/debil

• http://mym-pt.blogspot.pt/2011/09/debil-cesario-verde.html

• http://www.slideboom.com/presentations/242178/debil

• http://mym-pt.blogspot.pt/2011/09/debil-cesario-verde.html

• GUERRA, J.; VIEIRA, J. – “Aula Viva” - Porto Editora, Porto, 2001