3- resenha_de um livro _martelotta
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8/18/2019 3- Resenha_de Um Livro _Martelotta
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Linguagem & Ensino, Pelotas, v.11, n.2, p.505-528, jul./dez. 2008
Introduçãotexto,apresentaçdo tema dolivro e aquem sedestina,identificaçda naturezda obra – científica(Manual);
Descrição capítulo,seguida decrítica(sublinhad
Identificaçda obra e dresenhista
Identificaçãda correnteteórica à qos autoresfiliam
Apontamende lacuna dobra
MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Manual de l in güísti ca . São Paulo:Contexto, 2008. 254p.
Resenhado por Valesca Brasil Irala
A década vigente parece indicar uma fértil popularização de temas epublicações que se propõem a introduzir aos não-iniciados (alunos de
graduação de Letras, Comunicação ou outros da área de Humanas)temáticas próprias do campo da Lingüística. Nesse sentido, diferenteseditoras têm firmado seu nicho em apresentar aos seus leitores potenciaisobras que se asseguram da pretensão de se tornarem verdadeiros“manuais” para disciplinas universitárias, especialmente em nível degraduação.
A seguir, pretendo discorrer sobre uma dessas obras, realizando aminha leitura em duas direções: simulando, em primeiro lugar, a vivência deum não-iniciado a esse tipo de texto e a segunda, na posição que “me cabeneste latifúndio” – que são os estudos da linguagem – problematizaralgumas opções lingüístico-teórico-terminológicas que povoam o referidomanual.
O capítulo inicial, intitulado Lingüística sugere um passeio porconceituações basilares para o entendimento do campo e sua relação comáreas correlatas; entretanto, parece indicar uma posição bastantegeneralista para explicar o conjunto de procedimentos adotados pelasdiversas abordagens lingüísticas, partindo de conceituações confusas esuperficiais para noções sobre “língua” e “linguagem”, por exemplo. Talposição não-problematizadora incide explicitamente pelo usoindiscriminado de expressões como “o lingüista”, “os lingüistas”, “aLingüística” e não “alguns lingüistas” ou “algumas correntes daLingüística/dos estudos da linguagem”.
Ao mesmo tempo em que os autores registram uma intenção deimparcialidade na apresentação dos temas da área (p.16), algumas páginasdepois (p.21) referem-se à faculdade da linguagem em termos de seusuposto caráter inato e universal, associando-se, assim, a uma visãogerativista sobre o assunto. A vagueza utilizada para contraporLingüística e gramática tradicional também chama a atenção: essa é tratadacomo “estranha” e “alheia” aos lingüistas (p.25). Tais termos, poucoelucidativos, não dão conta de colaborar para um contraponto substancialentre as duas áreas, principalmente levando em conta que o leitor potencial
do manual está fortemente atrelado a uma visão gramatiqueira sobre asquestões de língua, as quais, em última análise, um manual dessa naturezapretende reverter. Ainda no mesmo capítulo, os autores fazem luz àLingüística Aplicada (LA), situando-a no escopo de uma espécie de“aplicação da lingüística” e de outras áreas. Nesses termos, recentes (ounão tão recentes) discussões sobre o tema são ignoradas, entre elas,aquela que desmistifica a LA como mera aplicação de teorias lingüísticas.
O capítulo seguinte, Funções da linguagem, apesar de referenciarHalliday como um dos pesquisadores mais atuais sobre o tema, dedica as
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Destaquede méritoda obra
Descriçãodoconteúdo
Ratificaçãonatureza dobra ; Lacuda obra =“apagamen
Impressãogeral daobra
Crítica à obconsideranao que ela propõe;
Ressalta a
quem a obé dirigida /recomendação comrestrições(posicionamento
justificado
cinco páginas do capítulo a abordá-lo apenas apresentando as já superadasfunções da linguagem de Jakobson. [...]
Na seqüência, aparece um capítulo denominado Conceitos de gramática(um dos mais longos da obra, com mais de vinte páginas), o qual trata deexpor as concepções tradicional, histórico-comparativa, estrutural, gerativa ecognitivo-funcional de gramática, situando as duas últimas como astendências “atuais” da área. Um ponto forte no capítulo é quando o autor
afirma/questiona: “em lingüística, a intenção ou o propósito não podem serdetectados. Como podemos dizer, como toda certeza, o que o falanteexatamente pretende com a sua fala?” (p.67; grifos do autor). A temática da“intenção do falante” é sintomática na formação dos alunos que têm chegadoà universidade, normalmente inseridos em uma tradição interpretativista deensino basicamente calcada nesse pressuposto. Por si só, a problematizaçãodessa questão valoriza o capítulo como um dos mais sedutores da obra. [...]
A Sociolingüística é tratada em um capítulo de pouco mais de dezpáginas, onde a sociolingüística variacionista é a única contemplada,deixando de lado (até mesmo de ser mencionada) a sociolingüísticainteracional, área também consolidada nos estudos da linguagem. Comouma obra introdutória, “apagamentos” dessa natureza acabam sendoproblemáticos, pois mesmo que não haja desenvolvimento na explicação dealgumas subáreas, caberia ao menos que elas fossem mencionadas,evitando que o aluno iniciante tenha o entendimento equivocado de que aúnica sociolingüística existente é a de vertente variacionista. [...]
A obra é marcada por um conjunto de ausências (dedicar umcapítulo à Psicolingüística Experimental e nenhum às diferentes teoriasdiscursivas, por exemplo) e principalmente de alguns equívocos: reduzir alingüística aplicada a um mero ramo da lingüística, minimizar a importânciadas discussões sobre o ensino no capítulo dedicado a esse tema e pulverizar
em capítulos diferentes, sem contextualização adequada, o estatuto dado aSaussure como grande nome para o advento da área.
Uma obra introdutória tem o dever de situar o leitor nos domínios eautores-referência que acompanham qualquer manual da área. Um iniciantepoderá vir a entender que Bloomfied e Lakoff, por exemplo, têm o mesmopeso no rol de avanços/proposições das teorias lingüísticas, o que não seriaminimamente desejado, pensando em uma primeira apropriação,caleidoscópica, é verdade, dos grandes temas da área.
Para os leitores iniciantes e para os professores de graduação quedesejam permitir aos alunos os primeiros mergulhos no mar da Lingüística,
recomendo a obra com restrições, pois uma leitura mais atenta – e crítica – de alguns capítulos poderá ajudar inclusive a fomentar discussõesacaloradas sobre as diferentes frentes em que a área têm atuado; entretanto,tentando “fugir” de leituras “resumidísticas”, é mais cabível – e às vezesnecessário – ler os fundamentos nos autores fundadores e não nosmanuais.
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OBSERVAÇÕES para exposição:
- A resenha é escrita por uma autora que tem conhecimento da obra e competência na matéria; doutoraem letras – prof. universitária, atuação em linguística aplicada (há revistas que publicam em nota de rodapéinformações sobre o resenhista);
- Linguagem clara e objetiva;- Não há espaço para conhecimentos jocosos ou sarcásticos.- Não apresenta informações do autor (área de atuação, características gerais do seu trabalho,
nacionalidade, formação acadêmica, títulos, cargos exercidos, outras obras publicadas); É bom para situar a
obra. - Forma de organização do texto: descrição/crítica simultaneamente; há quem prefira primeirodescrever para depois apresentar o juízo crítico;
- A resenha traz para a comunidade acadêmica discussão sobre um livro recém-publicado;- Crítica em destaque, muito mais do que a descrição da obra.- Não tem título (algumas têm).
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