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* HIPNOSE NOS ACIDENTADOS OE TRABALHO*

Dr. Orlandino Fonseca**

Esta explanação tem como f i n a l i d a d e expor aos colegas a nossa experiência com o emprego da hipnose nos acidentados de t r a b a l h o , como arma terapêutica e f e t i v a para a mais rápida recuperação e imediato r e t o r n o do p a c i e n t e ao seu l a b o r p r o f i s s i on-a 1 .

0 acidentado de t r a b a l h o c o n s t i t u i em nosso meio e, de um modo g e r a l , em toda p a r t e , um t i p o de p a c i e n t e e s p e c i a l , pouco d i s p o s t o a e s t a b e l e c e r com o médico um e l o de si m p a t i a e c o r d i a l i d a d e , p o i s que nele vê um preposto da companhia seguradora, com i n t e ­resses p r o f i s s i o n a i s e c o m e r c i a i s opostos aos seus. Por outro l a d o , também é verdade que, na m a i o r i a dos c a s o s , o médico nao vê nesses p a c i e n t e s senão a sua lesão, considerando-os Indivíduos que não colaboram em sua própria reabilitação e cuja demora na recuperação de c o r r e i n v a r i a v e l m e n t e de uma simulação. São t i d o s , quase sempre, como s i m u l a d o r e s . Hã pou co tempo tivemos oportunidade de operar uma s i n o v i t e t u b e r c u l o s a da bainha de tendão flê xor da m ã o , em p a c i e n t e que até então e s t i v e r a sob a s u s p e i t a de simulação. Não e x i s t e , a ? sim , a q u e l e b i n o m i o s a l u t a r , constituído pela confiança do p a c i e n t e em seu médico e pela Identificação deste com a pessoa humana do seu c l i e n t e , o que r e s u l t a em entendimento e a u x i l i o mútuo na l u t a c o n t r a a d o e n ç a .

0 emprego da hipnose nesse ramo e s p e c i a l i z a d o das a t l v i d a d e s medico-cirúrgicas coíistituiu para nosuma esplêndida experiência, pelos r e s u l t a d o s que foram c o l hidos .Cnei o que os r e s u l t a d o s nao poderiam s e r , de modo nenhum, desanimadores, pois a aplicação deste novo recurso terapêutico r e p r e s e n t a a reintegração daquele binómio a que nos referimos há pouco, determinando no p a c i e n t e a condição precípua para a c u r a : a confiança no médico e no processo de t r a t a m e n t o , demonstrando, por outro l a d o , que o f a c u l t a t i v o , ao lado dos seus conhecimentos científicos e s p e c i a l i z a d o s , de suas q u a l i d a d e s de inteligência, de competência p r o f i s s i o n a l , tem que ser um psicólogo, sendo, muitas v e z e s , mais importante compreender os doentes do que entender das doenças. Por Is s o mesmo i que o clínico espa­nhol JOSE LATAMENOE escreveu: "Aquele que só sabe m e d i c i n a , nem medicina sabe".

ARTHUR GUIRDHAN, médico britânico, no l i v r o i n t i t u l a d o "A Theory of D i s e a s e " , c l a s s i f i c a os a c i d e n t e s comuns e i n d u s t r i a i s como doenças de " s t r e s s " , sem dúvida devido a que, além da causa mecânica e f e t i v a , entram em jogo f a t o r e s f í s i c o s , fisiológicos e psi_ cológicos, que atuam como causas predisponentes ou propiciatórias..

Os estados de tensão e s p i r i t u a l e emocional o r i u n d o s de problemas de ordem pes soai ou f a m i l i a r , na m a i o r i a das v e z e s , mais raramente d e c o r r e n t e s de desajustamentos nõ próprio ambiente do t r a b a l h o , constituem um poderoso f a t o r predisponente para a ocorrên -c i a de a c i d e n t e s , pois impedem ou anulam o podei- de concentração sobre o t r a b a l h o e as m ã o s , o que é a mais importante característica de um sistema nervoso e f i c i e n t e e bem equi 1i brado.

P a r t i n d o destas p r e m i s s a s , chegamos ã consequência de que todo_acidentado de tra_ balho padece de um d e s a j u s t e psicológico, s e j a f a m i l i a r , s e j a sõcio-economico, s e j a pro­f i s s i o n a l , i n c l u s i v e exercendo uma função para a qual nao e s t e j a técnica e •ocacionalmen-te c a p a c i t a d o . Há, e n t ã o , necessidade de uma conduta por p a r t e do m é d i c o , visando ao rea­justamento psicológico do p a c i e n t e , sem o que, qualquer t e n t a t i v a será i m p r o d u t i v a . De nossa casuística, vamos r e l a t a r 3 casos i l u s t r a t i v o s .

19 CASO: - N.R.M., de 21 anos, de sexo f e m i n i n o , b r a n c a , c a s a d a , b r a s i l e i r a , da tilõgrafa. Ficha n9 1392-61 do Serviço de Acideptes de Trabalho da "Sul América" (a cargo da SEMEL)

No d i a 24-2-61 f o i a t i n g i d a peia pá de um v e n t i l a d o r , ao t e n t a r desligá-lo, no 29 dedo da mão d i r e i t o , havendo f e r i d a c o n t u s a , de mínima d i m e n s ã o , na falange d i s t a i . No d i a s e g u i n t e , reação d o l o r o s a exagerada ao toque, t i p o n e u r i t e c o l a t e r a l . R a d i o g r a f i a nor^ mal. Com o d e c o r r e r dos d i a s mais se acentuava o quadro d o l o r o s o da p a c i e n t e , que apresen tava o dedo i n t e i r a m e n t e hipersensível, não se podendo tocá-lo, mesmo de l e v e , o que prõ vocava uma reação t e a t r a l .

Tratamento p r o c e d i d o , sem r e s u l t a d o s , durante 12 d i a s : soro a n t i tetânico, a p l i ­cações de c a l o r ú m i d o , i n f r a v e r m e l h o , microonda, s a l l c i l a d o s e v i t a m i n a 81; bloqueio dos nervos c o l a t e r a i s com novocaína. Entramos em contato com a p a c i e n t e no d i a 9-3-61 e o qua ro era o mesmo acima d e s c r i t o . Informou a paciente que não podia d o r m i r , pois até o conta to do dedo com as roupas da cama era insuportável. Propus-lhe o tratamento pelo " r e l a x a -mento muscular", que f o i a c e i t o . Internada no mesmo d i a , houve indução hipnótica rápida. Foi f e i t a sugestão analgésica, palpação e mobilização do dedo sem d o r . Ainda em sono h i p ­nótico, a p a c i e n t e , r e v e l o u e s t a r em c o n f l i t o s e n t i m e n t a l : casada hã um ano e f i l h a única, de mae viúva, levou esta para morar em sua c a s a . Após alguns meses surgiram a t r i t o s sé -r i o s entre sogra e genro, que culminaram com a imposição deste de que a sogra se t r a n s f e ­r i s s e para outro d o m i c í l i o , o que realmente aconteceu um mês antes do a c i d e n t e s o f r i d o pe l a pac i en t e .

* - Trabalho apresentado nos I9s Congressos Pan Americano e B r a s i l e i r o de Hipno1og1 a,Rio de J a n e i r o , 16 a 22 de j u l h o de 1961.

** - Ex-Presidente da SBHM. Ex-Chefe do Serviço de Trãumato-ortopedia do H o s p i t a l da Cruz Vermelha B r a s i l e i r a (Rio de J a n e i r o )

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Foi f e i t a p s i c o t e r a p i a de a p o i o , em hipnose. No d i a s e g u i n t e nova sessão, já com a p a c i e n t e praticamente curada. A l t a .

2Ç CASO: - M.N.L., 28 anos, do sexo f e m i n i n o , b r a n c a , s o l t e i r a , doméstica. Pa­c i e n t e do H o s p i t a l da Cruz Vermelha B r a s i l e i r a , portadora de coto de amputação doloroso ao nível do terço s u p e r i o r da perna d i r e i t a , consequência de d e r a s t r e de caminhão o c o r r i ­do hã 7 meses, nao podendo f a z e r uso da prótese que lhe t i n h a sido concedida.O exame e v i ­denciou coto mau, com c i c a t r i z t e r m i n a l i r r e g u l a r , por segunda intenção , do 1oroso ã apalpa ção. _

Fof p r a t i c a d a intervenção cirúrgica: ressecção dos ramos nervosos que estavam aderentes 5 c i c a t r i z e extirpação de segmento ósseo do perónio. Plástica cutânea. C i c a t r i zação "per primam". Três meses a p ó s , adaptação de nova perna m e c â n i c a , que não podia ser u t i l i z a d a , p o i s permaneciam os mesmos sintomas a n t e r i o r e s . Foi submetida ao tratamento pe l a h i p n o s e . Remoção de condicionamentos a n t e r i o r e s . Sugestão analgésica. P s i c o t e r a p i a em hipnose. Número de sessões: 6. A l t a c u rada, com a paciente fazendo uso p e r f e i t o da prõte se para a marcha e, i n c l u s i v e , para a dança.

39 CASO: - C.V.Q., 27 anos, do sexo f e m i n i n o , b r a n c a , c a s a d a , b r a s i l e i r a , domes t i c a . F i c h a n9 96.561 do Serviço de Traumato-ortopedia do h o s p i t a l da Cruz Vermelha BrasT l e i r a .

Hã 2 anos, após uma queda, passou a s e n t i r dores no ombro esquerdo, despertadas sobretudo p e l o s movimentos de abdução do braço, que não u l t r a p a s s a v a de 120 graus. Acorda va várias v e z e s , durante a n o i t e , em consequência da dor. A palpação dos elementos t e n d i -nosose 1igamentares do ombro afetado nada rev e l o u de anormal. Ausência de edema ou rea­ção Jínovial. A p a c i e n t e , e n t r e t a n t o , r e f e r i a dor ã pressão, sobretudo na região i n f r a c l a v i cu 1 ar,acIma da apófise coracõide. R a d i o g r a f i a s , hemograma, hemosedimentacão, normais.Au" sência de foco a m i d a l i a n o ou dentário.

Tratamento a n t e r i o r : - ondas c u r t a s : 12 aplicações; u l t r a - s o m : 10 aplicações;gi nástica; a s p i r i n a ; i r g a p i r i n ; infiltrações de c o r t i cos terõ i des e novocaína: 16 aplicações*. Tudo sem r e s u l t a d o satisfatório.

Tratamento pela h i p n o s e . Total de sessões: 6. Resultado: c u r a d a , com recupera -ção completa da movimentação do braço. Tanto, n e s t e , como nos casos a n t e r i o r e s , f o i usa­da apenas a estimulação verbal para i n d u z i r e manter a h i p n o s e . Ouração das sessões: 45 minutos.

CONCLUSÃO: Consideramos um i m p e r a t i v o ético-profissio na 1 por parte do médico não f u g i r aos cânones da medicina em g e r a l , no t r a t o com os p a c i e n t e s acidentados de traba -l h o , assumindo uma a t i t u d e paterna1ística afim de quebrar possíveis resistências e estabe l e c e r condições favoráveis para o emprego da h i p n o t e r a p i a nos casos em que houver i n d i c a " ç ão.

S U M M A R Y

The author e/poses h i s experiences with the employment of hypnosis i n some cases of work-accidents. F i r s t l y , he a f f i r m s t h a t s o c i o - f a m i 1 i a r problems and i n a d a p t a t i o n in Lhe workíng environment are powerful f a v o u r i n g f a c t o r s f o r w o r k - a c c i d e n t s .

The author used hypnosis w i t h the best r e s u l t s in t h r e e d i f f e r e n t s i t u a t i o n s , in whfch had already been a p p l i e d o ther remedies ( s u r g i c a l s , a n a e s t h e t i c s , psychotherapeutica1s and o t h e r s ) .

R E S U M E

L'auteur expose son expérience de 1'usage de 1'hypnose dans quelques cas de personnes v i c t i m e s d ' a c c i d e n t s de t r a v a i l . II a f f i r m e préa1ablement que des problèmes socio-fami1iaux et des i n a d a p t a t i o n s dans 1 1 environnement de t r a v a i l sont des puissants facteurs qui f a v o r i s e n t l e s a c c i d e n t s de t r a v a i l .

L'auteur a appliqué l'hypnose avec de m e i l l e u r s r é s u l t a t s , dans t r o i s s i t u a t i o n s d ifférentes, ou des recours d i v e r s a v a i e n t déjã été employés ( r e c o u r s c h i r u r g i c a u x , anesthésiques, physíothérapeutiques et d'autres e n c o r e ) .

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