ambiguidades que limitam uma definição de raça

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  • 7/26/2019 Ambiguidades Que Limitam Uma Definio de Raa

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    Ambiguidades que limitam uma definio de raa

    O conceito de raa no se sustenta se for definido como gruposgeneticamente distintos. Os pesquisadores podem usar informaesgenticas para reunir pessoas em grupos com relevncia teraputica.Por Michael J. Bamshad e Steve E. Olson

    Nas ruas de qualquer cidade grande podemos ver umaamostra da variedade aparente da humanidade: tons de

    pele que vo do leite claro ao marrom escuro; texturas dcabelo variadas, desde as finas e lisas at as grossas ecrespas. As pessoas usam freqentemente caractersticafsicas como essas ! "untamente com a #rea de origemgeogr#fica e a cultura compartilhada ! para agruparem a

    si mesmas e a outras em $ra%as$. &as qual , do ponto dvista biol'gico, a validade do conceito de ra%a( Ascaractersticas fsicas transmitem alguma informa%oconfi#vel sobre a constitui%o gentica da pessoa, paraalm da indica%o de que a ela possui os genes

    associados a olhos a)uis ou cabelos enrolados(

    fotoilustraes de Nancy Burson

    A questo difcil, em parte porque a definio implcita a respeito do que torna a pessoa membro de umaraa particular difere conforme a regio do mundo. Algum classificado como "negro" nos stados !nidos,por eemplo, pode ser considerado "branco" no Brasil e "de cor" #uma categoria distinta do "negro" e do"branco"$ na %frica do &ul.

    'as as definies ordin(rias de raa algumas )e*es funcionam bem para di)idir grupos de acordo com asinclinaes geneticamente determinadas para certas doenas. A anemia falciforme, por eemplo, afetageralmente descendentes de africanos ou mediterr+neos, e a fibrose cstica mais comum entre as pessoasde ascendncia europia. Alm disso, embora os resultados se-am contro)ersos, alguns estudos sugeremque os afroamericanos tendem a reagir de forma mais deficiente a certas drogas destinadas ao tratamentode doena cardaca.

    /urante os 0ltimos anos, cientistas reuniram dados relati)os 1 constituio gentica de populaes em todoo mundo num esforo para in)estigar o elo entre a ancestralidade e os padres de doena. sses dadosesto agora fornecendo respostas para )(rias questes polmicas. 2oderamos usar a informao genticapara distinguir grupos 3umanos com 3erana comum e para classificar indi)duos em determinados grupos4sses grupos corresponderiam 1s descries usadas para especificar a raa4 , em termos mais pr(ticos, adi)iso das pessoas conforme as definies raciais costumeiras, ou as similaridades genticas informariamalgo 0til sobre como os membros desses grupos )i)enciam uma doena ou reagem a um tratamento4

    m geral, responderamos sim 1 primeira questo, no para a segunda, e diramos um sim enf(tico para aterceira. Nossas respostas fundamentamse em )(rias generali*aes sobre raa e gentica. Alguns grupos

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    diferem geneticamente de outros, mas o modo pelo qual so di)ididos depende de que genes soeaminados. 5omando como critrio os genes relati)os 1 cor da pele, uma pessoa pode ser classificada emum grupo, mas essa mesma pessoa pode ser classificada em um grupo diferente se o critrio for outracaracterstica. 'uitos estudos demonstraram que cerca de 678 da )ariao gentica 3umana ocorrem nointerior de uma populao que )i)e em determinado continente, enquanto que 978 da )ariao distinguempopulaes continentais.

    m outras pala)ras, em mdia o +mbito de )ariao gentica no interior de uma populao 3umanaparticular muito maior que entre duas populaes. :sso significa que os indi)duos de populaesdiferentes so, em mdia, apenas um pouco mais diferentes entre si que indi)duos da mesma populao.

    As populaes 3umanas so muito similares, mas podem, freq;entemente, ser distinguidas.

    Classificando os Humanos2ara identificar os elos entre as definies sociais de raa e a 3erana gentica os cientistas de)em, emprimeiro lugar, encontrar um modo seguro de di)idir os grupos segundo a ancestralidade. Nos 0ltimos 977mil anos, os 3umanos anatomicamente modernos migraram da %frica para outras partes do mundo eaumentaram dramaticamente em n0mero. ssa epanso deiou uma marca distinta em nosso /NA comum2ara determinar o grau de parentesco entre grupos, os geneticistas ap

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    essoas dediferentes

    populaes so!em mdia!

    apenasligeiramente

    mais distintasumas dasoutras quepessoas do

    mesmo grupo

    !m de n

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    =utros estudos forneceram resultados compar()eis. Noa3 A. Gosenberg e @onat3an H. 2ritc3ard, geneticistaque trabal3a)am no laborat

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    m oposio, dois grupos que so geneticamente similares podem ter sido epostos a diferentes forasseleti)as. Neste caso, a seleo natural pode eagerar algumas das diferenas entre os grupos, fa*endo comque eles paream, superficialmente, mais distintos do que na realidade so. 5raos como a cor da pele foramfortemente afetados pela seleo natural e no refletem necessariamente os processos que moldaram, napopulao, a distribuio de polimorfismos neutros como o Alus ou as pequenas repeties em tandem.Assim, traos ou polimorfismos afetados pela seleo natural podem ser ndices deficientes para determinara identificao com um grupo e podem implicar parentesco gentico quando, de fato, essa relao quaseno eiste.

    =utro eemplo de como difcil caracteri*ar as pessoas di* respeito 1s populaes dos stados !nidos. Amaioria das pessoas que se descre)em como afroamericanas tm ncestrais relati)amente recentes no oestda %frica, e os africanos do oeste apresentam, geralmente, freq;ncias de polimorfismos que podem serdistinguidas das freq;ncias dos europeus, asi(ticos e americanos nati)os. A frao de )ariaes de genesque os afroamericanos compartil3am com os africanos do oeste, entretanto, est( longe de ser uniforme,pois, durante sculos, os afroamericanos misturaramse com grupos pro)enientes de outras partes da%frica e de regies que esto alm desse continente.

    Nos 0ltimos anos, 'ar /. &3ri)er, da 2ennsyl)ania &tate !ni)ersity, e Gic A. Hittles, da oQard !ni)ersity,definiram um con-unto de polimorfismos para estimar a frao dos genes de uma pessoa que se origina emcada regio continental. /escobriram que a contribuio do oeste da %frica para os genes dos indi)duosafroamericanos foi, em mdia, de R78, embora )arie entre K78 e 9778. A mistura de grupos tambmaparente em muitas pessoas que acreditam ter s< ancestrais europeus. &egundo as an(lises de &3ri)er,cerca de J78 dos americanos que se consideram "brancos" tm menos de 678 de ancestralidade europiaAssim, a ancestralidade declarada pelas pessoas no necessariamente um bom ndice da composiogentica de grande n0mero de americanos. As noes comuns de raa nem sempre refletem a composiogentica da pessoa.

    A compreenso da relao entre a raa e a )ariao gentica tem importantes aplicaes pr(ticas. S(riosdos polimorfismos que diferem em freq;ncia entre grupos eercem efeitos especficos sobre a sa0de. Asmutaes respons()eis pela anemia falciforme e por alguns casos de fibrose cstica, por eemplo, resultamde alteraes genticas cu-as freq;ncias parecem ter aumentado porque eram uma proteo contradoenas predominantes, respecti)amente, na %frica e uropa. As pessoas que 3erdaram uma cGC na superfcie de suas clulas. A maioria dos tipos de :S9, o )rus que causa aAids, ligase ao receptor >>GC para entrar nas clulas e, portanto, as pessoas que carecem dos receptores>>GC so resistentes 1 infeco pelo :S9. ste polimorfismo no gene receptor >>GC encontrado quaseeclusi)amente em grupos a nordeste da uropa.

    S(rios polimorfismos no >>GC no impedem a infeco, mas influenciam o ritmo com que a infeco pelo:S9 le)a 1 Aids e 1 morte. Alguns desses polimorfismos eercem efeitos similares em diferentespopulaes, enquanto outros apenas alteram a )elocidade da progresso da doena em gruposdeterminados.

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    Anlisesgenticaspermitem

    distinguir gruposde pessoassegundo a

    origemgeogrfica. -as preciso cautela

    com estecritrios

    !m polimorfismo, por eemplo, est( associado 1 lenta progresso da doena em europeusamericanos, mascom a progresso acelerada em afroamericanos. Nesses eemplos e em outros similares um polimorfismoeerce um efeito relati)amente grande sobre uma doena. &e o mapeamento gentico fosse barato eeficiente, todas as pessoas poderiam ser mapeadas em relao a todas essas )ariaes de genes )inculadasa essas doenas. 'as o mapeamento gentico ainda caro e suscita questes relati)as 1 pri)acidade e aoconsentimentoL algumas pessoas podem no querer saber sobre os fatores genticos capa*es de aumentaro risco de desen)ol)er uma doena particular.

    At que essas questes ten3am sido decididas, a ancestralidade declarada pelas pessoas continuar( sendoum recurso de diagn3apel ill e Gy ard, da !ni)ersityof =ford argumentam que raa no um critrio adequado para ser aplicado pelos mdicos na escol3a deuma droga particular para um determinado paciente. les apontaram duas descobertas de diferenas raciaisque so consideradas question()eisL a de que uma combinao de certas drogas dilatadoras dos )asossang;neos seria mais efica* no tratamento da insuficincia cardaca de pessoas com ancestrais africanos e de que inibidores especficos de en*imas #en*ima de con)erso angiotensina, ou inibidores A>$ so poucoefica*es para o tratamento dessas pessoas. No

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    segundo artigo, um grupo liderado por Neil Gisc3, da &tanford !ni)ersity, respondeu que grupos raciais outnicos podem diferir entre si geneticamente e que essas diferenas podem ter rele)+ncia mdica. les citamum estudo mostrando que a taa de complicaes da diabetes de tipo K )aria de acordo com a raa, mesmole)andose em conta disparidades de educao e de renda.

    A intensidade desses argumentos reflete influncias cientficas e sociais. 'uitos estudos biomdicos nodefiniram rigorosamente o critrio de se pertencer a um grupo, confiando, em )e* disso, em relaesinferidas baseadas em categorias raciais. A disputa sobre a import+ncia da integrao a um grupo ilustratambm como a percepo da raa fortemente moldada por diferentes perspecti)as sociais e polticas. Nocasos em que integrar um grupo geogr(fica ou culturalmente definido est( correlacionado com traosgenticos )inculados 1 sa0de, o con3ecimento de algo sobre o grupo do indi)duo pode ser importante paraum mdico. U medida que os grupos 3umanos )i)em em meios diferentes e tm eperincias distintas queafetam a sa0de, o fato de ser parte de um grupo pode refletir tambm fatores no genticos que sorele)antes para os mdicos.

    &A'+&%A)"O A' O(%)' H,-A)A'

    A contagem do n0mero de unidades de /NA nos cromossomos, c3amadas de repetiespequenas em tandem #s3ort tandem repeats$, permite que os cientistas agrupem os indi)duosde acordo com a sua pro)()el ancestralidade. !ma dessas repeties, a AAAO, ocorre entreduas e sete )e*es nas pessoas com 3erana africana, mas entre cinco e oito )e*es nas pessoascu-os ancestrais )ieram da uropa ou do =riente 'dio. #5oda pessoa 3erda um con-unto derepeties da me e um do pai.$ Assim, algum que apresenta dois e trs repeties tem,pro)a)elmente, 3erana africana, enquanto algum que apresenta seis e oito repeties tempro)a)elmente ancestrais pro)enientes da uropa ou do =riente 'dio. No entanto, pessoasque apresentam entre cinco e sete repeties ocorrem em ambas as populaes, o que tornamais difcil classificar essas pessoas usando apenas esta repetio. '[email protected]. e &..=.

    A despeito das implicaes mdicas da gentica da raa, as descobertas das pesquisas so por si s