ambientes de aprendizagem aliados À prÁtica...

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1 AMBIENTES DE APRENDIZAGEM ALIADOS À PRÁTICA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO, NO CONTEXTO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, ANO 2011 Antônio Luiz Santana 1 Grupo 5.1. Democratização, universalização e interiorização da formação e do conhecimento RESUMO: Apresenta-se um estudo exploratório de utilização do Ambiente de Aprendizagem Moodle. Teve como objetivo promover uma reflexão em torno da integração de Tecnologias de Informação e Comunicação no contexto educacional, tais como, os Ambientes de Aprendizagem baseados na Internet, com a finalidade de apoiar práticas de Gestão da Construção do Conhecimento. A realização da pesquisa compreendeu a aplicação de questionários, a execução de atividades no Ambiente e a análise de relatórios de acesso dos participantes, com dados fornecidos pelo uso da Plataforma. Como resultado, verificou-se que a utilização do referido Ambiente nos cursos presenciais tem sido uma alternativa viável. Trata-se de uma importante contribuição para o efetivo funcionamento de cursos, a princípio, essencialmente presenciais. Implica um grande desafio, o de mobilizar professores e alunos, no sentido de criar momentos de construção coletiva do conhecimento. Palavras-chave: Ambientes de Aprendizagem; tecnologias de informação e comunicação; gestão do conhecimento. ABSTRACT: LEARNING ENVIRONMENTS ALLIED TO PRACTICE OF KNOWLEDGE MANAGEMENT IN THE CONTEXT OF GRADUATE SCHOOL EDUCATION, ESPIRITO SANTO FEDERAL UNIVERSITY, 2011 We present an exploratory study of using the Moodle Learning Environment. It aimed at promoting a reflection on the integration of Information and Communication Technologies in the educational context, such as the Learning Environment based on the Internet with the purpose of supporting Building Knowledge Management practices. The research involved the use of questionnaires, the execution of activities on the environment and the analysis of participants' access reports, with data provided by the use of the Platform. As a result, it was found that the use of such environment in the presence-based courses has been a viable alternative. This is an important contribution to the effective functioning of courses at first essentially presential. It implicates a great challenge to mobilize teachers and students to create moments of collective knowledge building. Keywords: Learning Environments, information and communication technologies; knowledge management. 1 Mestrando na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – [email protected]

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AMBIENTES DE APRENDIZAGEM ALIADOS À PRÁTICA DE GESTÃO DO

CONHECIMENTO, NO CONTEXTO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, ANO 2011

Antônio Luiz Santana1

Grupo 5.1. Democratização, universalização e interiorização da formação e do conhecimento RESUMO: Apresenta-se um estudo exploratório de utilização do Ambiente de Aprendizagem Moodle. Teve como objetivo promover uma reflexão em torno da integração de Tecnologias de Informação e Comunicação no contexto educacional, tais como, os Ambientes de Aprendizagem baseados na Internet, com a finalidade de apoiar práticas de Gestão da Construção do Conhecimento. A realização da pesquisa compreendeu a aplicação de questionários, a execução de atividades no Ambiente e a análise de relatórios de acesso dos participantes, com dados fornecidos pelo uso da Plataforma. Como resultado, verificou-se que a utilização do referido Ambiente nos cursos presenciais tem sido uma alternativa viável. Trata-se de uma importante contribuição para o efetivo funcionamento de cursos, a princípio, essencialmente presenciais. Implica um grande desafio, o de mobilizar professores e alunos, no sentido de criar momentos de construção coletiva do conhecimento. Palavras-chave: Ambientes de Aprendizagem; tecnologias de informação e comunicação; gestão do conhecimento. ABSTRACT:

LEARNING ENVIRONMENTS ALLIED TO PRACTICE OF KNOWLEDGE MANAGEMENT IN THE CONTEXT OF GRADUATE SCHOOL EDUCATION,

ESPIRITO SANTO FEDERAL UNIVERSITY, 2011 We present an exploratory study of using the Moodle Learning Environment. It aimed at promoting a reflection on the integration of Information and Communication Technologies in the educational context, such as the Learning Environment based on the Internet with the purpose of supporting Building Knowledge Management practices. The research involved the use of questionnaires, the execution of activities on the environment and the analysis of participants' access reports, with data provided by the use of the Platform. As a result, it was found that the use of such environment in the presence-based courses has been a viable alternative. This is an important contribution to the effective functioning of courses at first essentially presential. It implicates a great challenge to mobilize teachers and students to create moments of collective knowledge building. Keywords: Learning Environments, information and communication technologies; knowledge management.

1 Mestrando na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – [email protected]

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1. Introdução

Antes de apresentar a estrutura deste trabalho, é necessário que, teórica e didaticamente, seja feita a sistematização dos termos dados, informação e conhecimento, entendendo de que o domínio de tais conceitos favorecerá o efetivo entendimento da proposta de estudo.

Os dados que se encontram em publicações e na Internet e, até mesmo, aqueles que as pessoas trocam entre si, uma vez tratados, constituem a informação. O resultado do processamento, da manipulação e da organização da informação, de tal forma que represente uma modificação quantitativa ou qualitativa, constituem o conhecimento.

A informação é a principal matéria-prima que transita através das redes que interconectam pessoas em vários pontos do planeta. Nesse contexto, impõe-se, para empresas e trabalhadores, o desafio de adquirir competência para transformar informação em conhecimento (TAKAHASHI, 2000, p.17).

A Sociedade da Informação está fundada na aquisição de informações e na inovação tecnológica, já na Sociedade do Conhecimento, o saber constantemente passa por mudanças, à medida que é adquirido, estando sempre exposto a avanços e incorporação de novos conhecimentos. Sendo assim, tanto se configura uma transformação social, cultural, econômica, política e institucional, assim como se vislumbra uma perspectiva mais pluralista e de desenvolvimento (TARAPANOFF, 2006, p.37).

Lévy (1999) vai mais longe, enxergando na evolução das tecnologias a criação de uma inteligência coletiva, que orientaria a evolução da chamada Sociedade do Conhecimento, no que tange à possibilidade de uma sinergia de trocas de experiências cada vez mais rápidas entre o maior número de pessoas. Isso possibilita o questionamento dos poderes e a criação de novos conhecimentos.

De fato o estabelecimento de uma sinergia entre competência, recursos e projetos, a constituição e manutenção dinâmicas de memórias em comum, a ativação de modos de cooperação flexíveis e transversais, a distribuição coordenada dos centros de decisão opõem-se à [...] opacidade da organização social [...]. É assim, por exemplo, que os organismos de formação profissional ou de ensino a distância desenvolvem sistemas de aprendizagem cooperativa em rede [...]. Os pesquisadores e estudantes do mundo inteiro trocam ideias, artigos, imagens, experiências ou observações em conferências eletrônicas [...] (LEVY, 1999, p. 28-29).

A utilização de tecnologias na escola e na sala de aula permite a abertura desses espaços ao mundo e ao contexto, permitindo articular a situação do global e local, sem abandonar o universo do conhecimento. Tecnologias e conhecimentos se integram para construir novos conhecimentos que permitam a transformação do cotidiano e a construção de cidadania (PRADO, 2005, p56).

Temos, portanto, uma oportunidade sem igual, pois podemos ter, simultaneamente, a escola atuando na sua dimensão local mais próxima e numa outra dimensão, planetária, fazendo com que a escola deixe de ser apenas uma repassadora de informações.

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É necessário equilíbrio no uso de meios digitais na educação, não se opondo totalmente ou achando que é a solução para todos os problemas. A maioria das tecnologias é utilizada como auxiliar no processo educativo, assim a incorporação das Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC’s na escola favorece a criação de comunidades de aprendizagem.

Uma forma de promover a construção de uma Sociedade do Conhecimento integrada à educação é com o desenvolvimento de estratégias para o ensino, mediado por professores, tendo como apoio as ferramentas tecnológicas baseadas nas TIC’s. Um exemplar dessas ferramentas são os Ambientes de Aprendizagem baseados na Internet, geralmente referenciados como Ambientes Virtuais de Aprendizagem - AVA.

Este artigo relata um estudo exploratório de utilização de um desses ambientes, denominado Moodle. Esse ambiente, de acesso gratuito, tem sido utilizado amplamente por instituições de ensino de todo o mundo, e tem-se revelado uma poderosa ferramenta de apoio não só para o ensino a distância, mas também ao presencial, o que se constitui o foco deste estudo. O estudo foi realizado na Universidade Federal do Espirito Santo no ano de 2011 com as disciplinas História da educação, Filosofia na educação, metodologia de pesquisa I e Metodologia de Pesquisa II do Programa de Pós-graduação em Educação oferecidas no período de junho a setembro.

2. Referencial teórico

A articulação teórica sobre a integração de Tecnologias de Informação e Comunicação no contexto educacional, tais como, os Ambientes de Aprendizagem baseados na Internet, aliado a praticas de Gestão da Construção do Conhecimento passa pelo ideal de construção de uma Sociedade do Conhecimento. Assim, essa seção aborda esses aspectos para o embasamento teórico do delineamento do estudo que será relatado.

2.1. Tecnologias da informação e comunicação no contexto educacional

Segundo Pais (2010), a possibilidade de uso de recursos tecnológicos na educação pode ser observada como uma condição necessária para se atingirem exigências da Sociedade do Conhecimento. Nesse contexto, a utilização de ferramentas tecnológicas no processo educacional consiste em uma demanda crescente e necessária.

Um dos desafios da educação na atualidade é promover a interação e a recriação do espaço educacional em relação à integração e apropriação de Tecnologias da Comunicação e Informação. Isso significa que, via de regra, a escola conta com recursos tecnológicos, mas estes não estão integrados a seus projetos pedagógicos, contribuindo muito pouco para o processo de ensino-aprendizagem (RAIÇA, 2009, p.27).

Nesse sentido, Kenski (2010) afirma que a democratização do acesso a certos produtos tecnológicos e a consequente possibilidade de utilizá-los para obtenção de informações é um grande desafio para a sociedade atual. Também ressalta a demanda de muitos esforços e de amplas mudanças na esfera educacional.

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Na era da informação, práticas, comportamentos e saberes se modificam com extrema rapidez. Ainda, segundo Kenski (2010), essas modificações se refletem nas formas tradicionais de ensino. Abrir-se para novas perspectivas educacionais, com o foco na diversidade e promoção de práticas educacionais inclusivas, é democratizar o continuo acesso para a construção de uma Sociedade do Conhecimento.

Para Santos (2006), o espaço eletrônico é o novo espaço-tempo da comunicação e da informação, tornado possível pela revolução tecnológica da microeletrônica e da telemática. A tecnologia e os conhecimentos tecnológicos criados inundam os mercados atuais, gerando uma corrida sempre pelo mais moderno e mais funcional.

2.2. Ambientes de aprendizagem baseados na internet

Segundo Kenski (2010), os Ambientes de Aprendizagem baseados na Internet

surgem como um novo espaço, possibilitado pelas tecnologias digitais. Eles possibilitam a recriação de espaços educacionais, em direção à construção de uma Sociedade do Conhecimento. O autor destaca que os primeiros projetos de construção de Ambientes de Aprendizagem destinados à educação começaram na década de 1990, impulsionados pelo desenvolvimento da Internet. Nesse sentido, é possível destacar dois acontecimentos importantes da época: o aparecimento do primeiro navegador para a web – o browser, e a abertura da rede mundial de comunicação para o uso comercial. Outro grande impulso foi o surgimento da tecnologia de ambientes gráficos interativos, isto é, com a janela no formato gráfico, tornou-se possível a representação das informações em forma de imagens, facilitando a interação com o usuário.

Dias e Leite (2010) trabalham com a definição de ambiente virtual de aprendizagem, como será denominado nesse trabalho, isto é, um Ambiente de Aprendizagem baseado na Internet. Isto é, refere-se a uma sala de aula virtual, acessada via Internet. Nesse sentido, um Ambiente pode proporcionar, através do avanço tecnológico, a redução da distância entre os participantes de um determinado curso – alunos e professores.

Para Almeida (2003, p.331),

Ambientes digitais de aprendizagem são sistemas computacionais disponíveis na Internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados objetivos. As atividades se desenvolvem no tempo, ritmo de trabalho e espaço em que cada participante se localiza, de acordo com uma intencionalidade explícita e um planejamento prévio denominado design educacional, o qual constitui a espinha dorsal das atividades a realizar, sendo revisto e reelaborado continuamente no andamento da atividade.

Kenski (2010) destaca que os primeiros projetos de construção de Ambientes de Aprendizagem destinados à educação começaram na década de 1990, impulsionados pelo desenvolvimento da Internet. Nesse sentido, é possível destacar dois acontecimentos importantes da época: o aparecimento do primeiro navegador para a web – o browser, e

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a abertura da rede mundial de comunicação para o uso comercial. Outro grande impulso foi o surgimento da tecnologia de ambientes gráficos, isto é, com a janela no formato gráfico, tornou-se possível a representação das informações em forma de imagens, facilitando a interação com o usuário.

Algumas universidades e empresas, com o avanço da tecnologia baseada na Internet, começaram a trabalhar com sistemas para atividades educacionais. De forma rápida, os ambientes destinados à educação foram sendo incorporados a novas redes de computadores. Nesse sentido, alguns são sistemas abertos ou distribuídos livremente na Internet; outros funcionam em uma plataforma proprietária, com as empresas controlando a sua venda.

2.3. Ambientes de aprendizagem baseados na internet e a gestão do conhecimento

A construção do conhecimento advém do fato de o aluno ter que buscar novos

conteúdos e estratégias para incrementar o nível de conhecimento que já dispõe sobre o assunto que está sendo tratado, utilizando os ambientes de aprendizagem do computador (VALENTE, 1999).

Segundo Behrens (2005), a implantação de tecnologias de aprendizagem colaborativas para apoiar os grupos de alunos envolvidos em tarefas educacionais tem se desenvolvido rapidamente nos últimos anos. Grande parte dessa expansão foi impulsionada pelos aumentos da inserção da Internet nas sociedades ao redor do mundo, tornando possível o trabalho com projetos às equipes distribuídas globalmente. Vê-se que essas tecnologias estão sendo aplicadas de várias maneiras. Vão desde a comunicação organizacional, incluindo a tomada de decisão para inspeções e correções de softwares distribuídos, ao desenvolvimento de iniciativas educacionais de caráter colaborativo. Os próprios sistemas de aprendizagem incluem um conjunto de tecnologias com vídeo e webconferência, calendário compartilhado, sistemas de gestão de documentos, texto-base de sistemas de apoio de grupo e muitos outros (BEHRENS, 2005, p. 77).

Por outro lado, o uso de ferramentas computacionais na criação de ambientes de aprendizagem que enfatizam a construção do conhecimento envolvem enormes desafios. O primeiro desafio é entender o computador como uma nova maneira de representar o conhecimento, provocando um redimensionamento dos conceitos já conhecidos e possibilitando a busca e compreensão de novas ideias e valores. Segundo a formação do professor, deve envolver muito mais do que provê-lo com conhecimento sobre computadores. O seu preparo não pode ser uma simples oportunidade para repassar informações, mas sim propiciar a vivência de uma experiência que contextualiza o conhecimento que ele constrói. Por último, a implantação da informática, como auxiliar do processo de construção de conhecimento, implica mudanças na escola que vão além da formação do professor. (VALENTE, 1999, p.4)

Segundo Ferracioli (2006), na sociedade do conhecimento, os fatores tradicionais de produção passam a ser superados pelo conhecimento. A competição global cada vez mais é baseada na capacidade de transformar informação em conhecimento. Esses fatos revelam que, para que um país seja competitivo no atual cenário, seus cidadãos devem ser aptos para processar informação e gerar conhecimento e inovação.

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A tecnologia com base na ciência ocupa um papel central no desenvolvimento da sociedade. Uma vez que ela é segmentada em extratos sociais, com o uso intenso do conhecimento, produzir-se-á uma diminuição na quantidade dos excluídos digitalmente. É necessário, então, priorizar a democratização do acesso aos meios de produção e disseminação do conhecimento socialmente mais significativo.

Ferracioli (2006) alerta que, para qualquer país ser competitivo no atual cenário mundial, seus cidadãos devem ser aptos para processar informação, gerar conhecimento e inovar. Para trabalhar essas características, a população deve ser preparada para ter algumas habilidades mínimas e incorporar o paradigma da sociedade do conhecimento.

É possível considerar que os Ambientes de Aprendizagem baseados na Internet, tal como, o Moodle, o que será explorado nesse estudo, são propícios para que cada indivíduo consiga imprimir seu ritmo individual de aprendizagem e trabalhar de forma dinâmica e cooperativa. Assim, promover-se-á uma relação de troca com o grupo de alunos e um professor especialista. Também ocorrerá a disponibilização de novos materiais. Softwares como o Moodle permitem a utilização de recursos que auxiliam o professor na construção de cursos, agilizando a construção e a alteração das unidades de ensino. Oferecem ainda recursos que monitoram a utilização do Ambiente, gerando relatórios estatísticos com o emprego destes recursos. 3. Metodologia

Na busca de promover a inovação educacional que represente a possibilidade de

favorecer a diversidade, com o consequente estabelecimento de práticas educacionais inclusivas, realizou-se um estudo em Itapina. Nesse contexto foi realizado um estudo-piloto com disciplinas do Mestrado Interinstitucional – MINTER, ofertado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo, na linha de pesquisa de Diversidades e Práticas Educacionais Inclusivas. 3.1. Opções metodológicas

O presente trabalho utilizará Estudo de Caso como método de pesquisa. Segundo Yin (2001), trata-se de um método que proporciona ao pesquisador a possibilidade de analisar as características significativas dos eventos da vida real, o que se faz com a observação do comportamento de pequenos grupos, de processos administrativos e organizacionais, entre outros.

3.2. Amostragem

Os sujeitos da pesquisa foram vinte e quatro alunos matriculados nos primeiro e segundo semestres de 2011, da turma do Mestrado Interinstitucional – MINTER, ofertado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo, na linha de pesquisa específica de Diversidades e Práticas Educacionais Inclusivas.

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3.3. Instrumentos para coleta de dados

Para a realização deste estudo, foram utilizados os instrumentos de coleta de dados mostrados no Quadro 01.

Quadro 1. Instrumentos e objetivos utilizados durante as fases do estudo

Fases do Estudo Piloto Instrumentos Objetivos

Questionário 01 Levantar o perfil dos alunos, sua identificação com as TICs e a utilização do Ambiente de Aprendizagem Moodle.

Questionário 02 Levantar o perfil de utilização da Plataforma Moodle.

Observação não participante no Moodle

Conhecer o perfil de acesso dos alunos e do professor no Moodle.

Relatórios da Plataforma Moodle

Analisar os acessos dos alunos durante as disciplinas.

O Questionário 1 teve o objetivo de traçar um perfil da turma em relação à

utilização de tecnologias de informação e comunicação. Está disponível no Apêndice I. O Questionário 2 teve o objetivo de levantar opinião dos entrevistados quanto à

utilização da plataforma Moodle. Encontra-se disponível no Apêndice II. Para Yin (2007, p. 116), as observações são frequentemente úteis para fornecer

informações adicionais sobre o caso a ser estudado. Por exemplo, se um caso é sobre a integração de uma tecnologia, tal como um ambiente baseado na Internet, e em um contexto, tal como o educacional, as observações no ambiente de estudo propiciam o levantamento de dados para o entendimento dos limites ou problemas relacionados à temática. Nesse contexto, foi realizada a observação diária dos participantes do presente estudo, analisando-se os acessos à plataforma Moodle.

No último instrumento, Relatórios da Plataforma Moodle, foram verificados os acessos a conteúdos e, às atividades disponibilizadas durante a realização do estudo-piloto. Desta maneira, após a utilização do Ambiente, durante o período de três meses, foram analisados os acessos dos 24 usuários-alunos, com o objetivo de melhor entender a forma como usavam a Plataforma. Dessa feita, verificaram-se quais alunos estavam acessando o referido Ambiente, que ferramentas utilizavam, que itens foram consultados.

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4. Discussão dos dados

O Estudo-Piloto foi realizado no distrito de Itapina, ES durante a primeira etapa do

Curso de Mestrado Interinstitucional em Educação, oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo. Nessa etapa, foram ofertadas quatro disciplinas: Metodologia de Pesquisa I, Filosofia da Educação, Metodologia de Pesquisa II e História da Educação.

Ocorreu um gradativo engajamento dos professores, sendo que a aceitabilidade variou nas quatro disciplinas, isto é, foi constatado ora uma maior, ora uma menor disponibilidade para a utilização do Moodle. Abaixo, eis os graus de adesão, representados pela ordem em que foram enumeradas as disciplinas.

1. Filosofia da Educação; 2. Metodologia de Pesquisa I; 3. Metodologia de Pesquisa II; 4. História da Educação.

4.1. A estruturação do moodle para o estudo-piloto Para a realização do Estudo-Piloto, foi construída uma sala no Ambiente Moodle,

da Universidade Federal do Espírito Santo disponibilizada a partir do endereço eletrônico http://ava.ufes.br, que foi utilizado no Estudo, onde o aluno indica o curso em que está estudando.

Conforme discutido no referencial teórico, o Ambiente Moodle é uma ferramenta altamente customizável. Houve um investimento em torno da construção de uma estrutura específica de navegação e apresentação do conteúdo e das atividades. A sala foi construída no formato semanal, e todas as disciplinas foram estruturadas em um bloco único de navegação. A Figura 01 apresenta a página inicial da sala, a partir da qual o aluno podia acessar a sala das disciplinas ofertadas para a primeira etapa do Minter.

Figura 1. Página Inicial da sala do Minter

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4.2. Análise de acessos ao ambiente moodle

Durante a realização das quatro disciplinas em Itapina, ES foi realizada uma análise dos acessos dos 24 (vinte e quatro) alunos, com o objetivo de se delinear algum padrão na forma de utilização do Ambiente de Aprendizagem Moodle: esta observação permitiu verificar quem eram os alunos que estavam acessando, que atividades e recursos usavam e que materiais consultavam. 4.3. Análise do acesso na disciplina Filosofia da Educação

A disciplina Filosofia da Educação utilizou durante o Estudo-Piloto a disponibilização de conteúdos e atividades propostas aos alunos. O Quadro 02 demonstra a participação dos alunos nas atividades.

Quadro 2. Participação dos alunos nas atividades da disciplina Filosofia da

Educação

Atividades Resultados

Tarefa de envio de arquivo Não

Participaram Participaram

4 20

Fórum Não

Participaram Participaram

18 6 Tarefas de envio de arquivo em geral servem para o envio ao ambiente moodle de

textos, figuras, vídeos. Na atividade foi solicitado um paper-síntese da leitura, em conexão com a discussão e os filmes assistidos em sala de aula. No fórum a participação do aluno era iniciar uma discussão, apontando os pontos principais da primeira semana de aula da disciplina Filosofia da Educação.

4.4. Análise do acesso na disciplina Metodologia de Pesquisa I

A disciplina Metodologia de Pesquisa I utilizou durante o estudo a disponibilização

de conteúdos e atividades propostas aos alunos. Apresenta-se no Quadro 03 a participação dos alunos nas atividades.

Quadro 3. Participação dos alunos nas atividades da disciplina Metodologia de

Pesquisa I

Atividades Resultados

WIKI Não Participaram Participaram

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21 3

Fórum Não

Participaram Participaram

19 5 As disciplinas Metodologia de Pesquisa II e História da Educação não

apresentaram nenhuma atividade do Moodle. Utilizaram, durante o Estudo, apenas a disponibilização de conteúdos aos alunos.

A observação realizada mostra que o acesso aos materiais disponibilizados foi representativamente maior do que a realização de atividades no Ambiente. Outro ponto que se pode destacar é em relação à interação no Ambiente de Aprendizagem baseado na Internet, o Moodle, que ficou muito restrita ao diálogo aluno X aluno, não sendo constatada nenhuma interação aluno X professor, com o uso das ferramentas.

Através da análise dos dados coletados a partir de relatórios da Plataforma Moodle, apresentados nos Apêndices III, IV e V concluiu-se que o mês de julho foi aquele com considerável número de acessos à sala do Curso e, de maior interação entre alunos e professor. Os meses de agosto e junho tiveram um número menor, tanto de acessos quanto de interação. Corroborando com esses dados, ocorreu que, em Julho, foi disponibilizada uma maior quantidade de conteúdos e de atividades, por parte dos professores que trabalhavam nas disciplinas, principalmente com a utilização de textos, vídeos explicativos e, de outras tarefas. 5. Conclusões

A utilização do Ambiente Moodle nos cursos presenciais tem sido uma alternativa

viável. Com base em dados, trata-se de uma importante contribuição para o efetivo funcionamento de cursos, a princípio, essencialmente presenciais.

Foi observada no estudo uma baixa participação de alunos e professores em atividades interativas como o fórum e wiki. Nesse contexto, é importante a mobilização de professores e alunos no sentido de criar momentos de construção coletiva do conhecimento para que os sujeitos do processo desenvolvam sua autonomia e a capacidade de trabalhar de forma cooperativa.

Finalizando, pode-se dizer que com a realização deste estudo piloto foi possível relatar esses resultados preliminares que subsidiarão o desenvolvimento do estudo principal sobre a integração de Tecnologias de Informação e Comunicação no contexto educacional, tais como, os Ambientes de Aprendizagem baseados na Internet, tendo como finalidade apoiar praticas de Gestão da Construção do Conhecimento.

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6. Referências

ALMEIDA. M. E. B. Educação à distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 327-340, dez. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v29n2/a10v29n2.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2012. BEHRENS, Marilda Aparecida. Tecnologia interativa a serviço da aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In: ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini. Salto para o futuro: integração das tecnologias na educação, Brasília: Ministério da Educação, Seed, 2005.

DIAS, Rosilâna Aparecida; LEITE, Lígia Silva. Educação a Distância: Da legislação ao pedagógico. Petrópolis: Vozes, 2010.

FERRACIOLI, Laércio. A Nova Sociedade do Conhecimento: Educação de Qualidade ou Morte. Estado e Sociedade: A Reforma do Estado, Vitória, 2006. KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. 7 ed. São Paulo: Papirus, 2010. LÉVY. Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora.34. 1999. PAIS, Luiz Carlos. Educação escolar e as tecnologias da informática. Belo Horizonte: Autêntica. 2010. PRADO, Maria Elisabette Brisola Brito. Pedagogia de projetos: fundamentos e implicações. In: ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini. Salto para o futuro: integração das tecnologias na educação, Brasilia: Ministério da Educação, Seed, 2005. RAIÇA, Darcy. Tecnologias para a Educação Inclusiva. Rio de Janeiro: Avercamp, 2009. SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006. TAKAHASHI. Tadao. Sociedade da Informação no Brasil Livro Verde. Brasilia: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. TARAPANOFF, Kira. Inteligência, Informação e Conhecimento. Brasila: IBICT, UNESCO, 2006. VALENTE, José Armando. O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: NIED. 1999.

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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman: 2001.

APÊNDICE I: Roteiro do Questionário 1 Diagnóstico da utilização de Tecnologia da Informação e

Comunicação anterior ao início do MINTER. DIAGNÓSTICO

Levantamento da utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação anterior ao início do MINTER

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APÊNDICE II Roteiro do Questionário 2 da utilização do Moodle durante o MINTER

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APÊNDICE III: Planilha com os acessos a plataforma Moodle no mês de Julho

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APÊNDICE IV: Gráfico com os acessos a plataforma Moodle no mês de Julho

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APÊNDICE V: Planilha com os acessos a plataforma Moodle no mês de Agosto

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