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Um porta-voz das entidades ambientalistas autônomas Ano II Número 1 1 Junho 1990 4. ,/ Número 12 Julho 1990 Circulação dirigida Gorbachev e o meio ambiente na Perestróika PACATATUCOTIA o suplemento infantil do Viva Alternativa Novo Airão, Amazonas: desponta um novo paradigma de município

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Um porta-voz das entidades ambientalistas autônomas Ano II Número 1 1 — Junho 1990

4. ,/ Número 12 — Julho 1990

Circulação dirigida

Gorbachev e o meio ambiente na Perestróika

PACATATUCOTIA o suplemento infantil do Viva Alternativa

Novo Airão, Amazonas: desponta um novo paradigma de município

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;A nova política ambiental está ficando 'rada dia mais clara. A Secretaria de Assuntos jistratégiços controla a política nuclear. O '(iovcrno está atrás da bomba atômica como denuncia a Sociedade Brasileira de Física. Carlos C Avelme. da União Protetora do Ambiente Natural-RS

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IRRESPONSABILIDADE

APOLíTICA AMBIENTAL m reunião com gru- pos de ambientalis- tas o secretário do

Meio Ambiente, José Lutzen- berger, se confessou massa- crado pelo calendário de via- gens agendado pela Presidên- cia da República, que toma- lhe todo o tempo. Não foi su- presa, para boa parcela dos ambientalistas, o uso do pres- tigio de Lutzenberger para áÈplacar as iras internacionais e'manter o Brasil na ordem do dia na mídia, através de um discurso pretensiosamente "moderno".

O fato é que, após 90 dias de governo, nada foi feito pa- ra se criar uma política nacio- nal de meio ambiente, velha aspiração dos movimentos pcologistas. É notório o des- caso com que o assunto vem sendo tratado. E pior ainda é a desarticulação — muito bem forjada e no modelo rompante do novo governo — de apare- lhos, dispositivos, leis e ins- trumentos, elaborados e con- quistados nos últimos anos

ria sociedade civil junto com ibama e secretarias esta-

duais de Meio Ambiente. Em $yntese, as atitudes oficiais em relação ao meio ambiente mostram que ao governo infe- lesa estar na mídia, fazer dis- curso e ter proposta. E só. ' O Conama, Conselho Na-

tional do Meio Ambiente, que só no último ano e após muita briga começou a se de- /íiocratizar aceitando indica- ções para seu quadro de am- bientalistas eleitos pelas enti-

dades em suas respectivas re- giões, está quase acéfalo. AS informaçóes a seu respeito são destorcidas e ninguém res- ponde pelo órgão. Depois da última assembléia, na semana anterior à posse do novo pre- sidente da República, o Cona- ma não foi convocado e nem se reuniu. Mais que isso, teve sua soberania desrespeitada pela omissão do Ibama que ignorou sua autoconvocação para o dia 29 de março. E mais, ignorou a reunião ordi- nária marcada meses antes para 13 de junho. A notícia mais recente e não-oficial é a de que ele será (hamado a se reunir no dia 28.

A rigor o Ibama, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno- váveis, órgão executor da po- lítica do meio ambiente, per- deu completamente a cone- xão com o movimento am- bientalista nacional e não faz a mínima questão de recuperá-la. Medidas esdrúxu- las, formuladas em nome da moralização, mas na verdade de conotação exclusivamente política, tira qualquer indício de presença da sociedade ci- vil em seus quadros. Como a saída do ambientalista Celio Vale por questões meramente burocráticas.

Ou seja, a alegação de que1

os cargos não podem ser polí- ticos ou de confiança serve ao despotismo que se preocupa com pés descalços e desca- misados mas não reconhece a sociedade organizada. A mes-

ma desculpa é usada para manter candidatos, claramen- te comprometidos com gran- des madeireiros e latifundiá- rios predadores, na sucessão da superintendêndia do Insti- tuto. Como em Cuiabá, Mato Grosso, onde uma forte mili- tãncia local pede para o cargo a nomeação do ecologista Jo- sé Guilherme Aires Lima, co- nhecedor dos problemas lo- cais e funcionário antigo do IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal), hoje fundido ao Ibama. "José Guilherme preerlche, melhor que qualquer outro indicado, as exigências técnicas", afir- ma o presidente da Ame-Mato (jrosso, Heitor Queiroz. E con- clui: "A desculpa para não nomeá-lo é a de que é apenas agente florestal, não é doutor! Não se considera aí o fato de ele ser o único confiável e o mais competente entre os pretensos candidatos. O único que não tem pado com poder econômico ou político".

Para os verdes, as coisas nunca estiveram tão pretas. A criação da secretaria em nível nacional desmontou comple- tamente o Ibama tirando dele competência de decidir e tornando-o mero executor de uma política ambiental inexis- tente já que o Governo nada formulou a respeito, não pas- sou recursos para controle e fiscalização, e cortou pelo meio programas e convênios sérios colocados na vala co- mum da "moralização".

Ary Pararráios

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ESQUADRÃO /gSS50* VIDA

EXPEDIENTE

Viva Alternativa é uma publicação do

ESQUADRÃO DA VIDA PRODUÇÕES CULTURAIS

Caixa Postal 04/081 Fone: (061) 224-5342 70312 - Btasília-DF

Vinculado às entidades ambientalistas autônomas

Diretor/Editor: ARY PARARRÁIOS

Copy-desk e revisão LUMI NI HARA

Projeto Gráfico: CHIQUINHO AMARAL

Diagramação: JANE ARAÚJO

Fotografias: M1CHAEL ENDE, MÁRIO

FRIEDLANDER, ARY PARARRÁIOS E WILSON DE MORAIS

Ilustrações: FERNANDO LOPES E

BOLÍVAR FIGUEIREDO

Correspondente: HUMBERTO MAFRA, de Londres

Colaboradores: Bolívar Figueiredo, Tetê Catalão, Fernando Gabeira, Carlos Mine, Alfredo Sirkis, Fábio

Feldmann, Valdo França, Leila Jinkins, Luiz Carlos de Bárros, Mário

Friedlander, Eduardo Viola, Bené Ponteies, Cristina Magnanini.

Sede: SIG/SUL - Quadra 3, Bloco C

n» 86 Sala 201 - 70610 - Brasília-DF

Expedição: Maira Oliveira, Tiana Oliveira, Jucá Moreno Oliveira, Francisco M. C.

Oliveira.

Capa: Fotos: ARY PARRARÁIOS

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O homem se supõe mais inteligente e sensível do que as outras espécies e imagina-se só no

universo, com suas religiões e dogmas mentais que o afastam da essência do ser.

Bené Ponteies artista

A CASA ANTROPOFáGICA DO SER ntes Arte do que Tar- de, o movimento ini- ciado e alimentado

pelo artista Bené Ponteies tem pouco a vei" com o fazer arte no senfído de produzir. Vai além. Bené não acata discur- sos, escolaiS. Transcende, ul- trapassa. E nunca pelo artifí- cio, pelo artefato, pelo tecni- clsmo. Distante dos envolvi- mentos com mercadores-não pratica arte vendável — ante- cede o próprio mercado mer- gulhando no inconsciente das obras suas ou de outros artis- tas profanando e sacramen- tando idéias. Vai do simples (e sofisticado) do artista indí- gena à sofisticada simplicida- de de Rubem Valentim. A rl- tualíslica humana, cabalísíica, caótica ganha seu palco de verdade, junguiano, osvval- dlano. Sem metalinguagens, sem conceitualismos, a arte é expressão sèm tergiversação, encerrando sentidos e lingua-

gens aparentemente diferen- tes num mesmo diagrama.

As histórias do artista, do homem, dos artistas, em to- dos os tempos, em todos os lugares. A Casa do Ser, que esteve no Masp e vai percor- rer o Brasil, dispensaria co- mentários e críticas se todos soubéssemos ver como que- ria o mago Don Juan: enxer- Í[anclo. Os objetos de Valen- im, Xico Chaves, Celeida

Tostes, Suely Lima e demais artistas — visíveis e invisíveis — que Bené expõe nos dão a polida lente para sentir a ver- dadeira casa do ser: espaço que o artista descobre, bruxo que , para o homem poder se conectar com suas divinda- des extra e infra terrestres e amarrar seu umbigo na corda de aço que vai (de além) da ponta do pára-raios até (para além) do fio tenra que procura o centro do Planeta.

João Miramar

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Com todo o progresso técnico, não é normal que continuem a trucidar animais das mais diversas formas, apenas para experimentar um produto de beleza

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Ilustrações Zé Luea

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GORBACHEV

CONTRIçãO PARA SALVAR A BIOSFERA A Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento

do Meio Ambiente, no Brasil em 1992, será realizada também entre chefes de Estados se for aceita

proposta do líder soviético Mikail Gorbachev. No II Congresso para a Restauração do Meio Ambiente Global

— Desenvolvimento Auto-Sustentável, realizado em janeiro passado em Moscou, Gorbachev propôs, também, a criação de um programa internacional para salvar a biosfera.

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Aterrar resídios industriais r como guardar [)()l\()ra dentro de casa

Eduardo San Martm, diretor da Cetesb

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^ ^. Estamos assistindo ™ " aos primeiros resulta-

dos da mobilização in- ternacional pfcla paz — mobiliza- ção da opinião pública, das for- ças políticas e diplomáticas con- tra a possibilidade de uma catás- trofe nuclear, cuja ameaça à so- brevivência da humanidade con- seguimos compreender com antecedência.

Mas surgiu uma segunda ameaça, que até muito recente- mente foi ignorada em suas gra- víssimas implicações — a amea- ça de extinção da vida na terra em conseqüência do desequilí- brio ecológico provocado pela destruição do meio ambiente.

Grandes mentes do passado perceberam as conseqüências de uma insensata conquista da natureza pelo homem. E nos aler- taram que a humanidade poderia provocar o seu próprio desapare- cimento ao destruir os reinos ve- getal e animal, envenenar o solo, a água e o ar. Neste final de sécu- lo, estamos ãs voltas com uma crise bastante aguda nas rela- çóes entre o homem, a socieda- de e a natureza. Parafraseando Kant, podemos dizer com toda a segurança que o imperativo ea> lógico tornou-se item prioritário na agenda dos governos e no dia- a-dia das pessoas.

Desequilíbrio ambientai

É possível que danos irrepa- ráveis ao equilíbrio ecológico já tenham sido perpetrados. E a no- va revolução científica e tecnoló- gica, cujas conseqüências ainda não podemos avaliar, poderá fa- zer com que esses danos se tor- nem irreversíveis. Não somos pessimistas, mas é chegada a ho- ra da histórica decisão: ao ho- mem não resta nenhuma alterna- tiva razoável, a menos que se predisponha ao suicídio.

A humanidade é parte dá biosfera, integral e ünica. A pure- za da água, do ar e a fertilidade do solo resultam da interação de

centenas de milhares de varieda- des de plantas, espécies animais e microorganismos, os quais compóem os ecossistemas. A es- tabilidade dos ecossistemas — e, conseqüentemente, a qualidade do meio ambiente — depende da preservação e manutenção da di- versidade biológica e equilíbrio da biosfera.

Devo admitir que na União Soviética só agora começamos a entender a importância vital do problema ecológico. Por muito tempo, o perigo de guerra obscu- receu a nossa visão. E depois da Revolução, com a industrializa- ção intensiva do país, não está-, vamos muito inclinados a distrair nossa atenção com questóes se- cundárias - era assim que enca- rávamos este assunto naquela época — e menos ainda gastar com isto os nossos limitados re- cursos econômicos.

Foram os cientistas que pri- meiro alertaram a opinião pública para a questão ecológica em nos- so país. E agora, a Perestroika mu- da também a nossa visão da ecologia.

Pela primeira vez, na história do Estado soviético, foi publicado um relatório detalhado da situa- ção ecológica nacional. Neste li- vro verde, foi feita uma análise dos reinos vegetal e animal: o so- lo está se degradando, e a saúde da população corre sérios riscos, inclusive, comprometendo as ge- rações futuras.

Ecoiogização da política

O primeiro Congresso dos De- putados do Povo determinou uma revisão profunda de todo nosso desenvolvimento, incluindo-se aí nossa atitude em relação ã natureza, à ecoiogiza- ção das políticas implementadas pelo governo.

Queremos dizer, com isto, so- bretudo, que há interesse de uma mudança radical no caráter da atividade de produção, do ponto de vista de suas conseqüências ecológicas. Isto significa imple- mentação consistente e rigorosa de medidas de proteção à nature- za, adequação das tecnologias usadas na indústria e na agricul- tura, poupança de energia e re- cursos de produção, assim como introdução de tecnologias e uni- dades de produção não- poluentes.

A ecoiogização da política im- plica numa nova abordagem do problema do consumo e sua ra- cionalização. O nível de vida da população não pode ser tão ele- vado a ponto de exaurir os recur- sos naturais. E este processo de- ve ser acompanhado pela restau- ração das condições de vida do mundo das plantas e dos animais.

A ecoiogização da política afeta a maneira com a qual trata- mos os problemas sociais, espe- cialmente os problemas de saú- de decorrentes da deterioração do meio ambiente.

A ecoiogização da política im- plica dar todo o apoio possível à pesquisa científica e estudos fun- damentais da biosfera e seus ecossistemas.

A ecoiogização da política exige o reconhecimento da priori- dade dos valores humanos uni- versais, assim como a instituição da ecologia como parte da educa- ção e instrução das pessoas.

Situação na URSS

Já iniciamos um processo de reformulação total do sistema de conservação da natureza em nosso país. Programas específi- cos já foram adotados ou estão sendo desenvolvidos para dife- rentes regiões ou locais. O Sovie- te Supremo da URSS aprovou a resolução Medidas de Emergência para o Aperfeiçoamento da Situa-

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Agora vemos que o pior problemn airibieuial é a pobreza, pois leva o povo a destruir seu patrimônio natural

James Hugh Faukner, secretario-geral da Câmara de Comércio Internacional

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ção ecológica no País. Já está quase pronto o trabalho de pre- paração de todas as espécies biológicas e o estabelecimento de critérios científicos regula- mentando o uso de recursos naturais.

Nesse grande esforço de har- monização homem-natureza há trabalho para todos: Poder Exe- cutivo e Legislativo, instituições científicas e educacionais, orga- nizações públicas, movimentos sociais e iniciativa individual.

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Acreditamos que a experiên- cia acumulada por muitos países na área de preservação do meio ambiente merece consideração e, particularmente, os casos bem-sucedidos servem de exem- plo. Inegavelmente, no campo da ecologia precisamos de uma' coordenação política internacio- nal, pois só assim seremos capa- zes de evitar a catástrofe. É ver- dade que a elaboração de uma tal política levanta problemas di- fíceis e que ãs vezes afetam a so- berania dos Estados. Mesmo as- sim, este é um problema que po- de se resolver, através do esfor: ço cooperativo e a busca de um consenso.

Programa internacional

Em princípio, a União Soviéti- ca defende a criação imediata de um programa internacional para salvar a biosfera e restaurar a sua vitalidade. Aqui estão algumas de nossas idéias sobre este assunto: t - A URSS apoia totalmente pla- nos e ações de conservação da natureza propostos ou imple- mentados pela ONU e seus orga- nismos. Queremos que a Confe- rência da ONU para o Desenvolvi- mento e Meio Ambiente, a ser realizada no Brasil, em 1992, seja conduzida a nível de chefes de Estado. Seria apropriado discutir, nesta conferência, a elaboração

de um código internacional de ética ecológica. Um código que fosse a síntese de uma atitude ci- vilizada perante a natureza e que fosse adotado por todos os países.

A conferência de 1992 poderia também adotar um programa glo- bal de ação de proteção do meio ambiente e uso racional dos re- cursos naturais. Um programa que abrangesse a proteção do cli- ma mundial, da vida animal e ve- getal e preservação da diversida- de biológica, sem o qual é impos- sível salvaguardar as proprieda- des reguladoras da biosfera - e, conseqüentemente, da vida na terra. 2 — A URSS acha necessário criar um mecanismo legal internacio- nal de proteção às áreas naturais de característica ímpar e de im- portância global. Estamos nos re- ferindo àquelas áreas tais como a Antártica, o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo, o Lago Daikal. Ou ainda, às florestas tropicais e os recifes de coral-herança ecológi- ca da humanidade.

Cooperação tecnológica

3 — A URSS acredita que o mun- do precisa de um mecanismo in- ternacional que facilite a coopera- ção tecnológica na área de pre- servação da natureza. Nossa civi- lização precisa se voltar para um mundo onde tecnologias ecologi- camente limpas sejam acessíveis a todas as nações sem limita- ções. E, afim de desfazer temo- res, também estamos prontos pa- ra abrir nosso território à inspe- ção internacional do uso que fa- zemos de certas tecnologias, de- monstrando a necessidade de criarmos um mecanismo interna- cional de controle e monitora- mento ecológico. 5 — 0 direito a um meio ambiente saudável é um dos direitos hu- manos fundamentais. Entretanto,

temos que assegurar também o direito dos indivíduos e grupos de pessoas à participação na for- mulação de políticas ecológicas. A URSS apoia esta conclusão da Conferência Ecológica dos Países Europeus, realizada em Sofia. Is- to implica o direito à informação ecológica. Todos os governos de- veriam relatar, regularmente, suas atividades em defesa da na- tureza, assim como seus suces- sos e fracassos na defesa do meio ambiente.

No momento, países da Euro- pa estão debatendo a criação de uma agência européia de prote- ção ambiental e suas funções. Nós apoiamos esta iniciativa. A URSS está pronta para se lançar- ão trabalho de construí-la.

Testes nucleares

6 — A União Soviética acredi- ta que é chegada a hora de limitar as atividades militares. A melhor coisa a fazer aqui seria banir to- dos os testes nucleares. Mas tem também o problema da proibição e completa eliminação das armas químicas, cujo tratado espera- mos seja assinado logo. De modo geral, atividades militares em fer- ra, água e ar, e mesmo no espaço exterior, deveriam levar em con- sideração suas conseqüênciais ecológicas. Estamos planejando introduzir certas limitações nesta área e estamos preparados para assinar acordos internacionais com o mesmo objetivo.

Com uma certa freqüência, termos relativamente novos mu- dam de significado. Isto é verda- de para a palavra ecologia, que nasceu no século 19 como um conceito puramente científico é que para nós, hoje, adquiriu um significado verdadeiramente fatal".

HUMBERTO MAFRA, de Londres

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l^ O Centro-Oeste brasileiro é uma vasta

área de quase 2 milhões de Km2 e significa uma área cardiográfica onde

se concentram os corações do Brasil, em Brasília, e da América, em Cuiabá. Somos,

talvez por isso, tão apaixonados. :■ ,T ^/ ._.. '. ■ .Aline Figueiredo, crítica de arte

i^iiiiiilfiiliÉíinüaÉrtÜMliUliüm\ míêm

CINEMA Uma estética pós-industrial?

A gorducha alemã Jasmin, encarnada pela atriz Marianne Saegebrecht, faz de Bagdad Café um filme divertido pela trajetória do personagem — singular — inusitadameníe plantado em universo singu- larmente estranho: uma aíe- mã perdida e abandonada em algum lugar à beira de uma estrada perto da Disneylân- dia. Uma típica fraU entregue ao convívio de uma família in- teriorana típica americana. Ti- pos radicalmente opostos, mas todos comuns, medianos. Gente simples troca experiên- cia e se enriquece entrelaçan-

lím Cinema Paradiso e Bagdad Café, uma volta no tempo trazendo novamente o comum, o banal, o universo das coisas simples. O velho é o novo

do suas vidas. Nenhuma am- bição maior do que a de sentir mais confortado, mais feliz, sem muita exigência.

0 mais curioso da história, no entanto, não está na tela, Que motivo levaria o grande público a prestigiar tanta sim- plicidade? Seria o prenuncio de um equilíbrio entre efeitos especiais e a criação de uma nova escola pós-industrial, pós-cansaço tecnológico bus- cando um retorno, tentando encontrar-se na manifestação mais legítima, menos sofisti- cada onde acabam o bandido e o mocinho e o ser humano busca a si mesmo fazendo de cada personagem um espe- lho? O cenário, a fotografia, o gesto e a movimentação dos personagens parecem denun-

ciar com quase exclusividade o regresso aos valores huma- nos antes dos sociais e cultu rais. Por mais piegas que seja este enfoque ele não nos libe- ra da especulação superficial: se o corpo estranho violenta, também abre espaço para o conhecimento na troca de in- formações. E quem recebe mais, no caso? De quem será a vantagem, se é que ela existe?

O argumento de Cinema Paradiso vem com a mesma carga de perguntas. O públi- co, sobrecarregado pela ava- lanche da mídia eletrônica de informações, parece descobrir nesse tipo de filme, onde os mocinhos e bandidos que es- tão na tela são partes dele mesmo, no divertimento que é o cinema, uma ilustração ao próprio comportamento, à própria maneira de viver, con- servando hábitos e enrique- cendo informações recicladas sem pressa. Ao contrário do que podem supor os defenso- res da indústria cultural.

João Miramar Bolívar

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O que eu procuro não é a estética, mas a ética. 8ené Ponteies, artista e xaman

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ÍNDIOS: AQUéM DE

QUALQUER SUSPEITA Antes de uma viagem internacional, com cartões e slides na bagagem, Zéllo Visconti faz uma excursão pelo Brasil que

começa por Goiânia — no dia 15 deste mês na Galeria Itaú, Avenida Goiás, 300. Nesta mostra, seus quadros, uma

somatória superdiversíficada de técnicas com desenhos, colagens e pintura, dão continuidade ao ambiente da mostra

de Brasília. Nela, cada obra transcende o próprio conceito misturando sofisticação e simplicidade. Sem pretensões

intelectuais, sem propostas planejadas, a galeria, como a presença de Zéllo, se transforma em espaço cênico-

ritualístico-arquetipal. Fica vesgo quem quiser situar seu trabalho em escolas ou estereótipos. O exercício cerebral e o

choque ficam para quem costuma verbalizar formas.

Especial para o Viva Alternativa

pressão que mistura querubins com índios. Entidade divina e uma raça pura. Para o autor das obras, o índio é um ser divino. Al- guém que deveria estar, na terra, num plano alto de respeito, as- sim como no céu, os querubins têm hierarquicamente um posto alto.

No trabalho de Zéllo, as vozes

a arte digna teve um encontro com a dig- nidade indígena, O

artista plástico Zéllo visconti foi procurar na intuição as cores que imantaram os índios de vida e magia em Querubíndios, uma sé- rie de 30 quadros, dez dos quais já estão reproduzidos em cartões postais. Querubíndios é uma ex-

dos índios parecem estar muitas vezes distantes. E foi assim que o artista as percebeu quando, diante da televisão, viu um índio (Raoni) sendo carregado pelas mãos por um branco (Sting) em plena Paris. A marca da civiliza- ção e de um progresso desregra- do: pareceu a Zéllo, por uns ins- tantes, que aquela era uma ima- gem meio apocalíptica. O homem branco carregando o último indí- gena pelas mãos.

Genocídio Diante de todo o quadro que

se afigura no Brasil, do genocídio dos yanomami em Roraima ao xinguano ameaçado por várias hidrelétricas, Zéllo ouviu as vo- zes distantes. De indígenas dig- nos batalhando para sobreviver. De uma força ancestral sendo di- lacerada pelo autoritarismo do branco. É como se ele visse em uma de duas colagens já pronta o desfile triste de uma raça com medo de desaparecer. Mas, nos sonhos de Zéllo, o indígena está muito vivo.

Aculturação O sonho de Zéllo alcança os

índios em seus rituais de guerra e adoração. A pintura não é porém, apenas de urucum e barro. Em al- guns trabalhos, e aqui a crítica é fina e doída como o picar de uma agulha, o indígena está pintando com as cores que o branco im- põe. O índio aculturado, tatuado com etiquetas famosas como Adidas, Company, Mister Won- derfful. O indígena, pinta o artista, é muito mais wonderfful que qualquer moda brilhante ou vitri- nes cheia de piscas-piscas colori- das. É força pura.

O sonho de zéllo é então o so- nho de todo o homem de bem. O homem sensível que percebe que sem indígena não há ho- mem branco, não há dignidade possível. Daí que o índio, como o querubim, é divino. Porque ele está aí para lembrar da importân- cia vital do verde, da importância vital de ser honesto e ser bonito. Ser índio.

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O Jornal do Esquadrão da Vida n0 O Junho 1990

•:

COMO VOCÊ JA LEU LA EM CIMA, ESTE É 0 NÚMERO ZERO DE UM JORNAL FEITO PARA CRIANÇAS. MAIRA TEM 12 ANOS, TI AN A, II, JUCÁ MORENO, 9 E FRANCISCO, 8. O DIEGO, QUE TAMBÉM PARTICIPA DESTE NÚMERO, É DA IDADE DO JUCÁ. ALGUNS ADULTOS.

(SEM QUALQUER FANATISMO), ASSESSORAM A RAPAZIADA PARA QUE ELAS NÃO PERCAM A HORA DA ESCOLA: EDITAM, REDIGEM, SUGEREM. SÃO O ARY, A JANE, A

LUMI, A CRISTINA, A LÍDIA E A NEIDE. SE VOCÊ GOSTA, SE VOCÊ NÃO GOSTA, OU SE TEM SUGESTÕES A FAZER, ESCREVA PARA O ESQUADRÃO DA VIDA. CAIXA POSTAL

04/081 - CEP 70312 - BRASÍLIA-DF

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IO ^kdi/ IXL Ilustrações Bõmulo Andrade

Gente grande troca sonhos por dinheiro. A gente não pode se esquecer dos sonhos

quando cresce!

Francisco (Ico), Jucá, dando água ao boneco Criolo, Paulo Nogueira, boneco Max, Tiana, Diego, bonecos se beijando e secretária

CIENTISTAS/ECóLOGOS/AMBIENTALISTAS

CONTAM COMO INICIARAM NA PROFISSãO Os pianos que

vieram dar nesta primeira edição do

PACATATUCÒTIA duram mais de dois anos. Demorou tanto que o elenco, então bem mais jovem, quase perde a condição de cííança, o que imprimiu urgência urgente ao projeto. Por isso esta edição só sai com a entrevista meio caótica, meio tumultuada, mas superalegre que a equipe fez com os cientistas/ambientalistas Paulo Nogueira' Neto e Célio Vale. Estavam junto o Bernardo Bremer, o Manuel Borges, o Celso Schenkel, a Conceição e outros funcionários do Ibama da área de ecossistemas. A entrevista estava marcada com Célio mas quando

chegamos ele estava em reunião urgente e (por aqui é tudo urgente!) com a equipe mais o Dr. Paulo. Acertamos o gravador (que já nos roubaram em uma viagem) e a máquina fotográfica (só temos uma porque um equipamento profissional também nos foi roubado do carro em frente a um banco).

Fizeram também parte da entrevista trabalhando muito (que ninguém é de ferro!) os bonecos de Rogério Dias e de Ana Mendes, "velhos" colaboradores da nossa desorganização chamada Esquadrão da Vida na qual todo mundo é ator, acrobata e repórter, mas, ninguém tem tempo pra fazer nada! Enfim, está feita a entrevista.

As perguntas não sofreram qualquer influência dos ditos adultos e ela rolou no melhor clima de atropelo. Entre mortos e feridos, todavia, sobrou todo mundo ileso. Inauguramos assim, na imprensa brasileira, a entrevista concedida a bonecos. Não cortamos nada e ela conserva a informalidade. O então diretor de Ecossistemas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis—Ibama, Célio Vale, entrou fácil no improviso. E o Dr. Paulo Nogueira Neto foi responsável pela serenidade de avô compreensivo e colaborador. Mas chega de papo que está tudo aí embaixo.

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A Urologia depende da vida e a vida depende da Ecologia. Fernanda, Escola Classe 113, Brasília

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aíra — Por que você escolheu esta profissão?

Célio — Olha, dizer porque esco- lhi esta profissão é meio difícil, né? Mas eu a escolhi porque acho a vida muito bonita e a biologia estuda a vida como um todo. O médico estuda a vida doente do homem. O veterinário, a vida doente dos bichos. O dentista, a vida doente dos dentes. E eu pre- feri estudar a vida.

Maíra — Ah, tá bom. Francisco — Por que você es- colheu ser ecologista?

Dr. Paulo Nogueira Neto — Ê difícil saber. Quando eu tinha Z á 3 anos de idade já andava can- tando pelo jardim. Aliás, para ser franco, 2 a 3 anos de idade deve ser exagero, mas com 7 anos eu cuidava do meu canteiro, das plantas... Acho que foi por meu avô que gostava muito de plan- tas e bichos. E os avôs têm muita influência em relação aos netos. Então, fui me encaminhando pa- ra isso e quando fiquei adulto re- solvi estudar biologia porque pa- ra defender bem a vida a gente precisa conhecer os mistérios da vida, como disse aí o nosso ami- go e colega Célio Vale. Fiquei na universidade e hoje sou profes- sor de ecologia lá na Universida- de de São Paulo USP. Ao mes- mo tempo, eu achava que não bastava estudar a vida, mas tam- bém protegê-la. Proteger as flo- restas, os campos, os cerrados, enfim, proteger as áreas naturais. E, para isso, tínhamos que formar um movimento. Em Í956, junto com alguns amigos, fundamos o que naquele tempo chamava-se Associação de Defesa da Flora e da Fauna. Depois o nome mudou para Associação de Defesa do Meio Ambiente de São Paulo, que existe até hoje. Depois co- meçamos a colaborar com o go- verno, sugerir coisas para os go- vernos, criticar os governos, fa- lando das nossas soluções. En- fim, começamos a fazer como to- dos os movimentos conservacio- nistas no mundo inteiro: fazer com que a opinião pública cada vez mais interessasse e cada vez mais pudesse agir em defesa do meio ambiente.

Ico — Qual a sua idade?

O gabinete de Célio Vale vira redação/palco. Jucá e Paulo compenetrados (abaixo)

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l^w que sujar, nràiàf c dcsiruir se a natureza

somos nós mesmos? Cardec Eurico Silva, ■. Escola Classe 113 Sul, Brasília

Maíra abraça Céilo e Max; Jucá e Diego manipulam bonecos que se acariciam enquanto Dr. paulo assiste e Manoel telefona

Dr, Paulo - A minha idade? )-:u estou numa idade em que não se gosta de falar de idade, viu? íenho 67 anos com netos do ta- hnanho de você e até maiores. Eu Jenho netos na Universidade de São Paulo. . z

Jucá - O que é mais impor- tante: proteger a vida do homem ou da floresta?

! vDr. Paulo — Eu acho as duas coisas importantes. O homem de- fende da floresta e de muitas coi- sas. Então, não adianta a gente defender a vida do homem sem defender também a floresta. Para que a cidade tenha água limpa, Í)or exemplo, a gente tem de pro- eger as florestas que permitem Íiue a água seja limpa. Se des- ruirmos a floresta amazônica,

vamos mudar o clima do Eirasil, em primeiro lugar, e, em segundo lugar, podemos prejudicar o cli- ma do mundo. Se a gente não de- fende a floresta amazônica, va- mos estar prejudicando milhões e bilhões de pessoas que depen-

dem do clima. Se o clima mudar bruscamente, em pouco tempo o sofrimento da humanidade vai se tornar terrível. Milhões de pes- soas podem até passar fome por causa da mudança do clima exa- tamente porque não haveria tem- po para o homem se adaptar á transformação rápida.

Jucá — O que você faz no dia- a-dia pra proteger a vida?

Dr, Paulo — Bom, eu fui secre- tário do Meio Ambiente durante 12 anos e meio, secretário da Se- ma — Secretaria Especial do Meio Ambiente. Depois, eu organizei a proteção do meio ambiente co- mo secretário do Meio Ambiente do Distrito Federal. Sou professor da USP, titular de Ecologia no ins- tituto de Biociências. E participo de muitas comissões, conselhos relacionados ao meio ambiente, o Conselho Estadual de Meio Am- biente de São Paulo e várias enti- dades nacionais e internacionais. Estou sempre nessa luta. O cargo da gente é menos importante. O

:]ue importa é a gente se dedicar à luta a favor do meio ambiente e lutar onde estiver.

Francisco — Há quantos anos você trabalha como ecologista?

Dr, Paulo — Já faz 34 anos. Eu e muitas outras pessoas no Brasil dedicamos o melhor de nossas vidas ou grande parte delas a es- sa luta. Você, por exemplo, co- meçou agora. Quando tiver a mi- nha idade, vai estar com mais tempo ainda de lutar a favor do meio ambiente.

Ico — Você gosta de trabalhar nisto?

Dr. Paulo - Eu gosto muito. E trabalho porque realmente gosto disso.

Tiana — Dr. Célio, o que você acha das queimadas?

Célio — A queimada é uma coisa muito séria quando é reali- zada de qualquer maneira. Na queimada há riscos e quando é muito forte a floresta não volta

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*%nata. 13

Não mate nada. por favor! Francisco, 8 anos. ilustrador

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mais. O fogo é uma coisa boa. O fogo mal usado é que é ruim. A água é uma coisa ótima, sem água não podemos viver, mas água demais também mata por inundação. Sem fogo, você não cozinha, mas fogo demais mata. O fogo tem de ser usado como São Francisco queria. Como nos so irmão fogo e não como inimi- go. O fogo, coitado, não tem cul- pa. A gente faz o fogo, que quei-

depois não terá carne. Ele tem que comer alguns e deixar ou- tros. A derrubada, quando é uma destruição estúpida, é ruim.

Tiana — A idéia de replantar parques florestais pode dar cer- to? Por quê?

Célio — Deve dar certo porque os parques são uma espécie de banco. A gente guarda as coisas importantes. Nós dependemos

perguntar qual era a sua utilida- de. Se hoje eu lhe mostrar a se- ringueira, você vai dizer que é importante e produz borracha. Então, naqueles matos lá fora tem um colosso de plantas que hoje não sabemos o que sao, mas que, daqui a 50,100 ou 1.000 anos, seus netos vão saber, entender.

Tiáiui - O nij>cnhciio agrôno- mo Evaristo de Buamuc Miranda.

Maíra assiste Tiana e Célio rindo da pergunta do boneco Max

ma gente, queima as florestas, queima bicho. Aí é que está erra- do. Não que ele seja ruim, mas é o homem que jogou o fogo que está errado.

Tiana — O que você acha da derrubada de árvores?

Célio — É a mesma coisa. As árvores são um bem. Se não ti- vesse árvore você não tinha essa mesa (bate a mesa). Mas se todas elas forem derrubadas, você não terá nem mesas, nem árvores. É como o fazendeiro. Ele precisa de carne para comer. Se ele co- mer todos os bois da fazenda.

de bichos domésticos, não é is- so?... do boi, da galinha, do ca- chorro, do cabrito. O chocolate que você come sai de uma árvo- re, da floresta. Todas essas coi: sas foram do mato, que o homem pegou e usou. Transformou aquela coisa do mato em choco- late. Depois plantou novamente a coisa do mato para que não desa- parecesse. Assim é com a borra- cha, que é o leite de uma árvore, a seringueira. Ninguém dava im- portância àquela árvore lá no ma- to. Se nós estivéssemos conver- sando há mil anos e alguém mos- trasse uma seringueira, você iria

da Hmbrapa coiuiuiu que o inun- do não está se acabando v que a Amazônia funciona como ar con- dicionado do planeta. O que você acha?

Célio — É isso mesmo. O equi- líbrio é aquilo que o Dr. Paulo fa- lou. O ar condicionado é o clima. E, além disso, há outra coisa im- portante. A floresta amazônica é a área mais rica do mundo em coisas vivas. É uma espécie de banco, onde estáo guardadas coi- sas importantes que podem ser a cura das nossas doenças e ali- mentos do futuro que estão es- condidas lá dentro, coisas que

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14 ^W^ A vida é delicada como a flor. B ambas têm que ser cultivadas com cuidado.

Patrícia de Alencar Bezerra, Escola Classe 113 Sul, Brasília

te está virando um caso serio. O que você acha disso?

Célio — O mercúrio é um dos fatores. O homem, quando usa uma forma de trabalhar, produz coisas que envenenam. Essas coisas que envenenam às vezes são jogadas na natureza de qual- quer maneira. E o mercúrio é uma delas. O homem tem de es- tudar. Quando faz alguma coisa sobra um resto. Deve saber co- mo usar o resto. Outro problema é a exploração do ouro: você fica na beira do rio e usa o mercúrio para amalgar o Ouro e o que so- bra desse processo ê jogado nos rios, contaminando os peixes. Depois, nosso corpo também é contaminado. É preciso agir de modo muito enérgico para evitar isso. Por outro lado, os cientistas têm que trabalhar, descobrir um jeito de tirar o ouro sem destruir a natureza.

um dia a natureza fez e se você jogar tudo pela janela estará jo- gando uma riqueza que você nem sabe que é riqueza.

Tiana - Você realmente acha que a Amazônia é o pulmão do mundo?

Célio — Não é. Ela é o ar con- dicionado, é a riqueza do mundo e muito mais que isso. Pulmão é muito pouco para a Amazônia.

Tiana — Você acha que os ecologistas estão falando muito sobre a Amazônia e deixando dé lado o Pantanal e os outros sistemas?

Célio - É verdade. Se você olhar bem para o Brasil, a floresta atlântica - essa do Rio de Janeiro e do centro de São Paulo, por exemplo, verá que está muito mais destruída que a amazônica. Como a gente quase não vê — quando você vai ao Rio de Janei- ro, aquela mata do morro da Tiju- ca é floresta - realmente ás ve- zes a gente esquece. É muito im- portante pensar na floresta ama- zônica, mas temos de pensar no pantanal, nos cerrados, no mato em torno de Brasília que estão mais ameaçados do que a flores- ta Amazônica.

Tiana — O mercúrio realmen-

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A Hcologia é como uma flor. Se a gente não cultivar ela morre. Só que se ela morrer a gente morre também. Igo W.A. de Macedo E. C. 113 - Sul, Brasília

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Tiana — Os garimpes traba- lham com certo regulamento. Vo- cê acha que eles obedecem esse regulamento?

Célio - Não. Tiana — Que medidas os eco-

logistas estão tomando em rela- ção à extinção da fauna e da flora?

Célio — O animal sofre dois ti- pos de extinção. Uma que é nor- mal e que deu origem à evolu- ção. Quando você vê uma figuri-

vive, a floresta, o mar. Ele polui os rios, os animais não conse- guem se adaptar e acabam sem evoluir. Isto é outra forma de extinção.

Tiana - O que você acha do Governo em relação à natureza?

Célio - Olha, o Governo é muito ligado às pessoas. A gente tem que pensar assim: o Governo é uma coisa inseparável de nós e uma coisa firme, que está viva. Eu sou enjpregado do povo, da natureza. E preciso que o jornal-

nheiro. Ou o cara que faz automó- veis que gostaria que o mundo virasse automóveis, o cara que faz estradas que gostaria que o mundo virasse estradas. Para não acontecer isso é preciso que haja um mundo unido para saber- mos que nada é assim, absoluto. Que cada coisa tem seu lugar. A ecologia procura ensinar isto.

Tiana — Que providência o Governo poderia tomar sobre a natureza?

Célio — A mais importante é

Dê para o melhor amigo, melhor filho, maior irmão ou para você mesmo um presentão:

uma assinatura de PacaTatuCotia. Mande cheque ou 500 cruzeiros para a conta

n0 670.250-3 da agência 1003-0 (Brasília) do Banco do Brasil em nome de Ari José

de Oliveira. Ou, simplesmente, mande seu nome e

endereço com cheque e tudo para Esquadrão da Vida Produções Culturais, Caixa Postal 04/081

(CEP) 70312 - Brasília-DF. Ou, ainda, telefone para (061) 224-5342.

nha dos dinossauros, por exem- plo. Eles sumiram da terra, mas foi através de um processo natu- ral. Os dinossaurozinhos peque- nininhos antigos, por exemplo, deram origem aos passarinhos; Há uma forma de extinção de se- res vivos que é natural. Como vo- cê, que é hoje uma menina. Da- qui a 20 anos, será adultq. Uma mudança natural. O errado é mu- dar de repente. O que acontece com os animais é que o homem está destruindo o meio em que

zinho de vocês ajude na cons- cientização, dizendo ao povo que ele é o Governo e nós, os funcio- lários públicos, somos os empre-

gados dele. Os pequenos grupos é que acabam no Governo. Daí vem a inportância de você hoje defender uma democracia, os di- reitos de todas as pessoas, dos movimentos, e não o direito de uma só, como a do plantador de soja que quer que o mundo intei- ro vire soja. Ou o banqueiro que quer que o mundo inteiro vire di-

dar recursos para as ações de proteção à natureza, fiscalizando os que querem somente os inte- resses deles. Outra seria a educa- ção para que as crianças já nas- çam com essa preocupação e se tornem adultos com essa cons- ciência, você um dia vai ser um engenheiro, jornalista, seja o que for. O importante é levar essa sua cabeça de hoje.

Diego — Você pode explicai um pouco sobre o seu trabalho?

Célio — Olha, eu estou traba-

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16 ^n/\ ̂(k/n^m. Os índios têm outras línguas e costumes. Mesmo quando não

os entendemos devemos respeitá-los! Tlana Oliveira, da equipe do PacafatuCotía

Ihando aqui em Brasília tem um ano. Mas sou professor e me or- gulho da profissão. Sou professor de Biologia da Universidade de Belo Horizonte. Ano passado vim para cá e junto com meus cole- gas estamos por aí, fiscalizando, estabelecendo parques, prote- gendo os animais, preservando árvores para que elas possam vi- ver. Nosso trabalho é assim meio de jardineiro da natureza, procu- rando ensinar às pessoas que a

natureza é importante. Tiana - Você pode dar uma

palavrinha final para nós? Celio — Eu acho o jornalzinho

de vocês uma beleza. É genial e paca pra tu pra tutu, pra cotia e todos os bichos, e Iodas as plan- tas de toda a vida. Eu desejo que seja a voz das crianças. Que pos- sa passar as idéias para um mun- dão de crianças. Vocês têm que falar no jornalzinho que essas idéias não podem secar. Gente

grande troca sonhos por dinheiro. A gente não pode se esquecer dos sonhos quando cresce. Tem de ter sua vida, trabalhar, mas sem esquecer que o mais impor- tante é a qualidade do lugar. E que gente séria não é fazer o mundo virar soja, boi, capim. OS macacos, as borboletas é que fa- zem o mundo ser colorido, diver- tido. Tem os que sempre são crianças, apesar dos dramas, não é?

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A única usina atômica: segura é aquela que não foi construída Deputado federal Fábio Foldmann V

Painel-Grafite de Siron Franco abandonado na Rua 57, onde foi encontrada a cápsula de Césio 137, em Goiânia.

LIXàO ATôMICO: PESADELO EM ABADIA pacata cidade de Aba- dia de Goiás (GO) vive há dois anos e meio um

drama. Desde que três mil tonela- das de rejeito radioativo — produ- zidas pelo acidente nuclear em Goiânia com uma cápsula de Cé- sio 137, em setembro de 1987 — foram transferidas para aquela ci- dade, medo e insegurança toma- ram conta da população. Enquan- to não se define o local definitivo para onde será transferido (leia box), o lixo atômico é guardado em condições precárias.

O lixão atômico, que ocupa uma área de 150'm x 300m, é um tormento para os moradores de Abadia de Goiás. A cidade não recebeu a assistência prometida pelos políticos como exames mé- dicos periódicos, instalação de posto de saúde e elaboração de Relatórios de Impacto Ambiental (Rimas). ''Os políticos e os técni- cos sumiram há muito tempo!" reclama o presidente da Associa- ção de Moradores de Abadia Adaflor do Nascimento.

Grupos ambientalistas de Goiânia e Brasília denunciaram a contaminação de mananciais hí- dricos da região. Próximo ao de- pósito, numa área de charco, há uma represa que recebe o escoa- mento de águas pluviais deixan- do em seu caminho grandes ero- sões. O ribeirão Dourado recebe águas desta represa, e mais à frente deságua no rio Meia Ponte — um dos principais abastecedo- res da população goiana. No per- curso, cerca de 20 km antes de

chegar na capital, Goiânia, cente- nas de pequenos produtores ru- rais utilizam estas águas em hor- tas, serviços domésticos e ativi- dades agrícolas.

Desinfdnnaçáo

Outro ponto crítico é a total desinformação por parte da po- pulação sobre a questão nuclear. Segundo membros da Associa- ção de Moradores, desde a insta- lação do Lixão, apenas um relató- rio sobre impacto ambiental che- gou á comunidade, "f^oi difícil ler", comenta um morador. "Não conseguimos entender quase na- da", conclui.

Não são raras as denúncias por parte de moradores envol- vendo mortes misteriosas de ani-

mais domésticos e até de gado que sucumbem depois de perda de pelo e unhas e de forte diar- réia. Como ninguém explica, o aparecimento de feridas e sim- ples coceiras passam a ser moti- vo de dúvidas e estranheza e a culpa recai inevitavelmente para o "tal do lixo do Césio".

O Futuro Do Lixo Atômico

A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), através de seu representante em Goiás, Walter Ferreira, afirmou que a re- moção do depósito e a implanta- ção de uma nova área serão su- geridas ao governador do Estado Henrique Santillo.

Bolívar Figueiredo

Novo problema: para onde? A escolha de um local defi-

nitivo para a instalação do lixo do acidente nuclear de Goiânia está sob impasse. Em abril, a SAE, Secretraria de Assuntos Estratégicos e as Forças Arma- das acertaram o prazo de um mês para uma solução definitiva.

Uma das propostas é a de transferir o rejeito radioativo pa- ra a Serra do Cachimbo, sul do Pará, onde o Ministério da Aero- náutica possui uma base para

testes de armas. A outra, seria a de manter o lixo definitivamente em Abadia de Goiás. Ambienta- listas do Mato Grosso, de Goiás e de Brasília são contra estas duas opções. "Nossa fauna e flora seriam afetados", explica Heitor Queiroz, presidente da AME — Mato Grosso. As entida- des de Brasília, lideradas pelo YB — Movimento Terra, e as de Goiás anunciaram que também não vão permitir que o lixo seja instalado definitivamente em Abadia.

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18 ^fcu*»- O acidente do Césio 137 em Goiânia mostrou que a desinformação do povo e o despreparo das autoridades podem transformar IQQ gramas radioativas num terrível pesadelo.

f^S} CONSÓRCIO

tS> COPLAVEN _ Para melhorar a ^P-^Jr qualidade da sua vida ^gt

Carlos Mine, deputado estadual do PT-RJ

ÜÉÉM mmàÊMÊmm mu fMrtumiilBi ÉÉÉÜi

BRASILIENSES ACUSAM

RADIAçãO EM SHOPPING mbora com atraso, já que a reunião regional do Centro-Oeste fora

realizada um mês antes em Goiâ- nia, realizou-se, no dia á de abril, com convocação da Patrulha Ecológica, o Encontro das Entida- des Ambientalistas Não- Governamerlfaís do DF. As ativi- dades revelaram certa anemia em segmentos do movimento am- bientalista, mas colocaram em pauta também seus compromis- sos de procurar coesão. O encon- tro se caracterizou, principalmen- te, pela presença de grande nú- mero de entidades iniciantes, ca- rentes de informações em nada mudando, portanto, o quadro ge- ral nacional. A desinformação faz com que as entidades se preocu- pem mais com a busca de for- mas para se beneficiarem de re- cursos do que com as estratégias para gerá-los, numa discussão que se arrasta dentro do movi- mento, da necessidade de se "profissionalizar", no sentido de se fazer acompanhar por cientis- tas e técnicos que dêem respaldo

legal a discussões e denúncias. Da reunião de Brasília, reali-

zada na Cidade da Paz, no decor- rer do dia, sobrou o convívio e a troca de experiências entre as en- tidades que discutiram entre si as possibilidades financeiras. As formas de campanha para arreca- dação de fundos, as propostas de ação direta e as postulações do segmento junto às representa- ções políticas.

A reunião mostrou ainda preocupação com a desarticula- ção da Secretaria (nacionalí do Meio Ambiente e do Ibama (Insti- tuto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e a falta de clareza na política ofi- cial para o meio ambiente. E de- nunciou suspeita de radioativida- de do Conjunto Nacional Brasília, tradicional centro comercial local. Entre outras denúncias importan- tes, estavam as diretrizes do Go- verno que devolvem aos milita- res o gerenciamento da questão nuclear e a situação precária do lixo nuclear instalado em Abadia de Goiás.

Luiz Eduardo, da Patrulha Ecológica. ■ Francisco Lacerda, do Move

O Move (Movimento Ecológi- co de Brasília) ficou encarregado pelas entidades presentes de arti- cular, junto com a Patrulha Ecoló- gica, a próxima reunião. Entende- ram elas que o prazo de dois me- ses é o ideal para encontros lo- cais enquanto não se define atua- ção mais nítida.

Ambienfe' no shopping O Move e a Patrulha Ecológi-

ca estiveram no dia 7 de maio, por volta das 12:30 horas, no Con- junto Nacional Brasília. Um conta- dor Geyger e um cintilômetro, aparelhos que medem o grau de irradiação, acusaram 90 CPS (contagem por segundo) nos cor- redores onde funcionam clínicas odontológicas e médicas com equipamentos de raios X. Considerando-se a tolerância de até 50 CPS pelo organismo huma- no, de acordo com padrões da Organização Mundial da Saúde, a emanação acusada ultrapassou qualquer limite. "Apenas na rua a tolerância está dentro dos pa- drões", afirma Luís Eduardo, da Patrulha. "Nas áreas próximas aos laboratórios a situação é críti- ca e o equipamento usado para o manuseio é ridículo colocando em perigo a vida dos funcioná- rios desavisados. Além disso, não há qualquer proteção nas pa- redes, o que expõe à emanação até o simples transeunte. E o mais inacreditável é que convo- camos o CNEN, o ibama, a Secre- taria de Saúde e a Sematec e nin- guém da área oficial atendeu ao convite o que aumenta nossa preocupação, já que isso reitera a postura do Governo de prover- bial omissão".

A PAZ FORA DA CIDADE "Onde é c(ue vocês pensam que es-

tão?". A incômoda pergunta vinha de fun- cionários da Cidade da Paz. Como se no lo- cal onde ela se instalou. - a Granja do Ipê, ex-moradia de mirftótros militares como Golbery do Couto e Sifva - ainda nâo hou- vesse chegado os novos ventos pós- militares e constitucionais, violentando uma assembléia instalada em uma de suas salas, a Cidade, por seus funcionários, fez ver gue a Paz ainda segue padrões de guer- ra, uma funcionária explicou que ali moram pessoas e que nâo era lugar apropriado pa- ra grandes volumes de voz. Nâo deu, con- tudo, qualquer luz sobre as críticas que pai ram, sobre a ocupação de um bem público sem qualquer prestação de contas ou be- neficio social. Com a palavra a Cidade (com perdão da palavrall da Paz.

fjf.

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"Precisamos democratizar o processo de escolha de representantes do movimento

civil na Conferência da ONU. Não basta ter dólates e ser poliglota... Há que

se ter também autenticidade e ressonância social. Enfim, não é coisa para pára-quedistas!"

Rubens Harry Bom, da Óikos

Ütfürtiiviiiítiiiii' iiiiMiri mimn MVirniiriii íftinfMtfi miill

AUDIêNCIA AGITA CUIABá audiência pública, reali- zada em 18 de abril, pa- ra a apreciação do Estu-

do de Impacto Ambiental (E1A), relati- vo à instalação de uma fábrica na In- dústria de Bebidas Antárctica em Nía- to Grosso, revelou que o projeto vai colocar em risco a qualidade da água consumida pela população, pois os rejeitos industriais serão jogados aci- ma do ponto de capiação da átfua que abastece Cuiabá. O local para instala- ção da fábrica, de 60 hectares, fica às margens do Rio Cuiabá, na antiga es- trada para a localidade de Nossa Se- nhora da Guia.

Ficou claro para os diversos seto- res da sociedade civil que o Estudo de Impacto Ambiental apresentado pela firma tílsan Engenharia — con- tratada pela Indústria Antártica -» é superficial e incompleto o que tam- bém foi confirmado pelo parecer téc- nico da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEMA).

Pontos Fiilhos

O Estudo de Impacto Ambiental deixa de atender vários itens, confor- me constataram os integrantes da Ame — Malogrosso. da Ecotrópica e da Associação de Defesa do Rio Coxi: pó, os professores da Universidade Federal de Mato Grosso e os mem- bros da Associação Brasileira de En- genharia Sanitária, ABES.

Segundo professores da UFMT (Universidade Federal de Mato Gros- so), o estudo apresentado pela Antár- tica tem erros primários, como a intro- dução de espécies animais estranhas à região, tais como o matrichã (da Ba- cia Amazônica) e uma espécie de pi- ranha típica do Rio São Francisco,

além de deixar claro que não foram feitos trabalhos de campo. Outro erro refere-se aos nomes científicos dos animais, grafados erroneamente, de- satualizados ou trocados. A legisla- ção que trata do Rima determina que sejam apresentadas alternativas de localização para os projetos indus- triais, o que não ocorreu. A Antártica, por ter recebido a área do Governo do Estado, não está disposta a apresen- tar outras alternativas de locais.

As entidades ambientalistas colo- cam em dúvida o processo de licita- ção da área, pois entendem que hou- ve favorecimento para a Antártica. Em 22 de junho de 1989, o então go- vernador Carlos Bezerra sancionou a l.ei n" 5.4'56 — aprovada pela Assem- bléia Legislativa — autorizando o Po- der Executivo a vender a área de 60 hectares pertencente ao Estado. O edital de concorrência pública deter- mina que a referida área seja utilizada na implantação de empresa industrial do ramo de cervejas e refrigerantes, chegando a apresentar exigências idênticas ao projeto industrial da An- tártica, tais como gerar 650 empregos diretos e o investimento previsto.

— A lei é inconstitucional, pois não passou pela apreciação da Co- missão de Meio Ambiente da Assem- bléia Legislativa. O edital é um caso de polícia, pois já determina quem deve se instalar no local — uma indús- tria de cerveja e refrigerante — e até há uma suposta coincidência entre o investimento e o número de empre- gos exigidos e os ciados apresentados p<-la Antártica, disse o presidente da AMH, Heitor Queiroz.

Leonel Azevedo, de Cuiabá

ONU se prepara para 92 Em 1992, o Brasil será sede da II Confe-

rência Mundial Sobre Meio Ambiente e De- senvolvimento, patrocinada pelas Nações Unidas. A primeira aconleceu há 20 anos, em lislocolmo (Suécia). Paralelamenle, or- ganizações nâo-governamenlais e segmen- tos independentes do mundo váo promo- ver o Lcotorum.

A primeira reunião para tentar definir uma agencia para esre encontro foi realiza- da em vancouver (Canadá), em março pas- sado, patrocinado peloCenler for Our Com- mon Future. Participaram dela 150 pessoas, representando 115 organizações, sendo 40 de países do Terceiro Mundo. Do Brasil compareceram Salve a Amazônia, Funalu-

ra. Fundação SOS Mala Atlântica e Amigos da Terra/RS, além de un representante do Itamaraty. As principais recomendações ti- radas desta reunião foram:

l" - O objetivo maior dos segmentos in- dependentes deve ser o de pressionar para que os países implementem políticos de desenvolvimento sustentado e para asse- gurar que as recomendações do encontro oficial sejam realmente postas em prática.

2o — Por questões de ordem prática, o termo ONG deve ser interpretado não só como organizações não-governamentais mas o setor independente como um todo, induindo-se, além das prõprias ONGs am-

bientalistas, grupos industriais, sindicatos, instituições científicas, organizações de mulheres, grupos jovens, nações indígenas e outros. Hm outras palavras, a sociedade civil.

3o — O Setor independente deve ter o direito a participar, sem direito a voto, do Comitê Preparatório para 92.

4" - Para assegurar que os preparati- vos para a reunião de 92 não se concen- trem somente em temas mundiais, como efeito estufa, sugere-se que seja dada ênfa- se especial aos problemas comunitários localizados.

5o ^ O setor independente deve fazer um esforço especial em todos os países para participar das delegações nacionais oficiais preparatórios para 92.

6o - O setor independente deve dar atenção especial â participação de mulhe- res (de preferência 50%) nas reuniões preparatórias.

7» O PNUD (Programa das Nações Uni- das para o Desenvolvimento) e o PNUMA (Programa das Nações tinidas para o Meio Ambiente) devem desempenhar um papel especial em colaborar na formação de coa- lizões nacionais.

H" - Recursos financeiros devem ser buscados para apoiar a formação de redes de informação e coalizões formadas pelo setor independente a nível regional, nacio- nal e internacional e para assegurar a parti- cipação dos representantes dos países em desenvolvimento em todas as fases prepa- ratórias da reunião.

9o - O Gemer for Oiir Gommon Future deve servir como referencial para o envol- vimento do setor independente no proces- so preparatório para 92. Deve agir ainda co- mo um intermediário entre o setor indepen- dente e as Nações Unidas e facilitar a co- municação dentro do próprio setor independente.

10° - O Center for Our Common Future deve alertar imediatamente o governo do Brasil da necessidade de encontrar condi ções para a realização do evento paralelo, que deverá reunir cerca de 20 mil pessoas.

0 Genter, ao aceitar a missão de agir como um ponto de referência no processo da reunião paralela de 92, enfatizou que não pode e nem irá aceitar o papel de porta-voz para o setor independente. A en- tidade considera que a descentralização é fundamental para que todas as organiza- ções representem o seu papel no encontro oficial e nos eventos paralelos, tíla ressal- tou ainda a importânciíde se formarem re- des regionais e nacionais para influir no en- contro paralelo e oficial.

A reunião de (irnebra Ainda em junho será realizada em Ge-

nebra uma segunda reunião preparatória do encontro que iratará das seguintes questões:

1 — Como o setor independente deve contribuir para as reuniões do Comitê Pre- paratório oficial da ONU em Nairobi, Gene- bra e Nova Iorque.

2-0 estabelecimento de uma agenda do setor independente para 92.

3 — A criação de um comitê internacio- nal para o envolvimento do setor indepen- dente em 92.

4 — A natureza e a organização dos eventos paralelos no Brasil.

Pelo Brasil, participarão da Reunião de Genebra, as organizações Salve-a- Amazõnia (Carlos Prado), Uni - União das Nações Indígenas (Allton Krenak) e Funatu- ra - Fundação Pró-Natureza. (Nikolaus Von Behr) Nikolaus Von Behr

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Temos consciência do valor no trabalho conjunto e queremos resgatar o nosso junto às Não-Governamentais. Tânia Munhoz, presidente do Ibama. em junho -fT

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FESTIVU-DO-PfiXE-BOI-m - 22,23 eM de Junho

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Novo AIRàO BUSCA UM

MODELO PRESERVACIONISTA Novo Airão, cidade ama2oj

nense à margem direita do Rio Negro e setíarada de Manaus por oito horas de barda, começa a sei citada e lembrada por ecologistas e cientistas. Brevemente, com certeza terá definida sua vocação de modelo preservacionista sob pena de cair na vala comum dos municípios invadidos pelo turis- mo selvagem, Com três mil habi- tantes na área urbana e outros se- te mil nas bordas das florestas, beiras de rios ou em atividades agrícolas em terra firme, seu terri- tório é tomado em 80% por áreas preservadas oficialmente. Nele se enquadram o Parque Nacional de Jaú, a Estação Ecológica de Anavilhanas e a reserva indígena Waimiri Atroari.

A localização' do município o impele para uma inevitável situa- ção: seus recursos devem ser ex- traídos de atividades ecologica- mente preservadas. O prefeito wilton Pereira dos Santos parece ter aceitado o desafio, diferente- mente da maioria dos prefeitos do interior, para quem o desen- volvimento deve ser implantado a qualquer custo, ele busca infor- mações nos meios científicos pa- ra um desenvolvimento auto- sustentado. Aceita riscos como o de implantar uma microusina pa- ra atender a demanda de energia elétrica suprida atualmente por motores diesel e quer promover experiências usando recursos já disponíveis como as pesquisas regionais da Embrapa. E vem aceitando assessoria informal de ambientalistas na tentativa de modernizar seu mandato. No que é acompanhado por uma Câmara de Vereadores atenta.

Parque Jaú

O Parque Nacional do Jaú tem sido um peso para o município. Com seus 2,2i2 milhões de hec- tares, ele ainda abriga mais de

200 famílias remanescentes da colonização iniciada na chamada era da borracha no século passa- do, e retomada com os soldados da borracha na década 40. Criado em setembro de 1980, o Parque até hoje não conseguiu ver supe- rados na prática seus principais problemas, vítimas de uma políti- ca clientelista regional e do des- caso federal, as 800 pessoas que nele permanecem estão proibi- das de plantar até para a própria subsistência e têm medo de per- der seus direitos abandonando a área.

Com a desativação das roças, da criação de animais domésti- cos e do abate de animais silves- tres (entre os quais algumas es- pécies em etftinção) elas ironica- mente vivem presas a um verda- deiro manancial de recursos sem a mínima condição de sobrevi- vência imediata. O desentendi- mento burocrático entre Estado e Federação suprimiu um progra- ma de combate à desnutrição que dava assistência às famílias. Ex-moradores são compelidos ao êxodo para a cidade que, sem ai; ternativas a oferecer renuncia á inflação desordenada. Moradia e trabalho já não atendem à demanda.

"Queremos fazer um trabalho amplo que consista em assistên- cia social, programas de atendi- mento médico básico e sanea- mento acompanhados por cam- panhas de educação ambiental. Esperamos que, com isso, possa- mos preparar a população para uma integração comunitária com um desenvolvimento protegido ecologicamente no qual se possa incluir um turismo são, nâo- predatório. Achamos que é pos- sível aplicar teses já amadureci- das cientificamente para não re- petir erros e criar um novo para- digma, um novo modelo de mu- nicípio no Brasil acabando com o

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A variável ambiental está antes da econômica para o ibama. Se não está, deveria estar, Só

assim conseguiremos fortalecer as cansas ambientais. Não podemos ficar a mercê da política

econômica e devemos, sim, exigir mais recursos dele! Sérgio Guimarães, Secretário do Meto Ambiente MT

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preconceito de que progredir sig- nifica sacrificar o meio ambien- te", afirma o prefeito Wilton.

ECoturismo

O ecoturismo não é mais ta- bu, se depender da força do ani- mador cultural e ecologista ísaac, Warley Pereira, o "homem do peixe-boi". Como guia ele recebe turistas para um tour diferente no qual se pode conhecer, em qua- tro dias, as belezas do Rio Negro. Isaac estabeleceu postos de pou- so e comida com caboclos e pes- cadores e troca serviços com eles em um intercâmbio de cultu- ra que tanto prepara o turista co- mo o pessoal que o recebe nas Ilhas Anavilhanas, nos arredores do Parque Nacional ou nos pe- quenos povoados ribeirinhos. O turista aprende nomes de árvo- res, de peixes e de rios, sem dis- tanciamentos e fica conhecendo as precauções para nâo ferir cos- tumes locais. E de quebra, se be- neficia das manhas do explora- dor, pescador, ator e navegador issac que, com sua mulher Môni- ca, uma nissei de 22 anos, em- presta à cidade sua característica de anfitrião simples, bem humo- rado, sério e honesto.

Isaac perambulou por igara- pés do Negro, do Solimões e de outros grandes e1 pequenos rios até apoitár em Novo Airão onde "quando aperta", é pintor de bar- cos, agricultor, servente de pe-

dreiro. Em pouco mais de três anos ganhou o respeito, se identi- ficou com a população e criou o que promete ser a grande festa amazônica em pouco tempo, o Festival do Peixe-Boi. Ganhou apoio da prefeitura, dos vereado- res, e até fora do estado. O ex- diretor da Diretoria de Ecossiste- mas do Ibama, Celio Vale, foi um dos que se preocupou em apre- sentar sua festa aos ambientalis- tas como proposta de um traba- lho na área de educação ambien- tal, já que nascido no seio da pró- pria comunidade. Celso Schen- kel, substituto de vale, que volta para suas funções na instituição de pesquisa Biodiversitas e na ÜFMG, em Belo Horizonte, tam- bém, considera importante a as- sistência especial a Novo Airão a fim de torna-lo ponto estratégico para o Ibama assentar programas de educação ambiental, junto à sociedade de modo que esta possa exercer uma ação fiscaliza- dora sobre seu próprio patrimô-

nio natural. E mais, que possa descobrir formas de tirar dele seu sustento respeitando sua preservação.

Vida difícil

Com a proibição da explora- ção de borracha, castanha, copaí- ba e madeira no Parque Nacional de Jaú e nas Anavilhanas grande parte dos que lá moravain saiu à cata de melhores condições co- mo Pedro Rodrigues Assunção, de 63 anos. Depois de 37 anos morando em uma das ilhas com a família de dez filhos, ele se viu obrigado a uma mudança que transtornou sua vida. Desde 83, tenta se instalar à margem es- querda do Rio Negro (contrária, portanto à de Novo Airão). "O di- nheiro que recebi da indenização não pagou sequer a mudança!", reclama. "Muito menos o valor das benfeitorias, plantação de banana, laranja, mandioca, aba- cate e guaraná... Recebemos 50 hectares de terra que não se igua- la a das Anavilhanas".

As Anavilhanas estão na con- versa de qualquer ai ranense. Misturam mito com riqueza de fauna e flora além de ter sido, por décadas, a melhor e talvez única boa terra para plantio da região. Transformadas em Estação Eco- lógica em 1981 ela conserva de antes grandes laranjais, e poma- res que só servem atualmente como atração turística já que a condição de Estação Ecológica

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As grandes hidrelétricas não têm sentido, lilás refletem a burocracia do poder centralizado Tucuruí explora os caboclos na extração de alumínio e minério a custos vis para eles e para o meio ambiente. José Lutzenberget, Secretário do Meio Ambiente

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não permite ocupação a não ser para fins científicos e assim mes- mo em ãrea reduzida.

As Anavilhanas formam um arquipélago de mais de 600 ilhas a 50 km de Manaus e menos de 1 km de Novo Airão. Ocupam mais ou menos uma área de 90 por 15 quilômetros e tem em seu meio lagos, florestas úmidas, terras fir- mes e inundáveis. As caracterís- ticas que chamam a atenção dos moradores são as "minhocas que cantam e trepam em árvo- res", que, segundo um cientista, talvez sejam de uma espécie que, para se defender das cheias, se alojam em coqueiros baixos. Quanto ao canto, só fica na constatação de moradores que juram ouvi-la com freqüência.

Madeira do negro

São famosos em toda a re- gião do alto Amazonas os estalei- ros de Novo Airão. São três os maiores e se mantêm hã décadas por famílias ou pequenas empre- sas que misturam tecnologia mo- derna a paciencioso trabalho ar- tesanal que começa na escola da madeira. Para Vicente Alves de Albuquerque, presidente da As- sociação dos Trabalhadores ma- deireiros e funcionários do Esta- leiro Três Irmãos, "a melhor ma- deira do Amazonas é a do Rio Negro", o que reforça a fama de Novo Airão.

Perito disputado pelos esta- leiros, Vicente está há 12 anos na cidade. Logicamente não quer que se acabe com o potencial da região e prega um reflorestamen- to na base de substituir as árvo- res cortadas de Itaúba por mu- das aclimatadas na própria flo- resta. Acha que a madeira sacrifi- cada na construção naval é pou- ca, se comparada ã extração para outros fins. E revela seu aprendi- zado no qual está também a pre- servação que, em última instân- cia, significa sua própria sobrevi- vência. "A ciência cabocla é que tem razão e prevê tudo. Como no corte da madeira onde ela pre- valece: lua branca, madeira bran- ca; madeira escura, lua escura. Ou seja, de acordo com as leis maiores do universo, você pode

O prefeito Wilton e sua mulher Arladne

O navegador e animador cultural Isaac Warley Pereira

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22,23e24 de Junho

Não sou rontra ii 364. cm princípio. Sou contra. nas condições atuais. Não terá qualquer controle e avançará por florestas e outros bens naturais.

i: quem tem interesse são os madeireiros japoneses e chineses que já acabaram

com indonésia. Nova Guiné e Indochina.

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fazer tudo. Contrariá-las é que não!"

AnaVllhanas

"Anavilhanas estão para a amazônia como o pantanal está para o Mato Grosso", afirma o prefeito na esperança de chamar atenção para as riquezas que o seu município tem nas mãos an- tes que indisciplinados invasores transformem em caos o que, por enquanto, é um paraíso. Um pa-

raíso com "piranhas frugívoras", "minhocas que cantam", taman- duaís e coroatás. E botos, peixes- boi tracajás. Onde um povo sorri- dente e acolhedor está desarma- do para receber visitantes e habi- ta uma cidade onde os carros — que não passam de uma dúzia — ficam abertos e as casas não têm fechadura nas portas. E onde ò tempo passa devagar, sem com- petição e sem neuroses.

Mas Novo Airão apresenta

seus contrastes. Sua calma nao permite, por exemplo, a fixação de médicos. Tem uma infra- estrutura básica, um bom hospi- tal, assistência quase religiosa da prefeitura, carinho dos morado- res, bom salário. Talvez lhe falte a neurose dos grandes centros onde a medicina deixa de ser profissão para ser parte de uma indústria, incontestável inimiga da calma e dos direitos humanos fundamentais. (Ary Pararráios)

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GUERRA DA AMAZôNIA:

AINDA SEM TRéGUAS - ^ m0^ oucns semanas antes de ser morto a tiros, o se- ■ ■ fc^iinguciro e ecologista Chico Mendes lançou,

junto eom sete entidades não governamentais brasileiras, um Chamado à Trégua, na guerra que estava sen- do feita, em nome do progresso, contra os povos da floresta e os ecossistemas amazônicos. Não houve trégua para Chico Mendes e não tem havido trégua para a Amazônia".

O texto que abre um documento da Upan, caixa postal, 189, de São Leopoldo, RS, entidade autônoma dedicada aos problemas das águas, alerta para a destruição e até morte de- finitiva de bacias hidrográficas brasileiras. E ressalta os pontos mais importantes de uma verdadeira trégua que possa impe- dir a degradação: 1) Reforma agrária nas diversas regiões que interrompa a imi- gração maciça e desregrada, um dos maiores problemas do ambiente natural. 2 - Respeito pelos povos da floresta. 3 - Cumprimento das leis que já existem e são ignoradas. 4 - Revisão da política energética e mudança de prioridades. 5 - Estimular e permitir somente usos sustentáveis de recur- sos naturais.

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