ambiente de trabalho da enfermagem e seguranÇa...

138
DANIELA FERNANDA DOS SANTOS ALVES AMBIENTE DE TRABALHO DA ENFERMAGEM E SEGURANÇA DO PACIENTE EM UNIDADES PEDIÁTRICAS CAMPINAS 2015

Upload: hanhu

Post on 31-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

DANIELA FERNANDA DOS SANTOS ALVES

AMBIENTE DE TRABALHO DA

ENFERMAGEM E SEGURANÇA DO

PACIENTE EM UNIDADES PEDIÁTRICAS

CAMPINAS

2015

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Enfermagem

DANIELA FERNANDA DOS SANTOS ALVES

AMBIENTE DE TRABALHO DA ENFERMAGEM E SEGURANÇA DO PACIENTE

EM UNIDADES PEDIÁTRICAS

Tese apresentada à Faculdade de Enfermagem da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a

obtenção do título de Doutora em Ciências da Saúde. Área de

concentração Enfermagem e Trabalho

ORIENTADORA: Profa. Dra. Edinêis de Brito Guirardello

CAMPINAS

2015

DEDICATÓRIA

A Deus, por me dar coragem para lutar pelos meus sonhos.

À Luísa, razão do meu viver, luz da minha vida.

Ao meu amor, Emerson.

À minha mãe, Neusa, minha eterna gratidão.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida, pela saúde e por me dar forças para sonhar, acreditar e

lutar.

À minha família, Luísa e Emerson, por serem fortes quando eu me achava

fraca, por estarem ao meu lado incondicionalmente e por aguentarem muitos dias de

estresse. Por fazerem os meus dias mais felizes.

À minha mãe, Neusa, pelo amor que dedica a mim e a Luísa, nos ajudando

a permanecer juntas mesmo diante de tanto trabalho.

Ao meu irmão, Luís Felipe, pelo apoio durante os momentos de incerteza e

pelo companheirismo sempre.

À minha avó, Maria, exemplo de vida e de mulher, que partiu tão de repente,

mas que me ensinou a nunca desistir dos meus sonhos e a ter fé na vida. “Maria....

Maria...é um dom....”

À tia Dri e ao tio Gilberto, por me apoiarem e me incentivarem sempre.

À Renata, amiga do coração, amiga de todas as horas. Já temos uma longa

história para contar ao Enzo e à Luísa!

À amiga e Professora Edinêis de Brito Guirardello, por confiar em nosso

projeto, pela imensa paciência e compreensão. Pelas oportunidades de crescimento

pessoal e profissional. Por se emocionar com a pequena Luísa!

À Professora Neusa Maria Costa Alexandre, por suas essenciais

contribuições durante toda minha formação, desde a graduação.

Aos Professores Maria Angélica Sorgini Peterlini, Dirceu da Silva, Daisy

Maria Rizatto Tronchin, Regina Aparecida Garcia de Lima e Sônia Regina Pérez

Evangelista Dantas por suas contribuições neste estudo.

Ao Henrique Ceretta de Oliveira, pelos conhecimentos compartilhados e

pelas análises estatísticas conduzidas neste estudo.

Às colegas (amigas) do grupo de pesquisa, Renata Cristina Gasparino,

Márcia Raquel Panunto, Ana Paula de Brito, Gisele Hespanhol Dorigan e Herica Dutra,

por todos estes anos e conhecimentos compartilhados.

À aluna Damaris Ferreira Piffer Alves pela ajuda com a coleta dos dados.

Às alunas Carla Fernanda Marcelino, Jamylle Novaes Inforçatti, minhas

primeiras “orientandas”, pela oportunidade de crescimento como pesquisadora e co-

orientadora.

Às Professoras Maria Sílvia Vergílio, Cleuza Vedovato e Kátia Stancato,

por partilharem suas experiências durante o Programa de Estágio Docente.

Aos Profissionais de Enfermagem, participantes deste estudo, por

dedicarem uma parte do seu tempo em fornecer informações valiosas para esta

pesquisa.

Às Enfermeiras Simone Pavani, Cristiane Caricati, Débora Mansur, Denise

Dalge por apoiarem esta pesquisa em suas equipes de trabalho.

Ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Enfermagem – Unicamp,

representado pela Professora Doutora Roberta Cunha Matheus Rodrigues e aos

professores que fizeram parte da minha formação.

À Universidade Estadual de Campinas, representada pela Enfermeira Sílvia

Angélica Jorge, pela concessão do afastamento para concluir este estudo.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –

CAPES – pelo apoio financeiro concedido em forma de bolsa (Março a Agosto de

2013).

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP –

pela concessão da Bolsa de Doutorado e Reserva Técnica (Setembro de 2013 a

Junho de 2015).

“Quando os ventos da mudança sopram,

algumas pessoas levantam barreiras,

outras constroem moinhos de vento”.

Érico Veríssimo

RESUMO

A qualidade do cuidado de enfermagem prestado por serviços de saúde,

especialmente nos hospitais, tem sido o foco de vários estudos em âmbitos nacional

e internacional, com evidências de que determinadas características do ambiente de

trabalho favorecem a prática dos profissionais de enfermagem, além de

proporcionarem maior satisfação profissional e contribuírem positivamente para a

segurança do paciente. No entanto, esses estudos não são direcionados para

unidades pediátricas e motivam investigações neste campo. Esta pesquisa teve por

objetivo avaliar o ambiente da prática profissional da equipe de enfermagem e a

segurança do paciente em unidades pediátricas. Trata-se de um estudo quantitativo,

transversal, descritivo e correlacional, que foi conduzido em dois hospitais pediátricos,

de atendimento de alta complexidade, sendo um público e outro privado, no município

de São Paulo. A coleta de dados foi realizada no período de Dezembro-2013 a

Fevereiro-2014, com a aplicação de uma ficha de caracterização pessoal e

profissional e três instrumentos: Nursing Work Index – Revised, Inventário de Burnout

de Maslach e Safety Attitudes Questionnaire – Short Form 2006, todos previamente

validados para a cultura brasileira. A amostra foi composta por 267 profissionais de

enfermagem e incluiu enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que prestam

assistência direta ao paciente em unidades de internação e terapia intensiva

pediátrica. As correlações entre as variáveis foram expressas por meio do coeficiente

de correlação de Spearman. O valor preditivo das variáveis exaustão emocional e

satisfação no trabalho sobre o clima de segurança foi avaliado por meio de regressão

logística múltipla e o modelo teórico com Modelo de Equação Estrutural. O ambiente

de trabalho destes hospitais foi considerado favorável à prática profissional, mas não

foi percebido como um ambiente seguro para o paciente. Os enfermeiros, técnicos e

auxiliares de enfermagem exibiram moderado nível de exaustão emocional; a maioria

considera boa ou muito boa a qualidade do cuidado oferecido em suas unidades;

estão satisfeitos com o seu trabalho e não têm intenção de deixar o emprego nos

próximos 12 meses. As variáveis exaustão emocional e satisfação no trabalho foram

consideradas preditoras do clima de segurança. O Modelo de Equação Estrutural

demonstrou que investimentos para melhorar o ambiente de trabalho em unidades

pediátricas podem reduzir os níveis de exaustão emocional, melhorar a satisfação do

profissional de enfermagem, diminuir a intenção de deixar o emprego e tornar mais

positivo o clima de segurança.

Palavras-chave: Ambiente de Instituições de Saúde. Segurança do Paciente.

Recursos Humanos de Enfermagem. Esgotamento Profissional. Satisfação no

Emprego. Enfermagem Pediátrica. Qualidade da Assistência à Saúde.

Linha de pesquisa: Gerenciamento dos Serviços de Saúde e de Enfermagem

ABSTRACT

The quality of nursing care provided by health services, especially in hospitals, has

been the focus of international studies, with evidence that certain characteristics of the

work environment favour the practice of nursing professionals, in addition to providing

greater job satisfaction and contributes positively to patient's safety. However, these

studies are not directed to paediatric units, which motivates research in this field. This

research aimed to evaluate the professional practice environment of the nursing staff

and patient safety in paediatric hospitals. This is a cross-sectional study with

descriptive and correlational approach, which was conducted in two paediatric

hospitals in high-complexity care. One public and the other private, based in São

Paulo. The data collection was performed between December 2013 and February-

2014, using a record of personal and professional characterization and three

instruments: Nursing Work Index - Revised, Maslach Burnout Inventory and Safety

Attitudes Questionnaire - Short Form 2006, all previously validated for the Brazilian

culture. The sample consisted of 267 nurses and included nurses, technicians and

nursing assistants who provides direct patient care in inpatient units and paediatric

intensive care. Correlations between variables were expressed by the Spearman

correlation coefficient. The predictive value of the variables emotional exhaustion and

job satisfaction on the climate of safety was assessed by multiple logistic regression

and the variable emotional exhaustion test mediation through Structural Equation

Models. The working environment of these hospitals were considered favourable to

professional practice, but it was not perceived as a safe environment for the patient.

Nurses, technicians and nursing assistants exhibit moderate level of emotional

exhaustion; most consider good or very good the quality of care provided by their units;

are satisfied with their work and have no intention of leaving their job next year. The

variables emotional exhaustion and job satisfaction were considered the safety climate

predictors. The structural equation model showed that investments to improve the

working environment in pediatric units can reduce emotional exhaustion levels,

improve the satisfaction of nursing staff, decrease the intention to leave the job and

make the climate of security more positive.

Keywords: Health Facility Environment. Safety Patient. Nursing Staff, Hospital,

Burnout, Professional. Job Satisfaction. Pediatric Nursing. Quality of Health Care.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Modelo teórico ............................................................................................ 36

Artigo 2

Figura 1 Modelos teóricos dos efeitos preditores da satisfação no trabalho e da

exaustão emocional sobre o clima de segurança e a qualidade do cuidado ............. 63

Artigo 3

Figura 1 Modelos de mensuração e estrutural ......................................................... 90

Figura 2 Modelo estrutural final ................................................................................ 96

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Qualidade do cuidado, intenção de deixar o emprego e intenção de deixar

a profissão - questões e escala de resposta. ............................................................ 28

Quadro 2 Nursing Work Index - Revised - domínios, definição e itens. .................... 29

Quadro 3 Inventário de Burnout de Maslach - domínios, definição e itens. ............. 30

Quadro 4 Safety Attitudes Questionnaire – Short form 2006 - domínios, definição e

itens. .......................................................................................................................... 32

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição dos dados coletados por categoria profissional e turno de

trabalho (n=267). Campinas, 2015. .......................................................................... 33

Artigo 1

Tabela 1 Perfil dos profissionais de enfermagem ..................................................... 48

Tabela 2 Média e desvio-padrão dos escores dos domínios do Nursing Work Index

– Revised e domínios do Safety Attitudes Questionnaire – Short form 2006 .... 49

Tabela 3 Qualidade do cuidado, recomendação do hospital e intenção de deixar o

trabalho e a profissão, de acordo com a avaliação dos profissionais de

enfermagem .............................................................................................................. 50

Artigo 2

Tabela 1 Características demográficas, qualidade do cuidado e exaustão emocional

dos participantes do estudo....................................................................................... 69

Tabela 2 Média, mínimo, máximo, desvio-padrão, confiabilidade e correlações das

variáveis do estudo ................................................................................................... 70

Tabela 3 Regressão linear múltipla – clima de segurança (variável dependente),

exaustão emocional e satisfação no trabalho (variáveis independentes) .................. 70

Artigo 3

Tabela 1 Coeficiente de Correlação de Spearman entre o NWI-R e as variáveis

exaustão emocional, satisfação no trabalho e clima de segurança ........................... 92

Tabela 2 Modelo de mensuração: validade convergente e consistência interna ...... 92

Tabela 3 Modelo de mensuração: cargas fatoriais cruzadas .................................... 93

Tabela 4 Modelo de mensuração: raízes quadradas de AVE e correlação entre os

domínios .................................................................................................................... 94

Tabela 5 Modelo estrutural: validade preditiva (Q²), tamanho do efeito (f²) e coeficiente

de Determinação de Pearson (R²) ............................................................................. 95

Tabela 6 Modelo estrutural: coeficientes de caminho, T Student e significância ...... 95

LISTA DE GRÁFICOS

Artigo 1

Gráfico 1 Incidência de UP – casos de UP por pacientes com risco para UP, no

período de cinco anos (2009-2013) ........................................................................... 50

Gráfico 2 Incidência de flebite – casos de flebite por 100 pacientes-dia com acesso

venoso periférico, no período de cinco anos (2009-2013) ........................................ 51

Gráfico 3 Média de permanência em dias para as crianças hospitalizadas no período

de cinco anos (2009-2013) ........................................................................................ 51

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAN American Academy of Nursing

ANCC American Nurses Credentialing Center

CC Confiabilidade Composta

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

COFEN Conselho Federal de Enfermagem

CQH Compromisso com a Qualidade Hospitalar

DP Desvio-padrão

EUA Estado Unidos da América

f² Tamanho do efeito ou Indicador de Cohen

FCM Faculdade de Ciências Médicas

FMUSP Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

IBM Inventário de Burnout de Maslach

IC Intervalo de Confiança

JCI Joint Commission International

LI Limite Inferior

LS Limite Superior

Máx Máximo

Mín Mínimo

n Tamanho amostral

NWI-R Nursing Work Index – Revised

OMS Organização Mundial da Saúde

ONA Organização Nacional de Acreditação

p33 Percentil 33

p67 Percentil 67

PLS Partial Least Squares

Q² Validade preditiva ou Indicador de Stone Greisser

R² Coeficiente de Determinação de Pearson

SAQ Safety Attitudes Questionnaire – Short form 2006

SAS Stastistical Analysis System

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

WHO World Health Organization

α Coeficiente Alfa de Cronbach

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 21

2. HIPÓTESES ................................................................................................... 24

3. OBJETIVOS .................................................................................................... 25

3.1. Geral ............................................................................................................... 25

3.2. Específicos ..................................................................................................... 25

4. MÉTODO ........................................................................................................ 26

4.1. Desenho do estudo ......................................................................................... 26

4.2. Locais de estudo ............................................................................................. 26

4.3. População e amostra ...................................................................................... 26

4.4. Instrumentos de coleta de dados .................................................................... 27

a) Caracterização pessoal e profissional ............................................................ 27

b) Indicadores assistenciais e de desempenho hospitalar .................................. 27

c) Qualidade do cuidado ..................................................................................... 28

d) Intenção de deixar o emprego e a profissão ................................................... 28

e) Nursing Work Index – Revised (NWI-R) ......................................................... 28

f) Inventário de Burnout de Maslach (IBM)......................................................... 29

g) Safety Attitudes Questionnaire - Short Form 2006 (SAQ) ............................... 31

4.5. Procedimento de coleta de dados .................................................................. 32

4.6. Análise dos dados .......................................................................................... 34

4.7. Aspectos éticos ............................................................................................... 37

5. RESULTADOS ............................................................................................... 39

Artigo 1 .................................................................................................................. 40

Artigo 2 .................................................................................................................. 57

Artigo 3 .................................................................................................................. 80

6. DISCUSSÃO GERAL.................................................................................... 105

7. CONCLUSÃO GERAL .................................................................................. 110

8. REFERÊNCIAS ............................................................................................ 112

APÊNDICES ........................................................................................................ 119

Apêndice 1 .......................................................................................................... 119

Apêndice 2 .......................................................................................................... 120

ANEXOS ............................................................................................................. 121

Anexo 1 ............................................................................................................... 121

Anexo 2 ............................................................................................................... 122

Anexo 3 ............................................................................................................... 123

Anexo 4 ............................................................................................................... 124

Anexo 5 ............................................................................................................... 125

Anexo 6 .............................................................................................................. 129

Anexo 7 ............................................................................................................... 130

Anexo 8 ............................................................................................................... 134

Anexo 9 ............................................................................................................... 138

21

1. INTRODUÇÃO

O ambiente da prática profissional em instituições de saúde influencia a

qualidade e a segurança da assistência oferecida ao paciente. Em 2009, a

Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um documento apontando como áreas

prioritárias de pesquisa, o estudo dos ambientes organizacionais, na tentativa de

identificar falhas ou lacunas que pudessem resultar no comprometimento da

segurança do paciente nos diversos países (1-2).

Em âmbito internacional, os estudos sobre o ambiente organizacional das

instituições de saúde, começaram nos Estados Unidos (EUA), na década de 1980,

com a investigação dos motivos pelos quais alguns hospitais conseguiam reter seus

profissionais e preencher todas as vagas, enquanto outros enfrentavam a escassez

de enfermeiros e a alta rotatividade. Na tentativa de reconhecer estes hospitais, o

estudo da American Academy of Nursing (AAN) identificou 41 hospitais com

ambientes de trabalho favoráveis à prática profissional, que foram considerados

“atrativos” para os enfermeiros (3). Estes hospitais passaram a ser chamados “Magnet

Hospitals”, por terem em comum fatores organizacionais que não eram encontrados

em outros hospitais e que estavam associados a baixas taxas de rotatividade e alta

satisfação do enfermeiro com o trabalho (4). Recentemente, a comparação entre

hospitais magnéticos e não magnéticos nos EUA foi realizada novamente,

confirmando que hospitais magnéticos têm ambientes de trabalho melhores,

enfermeiros altamente qualificados, menos insatisfeitos e com menor nível de burnout

(5).

Durante as últimas três décadas, os estudos a respeito do ambiente da

prática profissional têm sido conduzidos nos mais diversos países, como Canadá (6-

7), Austrália (8), Nova Zelândia (9), Japão (10), China (11-12), Suíça (13), Islândia

(14), Alemanha (15), Bélgica (16), Reino Unido (16) e Brasil (17-18), de forma isolada

ou conjunta. Os achados destes estudos indicaram que fatores como autonomia,

controle sobre o ambiente da prática profissional, relações entre enfermeiro e

médicos, bem como suporte organizacional estavam relacionados à taxas de burnout,

satisfação com o trabalho e qualidade do cuidado de enfermagem.

Ambientes de trabalho que favorecem a autonomia e a liderança do

enfermeiro, as boas relações entre enfermeiro-médico e a presença de recursos

adequados estão relacionados à maior satisfação do paciente (19) e menor exaustão

22

emocional do enfermeiro (20). Por outro lado, nos hospitais em que o ambiente de

trabalho não contempla estas características, mais enfermeiros relataram altos níveis

de burnout e de insatisfação com seu trabalho (21). Os estudos realizados no Brasil

evidenciaram que em ambientes de trabalho com maior autonomia, maior controle,

maior suporte organizacional e com boas relações entre equipe de enfermagem e

médicos, os profissionais avaliaram como boa ou muito boa a qualidade do cuidado

prestado e apresentaram menor intenção de deixar o emprego (17-18).

Em relação às questões de segurança do paciente, embora deva ser

considerada uma prioridade dos serviços de saúde em todos os países, as discussões

sobre os fatores organizacionais que têm impacto nos indicadores de segurança são

mais recentes. Alguns estudos sugerem que quando os enfermeiros percebem o

ambiente de trabalho como favorável à prática profissional, a segurança do paciente

é melhorada (22), é mais fácil promover um clima de segurança (23) e diminuir a

ocorrência de eventos adversos (24-25). Além disso, outros estudos indicam que

níveis elevados de burnout inteferem diretamente nos indicadores assistenciais e

contribuem negativamente para a segurança do paciente (26).

A literatura nacional e internacional tem apontado, especialmente para as

instituições hospitalares, consistentes informações a respeito do ambiente de trabalho

e sugerem que enfermeiros e cuidados de enfermagem efetivos contribuem para o

processo de recuperação do paciente (16, 27). A maioria dos estudos não considera

unidades que cuidam exclusivamente de crianças.

No cenário pediátrico, o ambiente hospitalar é considerado como de alto

risco para crianças, pois a abrangência de diferentes estágios de desenvolvimento e

a epidemiologia das doenças desafiam as instituições na criação de ambientes

seguros para o cuidado (28). As crianças são especialmente vulneráveis a

complicações durante a hospitalização, uma vez que dependem dos cuidados e

supervisão dos adultos (pais ou responsáveis) (29). Além disso, os profissionais de

enfermagem que trabalham em unidades pediátricas apresentam fatores estressores

adicionais, como a presença de pais em constante sofrimento devido a doença ou

morte do filho (30), problemas relacionados a custódia pela criança, casos de abuso

sexual e violência familiar, os quais podem contribuir para o aumento dos níveis de

burnout entre estes trabalhadores (31).

Embora haja necessidade de pesquisas que considerem unidades

pediátricas, poucos estudos foram encontrados nesta área (32-34). Destaca-se, uma

23

pesquisa em que as relações entre equipe de enfermagem e indicadores assistenciais

foi avaliada em sete hospitais pediátricos americanos e encontrou-se evidência de

forte correlação negativa entre o número de horas de cuidado dispensado à criança e

a ocorrência de infecções de corrente sanguínea relacionadas ao cateter venoso (34).

Os achados desse estudo não indicaram claramente as relações entre ambiente da

prática profissional de enfermagem e a ocorrência dos eventos adversos. A

mortalidade e a ocorrência de complicações em crianças de zero a 18 anos também

foi examinada em 286 hospitais gerais e pediátricos no estado da Califórnia, onde o

aumento do número de horas de cuidado prestado ao paciente reduziu as taxas de

infecção, pneumonia e outras complicações pulmonares pós-operatórias (33).

As relações entre o ambiente de trabalho, exaustão emocional e qualidade

do cuidado também foram analisadas por meio de uma pesquisa que envolveu 339

enfermeiros canadenses em unidades de terapia intensiva neonatal, a qual mostrou

que ambientes de trabalho favoráveis à prática profissional estão relacionados a

menores níveis de burnout, melhor qualidade do cuidado e maior satisfação do

profissional (32).

Considerando que, no Brasil, não foram encontrados estudos sobre o

ambiente de trabalho e a segurança do paciente em unidades pediátricas, bem como

a vulnerabilidade da criança no processo de hospitalização, a busca por evidências

das relações entre ambiente de trabalho dos profissionais de enfermagem e a

segurança do paciente em unidades pediátricas motivaram a realização desta

pesquisa.

24

2. HIPÓTESES

Três hipóteses foram testadas:

a) A satisfação no trabalho e a exaustão emocional da equipe de

enfermagem são fatores preditores do clima de segurança em unidades pediátricas.

b) A satisfação no trabalho e a exaustão emocional da equipe de

enfermagem são fatores preditores da qualidade do cuidado de enfermagem.

c) Melhorias no ambiente de trabalho reduzem os níveis de exaustão

emocional dos profissionais de enfermagem, aumentam sua satisfação com o

trabalho, diminuem a intenção de deixar o emprego e melhoram o clima de segurança

em unidades pediátricas.

25

3. OBJETIVOS

3.1. Geral

Avaliar o ambiente da prática profissional da equipe de enfermagem e as

atitudes de segurança em unidades pediátricas.

3.2. Específicos

Descrever o ambiente da prática dos profissionais de enfermagem e o

clima de segurança de um hospital privado.

Avaliar a satisfação no trabalho, qualidade do cuidado e intenção de

deixar o emprego dos profissionais de enfermagem de um hospital privado.

Analisar a série histórica de dois indicadores da assistência de

enfermagem e um indicador de desempenho hospitalar durante o período pré e pós

acreditação.

Avaliar as correlações entre clima de segurança, exaustão emocional,

satisfação no trabalho e qualidade do cuidado.

Analisar os efeitos preditores da exaustão emocional e da satisfação no

trabalho sobre o clima de segurança e a qualidade do cuidado.

Examinar as correlações entre as características do ambiente de

trabalho da enfermagem e os níveis de exaustão emocional, clima de segurança,

satisfação no trabalho e intenção de deixar o emprego.

Testar o modelo teórico das relações entre o ambiente de trabalho e as

variáveis clima de segurança, exaustão emocional, satisfação no trabalho, intenção

de deixar o emprego.

26

4. MÉTODO

4.1. Desenho do estudo

Estudo quantitativo, transversal, descritivo e correlacional (35).

4.2. Locais de estudo

O estudo foi realizado em dois hospitais pediátricos de médio porte, que

atendem crianças e adolescentes de zero a 18 anos e participam do Núcleo de Apoio

à Gestão Hospitalar em Pediatria – Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH)1.

A primeira instituição é privada, com atendimento de alta complexidade, certificada

pela Joint Commission International (JCI) (36) e conta com 108 leitos para internação

e 28 leitos de terapia intensiva. A segunda, é pública, também presta atendimento de

alta complexidade e é acreditada pela Organização Nacional de Acreditação – Nível

1 (ONA) (37), com 92 leitos de internação e 13 leitos de terapia intensiva. Ambos estão

localizados na cidade de São Paulo.

4.3. População e amostra

Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem foram considerados para

a população do estudo. Optou-se por incluir todas as categorias profissionais de

enfermagem, por considerar que, no Brasil, o cuidado aos pacientes é prestado pelas

três categorias. Para obtenção da amostra foram considerados os seguintes critérios:

Critérios de inclusão:

prestar assistência direta ao paciente pediátrico;

período de experiência igual ou superior a três meses;

Critérios de exclusão:

enfermeiros em cargos gerenciais (supervisores,

coordenadores, gerentes);

profissionais lotados em centro cirúrgico, central de material,

ambulatórios, centros de controle de infecção, serviços de estomaterapia,

transporte e unidades de exames de imagem e procedimentos diagnósticos;

profissionais em licença, férias ou afastamento.

1 http://cqh.org.br

27

Para o cálculo amostral, foram considerados os coeficientes de correlação

entre as variáveis do ambiente da prática, exaustão emocional e clima de segurança,

obtidos em estudos anteriores (17-18, 32, 38), estimando-se o mínimo de 215 sujeitos.

O cálculo amostral foi realizado com assessoria do serviço de estatística da Faculdade

de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas e seguiu a metodologia

proposta para aplicação do teste de correlação de Spearman, com nível de

significância de 5% e poder amostral de 80%.

Os hospitais privado e público contavam, em conjunto, com 386

profissionais de enfermagem nas unidades de internação e terapia intensiva. A

amostra foi obtida por conveniência e todos os profissionais que preencheram os

critérios de inclusão foram convidados a participar.

Os participantes das unidades de internação e das unidades de terapia

intensiva pediátrica foram comparados em relação às variáveis incluídas no estudo e

como não apresentaram diferenças significantes, a amostra foi considerada

homogênea.

4.4. Instrumentos de coleta de dados

a) Caracterização pessoal e profissional

Elaborada tendo como suporte teórico estudos anteriores (17-18, 21, 38),

foi submetida a processo de validação do seu conteúdo. Incluiu variáveis

sociodemográficas como idade, estado civil, formação educacional, tempo de

experiência na unidade e na profissão, carga horária semanal de trabalho, turno,

número de pacientes e funcionários (para enfermeiros) sob sua responsabilidade e

outro vínculo empregatício (Apêndice 1).

b) Indicadores assistenciais e de desempenho hospitalar

Para obtenção dos indicadores assistenciais e de desempenho hospitalar

não foram utilizados instrumentos específicos. Por se tratar de dados retrospectivos,

em fontes secundárias, as instituições disponibilizaram as informações em arquivos

digitais, em formato de planilha (arquivo tipo .xls) e de texto (arquivo tipo .pdf).

As incidências de úlcera por pressão e de flebite foram consideradas como

indicadores assistenciais (39). Estes indicadores são calculados mensalmente, por

meio de um sistema de notificação eletrônico dos eventos adversos. A média de

28

permanência, indicador de desempenho hospitalar, foi apresentada em número médio

de dias de internação por paciente e calculada mensalmente (39).

c) Qualidade do cuidado

A qualidade do cuidado foi avaliada por duas questões: “Como você avalia

a qualidade do cuidado prestado ao paciente em sua unidade?” e “Você recomendaria

este hospital a um membro da sua família ou amigo?” (Quadro 1). Estas questões

fizeram parte de estudos envolvendo avaliações do ambiente da prática profissional

da equipe de enfermagem (12, 18, 21, 24) e foram dispostos na ficha de

caracterização pessoal e profissional (Apêndice 1).

d) Intenção de deixar o emprego e a profissão

A intenção de deixar o emprego e a profissão foi analisada por dois itens

alocados na ficha de caracterização pessoal e profissional (Apêndice 1) os quais

derivam de estudos anteriores sobre o ambiente de trabalho nas instituições de saúde

(12, 18, 21, 24) (Quadro 1).

Quadro 1 Qualidade do cuidado, intenção de deixar o emprego e intenção de deixar

a profissão - questões e escala de resposta.

Questões Escala de resposta

Como você avalia a qualidade do cuidado

prestado ao paciente em sua unidade?

(1) Muito ruim

(2) Ruim

(3) Boa

(4) Muito boa

Você recomendaria este hospital a um membro

da sua família ou amigo? (1) Sim (2) Não

Você tem intenção de deixar o seu trabalho

atual nos próximos 12 meses? (1) Sim (2) Não

Você tem intenção de deixar a enfermagem

atual nos próximos 12 meses? (1) Sim (2) Não

e) Nursing Work Index – Revised (NWI-R)

O NWI-R é um instrumento com 15 itens desenvolvido para avaliar as

características do ambiente de trabalho que contribuem para a prática profissional de

enfermagem. Os itens são distribuídos em quatro domínios: autonomia, controle sobre

29

o ambiente, relações entre equipe de enfermagem e médicos e suporte organizacional

(38) (Quadro 2).

A escala de resposta é do tipo Likert, com quatro pontos, onde (1) concordo

totalmente e (4) discordo totalmente. Os escores dos domínios são obtidos pela média

das respostas dos sujeitos e podem variar entre um e quatro pontos. Quanto menor a

pontuação, maior a presença de características favoráveis à prática profissional de

enfermagem (38). Foram utilizadas duas versões distintas: uma para enfermeiros (18,

38) (Anexo 1) e outra para auxiliares/técnicos de enfermagem (17, 40) (Anexo 2). As

duas versões foram validadas para a cultura brasileira (18,40) e apresentam índices

de validade e confiabilidade satisfatórios (α = 0,65 a 0,91) (17-18, 38, 40). Neste

estudo, a consistência interna dos domínios do NWI-R, expressa pelo coeficiente α de

Cronbach, variou de 0,74 a 0,85.

Quadro 2 Nursing Work Index - Revised - domínios, definição e itens.

Domínios Definição Itens

Autonomia Liberdade para tomar decisões a

respeito da assistência de enfermagem 3, 4, 9, 10 e 12

Controle sobre o

ambiente

Controle dos recursos disponíveis para o

cuidado ao paciente 1, 5, 6, 7, 8, 14 e 15

Relações entre equipe de

enfermagem e médicos

Respeito profissional e comunicação que

favorecem o cuidado ao paciente 2, 11 e 13

Suporte organizacional A organização oferece suporte para a

prática profissional de enfermagem

1, 2, 4, 5, 6, 7, 9, 10,

11 e 15

f) Inventário de Burnout de Maslach (IBM)

O burnout é caracterizado por um estado crônico de estresse, sobrecarga

e insatisfação com o trabalho que afeta os profissionais que lidam com pessoas (41).

Para mensurar o nível de burnout entre os profissionais de enfermagem utilizou-se o

Inventário de Burnout de Maslach (IBM). Este é um instrumento com 22 itens que

avaliam a síndrome por meio de três domínios: exaustão emocional,

despersonalização e diminuição da realização pessoal (41) (Quadro 3).

30

Quadro 3 Inventário de Burnout de Maslach - domínios, definição e itens.

Domínios Definição Itens

Exaustão emocional

Falta de energia, esgotamento

emocional, sentimento de que as

demandas do paciente são mais do

que o profissional é capaz de dar

1, 2, 3, 6, 8, 13, 14, 16 e 20

Despersonalização

Desenvolvimento de atitudes

negativas, de insensibilidade e falta

de preocupação com os pacientes

5, 10, 11, 15 e 22

Diminuição da realização

pessoal

Falta de satisfação com as próprias

realizações no trabalho 4, 7, 9, 12, 17, 18, 19 e 21

A escala de resposta é do tipo Likert com cinco pontos, onde (1) nunca e

(5) sempre. Em cada um dos domínios, os escores são obtidos pela soma das

pontuações dos itens e variam da seguinte forma: 9 a 45 pontos para exaustão

emocional; 5 a 25 pontos para despersonalização; e 8 a 40 pontos para diminuição da

realização pessoal. Nos domínios exaustão emocional e despersonalização, quanto

maior o escore, maior o sentimento de exaustão emocional e despersonalização

sentida pelo profissional. Para a subescala diminuição da realização pessoal, as

maiores pontuações indicam maior realização pessoal. Os níveis de burnout foram

classificados em: baixo - escores baixos nas domínios exaustão emocional e

despersonalização e altos na subescala diminuição da realização pessoal; moderado

- escores moderados nas três domínios e alto - escores altos nas domínios exaustão

emocional e despersonalização e baixos na subescala diminuição da realização

pessoal. Para se obter esta categorização em níveis de burnout (baixo, moderado e

alto) foram calculados os tercis, onde os valores superiores ou iguais ao percentil 67

(p67) são escores altos, entre os percentis 33 (p33) e p67 são moderados e inferiores

ou iguais ao p33 são escores baixos. Para os profissionais da saúde, especialmente

da enfermagem, espera-se algum nível de burnout, inerente à profissão, entretanto

níveis altos de burnout podem afetar a saúde do profissional e a segurança do

paciente (31,41). A confiabilidade das subescalas do IBM variou entre 0,46 e 0,87 para

este estudo (Anexo 3).

31

g) Safety Attitudes Questionnaire - Short Form 2006 (SAQ)

Para avaliar a presença de atitudes favoráveis a segurança do paciente em

unidades pediátricas, aplicou-se o instrumento Safety Attitudes Questionnaire - Short

Form 2006 (SAQ). Estas atitudes são medidas por 41 itens em oito domínios: clima

de trabalho em equipe, clima de segurança, satisfação no trabalho, reconhecimento

do estresse, percepção da gestão da unidade (itens 24 a 29), percepção da gestão do

hospital (itens 14, 24 a 28), condições de trabalho (itens 30 a 32) e comportamento

seguro (itens 33 a 35). O item 36 não pertence a nenhuma subescala (42-43) (Quadro

4) (Anexo 4).

A escala de resposta é do tipo Likert com cinco pontos, em que (A) discordo

totalmente, (B) discordo parcialmente, (C) neutro, (D) concordo parcialmente e (E)

concordo totalmente. O entrevistado também pode considerar a opção (X) não se

aplica. As respostas são pontuadas da seguinte forma: A=0, B=25, C=50, D=75 e

E=100. Os itens de conotação negativa (2, 11 e 36) são codificados de forma reversa,

em que A=100, B=75, C=50, D=25 e E=0. O escore de cada domínio é obtido pela

soma das pontuações dividido pelo número de questões respondidas, excluindo-se

aquelas com resposta “não se aplica”. Pontuações acima de 75 indicam a presença

de atitudes que favorecem a segurança do paciente. A confiabilidade do instrumento

tem sido satisfatória em aplicações anteriores (α= 0,65 a 0,79) (42,44) e, nesta

pesquisa, variou de 0,53 a 0,80 para os domínios.

32

Quadro 4 Safety Attitudes Questionnaire – Short form 2006 - domínios, definição e itens.

Domínios Definição Itens

Clima de trabalho em equipe

Qualidade do relacionamento e

colaboração entre os profissionais

da equipe

1, 2, 3, 4, 5 e 6

Clima de segurança

Atitudes que demonstram forte

comprometimento organizacional

com a segurança do paciente

7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13

Satisfação no trabalho Sentimento positivo em relação ao

trabalho 15, 16, 17, 18 e 19

Reconhecimento do estresse

Reconhecimento de como os

agentes estressores interferem no

desempenho profissional

20, 21, 22 e 23

Percepção da gestão da

unidade

Aprovação das ações da gerência

da unidade 24, 25, 26, 27, 28 e 29

Percepção da gestão do

hospital

Aprovação das ações da gerência

do hospital 14, 24, 25, 26, 27 e 28

Condições de trabalho

Qualidade do ambiente de trabalho

e apoio logístico (recursos

humanos, equipamentos entre

outros)

30, 31 e 32

Comportamento seguro*

Não apresenta definição, agregou

os itens por meio de análise fatorial

exploratória

33, 34 e 35

* Domínio criado na versão brasileira do SAQ

4.5. Procedimento de coleta de dados

A coleta dos dados foi realizada pela pesquisadora e uma graduanda, que

foi previamente treinada, da Faculdade de Enfermagem da Unicamp entre os meses

de Dezembro-2013 e Fevereiro-2014, após autorização formal dos gerentes e

supervisores das instituições. Obteve-se a lista oficial dos profissionais de todas as

unidades e turnos dos dois hospitais, com informações a respeito do tempo de

33

trabalho na unidade, afastamento, férias e licença médica. Após aplicação dos

critérios, os profissionais foram abordados em sua unidade de trabalho. Todos os

sujeitos que preencheram os critérios de inclusão foram convidados a participar do

estudo e, aqueles que aceitaram, receberam os questionários em envelopes.

Os participantes foram informados de que a pesquisa não contava com a

participação dos coordenadores, supervisores e diretores da instituição, asseguraram-

se o sigilo e anonimato sobre sua participação. Foram informados ainda de que os

gerentes não teriam acesso às suas respostas, preservando, desta forma, suas

perspectivas em relação à carreira e minimizando o viés em suas respostas. Os

potenciais participantes também foram informados de que o tempo médio para

preenchimento dos instrumentos era de 15 minutos. Obteve-se a assinatura do Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 2). Os instrumentos foram

auto-aplicados e os participantes ficaram livres para responder no momento e local

que lhe fosse mais conveniente, respeitando o tempo máximo de duas semanas para

devolução. Todos os questionários foram recolhidos, em envelopes lacrados, em até

15 dias após sua emissão. Nos casos em que os instrumentos estavam com respostas

incompletas, os sujeitos foram solicitados, no momento de entrega do envelope, a

responder se assim o quisessem. Esta conferência garantiu um maior número de

instrumentos totalmente preenchidos.

Dos 323 profissionais elegíveis para o estudo, 267 retornaram com

questionários completos, resultando em uma taxa de resposta de 82,7%. Obteve-se

taxa de resposta superior a 75% em todas as categorias profissionais e turnos (Tabela

1).

Tabela 1: Distribuição dos dados coletados por categoria profissional e turno de trabalho

(n=267). Campinas, 2015.

Categoria profissional Coletados/Elegíveis (%)

Manhã Tarde Noite Total

Enfermeiros 35/37 (94,6) 24/31 (77,5) 40/51 (78,4) 99/119 (83,2)

Auxiliares e Técnicos 43/52 (82,7) 49/53 (92,5) 76/99 (76,7) 168/204 (82,4)

Total 78/89 (87,6) 73/84 (86,9) 116/150 (77,3) 267/323 (82,7)

34

As informações referentes aos indicadores assistenciais e de desempenho

hospitalar foram obtidas por meio de relatórios emitidos pelo gerente de enfermagem

ou pelo gerente de qualidade das instituições.

4.6. Análise dos dados

Os dados foram organizados em planilha eletrônica e analisados com a

assessoria do Serviço de Estatística da Faculdade de Enfermagem da Universidade

Estadual de Campinas. Para o perfil dos profissionais de enfermagem, os dados foram

descritos e dispostos em tabelas de frequência para as variáveis categóricas, com

valores de frequência absoluta (n) e percentual (%), e medidas de posição (média,

mínimo e máximo) e de dispersão (desvio-padrão) para as variáveis contínuas. Os

indicadores assistenciais e de desempenho hospitalar foram apresentados em

gráficos de barra, com linha de tendência, para visualização da série histórica.

Para descrição do ambiente da prática profissional, nível de exaustão

emocional, clima de segurança, satisfação com o trabalho e qualidade do cuidado

foram apresentadas as médias e desvio-padrão. Valores inferiores a 2,5 para os

domínios do NWI-R foram indicativos de ambientes favoráveis à prática profissional

(17-18, 38). Os níveis de exaustão emocional foram classificados em baixo, moderado

e alto, de acordo com distribuição dos escores em tercis (40). Para os domínios do

SAQ, valores superiores a 75 indicam a presença de atitudes favoráveis à segurança

do paciente (42-43). A confiabilidade dos instrumentos utilizados foi avaliada por meio

do coeficiente alfa de Cronbach, admitindo-se como satisfatórios valores superiores a

0,60 (45).

As correlações entre os domínios do NWI-R, exaustão emocional, clima de

segurança, satisfação no trabalho e intenção de deixar o emprego foram realizadas

por meio do coeficiente de correlação de Spearman. Este coeficiente é não-

paramétrico e varia de -1 a 1, onde valores mais próximos de -1 indicam forte

correlação negativa ou inversa e os valores próximos a 1 forte correlação positiva

entre os domínios (46).

A regressão linear múltipla foi utilizada para testar o valor preditivo das

variáveis exaustão emocional e satisfação no trabalho sobre o clima de segurança e

a qualidade do cuidado percebido pelos profissionais de enfermagem. Nesta análise,

foi aplicado o critério Stepwise de seleção de variáveis.

35

Para avaliar as relações entre as características do ambiente de trabalho

dos profissionais de enfermagem (autonomia, controle e relações com os profissionais

médicos) e as variáveis clima de segurança, exaustão emocional, satisfação no

trabalho e intenção de deixar o emprego utilizou-se a análise por meio de Modelos de

Equações Estruturais (MEE) pelo método Partial Least Square (PLS). Trata-se de uma

técnica não-paramétrica, que garante alto poder estatístico e que está indicada para

análise de modelos complexos, com elevado número de relações e grande número

de variáveis observadas (indicadores, itens) (47). Para testar as relações entre as

variáveis indicadas acima, construiu-se um modelo teórico (Figura 1), baseado em um

modelo de componentes hierárquicos (47). Como as variáveis incluídas no estudo

formam uma rede complexa de relações, os domínios do NWI-R (autonomia, controle

sobre o ambiente e relações entre equipe de enfermagem e médicos) foram

considerados constructos de primeira ordem e, o ambiente de trabalho constructo de

segunda ordem. No modelo de componentes hierárquicos, o ambiente de trabalho é

representado pelos três domínios do NWI-R, os quais, separadamente avaliam as

características do ambiente. O ambiente de trabalho foi então relacionado às variáveis

dependentes (ou variáveis de resultado): clima de segurança (SAQ), exaustão

emocional (IBM), satisfação no trabalho (SAQ) e intenção de deixar o emprego (um

item).

Para estas análises, utilizou-se do software Smart PLS 3.0 (Smart Partial

Least Square, University of Hamburg, Hamburg, Germany) e seguiu-se os passos

recomendados por Hair et al (47) e Ringle et al (48). A análise do MEE foi realizada

em duas etapas de avaliação: 1) Modelo de mensuração e 2) Modelo estrutural.

1) Modelo de mensuração: foram avaliadas as relações entre os domínios

(variáveis latentes) e seus respectivos itens (variáveis observadas), por meio da

validade convergente, da confiabilidade e da validade discriminante. Estas análises

foram obtidas por meio do módulo PLS Algorithm.

a. Validade convergente: foram observados os valores de AVE (Average

Variance Extracted), que reflete o quanto, em média, os itens se correlacionam

positivamente com seus constructos. Pelo critério de Fornell e Larcker, considerou-se

adequado valores superiores a 0,50 para a AVE. Nos domínios que não atingiram o

valor mínimo de 0,50, foram retirados os itens com carga fatorial abaixo de 0,70, um

a um, do de menor carga para o de maior, até obter-se valores de AVE iguais ou

superiores a 0,50.

36

b. Confiabilidade: foram considerados os valores da consistência interna,

expresso pelo Coeficiente Alfa de Cronbach (α), e os valores da Confiabilidade

Composta (CC), sendo esta última mais adequada ao PLS. Foram considerados

satisfatórios valores superiores a 0,60 para a consistência interna e, superiores a 0,70

para a CC.

c. Validade discriminante: avaliou-se o quanto cada domínio funciona de

forma independente dos outros. Adotou-se dois critérios de validade discriminante:

cargas cruzadas - o item tem maior carga fatorial em seu domínio do que em outros

e, critério de Fornell e Larcker – as raízes quadradas das AVEs são maiores do que

as correlações com os outros domínios.

NWI-R -Nursing Work Index - Revised, IBM – Inventário de Burnout de Maslach, SAQ – Safety Attitudes

Questionnaire – Short form 2006, Int_trab – intenção de deixar o trabalho nos próximos 12 meses

Figura 1 Modelo teórico

2) Modelo Estrutural: avaliou-se as relações entre os domínios

(coeficientes de caminho e significância) e os indicadores de ajuste do modelo

(Coeficiente de Determinação de Pearson, Validade Preditiva e Tamanho do Efeito).

Estes resultados foram obtidos por meio das técnicas Bootstraping (1000

subamostras) e Blindfolding.

37

a. Coeficiente de Determinação de Pearson (R²): indica a qualidade do

modelo ajustado, isto é, explica o quanto as variáveis dependentes são explicadas

pelo modelo estrutural. Considerou-se R²=2% como efeito pequeno, R²=13% efeito

médio e R²=26% efeito grande.

b. Significância dos Coeficientes de Caminho: avaliou se as relações entre

os domínios são significantes, por meio do Teste t Student, onde valores para t ≥ 1,96

indicam que os coeficientes são significantes (p<0,05).

c. Validade preditiva ou indicador de Stone-Greisser (Q²): avalia a acurácia

do modelo ajustado, considerando-se como perfeito o Q²=1, ou seja, um modelo que

reflete a realidade. Valores de Q²>0 foram considerados adequados e foram

expressos por meios dos coeficientes de redundância.

d. Tamanho do efeito ou Indicador de Cohen (f²): avalia o quanto cada um

dos domínios é útil para o ajuste do modelo. Foram considerados 0,02 como pequeno,

0,15 médio e 0,35 grande. Estes valores foram expressos pelos coeficientes de

comunalidade.

e. Interpretação dos coeficientes de caminho: cada um dos coeficientes

entre a variável ambiente de trabalho e as variáveis clima de segurança, exaustão

emocional, satisfação no trabalho e intenção de deixar o emprego foram interpretados

de acordo com a teoria.

4.7. Aspectos éticos

O projeto foi registrado na Plataforma Brasil (CAAE:

14065613.6.0000.5404) e aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) da

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas

(FCM/UNICAMP) (Parecer nº 327.412) (Anexo 5), da Fundação Hospital Infantil

Sabará (Parecer nº 347.759) (Anexo 6) e do Hospital de Clínicas da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) (Parecer nº 353.171) (Anexo 7).

Para as duas instituições foram enviadas cartas de apresentação da pesquisa,

endereçadas eletronicamente para as gerências de enfermagem e comissões de

pesquisa. Todas as instituições retornaram com resposta favorável à realização da

pesquisa (Anexos 8 e 9).

Os sujeitos foram informados a respeito dos objetivos da pesquisa, da

participação voluntária e do sigilo. Os participantes receberam uma via do TCLE e a

segunda via foi arquivada pelo pesquisador. Nas situações em que os sujeitos

38

demonstraram desinteresse em continuar a participar da pesquisa, mesmo após seu

consentimento, tiveram a liberdade de sair do estudo.

39

5. RESULTADOS

Os resultados desta pesquisa estão apresentados em formato de três

artigos:

Artigo 1 – Ambiente de trabalho da enfermagem, atitudes de segurança e

qualidade do cuidado em pediatria: a certificação hospitalar influencia nos indicadores

assistenciais e de desempenho hospitalar?

Artigo 2 – Clima de segurança, exaustão emocional e satisfação no

trabalho em hospitais pediátricos: estudo transversal com abordagem quantitativa

Artigo 3 – Ambiente de trabalho da enfermagem, exaustão emocional,

satisfação no trabalho, intenção de deixar o emprego e clima de segurança em dois

hospitais pediátricos brasileiros: abordagem por modelos de equações estruturais

40

Artigo 1

Ambiente de trabalho da enfermagem, atitudes de segurança e qualidade do

cuidado em pediatria: a certificação hospitalar influencia nos indicadores

assistenciais e de desempenho hospitalar?

Daniela Fernanda dos Santos Alves

Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem, Universidade

Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil

Edinêis de Brito Guirardello

Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Associada, Faculdade de

Enfermagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil

Autor correspondente:

Daniela Fernanda dos Santos Alves

275 Julita de Souza Sampaio, Porto Feliz, SP, Brazil, 18540-000

+55 15 996 480 615

[email protected]

Palavras-chave: Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations.

Segurança do Paciente. Qualidade do Cuidado. Satisfação no Trabalho. Avaliação de

Resultados da Assistência ao Paciente

Número de palavras: 3.892

41

Ambiente de trabalho da enfermagem, atitudes de segurança e qualidade do

cuidado em pediatria: a certificação hospitalar influencia nos indicadores

assistenciais e de desempenho hospitalar?

RESUMO

Background Os processos de acreditação dos serviços de saúde têm se tornado

cada vez mais presente nas instituições e é reconhecido como um direcionador da

busca por uma assistência segura e de qualidade. No entanto, o impacto desse

processo sobre a organização e sobre os pacientes tem sido questionado.

Objetivos Descrever a avaliação dos profissionais de enfermagem quanto ao

ambiente de trabalho, atitudes de segurança, qualidade do cuidado e intenção de

deixar o emprego e a profissão e analisar a evolução de dois indicadores assistenciais

e um indicador de desempenho hospitalar durante o período pré e pós acreditação.

Métodos Estudo transversal, descritivo, do qual participaram 136 profissionais de

enfermagem de um hospital pediátrico na cidade de São Paulo, acreditado pela Joint

Commission International. Os profissionais responderam a uma ficha de

caracterização pessoal e profissional e a dois instrumentos – Nursing Work Index-

Revised e Safety Attitudes Questionnaire-Short form 2006. Foram incluídas as

informações sobre a média de permanência, incidência de flebite e úlcera por pressão

dos cinco anos que antecederam a coleta dos dados, pré e pós acreditação. Utilizou-

se estatística descritiva para apresentação dos resultados.

Resultados Os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem percebem o

ambiente de cuidado pediátrico como favorável à prática profissional, embora a

maioria dos domínios que avaliam atitudes de segurança não tenha obtido escores

considerados positivos. Os profissionais referem alta satisfação no trabalho, não têm

intenção de deixar o emprego ou a profissão e consideram boa/muito boa a qualidade

do cuidado oferecido aos pacientes. Durante e após o processo de acreditação, houve

redução da incidência de flebite e úlcera por pressão, bem como diminuição da média

de permanência dos pacientes no hospital.

Conclusões O estudo destaca possíveis influências do processo de acreditação

hospitalar na melhoria da assistência de enfermagem e motiva estudos de

intervenção.

42

INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos, a escassez de profissionais qualificados, bem

como a complexidade do trabalho nas organizações de saúde tem motivado iniciativas

para promover a qualidade e a segurança do cuidado oferecido ao paciente. Nas

instituições de saúde públicas e privadas, as questões de qualidade e segurança

caminham juntas com a constante pressão das operadoras de saúde e dos níveis mais

elevados da administração, para garantia da qualidade com redução dos custos. No

Brasil, estas instituições são responsáveis de pelo atendimento de 26% da população,

a qual desembolsa grande parte dos seus recursos financeiros com o objetivo de

garantir uma assistência segura e de qualidade (Brasil 2014).

Como forma de responder à essa demanda, hospitais privados brasileiros

têm recorrido a programas de acreditação, entre eles a Joint Commission International

(JCI) e a Organização Nacional de Acreditação (ONA). Por meio desses programas

os hospitais reavaliam e transformam seus processos de trabalho, o que, de certa

forma, direciona a busca por padrões de qualidade e de segurança (Hinchcliff et al

2012). Com a obtenção das certificações, conquistam reconhecimento público e

acabam atraindo mais pacientes o que pode aumentar seus lucros com a assistência

à saúde.

Embora existam indicadores plausíveis da segurança e da qualidade do

cuidado, não existe uma descrição da avaliação dos profissionais de enfermagem

dessas instituições quanto às questões do seu ambiente de trabalho e da assistência

prestada ao paciente. Nos últimos anos, pesquisas demonstram uma forte influência

do ambiente da prática profissional de enfermagem sobre a qualidade e a segurança

da assistência prestada nos hospitais (Cho et al 2015, Van Bogaert et al 2014), no

entanto, quando se considera o impacto dos processos de acreditação sobre o

ambiente e os resultados para profissionais e pacientes, os estudos são escassos

(Hinchcliff et al 2012).

OBJETIVOS

Descrever as características do ambiente de trabalho da enfermagem,

atitudes de segurança, qualidade do cuidado e intenção de deixar o emprego e a

profissão. Analisar a série histórica de dois indicadores da assistência de enfermagem

(incidência de flebite e de úlceras por pressão) e um indicador de desempenho

hospitalar (média de permanência) durante o período pré e pós acreditação.

43

MÉTODOS

Desenho

Utilizou-se abordagem quantitativa, transversal e descritiva.

Local do estudo

O estudo foi realizado em um hospital privado, pediátrico, de médio porte,

que presta atendimento de alta complexidade, localizado no município de São Paulo,

SP, Brasil. A instituição é acreditada pela JCI e atende crianças e adolescentes de

zero a 18 anos e possui 108 leitos de internação e 28 leitos de terapia intensiva

pediátrica.

Participantes e amostra

Participaram do estudo enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem,

lotados nas unidades de internação e terapia intensiva, que exerciam atividades de

assistência direta ao paciente. Os profissionais que estavam em licença, férias ou

afastamento por qualquer motivo não foram considerados para obtenção da amostra.

Todos os profissionais que preencheram os critérios de inclusão foram abordados em

seus locais de trabalho e convidados a participar da pesquisa.

Equipe de enfermagem

Para descrever o perfil pessoal dos profissionais de enfermagem foram

incluídas as seguintes variáveis: idade, sexo e estado civil. O perfil profissional foi

descrito de acordo com a formação, tempo de experiência na profissão, na instituição

e na unidade, turno de trabalho, presença de mais de um vínculo empregatício, carga

horária semanal de trabalho, número de pacientes sob sua responsabilidade e,

exclusivamente para enfermeiros, número de profissionais sob sua supervisão.

Ambiente de trabalho da enfermagem

O ambiente de trabalho dos enfermeiros, técnicos e auxiliares de

enfermagem foi mensurado por meio do Nursing Work Index – Revised (NWI-R), que

contempla características como: autonomia, controle sobre o ambiente, relações entre

equipe de enfermagem e médicos e suporte organizacional. Estas quatro

características são avaliadas por 15 itens com escalas de resposta do tipo Likert, onde

(1) concordo totalmente e (2) discordo totalmente. Quanto menor a pontuação, melhor

44

o ambiente de trabalho (Aiken e Patrician 2000, Gasparino et al 2011, Marcelino et al

2014).

Atitudes de segurança

A presença de atitudes de segurança no ambiente de trabalho foram

avaliadas com a aplicação do Safety Attitudes Questionnaire – Short form 2006 (SAQ).

O SAQ contém 41 itens e oito domínios: clima de trabalho em equipe, satisfação no

trabalho, clima de segurança, percepção da gestão da unidade e do hospital,

condições de trabalho, reconhecimento do estresse e comportamento seguro. Para

indicar sua percepção quanto às questões de segurança, os participantes foram

convidados a assinalar sua resposta em uma escala do tipo Likert com cinco pontos

onde (A) discordo totalmente, (B) discordo um pouco, (C) neutro, (D) concordo um

pouco e (E) concordo totalmente. Todos os itens também podem ser respondidos por

meio da alternativa (X) não se aplica. Os escores de cada subescala são obtidos por

meio da média aritmética das respostas, onde A=0, B=25, C=50, D=75 e E=100. Os

itens 2,11 e 36, que possuem conotação negativa, são codificados de forma reversa.

Os escores podem variar de zero a 100 pontos e médias acima de 75 indicam a

presença de atitudes favoráveis à segurança do paciente (Sexton et al 2006, Carvalho

e Cassiani 2012).

Qualidade do cuidado

A qualidade do cuidado oferecido nas unidades pediátricas foi avaliada por

meio de duas perguntas aos profissionais de enfermagem – “Como você avalia a

qualidade do cuidado de enfermagem prestado ao paciente em sua unidade?”, com

uma escala Likert, em que (1) muito ruim e (4) muito boa; e “Você recomendaria este

hospital a um membro da sua família ou amigo?”, onde (1) sim e (2) não.

Intenção de deixar o emprego e a profissão

A intenção e deixar o emprego e a profissão foi avaliada por duas questões:

“Você tem intenção de deixar seu trabalho atual nos próximos 12 meses?” e “Você

tem intenção de deixar a enfermagem nos próximos 12 meses?”, com respostas

dicotômicas – (1) sim e (2) não. Estas duas questões derivam de estudos anteriores

realizados em organizações de saúde no Brasil (Panunto e Guirardello 2013,

Gasparino et al 2011) e no exterior (Aiken et al 2000, Aiken et al 2008).

45

Indicadores assistenciais e de desempenho hospitalar

Foram considerados os indicadores assistenciais - incidência de flebite e

incidência de úlceras por pressão (UP) e o indicador de desempenho hospitalar –

média de permanência. A instituição selecionada para coleta dos dados, possuía um

sistema consolidado para coleta e gerenciamento dos indicadores assistenciais e de

desempenho hospitalar. A notificação dos casos de flebite e UP foi realizada por meio

do sistema informatizado, pelo enfermeiro assistencial, e o gerenciamento dos

indicadores é feito pelo setor de qualidade. Para permanência, as médias foram

computadas pelo setor de tecnologia de informação da instituição. A seguir, as

definições dos indicadores utilizados neste estudo e as respectivas equações de

cálculos.

- Incidência de flebite: número de casos de flebite por 100 pacientes-dia

com acesso venoso periférico, multiplicado por 100. Os enfermeiros de cada unidade

são responsáveis pela avaliação do acesso venoso, de acordo com a Escala de

Classificação de Flebite (CQH 2012).

𝐈𝐧𝐜𝐢𝐝ê𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐝𝐞 𝐅𝐥𝐞𝐛𝐢𝐭𝐞

= Número de pacientes com flebite

Número de pacientes por dia com acesso venoso periférico× 100

- Incidência de UP: número de casos novos de UP em um mês por número

de pacientes com risco de adquirir UP, multiplicado por 100. A avaliação do risco para

UP é feita pela aplicação da Escala de Braden – Q (CQH 2012).

𝐈𝐧𝐜𝐢𝐝ê𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐝𝐞 𝐔𝐏

= Número de casos novos de pacientes com UP em um determinado período

Número de pacientes expostos ao risco de adquirir UP no período× 100

- Média de permanência: soma dos dias de internação de cada paciente

em um mês dividido pelo número de pacientes internados neste período.

𝐌é𝐝𝐢𝐚 𝐝𝐞 𝐩𝐞𝐫𝐦𝐚𝐧ê𝐧𝐜𝐢𝐚

= ∑ número de dias de internação de cada paciente 𝑒𝑚 𝑢𝑚 𝑑𝑒𝑡𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜

Número de pacientes internados no período

46

Foram considerados cinco anos (2009 a 2013), para avaliar a evolução dos

indicadores, antes e após a acreditação pela JCI. Considerando que o processo

completo para obtenção da acreditação pode durar entre 18 e 24 meses (JCI 2015),

optou-se por definir como período pré-acreditação entre Janeiro/2009 e Julho/2011 e

pós-acreditação de Agosto/2011 a Dezembro/2013. A visita para avaliação e obtenção

do título de hospital acreditado foi realizada em Julho de 2013.

Coleta dos dados

Os instrumentos foram aplicados por uma das pesquisadoras e por uma

graduanda de enfermagem, previamente treinada, durante o mês de Dezembro de

2013. Obteve-se a escala de trabalho mensal dos profissionais e excluíram-se os

profissionais que não atendiam aos critérios de inclusão. Os potenciais participantes

foram convidados em sua unidade de trabalho e, aqueles que concordaram,

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e receberam os

instrumentos em envelopes. Após o preenchimento, os envelopes foram coletados em

até 7 dias após sua emissão. A taxa de resposta foi 81,4%.

Os resultados dos indicadores assistenciais e de desempenho hospitalar

foram solicitados à gerente de qualidade da instituição e disponibilizados à

pesquisadora por meio de um relatório com informações mensais para o período de

Janeiro/2009 a Dezembro/2013.

Análise dos dados

Utilizou-se o software SAS 9.3 (Statistical Analysis System, SAS Institute

Inc., Cary, NC, USA) para análise dos dados. Estatística descritiva foi empregada para

descrever o perfil dos profissionais de enfermagem, características do hospital,

qualidade do cuidado e intenção de deixar o emprego e a profissão. Para as variáveis

ambiente de trabalho e atitudes de segurança foram apresentados valores de média

e desvio-padrão. Médias inferiores a 2,5 para os domínios do NWI-R foram

consideradas indicativas de ambientes favoráveis à prática profissional, enquanto

escores superiores a 75 para os domínios do SAQ foram considerados como presença

de características positivas para a segurança do paciente. Para os indicadores

assistenciais foram construídos gráficos de linhas para indicar a evolução dos

indicadores ao longo de cinco anos (2009 a 2013), considerando-se o mês de

Julho/2011 como marco do processo pré e pós acreditação.

47

Considerações éticas

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer nº

347.759). Todos os participantes foram informados dos objetivos do estudo, riscos e

benefícios, sigilo, anonimato e assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido.

RESULTADOS

Equipe de enfermagem

Participaram do estudo 136 profissionais de enfermagem, 37,5%

enfermeiros, 59,6% técnicos de enfermagem e 2,9% auxiliares de enfermagem, a

maioria do sexo feminino, casada. As demais variáveis estão apresentadas na Tabela

1. A carga horária semanal média foi 47,1 horas (DP± 15,5), 7,3 pacientes (DP± 5,0)

por profissional e 4,1 (DP± 2,2) auxiliares ou técnicos de enfermagem sob supervisão

por enfermeiro. Os participantes tinham em média 97,0 meses (DP± 65,4) de

experiência profissional, 35,3 meses (DP± 45,7) na instituição e 28,5 meses (DP±

36,1) na unidade.

Ambiente de trabalho da enfermagem e atitudes de segurança

O ambiente de trabalho foi considerado favorável à prática profissional. Do

ponto de vista da segurança, somente o domínio satisfação no trabalho alcançou

pontuações superiores a 75 (Tabela 2).

48

Tabela 1 Perfil dos profissionais de enfermagem

Características n %

Unidade

Internação pediátrica 89 65,4

UTI Pediátrica 47 34,6

Função

Técnico de Enfermagem 81 59,6

Enfermeiro 51 37,5

Auxiliar de Enfermagem 4 2,9

Sexo

Feminino 130 95,6

Masculino 6 4,4

Estado civil

Casado 76 55,9

Solteiro 47 34,6

Divorciado 8 5,9

Outros 4 2,9

Viúvo 1 0,7

Formação

Ensino médio 85 62,5

Pós-graduação latu sensu 43 31,6

Ensino superior 8 5,9

Turno

Noite 56 41,2

Manhã 47 34,5

Tarde 33 24,3

Outro vínculo empregatício

Não 94 69,1

Sim 42 30,9

49

Tabela 2 Média e desvio-padrão dos escores dos domínios do Nursing Work Index

– Revised e do Safety Attitudes Questionnaire – Short form 2006

Domínios Média DP

Ambiente de trabalho da enfermagem (NWI-R)

Relações entre médicos e enfermeiros/equipe de enfermagem 1,93 0,65

Autonomia 1,99 0,59

Suporte organizacional 2,13 0,50

Controle sobre o ambiente 2,27 0,58

Atitudes de segurança (SAQ)

Satisfação no trabalho 76,62 19,27

Comportamento seguro 69,36 23,34

Clima de trabalho em equipe 67,87 15,37

Clima de segurança 65,63 15,31

Reconhecimento do estresse 62,93 27,41

Condições de trabalho 62,23 24,26

Percepção da gestão do hospital 57,24 18,71

Percepção da gestão da unidade 56,86 19,33

DP = Desvio-Padrão

Intenção de deixar o emprego e a profissão e qualidade do cuidado

A maioria dos profissionais não tem intenção de deixar o emprego ou a

profissão nos próximos 12 meses. A qualidade do cuidado é avaliada como boa ou

muito boa e a maioria dos participantes recomendaria a instituição em que trabalha

para um amigo ou parente (Tabela 3).

50

Tabela 3 Qualidade do cuidado, recomendação do hospital e intenção de deixar o

trabalho e a profissão, de acordo com a avaliação dos profissionais de enfermagem

Avaliação dos profissionais de enfermagem n %

Qualidade do cuidado prestado

Boa 85 62,50 Muito boa 48 35,29 Ruim 3 2,21

Recomendaria o hospital a um membro da família ou amigo

Sim 134 98,53 Não 2 1,47

Intenção de deixar o emprego atual nos próximos 12 meses

Não 112 82,35 Sim 24 17,65

Intenção de deixar a enfermagem nos próximos 12 meses

Não 132 97,06 Sim 4 2,94

Indicadores assistenciais e de desempenho hospitalar

Os indicadores analisados apresentaram tendência a diminuição entre os

anos de 2009 e 2013 (Gráficos 1, 2 e 3).

Gráfico 1 Incidência de UP – casos de UP por número de pacientes com risco para

UP, no período de cinco anos (2009-2013)

51

Gráfico 2 Incidência de flebite – casos de flebite por 100 pacientes-dia com acesso

venoso periférico, no período de cinco anos (2009-2013)

Gráfico 3 Média de permanência em dias para as crianças hospitalizadas no período

de cinco anos (2009-2013)

DISCUSSÃO

Este estudo mostra o empenho da instituição de saúde estudada na busca

por um atendimento de excelência: a maioria das variáveis avaliadas apresenta

resultados positivos para o ambiente da prática dos profissionais de enfermagem, o

que contribui para a qualidade e a segurança do cuidado oferecido (Duffield et al

52

2011). Os participantes deste estudo percebem seu ambiente de trabalho com boas

relações profissionais, autonomia para desempenhar suas funções, além de poderem

contar com suporte organizacional e terem controle sobre sua prática. Estas

características são frequentemente relacionadas a alta satisfação dos profissionais

com seu trabalho, com sua profissão e uma baixa expectativa de mudar de emprego

(Heinen et al 2013). Nesta pesquisa, os profissionais se sentem satisfeitos com o seu

trabalho e a maioria não tem intenção de mudar de emprego. No entanto, essa

intenção de deixar o trabalho nos próximos 12 meses se mostrou bastante superior a

estudos desenvolvidos em outros países, em que os profissionais também avaliam o

ambiente como favorável à prática profissional (Van Bogaert et al 2014, Heinen et al

2013). Os fatores que estão interferindo na intenção de deixar o emprego motivam

estudos futuros em unidades de atendimento pediátrico.

As atitudes de segurança não foram tão bem avaliadas quanto as

características do ambiente de trabalho, sete domínios dos oito avaliados indicam

baixo envolvimento da organização com as questões da segurança do paciente. Esta

avaliação pouco positiva pode ser explicada pelo fato de que criar uma cultura de

segurança leva tempo e exige investimentos organizacionais a longo prazo. Neste

sentido, a observação de características que favorecem a segurança do paciente

poderá ser observada no futuro e os resultados deste estudo podem contribuir para o

direcionamento dos esforços da instituição na busca por uma cultura de segurança

(Groves et al 2011). Os baixos escores do domínio percepção da gestão do hospital

e da unidade sugerem que os esforços da instituição devem ser direcionados para

fortalecer a formação dos gerentes no papel de liderança. O papel dos líderes

organizacionais e de enfermagem tem sido apontado como um fator crucial no

desenvolvimento de ambientes positivos para a prática profissional e para a

segurança do paciente. Características como acessibilidade, visibilidade, inclusão da

equipe nas decisões da unidade, bem como gerentes que oferecem suporte,

reconhecimento e que são flexíveis com sua equipe, estão relacionadas ao aumento

da satisfação do profissional, aumento da retenção de profissionais qualificados e

menor intenção de deixar o emprego (Duffield et al 2011).

A qualidade do cuidado oferecido foi avaliada do ponto de vista dos

profissionais e obteve resultados também bastante positivos: a maioria considera que

a qualidade da assistência de enfermagem é boa ou muito boa, e inclusive recomenda

53

o hospital para pessoas próximas. Estas avaliações podem adensar os resultados da

busca por um atendimento de enfermagem seguro e com qualidade.

Ao analisar a evolução dos indicadores assistenciais, observa-se uma

sensível melhora: todos os indicadores apresentam tendência à diminuição. A

instituição obteve a certificação pela JCI em 2013, desta forma, foram avaliados os

períodos pré (antes de Julho de 2011) e pós acreditação (após Julho de 2011). Por

tratar-se de um estudo essencialmente descritivo não é possível afirmar que a

acreditação levou a melhoria dos indicadores assistenciais, no entanto, o estudo

destaca algumas possíveis relações entre o processo de acreditação, as

características do ambiente de trabalho dos profissionais de enfermagem e os

resultados da avaliação da qualidade do cuidado.

Neste estudo, foram analisados dois indicadores assistenciais e um

indicador de desempenho hospitalar. Quando se considera a incidência de flebite e

de UP, pode-se destacar que são eventos que podem ser reduzidos por meio de

protocolos implantados durante o processo de acreditação. Já a média de

permanência, é um indicador que precisa de estratégias mais amplas para sofrer

reduções significativas. Destaca-se ainda, que o processo de acreditação pressupõe

a padronização do cuidado, a adesão a guidelines de boas práticas, bem como

modificações na liderança organizacional, o que pode reduzir a ocorrência de eventos

adversos como flebites e úlceras por pressão e melhorar a satisfação do enfermeiro

com o seu trabalho (Hinchcliff et al 2012). No entanto, os indicadores assistenciais

precisam ser analisados com cautela, pois a subnotificação dos eventos adversos é

frequente nas instituições de saúde no Brasil (Claro et al 2011).

Em 2012, foi publicada uma revisão sistemática apontando que o processo

de acreditação pode ter uma influência sobre as questões organizacionais e identificou

lacunas neste conhecimento (Hinchcliff et al 2012). Segundo as informações contidas

nesta revisão, muitos estudos, embora não possam ser considerados de forte

evidência científica, direcionam as novas pesquisas para os estudos de intervenção.

É necessário considerar que o processo de acreditação implica em altos

investimentos financeiros e humanos, como longas jornadas de trabalho para

planejamento, revisão e adequação dos processos de trabalho, gastos com a

incorporação de novas tecnologias e ainda não há uma forma sistemática de medir o

retorno destes investimentos.

54

Limitações

Trata-se de um estudo descritivo, e por este motivo, não apresenta análises

inferenciais das relações entre o ambiente de trabalho dos profissionais de

enfermagem e as variáveis descritas. Estudos que busquem por estas relações nos

ambientes que cuidam de crianças são essenciais para se conhecer os fatores que

interferem com a qualidade e a segurança da assistência de enfermagem.

CONCLUSÕES

O ambiente de cuidado do hospital pediátrico estudado foi considerado

favorável a prática profissional de enfermagem. Os enfermeiros, técnicos e auxiliares

de enfermagem estavam satisfeitos com o seu trabalho e avaliaram positivamente a

qualidade do cuidado oferecido em suas unidades, contudo a presença de atitudes

que favorecem a segurança do paciente foi apontada apenas em relação a satisfação

dos profissionais com o trabalho.

Contribuição dos autores

DFSA e EBG contribuíram com o desenho do estudo, coleta de dados,

análise dos dados, elaboração e revisão crítica do manuscrito.

Apoio

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP

(Processo nº 2013/09441-0).

Conflito de Interesses

Os autores declaram que não há conflito de interesses.

Aprovação Comitê de Ética

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer nº

347.759 de 17 de Julho de 2013).

55

REFERÊNCIAS

Aiken LH and Patrician PA. (2000). Measuring organizational traits of hospitals: the

Revised Nursing Work Index. Nursing Research 49 (3), 146-153.

doi:10.1097/00006199-200005000-00006.

Brasil. (2014). Ministério da Saúde. Informações de Saúde TABNET Rede

Assistencial. Available at:

http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0204 (accessed 25

March 2015).

Carvalho REF and Cassiani SHB. (2012). Cross-cultural adaptation of the Safety

Attitudes Questionnaire - Short Form 2006 for Brazil. Revista Latino-Americana de

Enfermagem 20 (3), 575-582. doi:10.1590/S0104-11692012000300020.

Cho E, Sloane DM, Kim EY, Kim S, Choi M, Yoo IY, Lee HS and Aiken LH. (2015).

Effects of nurse staffing, work environments, and education on patient mortality:

An observational study. International Journal of Nursing Studies 52(2), 535-542.

doi: 10.1016/j.ijnurstu.2014.08.006.

Claro CM, Krocockz DVC, Toffolleto MC, and Padilha KG. (2011). Adverse events at

the Intensive Care Unit: nurses' perception about the culture of no-

punishment. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 45(1), 167-172.doi:

10.1590/S0080-62342011000100023.

Compromisso com a Qualidade Hospitalar – CQH. (2012). Manual de indicadores de

enfermagem NAGEH / Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH). 2.ed.

São Paulo: APM/CREMESP, 60p.

Duffield C, Diers D, O'Brien-Pallas L, Aisbett C, Roche M, King M and Aisbett K. (2011).

Nursing staffing, nursing workload, the work environment and patient outcomes.

Applied Nursing Research 24 (4), 244-255. doi:10.1016/j.apnr.2009.12.004.

Gasparino RC, Guirardello E de B and Aiken LH. (2011). Validation of the Brazilian

version of the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). Journal of Clinical Nursing

20 (23-24), 3494-3501. doi:10.1111/j.1365-2702.2011.03776.x.

Groves PS, Meisenbach RJ and Scott-Cawiezell J. (2011). Keeping patients safe in

healthcare organizations: a structuration theory of safety culture. Journal of

Advanced Nursing 67 (8), 1846-1855. doi:10.1111/j.1365-2648.2011.05619.x.

Heinen MM et al. (2013). Nurses’ intention to leave their profession: a cross sectional

observational study in 10 European countries. International Journal of Nursing

Studies, 50(2), 174-184. doi:10.1016/j.ijnurstu.2012.09.019.

56

Hinchcliff R, Greenfield D, Moldovan M, Westbrook JI, Pawsey M, Mumford V et al.

(2012). Narrative synthesis of health service accreditation literature. BMJ Quality

& Safety, bmjqs-2012. doi: 10.1136/bmjqs-2012-000852

Joint Commission International – JCI. (2015). Pathway to JCI Accreditation for

Hospital. Available at: http://pt.jointcommissioninternational.org/pathway/

(accessed 25 March 2015).

Marcelino CF, Alves DFS, Gasparino RC, Guirardello EB. (2014). Validation of the

Nursing Work Index-Revised among nursing aides and technicians. Acta Paulista

de Enfermagem 27(4), 305-310. doi: 10.1590/1982-0194201400052.

Panunto MR and Guirardello EB. (2013). Professional nursing practice: environment

and emotional exhaustion among intensive care nurses. Revista Latino-Americana

de Enfermagem 21 (3), 765-772. doi:10.1590/S0104-11692013000300016.

Sexton JB, Helmreich RL, Neilands TB, Rowan K, Vella K, Boyden J, Roberts PR and

Thomas EJ. (2006). The safety attitudes questionnaire: psychometric properties,

benchmarking data, and emerging research. BMC Health Services Research 6,

44. doi:10.1186/1472-6963-6-44.

Van Bogaert PV, Dilles T, Wouters K and Van Rompaey BV. (2014). Practice

environment, work characteristics and levels of burnout as predictors of nurse

reported job outcomes, quality of care and patient adverse events: a study across

residential aged care services. Open Journal of Nursing 4 (5), 343-355.

doi:10.4236/ojn.2014.45040.

57

Artigo 2

Clima de segurança, exaustão emocional e satisfação no trabalho em hospitais

pediátricos: estudo quantitativo transversal

Running head: Clima de segurança, exaustão emocional e satisfação no trabalho

Daniela Fernanda dos Santos ALVES, Enfermeira, Mestre em Enfermagem

Doutoranda, Faculdade de Enfermagem, Universidade Estadual de Campinas, Brasil

Edinêis de Brito GUIRARDELLO, Enfermeira, Doutora em Enfermagem

Professor Associado, Faculdade de Enfermagem, Universidade Estadual de

Campinas, Brasil

Autor correspondente:

Daniela Fernanda dos Santos Alves

Julita de Souza Sampaio, 275, Porto Feliz, São Paulo, Brasil, 18540-000

+55 19 99260 9029 - [email protected]

Conflitos de interesse: Nenhum conflito de interesse foi declarado pelos autores.

Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

(Processo: 2013/09441-0).

58

Resumo

Título

Clima de segurança, exaustão emocional e satisfação no trabalho em hospitais

pediátricos: estudo quantitativo transversal

Objetivos

Avaliar as correlações e os efeitos preditores da exaustão emocional e da satisfação

no trabalho sobre o clima de segurança e a qualidade do cuidado de enfermagem em

hospitais pediátricos.

Background

Estudos internacionais sugerem que os níveis de satisfação no trabalho e de exaustão

emocional interferem no clima de segurança e na qualidade do cuidado à saúde

oferecido pela equipe de enfermagem. Não existem evidências destas relações em

hospitais pediátricos brasileiros.

Desenho

Estudo quantitativo, transversal.

Métodos

A pesquisa foi realizada com profissionais da equipe de enfermagem de dois hospitais

pediátricos no Brasil, no período de três meses em 2013-2014, por meio de

instrumentos que avaliaram o clima de segurança, a qualidade do cuidado, a

satisfação no trabalho e os níveis de exaustão emocional.

Resultados

Foram analisados os dados de 267 profissionais de enfermagem das unidades de

internação e terapia intensiva pediátrica. A equipe de enfermagem apresentou nível

moderado de exaustão emocional, estava satisfeita com o trabalho e considerou a

qualidade do cuidado oferecido aos pacientes como boa. Existe uma baixa

concordância da equipe quanto a presença de atitudes que tornam o clima de

segurança positivo. As variáveis exaustão emocional e satisfação no trabalho exibiram

correlação significante com o clima de segurança e foram consideradas fatores

preditores desta variável. Essas análises não puderam ser conduzidas com a variável

qualidade do cuidado, devido à falta de variabilidade nas respostas.

Conclusão

Investimentos para diminuir os níveis de exaustão emocional e melhorar a satisfação

do profissional de enfermagem em hospitais pediátricos podem contribuir

positivamente para o clima de segurança.

59

Porque esta pesquisa é necessária?

Pesquisas acerca dos fatores organizacionais como clima de segurança e

qualidade do cuidado são recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para

avaliação da segurança do paciente em ambientes hospitalares.

As pesquisas apontam que a satisfação no trabalho e os níveis de exaustão

emocional influenciam o clima de segurança e a qualidade da assistência à saúde

prestada nos hospitais.

As relações entre clima de segurança, qualidade do cuidado, satisfação no trabalho

e exaustão emocional não foram estudadas no contexto dos hospitais pediátricos

brasileiros.

Quais os achados-chave desta pesquisa?

Os profissionais de enfermagem dos hospitais pediátricos do estudo apresentam

alta satisfação com o trabalho e moderado nível de exaustão emocional.

A equipe de enfermagem considerou boa a qualidade do cuidado oferecido, no

entanto, refere o clima como desfavorável à segurança do paciente.

Os níveis de exaustão emocional e satisfação no trabalho dos profissionais de

enfermagem afetam o clima de segurança em hospitais pediátricos.

Como os achados devem ser utilizados para influenciar políticas / práticas /

pesquisas / educação?

Recomenda-se que os gestores de hospitais pediátricos invistam em iniciativas

para diminuir a exaustão emocional e aumentar a satisfação dos profissionais de

enfermagem, como estratégias para melhorar o clima de segurança.

A implementação de programas de acreditação dos serviços de saúde e da

enfermagem constitui uma das estratégias para melhorar a segurança do paciente,

pois direcionam os gestores para melhorias no bem-estar dos profissionais de saúde.

Palavras-chave: Segurança do paciente. Qualidade do cuidado. Satisfação no

trabalho. Burnout. Hospitais pediátricos. Equipe de enfermagem.

60

INTRODUÇÃO

A segurança do paciente é um componente crítico na assistência à saúde

e algumas prioridades de pesquisa têm sido recomendadas pela Organização Mundial

da Saúde (OMS) (Bates et al. 2009). Dentre elas, os estudos de fatores

organizacionais como a investigação da cultura de segurança, do estresse e das

falhas organizacionais são apontados como prioridades (Jha et al. 2010). Considera-

se que a segurança do paciente, bem como a qualidade do cuidado, são questões

organizacionais, na qual a assistência prestada pelos profissionais de saúde depende

do desempenho das instituições onde trabalham (Wilson et al. 2010).

Nos Estados Unidos, a questão da segurança do paciente foi abordada e

discutida inúmeras vezes, por meio de estudos que também foram replicados em

países da Europa, Austrália e Canadá (Duffield et al. 2011, Aiken et al. 2012, Kirwan

et al. 2013). Na América Latina e no Brasil, o conceito de segurança é incipiente tanto

nas instituições de saúde como de ensino, cujo foco está no indivíduo, no

comportamento de risco e na melhoria dos processos de forma isolada (Landrigan et

al. 2011, Aranaz-Andrés 2011). A natureza punitiva da identificação do erro, a

incorporação isolada de novas tecnologias e de pessoas sem melhorias no ambiente

da prática profissional, tem reduzido os esforços das equipes em tentar direcionar o

cuidado seguro (Singer et al. 2013, Ebright 2014). Em um estudo realizado em

hospitais da América Latina, identificou-se que 59% dos erros podem ser prevenidos

e 20% são considerados graves (Aranaz-Andrés 2011).

Background

O ambiente da prática dos profissionais de saúde, especialmente nos

hospitais, tem sido apontado como um fator determinante da qualidade e da

segurança do cuidado à saúde (Bates et al. 2009). A falta de compreensão da

complexidade do trabalho pelas organizações de saúde constitui a principal ameaça

à segurança do paciente (Landrigan et al. 2011, Riehle et al. 2013, Ebright 2014), pois

afeta diretamente o bem-estar dos profissionais e compromete a qualidade da

assistência. Essa fragilidade das instituições é permeada por avanços tecnológicos,

escassez de profissionais qualificados, pressão constante das prestadoras de

cuidados à saúde para redução dos custos (Ebright 2014) e pela falta de compreensão

61

pelos profissionais e gestores, do conceito de cultura de segurança (Groves et al.

2011).

Groves et al. (2011), em uma reflexão teórica sobre o conceito de

segurança, destacam a produção de um sistema seguro para o paciente

fundamentado no conhecimento e na capacidade da equipe de enfermagem em

prover uma assistência segura. O envolvimento desses profissionais justifica-se não

apenas por ser o maior contingente da equipe de saúde, mas principalmente, por

agregar um enorme conhecimento a respeito do ambiente, sua formação profissional

e organizacional e proximidade com o paciente (Groves et al. 2011).

Desta forma, entende-se que a cultura de segurança é um elemento estável

dentro das organizações de saúde e reflete a forma com que a instituição lida com as

questões da segurança. Promover ambientes seguros é construir um sistema com

ações em nível organizacional (macro) e no âmbito das práticas individuais (micro)

(Groves et al. 2011).

No que se refere ao estudo da segurança do paciente, as recomendações

atuais enfatizam a necessidade de pesquisas que considerem a cultura de segurança,

o comportamento dos indivíduos dentro da organização e os indicadores assistenciais

de forma conjunta (Pronovost et al. 2009, Speroff et al. 2010).

Nesta direção, o ambiente da prática profissional em instituições de saúde

deve ser particularmente estudado, pois afeta pacientes e profissionais e, compromete

o desempenho da organização. Em um estudo, as variáveis do ambiente foram

relacionadas às questões da segurança, e os resultados apontam que a satisfação no

trabalho, a exaustão emocional e a intenção de mudar de emprego interferiram na

segurança do paciente (Duffield et al. 2007). A exaustão emocional afeta tanto o

profissional quanto a segurança do paciente e pode ser multifatorial: ambientes

estressantes, carga de trabalho excessiva, falta de autonomia, falta de

reconhecimento, dificuldade no relacionamento com os colegas de trabalho e

desiquilíbrio entre a vida pessoal e profissional (Wilson et al. 2010, Landrigan et al.

2011, Jacobs et al. 2012).

Quando os enfermeiros percebem o ambiente de trabalho como favorável

à prática profissional, a segurança do paciente é melhorada (Kirwan et al. 2013), isto

é, nos ambientes em que os profissionais têm controle e autonomia profissional fica

mais fácil promover o clima de segurança (Ausserhofer et al. 2013) e melhorar os

indicadores assistenciais (Stone et al. 2007, Aiken et al. 2012). Além disto, em

62

ambientes onde os profissionais exibem elevados níveis de burnout existe

comprometimento da qualidade e da segurança da assistência ao paciente (Spence

Laschinger et al. 2006, Teng et al. 2010).

Apesar das pesquisas fornecerem informações importantes a respeito das

relações entre fatores organizacionais e a segurança do paciente, poucos estudos

consideram exclusivamente unidades que cuidam de crianças. No cenário pediátrico,

o ambiente hospitalar é considerado como de alto risco para crianças hospitalizadas,

pois a abrangência de diferentes estágios de desenvolvimento e a diferença na

epidemiologia das doenças em relação aos adultos desafia as instituições na criação

de ambientes seguros (Beal et al. 2004). As crianças são especialmente vulneráveis

a complicações durante a hospitalização, pois dependem dos cuidados e supervisão

dos pais ou responsáveis (Kaushal et al. 2001).

Os profissionais de enfermagem que trabalham em unidades pediátricas

apresentam fatores estressores adicionais, como a presença de pais em constante

sofrimento devido à doença ou processo de morte do filho, problemas relacionados à

custódia pela criança, casos de abuso sexual e violência familiar, que podem contribuir

para o aumento dos níveis de burnout entre estes trabalhadores (Jacobs et al. 2012).

Além disso, a literatura sugere que em unidades de cuidados neonatais em que os

profissionais de enfermagem apresentam menores níveis de burnout, a qualidade e a

segurança do cuidado prestado são melhores (Rochefort et al. 2010). No Brasil, não

foram encontrados estudos em unidades pediátricas que estabeleçam a relação entre

a qualidade do cuidado, a segurança da criança e de sua família, a satisfação no

trabalho e a exaustão emocional do profissional.

O ESTUDO

Objetivos

Os objetivos deste estudo foram avaliar as correlações e os efeitos

preditores da exaustão emocional e da satisfação no trabalho sobre o clima de

segurança e a qualidade do cuidado.

63

Hipóteses

Modelo 1

A satisfação no trabalho e a exaustão emocional dos profissionais de

enfermagem são fatores preditores do clima de segurança em unidades pediátricas

(Figura 1).

Modelo 2

A satisfação no trabalho e a exaustão emocional dos profissionais de

enfermagem são fatores preditores da qualidade do cuidado percebida pelos

profissionais de enfermagem (Figura 1).

Nos dois modelos, as variáveis exaustão emocional e satisfação no

trabalho (variáreis preditores) podem ter impacto no clima de segurança e na

qualidade do cuidado (variáveis de resultado).

Figura 1 Modelos teóricos dos efeitos

preditores da satisfação no trabalho e da

exaustão emocional sobre o clima de

segurança e a qualidade do cuidado

64

Desenho

O desenho transversal e correlacional foi empregado para conduzir a

pesquisa.

Participantes

O estudo foi realizado com profissionais de enfermagem de dois hospitais

pediátricos, um público e outro privado, no município de São Paulo (Brasil), em

unidades de internação e terapia intensiva pediátrica. Foram considerados para

participar no estudo os auxiliares, técnicos e enfermeiros envolvidos na assistência

direta ao paciente.

Para cálculo do tamanho amostral foram considerados os coeficientes de

correlação entre as variáveis exaustão emocional, qualidade do cuidado, satisfação

no trabalho e clima de segurança, obtidos em estudo anterior (Profit et al. 2014).

Adotou-se o nível significância de 5% com um poder amostral de 80%, estimando-se

o mínimo de 215 sujeitos. Por meio dos dados fornecidos pelos supervisores de

enfermagem, identificou-se que 386 profissionais de enfermagem faziam parte do

quadro de pessoal dessas unidades. Durante o período de coleta dos dados, 50

(12,9%) dos profissionais não puderam ser contatados por estarem em férias, licença

ou afastamento; 12 (3,1%) tinham menos de três meses de experiência nas unidades.

Dos 323 profissionais disponíveis para o estudo, 267 (69,2%) retornaram com os

questionários preenchidos, resultando em uma média de taxa de resposta de 82,4%

(Mín = 76,7%; Máx = 94,6%).

Os profissionais das unidades de internação e da terapia intensiva foram

analisados em conjunto porque não foram observados fatores de heterogeneidade na

amostra, após os testes comparativos com as variáveis do estudo.

Coleta de dados

A coleta dos dados foi realizada entre Dezembro 2013 – Fevereiro 2014,

pela pesquisadora responsável e uma aluna bolsista, previamente treinada para a

coleta dos dados. Obteve-se a lista oficial dos profissionais de todas as unidades e

turnos das instituições, com informações a respeito do tempo de trabalho na unidade,

afastamento, férias, licença médica. Os potenciais participantes foram informados a

respeito do anonimato, confidencialidade e participação voluntária. Os que aceitaram

65

participar assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Todos os

questionários foram recolhidos em até duas semanas após sua emissão.

Variáveis

Características pessoais e profissionais

Os participantes preencheram informações a respeito do tipo de hospital

(público versus privado), unidade (internação versus terapia intensiva), formação,

gênero, estado civil, idade, tempo de experiência na profissão e na unidade, outros

vínculos empregatícios e carga horária de trabalho semanal.

Clima de segurança e satisfação no trabalho

Para medida do clima de segurança e da satisfação no trabalho, foram

utilizadas os domínios do Safety Attitudes Questionnaire - Short Form 2006 (SAQ) que

medem as percepções dos profissionais quanto às atitudes de segurança. Para este

instrumento, considera-se clima de segurança a avaliação dos profissionais quanto ao

comprometimento da organização com as questões da segurança do paciente. A

escala de resposta é do tipo Likert com cinco pontos, em que (A) discordo totalmente,

(B) discordo parcialmente, (C) neutro, (D) concordo parcialmente e (E) concordo

totalmente. O entrevistado também pode considerar a opção (X) não se aplica.

As respostas foram pontuadas da seguinte forma: A=0, B=25, C=50, D=75

e E=100. Um dos itens da subescala clima de segurança (item 11), de conotação

negativa, foi codificado de forma reversa. O escore foi obtido pela soma das

pontuações dividido pelo número de questões respondidas, excluindo-se aquelas com

resposta “não se aplica”. Pontuações acima de 75 indicam a presença de atitudes que

favorecem a segurança do paciente. O participante com mais de 20% de respostas

“não se aplica” foi excluído da análise. A confiabilidade dos domínios variou de 0,67 a

0,80 em aplicações anteriores (Sexton et al. 2006, Carvalho et al. 2012, Sexton et al.

2014).

Exaustão emocional

A exaustão emocional, componente principal da síndrome de burnout, foi

medida pela subescala do Inventário de Burnout de Maslach (IBM). A exaustão

emocional é definida como o esgotamento emocional do profissional em decorrência

do seu trabalho. Este desgaste foi mensurado por meio de nove itens que foram

66

respondidos em uma escala de resposta do tipo Likert com cinco pontos, onde (1)

nunca e (5) sempre. O nível de exaustão emocional foi classificado por meio do cálculo

dos tercis e, neste estudo, valores iguais ou inferiores a 18,66 indicam nível baixo;

superiores a 18,66 e iguais ou inferiores a 24, nível moderado e, superiores a 24, nível

alto de exaustão emocional. Esta subescala tem demonstrado validade em estudos

internacionais com índices de confiabilidade satisfatórios (α= 0,67 a 0,91) (Tamayo

1997, Aiken e Patrician 2000, Leiter e Spence Laschinger 2006, Gasparino et al. 2011,

Panunto e Guirardello 2013).

Qualidade do cuidado

Para avaliação da qualidade do cuidado utilizou-se uma questão derivada

de estudos anteriores (Aiken et al. 2008, Aiken et al. 2011, Aiken et al. 2012,

Gasparino et al. 2011). Os profissionais foram questionados a respeito da qualidade

do cuidado oferecido em sua unidade e as opções de resposta variavam de muito ruim

a muito boa.

Considerações éticas

Para as duas instituições, foram enviadas cartas de apresentação,

endereçadas eletronicamente para as gerências de enfermagem e comissões de

pesquisa. Todas as instituições retornaram com resposta favorável à realização da

pesquisa, que obteve aprovação pelos Comitês de Ética em Pesquisa dos locais de

estudo (Pareceres nº 347.759 e nº 353.171).

Análise dos dados

O software SAS 9.3 (Statistical Analysis System, SAS Institute Inc., Cary,

NC, USA) foi utilizado para analisar os dados. Estatística descritiva, correlação de

Spearman e regressão linear múltipla foram realizadas. Para todas as variáveis, os

sujeitos com mais de 20% de dados faltantes foram excluídos das análises.

O coeficiente de correlação de Spearman foi calculado para avaliar o grau

de correlação entre as variáveis: clima de segurança, exaustão emocional, satisfação

no trabalho e qualidade do cuidado.

A regressão linear múltipla foi utilizada para testar o valor preditivo das

variáveis exaustão emocional e satisfação no trabalho sobre o clima de segurança e

a qualidade do cuidado percebido pelos profissionais de enfermagem. Nesta análise,

67

foi aplicado o critério Stepwise de seleção de variáveis. O nível de significância

estatística adotado para todos os testes foi de 5% e o intervalo de confiança de 95%.

Rigor

Todos os instrumentos utilizados neste estudo estão disponíveis em língua

portuguesa e foram adaptados para a cultura brasileira seguindo as recomendações

mínimas de tradução, retrotradução, avaliação por comitê de juízes e pré-teste, para

adaptação de instrumentos (Beaton et al. 2007). Os domínios do SAQ e do IBM têm

demonstrado validade em estudos internacionais (Sexton et al. 2006, Aiken et al.

2008, Rochefort et al. 2010, Aiken et al. 2011, Poley et al. 2011, Aiken et al. 2012,

Profit et al. 2012, Profit et al. 2012a, Coetzee et al. 2013, Profit et al. 2014, Sexton et

al. 2014, Van Bogaert et al. 2014) e têm sido recomendadas para pesquisas em

unidades pediátricas e neonatais (Rochefort et al. 2010, Profit et al. 2012). Neste

estudo, os índices de consistência interna dos domínios foram calculados por meio do

coeficiente Alfa de Cronbach e variaram de 0,62 a 0,87. Por tratar-se de uma pesquisa

realizada com questionários impressos, todos os instrumentos foram conferidos no

momento da devolução, assegurando-se o máximo de preenchimento. Os

participantes ficaram livres para preencher ou não os dados faltantes e sua identidade

foi preservada.

RESULTADOS

Participaram do estudo 267 profissionais de enfermagem com média de

idade de 34,9 anos (DP± 7,9), maioria do sexo feminino, auxiliares e técnicos de

enfermagem, jornada de trabalho semanal média de 43,0 horas (DP± 14,1), sem outro

vínculo empregatício e nível de escolaridade o ensino médio. A jornada de trabalho

oficial são 36 horas por semana. A qualidade do cuidado foi referida

predominantemente como boa ou muito boa pelos profissionais. A Tabela 1 apresenta

a análise descritiva das variáveis do estudo. A média de experiência foi de 8,8 anos

(DP± 6,5) na profissão e de 4,5 anos (DP± 5,3) na unidade. Os auxiliares e técnicos

de enfermagem tinham em média 4,2 pacientes sob sua responsabilidade (DP± 1,6).

Os enfermeiros relataram ter em média 13,4 pacientes sob sua responsabilidade (DP±

5,7) e entre um e 12 profissionais subordinados (DP± 2,2).

68

Nas unidades de terapia intensiva, onde existe uma regulamentação para

a relação entre o número de pacientes e o número de profissionais, os técnicos de

enfermagem são responsáveis por no máximo dois pacientes e os enfermeiros por até

dez pacientes.

Na avaliação geral, observou-se moderado nível de exaustão emocional na

equipe de enfermagem e cerca de um quarto dos participantes apresentam elevado

nível de burnout. Em relação ao domínio clima de segurança, a média do escore foi

inferior a 75 e indica baixa concordância dos profissionais em relação a presença de

atitudes que tornam o clima de segurança positivo, ao contrário do domínio satisfação

no trabalho, que obteve média considerada favorável à segurança (Tabela 2).

A Tabela 2 exibe as correlações entre as variáveis clima de segurança,

exaustão emocional e satisfação no trabalho. Todas as correlações foram

significantes e indicam que quanto menor o nível de exaustão emocional, mais positivo

é o clima de segurança. Indicam ainda que em ambientes com profissionais mais

satisfeitos no trabalho mais positivo é o clima de segurança.

Na hipótese 1, os testes confirmam que apenas a variável satisfação no

trabalho é preditora do clima de segurança. Os coeficientes de regressão indicam que

o aumento de um ponto nos escores de satisfação profissional pode aumentar cerca

de 45% os escores do clima de segurança (Tabela 3). Por outro lado, a variável

qualidade do cuidado não pode ser testada em relação às correlações e modelo de

regressão devido à falta de variabilidade nas respostas, ou seja, baixo número de

casos com respostas “ruim” ou “muito ruim”.

69

Tabela 1 Características demográficas, qualidade do cuidado e

exaustão emocional dos participantes do estudo

Características (n=267) n %

Hospital privado 136 50,9 Hospital público 131 49,1 Unidade de internação 187 70,0 Terapia intensiva pediátrica 80 30,0 Enfermeiros 99 37,1 Auxiliares e técnicos de enfermagem 168 62,9 Feminino 245 91,8 Masculino 22 8,2 Casado 144 53,9 Solteiro 95 35,6 Divorciado 16 6,0 Separado 2 0,7 Viúvo 1 0,4 Outro 9 3,4 Ensino médio 168 62,9 Graduação 23 8,6 Pós-graduação latu sensu 76 28,5 Outro vínculo empregatício Não 206 77,1 Sim 61 22,9 Qualidade do cuidado Muito boa 177 66,3 Boa 84 31,5 Ruim 6 2,2 Muito ruim - - Nível de exaustão emocional Alto 73 27,4 Moderado 105 39,3 Baixo 89 33,3

70

70

Tabela 2 Média, mínimo, máximo, desvio-padrão, confiabilidade e correlações das variáveis do estudo

Variáveis n Média (Min – Max) DP α ρ Spearman

1 2 3

1. Clima de segurança 263 65,7 (14,3-100,0) 16,6 0,62 1,00

2. Exaustão emocional 267 21,5 (9,0-39,0) 6,0 0,87 -0,32* 1,00

3. Satisfação no trabalho 265 76,9 (15,0-100,0) 19,24 0,76 0,25 -0,41* 1,00

* p < 0.0001

Tabela 3 Regressão linear múltipla – clima de segurança (variável dependente), exaustão emocional e satisfação no trabalho (variáveis independentes)

Variáveis dependentes Variáveis independentes** Coeficiente IC 95% p R²

Modelo 1*

Clima de segurança Satisfação no trabalho 0,45 0,36-0,54 < 0,0001 0,27

* Variáveis independentes: exaustão emocional e satisfação no trabalho ** Utilizou-se o critério stepwise de seleção de variáveis

71

DISCUSSÃO

Estudos conduzidos em unidades pediátricas apontam a prevalência de

elevados níveis de exaustão emocional entre os profissionais da saúde,

especialmente entre enfermeiros (Profit et al. 2014; Jacobs et al. 2012). Na presente

pesquisa, um em cada quatro profissionais se considera exausto emocionalmente em

decorrência do trabalho.

Estes achados são superiores aos encontrados em estudos com

profissionais que atuam em unidades pediátricas e neonatais (Profit et al. 2014;

Jacobs et al. 2012). Por outro lado, os profissionais de enfermagem apresentaram

níveis de exaustão emocional menores do que aqueles que atuam em unidades de

cuidado adulto, tanto em estudos nacionais (Panunto e Guirardello 2013) quanto em

estudos internacionais (Aiken et al. 2012).

Alguns fatores podem justificar este alto nível de exaustão emocional entre

os participantes desta pesquisa. O primeiro pode ser a sobrecarga de trabalho, pois

cerca de 25% dos profissionais trabalham em torno de 45 horas semanais, que pode

estar associada à baixa remuneração dos profissionais de enfermagem, os quais

buscam realizar horas extras como forma de complementação da renda salarial. Um

segundo motivo pode ser o desequilíbrio no quadro de pessoal, que exige a

colaboração com duplicidade de jornada para adequação diária do número de

profissionais disponíveis para a prestação do cuidado. Este tipo de adequação,

nomeada em nosso meio de “cobertura”, sobrecarrega o profissional e pode colocar

em risco a sua segurança e a do paciente.

Neste estudo, não foram analisadas as correlações entre o número de

horas trabalhadas e a ocorrência de exaustão emocional ou suas implicações para a

segurança do paciente, o que motiva investigações futuras para este tipo de análise.

É preciso considerar ainda que os profissionais são relativamente jovens e com menos

de dez anos de experiência na profissão. Vale ressaltar que se trata de uma amostra

mista, com profissionais de diferentes níveis de formação, e estes resultados podem

não se confirmar entre as diferentes categorias.

Estudos realizados em hospitais acreditados referem que menos de 13%

dos profissionais apresentam altos níveis de exaustão emocional (Kelly et al. 2011).

Este dado pode ser resultado de iniciativas internacionais veiculadas pelas agências

de certificação do serviço de enfermagem, como a Magnet® Hospital, que preconizam

72

que os hospitais certificados devem desenvolver estratégias para alívio do burnout

entre os profissionais.

Nas unidades de cuidados pediátricos incluídas neste estudo o clima de

segurança foi considerado um componente crítico da segurança do paciente. Isto

significa que os profissionais não reconhecem atitudes de compromisso da

organização com as questões da segurança, principalmente em relação a forma de

lidar com os erros, estratégias de aprendizado e encaminhamentos quando o erro é

notificado. Os profissionais apontam que a dificuldade para discutir os erros que

acontecem é o principal fator que ameaça a segurança do paciente.

Intervenções para melhorar o ambiente da prática profissional, reduzir os

níveis de burnout, ao lado de melhoria dos processos e da gestão do trabalho, podem

contribuir para a redução de eventos adversos (Van Bogaert et al. 2014, 2014a, 2014b,

Squires et al. 2010). Um estudo realizado em unidades de terapia intensiva neonatal

apontou que a realização de rondas à beira do leito pelos enfermeiros e gerentes/

líderes possibilita discutir estratégias para melhorar os processos de trabalho e

contribuir positivamente para a segurança do paciente. Nas unidades em que estes

espaços para diálogo ocorrem com maior frequência, o ambiente torna-se favorável à

prática profissional, além de se ter observado redução nos níveis de burnout da equipe

de enfermagem (Sexton et al. 2014).

Existe forte evidência de que os níveis de exaustão emocional afetam

consideravelmente a segurança do paciente. Cimiotti et al. (2012) demonstraram que

para 161 hospitais americanos os elevados níveis de exaustão emocional podem

resultar em aumentos significativos das taxas de infecção e, por consequência, dos

custos hospitalares. Isto significa que uma redução de 10% na proporção de

profissionais com níveis elevados de exaustão pode resultar na prevenção de 4.160

casos de infecção, o que pouparia cerca de 41 milhões de dólares nos custos com o

tratamento, sem considerar o ônus com a elevação das taxas de morbidade e

mortalidade do paciente. A principal justificativa para estes dados pode ser devido ao

comportamento de indiferença apresentado pelo profissional com exaustão emocional

quanto aos procedimentos necessários para prevenção de infecções, como a lavagem

das mãos, por exemplo (Cimiotti et al. 2012).

O modelo de regressão mostrou ainda que melhorar a satisfação no

trabalho pode resultar em aumento considerável nas atitudes que tornam o clima

73

positivo para a segurança do paciente. Desta forma, promover estratégias para

melhorar a satisfação destes com o trabalho pode resultar em mudanças no ambiente

e favorecer a segurança do paciente (Cimiotti et al. 2012, Profit et al. 2014, Jacobs et

al. 2012, Aiken et al. 2012, Rochefort et al. 2010).

Apesar de um quarto da equipe de enfermagem estar exausto

emocionalmente e de 75% considerar o clima de segurança de forma negativa, a

maioria dos profissionais referiu estar satisfeito com o trabalho e considerou que a

qualidade do cuidado oferecido é boa ou muito boa. Diante do exposto, percebe-se

que existem fatores relacionados ao ambiente da prática que podem contribuir para o

aumento dos níveis de exaustão emocional da equipe de enfermagem e comprometer,

desta forma, o clima de segurança nas organizações estudadas.

Limitações

O estudo foi realizado em dois hospitais pediátricos com chancelas de

instituições de acreditação: um hospital público acreditado pela Organização Nacional

de Acreditação (ONA) – Nível 1 e um hospital privado certificado pela Joint

Commission International (JCI). As informações desta pesquisa apresentam validade

externa limitada, pois não condizem com a realidade da maioria dos hospitais que

cuidam de crianças e adolescentes no Brasil.

É importante destacar que a distribuição das respostas em relação à

questão da qualidade do cuidado limitou as análises por meio de correlações e

modelos de regressão. Investigações futuras em relação ao ambiente da prática

profissional com o uso de instrumentos que avaliem a qualidade do cuidado poderão

ser úteis para testar um modelo causal para estas relações.

CONCLUSÃO

Os resultados sugerem que investimentos para diminuir os níveis de

exaustão emocional e melhorar a satisfação do profissional de enfermagem poderão

contribuir positivamente e de forma substancial para melhorar o clima de segurança.

O estudo não pode analisar o papel destas variáveis em relação à qualidade do

cuidado percebida pela equipe de enfermagem.

Os dados evidenciam a forte influência dos fatores organizacionais e do

ambiente da prática profissional sobre a segurança do paciente. Estudos envolvendo

74

as variáveis deste estudo e a ocorrência de eventos adversos podem ser o ponto de

partida para modificações na segurança do paciente.

Contribuição dos autores

Todos os autores concordaram com a versão final e preencheram pelo

menos um dos seguintes critérios [recomendado pelo ICMJE

(http://www.icmje.org/ethical_1author.html)]:

Concepção e desenho do estudo, coleta dos dados, análise ou

interpretação dos dados;

Elaboração do artigo ou revisão crítica do conteúdo intelectual.

Referências

Aiken LH, Clarke SP, Sloane DM, Lake ET and Cheney T (2008) Effects of hospital

care environment on patient mortality and nurse outcomes. Journal of Nursing

Administration 38 (5), 223-229. doi:10.1097/01.NNA.0000312773.42352.d7.

Aiken LH and Patrician PA (2000) Measuring organizational traits of hospitals: the

Revised Nursing Work Index. Nursing Research 49 (3), 146-153.

doi:10.1097/00006199-200005000-00006.

Aiken LH, Sermeus W, Van den Heede K, Sloane DM, Busse R, McKee M, Bruyneel

L, Rafferty AM, Moreno-Casbas MT, Tishelman C, Brzostek AST, Kinnunen J,

Schwendimann R, Heinen M, Zikos D, Sietne IS, Smith HL and Kutney-Lee A

(2012) Patient safety, satisfaction, and quality of hospital care: cross sectional

surveys of nurses and patients in 12 countries in Europe and the United States.

BMJ 344, e1717. doi:10.1136/bmj.e1717.

Aiken LH, Sloane DM, Clarke S, Poghosyan L, Cho E, You L, Finlayson M, Kanai-Pak

M and Aungsuroch Y (2011) Importance of work environments on hospital

outcomes in nine countries. International Journal for Quality in Health Care 23 (4),

357-364. doi:10.1093/intqhc/mzr022.

Aranaz-Andrés JM, Aibar-Remón C, Limón-Ramírez R, Amarilla A, Restrepo FR, Urroz

O, Sarabia O, García-Corcuera LV, Terol-García E, Agra-Varela Y, Gonseth-

García J, Bates DW, Larizgoitia I, and IBEAS team (2011) Prevalence of adverse

events in the hospitals of five Latin American countries: results of the

75

‘Iberoamerican study of adverse events’ (IBEAS). BMJ Quality & Safety, 20 (12):

1043-1051. doi:10.1136/bmjqs.2011.051284.

Ausserhofer D, Schubert M, Desmedt M, Blegen MA, De Geest S and Schwendimann

R (2013) The association of patient safety climate and nurse-related organizational

factors with selected patient outcomes: a cross-sectional survey. International

Journal of Nursing Studies 50 (2), 240-252. doi:10.1016/j.ijnurstu.2012.04.007.

Bates DW, Larizgoitia I, Prasopa-Plaizier N, Jha AK and Research Priority Setting

Working Group of the WHO World Alliance for Patient Safety (2009) Global

priorities for patient safety research. BMJ 338, b1775. doi:10.1136/bmj.b1775.

Beal AC, Dougherty D, Jorsling T, Kam J, Perrin J and Palmer RH (2004) Quality

measures for children’s health care. Pediatrics 113 (Supplement 1), 199-209.

Beaton D, Bombardier C, Guillemin F and Ferraz MB (2007) Recommendations for the

Cross-Cultural Adaptation of the DASH & QuickDASH Outcome Measures,

Institute for Work & Health, 1 (1): 1-45.

Carvalho REF and Cassiani SHB (2012) Cross-cultural adaptation of the Safety

Attitudes Questionnaire - Short Form 2006 for Brazil. Revista Latino-Americana de

Enfermagem 20 (3), 575-582. doi:10.1590/S0104-11692012000300020.

Cimiotti JP, Aiken LH, Sloane DM and Wu ES (2012) Nurse staffing, burnout, and

health care-associated infection. American Journal of Infection Control 40 (6), 486-

490. doi:10.1016/j.ajic.2012.02.029.

Coetzee SK, Klopper HC, Ellis SM and Aiken LH (2013) A tale of two systems—nurses

practice environment, well being, perceived quality of care and patient safety in

private and public hospitals in South Africa: A questionnaire survey. International

Journal of Nursing Studies 50 (2), 162-173. doi:10.1016/j.ijnurstu.2012.11.002.

Duffield C, Diers D, O'Brien-Pallas L, Aisbett C, Roche M, King M and Aisbett K (2011)

Nursing staffing, nursing workload, the work environment and patient outcomes.

Applied Nursing Research 24 (4), 244-255. doi:10.1016/j.apnr.2009.12.004.

Duffield C, Roche M, O'Brien-Pallas L, Diers D, Aisbett C, King M, Aisbett K and Hall

J (2007) Glueing It Together: Nurses, Their Work Environment and Patient Safety.

Centre for Health Services Management, NSW, Sydney.

Ebright P (2014) Patient safety in the current health care environment: complexity of

work remains an essential component. Western Journal of Nursing Research 36

(7), 851-854. doi:10.1177/0193945914540576.

76

Gasparino RC, Guirardello Ede B and Aiken LH (2011) Validation of the Brazilian

version of the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). Journal of Clinical Nursing

20 (23-24), 3494-3501. doi:10.1111/j.1365-2702.2011.03776.x.

Groves PS, Meisenbach RJ and Scott-Cawiezell J (2011) Keeping patients safe in

healthcare organizations: a structuration theory of safety culture. Journal of

Advanced Nursing 67 (8), 1846-1855. doi:10.1111/j.1365-2648.2011.05619.x.

Jacobs LM, Nawaz MK, Hood JL and Bae S (2012) Burnout among workers in a

pediatric health care system. Workplace Health & Safety 60 (8), 335-344.

doi:10.3928/21650799-20120726-03.

Jha AK, Prasopa-Plaizier N, Larizgoitia I, Bates DW and Research Priority Setting

Working Group of the WHO World Alliance for Patient Safety (2010) Patient safety

research: an overview of the global evidence. Quality and Safety in Health Care

19 (1), 42-47. doi:10.1136/qshc.2008.029165.

Kaushal R, Barker KN and Bates DW (2001) How can information technology improve

patient safety and reduce medication errors in children's health care? Archives of

Pediatrics & Adolescent Medicine 155 (9), 1002-1007.

doi:10.1001/archpedi.155.9.1002.

Kelly LA, McHugh MD and Aiken LH (2011) Nurse outcomes in Magnet® and non-

magnet hospitals. Journal of Nursing Administration 41 (10), 428-433.

doi:10.1097/NNA.0b013e31822eddbc.

Kirwan M, Matthews A and Scott PA (2013) The impact of the work environment of

nurses on patient safety outcomes: a multi-level modelling approach. International

Journal of Nursing Studies 50 (2), 253-263. doi:10.1016/j.ijnurstu.2012.08.020.

Landrigan CP (2011) Healthcare provider working conditions and well-being: sharing

international lessons to improve patient safety. Jornal de Pediatria 87 (6), 463-465.

doi:10.2223/JPED.2147.

Leiter MP and Spence Laschinger HK (2006) Relationships of work and practice

environment to professional burnout: testing a causal model. Nursing Research 55

(2), 137-146. doi:10.1097/00006199-200603000-00009.

Panunto MR and Guirardello EB (2013) Professional nursing practice: environment

and emotional exhaustion among intensive care nurses. Revista Latino-Americana

de Enfermagem 21 (3), 765-772. doi:10.1590/S0104-11692013000300016.

77

Poley MJ, van der Starre C, van den Bos A, van Dijk M and Tibboel D (2011) Patient

safety culture in a Dutch pediatric surgical intensive care unit: an evaluation using

the Safety Attitudes Questionnaire. Pediatric Critical Care Medicine 12 (6), e310-

e316. doi:10.1097/PCC.0b013e318220afca.

Profit J, Etchegaray J, Petersen LA, Sexton JB, Hysong SJ, Mei M and Thomas EJ

(2012) The safety attitudes questionnaire as a tool for benchmarking safety culture

in the NICU. Archives of Disease in Childhood. Fetal and Neonatal Edition 97 (2),

F127-F132. doi:10.1136/archdischild-2011-300612.

Profit J, Etchegaray J, Petersen LA, Sexton JB, Hysong SJ, Mei M and Thomas EJ

(2012a) Neonatal intensive care unit safety culture varies widely. Archives of

Disease in Childhood. Fetal and Neonatal Edition 97 (2), F120-F126.

doi:10.1136/archdischild-2011-300635.

Profit J, Sharek PJ, Amspoker AB, Kowalkowski MA, Nisbet CC, Thomas EJ, Chadwick

WA and Sexton JB (2014) Burnout in the NICU setting and its relation to safety

culture. BMJ Quality & Safety, 0: 1-8. doi:10.1136/bmjqs-2014-002831.

Pronovost PJ, Goeschel CA, Marsteller JA, Sexton JB, Pham JC and Berenholtz SM

(2009) Framework for patient safety research and improvement. Circulation 119

(2), 330-337. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.107.729848.

Riehle A, Braun BI and Hafiz H (2013) Improving patient and worker safety: exploring

opportunities for synergy. Journal of Nursing Care Quality 28 (2), 99-102.

doi:10.1097/NCQ.0b013e3182849f4a.

Rochefort CM and Clarke SP (2010) Nurses’ work environments, care rationing, job

outcomes, and quality of care on neonatal units. Journal of Advanced Nursing 66

(10), 2213-2224. doi:10.1111/j.1365-2648.2010.05376.x.

Sexton JB, Helmreich RL, Neilands TB, Rowan K, Vella K, Boyden J, Roberts PR and

Thomas EJ (2006) The safety attitudes questionnaire: psychometric properties,

benchmarking data, and emerging research. BMC Health Services Research 6,

44. doi:10.1186/1472-6963-6-44.

Sexton JB, Sharek PJ, Thomas EJ, Gould JB, Nisbet CC, Amspoker AB, Kowalkowski

MA, Schwendimann R and Profit J (2014) Exposure to Leadership WalkRounds in

neonatal intensive care units is associated with a better patient safety culture and

less caregiver burnout. BMJ Quality & Safety, 23 (10): 814-822.

doi:10.1136/bmjqs-2013-002042.

78

Singer SJ and Vogus TJ (2013) Reducing hospital errors: interventions that build safety

culture. Annual Review of Public Health 34, 373-396. doi:10.1146/annurev-

publhealth-031912-114439.

Spence Laschinger HK and Leiter MP (2006) The impact of nursing work environments

on patient safety outcomes: the mediating role of burnout/engagement. Journal of

Nursing Administration 36 (5), 259-267. doi:10.1097/00005110-200605000-

00019.

Speroff T, Nwosu S, Greevy R, Weinger MB, Talbot TR, Wall RJ, Deshpande JK,

France DJ, Ely EW, Burgess H, Englebright J, Williams MV and Dittus RS (2010)

Organisational culture: variation across hospitals and connection to patient safety

climate. Quality and Safety in Health Care 19 (6), 592-596.

doi:10.1136/qshc.2009.039511.

Squires M, Tourangeau A, Spence Laschinger HK and Doran D (2010) The link

between leadership and safety outcomes in hospitals. Journal of Nursing

Management 18 (8), 914-925. doi:10.1111/j.1365-2834.2010.01181.x.

Stone PW, Mooney-Kane C, Larson EL, Horan T, Glance LG, Zwanziger J and Dick

AW (2007) Nurse working conditions and patient safety outcomes. Medical Care

45 (6), 571-578. doi:10.1097/MLR.0b013e3180383667.

Tamayo MR (1997) Relação entre a síndrome do burnout e os valores organizacionais

no pessoal de enfermagem de dois hospitais públicos [Relationship between the

burnout syndrome and organizational values in the nursing staff of two public

hospitals]. Master’s Thesis, Universidade de Brasília, Brazil.

Teng CI, Shyu YI, Chiou WK, Fan HC and Lam SM (2010) Interactive effects of nurse-

experienced time pressure and burnout on patient safety: a cross-sectional survey.

International Journal of Nursing Studies 47 (11), 1442-1450.

doi:10.1016/j.ijnurstu.2010.04.005.

Van Bogaert P, Adriaenssens J, Dilles T, Martens D, Van Rompaey B and

Timmermans O (2014) Impact of role-, job- and organizational characteristics on

Nursing Unit Managers. Journal of Advanced Nursing 70 (11), 2622-2633.

doi:10.1111/jan.12449.

Van Bogaert PV, Dilles T, Wouters K and Van Rompaey BV (2014a) Practice

environment, work characteristics and levels of burnout as predictors of nurse

reported job outcomes, quality of care and patient adverse events: a study across

79

residential aged care services. Open Journal of Nursing 4 (5), 343-355.

doi:10.4236/ojn.2014.45040.

Van Bogaert P, Timmermans O, Weeks SM, van Heusden D, Wouters K and Franck

E (2014b) Nursing unit teams matter: impact of unit-level nurse practice

environment, nurse work characteristics, and burnout on nurse reported job

outcomes, and quality of care, and patient adverse events—A cross-sectional

survey. International Journal of Nursing Studies 51 (8), 1123-1134.

doi:10.1016/j.ijnurstu.2013.12.009.

Wilson BL (2010) Keeping an eye on patient safety using human factors engineering

(HFE): a family affair for the hospitalized child. Journal for Specialists in Pediatric

Nursing 15 (1), 84-87. doi:10.1111/j.1744-6155.2009.00221.x.

80

Artigo 3

Ambiente de trabalho da enfermagem, exaustão emocional, satisfação no

trabalho, intenção de deixar o emprego e clima de segurança em dois hospitais

pediátricos brasileiros: abordagem por modelos de equações estruturais

Daniela Fernanda dos Santos Alves

Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Doutoranda, Faculdade de Enfermagem,

Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

Edinêis de Brito Guirardello

Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professor Associado, Faculdade de

Enfermagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

Autor correspondente:

Daniela Fernanda dos Santos Alves

Julita de Souza Sampaio, 275, Porto Feliz, SP, Brasil, 18540-000

+55 19 99260 9029 - [email protected]

Conflitos de interesse: Nenhum conflito de interesse foi declarado pelos autores.

Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

(Processo: 2013/09441-0).

81

Ambiente de trabalho da enfermagem, exaustão emocional, satisfação no

trabalho, intenção de deixar o emprego e clima de segurança em dois hospitais

pediátricos brasileiros: abordagem por modelos de equações estruturais

RESUMO

Objetivos. Avaliar as correlações entre as características do ambiente de trabalho de

enfermagem, exaustão emocional, satisfação com o trabalho, intenção de deixar o

emprego e clima de segurança.

Background. O ambiente da prática profissional de enfermagem é determinante do

bem-estar dos profissionais e da segurança do paciente, conforme apontam

pesquisas nacionais e internacionais, entretanto há uma escassez de estudos em

unidades pediátricas.

Método. Estudo transversal, correlacional, conduzido em dois hospitais pediátricos no

Brasil, entre os meses de Dezembro 2013 e Fevereiro 2014. Para a coleta de dados,

foram utilizados os domínios do Nursing Work Index – Revised e as variáveis clima de

segurança, satisfação no trabalho, exaustão emocional e intenção de deixar o

emprego. Os dados foram analisados por meio dos coeficientes de correlação de

Spearman e de Modelos de Equação Estrutural.

Resultados. Duzentos e sessenta e sete profissionais de enfermagem participaram

do estudo. Os resultados apontaram que profissionais com autonomia, boas relações

profissionais com os médicos, controle sobre o ambiente e suporte organizacional

apresentam menores níveis de exaustão emocional, maior satisfação profissional,

relatam menor intenção de deixar o emprego e o clima de segurança é positivo. O

Modelo de Equação Estrutural apresentou índices satisfatórios de ajuste e indicou que

as variáveis do ambiente de trabalho são preditores do clima de segurança, da

satisfação no trabalho, da exaustão emocional e da intenção de deixar o emprego.

Conclusão. Autonomia, controle sobre o ambiente e relações entre equipe de

enfermagem e médicos são fatores associados à exaustão emocional, satisfação no

trabalho, clima de segurança e intenção de deixar o emprego.

Implicações para Enfermagem. Iniciativas para melhorar o ambiente da prática

profissional podem melhorar a segurança do paciente pediátricos e o bem-estar dos

profissionais de enfermagem.

82

Palavras-chave: Brasil. Burnout. Intenção de deixar o emprego. Resultados do

trabalho. Satisfação no trabalho. Hospitais pediátricos. Enfermagem pediátrica.

Segurança do paciente. Clima de Segurança. Ambiente de instituições de saúde.

83

Introdução

O ambiente das organizações de saúde tem sido apontado como fator

determinante para o bem-estar dos profissionais de saúde e da segurança do paciente

(Bates et al 2009). Estes achados são, quase que exclusivamente, direcionados a

unidades que cuidam de adultos.

Em unidades de atendimento à criança, diversos fatores podem ser

apontados como agravantes do risco à saúde: a vulnerabilidade da criança, o estresse

e sofrimento dos pais, a multiplicidade de doenças e estágios de desenvolvimento

(Beal et al 2004; Jacobs et al 2012; Alves et al 2013). Além disso, as crianças são

mais susceptíveis a complicações do que os adultos, pois dependem dos pais e

cuidadores para comunicarem sobre suas necessidades (Kaushal et al 2001) o que

torna o ambiente ainda mais complexo para o desempenho da prática profissional.

Background

Na prática clínica da enfermagem no Brasil, observa-se um crescente

número de profissionais que se sentem exaustos pelo trabalho, o que resulta em

prejuízos para a sua saúde e compromete seus planos profissionais, além de ameaçar

a segurança do paciente (Panunto & Guirardello 2013). Não é incomum os

profissionais de enfermagem relatarem altos níveis de burnout e intenção de deixar o

emprego e, até mesmo a profissão (Aiken et al 2012). Inúmeras pesquisas têm

mostrado os efeitos do ambiente organizacional sobre profissionais e pacientes, como

a falta de autonomia e de controle sobre sua prática, a instabilidade das relações com

a equipe médica e o insuficiente suporte organizacional que, de forma latente,

ameaçam a segurança do paciente e do profissional (Ausserhofer et al 2013; Duffield

et al 2011; Van Bogaert et al 2014).

O ambiente da prática profissional de enfermagem é complexo e envolve o

controle dos profissionais sobre a prestação dos cuidados e sobre o ambiente em que

esses cuidados são prestados, permeados e sustentados pelas relações profissionais

(Ebright 2014). O estudo das características deste ambiente é alvo de pesquisas em

âmbito nacional e internacional e objetiva investigar ou compreender a influência do

ambiente na segurança do paciente e bem-estar do profissional.

Hospitais com ambientes de trabalho melhores apresentam indicadores

positivos para a instituição como a retenção de profissionais qualificados, satisfeitos

84

com o trabalho (Aiken et al 2012; Hinno et al 2012) e com menores níveis de burnout

(You et al 2013; Kelly et al 2011) favorecendo a melhoria da qualidade da assistência

à saúde (Kalisch & Xie 2014; Ausserhofer et al 2013; Aiken et al 2012). Nos ambientes

que oferecem suporte à prática profissional, a equipe de enfermagem está mais apta

a reconhecer os “quase-erros” (near miss) relacionados à administração de

medicamentos (Flynn et al 2012). Além disso, nesses ambientes, as taxas de “missed

nursing care” são reduzidas (Ball et al 2014) e ocorrem menos eventos adversos como

quedas, úlceras por pressão e novas infecções (Kalisch & Xie 2014).

Estudos têm sido realizados para compreender a influência do ambiente da

prática de enfermagem em unidades de atendimento ao paciente adulto, mas existe

uma escassez de publicações sobre essa temática em ambientes pediátricos. Os

resultados disponíveis apontam que o ambiente da prática de enfermagem e a

satisfação da equipe com o trabalho são fatores preditores da qualidade do cuidado

que é oferecida em hospitais pediátricos (Wilson et al 2012) e que a segurança do

paciente está fortemente relacionada aos níveis de burnout da equipe de enfermagem

(Jacobs et al 2012). Estas pesquisas não avaliam a influência do ambiente

organizacional nestas relações (Jacobs et al 2012, Wilson et al 2012) ou avaliam

apenas a adequação de recursos humanos e materiais (Holden et al 2011). Algumas

pesquisas avaliam a questão da influência do ambiente de cuidado no bem-estar dos

profissionais e na segurança do paciente em unidades de terapia intensiva neonatal

(Profit et al 2014; Rochefort et al 2010), porém é difícil incorporar estas informações

para as unidades pediátricas, considerando a especificidade de cada uma delas.

Frente a escassez de informações sobre unidades pediátricas, este estudo

busca compreender as relações entre as características deste ambiente e a

segurança do paciente e o bem-estar dos profissionais de enfermagem.

Objetivos

Esta pesquisa teve dois objetivos: 1) avaliar as correlações entre as

características do ambiente de trabalho da enfermagem e os níveis de exaustão

emocional, clima de segurança, satisfação com o trabalho e a intenção de deixar o

emprego e 2) testar o modelo teórico com as relações entre as características do

ambiente de trabalho e as variáveis exaustão emocional, satisfação no trabalho,

intenção de deixar o emprego e clima de segurança (Figura 1).

85

Figura 1 Modelo teórico

Hipótese

Melhorias no ambiente de trabalho reduzem os níveis de exaustão

emocional dos profissionais de enfermagem, aumentam sua satisfação com o

trabalho, diminuem a intenção de deixar o emprego e melhoram o clima de segurança

em unidades pediátricas.

Método

Desenho

O desenho do estudo é do tipo transversal com abordagem correlacional.

Locais e amostra

Participaram do estudo enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem

envolvidos diretamente na assistência ao paciente, em dois hospitais pediátricos da

cidade de São Paulo, Brasil. Trata-se de hospitais especializados, com certificação de

qualidade, sendo um público e outro privado. Atendem pacientes de zero a 18 anos,

86

de todas as especialidades e disponibilizam juntos 168 leitos para internação

pediátrica e 41 leitos de terapia intensiva pediátrica.

A amostra foi composta por enfermeiros, auxiliares e técnicos de

enfermagem, exceto aqueles que estavam em férias, licença ou afastamento por

qualquer motivo, no momento da coleta dos dados. Para fins de cálculo do tamanho

da amostra, foram considerados os coeficientes de correlação obtidos em outros

estudos, com nível de significância de 5% e poder amostral de 80%, estimou-se o

mínimo de 215 sujeitos.

Coleta dos dados

A amostra foi obtida por conveniência e a coleta dos dados foi realizada

durante os meses, de Dezembro de 2013 a Fevereiro de 2014. Os profissionais de

enfermagem foram abordados em seus locais de trabalho, após identificação prévia

dos critérios de inclusão. Cada profissional recebeu um envelope contendo os

instrumentos e foi informado a respeito dos objetivos da pesquisa, dos riscos e

benefícios, bem como da participação voluntária e da confidencialidade. Obteve-se a

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os participantes foram

orientados a responder os instrumentos em local privativo e a devolvê-los preenchidos

em até 14 dias. A taxa de resposta foi igual ou superior a 75% em todas as unidades

e turnos de trabalho e a média global foi de 82,7%.

Instrumentos

Nursing Work Index – Revised (NWI-R). O NWI-R foi utilizado para avaliar

as características do ambiente de trabalho da enfermagem que são favoráveis à

prática profissional. É um instrumento com 15 itens distribuídos em quatro domínios:

autonomia, controle sobre o ambiente, relações entre equipe de enfermagem e

médicos e suporte organizacional. Os itens da subescala suporte organizacional são

derivados dos três domínios anteriores. Os profissionais foram instruídos a indicar em

uma escala de resposta do tipo Likert, com quatro pontos, a sua concordância quanto

a presença de determinada característica, onde 1= concordo totalmente e 4= discordo

totalmente. Os escores foram obtidos pela média das pontuações em cada item e

quanto menor o escore, maior a presença de características que favorecem à prática

profissional da equipe de enfermagem. O NWI-R apresenta índices de consistência

87

interna e validade considerados satisfatórios, tanto na versão original (Aiken &

Patrician 2000) quanto na traduzida (Gasparino et al 2011).

Inventário de Burnout de Maslach (IBM). Os níveis de burnout da equipe de

enfermagem foram obtidos com a aplicação da subescala exaustão Emocional do

IBM, que está disponível para utilização no Brasil (Tamayo 1997). A subescala contém

nove itens que avaliam o estresse físico e emocional decorrente do trabalho e as

respostas são obtidas por meio de uma escala do tipo Likert, onde 1= nunca e 5=

sempre. Os escores são obtidos por meio da soma das pontuações em cada um dos

itens e os níveis de exaustão emocional, neste estudo, são considerados baixos

quando as pontuações forem iguais ou inferiores a 18,66; moderados, quando

superiores a 18,66 e iguais ou inferiores a 24, e altos, quando superiores a 24. Para

classificar a exaustão emocional em níveis foram calculados os tercis (Tamayo 1997).

Os índices de confiabilidade e de validade em estudos internacionais têm

demonstrado sua aplicabilidade em estudos com profissionais de enfermagem em

unidades pediátricas (Jacobs et al 2012; Profit et al 2014).

Safety Attitudes Questionnaire – Short Form 2006 (SAQ). Foram aplicados

os domínios clima de Segurança e da satisfação no Trabalho, os quais foram

traduzidos e adaptados para cultura brasileira (Carvalho & Cassiani 2012). O domínio

clima de Segurança mede questões relacionadas à segurança do paciente por meio

de sete itens e a satisfação no Trabalho é mensurada por cinco itens. Todos os itens

são respondidos por meio de uma escala de resposta do tipo Likert, e pontuadas da

seguinte forma: (A) discordo totalmente = 0; (B) discordo parcialmente = 25 pontos;

(C) neutro = 50 pontos, (D) concordo parcialmente = 75 pontos e (E) concordo

totalmente = 100 pontos. O profissional conta ainda com a opção de resposta “X”, que

significa “não se aplica”. Um dos itens da subescala clima de segurança é codificado

de forma reversa, por ter sido construído com sentido contrário aos demais. A média

das pontuações indica o escore da subescala, excluindo-se as respostas “não se

aplica”, e escores superiores a 75 indicam clima de segurança positivo e alta

satisfação no trabalho. Estudos anteriores, apontam que estes domínios do SAQ

apresentam confiabilidade satisfatória (Sexton et al 2006; Carvalho & Cassiani 2012;

Sexton et al 2014).

Perfil da amostra e intenção de deixar o emprego. As variáveis

demográficas idade, sexo, formação, tempo de experiência na profissão, na unidade

88

e na instituição e carga horária semanal de trabalho foram incluídas no estudo. A

intenção de deixar o emprego foi avaliada por um único item “Você tem intenção de

deixar seu trabalho atual nos próximos 12 meses” com resposta dicotômica, onde (1)

Sim e (2) Não. Este item tem sido descrito em outros estudos que consideram

ambientes da prática profissional (Aiken et al 2012; Heinen et al 2013), como uma

medida adicional da satisfação do profissional com seu trabalho.

Considerações éticas

A pesquisa foi autorizada pelos locais de estudo e obteve-se aprovação

pelos Comitês de Ética em Pesquisa. Todos os profissionais que participaram da

pesquisa foram informados do objetivo do estudo, dos riscos e benefícios e da

participação voluntária. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre

e Informado, em duas vias, sendo uma delas arquivada pela pesquisadora e a outra

pelo participante.

Análise dos dados

Os dados foram tratados por meio do software SAS 9.3 (Statistical Analysis

System, SAS Institute Inc., Cary, NC, USA). Utilizou-se estatística descritiva para as

variáveis demográficas. As correlações entre as variáveis do ambiente da prática

profissional e as variáveis exaustão emocional, satisfação no trabalho e clima de

segurança foram obtidas por meio do coeficiente de correlação de Spearman.

Realizou-se o Teste de Mann-Whitney para comparação do ambiente de trabalho

entre os profissionais que tinham ou não intenção de deixar o emprego nos próximos

12 meses.

Para avaliar as relações entre as características do ambiente de trabalho

dos profissionais de enfermagem (autonomia, controle e relações com os profissionais

médicos) e as variáveis clima de segurança, exaustão emocional, satisfação no

trabalho e intenção de deixar o emprego utilizou-se a análise por meio de Modelos de

Equações Estruturais (MEE) pelo método Partial Least Square (PLS). Trata-se de uma

técnica não-paramétrica, que garante alto poder estatístico e que está indicada para

análise de modelos complexos, com elevado número de relações e grande número

de variáveis observadas (indicadores, itens) (Hair et al 2014). Para testar as relações

entre as variáveis construiu-se um modelo teórico (Figura 1), baseado em um modelo

89

de componentes hierárquicos (Hair et al 2014). Os domínios do NWI-R (autonomia,

controle sobre o ambiente e relações entre equipe de enfermagem e médicos) foram

considerados constructos de primeira ordem, que quando analisados em conjunto,

convergem para um constructo mais complexo, que é o Ambiente de trabalho

(constructo de segunda ordem). O ambiente de trabalho foi então relacionado às

variáveis dependentes (ou variáveis de resultado): clima de segurança, exaustão

emocional, satisfação no trabalho e intenção de deixar o emprego.

Para estas análises, utilizou-se do software Smart PLS 3.0 (Smart Partial

Least Square, University of Hamburg, Hamburg, Germany) e seguiu-se os passos

recomendados por Hair et al (2014) e Ringle et al (2014). A análise do MEE foi

realizada com a avaliação do modelo de mensuração e do modelo estrutural (Figura

2).

No modelo de mensuração foram observadas as relações entre os

domínios e seus respectivos itens, por meio da validade convergente, da

confiabilidade e da validade discriminante. Para validade convergente, os valores

superiores a 0,50 para a AVE (Average Variance Extracted) foram considerados

adequados. Nos domínios que não atingiram este valor, foram retirados os itens com

carga fatorial abaixo de 0,70, um a um, do de menor carga para o de maior, até obter-

se valores de AVE iguais ou superiores a 0,50. Para confiabilidade, expressa pelo

Coeficiente Alfa de Cronbach (α) e pelos valores da Confiabilidade Composta (CC),

foram considerados satisfatórios valores superiores a 0,60 para o α e, superiores a

0,70 para a CC. Na validade discriminante, adotaram-se dois critérios: cargas

cruzadas - o item tem maior carga fatorial em seu domínio do que em outros e, critério

de Fornell e Larcker – as raízes quadradas das AVEs são maiores do que as

correlações com os outros domínios (Hair et al 2014).

90

No modelo estrutural, foram avaliadas as relações entre os domínios

(coeficientes de caminho e significância) e os indicadores de ajuste do modelo:

Coeficiente de Determinação de Pearson (R²), Validade Preditiva (Q²) e Tamanho do

Efeito (f²). Considerou-se R²=2% como efeito pequeno, R²=13% efeito médio e

R²=26% efeito grande. As significâncias dos Coeficientes de Caminho foram obtidas

por meio do Teste t Student, onde valores para t ≥ 1,96 indicam que os coeficientes

são significantes (p<0,05). Valores de Q²>0 foram considerados adequados e foram

expressos pelos coeficientes de redundância. Para o tamanho do efeito (f²), os

coeficientes de comunalidade foram considerados 0,02 como pequeno, 0,15 médio e

0,35 grande (Hair et al 2014). Para as análises do MEE, os sujeitos com 20% ou mais

de dados faltantes não foram considerados, e foram excluídos 31 participantes. Para

todos os testes adotou-se o nível de significância de 5%.

Mo

delo

de m

ensu

ração

Modelo estrutural

Mo

del

o d

e m

ensu

raçã

o

Figura 2 Modelos de mensuração e estrutural

91

Rigor

Os instrumentos de medida utilizados neste estudo estão disponíveis em

língua portuguesa e adaptados para cultura brasileira (Tamayo 1997; Gasparino et al

2011; Carvalho & Cassiani 2012), conforme recomendação para estudos envolvendo

instrumentos desenvolvidos em outras línguas e culturas. Apresentam confiabilidade

satisfatória e os instrumentos SAQ e IBM foram utilizados em pesquisas anteriores

em unidades pediátricas (Rochefort et al 2010; Profit et al. 2012).

Resultados

Participaram do estudo 267 profissionais de enfermagem, de unidades de

internação e terapia intensiva pediátricas, 37,1 % enfermeiros (n=99), 62,9% auxiliares

e técnicos de enfermagem (n=168), com 91,8% do sexo feminino (n=245). Quanto à

formação, 62,9% tinham ensino médio (n=168), 8,6% graduação (n=23) e 28,5%

especialização (n=76) em diversas áreas. Os participantes tinham, em média, 8,8

anos (DP± 6,5) de experiência na profissão, 4,5 anos (DP± 5,3) na unidade e 5,5 anos

(DP± 6,1) na instituição. A carga horária de trabalho semanal média foi 43,0 horas

(DP± 14,1), incluindo outro vínculo empregatício e a realização de horas extras.

Os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem consideraram-se

satisfeitos com o seu trabalho atual (Média: 76,9; DP± 19,2), apresentaram moderado

nível de exaustão emocional (Média: 21,5, DP± 6,0) e 80,5% não tinham intenção de

deixar o emprego nos próximos 12 meses (n=215). Em relação ao clima de segurança,

um em cada quatro considerou que a organização estava comprometida com a

segurança do paciente (Média: 65,7, DP± 16,6).

Os domínios do NWI-R apresentaram correlação positiva com os escores

da Exaustão Emocional e indicaram que em ambientes favoráveis à prática

profissional de enfermagem, os profissionais apresentaram menor nível de exaustão

emocional. Já as correlações com as variáveis satisfação no trabalho e clima de

segurança, indicaram que quanto melhor o ambiente de trabalho, maior é a satisfação

do profissional e mais positivo é o clima de segurança (Tabela 1).

92

Tabela 1 Coeficiente de Correlação de Spearman entre o NWI-R e as variáveis exaustão

emocional, satisfação no trabalho e clima de segurança

NWI-R (n=267) Exaustão Emocional

Satisfação no Trabalho

Clima de Segurança

Autonomia 0,50* -0,40* -0,36*

Relações equipe de enfermagem e médicos 0,31* -0,25* -0,24*

Controle sobre o ambiente 0,51* -0,28* -0,29*

Suporte organizacional 0,53* -0,33* -0,34* *p< 0,0001

No que se refere a intenção de deixar o emprego, esta apresentou

correlação significante com as variáveis autonomia (p=0,0003), controle sobre o

ambiente (p< 0,0001) e suporte organizacional (p=0,0002).

Na primeira etapa da análise do PLS-MEE, avaliação do modelo de

mensuração, foram excluídos os itens 15 do domínio controle sobre o ambiente e os

itens 7,9,11 e 13 do domínio clima de segurança. Desta forma, os valores de AVE, CC

e α Cronbach foram satisfatórios, exceto para o domínio clima de segurança (Tabela

2). Como a CC foi adequada, outros itens deste domínio não foram excluídos. Na

validade discriminante, todos os itens obtiveram carga fatorial maior em seu domínio

do que em outros (Tabela 3) e o critério de Fornell e Larcker foi atendido (Tabela 4).

Tabela 2 Modelo de mensuração: validade convergente e consistência interna

Variáveis Latentes (n=236) AVE CC α Cronbach

Autonomia 0,52 0,84 0,76

Controle sobre o ambiente 0,52 0,87 0,81

Relações equipe de enfermagem e médicos 0,78 0,91 0,86

Exaustão emocional 0,50 0,90 0,87

Clima de segurança 0,53 0,77 0,56

Satisfação no trabalho 0,51 0,84 0,77

Intenção de deixar o emprego 1,00 1,00 1,00

AVE. Average Variance Extracted, CC. Confiabilidade Composta

93

Tabela 3 Modelo de mensuração: cargas fatoriais cruzadas

Autonomia Controle sobre o

ambiente

Relações entre equipe de

enfermagem e médicos

Exaustão emocional

Clima de segurança

Satisfação no trabalho

Intenção de deixar o emprego

NWI_3 0,8303 0,6697 0,5539 0,4544 -0,3709 -0,3420 0,2284

NWI_4 0,7755 0,4757 0,5439 0,3324 -0,3178 -0,2838 0,0440

NWI_9 0,7599 0,5877 0,5065 0,3325 -0,3849 -0,2532 0,1402

NWI_10 0,4108 0,2726 0,1869 0,2473 -0,1293 -0,1596 0,0839

NWI_12 0,7539 0,4812 0,4585 0,3468 -0,3141 -0,3584 0,2165

NWI_1 0,5500 0,7669 0,4030 0,4533 -0,2946 -0,2965 0,2631

NWI_5 0,5597 0,7286 0,4220 0,4573 -0,3213 -0,1970 0,1946

NWI_6 0,4110 0,7668 0,2851 0,3730 -0,1788 -0,0700 0,1448

NWI_7 0,6336 0,6965 0,3857 0,3558 -0,2688 -0,3383 0,2307

NWI_8 0,4857 0,8010 0,3955 0,4509 -0,2259 -0,1690 0,1715

NWI_14 0,4197 0,5547 0,3300 0,1933 -0,1958 -0,2188 0,1708

NWI_2 0,5436 0,3931 0,8456 0,2978 -0,2081 -0,1898 0,0151

NWI_11 0,5455 0,4598 0,8997 0,3242 -0,2949 -0,2462 0,1373

NWI_13 0,6263 0,5053 0,8998 0,2622 -0,3440 -0,2133 0,0423

IBM_1 0,4072 0,4062 0,2735 0,7896 -0,2341 -0,3339 0,1658

IBM_2 0,3176 0,3955 0,2817 0,7318 -0,3050 -0,3070 0,2661

IBM_3 0,2942 0,3597 0,1559 0,7191 -0,2346 -0,3137 0,2211

IBM_6 0,1117 0,0422 0,1137 0,3890 -0,1649 -0,2913 0,0630

IBM_8 0,4300 0,4618 0,2705 0,8681 -0,2662 -0,3625 0,2945

IBM_13 0,3997 0,3735 0,2140 0,7181 -0,2230 -0,4257 0,3095

IBM_14 0,3799 0,5408 0,3166 0,7558 -0,2032 -0,2526 0,2348

IBM_16 0,2372 0,2545 0,1876 0,5265 -0,2765 -0,3444 0,1810

IBM_20 0,3575 0,3585 0,2382 0,7750 -0,2721 -0,3840 0,2991

SAQ_8 -0,2684 -0,2344 -0,2159 -0,1849 0,7488 0,3345 -0,0648

SAQ_10 -0,4103 -0,3282 -0,2716 -0,3528 0,8135 0,4642 -0,2105

SAQ_12 -0,2457 -0,1632 -0,2124 -0,1471 0,6059 0,4168 -0,0497

SAQ_15 -0,1151 -0,1011 0,0136 -0,3104 0,2254 0,5267 -0,2241

SAQ_16 -0,3852 -0,2990 -0,3236 -0,4207 0,5113 0,8402 -0,3460

SAQ_17 -0,2914 -0,2464 -0,1258 -0,3474 0,4268 0,8107 -0,2948

SAQ_18 -0,2269 -0,1488 -0,0704 -0,3125 0,3470 0,7194 -0,1578

SAQ_19 -0,2774 -0,1898 -0,1817 -0,2488 0,3810 0,6429 -0,1199

Int_trab 0,2038 0,2737 0,0742 0,3302 -0,1677 -0,3309 1,0000

94

Tabela 4 Modelo de mensuração: raízes quadradas de AVE e correlação entre os domínios

Domínios (n=236) Autonomia Controle sobre o

ambiente

Relações entre equipe de

enfermagem e médicos

Exaustão emocional

Clima de segurança

Satisfação no

trabalho

Intenção de deixar o emprego

Autonomia 0,7218

Controle sobre o ambiente 0,7122 0,7236

Relações entre equipe de enfermagem e médicos 0,6498 0,5158 0,8821

Exaustão emocional 0,4806 0,5363 0,3328 0,7107

Clima de segurança -0,4381 -0,3469 -0,3234 -0,3351 0,7279

Satisfação no trabalho -0,3954 -0,3014 -0,2457 -0,4570 0,5573 0,7171

Intenção de deixar o emprego 0,2038 0,2737 0,0742 0,3302 -0,1677 -0,3309 1,0000

95

Na análise do modelo estrutural, segunda etapa de avaliação, obteve-se os

indicadores de ajuste do modelo (Tabela 5) e os coeficientes de caminho (Tabela 6 e

Figura 2). Todas as análises resultaram em relações significantes (p<0,001).

Tabela 5 Modelo estrutural: validade preditiva (Q²), tamanho do efeito (f²) e coeficiente de

Determinação de Pearson (R²)

Domínios (n=236) Q² f² R²

Autonomia 0,42 0,29 0,83

Controle sobre o ambiente 0,40 0,33 0,79

Relações entre equipe de enfermagem e médicos 0,48 0,53 0,62

Exaustão emocional 0,14 0,38 0,28

Clima de segurança 0,09 0,08 0,18

Satisfação no trabalho 0,06 0,28 0,13

Intenção de deixar o emprego 0,04 1,00 0,05

Tabela 6 Modelo estrutural: coeficientes de caminho, T Student e significância

Variável de segunda ordem – domínios (n=236) Coeficientes de caminho

t Student p

Ambiente de trabalho → Autonomia 0,91 85,143 < 0,001

Ambiente de trabalho → Controle sobre o ambiente 0,89 46,466 < 0,001

Ambiente de trabalho → Relações entre equipe de enfermagem e médicos

0,79 27,548 < 0,001

Ambiente de trabalho → Exaustão emocional 0,53 11,624 < 0,001

Ambiente de trabalho → Clima de segurança -0,43 7,940 < 0,001

Ambiente de trabalho → Satisfação no trabalho -0,38 6,222 < 0,001

Ambiente de trabalho → Intenção de deixar o emprego 0,23 3,397 < 0,001

96

Figura 2 Modelo estrutural final

Discussão

A condução do estudo sobre o ambiente de trabalho em unidades

pediátricas foi desafiadora, considerando a complexidade que envolve o cuidado à

criança hospitalizada. Na prática clínica, o que se pode observar é que os profissionais

que atuam nestas unidades sentem-se fragilizados com o sofrimento da criança e da

sua família, mas não é possível dimensionar o papel do ambiente e suas repercussões

sobre a segurança do paciente e o bem-estar dos profissionais (Jacobs et al 2012).

Segundo o Conselho Federal de Enfermagem, as categorias de técnicos e

auxiliares de enfermagem constituem cerca de 80% dos profissionais de enfermagem

no Brasil (COFEN 2011). O enfermeiro é o responsável pela coordenação dos

cuidados de enfermagem nos diferentes níveis de complexidade assistencial e

97

aqueles de menor complexidade são delegados aos profissionais de nível médio, que

corresponde às categorias de auxiliares e técnicos de enfermagem. Neste contexto, a

pesquisa foi realizada com as três categorias de enfermagem, por entender que são

corresponsáveis pelo cuidado. Trata-se de profissionais com experiência no cuidado

da criança hospitalizada e, desta forma, podem ser considerados informantes

confiáveis sobre o ambiente de trabalho em unidades pediátricas.

A satisfação com o trabalho e a intenção de permanecer no emprego atual

são características que predominaram entre os participantes e, apesar destes

resultados positivos, a questão da segurança do paciente e dos níveis altos de

exaustão emocional foram pontos críticos encontrados neste estudo. Quando os

resultados apontaram que a segurança do paciente estava comprometida do ponto de

vista de 75% dos profissionais de enfermagem e que 27% exibiam elevados níveis de

exaustão emocional, outros fatores precisam ser investigados.

Iniciativas para reduzir ou aliviar o burnout entre os profissionais de saúde

são recomendadas, como por exemplo programas que inspiram e apoiam estilos de

vida saudáveis e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional (WHO 2010; Jacobs et

al 2012). Estas iniciativas também são preconizadas por programas de certificação da

qualidade como Joint Commission e Magnet® Recognition, como forma de melhorar

o bem-estar dos profissionais e, consequentemente, melhorar a segurança do

paciente e a qualidade do cuidado (ANCC 2013; JCI 2014).

A avaliação do clima de segurança requer atenção dos gestores quanto ao

comprometimento da organização nas questões de segurança. Abordar os erros de

forma apropriada, promover momentos de diálogo com as equipes sobre os erros que

acontecem e sobre o cuidado do paciente são iniciativas bem-vindas, que colaboram

para o clima de segurança e podem reduzir os níveis de burnout desses profissionais

(Dawson et al 2014; Sexton et al 2014).

Em relação ao ambiente de trabalho, há evidências de que os profissionais

de enfermagem que percebem ter mais autonomia, controle, boas relações no

trabalho e suporte organizacional, exibem menores níveis de burnout, estão mais

satisfeitos com o trabalho e o clima de segurança é mais positivo. Outros estudos

apontam que em ambientes nos quais estas características estão presentes, a

qualidade do cuidado oferecida ao paciente é melhor, o que repercute em impactos

sociais e financeiros como: menores taxas de mortalidade (Needleman et al 2011;

98

Aiken et al 2014), maior satisfação do paciente e da sua família (Papastavrou et al

2014; White & Wilson 2015), menores taxas de infecção (Rochefort et al 2012),

menores índices de absenteísmo e de rotatividade (Dawson et al 2014).

A análise por MEE iniciou-se com a análise do modelo de mensuração.

Foram excluídos quatro itens com carga fatorial inferior a 0,50, dos domínios controle

sobre o ambiente e clima de segurança, que comprometiam a validade convergente

do modelo. O domínio clima de segurança ficou com apenas três itens, o que motiva

investigações a respeito do desempenho psicométrico deste domínio como uma

variável capaz de identificar as questões de segurança do paciente em instituições

hospitalares. Talvez este baixo desempenho reflita a falta de clareza dos profissionais

de saúde em identificarem atitudes que refletem o clima de segurança.

O modelo estrutural testado apresentou índices satisfatórios para validade

preditiva. Quanto ao tamanho do efeito, observou-se que a maioria das variáveis

apresenta de média a grande contribuição para a explicação do modelo, exceto o

clima de segurança, que apresenta valor para f² considerado pequeno. Os valores

para o Coeficiente de Determinação de Pearson indicam que a exaustão emocional é

a variável que é melhor explicada pelos fatores preditivos, enquanto o clima de

segurança e a satisfação no trabalho são apresentados como de efeito médio. A

variável intenção de deixar o emprego é pouco explicada pelo modelo.

Traduzindo estas análises para termos práticos, verifica-se que se o

ambiente de trabalho dos profissionais de enfermagem melhorar em 100%, obter-se-

á redução de 54% nos níveis de exaustão emocional, o clima de segurança será mais

positivo em 43%, a satisfação no trabalho irá aumentar em 37% e haverá uma redução

de 23% na intenção de deixar o emprego. As modificações no ambiente da prática

profissional da enfermagem devem se dar nas questões da autonomia, do controle

sobre o ambiente e nas relações profissionais. O adequado dimensionamento de

recursos humanos, especialmente o número de enfermeiros, a autonomia para tomar

decisões sobre o cuidado do paciente e suporte do gerente de enfermagem são

fatores que merecem atenção especial nos hospitais pediátricos.

Os modelos de equações estruturais permitem maior entendimento dos

efeitos das características do ambiente de trabalho sobre os níveis de exaustão

emocional, satisfação no trabalho, intenção de deixar o emprego e clima de

segurança. Estas variáveis foram testadas também em modelos com profissionais que

99

atuam em unidades de adultos e apresentam resultados semelhantes (Van Bogaert et

al 2009).

No contexto pediátrico, a questão do controle e da autonomia do

profissional para tomada de decisões sobre o paciente, bem como a qualidade das

relações profissionais, têm impacto direto sobre o bem-estar do profissionais e sobre

o clima de segurança.

Implicações para a prática de enfermagem

Investimentos organizacionais como iniciativas para redução ou alívio do

burnout, envolvimento dos profissionais na tomada de decisão sobre os cuidados do

paciente, reconhecimento profissional, suporte do gerente de enfermagem e a

abordagem do erro como uma forma de aprendizado, contribuem positivamente para

a criação de ambientes de trabalho favoráveis e têm impacto significativo na satisfação

profissional e no clima de segurança.

Limitações

Este estudo foi desenvolvido em dois hospitais pediátricos, de referência,

no estado com melhor índice de desenvolvimento do Brasil e onde estão concentradas

as tecnologias para prestação do cuidado à criança hospitalizada. Estes dados não

refletem a realidade nacional. Recomenda-se estudo em outras regiões do país.

A segunda limitação, é relacionada ao método. As variáveis foram testadas

considerando-se um modelo teórico e, desta forma, podem haver variáveis latentes

que não foram controladas.

Conclusão

O estudo identificou que nas unidades pediátricas as variáveis autonomia,

relações entre equipe de enfermagem e médicos, controle sobre o ambiente e suporte

organizacional apresentam correlações significantes com exaustão emocional,

satisfação no trabalho, intenção de deixar o emprego e clima de segurança. No

modelo final foram observados efeitos significantes do ambiente de trabalho sobre as

variáveis estudas.

100

Agradecimentos

Nosso agradecimento aos profissionais de enfermagem que participaram

deste estudo e aos hospitais pediátricos que autorizaram a realização da pesquisa.

Contribuição dos autores

DFSA desenhou o estudo, desenvolveu o conceito do estudo, coletou,

analisou e interpretou os dados e redigiu o artigo. EBG orientou a pesquisa, contribuiu

para o desenho do estudo, análise e interpretação dos dados e fez a revisão do

manuscrito.

Referências

Aiken, L.H. & Patrician, P.A. (2000) Measuring organizational traits of hospitals: the

Revised Nursing Work Index. Nursing Research, 49(3), 146-153.

doi:10.1097/00006199-200005000-00006.

Aiken, L.H., et al. (2012) Patient safety, satisfaction, and quality of hospital care: cross

sectional surveys of nurses and patients in 12 countries in Europe and the United

States. BMJ, 344, e1717. doi:10.1136/bmj.e1717.

Aiken, L.H., et al. (2014). Nurse staffing and education and hospital mortality in nine

European countries: a retrospective observational study. The Lancet, 383(9931),

1824-1830. doi:10.1016/S0140-6736(13)62631-8.

Alves, D.F.S., Guirardello, E.B., Kurashima, A.Y. (2013). Estresse relacionado ao

cuidado: o impacto do câncer infantil na vida dos pais. Revista Latino-Americana

de Enfermagem, 21(1), 356-362. doi:10.1590/S0104-11692013000100010.

ANCC – American Nurses Credentialing Center (2013) Magnet Recognition

Program®. Available at: http://www.nursecredentialing.org/Magnet (accessed 25

March 2015).

Ausserhofer, D., et al. (2013). The association of patient safety climate and nurse-

related organizational factors with selected patient outcomes: a cross-sectional

survey. International Journal of Nursing Studies, 50 (2), 240-252.

doi:10.1016/j.ijnurstu.2012.04.007.

Ball, J.E., et al. (2014). ‘Care left undone ‘during nursing shifts: associations with

workload and perceived quality of care. BMJ Quality & Safety, bmjqs-2012.

doi:10.1136/bmjqs-2012-001767.

101

Bates, D.W., Larizgoitia, I., Prasopa-Plaizier, N., Jha, A.K. (2009). Research Priority

Setting Working Group of the WHO World Alliance for Patient Safety. Global

priorities for patient safety research. BMJ, 338, b1775. doi:10.1136/bmj.b1775.

Beal, A.C., et al. (2004) Quality measures for children’s health care. Pediatrics, 113

(Supplement 1), 199-209.

Carvalho, R.E.F. & Cassiani, S.H.B. (2012) Cross-cultural adaptation of the Safety

Attitudes Questionnaire - Short Form 2006 for Brazil. Revista Latino-Americana de

Enfermagem, 20 (3), 575-582. doi:10.1590/S0104-11692012000300020.

COFEN – Conselho Federal de Enfermagem (2011) Análise de dados dos

profissionais de enfermagem existentes nos Conselhos Regionais. Available at:

http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/pesquisaprofissionais.pdf

(accessed 30 March 2015).

Dawson, A. J., et al. (2014). Nursing churn and turnover in Australian hospitals: nurses

perceptions and suggestions for supportive strategies. BMC nursing, 13(1), 11.

Duffield, C., et al. (2011) Nursing staffing, nursing workload, the work environment and

patient outcomes. Applied Nursing Research, 24 (4), 244-255.

doi:10.1016/j.apnr.2009.12.004.

Ebright, P. (2014) Patient safety in the current health care environment: complexity of

work remains an essential component. Western Journal of Nursing Research, 36

(7), 851-854. doi:10.1177/0193945914540576.

Flynn, L., et al. (2012). Nurses’ practice environments, error interception practices, and

inpatient medication errors. Journal of Nursing Scholarship, 44(2), 180-186. doi:

10.1111/j.1547-5069.2012.01443.x.

Gasparino, R. C., de Brito Guirardello, E., & Aiken, L. H. (2011). Validation of the

Brazilian version of the Nursing Work Index‐Revised (B‐NWI‐R). Journal of clinical

Nursing, 20(23‐24), 3494-3501. doi: 10.1111/j.1365-2702.2011.03776.x.

Hair Jr, J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C., & Sarstedt, M. (2014). A primer on partial least

squares structural equation modeling (PLS-SEM). Sage Publications.

Heinen, M. M., et al. (2013). Nurses’ intention to leave their profession: a cross

sectional observational study in 10 European countries. International Journal of

Nursing Studies, 50(2), 174-184. doi:10.1016/j.ijnurstu.2012.09.019.

Hinno, S., Partanen, P., & Vehviläinen‐Julkunen, K. (2012). The professional nursing

practice environment and nurse‐reported job outcomes in two European countries:

102

a survey of nurses in Finland and the Netherlands. Scandinavian journal of caring

sciences, 26(1), 133-143. doi: 10.1111/j.1471-6712.2011.00920.x.

Holden, R. J., et al. (2011). A human factors framework and study of the effect of

nursing workload on patient safety and employee quality of working life. BMJ Qual

Saf, 20(1), 15-24.

Jacobs, L.M., Nawaz, M.K., Hood, J.L. & Bae, S. (2012) Burnout among workers in a

pediatric health care system. Workplace Health & Safety, 60 (8), 335-344.

doi:10.3928/21650799-20120726-03.

JCI - Joint Commission International (2014) Accreditation Standards for Hospitals, 5th

Edition. Oakbrook Terrace, Illinois , US.

Kalisch, B. J., & Xie, B. (2014). Errors of omission missed nursing care. Western

Journal of Nursing Research, 36(7), 875– 890. doi: 10.1177/0193945914531859.

Kaushal, R., Barker, K.N. & Bates, D.W. (2001) How can information technology

improve patient safety and reduce medication errors in children's health care?

Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, 155 (9), 1002-1007.

doi:10.1001/archpedi.155.9.1002.

Kelly, L.A., McHugh, M.D. & Aiken, L.H. (2011) Nurse outcomes in Magnet® and non-

magnet hospitals. Journal of Nursing Administration, 41 (10), 428-433.

doi:10.1097/NNA.0b013e31822eddbc.

Needleman, J., et al. (2011). Nurse staffing and inpatient hospital mortality. New

England Journal of Medicine, 364(11), 1037-1045.

Panunto, M.R. & Guirardello, E.B. (2013) Professional nursing practice: environment

and emotional exhaustion among intensive care nurses. Revista Latino-Americana

de Enfermagem, 21 (3), 765-772. doi:10.1590/S0104-11692013000300016.

Papastavrou, E., Andreou, P., Tsangari, H., & Merkouris, A. (2014). Linking patient

satisfaction with nursing care: the case of care rationing-a correlational study. BMC

Nursing, 13(1), 26.

Profit, J., et al. (2012). Neonatal intensive care unit safety culture varies

widely. Archives of Disease in Childhood-Fetal and Neonatal Edition, 97(2), F120-

F126. doi:10.1136/archdischild-2011-300635.

Profit, J., et al. (2014) Burnout in the NICU setting and its relation to safety culture.

BMJ Quality & Safety, 0, 1-8. doi:10.1136/bmjqs-2014-002831.

103

Ringle, C.M., Silva, D., & Bido, D. (2014). Modelagem de Equações Estruturais com

utilização do SmartPLS. Revista Brasileira de Marketing. 13(2), 56-73.

Rochefort, C. M., Ward, L., Ritchie, J. A., Girard, N., & Tamblyn, R. M. (2012). Patient

and nurse staffing characteristics associated with high sitter use costs. Journal of

Advanced Nursing, 68(8), 1758-1767. doi: 10.1111/j.1365-2648.2011.05864.x

Rochefort, C.M. & Clarke, S.P (2010) Nurses’ work environments, care rationing, job

outcomes, and quality of care on neonatal units. Journal of Advanced Nursing, 66

(10), 2213-2224. doi:10.1111/j.1365-2648.2010.05376.x.

Sexton, J.B., et al. (2006) The safety attitudes questionnaire: psychometric properties,

benchmarking data, and emerging research. BMC Health Services Research, 6,

44. doi:10.1186/1472-6963-6-44.

Sexton, J.B., et al. (2014) Exposure to Leadership WalkRounds in neonatal intensive

care units is associated with a better patient safety culture and less caregiver

burnout. BMJ Quality & Safety, 23 (10): 814-822. doi:10.1136/bmjqs-2013-002042.

Tamayo, M.R. (1997) Relação entre a síndrome do burnout e os valores

organizacionais no pessoal de enfermagem de dois hospitais públicos

[Relationship between the burnout syndrome and organizational values in the

nursing staff of two public hospitals]. Master’s Thesis, Universidade de Brasília,

Brazil.

Van Bogaert, et al. (2009). Hospital nurse practice environment, burnout, job outcomes

and quality of care: test of a structural equation model. Journal of Advanced

Nursing, 65(10), 2175-2185. doi:10.1016/j.ijnurstu.2008.07.009

Van Bogaert, P., et al. (2014) Nursing unit teams matter: impact of unit-level nurse

practice environment, nurse work characteristics, and burnout on nurse reported

job outcomes, and quality of care, and patient adverse events—A cross-sectional

survey. International Journal of Nursing Studies, 51 (8), 1123-1134.

doi:10.1016/j.ijnurstu.2013.12.009.

White, C., & Wilson, V. (2015). A longitudinal study of aspects of a hospital's family‐

centred nursing: changing practice through data translation. Journal of Advanced

Nursing, 71(1), 100-114. doi: 10.1111/jan.12478.

Wilson, S., Hauck, Y., Bremner, A., & Finn, J. (2012). Quality nursing care in Australian

paediatric hospitals: a Delphi approach to identifying indicators. Journal of Clinical

Nursing, 21(11‐12), 1594-1605. doi: 10.1111/j.1365-2702.2011.04004.x.

104

WHO - World Health Organization. (2010). Healthy workplaces: a model for action: for

employers, workers, policy-makers and practitioners. Geneva: World Health

Organization. Available at:

http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44307/1/9789241599313_eng.pdf?ua=1

(accessed 25 March 2015).

You, L. M., et al. (2013). Hospital nursing, care quality, and patient satisfaction: cross-

sectional surveys of nurses and patients in hospitals in China and

Europe. International Journal of Nursing Studies, 50(2), 154-161. doi:

10.1016/j.ijnurstu.20

105

6. DISCUSSÃO GERAL

O estudo foi realizado em dois hospitais especializados no cuidado à

crianças e adolescentes, sendo um privado e outro público. As instituições

apresentam características comuns: atendimento de alta complexidade, compromisso

organizacional com as questões da segurança da assistência à saúde e planejamento

institucional para obtenção de selos de acreditação. A instituição pública possui

acreditação pela ONA – Nível 1 e a instituição privada é reconhecida pela JCI. Neste

contexto, os resultados do estudo comprovam os investimentos institucionais para

criar ambientes que contribuem positivamente para a segurança do paciente, embora

existam outras metas a serem alcançadas.

O objeto da pesquisa foi estudar o ambiente das instituições pediátricas,

por considerar que nestes ambientes, profissionais e crianças são especialmente

vulneráveis. As crianças por dependerem constantemente dos adultos (29) e, os

profissionais, por prestarem cuidado em um ambiente complexo, com várias faixas

etárias, múltiplas condições de doença e diferentes estágios de desenvolvimento (28),

além de conviverem com o estresse e sofrimento de toda família (30-31).

Ambas as instituições consideraram a pesquisa como uma forma de avaliar

os investimentos organizacionais para a segurança do paciente e uma oportunidade

para melhorias. Quando as questões de pesquisa alcançam resultados na prática

clínica, justifica-se a realização de estudos como estes. Os profissionais que

participaram do estudo também vislumbraram os resultados da pesquisa como uma

chance de mudança em seus ambientes de trabalho, o que pode ser demonstrado

pela alta taxa de resposta. Este é um dos pontos fortes deste trabalho.

Adicionalmente, esta pesquisa contou com informações de profissionais experientes

na profissão e no cuidado.

A amostra foi constituída em sua maioria por profissionais das unidades de

internação, técnicos e auxiliares de enfermagem, do sexo feminino e adultos jovens.

São profissionais que trabalham mais de 40 horas por semana e têm, em sua maioria,

apenas um vínculo empregatício. O que se observa nestes hospitais é uma

readequação quase que diária das escalas de trabalho, o que exige um

comprometimento dos profissionais em jornadas extras. Políticas para limitar a carga

horária e as longas jornadas de trabalho são especialmente benéficas para melhorar

a segurança e a qualidade do cuidado oferecido aos pacientes (49).

106

Os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem também foram

convidados a avaliar a qualidade do cuidado e a maioria deles (mais de 95%) avaliou

como boa ou muito boa a qualidade do cuidado oferecida em sua unidade. Este dado

é bastante contrastante com estudos que foram desenvolvidos em países da Europa

e nos Estados Unidos, nos quais os profissionais não reconhecem como boa a

qualidade da assistência à saúde que é prestada em sua instituição. Na Grécia, por

exemplo, 47% dos profissionais consideram a qualidade do cuidado como ruim e nos

Estados Unidos, cerca de 16% (24). É importante salientar que trata-se de um conceito

muito subjetivo e que pode ser afetado pelo senso crítico dos profissionais que avaliam

a qualidade da assistência e não pode ser generalizado.

Com relação ao ambiente de trabalho, os participantes percebem

características favoráveis à sua prática profissional, ou seja, apresentam boas

relações profissionais, têm autonomia e controle sobre o ambiente e podem contar

com suporte organizacional. Inúmeras pesquisas apontam que nos ambientes em que

estas características estão presentes, os resultados da assistência ao paciente são

melhores e os profissionais sentem-se mais satisfeitos com o seu trabalho (50-52).

Em concordância com estas pesquisas, os resultados deste estudo destacam a

satisfação dos profissionais de enfermagem com baixa expectativa de deixar o

emprego e a profissão.

O burnout, mensurado pelo constructo exaustão emocional, foi considerado

a variável melhor explicada pelo modelo estrutural. Níveis moderados de exaustão

emocional não significam essencialmente um problema entre a equipe de

enfermagem, pois é esperado algum nível de estresse entre os profissionais que

cuidam de crianças hospitalizadas (31). No entanto, quando se observa a proporção

de profissionais com elevado nível de exaustão emocional, os resultados merecem

uma atenção especial: um em quatro profissionais apresenta este nível elevado. A

literatura indica que em ambientes onde os níveis de exaustão emocional são

elevados, os indicadores de qualidade e de segurança do paciente ficam

comprometidos. Um estudo desenvolvido no Texas, em um hospital pediátrico

apontou a prevalência de 13% para níveis elevados de exaustão emocional entre os

profissionais de saúde, sendo que 23% desta amostra foi composta por enfermeiros

(31).

107

Um ponto importante desta pesquisa foi a identificação das atitudes de

segurança pelos profissionais do hospital acreditado pela JCI: apenas um dos

domínios, satisfação no trabalho, foi considerado positivo para a segurança do

paciente. A avaliação da gestão da organização e da gestão da unidade foram os

domínios com piores escores. Nestes domínios foram avaliadas questões como a

forma de administrar a instituição e a unidade, a maneira de lidar com as questões de

recursos humanos e o suporte aos profissionais. Estes dados confirmam os achados

de uma pesquisa desenvolvida em três regiões do Brasil, em que as questões

gerenciais são os fatores com maior comprometimento na verificação das atitudes de

segurança (42). Em âmbito internacional, o domínio percepção da gestão também

mantém esta posição (53).

Para os dois hospitais avaliados, as variáveis autonomia, controle sobre o

ambiente, relações entre equipe de enfermagem e médicos e clima de segurança

foram correlacionadas com a variável exaustão emocional. Todas as correlações

foram significantes e indicam que em ambientes com autonomia, controle e boas

relações profissionais, o clima de segurança é mais positivo e os profissionais exibem

menores níveis de exaustão emocional. Ambientes com características favoráveis à

prática profissional estão associados a retenção de profissionais qualificados e

satisfeitos com o trabalho (24, 51), com menores níveis de burnout (5, 11), o que

melhora a qualidade do cuidado de enfermagem (23, 54), diminui a ocorrência de

eventos adversos (55-58) e até mesmo as taxas de mortalidade (27, 59).

Quando as variáveis autonomia, controle sobre o ambiente, relações entre

equipe de enfermagem e médicos, clima de segurança, exaustão emocional,

satisfação no trabalho e intenção de deixar o emprego são colocadas dentro de um

modelo teórico para explicar as relações entre elas, partiu-se do seguinte pressuposto:

as características do ambiente da prática profissional influenciam o clima de

segurança, a satisfação no trabalho, a intenção de deixar o emprego e a exaustão

emocional. Conduziu-se, desta forma, a análise do MEE, o qual confirmou que a

exaustão emocional é uma das variáveis mais sensíveis às características do

ambiente de trabalho, o que também foi encontrado em um estudo com unidades de

internação adulto (60).

Nos modelos de regressão logística múltipla, os testes confirmam que

apenas a variável satisfação no trabalho é preditora do clima de segurança. Os

108

coeficientes de regressão indicam que o aumento de um ponto nos escores de

satisfação profissional pode aumentar cerca de 45% os escores do clima de

segurança. A variável qualidade do cuidado não pode ser testada em relação às

correlações e modelo de regressão devido à falta de variabilidade nas respostas.

Outrossim, os resultados desta pesquisa indicam a complexidade que

envolve a assistência à saúde, especialmente em unidades pediátricas, onde o

ambiente de trabalho dos profissionais de enfermagem tem impacto significativo sobre

a segurança do paciente (61-62). Algumas iniciativas como a oportunidade dos

profissionais discutirem sobre o cuidado do paciente (63-65), a presença do gestor

nas unidades do trabalho (66-67), lidar com os erros como forma de aprendizado e

promover uma cultura justa (44), estimular o equilíbrio entre a vida pessoal e

profissional (68-69), reconhecer que o ambiente de cuidado é complexo e que

apresenta risco elevado (70-73), bem como promover o cuidado centrado na família

(74) são estratégias para criar culturas de segurança eficazes.

Limitações

A pesquisa foi realizada em dois hospitais especializados, de referência,

com sério comprometimento institucional em implementar ações para a segurança do

paciente. Mais do que responder a uma demanda do Ministério da Saúde, que é a

criação de Núcleos de Segurança do Paciente (NSP), existe um empenho prévio para

garantir qualidade ao cuidado que é oferecido. A consequência destes esforços

organizacionais, são as chancelas de instituições de acreditação. Apesar de todo esse

panorama bastante positivo, existem mudanças que ainda precisam ser

implementadas. Por outro lado, os resultados deste estudo, não podem ser

transpostos para a maioria dos hospitais e unidades pediátricas no Brasil. O estudo

de outras instituições e em diferentes regiões do país poderá trazer um panorama

destas variáveis em instituições hospitalares que cuidam de crianças.

Outra limitação é imposta pelo método empregado para estabelecer

relação entre as variáveis. Os dois modelos, de regressão logística e de equações

estruturais, não excluem outras variáveis que possam interferir no ambiente de

trabalho da enfermagem e na segurança do paciente em unidades pediátricas.

Estudos envolvendo outras variáveis latentes são recomendados.

109

A terceira limitação, trata-se da pouca variabilidade nas respostas dos

sujeitos quanto a avaliação da qualidade do cuidado oferecido em sua unidade: cerca

de 98% considera a qualidade do cuidado boa ou muito boa. Essa pouca variabilidade

impôs restrição para utilização desta variável nos testes estatísticos empregados.

110

7. CONCLUSÃO GERAL

Em relação aos objetivos do estudo, os resultados permitem concluir que:

O ambiente de trabalho da equipe de enfermagem dos hospitais pediátricos

é considerado favorável à prática profissional, mas os profissionais não reconhecem

a presença de atitudes de segurança, exceto para a satisfação profissional.

Os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem que atuam no

hospital privado, com acreditação, desenvolvem suas atividades de cuidado com

autonomia, controle sobre o ambiente, boas relações profissionais e suporte

organizacional. Estes profissionais reconhecem que os atributos da satisfação

profissional estão presentes em seu ambiente de trabalho.

Os profissionais de enfermagem do hospital privado exibem moderado

nível de exaustão emocional, avaliam positivamente a qualidade do cuidado, estão

satisfeitos com seu trabalho atual e não têm intenção deixar o emprego ou a profissão

nos próximos 12 meses.

No hospital privado,os indicadores assistenciais apontam para uma

redução da incidência de flebite e de UP ao longo de cinco anos (2009-2013), bem

como para redução da média de permanência. A evolução da série histórica pode

estar relacionada ao processo de preparo da instituição para obtenção da credencial.

Os profissionais com menores níveis de exaustão emocional percebem

o clima de segurança como positivo e estão mais satisfeitos com o trabalho. A

qualidade do cuidado foi excluída das análises devido à pouca variabilidade nas

respostas.

A variável satisfação no trabalho é preditora do clima de segurança em

unidades pediátricas.

Os profissionais de enfermagem com mais autonomia, controle sobre o

ambiente, boas relações com os médicos e mais suporte organizacional exibem

menores níveis de exaustão emocional, estão mais satisfeitos com o trabalho, têm

menor intenção de deixar o emprego e reconhecem no ambiente atitudes favoráveis

à segurança do paciente.

O modelo de equações estruturais indica que intervenções para

melhorar o ambiente de trabalho podem reduzir os níveis de exaustão emocional,

111

aumentar a satisfação no trabalho, diminuir a intenção de deixar o emprego e tornar

mais positivo o clima de segurança.

Quanto às hipóteses:

a) A satisfação no trabalho é um fator preditor do clima de segurança em

unidades pediátricas.

b) Não foi possível testar os efeitos preditores da qualidade do cuidado,

devido a baixa variabilidade desta variável.

c) Melhorias no ambiente de trabalho reduzem os níveis de exaustão

emocional, aumentam a satisfação com o trabalho, diminuem a intenção de deixar o

emprego e melhoram o clima de segurança em unidades pediátricas.

112

8. REFERÊNCIAS

1. Jha AK, Prasopa-Plaizier N, Larizgoitia I, Bates DW, Research Priority Setting

Working Group of the WHO World Alliance for Patient Safety. Patient safety research:

an overview of the global evidence. Quality and Safety in Health Care. 2010; 19(1):42-

7.

2. Bates DW, Larizgoitia I, Prasopa-Plaizier N, Jha AK. Research Priority Setting

Working Group of the WHO World Alliance for Patient Safety. Global priorities for

patient safety research. BMJ. 2009; 338: b1775.

3. McClure ML, Poulin MA, Sovie MD, Wandelt MA. Magnet Hospitals attraction

and retention of professional nurses. 1983. [Acesso em 01 de Ago de 2013]. Disponível

em: URL: http://

http://www.venvn.nl/portals/20/dossiers/magnet_hospitals_original_study.pdf

4. Kramer M, Hafner LP. Shared values: impact on staff nurse job satisfaction and

perceived productivity. Nursing Research. 1989; 38(3):172-7.

5. Kelly LA, McHugh MD, Aiken LH. Nurse outcomes in Magnet® and non-magnet

hospitals. Journal of Nursing Administration. 2011; 41(10):428-33.

6. Estabrooks CA, Tourangeau AE, Humphrey CK, Hesketh KL, Giovannetti P,

Thomson D. et al. Measuring the hospital practice environment: A Canadian

context. Research in Nursing & Health. 2002; 25(4):256-68.

7. Estabrooks CA, Midodzi WK, Cummings GG, Ricker KL, Giovannetti P. The

impact of hospital nursing characteristics on 30-day mortality. Nursing Research.

2005; 54(2):74-84.

8. Duffield C, Diers D, O'Brien-Pallas L, Aisbett C, Roche M, King M, et al. Nursing

staffing, nursing workload, the work environment and patient outcomes. Applied

Nursing Research. 2011; 24(4):244-55.

9. Finlayson M, Aiken L, Nakarada-Kordic I. New Zealand nurses' reports on

hospital care: an international comparison. Nursing Praxis in New Zealand inc.

2007; 23(1):17-28.

10. Kanai-Pak M, Aiken LH, Sloane DM, Poghosyan L. Poor work environments and

nurse inexperience are associated with burnout, job dissatisfaction and quality deficits

in Japanese hospitals. Journal of Clinical Nursing. 2008; 17(24):3324-9.

113

11. You LM, Aiken LH, Sloane DM, Liu K, He GP, Hu Y, et al. Hospital nursing, care

quality, and patient satisfaction: cross-sectional surveys of nurses and patients in

hospitals in China and Europe. International Journal of Nursing Studies. 2013;

50(2):154-61.

12. Aiken LH, Sloane DM, Clarke S, Poghosyan L, Cho E, You L, et al. Importance

of work environments on hospital outcomes in nine countries. International Journal for

Quality in Health Care. 2011; 23(4):357-64.

13. Schubert M, Glass TR, Clarke SP, Aiken LH, Schaffert-Witvliet B, Sloane DM,

et al. Rationing of nursing care and its relationship to patient outcomes: the Swiss

extension of the International Hospital Outcomes Study. International Journal for

Quality in Health Care. 2008; 20(4):227-37.

14. Gunnarsdóttir S, Clarke SP, Rafferty AM, Nutbeam D. Front-line management,

staffing and nurse–doctor relationships as predictors of nurse and patient outcomes. A

survey of Icelandic hospital nurses.International Journal of Nursing Studies.

2009; 46(7):920-7.

15. Aiken LH, Clarke SP, Sloane DM, Sochalski JA, Busse R, Clarke H, et al.

Nurses’ reports on hospital care in five countries. Health Affairs 2001; 20(3): 43-53.

16. Van den Heede K, Sermeus W, Diya L, Clarke SP, Lesaffre E, Vleugels A. et al.

Nurse staffing and patient outcomes in Belgian acute hospitals: cross-sectional

analysis of administrative data. International Journal of Nursing Studies.

2009; 46(7):928-39.

17. Panunto MR, Guirardello EB. Professional nursing practice: environment and

emotional exhaustion among intensive care nurses. Revista Latino-Americana de

Enfermagem. 2013; 21(3):765-72.

18. Gasparino RC, Guirardello EB, Aiken LH. Validation of the Brazilian version of

the Nursing Work Index-Revised (B-NWI-R). Journal of Clinical Nursing. 2011; 20 (23-

24):3494-501.

19. Vahey DC, Aiken LH, Sloane DM, Clarke SP, Vargas D. Nurse burnout and

patient satisfaction. Medical Care. 2004; 42(suppl.):57-66.

20. Leiter MP, Spence Laschinger HK. Relationships of work and practice

environment to professional burnout: testing a causal model. Nursing Research. 2006;

55(2):137-46.

114

21. Aiken LH, Clarke SP, Sloane DM, Lake ET, Cheney T. Effects of hospital care

environment on patient mortality and nurse outcomes. Journal of Nursing

Administration. 2008; 38(5):223-9.

22. Kirwan M, Matthews A, Scott PA. The impact of the work environment of nurses

on patient safety outcomes: a multi-level modelling approach. International Journal of

Nursing Studies. 2013; 50(2):253-63.

23. Ausserhofer D, Schubert M, Desmedt M, Blegen MA, De Geest S,

Schwendimann R. The association of patient safety climate and nurse-related

organizational factors with selected patient outcomes: a cross-sectional survey.

International Journal of Nursing Studies. 2013; 50(2):240-52.

24. Aiken LH, Sermeus W, Van den Heede K, Sloane DM, Busse R, McKee M, et

al. Patient safety, satisfaction, and quality of hospital care: cross sectional surveys of

nurses and patients in 12 countries in Europe and the United States. BMJ. 2012; 344:

e1717.

25. Stone PW, Mooney-Kane C, Larson EL, Horan T, Glance LG, Zwanziger J, et

al. Nurse working conditions and patient safety outcomes. Medical Care. 2007;

45(6):571-8.

26. Spence Laschinger HK, Leiter MP. The impact of nursing work environments on

patient safety outcomes: the mediating role of burnout engagement. Journal of Nursing

Administration. 2006; 36(5):259-67.

27. Needleman J, Buerhaus P, Pankratz VS, Leibson CL, Stevens SR, Harris M.

Nurse staffing and inpatient hospital mortality. New England Journal of Medicine. 2011;

364(11):1037-45.

28. Beal AC, Dougherty D, Jorsling T, Kam J, Perrin J, Palmer RH. Quality

measures for children’s health care. Pediatrics. 2004; 113 (Supplement 1): 199-209.

29. Kaushal R, Barker KN, Bates DW. How can information technology improve

patient safety and reduce medication errors in children's health care? Archives of

Pediatrics & Adolescent Medicine. 2001; 155(9):1002-7.

30. Alves DFS, Guirardello EB, Kurashima AY. Estresse relacionado ao cuidado: o

impacto do câncer infantil na vida dos pais. Revista Latino-Americana de Enfermagem.

2013; 21(1):356-62.

31. Jacobs LM, Nawaz MK, Hood JL, Bae S. Burnout among workers in a pediatric

health care system. Workplace Health & Safety. 2012; 60(8):335-44.

115

32. Rochefort CM, Clarke SP. Nurses’ work environments, care rationing, job

outcomes, and quality of care on neonatal units. Journal of Advanced Nursing. 2010;

66(10):2213-24.

33. Mark BA, Harless DW, Berman WF. Nurse staffing and adverse events in

hospitalized children. Policy Politics Nursing Practice. 2007; 8:83-92.

34. Stratton KM. The relationship between pediatric nurse staffing and quality of

care in the hospital setting [Dissertation]. Denver (CO): University of Colorado Health

Sciences Center; 2005.

35. Sampieri RH, Collado CF, Lucio MPB. Definição do alcance da pesquisa a ser

realizada: exploratória, descritiva, correlacional ou explicativa. In: Sampieri RH,

Collado CF, Lucio MPB. Metodologia de pesquisa. 5a. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.

p.99-110.

36. Joint Comission International. Instituições acreditadas pela JCI. 2015. [Acesso

em 30 de Mar de 2015]. Disponível em: URL:

http://pt.jointcommissioninternational.org/about-jci/jci-accredited-organizations/

37. Organização Nacional de Acreditação. Certificações válidas. 2015. [Acesso em

30 de Mar de 2015]. Disponível em: URL:

https://www.ona.org.br/OrganizacoesCertificadas

38. Aiken LH, Patrician PA. Measuring organizational traits of hospitals: the Revised

Nursing Work Index. Nursing Research. 2000; 49(3):146-53.

39. Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH) Manual de indicadores de

enfermagem NAGEH / Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH). 2.ed. São

Paulo: APM/CREMESP, 2012. 60p.

40. Marcelino CF, Alves DFS, Gasparino RC, Guirardello EB. Validation of the

Nursing Work Index-Revised among nursing aides and technicians. Acta Paulista de

Enfermagem. 2014; 27(4):305-10.

41. Tamayo MR. Relação entre a síndrome do burnout e os valores organizacionais

no pessoal de enfermagem de dois hospitais públicos [Dissertação]. Brasília (Brasil):

Universidade de Brasília; 1997.

42. Carvalho REF, Cassiani SHB. Cross-cultural adaptation of the Safety Attitudes

Questionnaire - Short Form 2006 for Brazil. Revista Latino-Americana de

Enfermagem. 2012; 20(3):575-82.

116

43. Sexton JB, Helmreich RL, Neilands TB, Rowan K, Vella K, Boyden J, et al. The

safety attitudes questionnaire: psychometric properties, benchmarking data, and

emerging research. BMC Health Services Research. 2006; 6:44.

44. Sexton JB, Sharek PJ, Thomas EJ, Gould JB, Nisbet CC, Amspoker AB, et al.

Exposure to Leadership WalkRounds in neonatal intensive care units is associated

with a better patient safety culture and less caregiver burnout. BMJ Quality & Safety.

2014; 23(10):814-22.

45. Hair JF, Black WC, Babin BJ, Anderson RE, Tatahm RL. Análise multivariada

de dados. 6ª Ed. Bookman: Porto Alegre, 2009. 688p.

46. Burns N, Grove SK. The practice of nursing research: conduct, critique &

utilization. Philadelphia: Saunders; 2001. 840p.

47. Hair Jr JF, Hult GTM, Ringle C, Sarstedt M. A primer on partial least squares

structural equation modeling (PLS-SEM). London (UK): Sage Publications, 2014.

48. Ringle CM, Silva D, Bido D. Modelagem de Equações Estruturais com utilização

do SmartPLS. Revista Brasileira de Marketing. 2014; 13(2): 56-73.

49. Stimpfel AW, Sloane DM, Aiken LH. The longer the shifts for hospital nurses,

the higher the levels of burnout and patient dissatisfaction. Health Affairs. 2012;

31(11):2501-9.

50. Heinen MM, van Achterberg T, Schwendimann R, Zander B, Matthews A, Kózka

M, et al. Nurses’ intention to leave their profession: a cross sectional observational

study in 10 European countries. International Journal of Nursing Studies. 2013;

50(2):174-84.

51. Hinno S, Partanen P, Vehviläinen‐Julkunen K. The professional nursing practice

environment and nurse‐reported job outcomes in two European countries: a survey of

nurses in Finland and the Netherlands. Scandinavian Journal of Caring Sciences.

2012; 26(1):133-43.

52. Holden RJ, Scanlon MC, Patel NR, Kaushal R, Escoto KH, Brown RL, et al. A

human factors framework and study of the effect of nursing workload on patient safety

and employee quality of working life. BMJ Quality & Safety. 2011; 20(1):15-24.

53. Profit J, Etchegaray J, Petersen LA, Sexton JB, Hysong SJ, Mei M, et al.

Neonatal intensive care unit safety culture varies widely. Archives of Disease in

Childhood. Fetal and Neonatal Edition. 2012a; 97(2):F120-F126.

117

54. Kalisch BJ, Xie B. Errors of omission missed nursing care. Western Journal of

Nursing Research. 2014; 36(7):875–90.

55. Ball JE, Murrells T, Rafferty AM, Morrow E, Griffiths P. ‘Care left undone’during

nursing shifts: associations with workload and perceived quality of care. BMJ Quality

& Safety. 2014; bmjqs-2012.

56. Papastavrou E, Andreou P, Tsangari H, Merkouris A. Linking patient satisfaction

with nursing care: the case of care rationing-a correlational study. BMC Nursing. 2014;

13(1):26.

57. Flynn L, Liang Y, Dickson GL, Xie M, Suh DC. Nurses’ practice environments,

error interception practices, and inpatient medication errors. Journal of Nursing

Scholarship. 2012; 44(2):180-6.

58. Cimiotti JP, Aiken LH, Sloane DM, Wu ES. Nurse staffing, burnout, and health

care-associated infection. American Journal of Infection Control. 2012; 40(6): 486-90.

59. Aiken LH, Sloane DM, Bruyneel L, Van den Heede K, Griffiths P, Busse R, et

al. Nurse staffing and education and hospital mortality in nine European countries: a

retrospective observational study. The Lancet. 2014; 383(9931): 1824-30.

60. Van Bogaert P, Meulemans H, Clarke S, Vermeyen K, Van de Heyning P.

Hospital nurse practice environment, burnout, job outcomes and quality of care: test of

a structural equation model. Journal of Advanced Nursing. 2009; 65(10):2175-85.

61. Profit J, Etchegaray J, Petersen LA, Sexton JB, Hysong SJ, Mei M, et al. The

safety attitudes questionnaire as a tool for benchmarking safety culture in the NICU.

Archives of Disease in Childhood. Fetal and Neonatal Edition. 2012; 97(2):F127-F132.

62. Profit J, Sharek PJ, Amspoker AB, Kowalkowski MA, Nisbet CC, Thomas EJ, et

al. Burnout in the NICU setting and its relation to safety culture. BMJ Quality & Safety.

2014; 0:1-8.

63. Van Bogaert P, Adriaenssens J, Dilles T, Martens D, Van Rompaey B,

Timmermans O. Impact of role-, job- and organizational characteristics on Nursing Unit

Managers. Journal of Advanced Nursing. 2014; 70(11):2622-33.

64. Squires M, Tourangeau A, Spence Laschinger HK, Doran D. The link between

leadership and safety outcomes in hospitals. Journal of Nursing Management. 2010;

18(8):914-925.

118

65. Poley MJ, van der Starre C, van den Bos A, van Dijk M, Tibboel D. Patient safety

culture in a Dutch pediatric surgical intensive care unit: an evaluation using the Safety

Attitudes Questionnaire. Pediatric Critical Care Medicine. 2011; 12(6):e310-e316.

66. Van Bogaert P, Timmermans O, Weeks SM, van Heusden D, Wouters K, Franck

E. Nursing unit teams matter: impact of unit-level nurse practice environment, nurse

work characteristics, and burnout on nurse reported job outcomes, and quality of care,

and patient adverse events—A cross-sectional survey. International Journal of Nursing

Studies. 2014b; 51(8):1123-34.

67. Dawson AJ, Stasa H, Roche MA, Homer CS, Duffield C. (2014). Nursing churn

and turnover in Australian hospitals: nurses perceptions and suggestions for

supportive strategies. BMC Nursing. 2014; 13(1):11.

68. Riehle A, Braun BI, Hafiz H. Improving patient and worker safety: exploring

opportunities for synergy. Journal of Nursing Care Quality. 2013; 28(2):99-102.

69. World Health Organization. Healthy workplaces: a model for action: for

employers, workers, policy-makers and practitioners. Geneva: World Health

Organization.2010. [Acesso em 25 de Mar de 2015]. Disponível em: URL:

http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44307/1/9789241599313_eng.pdf?ua=1

70. Ebright, P. Patient safety in the current health care environment: complexity of

work remains an essential component. Western Journal of Nursing Research. 2014;

36(7):851-4.

71. Coetzee SK, Klopper HC, Ellis SM and Aiken LH. A tale of two systems—nurses

practice environment, well being, perceived quality of care and patient safety in private

and public hospitals in South Africa: a questionnaire survey. International Journal of

Nursing Studies. 2013; 50(2):162-73.

72. Singer SJ, Vogus TJ. Reducing hospital errors: interventions that build safety

culture. Annual Review of Public Health. 2013; 34:373-96.

73. Groves PS, Meisenbach RJ,Scott-Cawiezell J. Keeping patients safe in

healthcare organizations: a structuration theory of safety culture. Journal of Advanced

Nursing. 2011; 67(8):1846-55.

74. White C, Wilson V. A longitudinal study of aspects of a hospital's family‐centred

nursing: changing practice through data translation. Journal of Advanced Nursing.

2015; 71(1):100-4.

119

APÊNDICES

Apêndice 1

120

Apêndice 2

121

ANEXOS

Anexo 1

122

Anexo 2

123

Anexo 3

124

Anexo 4

125

Anexo 5

126

127

128

129

Anexo 6

130

131

Anexo 7

132

133

134

Anexo 8

135

136

137

138

Anexo 9