Álvaro cunhal e a criação artística - numa encruzilhada dos homens

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No centenário do seu nascimento, o Museu do Neo-Realismo prestou homenagem ao homem e artista, com a Exposição Álvaro Cunhal e a criação artística – numa encruzilhada dos homens. A exposição e o catálogo revelam o percurso de Álvaro Cunhal no que se refere à sua relação com o movimento neorrealista português e, por outro lado, a sua faceta artística, bem patente através dos desenhos produzidos na cela da prisão. Optimizado

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Câmara Municipalde Vila Franca de Xira

ApoiosOrganização

Álvaro Cunhal, o jovem inconformado, o resis-tente antifascista, o dirigente comunista histórico respeitado e prestigiado foi também ensaísta, pu-blicista, artista plástico e escritor.Nele se funde entrega quotidiana e capacidade de sofrimento com pensamento e doutrina, sen-tido estratégico de combate.Do jovem Cunhal dos primeiros escritos em Es-tudantes Livres ao crítico amadurecido e sagaz de A Arte, o Artista e a Sociedade une-se uma linha de vida cheia e atribulada. Entre as múltiplas ta-refas partidárias, as agruras da prisão e o outono da vida, esteve o polemista temido, o desenhista compulsivo, o escritor das manhãs por vir, o histo-riador do povo em movimento, o tradutor esfor-çado, o ensaísta polifacetado.Numa encruzilhada de homens, traçando cami-nhos, viu no ensaísmo crítico e na criação artística instrumento de combate e esteio de uma cultura integral, síntese que quis coerente num século de marés revoltas.

João Madeira

CAPA.indd 1 06-12-2013 08:49:20

ÁLVARO CUNHAL e a criação artística

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Museu do Neo-Realismo

CoordenadorDavid Santos

Conservação e InvestigaçãoDavid SantosPaula MonteiroHelena Seita

Inventariação e CatalogaçãoPaula MonteiroHelena SeitaOdete BeloLurdes Pina

Serviço EducativoVirgínia FigueiredoLídia AgostinhoMaria João OliveiraEugénia Ventura

Comunicação e Relações PúblicasFátima Faria Roque

Comunicação e EdiçãoDavid SantosFátima Faria RoqueFernando MarquesLurdes Aleixo

RegistoLurdes AleixoFernando Marques

Centro de Documentação/ BibliotecaOdete BeloLurdes PinaVanda ArsénioFilomena Mendes

SecretariadoGabriela CandeiasVanda Arsénio

Rececionistas-vigilantesVanda ArsénioRute OliveiraTânia CravoFátima Pereira

[Exposição]

OrganizaçãoCâmara Municipalde Vila Franca de XiraMuseu do Neo-Realismo

CuradoriaJoão Madeira

Assistência de CuradoriaFátima Faria Roque

Seleção e org. documentalJoão MadeiraFátima Faria RoqueOdete Belo

Conceção e museografiaDavid SantosJoão Madeira

Design da exposiçãoCarla Félix/DIMRP/SDPG

Coordenação de produçãoDavid SantosFátima Faria Roque

ProduçãoDavid SantosFátima Faria RoqueOdete BeloLurdes PinaVanda ArsénioFernando MarquesLurdes AleixoPaula MonteiroHelena SeitaSara PereiraRicardo Braz

SecretariadoGabriela CandeiasVanda Arsénio

ConservaçãoPaula MonteiroHelena SeitaOdete Belo

Conservação e RestauroJoão Miguel Salgado

MontagemDavid SantosJoão MadeiraFátima Faria RoqueOdete BeloLurdes PinaVanda ArsénioFernando MarquesPaula MonteiroHelena SeitaSara PereiraRicardo Braz(DIMRP/SDPG)Carla FélixHelder Dias Miguel Oliveira

(DOVI/DOG)Ricardo Pereira/PinturaArmindo Rosa/PinturaManuel Domingos/PinturaGilberto Martins/CarpintariaJosé Travassos/CarpintariaEdgar Lúcio/CarpintariaFernando Gameiro/Carpintaria

Planeamento e LogísticaDavid SantosFátima Faria Roque

ComunicaçãoFátima Faria RoqueFernando Marques(DIMRP/SCPRP)Filomena SerrazinaLiliana GasparPrazeres Tavares

Serviço EducativoVirgínia FigueiredoLídia AgostinhoMaria João OliveiraEugénia Ventura

SegurosAllianz Seguros

[Catálogo]

EdiçãoCâmara Municipalde Vila Franca de XiraMuseu do Neo-Realismodezembro de 2013

Organização e coordenação editorialDavid SantosFátima Faria Roque

TextosAlberto MesquitaDavid SantosJoão Madeira

ProduçãoFátima Faria RoqueCarla Félix/DIMRP/SDPG

Apoio à produçãoOdete BeloLurdes PinaPaula MonteiroHelena SeitaLurdes Aleixo

Investigação e org. documentalJoão MadeiraDavid SantosFátima Faria RoqueOdete Belo

CatalogaçãoOdete BeloLurdes PinaPaula Monteiro

Design Gráfico e paginaçãoCarla Félix/DIMRP/SDPG

Fotografia e DigitalizaçãoOdete BeloSara Pereira

RevisãoFátima Faria RoqueOdete BeloLurdes AleixoPaula MonteiroHelena SeitaFernando Marques

Produção gráficaPré-impressão, Impressão e AcabamentoSantos & Oliveira, Lda.

ISBN978-989-98502-2-4

Depósito Legal368250/13

Tiragem600 exemplares

Museu do Neo-RealismoRua Alves Redol, 452600-099 Vila Franca de [email protected]

© Museu do Neo-Realismo© Dos textos, os autores© Paulo Santos Chaves / Câmara Municipal de Santiago do CacémParte das fotografias presentes neste catálogo foram reprodu-zidas da Fotobiografia de Álvaro Cunhal, ed. Avante!, 2013, com autorização da Comissão das Co-memorações do Centenário de Álvaro Cunhal.A fotografia onde se vê Álvaro Cunhal com Urbano Tavares Ro-drigues foi reproduzida do livro Álvaro Cunhal: O Homem e o Mito – Biografia Ilustrada, ed. Objectiva, 2013, p. 304, de Joaquim Vieira.

AgradecimentosA Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, o Museu do Neo-Realismo e o Curador da exposição, agrade-cem em particular a Maria Eugénia Cunhal, pela colaboração presta-da neste projeto expositivo.

InstitucionaisComissão das Comemorações do Centenário de Álvaro CunhalCasa da Achada – Centro Mário DionísioCâmara Municipal de Santiago do CacémFundação Mário SoaresFundação Calouste Gulbenkian/ Biblioteca de ArteBiblioteca Nacional de PortugalRTP/Direção de Emissão e Arquivo

ParticularesEugénia CunhalEduarda DionísioAlfredo CaldeiraManuel RodriguesAna BarataConstança RosaJorge ResendeSérgio Ribeiro

Organização

Apoios

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No centenário do nascimento de Álvaro Cunhal O Município de Vila Franca de Xira não po-dia deixar de se associar às comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal. Na verdade, o ano de 2013 fica marcado, de um modo incontornável, pela amplitude das iniciativas que recordam esta figura da nossa história contemporânea.

A partir da exposição “Álvaro Cunhal e a criação artística – numa encruzilhada dos homens”, que tem a curadoria do historiador João Madeira, o Museu do Neo-Rea-lismo presta a sua homenagem a uma das personalidades mais influentes na vida política portuguesa da segunda metade do século XX e, em especial, no trajeto do movimento neorrealista português.

Esta mostra documental e de artes plásticas evoca sobretudo o papel de Álvaro Cunhal enquanto artista e intelectual, apesar de, neste caso particular, esses univer-sos de intervenção nunca estarem desligados da sua atividade política.

Esta exposição, patente nas duas salas de exposições temporárias do piso 0; de um lado, o percurso biográfico na revelação documental do pensamento e da expres-são artística e literária, do outro, a presença completa das duas séries dos chama-dos “desenhos da prisão”, onde podemos apreciar a produção estética de alguém que, apesar mais de dez anos preso no Aljube e no Forte de Peniche, não se deixou vencer pelo isolamento do cárcere.

Outro momento maior destas comemorações prendeu-se com a apresentação da “Fotobiografia de Álvaro Cunhal” no auditório da Biblioteca Municipal de Vila Fran-ca de Xira, a 22 de Novembro último. Neste contexto, gostaríamos, na pessoa do Dr. Manuel Rodrigues (um dos coordenadores desta edição), de agradecer o apoio prestado pela Comissão Nacional das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal às iniciativas programadas e desenvolvidas pelo nosso Município.

Outros agradecimentos são também necessários aqui registar, nomeadamente ao Presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha, e ao Vereador da Cultura da mesma edilidade, Norberto Barradas, pela disponibilidade manifestada e pelo apoio documental à nossa exposição.

Por fim, gostaria ainda de agradecer o inestimável trabalho de investigação e cura-doria do Professor João Madeira que, uma vez mais, colaborou de um modo entu-siasta com o Museu do Neo-Realismo, assim como a Maria Eugénia Cunhal, irmã do nosso homenageado, que mais uma vez nos cedeu documentação fundamen-tal aos conteúdos deste grande momento expositivo.

Alberto Mesquita Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

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David SantosCoordenador

Museu do Neo-Realismo

A importância de Álvaro Cunhal no mapa da nossa história

contemporânea é incontornável [...].

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A importância de Álvaro Cunhal no mapa da nossa história contemporânea é in-contornável. Figura cimeira do Partido Comunista Português, cuja linha ideológica pautou toda a sua vida, Álvaro Cunhal haveria também – a par da luta ideológica – de se revelar um homem culturalmente atento e empenhado, um intelectual comprometido com a sua época, que acreditava no poder transformador da arte. Disso são exemplo os desenhos que o jovem Cunhal executou no período em que esteve preso, mas também o olhar crítico e atento ao movimento literário neor-realista, no qual acabou por deter papel de relevo, ao envolver-se desde cedo em polémica com José Régio.

No Centenário do Nascimento de Álvaro Cunhal, o Museu do Neo-Realismo presta a sua homenagem ao homem e ao artista, com a Exposição “Álvaro Cunhal e a cria-ção artística - numa encruzilhada dos homens”, comissariada por João Madeira, his-toriador e investigador com um vasto percurso académico no domínio da história portuguesa contemporânea, com particular ênfase no contributo dos intelectuais portugueses para a construção política do nosso país.

Não sendo esta a sua primeira colaboração com o Museu do Neo-Realismo, cabe--nos reconhecer, mais uma vez, a excelência de qualidade do seu trabalho, a dis-ponibilidade manifestada e o elevado empenho, bem como a reflexão crítica e o contributo para com o acréscimo de conhecimento dos nossos públicos.

A exposição e o catálogo que agora são dados a conhecer, pretendem revelar, por um lado, o percurso de Álvaro Cunhal no que se refere à sua relação com o mo-vimento neorrealista português e, por outro, a sua faceta artística, bem patente através dos desenhos produzidos na cela da prisão.

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A Maria Eugénia Cunhal, irmã de Álvaro Cunhal, queremos aqui registar um agrade-cimento especial, pela forma como continua a aceder a todas as solicitações deste Museu, prontamente se disponibilizando para nos abrir as portas de sua casa, sem-pre que obras e documentos dos espólios de Álvaro Cunhal ou de seu pai, Avelino Cunhal, se nos afiguram pertinentes para os nossos propósitos.

O nosso agradecimento vai ainda para com a Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal, na pessoa do Dr. Manuel Rodrigues, que, pese em-bora toda a responsabilidade para com uma vastíssima programação de come-morações, acedeu desde o primeiro momento a cooperar com o Museu do Neo--Realismo, ciente da relevância do projeto que pretendíamos concretizar.

À equipa do Museu do Neo-Realismo, agradeço o empenho e o profissionalismo manifestados, uma vez mais, em prol da projeção e da memória cultural do mo-vimento neorrealista. Gostaria aqui de manifestar o profundo reconhecimento à Dr.ª Fátima Roque, pela magnífica assistência de curadoria, à Odete Belo e à Lurdes Pina o trabalho de catalogação dos muitos documentos que fazem esta exposição e ainda à Lurdes Aleixo, à Dr.ª Paula Monteiro e à Dr.ª Helena Seita, pelo apoio aos diversos momentos da sua produção. Ao Fernando Marques, um agradecimento ainda pelo trabalho de produção e divulgação da mesma.

Agradecendo à Dr.ª Filomena Serrazina e à designer Carla Félix, agradeço a todo um serviço que cuidou, em termos gerais e com elevada qualidade, da imagem deste evento comemorativo. A todos os outros serviços do Município de Vila Fran-ca de Xira que contribuíram para a concretização deste projeto cultural e museoló-gico o meu vivo e último agradecimento.

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João Madeira Em cada encruzilhada, escolher um caminho

Nota editorial: O autor utiliza a antiga ortografia. O grafismo de citações e notas está de acordo com o original do autor.

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Em cada encruzilhada, escolher um caminhoUm poderoso húmus social Pelo início dos anos 60, quando Álvaro Cunhal se instala em Moscovo, é recebido como um im-portante dirigente comunista. Vinha de mais de dez anos de prisão, tinha sofrido a tortura, o isolamento e protagonizara uma fuga colectiva espectacular do forte de Peniche, a prisão política de mais alta segurança num país sob prolongada ditadu-ra, que sobrevivera à derrota internacional dos fascismos.

E, para além disso, não demorara a embrenhar-se na actividade partidária clan-destina e em rectificar a linha do partido, que considerava dominada por um “des-vio de direita”, repondo o corpo de ideias com que antes de ser preso dotara o PCP, coroando o processo de refundação iniciado vinte anos antes.

Mesmo que na contramão do espírito “desanuviador” de Nikita Krutchov e do XX Congresso do PC da União Soviética, era de um “herói” da galáxia comunista que se tratava, de uma indefectível fidelidade à “Pátria do Socialismo”.

Cunhal é entrevistado pela imprensa soviética, passa a participar directamente nos congressos do movimento comunista internacional e, em 1963, é-lhe até dedi-cada uma biografia breve, da autoria de Yulia Petrova, neta de Krutchov, intitulada Hastes sem bandeiras, que ultrapassa a centena de milhar de exemplares.

Nesse opúsculo, Álvaro Cunhal evoca um episódio de infância em Seia. Teria cinco anos quando, com outros garotos da sua idade, ronda a igreja da vila à fisga-da aos ninhos de andorinhas, de que só desistem quando dizimam as pequenas aves. Contando a proeza, no regresso a casa, trazendo a andorinha que ele próprio abatera, o pai ter-lhe-ia dito que “Às vezes para viver (…), os homens necessitam de fazer mal. Mas quanto menos se faz isso, melhor. Esta tua façanha não é nenhuma vitória”1.

Este episódio, evocando a importância da figura paterna, acompanhá-lo-á como lição de vida, parcela e ancoradouro de uma reelaborada memória de infância a projectar-se no seu devir como homem. Tinha, aliás, já recorrido a esse exemplo, mais de trinta anos antes, em Fevereiro de 1931, ficcionando-o, no que é, até agora, o primeiro dos seus escritos publicados – Felicidade e Infelicidade, precisamente um conto, no jornal Estudantes Livres2, um “Quinzenário académico, artístico literário e social”, de vida breve.

No Inverno de 1931, Álvaro Cunhal tem 17 anos, está a terminar os seus estudos secundários no Liceu Camões e ingressará ainda nesse ano na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Mas esta sua iniciação literária na esfera pública tem, ao tempo, um carácter excepcional, cruza-se com uma fina sensibilidade social, humanística e tem pro-pósitos éticos evidentes, enraizando-se num fecundo ambiente familiar, de que evoca sobretudo a figura do pai, Avelino Cunhal, advogado, republicano, homem das artes e das letras, gentil e sensível, que também escrevia e pintava.

1 Cit. in Francisco Ferreira (Chico da CUF), Álvaro Cunhal, Herói Soviético, Lisboa, Edição de Autor, 1976, p. 4.2 Cf. João Arsénio Nunes, “Ética, vontade e política. Os anos de aprendizagem de Álvaro Cunhal“, in Álvaro Cunhal, Política, História e Estética (Coordenação de José Neves), Lisboa, Tinta da China, 2013, p. 28 e Álvaro Cunhal, “Felicidade e Infelicidade”, in Estudantes Livres, nº 5, de 23 de Fevereiro de 1931, pp 6 e 8.

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Mas, em plena ditadura militar, quando o jovem Álvaro publica em Estudantes Livres, o pai, antigo governador civil quer em período sidonista quer, mais tarde, em 1923, está em processo de deslocação à esquerda. O início da década de 30 é aliás fértil em acontecimentos nacionais e internacionais que favorecem a es-querdização de sectores republicanos e da juventude estudantil em particular, que evoluem do republicanismo para as ideias socialistas, se seduzem pelo marxismo e olham a União Soviética com entusiasmo e fervor.

Em Abril de 1931, proclamava-se a República em Espanha. Sob o efeito des-ses ventos, ainda nesse mês e em Maio levantavam-se os estudantes nas três aca-demias portuguesas em luta pela liberdade e em Agosto tentava-se a última das grandes movimentações militares republicanas. No movimento estudantil, ainda sob hegemonia republicana, os estudantes comunistas eram uma minoria, porém dois importantes dirigentes académicos de Lisboa, de formação republicana e filia-ção maçónica, seriam recrutados para o PCP – Victor Hugo Velez Grilo e Firminiano Cansado Gonçalves.

É nesse ano, mas já na Faculdade de Direito, que Cunhal adere ao PCP. E, como referirá mais tarde, “eu já nessa altura tinha simpatias pela causa dos comunistas e foi logo depois dos anos do liceu que me filiei no Partido Comunista, com 17 anos”3.

O ambiente académico é de grande efervescência e, apesar da Censura, multi-plicam-se jornais e pequenos grupos de estudantes, num processo rápido de radi-calização. É de uma geração inconformada que se trata, uma geração que crescera com a crise e a agonia da República e que vinha tomando consciência de como essa experiência desprezara a questão social e não cultivara suficientemente os princípios da liberdade e da democracia. Embora num quadro turbulento, em larga medida de crise de referências, não recusasse o republicanismo, entendia que se tornava necessário “republicanizar a República”.

É certo que na Seara Nova, muito por efeito da corrente sergiana, colocando--se fora e acima dos partidos republicanos, ou do que deles restava, se reflectiam preocupações reformistas de ordem cultural e cívica, embora assentes na convic-ção, em larga medida tributária da Geração de 70, de que a transformação política e social decorreria do poder da crítica e da exemplaridade da atitude.

Porém, a inquietação e o inconformismo dos sectores jovens que desponta-vam, o seu desejo de acção, e de eficácia dos meios de acção, demarca-os da ino-perância e de um certo elitismo do ideário seareiro, do qual são herdeiros, mas no qual deixam não se reconhecem plenamente.

No abraço às grandes causas sociais, na sensibilidade às multidões de deserda-dos germina o questionamento da função social da literatura e da arte. A polémica travada em 1930 na Seara Nova entre o jovem José Rodrigues Miguéis e pesos pesados do pensamento seareiro – Camilo Castelo Branco Chaves, António Sérgio, Jaime Cortesão traduz justamente essa questão da função social da literatura e da

3 “Álvaro Cunhal ao canto do espelho“ (entrevista de Maria Valentina Paiva), Vila Nova de Gaia, Calendá-rio, 2006, p. 47.

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arte, como conceito de Revolução e, como observou António Pedro Pita4, traz ao debate a velha querela que opôs Marx a Proudhon.

Nos termos da polémica, para Miguéis “a missão social do nosso tempo [era] o trabalho duro da realização da democracia socialista pelo próprio povo” 5, no que Sér-gio via um “pendor para o bolxevismo”6.

Os anos de 1930 e 1931 são fecundos do ponto de vista desta demarcação. Na Universidade Popular Portuguesa Bento Caraça, por exemplo, sustenta numa con-ferência a importância do desenvolvimento cultural na satisfação das necessidades do homem, encarando a cultura como um meio e como um fim, factor de dignifi-cação que não deve ser privilégio de uma elite ou monopólio de uma classe7.

Os círculos frequentados pelo pai abrem-se-lhe também – o contacto muito próximo com António Sérgio e Rodrigues Lapa, a redacção da Seara Nova, as con-ferências e exposições, o ambiente e o dinamismo da Universidade Popular Portu-guesa, a presença de Bento de Jesus Caraça.

Emergindo de um ambiente familiar acolhedor é neste poderoso contexto e neste húmus social que o jovem Cunhal se insere, quando colabora em Estudantes Livres. Está a um passo de aderir ao Partido Comunista Português e o seu percurso rápido levá-lo-á das actividades académicas às organizações periféricas do partido – o Socorro Vermelho Internacional, a Liga dos Amigos da União Soviética, a Liga Portuguesa contra a Guerra e o Fascismo – à Federação das Juventudes Comu-nistas Portuguesas.

Álvaro Cunhal é, desde esses tempos, um jovem intelectual com forte sentido ético e densidade moral, prévio à sedimentação ideológica que o seu abraço ao marxismo e, sobretudo, ao seu percurso partidário.

4 Cf António Pedro Pita, “A recepção do marxismo pelos intelectuais portugueses (1930-1941)”, Coimbra, Oficina do Centro de Estudos Sociais, 12, 1989.5 José Migués, “Uma carta a Câmara Reys”, in Seara Nova, 231, de 29 de Dezembro de 1930.6 “António Sérgio, Sobre uma crise de consciência”, in Seara Nova, idem.7 Cf. Bento de Jesus Caraça, “As Universidades Populares e a Cultura”, in Cultura e emancipação, (1929-1933), (coordenação de Luis Augusto Costa Dias, Helena Neves e António Pedro Pita) Porto, Campo das Letras, 2002, pp 69-75.

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A nova geração A entrada em 1935 de Álvaro Cunhal, juntamente com Álvaro Salema, Mário Dionísio, Vasco de Magalhães-Vilhena e Francisco Ramos da Costa para o grupo editor do jornal Liberdade, que ao tempo se subintitulava de Semanário Republicano de Esquerda, corresponde à evolução da orientação do jor-nal no sentido do marxismo. A colaboração de Cunhal, como a da maioria dos seus jovens companheiros não se centra propriamente na criação artística, designada-mente literária, mas é sobretudo de teor ensaístico.

Cunhal parece mais preocupado com o travejamento ideológico da nova gera-ção que abraça o marxismo, que se poderia e deveria traduzir em novos objectos estéticos, do que propriamente na criação artística em sentido estrito. Este vai ser nos anos seguintes o eixo por onde se funda e estrutura o movimento que virá a ser designado de neo-realista.

E o jovem que nesse ano de 1935 ascende ao Comité Central das Juventudes Comunistas com notórias capacidades intelectuais e de liderança é, neste âmbito, ainda um interpares.

As vias para a assimilação do marxismo eram, no contexto do país, fortemente condicionadas pela ditadura e, também, pelo enorme atraso do ponto de vista da ideologização e da bolchevização do próprio Partido Comunista. Tem sido bastan-te referida a importância dos manuais de doutrinação nesse propósito, como foi o caso de “O Materialismo Histórico e o Materialismo Dialéctico”, capítulo da difun-didíssima obra de José Estaline, História do partido Comunista Bolchevique Russo, editada em 1938.

Porém, antes, semelhante função fora desempenhada pela Teoria do Materia-lismo Histórico de Nicolai Bukharin, um “manual popular de sociologia marxista”, de que circularia em Portugal uma tradução brasileira editada em 19338 e que o Liber-dade reflectiria nas suas páginas, traduzindo generosos excertos.

A obra de Bukharin, de propósitos divulgadores e propagandísticos, desenvolve um ponto de vista simplista, baseado numa cadeia sequenciada, e historicamente determinista, de relações causa-efeito, tornada fonte do conhecimento científico orientada para um horizonte finalista.

Num dos artigos que o jovem Álvaro Cunhal publica em Liberdade, manifesta uma preocupação crítica quanto a um argumentário explicativo mecânico e estrei-to, que reduziria esse sistema de conhecimento, de interpretação e de evolução e desenvolvimento da vida e do mundo que deveria orientar-se, mais do que para um fim, no sentido de uma “consciência universal” e não a uma mera “(…) noção comezinha: causa e efeito…”

É interessante como sem recusar a importância do mecanismo causa-efeito, acrescente que “(…) a causa dum fenómeno, quando resultante de múltiplos fenó-menos, é uma causa diferente, que abrange todos sem se confundir com nenhum, que tem uma qualidade diversa da dos seus elementos constitutivos (os efeitos parcelares dos fenómenos anteriores). É uma causa.

É afinal a conversão da quantidade em qualidade…”9.

8 Cf. João Arsénio Nunes, “Ética, vontade e política”…, pp 29-30.9 Álvaro Cunhal, “Para? Não!”, [publicado in Liberdade, 247, de 27 de Janeiro de 1935], in Obras Escolhi-das, I (1935-1947), Lisboa, Edições Avante!, 2007, pp 2-3.

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Deste ponto de vista, a necessidade de abarcar a complexidade, a riqueza e a dinâmica da vida não incide só na acção do homem com a natureza, mas também sobre a relação com os outros homens, uma relação dinâmica intermediada pela vontade.

A leitura simplificadora e esquemática do marxismo, e por isso necessariamen-te redutora, veiculada sob a forma de cartilha, encarada na resultante das condicio-nantes referidas, não parecia satisfazer plenamente esta intelectualidade jovem que, ainda assim, disporia de condições para que a apropriação do marxismo não se fizesse apenas através deste tipo de obras de divulgação, destinadas a processos acelerados de formação de quadros segundo lógicas estritamente partidárias.

Bento de Jesus Caraça é um dos “mais velhos”, ainda que na casa dos trinta anos, que vem desenvolvendo nesta época uma leitura diferenciada do marxismo, mais historicista, em que cultura e política constituíam os dois termos de uma concepção fundada na indissociabilidade entre filosofia e história, afastando-se precisamente das concepções cristalizadas de teor mecanicista e determinista.

No seu entendimento, a filosofia era encarada como práxis orientada para a intervenção no real e a história como resultado de um feixe de possibilidades que as circunstâncias específicas e irrepetíveis do momento se encarregariam de dar forma concreta, cujo sentido não estava preestabelecido nem profeticamente ilu-minado, mas que se orientava pela capacidade propulsora da utopia.

Na sua conferência de 1933 sobre A cultura integral do indivíduo, problema central do nosso tempo, conclui que “o problema central posto às gerações de hoje [é] – – despertar a alma colectiva das massas”10.

Neste ano, Cunhal é responsável pelo sector estudantil da Liga Portuguesa Contra a Guerra e o Fascismo, uma organização de algum modo precursora da Frente Popular, cujo principal dirigente em Portugal era precisamente Bento de Jesus Caraça.

Nos círculos de sociabilidades em que Cunhal se movimentava, a proximidade em relação a Bento Caraça, como aos jovens da “geração nova” permite ponderar uma rede cultural informal, que se cosia através dos jornais como Ágora, Gládio, Gleba, de grupos como a União da Mocidade Livre, dos bancos das Faculdades – fosse Letras ou Direito – que olhava a intervenção cultural segundo horizontes e referências bastante mais vastos, complexos e fecundos, que os da mera cartilha marxista dogmatizante e sem que isso pudesse constituir um foco de divergência insanável com o PCP enquanto objecto político de combate, evidentemente.

Todavia, em 1934, a realização do primeiro congresso dos escritores soviéticos marca a sistematização de uma estética socialista, fortemente tutelada pelo poder soviético, cujos resultados viriam a ser conhecidos em Portugal. Mário Dionísio re-fere que em 1934-35 consegue assinar a revista soviética Literatura Internacional, ainda que isso se revelasse insuficiente e não alterasse a situação em que os textos marxistas a que se tinha sobretudo acesso fossem os que chegavam por via clan-destina, sobretudo materiais de propaganda.

10 Bento de Jesus Caraça, “A Cultura integral do indivíduo, problema central do nosso tempo”, in Cultura e emancipação… p. 119.

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Nos anos seguintes, a proliferação de iniciativas e a diversidade de colaborações em diferentes publicações culturais ou em suplementos culturais de jornais de província permitirá que o ensaísmo crítico em matéria de literatura e arte e a pró-pria polémica adquira ímpeto e agressividade.

Tratava-se de definir uma orientação alicerçada teórica e doutrinariamente que tomasse a cultura e a criação artística como instrumento que participasse activa-mente das dinâmicas de transformação social.

Essa actividade reflecte-se principalmente nos jornais O Diabo e Sol Nascente, principalmente no período que medeia entre 1937-38 e 1940, quando essas, e ou-tras publicações são, uma a uma, proibidas pela Censura.

Álvaro Cunhal entre 1935 e 1937 está profundamente envolvido em activida-des partidárias. Participa no VI Congresso da Internacional Comunista Juvenil, em Moscovo; reorganiza a FCJP na nova linha do movimento comunista internacional, desloca-se a Espanha e a França em missão partidária e, à chegada ao país, é preso, só vindo a ser libertado um ano depois.

Este périplo partidário pela Europa, com pausas exigidas pela segurança dos percursos permite-lhe satisfazer a curiosidade e a sua sensibilidade intelectual no contacto com os grandes museus, que visita sempre que pode.

Mário Dionísio, companheiro e amigo próximo, refere, como no seu regresso das viagens à URSS e a França Cunhal lhe falava “com o espírito insinuante que era o seu, de museus da Europa, tantos museus! tantos artistas!” 11.

A sua colaboração, fundamentalmente em O Diabo, ocorre portanto no perí-odo entre Janeiro de 1939 e Abril de 1940, justamente a fase que corresponde a uma reorientação mais vincada à esquerda e que coincide com uma das fases mais difíceis da vida do PCP, com sucessivas prisões na estrutura dirigente, queda do aparelho de imprensa com suspensão do Avante! ou suspensão da Internacio-nal Comunista por suspeita de infiltração policial.

Há nessa colaboração um vincado carácter publicista. Não deixa de ser inte-ressante que o primeiro desses artigos se reporte justamente ao paradigma do novo intelectual, sustentando no primado de um humanismo colectivo a ideia da humanização do humanismo, uma tarefa colectiva que implica mais do que ser sensível às dores das multidões em sofrimento, exige envolvimento total, identificação plena com os problemas sociais, compromisso com os caminhos a apontar.

Cunhal reconhece que muitos intelectuais “Ainda conservam o tal largo amor por uma humanidade que sofre as mesmas dores e anseia uma mesma vida: mas não acompanham essa mesma humanidade nas horas de dor e ansiedade. Não po-dem compreender porque caem certas lágrimas. Nem sentir a violência e intensidade das paixões. Nem o desespero acumulado, a raiva, o ódio, o espírito de revanche. Para tal compreender e sentir é necessário viver (ou ter vivido) momento a momento a vida angustiosa e desesperada. E – regra geral – os intelectuais têm horror aos pequeni-nos problemas, às pequeninas dificuldades, que, todas juntas, constróem a tortura de uma vida. Qual intelectual escreveria um artigo acerca das «solas rotas de sapatos»?

11 Mário Dionísio, Autobiografia, Lisboa, O Jornal, Lisboa, 1987, p. 45.

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Em compensação o intelectual mais barato sente-se capaz de escrever acerca de teoria do conhecimento”12.

Há uma intransigência latente e uma ironia mordaz neste modo de olhar os inte-lectuais que não abraçavam o novo ideário, espécie de programa de acção inten-samente propagandeado nas páginas destas publicações culturais ao longo deste período.

Ao novo intelectual cabia não só ser sensível aos problemas das massas, mas consciencializá-las, enquanto parte integrante de uma vanguarda que sendo cultural era sobretudo política. E essa atitude implicava convicção, crença, a que Cunhal afinal proclamava no final do seu artigo:

“Porque todo o homem acredita na sua própria crença.Eu também direi como qualquer outro: «Aqui! Só aqui está a razão!».E creio que assim é.”13.Cunhal vinha de uma troca de correspondência com Abel Salazar. Acabara de

visitar uma exposição sua na Sociedade Nacional de Belas Artes e, em Novembro--Dezembro de 1938, traduzia não só estas concepções como, sobretudo, uma pressão exercida sobre aqueles com quem compartilhavam percurso desde o re-publicanismo radical e que se mantinham distanciados do materialismo dialéctico.

Abel Salazar, muito mais velho, ao tempo com 50 anos, era um republicano de esquerda, maçon, influente no projecto do Sol Nascente desde o seu início. Presti-giado investigador e professor em Histologia e Embriologia fora recentemente sa-neado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Era, além disso, artista plástico, distanciado do esteticismo e do psicologismo presencista, que recusava a arte pela arte e nutria fortes preocupações sociais.

A “nova geração”, particularmente no Porto, mas também em Lisboa tinha gran-de simpatia e respeito por Abel Salazar, porém os processos de reorientação das publicações culturais em que intervinham determinavam, no final dos anos 30, uma clarificação que implicava polemizar com homens o velho professor.

Nessa carta de Cunhal a Abel Salazar, o jovem dirigente comunista questiona-o: “Como pode sentir sinceramente a «dupla simbólica» (de duas classes afinal) quem

se coloca au dessus ou à parte das classes, quem não vê essa «dupla simbólica» sob um ponto de vista de classe?

Estas questões exigem uma resposta. Sem ela, não se pode – eu não posso – crer convictamente na sinceridade da «intencional» lição dada pelos seus trabalhos. Sem essa resposta, posso, quando muito, acreditar que o artista se emocionou pelo contras-te; não que o artista tenha compreendido esse contraste”14.

Entre a afabilidade no trato, a contenção nas palavras e o atrevimento desas-sombrado, o jovem Cunhal incita o mestre, que trata por camarada, a dar o passo que na sua opinião lhe faltava dar – “É necessária uma integração na classe a que se pertence, ou que se ama”15.

12 Álvaro Cunhal, “Um certo tipo de intelectuais” [publicado in O Diabo, 224, de 7 de Janeiro de 1939], in Obras Escolhidas, I …, p 38.13 Idem, p. 40.14 Álvaro Cunhal, “Carta a Abel Salazar”, Lisboa, 7 de Dezembro de 1938, in Obras Escolhidas, I …, p 35.15 Idem, p. 36.

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A “nova geração” ia ganhando uma batalha nesses tempos difíceis em que a guerra civil de Espanha definhava e os prenúncios de um novo conflito mundial se adensavam, mas nem sempre conseguindo, ou querendo, manter como aliados velhos companheiros de percurso nos anos que aí tinham desembocado. Não ad-mira, portanto, que a colaboração de Abel Salazar nas páginas de Sol Nascente se vá contraindo.

Álvaro Cunhal trata ainda da conjuntura internacional através de um conjunto de artigos principalmente em O Diabo, de que o mais conhecido seria Nem Maginot nem Sigefried, já em 1940, onde o autor desenvolve, a partir da dimensão metafóri-ca das duas linhas de frente da primeira guerra mundial, uma análise da conjuntura internacional. Não é da guerra de posições que se trata, mas do significado da estabilidade da linha ocidental e da linha oriental como do ponto de equilíbrio internacional. Era o tempo do pacto germano-soviético e da defesa nesse contexto de uma posição neutral:

“Maginot e Siegfried, linhas de combate de um mundo contra si próprio. Fortalezas que se temem porque cada uma sabe que a derrota da outra pode representar a própria derrota. Em Maginot e Siegfried, as mesmas causas, os mesmos objectivos, as mesmas justificações…”16 .

O Comité Central do PCP havia aliás definido uma posição sobre essa matéria em Outubro de 1939, reproduzindo aliás os argumentos da Internacional Comunista, não obstante a situação de partido suspenso, em que se encontrava.

Na altura, a tipografia do Avante! havia sido assaltada e o órgão central do PCP deixara de se publicar, pelo que, naquelas circunstâncias, o aproveitamento do que restava de imprensa legal para difundir os pontos de vista do partido era funda-mental. É isso que explica tal conjunto de artigos, mesmo que tal significasse a demissão do próprio director, Guilherme Morgado, e sua substituição por outro, Manuel Campos Lima, mais favorável à difusão deste tipo de posições e cuja subs-tituição coincidirá também com a entrada de Cunhal para o corpo redactorial do jornal.

A temática voltaria a ser abordada sob a forma de polémica nesses meses de Março-Abril de 1940, em dois acutilantes artigos intitulados Ricochete, que são pe-ças de uma polémica com a direcção da Seara Nova em matéria de política interna-cional, designadamente com Câmara Reys, que nas páginas da já então prestigiada revista discordava do artigo Nem Maginot nem Siegfried.

No primeiro desses artigos, Cunhal justifica plenamente o título escolhido, pois, respondendo a Câmara Reys, devolve o essencial das críticas que o velho seareiro lhe dirigira – “(…) a regra dos homens que escrevem é responder, com frios gestos de certeza, àqueles que os interrogam e negarem-se sistematicamente a reconhecer a ra-zão daqueles que criticam. Esta última atitude é particularmente desengraçada porque conduz alguns senhores a procurarem a justificação dos próprios erros na existência de erros dos seus contendores. E, como o despeito é inimigo da serenidade, por vezes atiuram balas que lhes voltam de ricochete”17.

16 Cf. Álvaro Cunhal, “Nem Maginot nem Siegfried” [publicado in O Diabo, 285, de 9 de Março de 1940], in Obras Escolhidas, I …, p 79.17 Cf. Álvaro Cunhal, Ricochete [publicado in O Diabo, 290, de 13 de Abril de 1940], Idem, p 86.

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É de um Cunhal polemista, truculento e vigoroso que se trata e esse é o seu traço marcante. De um intelectual que abraça o combate político organizado, que, em virtude de um conjunto de circunstâncias concretas, tem uma actividade legal, pública com expressão significativa, utilizando a tribuna de um prestigiado jornal cultural de carácter oposicionista.

A polémica em que se envolve nas páginas da Seara Nova com José Régio nesta fase é fundamental no campo estrito da sua intervenção em matéria de estética e de criação artística.

Cunhal vai à polémica em torno da crítica que faz à XI das Cartas Intemporais de Régio, que, em tom desafiante a havia dedicado “A um moço camarada, sobre qualquer possível influência do romance brasileiro na literatura brasileira”, numa clara alusão aos jovens que viam no novo romance brasileiro, fonte de interesse na teo-rização a que procediam sobre o que devria ser o neo-realismo.

Nesta polémica Cunhal começa por distinguir entre a qualidade literária de Régio e as suas concepções em matéria de literatura e arte, mas o dirigente co-munista parte de dois versos de As Encruzilhadas de Deus – “Vergo a cabeça sobre o peito/Concentro os olhos sobre o umbigo” para criticar em Régio, por vezes de modo cáustico e cruel, o egotismo, o modo autocentrado e de pendor psicologista da sua escrita, pois, como refere:

“Tenho José Régio como um dos mais poderosos e capazes poetas portugueses contemporâneos (…). Tenho As Encruzilhadas de Deus como uma das mais vibrantes obras poéticas portuguesas contemporâneas. Mas tenho também José Régio e a sua poesia, o conteúdo da sua poesia, como uma expressão dolorosa de fuga, de cansaço, de renúncia daqueles que não teem força e sensibilidade para permanecerem corajo-samente onde se degladiam as muiltidões. A poesia de José Régio exalta uma posição e até uma atitude condenável, fracassada e decadente. Por isso deve ser combatida”18.

Às “Encruzilhadas de Deus”, Cunhal opunha as encruzilhadas dos homens num separar de águas que a visão dual do motor da história iluminava. Eram mais polí-ticas do que estéticas as preocupações e as intenções do autor.

Do ponto de vista em que Álvaro Cunhal se coloca, o elogio da solidão cobria toda uma atitude de desalento, interpretada como desistência e renúncia perante os grandes problemas da vida e da humanidade. O centro desta sua interpelação estava, portanto, na defesa da dimensão social e política da criação artística, como aliás conclui, de modo claro e inequívoco: “Para os homens que se degladiam na encruzilhada, um homem interessa ou vale, na medida em que os acompanha na dor, na luta e na esperança”19.

A polémica, que ficou conhecida como a polémica do umbiguismo era implacá-vel com Régio, o elogio da sua obra sucumbe sob a argumentação brutal e a pró-pria ironia mordaz. Tratou-se pelo carácter público, pela duração e pelo impacto da primeira grande polémica que fundava e afirmava o modo de estar e de agir da nova corrente e dos seus protagonistas mais activos e mais informados20.

18 Álvaro Cunhal, “Numa Encruzilhada de Homens” [publicado in Seara Nova, 615, de 27 de Maio de 1939 e republicado in Sol Nascente, 37, de 1 de Julho de 1939], Idem, p. 53-54.19 Idem, p. 55.20 Cf José Pacheco Pereira, “Álvaro Cunhal. Uma biografia política. «Daniel», o jovem revolucionário (1913-1941), .I”, Lisboa, Temas e Debates, 1999, pp 356-366.

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Entre a correspondência com Abel Salazar e a polémica com José Régio, não obstante a distância que os separa, há um fio comum que consiste na necessidade, e no dever, de tomar partido em matéria de literatura e arte pelos de baixo, pelas multidões sofridas em virtude da injustiça e das iniquidades sociais. Era um novo ideário que se definia e a sua defesa e projecção constituiam parcela importan-te da própria actividade militante, o que justificava a truculência da polémica, a acutilância, por vezes brutal, da argumentação. Era fundamentalmente com os presencistas que beligeravam erguendo o primado do conteúdo sobre a forma.

Álvaro Cunhal, como Mário Dionísio tinham aliás acabado de ver publicados de-poimentos seus numa espécie de inquérito sobre arte moderna, promovido pelo próprio O Diabo, em cuja redacção ambos colaboravam directamente. No seu de-poimento Cunhal disserta sobre o carácter nacional e simultaneamente universal da arte, que era afinal o modo como a criação artística deveria ser encarada:

“Há duas artes nacionais em cada arte nacional. O universalismo da arte moderna não é contrário à existência de características nacionais da obra de arte. Mas, para isso, é necessário que ela, embora nacional na forma, seja universal no conteúdo. Às parti-cularidades da vida nacional (desde a luz, do marulhar das águas, à distribuição do pão) respondem as particularidades da forma e conteúdo das produções artísticas de artistas duma nação. Mas, neste mundo e nesta época, para se poder falar do univer-salismo da arte moderna é necessário que esse conteúdo nacional da obra de arte não seja mais do que um aspecto local do conteúdo geral progressista duma arte moderna de todos os povos” 21.

O modo como a nova corrente estética se definia, cerrando fileiras, inflexibilizan-do-se perante as restantes, mesmo que sensíveis à questão social, mesmo que pro-tagonizadas por escritores, poetas e pintores críticos do regime, criava uma espé-cie de reduto que, de algum modo, naquele preciso momento histórico, também reflectia o próprio isolamento do Partido Comunista Português numa conjuntura internacional marcada precisamente pelo pacto Germano-Soviético.

Sobre a derrota da guerra civil de Espanha, num cenário internacional incerto, sob forte pressão do regime, os textos de Cunhal apontam caminhos, exigem com-promissos sociais, intervenção aberta, requer que os intelectuais tomem partido, não hesita em polemizar de modo agreste, cáustico, demolidor com figuras já in-telectualmente consagradas, investido da autoridade que objectivamente decorria do seu estatuto de dirigente comunista.

Ao mesmo tempo que participa activamente na imprensa cultural, está presente em discussões e debates, procurando polarizar na esfera legal a juventude inte-lectual de esquerda, como no caso dos chamados passeios no Tejo, organizados a partir de Vila Franca de Xira, com Fernando Piteira Santos e Cândida Ventura, Hugo Baptista Ribeiro e Pilar, sua companheira; Inácio e Stella Fiadeiro, Alves Redol e So-eiro Pereira Gomes, Fernando Lopes Graça, Arquimedes da Silva Santos e Sidónio Muralha, entre outros.

21 Álvaro Cunhal, [Depoimento a O Diabo], [publicado in O Diabo, 240, de 29 de Abril de 1939], Obras…, p. 50.

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Anos mais tarde, Fernando Pinto Loureiro referindo-se ao que designa de nova geração refere que “(...) por volta de 1939, surge na cultura portuguesa a vanguarda de uma nova geração de intelectuais, com nova mentalidade e nova atitude perante a vida…”22.

Todavia, mesmo entre aqueles que rejeitavam o presencismo, que estavam pró-ximos do neo-realismo, que inclusivamente aceitavam as fontes doutrinárias desse novo modelo estético, exprimiam-se diferenças, nuances que de algum modo re-lativizavam a assertividade intransigente dos principais publicistas do novo ideário.

Desenha-se um sector ou sensibilidades que mantendo-se dentro do próprio movimento neo-realista, sem desvalorizar a importância do conteúdo, recusam objectivamente o seu primado e mostram-se sensíveis à forma e à diversidade te-mática. Fernando Lopes Graça manifesta-se claramente nesse sentido nas páginas de O Diabo e jovens escritores como Marmelo e Silva, em 1937 ou, mais tarde, Ma-nuel da Fonseca e Mário Dionísio referem como os seus primeiros romances foram criticados quer pelo tema, quer pelo ambiente social retratado ou pelo conteúdo em si.

Este veio não se extinguirá mesmo no fragor de críticias fraternas, mas impla-cáveis, ainda que se acondicionasse no fragor do combate contra os presencistas e todo o tipo de defendores da arte pela arte, ao mesmo tempo que tais debates refluiriam na nova conjuntura, mais assinalada pelas primeiras obras neo-realistas e pela dispersão relativa dos principais protagonistas deste processo, por outras tarefas e outros combates, à medida que a década de 40 avançava.

Neste período, após a proibição das revistas culturais legais, refunda-se o PCP, Cunhal passa à clandestinidade após uma segunda prisão ainda em 1940 e de-pois de um curto período em liberdade, em que ilustra a 1ª edição dos Esteiros de Soeiro Pereira Gomes. O fim da guerra traz o tempo do MUNAF e do MUD com o envolvimento de muitos escritores e artistas nas tarefas abertamente políticas desses movimentos. Reforça-se o papel instrumental dos intelectuais comunistas no quadro da luta antifascista.

Ficava uma enorme solidariedade, a cumplicidade de um período intenso, um período de fundação, de criação em contextos difíceis. Desses anos primeiros anos de clandestinidade de Cunhal, diz Mário Dionísio: “Às vezes batia-me à porta às duas da manhã (…) e ficávamos a conversar até às seis da manhã. Muitas vezes nem faláva-mos de política: era um convívio fraterno, uma necessidade de calor humano” 23.

A corrente neo-realista seria no entanto sacudida por uma intensa polémica nos anos 50, na qual Álvaro Cunhal participaria de modo decisivo, não obstante as con-dições fortemente adversas em que o fazia.

A forma e o conteúdo Quando, depois de quase oito anos de clan-destinidade, Álvaro Cunhal volta a ser preso pela terceira vez, em Março de 1949. A situação nacional e internacional tinha mudado muito. O regime tinha, à saída da

22 Rodrigo Soares [Fernando Pinto Loureiro], “Por um novo humanismo”, Porto, Portugália, 1947, p. XIII.23 Mário Dionísio [entrevistado por José Carlos Vasconcelos], “Memória da ‘Terceira Idade’”, in JL, 33, de 25 de Maio de 1982.

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guerra, recuperado da sua primeira grande crise, o MUD tinha sido ilegalizado e o MUNAF arrastava penosamente a sua existência, já muito esvaziado. A campanha de Norton de Matos à presidência da República pusera a nu fortes dissensões en-tre as correntes oposicionistas e os efeitos da repressão policial causavam grandes estragos na estrutura partidária, enquanto a nível internacional se adensava o clima de guerra fria, fortemente polarizado e marcado por uma agressividade crescente.

Na reunião do Comité Central de Janeiro de 1949, Militão Ribeiro, um velho qua-dro operário apresenta um informe sobre a situação internacional, onde reproduz os pontos de vista do movimento comunista, expressos nas conferências do Ko-minform, a organização sucedânea da Internacional Comunista, ainda que apenas congregasse directamente o PC da União Soviética, os partidos dos países de de-mocracia popular e os mais impotentes partidos comunistas da Europa Ocidental, de França e de Itália.

Nesse informe concretiza-se o quadro de guerra fria e os seus efeitos nas opo-sições em Portugal, remetendo para uma situação de auto-suficiência do PCP no combate ao regime e face às restantes correntes que se opunham a Salazar. Como refere o Informe, “A luta do nosso Partido deve, portanto, ser conduzida em duas fren-tes: luta contra o salazarismo e luta contra todos os arrivistas, traidores e oportunistas dentro do movimento anti-fascista”24.

Esta atitude remetia por reflexo directo para a vigilância sobre os intelectuais e a generalidade dos militantes partidários, combatendo o que designavam de desvios e práticas oportunistas. E num clima internacional de crítica aberta e feroz dos partidos comunistas ao cosmopolitismo em matéria de literatura e arte com-batiam-se com veemência os que se afastavam dos cânones do realismo socialista teorizado por Andrei Jdanov, uma personagem central no movimento comunista internacional naquele período.

Em 1949, na revista Vértice, praticamente a única hegemonizada pelos inte-lectuais comunistas, Manuel Campos Lima escrevia sobre o Realismo, estética de progresso, onde recusa a liberdade estética dentro de uma mesma linha de pensa-mento, na base de que “para cada época e para cada agrupamento há uma estética determinada”25.

Nessa altura circulava uma edição copiografada de um artigo sobre o formalismo, traduzido da revista Études soviétiques, perfeitamente esclarecedor nesta ordem de ideias – “A estética marxista não se limita a refutar na teoria, o formalismo decadente. Ela combate-o em todas as suas manifestações. (…) O artista do Ocidente não pode salvar o seu talento senão mobilizado todas as fontes da sua razão, sua inspiração, sua vontade para a luta contra a estética da arte reaccionária e contra as condições sociais que geraram esta estética”26.

De algum modo repetiam-se os mesmos combates de dez, doze anos antes. A mesma defesa apologética do primado do conteúdo sobre a forma, a ideia forte da criação artística tomar partido, o dever de a isso incitarem os que a si próprios

24 António [Militão Ribeiro], “A actual situação política portuguesa e as tarefas do partido na hora presente, Informe à reunião do CC em Janeiro de 1949, dact., p.19.25 Manuel Campos Lima, “Realismo, estética de progresso”, in Vértice, 66, Fevereiro de 1949, p.65.26 I. Fried, “O formalismo”, dact., p. 8.

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se consideravam mais lídimos representantes e arautos desse ideário estético e da sua função. Eram sobretudo críticos literários e de arte, ensaístas e publicistas, mais do que escritores ou artistas plásticos.

É nesse sentido que vai o ataque feroz contra iniciativas culturais que, colocando--se dentro de um campo democrático, não se regiam pela rigideza realista, como era o caso da revista Ler, da iniciativa de Francisco Lyon de Castro, um dos que se havia afastado naquele quadro de pressão tremenda sobre os intelectuais e os artistas. Aos militantes comunistas era proibido colaborar na Ler, atitude tida quase como incompatível com a militância comunista.

Neste contexto toma corpo e desenvolve-se a chamada polémica interna do neo-realismo, que teve expressão pública principalmente nas páginas da Vértice nos anos de 1952-54.

Na realidade, antes do Avante! ter determinado a proibição de colaborar na Ler, António José Saraiva havia aí publicado um artigo sobre a relação entre humanis-mo e ciência, no qual defendia que a partir de Galileu a ciência se dotara de um método operativo porque baseado na observação e na análise dos fenómenos concretos enquanto que as ciências do espírito eram sobretudo especulativas por-que se afastavam da própria realidade e se fundavam na subjectividade que as impedia de testar e comprovar as hipóteses de forma consistente27.

João José Cochofel, poeta, entra em polémica pública com Saraiva, recorrendo às páginas da Vértice e transportando-se para a esfera da criação artística. Contra-põe às limitações especulativas e subjectivistas que Saraiva dizia ver nas ciências do espírito, a defesa de uma técnica minuciosa e aprofundada que proporcione ao artista a utensilagem teórica fundamental para atingir os seus objectivos e recorda a importância dos escritos de juventude Marx na concepção de um homem total, dotado de um “sentido humano correspondente a toda a riqueza do ser humano e natural” 28.

E, ao sustentar que, desse ponto de vista, todo o artista, crítico ou ensaísta devia por todos os meios pôr as massas em contacto com arte de todos os tempos e com arte moderna em particular, elogiando o desenvolvimento da capacidade crí-tica de cada um, contrariava assim a perspectiva estreita de Saraiva e, através dela, as concepções mais intransigentes dos intelectuais como “engenheiros de almas”, que combatiam no formalismo todas as correntes artísticas e culturais considera-das subjectivistas e decadentes, que assentavam justamente nessa visão especula-tiva veiculada pelas ciências do espírito. Mesmo na discrição e na contenção verbal, os termos da questão tornavam-se claros.

Saraiva, intempestivo, vem à liça, agora nas páginas da Vértice e engrossando o tom – Cochofel era um positivista, impregnado de um espírito escolástico e abs-tracto, que tendia a isolar-se do tempo e do espaço em que vivia, isto é, dos gran-des problemas sociais e políticos da época29.

27 Cf. António José Saraiva, “Humanismo e Ciência”, in Ler, 2, Maio de 1952.28 João José Cochofel, “Notas soltas acerca da arte, dos artistas e do público”, in Vértice, 107, Julho de 1952, p.345.29 Cf. António José Saraiva, “Problema mal posto”, in Vértice, 109l, Setembro de 1952, pp 495-499.

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Nesse mesmo número, em contra-resposta directa a António José Saraiva, Co-chofel acusa-o de isolar e extrapolar frases fora de contexto, alterando-lhes o senti-do e procura recentrar a polémica na luta de ideias, criticando-o por se situar num nível superficial e esquemático do debate, “contentado com leituras mal assimiladas de manuais de vulgarização”30.

Nesta primeira fase da polémica, a face visível escondia um problema mais fun-do, de resolução difícil, arrumando campos e alinhando posições entre os que colocando-se na mesma corrente estética divergiam entre si, abertamente.

Há um veio que se mantém desde a fase inicial do movimento neo-realista, que sempre procurou relativizar o primado do conteúdo sobre a forma, que se procu-rou escorar nos contributos de Bento Caraça e numa visão mais aberta e ampla do que aquela em que se baseavam os guardiões da pureza doutrinária. Reco-nheciam-se aí Cochofel, naturalmente, mas também Mário Dionísio, Rui Feijó, José Gomes Ferreira ou Carlos de Oliveira, cada vez mais fora do Partido Comunista, mas sempre, e não obstante, politicamente próximos.

É este aparente paradoxo que leva a que um conjunto de autores e ensaístas, designadamente os mais ligados à redacção da Vértice, a tomarem uma posição como que neutral, em nome da defesa da unidade do movimento, como Luís Al-buquerque, Luís Elias Casanovas, Júlio Pomar ou o próprio Joaquim Namorado.

Em nome dessa unidade, Mário Dionísio aceita voltar a colaborar com a revista, porém em equilíbrio interno difícil de manter, publica um importante ensaio intitu-lado O Sonho e as mãos, onde as velhas e escaldantes questões reemergem:

“A exaltação tem muita pressa de chegar, mistura assunto e arte, confunde forma e formalismo, vê inimigos nas próprias mãos que darão vida ao sonho. Mas a realida-de que abstractamente citamos minuto a minuto, é implacável (…) quando Picasso diz: uma coisa é ver outra é pintar, não nos está a propor um paradoxo decadente, ne-nhuma das monstruosas gratuitidades que gostamos de atribuir aos artistas, mas a ajudar-nos a penetrar na zona complexa – mas viva! – onde os sonhos e as mãos se encontram e confundem para a construção dos monumentos”31.

Saraiva quer intervir, reacender a polémica com Cochofel e através dele com aqueles que, em sua opinião, cedem ao formalismo. É o espectro da polémica de novo a levantar-se e, durante muitas semanas, alguns meses, a redacção procura evitá-lo, querendo convencer Saraiva a retirar um artigo que enviara para publica-ção, mas debalde, pois em Maio de 1954 o texto é mesmo publicado, intitula-se A ponte abstracta e com ele abre-se efectivamente a segunda fase da polémica.

António José Saraiva é sarcástico, diringindo-se aos que preocupando-se com a estética descuravam a sua função, tornando-a inútil, como um engenheiro que constrói uma ponte onde não se consegue passar 32.

Cochofel responde, através de carta que exige ser publicada, apesar dos esfor-ços de contemporização exercidos pela Redacção da revista. Realinham-se solida-riedades. Fernando Lopes Graça em carta particular a Cochofel, diz-lhe “Deixá-los

30 João José Cochofel, “Problema falseado”, idem, p. 502.31 Mário Dionísio, “O sonho e as mãos”, in Vértice, 124, Janeiro de 1954,p. 288.32 Cf. António José Saraiva, “A ponte abstracta”, in Vértice, 128, Maio de 1954.

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– tu é que estás dentro da verdade e, mais do que eles, estás dentro da doutrina dos «sagrados textos»“33.

É nesta altura que a redacção da Vértice recebe um texto para publicação intitu-lado Cinco Notas sobre forma e conteúdo, subscrito por um António Vale, que nin-guém conhece. Trata-se efectivamente de Álvaro Cunhal, que se encontrava preso na Penitenciária de Lisboa. É a partir daí que o dirigente comunista volta a intervir em matéria de literatura e arte.

António Vale O ensaio de Álvaro Cunhal insere-se na polémica em curso, participa dela, mas, pela sua importância, extravasa-a largamente. O pretexto são pontos de vista sustentados por Fernando Lopes Graça, compositor que no final da guerra havia entusiasticamente reunido e musicado poesia dos seus companhei-ros neo-realistas e publicado Marchas, danças e canções.

Graça havia defendido, em texto anterior, que o debate entre forma e conteúdo na música corria o risco de se tornar ainda mais artificial e, como tal, mais suscep-tível de toldar o debate, distorcendo-o, o que, de algum modo, alinhava com as posições que vinham sendo sustentadas na Vértice por Dionísio e em particular por Cochofel, de quem estava aliás mais próximo pelo interesse pela música.

Para Álvaro Cunhal o primado do conteúdo em todas as formas de expressão ar-tística impunha-se como elemento diferenciador e volta a ser em tom sentencioso que o dirigente comunista preso se pronuncia:

“Na pintura, na escultura, na poesia, a linguagem ultrapassada constitui um molde demasiado estreito, irremediavelmente estreito. Para a arte se tornar verdadeiramente grande, ao novo conteúdo tem de corresponder uma nova forma (…) tem de romper o quadro acanhado da linguagem ultrapassada, vencer a sua indigência formal e tor-nar-se senhora de recursos formais suficientemente ricos para exprimir toda a riqueza do novo conteúdo.

Não tem qualquer razão de ser a objecção de que a sobreposição do conteúdo à for-ma não é fecunda no acto de criação artística. No próprio processo de criação, como norma para alcançar um nível superior, como norma para alcançar uma forma supe-rior, é válido o princípio «primeiro o conteúdo»”34.

O primado do conteúdo em Álvaro Cunhal não significa desprezo absoluto pela forma, mas subordinação ao conteúdo. A indigência formal a que se refere tanto é a disfunção com o novo conteúdo, como a própria desadequação do sentido da obra artística em relação ao devir histórico e à sua urgência.

Assim, a condenação do formalismo é a afirmação de uma arte social, de tendên-cia que, para se tornar hegemónica, precisa de se demarcar de todas as expressões tidas como de degenerescência artística, designadamente a arte abstracta e os contextos por onde medra – o cosmopolitismo.

Cunhal retomava o fio de uma atitude interventiva que, publicamente, se firmara com a polémica com José Régio, impulsionado, no fundo, pela mesma necessi-

33 BNL, E/23, Espólio literário de João José Cochofel, “Carta de Fernando Lopes Graça”, s.l., 17 de Agosto [de 1954], mns, p. 1.34 António Vale [Álvaro Cunhal], “Cinco notas sobre forma e conteúdo”, in Vértice, 129, Junho de 1954, p. 129.

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dade de afirmar um conjunto de conceitos que resultavam de uma determinada forma de encarar, à luz do marxismo, a criação artística.

Mais encorpado e denso, e também mais ágil, que António José Saraiva, o diri-gente comunista sublinhava a importância do debate e da polémica ao intervir di-rectamente. A estrutura do ensaio, nos seus traços gerais, não se afastava do modo como interviera quinze anos antes.

Aliás, deste ponto de vista, a referência concreta a Régio, como a Fernando Pes-soa, como escritores pequeno-burgueses, enquadram bem ao que vem, o comba-te, ainda e mais uma vez, contra a incapacidade de, enquanto escritores, se liber-tarem do subjectivismo e da dúvida, que marcam a sua obra e que são reflexo da sua própria condição social.

Porém, em relação aos neo-realistas com quem polemizava, Graça e Cochofel principalmente, que eram ou tinham sido até muito pouco tempo antes militan-tes comunistas, ao insistir na valorização do conteúdo e na crítica do formalismo, retomando um estilo truculento e intransigente, predestinava-lhes implicitamente a degenerescência.

Sem que afirmasse que estes defendiam o predomínio da forma sobre o conte-údo, o que efectivamente não sucedia, reduzia os seus propósitos de equilíbrio à ideia de uma espécie de evolução estética, que contestava e à qual contrapunha uma ruptura, por incorporação de novos temas e conteúdos, adequados à missão histórica dos seus protagonistas, os operários, os trabalhadores, o povo, que deter-minaria novas formas estéticas.

Este ensaio de Cunhal tornava-se assim na mais importante contribuição neste quadro de polémica prolongada, intensa e por vezes pouco serena.

Graça e Dionísio ainda pretendem responder a António Vale, desconhecendo de quem efectivamente se tratava, mas acabarão por encerrar a polémica com duas cartas, que a Redacção da Vértice recebe e publica com indisfarçável alívio. Tratava-se de um momento de apaziguamento que deveria ser aproveitado para reestruturar a revista, o que efectivamente veio a suceder a partir de 1955.

No essencial, tal reestruturação assentaria no reforço dos poderes da Redacção, que se deveria afirmar efectivamente enquanto tal, isto é, centralizando as suas funções e, ao mesmo tempo, promovendo a unidade dos escritores portugueses.

Álvaro Cunhal ainda tenta a publicação de novo artigo, assinado igualmente como António Vale, mas que suscita redobradas precauções por parte da Redac-ção, que não queria de modo algum reacender o diferendo, até pelos efeitos que estaria a provocar na própria revista, que não voltaria a conseguir recuperar dina-mismo até ao final da década.

É Cochofel quem fornece a Mário Braga as razões para recusar a publicação des-se novo texto de António Vale, designadamente por não se saber ao certo qual a sua verdadeira identidade, bem como pelo facto da morada indicada como reme-tente não existir sequer, mas principalmente por vir reabrir feridas antigas e poder atrair uma vigilância acrescida por parte da Censura.

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Trata-se de um extenso ensaio intitulado Problemas do Realismo, igualmente re-digido na Penitenciária de Lisboa, que não avança substancialmente do ponto de vista da argumentação, mas que está bastante mais desenvolvido, com abundante recurso a exemplos de autores nacionais e de obras de arte europeia, cruzando, num registo de grande erudição, literatura, pintura e música, em que destaca sem-pre os exemplos positivos, de modo a integrá-los no grande caudal de uma arte progressista.

Na realidade, o ensaio não dava por encerrada a polémica, quer prossegui-la, abertamente, interpelando nomeadamente Mário Dionísio quer pela carta que en-viara à Vértice em 1954 e que revista publicara quer pelo artigo O Sonho e as Mãos. Diz Cunhal, a coberto de António Vale:

“As objecções à clara e necessária distinção conteúdo-forma; a oposição à clássica consigna «primeiro o conteúdo»; a insinuação de que a luta contra o formalismo da decadência é luta contra a forma; a acusação às acusações críticas à arte da pequena burguesia e à da decadência e a sua defesa pela «palpável humanidade» que contêm; a real oposição aos melhores defensores da arte e do seu progresso e a tentativa do seu descrédito, em contraste com o apoio ou condescendência para com ideólogos e artistas da decadência em quem se vê antes de mais nada e acima de tudo confra-des talentosos – tais são alguns aspectos em que a estética decadente se manifesta no artigo, contrariando, prejudicando e reduzindo a pouca coisa o melhor do afirmado na carta. Neste caso, como em muitos outros casos, por muito sinceros que sejam os críticos ao insistirem que pensam dever ser localizada no seu momento histórico para poder ser correctamente compreendida, a falta de uma preparação realmente científi-ca impede-os de fazer uma análise criadora e estabelecer os laços que ligam a arte (par-ticularmente a de hoje) à sociedade onde germina, faz surgir nas suas ideias insolúveis contradições, leva-os a uma posição pretensiosamente revisionista e atira-os (sem que eles dêem por isso) para os braços das ideologias da decadência”35.

A espada acusatória abatia-se de modo implacável sobre os neo-realistas que não aceitavam o primado determinista do conteúdo sobre a forma e que, numa perspectiva contextualizante, procuravam ver as diferentes expressões estéticas no seu tempo e nas condições históricas em que foram produzidas.

E caía sobre eles ainda numa outra escala que era a da crítica da auto-suficiência e da falta de humildade, pois “Seria de desejar que cada qual, considerando o próprio esforço no conjunto de outros esforços, apurasse o ouvido para as vozes mais humildes, ganhando forças para rectificar quanto de errado haja feito e sentindo-se «ferido e ale-gre» ao ver na crítica alheia a «pedrada amiga que vem e que acorda»”36.

É certo que o ensaio não fora publicado, que o efeito necessariamente turbulento que voltaria a provocar não se fez sentir, mas só Cinco notas sobre forma e conteúdo foram suficientes para demarcar dois campos, no seio do movimento neo-realista que não se voltariam jamais a encontrar, provocando fissuras amargas e insanáveis.

Já em liberdade, Álvaro Cunhal, após a sua fuga da prisão em Janeiro de 1960, no quadro da correcção do chamado “desvio de direita” e dos seus efeitos em matéria de organização, procedendo a uma nova reorganização partidária, procura captar

35 Álvaro Cunhal, “Problemas do Realismo”, in Obras Completas, IV (1967-1974), Lisboa, Edições Avante!, 213.36 Idem, p. 806.

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alguns destes intelectuais que se haviam afastado em consequência da polémica interna. É o caso de Mário Dionísio.

Álvaro Cunhal envia-lhe uma carta em Novembro desse ano, uma carta amistosa, de mão estendida: “Em várias ocasiões e por vários motivos imediatos (uns prenden-do-se a questões de doutrina e arte, outros prendendo-se à sua vida) senti desejo de conversar consigo, pois nunca deixei de apreciar e estimar. Deve supor que estamos de acordo numas coisas e em desacordo noutras. Quando se procura, porém, sinceramen-te, encontrar o caminho justo, não será verdade que as divergências podem e devem tornar-se factor de cooperação e ajuda mútua e não de separação e hostilidade?”37, su-gerindo um encontro que permita retomar um percurso antigo de “coerência, (…) [de] presença efectiva e fiel num mesmo campo ao longo de tida a sua vida”38.

Porém, nem uma palavra sobre a substância desses desentendimentos, nem so-bre eventuais excessos no desenvolvimento de uma polémica tão marcante e tão profundamente traumática. Não admira portanto que Dionísio recuse tal sugestão, evidenciando ainda feridas abertas num processo de afastamento onde efectiva-mente se enleavam questões estritamente partidárias com a acidez da polémica pública em matéria de literatura e arte.

Os trabalhos da prisão O longo período de prisão, entre Março de 1949 e Dezembro de 1960, no decurso do qual Álvaro Cunhal intervém na polémica interna do neo-realismo foi particularmente fecundo do ponto de vista da sua pro-dução intelectual. Detido na Penitenciária de Lisboa, sujeito a um longo período de isolamento e após um ano de estrita privação de contacto com os outros presos, mesmo que de delito comum, sem acesso a livros ou a papel, à medida que o vai requerendo e que a direcção da prisão o autoriza, faz da leitura, como da escrita, do desenho ou da pintura uma forma de resistência.

Tal é particularmente relevante a partir da altura em que recebe autorização para o efeito e até ser transferido para o forte de Peniche, em 1956. São dessa fase os desenhos da prisão, a escrita de A Luta de classes em Portugal nos finais da Idade Média, a tradução do Rei Lear de Shakspeare, a escrita de A Mulher do Lenço Preto e do conto Cinco dias, cinco noites ou de A Questão Agrária em Portugal.

Apesar dos pedidos de entrada de livros serem minuciosamente escrutinados pelo Director da Prisão, foi-lhe possível aceder a um vasto e diversificado conjunto de obras, clássicos da literatura universal, designadamente russas, na língua original, aproveitando para aperfeiçoar os seus conhecimentos do idioma, como de clássi-cos portugueses e até significativo volume de estudos técnicos e estatísticos sobre a realidade portuguesa39.

A leitura dessas obras era frequentemente acompanhada da elaboração de fichas ou anotações em cadernos, que consituíam um manancial de informação organiza-da e sistematizada, a partir da qual escrevia, o que é particularmente patente quer

37 Casa da Achada, Espólio de Mário Dionísio, “Carta [de Álvaro Cunhal] para Mário Dionísio”, [Novembro de 1960], dact., p. 1.38 Idem.39 Cf José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal. Uma biografia política. O Prisioneiro (1949-1960), III, Lisboa, Te-mas e Debates, 2005, pp 181-185.

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em A luta de classes nos finais da Idade Média em Portugal quer em A questão Agrária em Portugal. E o mesmo processo teria sido utilizado nos ensaios com que quis in-tervir na polémica interna do neo-realismo.

Há, no entanto, nos desenhos, em A Mulher do Lenço Preto ou em Cinco dias, cinco noites o recurso à memória de acontecimentos directamente vividos ou plasmados em relatórios partidários sobre factos ocorridos ou nas narrativas orais que circula-vam informalmente dentro do partido.

São predominantemente rurais os ambientes que passam pelas expressões ar-tísticas de Cunhal, como é predominantemente rural o país nos anos intensos de actividade clandestina que vive nos anos quarenta. Muitos dos camponeses que retrata são os mesmos cujas lutas relata em Até Amanhã Camaradas, o novo título que deu à Mulher do lenço preto.

Mas é justamente em Até Amanhã Camaradas que se condensa o projecto de literatura de tendência que vinha teorizando desde o fim dos anos 30 e é sem dúvida a mais importante expressão literária nesse sentido. Esta é a epopeia da re-sistência contra a ditadura, a grande narrativa sobre a clandestinidade e os modos de enquadramento das lutas sociais em contextos difíceis, onde a prisão, a tortura, as grandezas e as misérias se cruzam, mas por onde também passam as condições de vida, as dificuldades e os hábitos, a prudência e a coragem.

A obra percorre um ciclo da luta popular, com a conjuntura de guerra em fun-do, aborda o esforço quotidiano de mobilização e enquadramento num cenário social, que é uma espécie de microcosmos do país na primeira metade da década de 40. O partido com o seu aparelho clandestino – os funcionários, as instalações, a imprensa, a estrutura verticalizada e centralizada, feito com homens e mulheres com as suas angústias e a sua coragem, com problemas afectivos, traumas, pulsões une os distintos ambientos sociais por onde a trama se desenrola, entre as cidades e vilas com débil estrutura industrial, as concentrações de assalariados rurais e as suas lutas por jornas mais altas ou os pequenos camponeses da região do pinhal reagindo contra a prepotência dos grémios.

O ritmo vai em crescendo até à eclosão das movimentações sociais, tumultuo-sas, com greves e marchas de fome, não iludindo os pesados e trágicos efeitos da repressão, a desarticulação das organizações partidárias e o rendilhado persisten-te, a reconstrução laboriosa e fina, assente no esforço e no sacrifício individual e colectivo, relançando outro e outro ciclo até ao derrube da ditadura.

Na ausência de personagens perfeitas, heróis impolutos, é, com todas as suas imperfeições e os seus arroubos de coragem e espirito de sacrifício que se solda o aparelho partidário, o Partido, que surge assim como uma espécie de grande personagem colectivo mergulhando e ramificando-se entre a população traba-lhadora e sofredora, guiando-a no caminho da luta.

Álvaro Cunhal procurou dar expressão concreta e coerente a um conjunto de princípios de doutrina estética que veio sustentando e amadurecendo ao longo de um período prolongado de tempo, casando-os com um conteúdo só possível nas ciscunstâncias concretas em que lhe deu forma.

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Transportando consigo parte substancial do manuscrito original, que havia in-clusivamente discutido no forte de Peniche, quando daí se evadiu, várias cópias dactilografadas circularam entre funcionários do partido e constavam dos seus ar-quivos. Tratava-se de um instrumento poderoso de formação de militantes e qua-dros, uma vez que aí se vertiam sob forma ficcionada as regras fundamentais do funcionamento clandestino e do engajamento e mobilização social.

Afastando-se deste registo, o conto Cinco Dias cinco noites, igualmente escrito na prisão e publicado depois do 25 de Abril com o pseudónimo de Manuel Tiago, narra aparentemente um episódio de contrabando, mas, na realidade, é de uma passagem clandestina de fronteira que se trata, desenvolvendo-se em função da relação estabelecida entre o passador, efectivamente um contrabandista, e o jo-vem que necessita sair do país.

Urbano Tavares Rodrigues viu nessa relação entre André e Lambaça, o confronto surdo entre “adversários no fundo solidários, a consciência real e a consciência possí-vel, o jovem combatente que fez a sua opção de classe e o passador apegado ao egoís-mo machista, às regras do seu jogo, do seu quotidiano”40.

É um retrato psicologicamente fino e penetrante de uma relação potencialmen-te conflituante, sem preocupação de apontar um caminho, mas reflectindo uma simpatia contida por um personagem que roça a marginalidade e que tem da luta política e social uma noção vaga e distante.

No universo de Cunhal parecem assim não ter desaparecido completamente al-guns dos veios que lhe vêm da juventude, onde o sentido de ética e de honra se manifestam a montante de uma completa absorvência política e ideológica que lhe é proporcionada pela vida partidária, mas que se funda em reminescências distantes vividas em meio rural.

“Que não fiquem dúvidas…” Quando em Dezembro de 1994, no lançamento de A Estrela de seis pontas, Álvaro Cunhal, com 81 anos, refere que ele próprio é o autor de Até amanhã camaradas, desvendava um meio-segredo, Ma-nuel Tiago era, afinal o dirigente comunista. Na realidade, A Estrela de seis pontas, era a primeira das suas obras literárias publicadas depois das que havia escrito na prisão.

Independentemente das razões que o levaram, na altura, a proceder a tal revela-ção, Cunhal, ao afastar-se das pesadas e absorventes responsabilidades e activida-des partidárias directas, adquiria o tempo e a disponibilidade que necessitava para voltar à escrita.

E, não obstante os seus novos romances, contos e novelas, a sua faceta literária permaneceria sempre associada ao pseudónimo de Manuel Tiago, como que cor-respondendo a um veio forte das suas múltiplas facetas. Não estava propriamente em causa a coerência mas uma espécie de múltiplos planos em feixe, um dos quais era precisamente aquele.

40 “A obra literária de Álvaro Cunhal/Manuel Tiago vista por Urbano Tavares Rodrigues”, Lisboa, Caminho, 2005, p. 14.

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Pouco tempo mais tarde, entrevistado, reconheceria: “A vida não me permitiu que tivesse tido em qualquer dessas actividades a mesma aplicação que tive em relação à actividade política. Estou convencido, já que gosto tanto de escrever e desenhar, que se tivesse dado a mesma energia e aplicação à aprendizagem da língua, à técnica da pintura, poderia ter feito coisa melhor que fiz” 41.

Porém, nessas novas condições, escreverá, além de A Estrela de seis pontas, A Casa de Eulália, em 1997; Fronteiras, em 1998; Um risco na Areia, em 2000; Sala 3 e outros contos, em 2001; Os Corrécios e outros contos, em 2002 e Lutas e vidas: um conto, em 2003, já com 90 anos. Em todas elas o mesmo retorno à experiência de vida e, nesse sentido, é adequado considerar que Álvaro Cunhal, nunca tendo querido es-crever as suas próprias memórias, acabaria por fazer reflectir parte, ainda que parte pequena, dessas memórias na sua obra de ficção.

Por toda a sua obra literária, muito cromática, passam os anos de actividade clan-destina na fase mais pujante da história do PCP durante a ditadura, precisamente a conjuntura de guerra, bem como aspectos da vida prisional, das passagens de fronteira, do período em que em Espanha é surpreendido pela eclosão da guerra civil ou a actividade após o 25 de Abril, ainda que timidamente representada, é certo.

O forte compromisso político que assumiu coloca essas obras nas diferentes en-cruzilhadas com que se deparou. Mesmo quando o neo-realismo se dissipava face aos ventos da História, é assinalável a persistência com que sempre defendeu uma literatura de intervenção, de tendência, mesmo que, no discurso político, particu-larmente após o impulso revolucionário dos anos de 1974-75, fizesse frequente-mente questão de admitir a liberdade de criação artística e o distanciamento de um determinado modelo que pudesse ser erigido em doutrina partidária oficial.

Porém, a publicação em 1996 de A arte, o artista e a sociedade, vem como que coroar a sua faceta de ensaista, seguramente a mais sólida, mais coerente e mais fecunda. Aí se sintetizam as grandes linhas de força do seu pensamento sobre a criação artística. Antes do mais, a defesa clara, e militante, de uma arte de inter-venção, que mergulhe nas grandes questões e nas grandes causas sociais, que aponte caminhos e seja intransigente nos rumos que traça, apoiando no recurso frequente, por vezes caudaloso, a um enorme lastro cultural feito de observação e curiosidade, de análise aturada e reflexão profunda.

Parecendo distinguir forma de formalismo é nesta formulação que combate o abstraccionismo e as diferentes manifestações de psicologismo, porque degene-rativas, operantes num quadro de desespero, do seu ponto de vista incompatíveis com o futuro radioso que proclamava.

Trata-se de uma obra de vida, a concretização de um anseio antigo, na qual incorporou o essencial das principais manifestações do seu interesse em maté-ria de arte e de doutrina, que em geral havia antes expressado sob a forma de polémica aguerrida, particularmente com os dois ensaios de 1954, ou que havia

41 Cit. por José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal. Uma biografia política. O Prisioneiro…., p. 185.

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laboriosamente reunido, mesmo nas condições mais adversas e em distintas fases e momentos da sua vida, desde a prisão ao exílio.

O interesse muito sensível e muito preocupado com estas temáticas ao longo de toda a sua vida tornam-no um dirigente comunista com um traço muito espe-cial que resulta do facto de ter sido um intelectual activo, a cujos trabalhos de na-tureza doutrinária quis associar, sempre que reuniu condições para o efeito, obras literárias e artísticas concretas. Na galeria de dirigentes comunistas internacionais foi, neste sentido, uma excepção.

Percorrendo um longo período de tempo, atravessando distintas conjunturas e grandes mudanças, soube manter um corpo doutrinário coerente, cerrando fileiras e apontando caminhos, mesmo quando aparentemente se distanciava das concepções mais intransigentes e sectárias, em nome de uma liberdade de criação artística que propalava, principalmente quando o regime democrático se consolidava do modo e no sentido em que se efectivamente se consolidou.

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David Santos Desenho e fuga Álvaro Cunhal e os desenhos da prisão

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Desenho e fuga Álvaro Cunhal e os desenhos da prisão A 26 de Fevereiro de 1955, já com quase seis anos de cativeiro1, Álvaro Cunhal escreve ao “Exmo. Senhor Director da Cadeia Penitenciária de Lis-boa” uma extensa missiva onde insiste, uma vez mais com formalismo, mas não sem sentido crítico ou coragem política, na consideração dos seus direitos e das suas necessidades materiais para desenhar. No rigor ético dessas solicitações, e na dignidade formal da sua exposição, Cunhal reafirmava o seu espírito determinado e, ao mesmo tempo, a amplitude de uma personalidade complexa e multifacetada. Aí se previam as condições mínimas para deixar correr a imaginação política e a criatividade estética que o ajudariam, a espaços, a vencer as agruras e as limitações reais da reclusão:

“Álvaro Cunhal, preso político, vem expor o seguinte:

Ontem, dia 25, deixou meu Pai para me serem entregues 6 meias folhas de papel de desenho e um caderno de 5 folhas de papel Z4. À tarde foram-me entregues as 6 meias folhas e apenas uma das folhas do caderno Z4, com a indicação de que deveria ir requisitando as outras à medida que delas necessitasse. Pedi en-tão ao guarda chefe da enfermaria para comunicar que necessito dessas folhas desde já, pedindo por isso que mas remetessem. Hoje, 26, acaba de me dizer o guarda chefe da enfermaria que o chefe dos guardas diz que não me pode reme-ter essas folhas e que devo para o efeito escrever a V. Ex.cia . Por isso o faço.

Até hoje, salvo pequenos incidentes logo esclarecidos (como a proibição da en-trada de papel em 7 de Janeiro), não foram postas dificuldades à quantidade de papel necessária aos meus trabalhos, uma vez que todo ele é numerado, ru-bricado e posteriormente controlado. Até hoje também, apesar da complicada “contabilidade” e esforço de arrumação que este sistema exige, sempre e invaria-velmente puderam notar os funcionários designados para me controlar o papel que não houve a mais ligeira falta ou engano da minha parte. Parece pois que nada justifica se criem agora novas dificuldades nesta matéria.

Quanto ao papel que agora foi deixado para mim e que peço me seja entregue, trata-se de papel Z4, papel borrão, destinado a esboços a carvão e a lápis. Se, por exemplo, dedico uma tarde a desenho, fácil é fazer meia dúzia de esboços e gastar por consequência meia dúzia de folhas. Para que me seja realmente útil, é pois necessário que possa dispor de uma certa quantidade. Posso referir que, quando meu Pai me disse ter-me trazido um caderno, eu fiz o reparo de ser relativamente pouco, pois pretendo fazer uns desenhos até meados do próximo mês e isso implica uma série de esboços grosseiros.

1 Apesar de ter sido preso em 5 Março de 1949, Álvaro Cunhal só dará entrada na Cadeia Penitenciária de Lisboa em 4 Abril de 1949, sendo transferido em 27 Julho de 1956 para a Cadeia do Forte de Peniche, donde viria a evadir-se a 3 Janeiro de 1960. Cf. José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal – uma biografia política. O Prisioneiro (1949-1960), Volume 3, Lisboa, Círculo de Leitores, 2005.

Em vista do que:

Solicito que as folhas de papel Z4, ontem deixadas à porta, me sejam entregues; e aproveito a oportunidade para referir, nesta mesma matéria, alguns factos que me parecem susceptíveis de criar dificuldades:

A folha de papel Z4 que me foi entregue tem apenas uma rubrica e um número, ao contrário do que até hoje tem acontecido, pois, por se tratar de folhas grandes para cortar ao meio, vinham sempre com duas rubricas e dois números. Solicito portanto (ainda que por vantagem dos serviços da cadeia) que este trabalho continue a ser feito como até agora.

O último caderno em branco que me foi entregue (em 18 de Fevereiro) não traz numeração nem rubrica, mas “em compensação” tem as páginas numeradas a partir do número…da última página do caderno anterior (o que, além do mais, estorva o meu trabalho). Solicito portanto (ainda que também por vantagem dos serviços da cadeia) que os cadernos continuem a ter uma numeração contí-nua e as páginas de cada caderno sejam numeradas a partir de 1.Pedi há dias para ser comunicado ao chefe dos guardas que tenho 50 folhas de papel com rascunhos para inutilizar e que desejo portanto que um funcioná-rio assista a essa inutilização, controlando-a e abatendo as folhas na respectiva “contabilidade”. Como parece não haver grande vontade de realizar esse trabalho (recentemente tive de insistir muitas semanas) solicito a intervenção de V. Ex. cia para que seja dado andamento a esta questão, agora e quando de futuro surja a mesma necessidade” 2.

Esta não foi a primeira vez, nem a última, em que Álvaro Cunhal apelou com ob-jetividade às suas necessidades práticas e materiais para desenvolver com alguma regularidade o precioso exercício do desenho. Mas o sentido mais extraordinário destas palavras traduz, afinal, outra ordem de grandeza. Que força de resistência é esta, que ainda hoje nos impressiona e inspira um dos mais dignos sentimentos da condição humana: a solidariedade? Como pôde um homem encarcerado quase uma década, privado de liberdade e de verdadeiro contacto humano, não só exigir com sentido e segurança conceptual algumas condições de sobrevivência peran-te um longo período de prisão política, como sobretudo desenhar com tamanha subtileza, com tal expressividade, apelando a sentimentos de esperança, afirmação e dignidade social? Que ânimo foi esse que conduziu Álvaro Cunhal a uma visão estética de afetividade humanista? Terá sido apenas a força do seu carácter, da sua memória, da sua cultura, da sua crença no futuro da humanidade, inspirado na utopia da transformação, na vontade política de mudar o mundo? Ou terá havido aí também, de certo modo, o desejo e a experiência projetiva de uma primeira

2 Álvaro Cunhal, Obras Escolhidas, Tomo II, (1947-1964), (coordenação, prefácio e notas de Francisco Melo), Lisboa, Ed. Avante, 2008, pp. 187-188.

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fuga, ainda psicológica e metafórica, espécie de evasão pela arte, trabalhada em desenhos de rigor e sensibilidade, erguidos na longa cadência de uma temporali-dade atroz, sofrida e monótona, a que só uma sólida presença de espírito poderia, na verdade, resistir? Sabemos há muito como a estética do desenho produz efeitos terapêuticos em quem a pratica – sobretudo, quando praticada com regularidade – promovendo, por exemplo, a superação da passagem do tempo, a consolidação de processos de reconhecimento e identidade ao nível da representação do eu e dos outros, do tempo e do espaço, do passado e do presente, mas também do imaginário e do sonho. Ou seja, a prática do desenho produz um extraordinário efeito de recons-trução do mundo e da vida projetada numa superfície branca, seja no papel, ou na parede de uma cela, como forma simultaneamente primordial, derradeira e única, de combate ao isolamento e à incomunicabilidade. José Pacheco Pereira defende-rá inclusive que é o desenho e toda “a actividade intelectual, no seu duplo aspecto do estudo e leitura e da criação estética e literária, que ‘salva’ Cunhal do isolamento e da depressão”3 . Se, tal como nas palavras de António Pedro Pita, “poderemos caraterizar a estética como um regime de pensamento que intervém no plano do conhecimento, dos objetos e das experiências afirmando, simultaneamente, a especificidade de um domínio cognitivo, a arte; a particularidade de um modo de produção, a obra de arte; a singularidade de uma experiência afetiva, a experiência estética”4, então po-demos concluir que esta se encontra entre as experiências mais profundamente identificadas com a resistência intelectual ou puramente emocional que um ser humano pode viver, seja enquanto produtor, ou como observador, podendo sem-pre, em contextos mais ou menos adversos, reconvocá-la, por desejo ou necessida-de, enquanto fuga ao real, espécie de projeção controlada pela mente que recebe o estímulo estético e assume o destino das formas e dos significados. A fuga ao real – e no caso de Cunhal, recordemo-lo, trata-se então de um real opressivo e violador da liberdade – é um dos valores essenciais e caraterizadores da expressão artística (tanto na sua prática como na sua receção), mesmo quando com esta pretende estabelecer uma relação de comunhão e leitura sobre o real. Na verdade, até a arte mais comprometida com o real promove uma dimensão de alteridade significativa, mantendo ativa uma necessidade de transferência dos sentidos e do intelecto que conduz o ser humano a uma espécie particular de evasão. Daí a singular metáfora que identifica a prática do desenho com a fuga real e concreta que Álvaro Cunhal e um conjunto dos seus camaradas encetaram, com sucesso, no dia 3 de Janeiro de 1960, desde o Forte de Peniche.Tendo começado a desenhar na prisão a partir de 1951, Cunhal tentará projetar com regularidade algumas das suas convicções políticas no modo como vai estru-turar as suas imagens desenhadas. O domínio técnico é então mais consentâneo e elaborado, por comparação, por exemplo, com os desenhos realizados em 1939

3 Cf. José Pacheco Pereira, op. cit., p. 183.4 António Pedro Pita, “«Chego a cada instante de tão longe». Nota sobre a importância do conceito de «conflito» na estética de Mário Dionísio”, in AAVV, Mário Dionísio (1916-1993). Vida e Obra, Lisboa, Casa da Achada/Centro Mário Dionísio, 2011, p. 35.

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para ilustrar a primeira edição de Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, publicado ape-nas em 1941. Com efeito, tal como identifica Pacheco Pereira na sua análise, seguin-do a observação primeira de João Pinharanda5, percebe-se, nos anos da prisão, “a maturação do autor, capaz agora de usar o volume, a luz e a perspectiva” 6. Os dese-nhos produzidos no cárcere são de facto marcados pelo uso quase sistemático de fortes contrastes luz/sombra, em cenas muitas vezes noturnas ou onde prevalece o efeito acentuado da luz sobre o contorno das figuras e dos objetos representados, nisso se aproximando da matriz expressionista de uma Kathe Kollwitz ou, entre nós, de um Manuel Filipe, ainda que neste último caso haja, apesar dessa aproximação formal específica, uma nítida diferença de conteúdos e modos gerais de afirmação estética. Diríamos mesmo que ao “negativismo crítico” e à “desesperança” de M. Fi-lipe, Cunhal irá contrapor, na expressão de Carlos Vidal, um “utopismo lírico” 7 de grande inspiração transformadora, que partilha e difunde uma mensagem quase “evangelizadora” sobre a união e solidariedade do coletivo oprimido. Porém, uma das principais influências artísticas que paira sobre as cenas de grupo e da vida quotidiana dos chamados “desenhos da prisão” é a do popular pintor flamengo Pieter Brueghel (o Velho). Os planos gerais de paisagens simbólicas com os seus coletivos de figuras, os jogos, os bailes, o carnaval ou a festa popular e pagã, resultam assim inspirados diretamente na pintura flamenga do século XVI, denunciando ao mesmo tempo um conhecimento visual e teórico estruturado da história da arte, em referência a algumas das principais coleções de museus europeus, que o líder do Partido Comunista Português conhecia então apenas de reproduções em livros e que mais tarde, no longo período de exílio no estrangeiro, após a fuga de Peniche, viria mesmo a visitar. É curioso, no entanto, verificar que a interpretação estética de Cunhal apenas em parte segue alguns preceitos da pintura de Brueghel, pois no artista português não há qualquer compromisso com a pintura de género, e muito menos qualquer leitura moral, humorista, bucólica ou crítica sobre os grupos figurais representa-dos. Muito pelo contrário, Cunhal constrói as suas cenas coletivas com o intuito de identificar e promover a expressão comunitária, assim valorizada no seu potencial transformador, e nunca de manutenção do status quo ou observação dos seus ví-cios. A matriz bruegheliana patente em muitos dos seus desenhos resulta sobre-tudo notória na adoção de um ponto de vista formal evocativo dessas imagens antigas, em especial no arranjo relacional dos conjuntos. Evidente ainda no modo como estrutura o plano da imagem, ao compreender e explorar as especificidades estéticas, magistralmente resolvidas pela lição de Brueghel, da acumulação das múltiplas figuras que povoam a paisagem e agem, por vezes, em posturas comuns (a comer, a tocar, brincar ou dançar) mas também em movimentos excêntricos, como esses “encontrões desajeitados e rudes” que podemos identificar na figu-

5 Cf. João Pinharanda, “Álvaro Cunhal. História de uma vida. Exprimir a realidade viva”, in Público Magazine, 3-3-1991. (informação colhida em José Pacheco Pereira, op. cit. p. 186).6 José Pacheco Pereira, op. cit., p. 186.7 Cf. Carlos Vidal, “A arte e a liberdade das contradições: sobre o pensamento estético de Álvaro Cunhal”, in Caderno Vermelho, nº 21, Lisboa, Ed. Avante, p. 11.

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ração dos dois artistas8. Nesse equilíbrio de composição, sai reforçado ao mesmo tempo o sentido de comunidade característico, afinal, tanto dos “desenhos da pri-são” como das séries dos provérbios e das cenas da vida quotidiana identificadas na pintura de Brueghel e ainda de outros pintores dos Países Baixos e da Flandres ao longo dos séculos XVI e XVII, como Hendrick Avercamp, Johannes Vermeer, Pieter de Hooch ou Jan Brueghel, o Jovem.Apesar dessa dimensão de grande admiração pela pintura neerlandesa e flamen-ga, mais atenta ao quotidiano social e menos dada, pela sua matriz protestante, à iconografia religiosa ou às imagens devocionais, os desenhos de Cunhal produ-zidos na Penitenciária de Lisboa e no Forte de Peniche não deixam contudo de

8 José Pacheco Pereira, op. cit., p. 188.

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evocar igualmente cenas bíblicas de grande significado, como a “descida da cruz” – tema que vem do gótico e será trabalhado a partir de Caravaggio com grande dramatismo, acentuando os vícios e as virtudes de uma representação religiosa mais humanizada – respondendo aqui a uma necessidade nítida, particularíssima no contexto da arte portuguesa neorrealista, de conciliar o carácter religioso da imagem com o poder humanista da sua adaptação ao povo, o protagonista por excelência da arte de Álvaro Cunhal. Só em parte podemos aí interpretar, contudo, uma espécie de estranho paradoxo ideológico na expressão estética do artista, ao promover uma invulgar associação entre o materialismo marxista e o espiritua-lismo cristão-católico. Recordemos todavia que não só toda a história da pintura

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ocidental, que já nessa altura alimentava o espírito criativo de Cunhal, é sobeja-mente marcada pela iconografia religiosa renascentista e maneirista em torno da experiência humana de Cristo, e por toda a vivacidade transcendental da pintu-ra barroca, de grande impacto após a Contra-Reforma promovida pelo Vaticano com o Concílio de Trento, como Jesus Cristo é, em muitos aspetos, considerado por algumas leituras mais despiritualizadas como símbolo maior do próprio povo, pois apesar da sua aclamada “ascendência divina”, terá de facto nascido no seio de uma família de humildes trabalhadores (José, pai de Jesus, era carpinteiro). Nessa medida, as evocações da vida de Cristo, mas também as imagens de deposições no túmulo, de rezas e figuras ajoelhadas, de marchas (segundo Pacheco Pereira “procissões sob o manto de manifestações e bandeiras para esconder cruzes”9) e filas de caminheiros (que lembram ainda a obstinação dos peregrinos), ou mesmo de confraternização, dança e comunhão coletiva, podem neste contexto ser inter-pretadas como alusões mais ou menos diretas ao destino de humildade, sacrifício e esperança inabalável da humanidade num futuro radioso que tem as suas origens, precisamente, no cristianismo que, conjuntamente com o judaísmo, viria a definir parte substancial da matriz cultural europeia e de todo o mundo ocidental. Há, porém, um outro aspeto, nomeadamente a versão portuguesa de O Rei Lear de Shakespeare, em que Álvaro Cunhal trabalhou durante esse longo período de reclusão, que poderá ter influenciado algumas das opções estéticas dos chamados “desenhos da prisão”, pois ao mesmo tempo que desenhava esse conjunto sem unidade orgânica, o político-artista produziu ainda alguns desenhos com o propó-sito específico de ilustrar essa obra maior do teatro universal e que revelam uma extraordinária similaridade de processos técnicos e registos figurativos. Se compa-rarmos os dois conjuntos, podemos detetar em ambos uma forte tendência para a criação de cenas dramáticas, acentuando o papel das figuras num apelo humanis-ta inspirador da ação. O dramatismo figural desses desenhos está de acordo, afinal, com a matriz pungente de interpelação e leitura que caracteriza o texto de teatro, quer na sua autonomia literária, quer na sua encenação viva e efémera.Mas em alguns dos “desenhos da prisão” há também muito de Goya e de Van Gogh. De Goya, Cunhal terá algo da sua sensibilidade romântica, motivada pela leitura crítica dos destinos da humanidade, sobretudo evidente nos trabalhadores tom-bados, prostrados no chão, presentes em alguns dos desenhos da prisão, apesar de Cunhal apontar quase sempre, em termos gerais, a um maior sentimento de esperança. De Vincent Van Gogh, sobretudo da sua fase holandesa, em obras como Os comedores de batatas (1885), Cunhal reterá uma atenção expressionista da figura dos trabalhadores como desfavorecidos da sociedade, para além da intensa repre-sentação e expressividade das relações luz-sombra sobre os grupos de figuras. Do mesmo modo que a primeira fase de Van Gogh é influenciada diretamente pelo realismo de cenas rurais de Jean-Francois Millet, Cunhal será igualmente inspirado – patente, por exemplo, nos desenhos das cenas de descanso no feno, ou no que apresenta um grupo de homens em esforço, puxando uma carroça – pelo pintor

9 José Pacheco Pereira, idem, p. 198.

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francês que, com Gustave Courbet e Honoré Daumier, viria a definir uma das prin-cipais etapas da pintura social de todo o século XIX, com repercussões inclusive no período sombrio de Novecentos, identificado pelas imagens de sofrimento e revolta do expressionismo alemão e da “Nova Objetividade”, característico do pós--primeira guerra mundial, ou do realismo social que invadiu a Europa no período entre guerras e ainda após a segunda Grande Guerra, na sequência da destruição massiva do território urbano das grandes cidades europeias e do horror de desu-manização que marcou desde logo a manifestação do Holocausto. Apesar de tudo, no longo período em que estará preso, isto é, durante toda a década de 1950, e conhecendo por certo algumas dessas imagens de dor social e humana, Álvaro Cunhal optará quase sempre por desenhar figuras de movimento esperançoso e união coletiva, como se, superando o horror pela tomada de posição sobre uma das partes envolvidas na nova ordem mundial do pós-guerra, houvesse um desti-no a cumprir, inelutável e a todos os títulos inspirador, que converteria o mundo, mais tarde ou mais cedo, num lugar mais justo e governável. Por isso, os desenhos da prisão, no seu idealismo clássico ao nível da representação das figuras, sugerem sempre uma ideia de fuga, de caminho a trilhar pela convicção transformadora que alimenta a alma dos desfavorecidos pela dinâmica social capitalista: quer sejam os trabalhadores humildes ou os deserdados da sociedade. Por fim, recordemos as palavras de Rogério Ribeiro sobre as circunstâncias específicas da produção destes desenhos: “Estamos a falar de um conjunto de desenhos, não realizados em atelier, como uma sequência normal de trabalho numa perspectiva de desenvolvimento, mas dum homem a quem foi retirada a liberdade, numa prolongada prisão em condições inenarráveis, que quis encontrar, procurando no mais fundo da sua von-tade, a capacidade de, na folha, como uma bandeira branca aberta na cela, implicar o lápis a abrir janelas sobre realidades vividas, inventadas, recriando-as com grande carinho e ternura” 10. A afetividade aqui evocada pode ser identificada, entre muitos outros exemplos, nesse desenho de Julho de 1958, marcado pela serena altivez de duas mulheres, por certo camponesas, que olham para fora de campo, descalças e humildemente vestidas, mas que mantêm intocável a sua dignidade humana, expressa na condição de figuras artisticamente representadas. Neste sentido, defendemos o lirismo e o espírito de confiança projetiva que ema-nam, de uma forma geral, dos desenhos de Álvaro Cunhal, contrariando assim a análise de Pacheco Pereira sobre o tom negativo que prevalece nesses mesmos “desenhos da prisão”, ao afirmar de modo conclusivo: “é a presença de uma enor-me tristeza impregnando quase todos os desenhos, mostrando um mundo mais impotente face ao destino do que a vulgata optimista do marxismo poderia fazer prever”11. Apesar da presença do grotesco, por vezes, até do tema da morte, re-forçado ainda pelos dramáticos contrastes lumínicos da maioria dessas imagens desenhadas, parece-nos contudo mais decisivo e permanente um sentimento (produzido por alguém que está preso há muitos anos) que mistura força, determi-

10 Rogério Ribeiro, “Álvaro Cunhal e a sua criação artística”, in Álvaro Cunhal – Desenhos da prisão (catálogo), Santiago do Cacém, Câmara Municipal de Santiago do Cacém/Museu Municipal, 2006, pp. 9-10.11 José Pacheco Pereira, op. cit., p. 198.

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nação e esperança nessas caminhadas, nas manifestações de resistência perante as cargas policiais, na união, camaradagem e entreajuda entre figuras que surgem quase sempre em grande número no plano da imagem, como dinâmica coletiva que luta contra a opressão, seja em cenário de guerra ou nas circunstâncias humi-lhantes da Praça de Jorna. Podemos ainda detetar essa dimensão comunitária en-volvente na exaltação festiva (não esqueçamos como a dança de roda é inspirada na memória dos encontros em festa do MUD Juvenil, do final da década de 1940),

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ou mesmo ainda quando mantêm um vínculo mais metafísico com a realidade envolvente, patente nas cenas do carnaval, da fantasmagoria, das fugas em massa, ou das longas marchas de “refugiados”. Entre as sombras da humanidade e a força de união necessária à sua superação, Álvaro Cunhal dá-nos sobretudo a imagem do compromisso e da solidariedade de cada um de nós com o destino coletivo, assumindo este uma protagonização extraordinária e incomum, sem paralelo até então na arte portuguesa do século XX.

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CATÁLOGO catalogação documental e desenhos

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Núcleo 1Origens e ambiente familiar

[cat.1]Areias secas: contos e desenhos / Avelino Cunhal. – [Lisboa?], [s.d.]. – Orig. ms.: 232p. ; 5 il; p&b5 desenhos originais a tinta da china, à pena e a pincel, grafite sobre papel. – ilustrações do livro “Areias secas”, de Avelino Cunhal, fal-tam os desenhos do 3ª e 5ª contos.Espólio Avelino CunhalMNR

[cat.2]Senalonga: pequenas histórias de uma vila em 1900 / Avelino Cunhal. - Lisboa: Prelo, 1965. - 283 p. ; 20 cmCom dedicatória do autor a Eugénia CunhalCol. Eugénia Cunhal

[cat. 3]Nevroses: contos / Avelino Cunhal. – Coim-bra: Ed. do autor, 1915. – 132, [3]; 17 cmFundação Calouste Gulbenkian-Biblioteca de ArteCol. Bordalo BottoBB 8258

[cat.4]Nanufar no charco: romance / Avelino Cunhal. – Lisboa, 1935. – 11 p.; 21 il; p&b21 Desenhos originais a tinta-da-china so-bre papel. – Ilustrações do livro “Nanufar no charco”, de Avelino CunhalEspólio Avelino CunhalMNR

Nenúfar no charco: romance / Avelino Cunhal. - Lisboa: Edições Leitor, 2009. - 333, [2] p.; 21 cm Ilustrações do autor. - Com dedicatória ao MNRMNR CUN/ROM/7626

[cat.5]Direito rebarbativo: consequências de uma discordância / Avelino CunhalIn: Diabo. - A. III, nº 123, (8 Nov. 1936), p. 5MNR PP 17

[cat.6]Deu morte de homem: conto / Avelino CunhalIn: Diabo. - A. V, nº 226 (21 Jan. 1939), p. 1MNR PP 17

[cat.7]E a viagem começou ali: conto/ Avelino CunhalIn: Diabo. - A. VI, nº 248 (24 Jun. 1939), p. 6MNR PP 17

[cat.8]E não salvou ninguém / Avelino CunhalIn: Diabo. - A. VI, nº 259 (9 Set. 1939), p. 5

[cat.9]Naquele Banco: peça em um ato / Pedro SerôdioIn: Vértice. - Vol. 4, nº 48 (Jul. 1947), p. 208-223Pedro Serôdio é o pseudónimo de Avelino Cunhal MNR PP 1

[cat.10]Dois compartimentos: peça em 1 ato / Pe-dro Serôdio. - [Coimbra?] [s.d.]. – Orig. ms: 57 fl; 21, 5x13,5 cmPedro Serôdio é pseudónimo de Avelino CunhalEspólio Avelino CunhalMNR

Dois compartimentos: teatro / Avelino Cunhal. – CITAC-Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra: Coimbra, [s.d.]. – Orig. dat.: 11 fl; 29,5x20 cmEspólio Literário Joaquim NamoradoMNR ESPLIT/NAM/A/5/10.29

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[cat.11][Casa onde nasceu Álvaro Cunhal, [s.d.]]. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: sépia Casa onde nasceu Álvaro Cunhal a 10 de Novem-bro de 1913, Coimbra. - Reprodução de foto. – In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Co-memorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 17

[cat.12][Álvaro Cunhal (ao centro da imagem) com Maria Mansueta e António, [s.d.]]. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: sépia Reprodução de foto. – In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Cente-nário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 18

[cat.13][Álvaro Cunhal com amigos do Liceu Ca-mões, 1920]. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: p&b Reprodução de foto. – In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Cente-nário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 19

[cat.14][Termos do registo do aproveitamento es-colar de Álvaro Cunhal]. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: sépia Aproveitamento escolar de Álvaro Cunhal duran-te a frequência do Liceu Pedro Nunes, ano lectivo de 1924-1925 e Liceu Camões, de 1925-1926 até 1930-1931. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Co-missão das Comemorações do Centenário de Ál-varo Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 20

[cat.15][Foto dos pais de Álvaro Cunhal com a irmã mais nova, Eugénia Cunhal, [s. d.]]. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: sépiaReprodução de foto. – In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Cente-nário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 20

[cat.16][Álvaro Cunhal na praia com a família, [s.d]]. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: sépiaReprodução de foto. – In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Cente-nário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 20

[cat.17][Avelino Cunhal: pai de Álvaro Cunhal, Costa da Caparica, 1957]. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: sépiaReprodução de foto. – In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Cente-nário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 21

[cat.18][Bilhete de identidade do aluno Álvaro Bar-reirinhas Cunhal no seu primeiro ano de curso, 1931] / Universidade de Lisboa- Fa-culdade de Direito. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: color Reprodução de imagem. – In: Álvaro Cunhal: fo-tobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante,2013, p. 24

[cat.19][Álvaro Cunhal com a irmã mais nova, Eugé-nia Cunhal[s.d.]]. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Re-prod. ampl.: sépiaReprodução de foto. – In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Cente-nário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 25

[cat.20][Álvaro Cunhal numa expressão de força e alegria]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 25

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Núcleo 2Construir o neorrealismo

[cat.21][Panfleto da campanha de divulgação de “O jovem” órgão central da FCPJ-Federação da Juventude Comunista Portuguesa, anos 30]. – V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: colorReprodução de imagem. – In: Álvaro Cunhal: fo-tobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 34

[cat.22]Personalidade / Álvaro Cunhal.- V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.; 2 fl.: sépia Reprodução de imagem cedida pelo BN. – In: Jor-nal ”Estudantes livres”. - A. 1 30 Out. 1930), folha de rosto e p. 4 Biblioteca NacionalCota: J. 3925/1M

[cat.23]Felicidade e infelicidade / Álvaro Cunhal.- V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.; 2 fl.: sépia Reprodução de imagem cedida pelo BN. – In: Jor-nal ”Estudantes livres”. - A. 1 (30 Out. 1930), p. 6, 8Biblioteca NacionalCota: J. 3925/1M

[cat.24]Questões de realismo / Álvaro Cunhal In: Obras escolhidas / Álvaro Cunhal; coord. pref. e notas, Francisco Melo. - Lisboa : Edições Avante, 2007. Vol. IV: 1967-1974 . - P. 785 - 816MNR/CUN/ENS/7728

[cat.25]Cadernos da juventude: ensaio, novela, poe-sia, inquérito / Câmara Municipal de Coimbra. - Coimbra : Câmara Municipal, 1997. - 63 p. : il. ; 19 cm Edição facsimilada da edição de 1937MNR 6367

[cat.26]Um certo tipo de intelectuais / Álvaro CunhalIn: Diabo. - A. V, nº 224 (7 Jan. 1939), p. 3MNR PP 17

[cat.27]Um problema de consciência / Álvaro CunhalIn: Diabo. - A. V, nº 233 (11 Mar. 1939), p. 1, 4MNR PP 17

[cat.28]Mar de sargaços / Álvaro Cunhal. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod ampl; 7 fl.: sépiaOriginal datiloscrito em Março de 1939 para o “Diabo”, publicado em 8 de Abr. de 1939. - Reprod. de imagens cedidas pelo PCP- Comissão das Co-memorações do Centenário de Álvaro Cunhal

[cat.29]Mar de sargaços / Álvaro CunhalIn: Diabo. - A. V, nº 237 (8 Abr. 1939), p. 1, 4MNR PP 17

[cat.30]Numa encruzilhada dos homens ( a propó-sito das cartas intemporais de José Régio) / Álvaro Cunhal In: Sol Nascente. – A. III, nº 37 (1 de Jun. 1939), p 7, 11MNR PP 52

[cat.31]“E serão dois numa só carne”/ Álvaro Cunhal.- V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod ampl.; 9 fl.: sépiaOriginal datiloscrito em Maio de 1939 para o “Sol Nascente”. - Reprod. de imagens cedidas pelo PCP- Comissão das Comemorações do Centená-rio de Álvaro Cunhal

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[cat.32]“E serão dois numa só carne”/ Álvaro CunhalIn: Sol Nascente. – A. III, nº 39 (15 Out. 1939), p 11, 13MNR PP 52 [cat.33]Aviso prévio / Álvaro Cunhal.- V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod ampl.; 7 fl.: sépiaOriginal manuscrito em Dezembro de 1939 para o “Diabo”, publicado em 6 de Jan. de 1940 . - Re-prod. de imagens cedidas pelo PCP- Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal

[cat.34]Meu caro amigo: / Alexandre Babo. – Lisboa, 19 Out. 1941. – Carta: orig. ms: 1 fl.; 17,5x25 (dob. em 2) cm Carta enviada a Soeiro Pereira Gomes que refere Álvaro Cunhal. - Contem esquema da capa de “Es-teiros” de Soeiro Pereira Gomes; il. Álvaro Cunhal, ed. Sirius, 1941 Espólio Literário Soeiro Pereira GomesMNR ESPLIT/GOM/A2/6.2.12

[cat.35]Amigo: / Álvaro Cunhal. – Lisboa, 23 Out. 1941.- V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.; 2 fl.: sépiaCarta ms; 2 fl, enviada por Álvaro Cunhal a Soeiro Pereira Gomes sobre a ilustração de “Esteiros” de Soeiro Pereira Gomes; il. Álvaro Cunhal, ed. Sirius, 1941. - - Reprod. de imagens cedidas pelo PCP- Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal

[cat.36]Esteiros / Soeiro Pereira Gomes; capa e de-senhos de Álvaro Cunhal. - 1ª ed. -Lisboa : Edições Sírius, 1941. - 297, [1] p. : il. ; 20 cm. - (Romance ; 2) MNR GOM/ROM/2223

[cat.37][Desenhos de Álvaro Cunhal (original data de 1941) ].- V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bIn: Esteiros / Soeiro Pereira Gomes; capa e dese-nhos de Álvaro Cunhal. - 1ª ed. -Lisboa : Edições Sírius, 1941. - 297, [1] p. : il. ; 20 cm. - (Romance ; 2)

[cat.38]Um conto/ Soeiro Pereira Gomes; il. Álvaro CunhalIn: Leitura. – Nº 35 (Nov. 1945), p.11-13Espólio Literário Soeiro Pereira GomesMNR ESPLIT/GOM/A2/9.54-B

[cat.39][Álvaro Cunhal no barco “Liberdade” num dos Passeios do Tejo].- V. F. Xira: MNR, 2013. –Reprod ampl.: p&b; 10x15 cmPasseio cultural no Rio Tejo, no barco Álvaro Cunhal, Soeiro Pereira Gomes e Jerónimo Tarrinca, proprietário do “Liberdade “e outros. - Estes pas-seios efectuavam-se entre Vila Franca de Xira e Azambuja (Obras), Rio Tejo, [1940-42] MNR ARQFOT/448

[cat.40][Álvaro Cunhal no barco “Liberdade” num dos Passeios do Tejo a falar com Soeiro Pe-reira Gomes].- V. F. Xira: MNR, 2013. –Reprod ampl. : p&b; 10x15 cmPasseio cultural no Rio Tejo, no barco Álvaro Cunhal, Soeiro Pereira Gomes e Jerónimo Tarrinca, proprietário do “Liberdade “e outros. - Estes pas-seios efectuavam-se entre Vila Franca de Xira e Azambuja (Obras), Rio Tejo, [1940-42] MNR ARQFOT/449

[cat.41][Álvaro Cunhal entre um grupo de estudan-te da Faculdade de Direito de Lisboa [s.d.]]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprodução de foto. –– In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Centená-rio de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 27

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[cat.42]Um inédito de Soeiro Pereira Gomes / Soeiro Pereira Gomes; Antonio Dias Lourenço Cé-lula dos Editores e Livreiros da ORL do PCP. – [Lisboa]: Célula dos Editores e Livreiros da ORL do PCP, 1980Opúsculo/Carta de Soeiro Pereira Gomes dirigida à Comissão dos Escritores, Jornalistas e Artistas Democráticos (M.U.D.), Lisboa (25 Dez. 1946). – Desenho da capa “Outono”, que ilustra os “Estei-ros”, autoria de Álvaro CunhalMNR ESPLIT/GOM/A2/6.1.6/B

[cat.43][Acto da trasladação dos corpos dos antifas-cistas assassinados no Tarrafal para o Cemi-tério do Alto de São João, a 18 de Fevereiro de 1978]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprodução de foto. –– In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Centená-rio de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 39

[cat.44] [Álvaro Cunhal em 1937, aquando da sua primeira prisão, tinha 23 anos]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p.42

Núcleo 3produção e polémica interna

[cat.45]Até amanhã, camaradas / Manuel Tiago. - Lisboa : Avante, 1974. - 334, [1] p. ; 21 cm. - (Resistência) Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro CunhalMNR TIA/ROM/2706

[cat.46]Praça de jorna / Soeiro Pereira Gomes. - Lis-boa: Organização dos Técnicos Agrícolas da Direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP (22 Set.1976). - 23 p. : il. ; 21 cm Capa e ilustração: desenhos da Prisão por Álvaro Cunhal. – Escrito na clandestinidade em 1946MNR ESPLIT/GOM/A2/4.7

[cat.47][Panfleto de protesto contra o isolamento de Álvaro Cunhal na Penitenciária de Lisboa “A vida de Álvaro Cunhal está em perigo”, 1953]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: colorReprod. de imagem. –– In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Cente-nário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 68

[cat.48]Cinco notas sobre forma e conteúdo / An-tónio ValeIn: Vértice. - Vol. XIV, nº 131 (Ago. – Set.1954), p. 466-484Álvaro Cunhal sob o pseudónimo António ValeMNR PP 1

[cat.49]O pio dos mochos: ao cam. Duarte / [Soeiro Pereira Gomes]. – [S.l.]; [s.n.], Primavera 1945. – Orig. dat. c/ ems. ms: 3 fl; 27,4x21,4 cm Versão acrescentada da publ. na 1ª ed. de “Contos vermelhos”., 1949, ed, clandestina. – Publ. em “Con-tos vermelhos“, 1957. – Dedicado ao camarada Du-arte, pseud. de Álvaro CunhalMNR ESPLIT/GOM/A2/2.15-B

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[cat.50][Forte de Peniche, de onde Álvaro Cunhal fugiu em 3 de Janeiro de 1960 ]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. - Forte de Peniche uma das mais bem guardadas prisões do fascismo, de onde Ál-varo Cunhal fugiu em 3 de Janeiro de 1960. – In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Co-memorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 80 [cat.51][Ficha de recluso nº 445/56, Álvaro Barreiri-nhas Cunhal]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Re-prod. ampl.: p&bReprodução da ficha de recluso de Álvaro Barreiri-nhas Cunhal, na Cadeia do Forte de Peniche, para onde foi transferido da Penitenciária de Lisboa a 27 de Julho de 1956. - In: Álvaro Cunhal: fotobio-grafia/Comissão das Comemorações do Cente-nário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 61

[cat.52]Cinco dias, cinco noites: novela / Manuel Tiago. - Lisboa : Avante, 1975. - 88, [5] p. ; 21 cm. - (Resistência) Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro Cunhal. – Com assinatura de Manuel de Campos Lima, 1977Biblioteca Particular Campos LimaMNR BIBPAR/LIM/440

[cat.53]As lutas de classes em Portugal nos fins da Idade Média / Álvaro Cunhal. -Lisboa : Estampa, 1975. - 132, [3] p. ; 19 cm. - ( col. teoria; 27) Com assinatura de Manuel Campos Lima,1976Biblioteca Particular Campos LimaMNR BIBPAR/LIM/311

[cat.54]Álvaro Cunhal: desenhos da prisão / Álvaro Cunhal; org. Câmara Municipal de Santiago do Cacém-Museu Municipal; texto de Rogé-rio Ribeiro. - Santiago do Cacém : Câmara Municipal , 2006. - 37 p. ; 30 cm Exposição patente 1 de Abril a 20 de Maio de 2006 MNR CAT/ALV/7840

[cat.55]Les luttes de classe au Portugal a la fin du moyen age / Álvaro Cunhal. - Paris : Centre d’Études et de Recherches Marxistes, 1967. - 54 p. ; 27 cm. - (Les Cahiers / Centre d’Études et de Recherches Marxistes ; 56) MNR CUN/ENS/4196

[cat.56]A questão agrária em Portugal / Álvaro Cunhal. - Rio de Janeiro : Civilização Brasilei-ra, 1968. - 393, [2] p. ; 21 cm. - (Perspectivas do Homem ; 27. Ciências Sociais)MNR CUN/ENS/3152 [cat.57] [Álvaro Cunhal no período em que foi pre-so]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiogra-fia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 64

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Núcleo 4A arte e a vida

[cat.58]Com a arte para transformar a vida / 1a As-sembleia de Artes e Letras da O. R. L. do P. C. P. - Lisboa : Avante, (1978). - 214, [1] p. ; 21 cm. - (Cadernos do P.C.P.; 13) Reprod. ampl. da capa e páginas 210-211 Col. João Madeira

[cat.59]Meu querido filho / Avelino Cunhal. – Lis-boa, 7 Jan. 1955. – V. F. Xira: MNR, 2013. –Re-prod. ampl.: colorReprod. de carta de Avelino Cunhal enviada a seu a seu filho Álvaro Cunhal, Lisboa 1955

Exmº Senhor Director da Cadeia Penitenci-ária de Lisboa / Álvaro Cunhal. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: colorRequerimento de Álvaro Cunhal ao director da prisão. - In: Cadernos da prisão [Registo multi-média] /Alvaro Cunhal. - Lisboa : Avante, 2010. - 1 Disco (CD-ROM) , p164. – Caderno 28 com docu-mentos de 24 Abr. 1953 a 27 Dez. 1955Col. João Madeira

[cat.60] Álvaro Cunhal Secretário-Geral do Partido. – V. F. Xira: MNR, 2013. –Reprod. ampl.: p&bIn: “Avante”. – A. 30, série VI, nº 299 (Abr. 1961), p. 1Imagem retirada do “site” da Fundação Mário SoaresModo de acesso: http://casacomum.net/cc/visualizador?pasta=04435.161

[cat.61]Amigo: / Álvaro Cunhal. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.: carta datiloscrita; 1 fl.: sépiaReprod. de carta de Álvaro Cunhal enviada a Má-rio Dionísio, Lisboa, Nov. 1960 Col. Mário Dionísio (Casa da Achada)

[cat.62]Amigo / Mário Dionísio. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.: carta datiloscrita; 1 fl.: colorReprod. de carta de Mário Dionísio a Álvaro Cunhal enviada a, Nov. 1960 Col. Mário Dionísio (Casa da Achada)

[cat.63][Álvaro Cunhal com pioneiros soviéticos [anos 60]]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 90

[cat.64][Álvaro Cunhal entre os convidados estran-geiros ao XXIII congresso do PCUS, Mosco-vo 1966]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 97

[cat.65][Relatório “Rumo à vitória” apresentado por Álvaro Cunhal ao Comité Central , Abril de 1964]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 95

[cat.66]Meu caro Álvaro Cunhal / Mário Dionísio. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.: carta manuscri-ta; 2 fl.: p&bReprod. de imagem. - Carta de Mário Dionísio en-viada a Álvaro Cunhal, Lisboa, 5 Mai. 1974Col. Mário Dionísio (Casa da Achada) DOS-2-29-doc 1/ 2- 001/002

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[cat.67]Fazer um balanço da própria vida…/ Álvaro Cunhal. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.: car-ta manuscrita;1 fl.: p&bReprod. de imagem. - Carta de Álvaro Cunhal en-viada a Mário Dionísio, Dez. 1987Col. Mário Dionísio (Casa da Achada) DOS-2-29-doc 1- 001

[cat.68][Álvaro Cunhal, Fernando Lopes Graça, Ma-ria Lamas e Armindo Rodrigues no Comício do PCP]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. – Comício do PCP no Campo Pequeno, em Lisboa em 28 Junho de 1974. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Co-memorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 129

[cat.69][Álvaro Cunhal e Octávio Pato no espectá-culo de Canto Livre promovido pela UJC, 14 de Fev. 1976 ]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Re-prod. ampl.: p&bReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 147

[cat.70][Álvaro Cunhal com Manuel da Fonseca no Centro de Trabalho Soeiro Pereira Gomes]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p.. 238

[cat.71][Álvaro Cunhal falando com o escritor Urba-no Tavares Rodrigues, no dia do lançamen-to de “A estrela de seis pontas”]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: colorIn: Álvaro Cunhal: o homem e o mito/Joaquim Vieira. – Carnaxide: Objectiva, 2013, p. 304MNR VIE/BIO/8073 [cat.72][Álvaro Cunhal com Álvaro Perdigão em vi-sita à Bienal da Festa do Avante, 1997]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 252

[cat.73]Por exemplos / Sérgio Ribeiro; il. Álvaro Cunhal. –1ª ed. - [s.l.]: Edição do Autor, 2013. – 103 p.: 21 cm. – (Caderno de aponta men-tes; 2)Ilustrações das p. 55, 83Oferta de Sérgio Ribeiro, com dedicatória ao MNR

[cat.74][Álvaro Cunhal com Humberto Delgado, após a criação da FPNL [anos 60] ]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. – FPLN-Frente Patriótica de Liber-tação Nacional. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 92

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Núcleo 5a arte, o artista e a sociedade

[cat.75]A arte, o artista e a sociedade / Álvaro Cunhal. - Lisboa : Caminho, cop. 1996. - 218 p. : il. color ; 31 cm MNR CUN/ENS/5554

[cat.76][Álvaro Cunhal na sessão sobre a obra “A arte, o artista e a sociedade”]. – V. F. Xira: MNR, 2013. –Reprod. ampl.: colorReprod. de foto de Paulo Santos Chaves, cedida pela Câmara Municipal de Santiago do Cacém

[cat.77]Cunhal: reflexões sobre a arte e sociedade/ J.P.In: Público. – (16 Nov. 1996), p. 31 MNR ARQIMP-CRIT/CUN

[cat.78]A casa de Eulália: romance / Manuel Tiago. - Lisboa : Avante, 1997. - 202, [5] p. ; 21 cm. - (Resistência) Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro CunhalMNR TIA/ROM/7140

[cat.79]Os corrécios e outros contos / Manuel Tiago. - Lisboa : Avante, 2002. - 219, [4] p. ; 21 cm. - (Resistência) Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro CunhalMNR TIA/CON/7141

[cat.80]A estrela de seis pontas / Manuel Tiago. - 2ª ed. - Lisboa : Avante, 1994. - 217, [3] p. : il. ; 21 cm. - (Resistência) Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro CunhalMNR TIA/ROM/6030

[cat.81][Álvaro Cunhal na sessão sobre a obra “A es-trela de seis pontas”], depois de assumir o pseudónimo de Manuel Tiago]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: colorReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 272 [cat.82]Fronteiras: contos / Manuel Tiago. - Lisboa : Avante, 1998. - 174, [2] p. ; 21 cm. - (Resis-tência) Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro CunhalMNR TIA/CON/6202

[cat.83]Um risco na Areia: romance / Manuel Tiago. - Lisboa : Avante, 2000. - 167 p. ; 21 cm. - (Re-sistência) Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro CunhalMNR TIA/ROM/6579

[cat.84]Sala 3 e outros contos / Manuel Tiago. - Lis-boa : Avante, 2001. - 186, [3] p. ; 21 cm. - (Re-sistência)Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro CunhalMNR TIA/CON/7139

[cat.85]Lutas e vidas: um conto / Manuel Tiago. - 2ª. ed. - Lisboa : Edições Avante, 2003. - 84, [3] p. ; 21 cm. - (Resistência) Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro CunhalMNR TIA/CON/7480

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[cat.86]Cunhal desfaz mistério “Manuel Tiago sou eu” In: Público. – A. 5, nº 1744, (15 Dez. 1994), p.[?]Imagem de Luis VasconcelosMNR ARQIMP-CRIT/CUN

[cat.87]O mistério acabou: Manuel Tiago é Álvaro Cunhal / Torcato SepúlvedaIn: Público. – A. 5, nº 1744, (15 Dez. 1994), p. [48] Imagem de Luis VasconcelosMNR ARQIMP-CRIT/CUN

[cat.88]Conferência sobre arte, em Lisboa: Cunhal revisionista/ João PinharandaIn: Público. – A 8 (8 Mai. 1997) MNR ARQIMP-CRIT/CUN

[cat.89]Um criador de mitos, um novo e curioso li-vro de contos assinado por Manuel Tiago / Helena BarbasIn: Expresso. – (25 Jan. 2003) p. 44-45 Manuel Tiago é pseudónimo literário de Álvaro CunhalMNR ARQIMP-CRIT/CUN

[cat.90]Álvaro Cunhal: as fotos desconhecidas / João Céu e SilvaIn: Diário de Noticias. – A. 149, nº 52 720 (16 Ago. 2013), p. 28-29Lançamento do livro “Álvaro Cunhal: fotobiogra-fia”, nas comemorações do centenário do seu nascimentoMNR ARQIMP-CRIT/CUN

[cat.91][Álvaro Cunhal na sessão sobre a obra “Até amanhã camaradas”], depois de assumir o pseudónimo de Manuel Tiago]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 259

[cat.92][Álvaro Cunhal,13 de Junho 2005]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Ál-varo Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 264

[cat.93][Álvaro Cunhal, [1985]]. – V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.: p&bReprod. de foto. - In: Álvaro Cunhal: fotobiografia/Comissão das Comemorações do Centenário de Ál-varo Cunhal. – Lisboa: Edições Avante, 2013, p. 216

[cat.94]Entrevista a Álvaro cunhal: “A arte, o artista e a sociedade” [Registo de vídeo] / Clara Ferreira Alves. – Lisboa: RTP-Rádio Televisão Portuguesa, SA,1997. –1 disco (DVD) (ca 90 (DVD): colorMNR ENT/ALV/362 DVD

Artes plásticas

[cat.95]O Menino da Bandeira Branca, 1947 Avelino CunhalÓleo s/ tela114,2cm X 89,3cmCol. MNR (MNR-R.001218-13)

[cat.96]S/ título, 1953 (Reprodução)Álvaro CunhalÓleo s/ tela 77cm X 103cm (c/mold.)Col. Maria Eugénia Cunhal

[cat.97][Pintura], n.d. [1ª metade da década de 50] Álvaro CunhalSerigrafiaMancha: 36,5cm X 63cmSuporte: 56cm X 75cmCol. MNR (MNR-R.001131-11)

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Desenhos da Prisão, Álvaro Cunhal[I série], [1ª edição], Edições Avante, Lisboa, 19751 álbum: 25 desenhos (Reprod.) Dim álbum: 48,5 x 34,5 cm; desenhos: 48 x 34 cmDesenhos a grafite s/ papel executados entre 1951 e 1959, nas cadeias da Penitenciária de Lisboa e do Forte de Peniche.

Coleção Museu do Neo-Realismo (Espólio Alexandre Cabral)

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Desenhos da Prisão, Álvaro Cunhal[I série], [1ª edição], Edições Avante, Lisboa, 19751 álbum: 25 desenhos (Reprod.) Dim álbum: 48,5 x 34,5 cm; desenhos: 48 x 34 cmDesenhos a grafite s/ papel executados entre 1951 e 1959, nas cadeias da Penitenciária de Lisboa e do Forte de Peniche.

Coleção Museu do Neo-Realismo (Espólio Alexandre Cabral)

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Desenhos da Prisão, Álvaro Cunhal[II série], [1ª edição], Edições Avante, Lisboa, 19891 álbum: 17 desenhos (Reprod.) Dim álbum: 48,5 x 34,5 cm; desenhos: 48 x 34 cmDesenhos a grafite s/ papel executados entre 1951 e 1959, nas cadeias da Penitenciária de Lisboa e do Forte de Peniche.

Coleção Museu do Neo-Realismo

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No centenário do nascimento de Álvaro Cunhal ...................... 7

Alberto MesquitaPresidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

Apresentação...................... 9David Santos

Coordenador do Museu do Neo-realismo

Em cada encruzilhada, escolher um caminho ...................... 13João Madeira

Investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e Curador da Exposição

Desenho e fuga. Álvaro Cunhal e os desenhos da prisão.............. 45

David SantosHistoriador de Arte e Coordenador do Museu do Neo-realismo

Catalogação ...................... 57

Câmara Municipalde Vila Franca de Xira

ApoiosOrganização

Álvaro Cunhal, o jovem inconformado, o resis-tente antifascista, o dirigente comunista histórico respeitado e prestigiado foi também ensaísta, pu-blicista, artista plástico e escritor.Nele se funde entrega quotidiana e capacidade de sofrimento com pensamento e doutrina, sen-tido estratégico de combate.Do jovem Cunhal dos primeiros escritos em Es-tudantes Livres ao crítico amadurecido e sagaz de A Arte, o Artista e a Sociedade une-se uma linha de vida cheia e atribulada. Entre as múltiplas ta-refas partidárias, as agruras da prisão e o outono da vida, esteve o polemista temido, o desenhista compulsivo, o escritor das manhãs por vir, o histo-riador do povo em movimento, o tradutor esfor-çado, o ensaísta polifacetado.Numa encruzilhada de homens, traçando cami-nhos, viu no ensaísmo crítico e na criação artística instrumento de combate e esteio de uma cultura integral, síntese que quis coerente num século de marés revoltas.

João Madeira

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