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uem nunca olhou a Lua e começou a pensar na vida? Ou nunca se im- pressionou com seu brilho e suas facetas e se deixou influenciar por sua beleza e seu poder? Fosse nos tempos antigos ou nos tempos modernos, este corpo celeste sempre exerceu grande influência sobre as pes- soas. Diversas tragédias da história e grandes romances da antiguidade, como Romeu e Julieta, tiveram a Lua como teste- munha. Único satélite natural da Terra, a Lua é o astro mais fácil de ser observado a olho nu e o que está mais perto também: em sua fase mais próxima, chamada perigeu, a distância é de 356.334 km. No apogeu, quando está mais dis- tante, é de 406.610 km. Há mais de seis mil anos, ainda na Mesopotâmia, os homens es- tabeleceram com a Lua uma re- lação de fascinação e fantasia. Observaram a regularidade dos fenômenos celestes e perceberam que, ao acompanhá-los, era pos- sível marcar a passagem de tempo. Em função das mudanças de fase da Lua a cada sete dias, estabeleceram um calendário, criando o mês e a semana. Em italiano, espanhol e francês a segunda-feira é o “dia da Lua” (lunedi, lunes e lundi, respectiva- mente). A tradição judaica, árabe e chinesa ainda mantêm o ca- lendário de base lunar. Galileu Galilei, astrônomo ita- liano morto no século XVII, foi o primeiro a construir uma luneta, com a intenção de observar o céu. Em 1610, ele registrou a pre- sença de mares, crateras e mon- tanhas na Lua. Ele observou tam- bém que Vênus tem as mesmas fases da Lua e concluiu que o pla- neta, assim como a Terra, orbita ao redor do Sol. Além disso, de- fendeu a teoria de um sistema heliocêntrico – no qual o sol é o centro do universo. Em 20 de julho de 1969, o as- tronauta norte-americano Neil Armstrong disse a célebre frase: “Um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade”. O homem pisou na Lua há mais de 30 anos, e, desde então, muitos outros pas- sos foram dados no ramo da ciência e da tecnologia, a fim de que os mistérios que este astro esconde pudessem ser desvenda- dos. Sempre a mesma face volta- da para a Terra A Lua realiza, simultanea- mente, o movimento de trans- lação – pelo qual descreve uma órbita elíptica em torno da Terra em 27 dias, sete horas e 43 minu- tos – e o de rotação em torno de seu próprio eixo, que acontece em igual intervalo de tempo. Dessa forma, a Lua tem sempre a mesma face voltada para a Terra, pois a rotação lunar é um movi- mento praticamente uniforme. A órbita lunar é oblíqua em relação à elipse que a Terra descreve em torno do Sol, o que impede seu alinhamento exato com o “astro-rei”. O alinhamento Lua-Sol ocorre somente quando se cruzam ambas as órbitas de translação, provocando eclipses solares, em fase de lua nova, e da Lua, em fase de lua cheia. A incli- nação da órbita lunar impede que haja um eclipse a cada lua cheia. Os eclipses da Lua podem ELTON PAIVA, FÁBIA BARRETO, HILANA ZEITUNE E MARIANA SANTOS A lua e seus fascínios Boas Noites 67 Assim como é impossível desassociar a idéia de dia do Sol, não dá pra deixar a Lua de lado ao falar em noite

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uem nunca olhoua Lua e começoua pensar na vida?Ou nunca se im-p ressionou com

seu brilho e suas facetas e sedeixou influenciar por sua belezae seu poder? Fosse nos temposantigos ou nos tempos modernos,este corpo celeste sempre exerceugrande influência sobre as pes-soas. Diversas tragédias dahistória e grandes romances daantiguidade, como Romeu eJulieta, tiveram a Lua como teste-munha.

Único satélite natural da Terra,a Lua é o astro mais fácil de serobservado a olho nu e o que estámais perto também: em sua fasemais próxima, chamada perigeu,a distância é de 356.334 km. Noapogeu, quando está mais dis-tante, é de 406.610 km.

Há mais de seis mil anos, aindana Mesopotâmia, os homens es-tabeleceram com a Lua uma re-lação de fascinação e fantasia.Observaram a regularidade dosfenômenos celestes e perceberamque, ao acompanhá-los, era pos-sível marcar a passagem detempo. Em função das mudançasde fase da Lua a cada sete dias,estabeleceram um calendário,criando o mês e a semana. Emitaliano, espanhol e francês a

segunda-feira é o “dia da Lua”(lunedi, lunes e lundi, respectiva-mente). A tradição judaica, árabee chinesa ainda mantêm o ca-lendário de base lunar.

Galileu Galilei, astrônomo ita-liano morto no século XVII, foi oprimeiro a construir uma luneta,com a intenção de observar océu. Em 1610, ele registrou a pre-sença de mares, crateras e mon-tanhas na Lua. Ele observou tam-bém que Vênus tem as mesmasfases da Lua e concluiu que o pla-neta, assim como a Terra, orbitaao redor do Sol. Além disso, de-fendeu a teoria de um sistemaheliocêntrico – no qual o sol é ocentro do universo.

Em 20 de julho de 1969, o as-t ronauta norte-americano NeilArmstrong disse a célebre frase:“Um pequeno passo para o

homem, mas um grande passopara a humanidade”. O homempisou na Lua há mais de 30 anos,e, desde então, muitos outros pas-sos foram dados no ramo daciência e da tecnologia, a fim deque os mistérios que este astroesconde pudessem ser desvenda-dos.

Sempre a mesma face volta-da para a Terra

A Lua realiza, simultanea-mente, o movimento de trans-lação – pelo qual descreve umaórbita elíptica em torno da Terraem 27 dias, sete horas e 43 minu-tos – e o de rotação em torno deseu próprio eixo, que aconteceem igual intervalo de tempo.Dessa forma, a Lua tem sempre amesma face voltada para a Terra,pois a rotação lunar é um movi-mento praticamente uniforme.

A órbita lunar é oblíqua emrelação à elipse que a Te rr adescreve em torno do Sol, o queimpede seu alinhamento exatocom o “astro-rei”. O alinhamentoLua-Sol ocorre somente quandose cruzam ambas as órbitas detranslação, provocando eclipsessolares, em fase de lua nova, e daLua, em fase de lua cheia. A incli-nação da órbita lunar impedeque haja um eclipse a cada luacheia. Os eclipses da Lua podem

ELTON PAIVA, FÁBIA BARRETO, HILANA ZEITUNE E MARIANA SANTOS

A lua e seusfascínios

Boas Noites 67

Assim como éimpossível

desassociar a idéia de dia do Sol, não dápra deixar a Lua de

lado ao falar em noite

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ser vistos de qualquer ponto doshemisférios, diferentemente dossolares.

O termo “eclipse” tem origemg rega e significa desmaio ouabandono, referindo-se ao obs-c u recimento da luz quando seo b s e rva o Sol ou a Lua durante ofenômeno. Os eclipses são fenô-menos que ocorrem quando aLua, no caso dos eclipses lunare s ,se coloca em posição alinhada eoposta ao Sol, visto a partir daTe rra, e se esconde no cone desombra que a Te rra iluminadap rojeta atrás de si. Como nãotem luz própria, a Lua fica totalou parcialmente obscurecida senão recebe raios de Sol, o queo c o rre quando ela se encontrana fase cheia. É como se osatélite estivesse “de costas” paraa Te rra, com a frente iluminada.Para os povos da Antiguidade,como babilônios e gregos, oseclipses do Sol e da Lua cons-tituem marcos que ajudaram avincular a astronomia à históriae à cronologia.

Através do estudo dos eclipseslunares foram feitas as primeirasestimativas das dimensões e das

distâncias dos astros. Os eclipsesforam a primeira prova que osastrônomos tiveram de que aTerra era redonda e de seus movi-mentos.

Fases da Lua “alimentam”crenças populares

À medida em que a Lua gira aoredor da Terra ao longo do mês,ela passa por um ciclo de fases,durante o qual sua forma parecevariar gradualmente: nova, min-guante, crescente e cheia. Parece,mas não varia. A forma da Lua é

sempre a mesma. O que aconteceé que, sendo ela um corpo ilumi-nado pela luz do Sol, vemos sem-pre a mesma face, às vezes, mais,outras, menos iluminada.

Das quatro fases, a cheia é, semdúvida, a que mais exerce fas-cínio no homem. A lua novaocorre quando ela se coloca entrea Terra e o Sol, e a face voltadapara o nosso planeta fica total-mente escura. Em seguida, surgeuma região iluminada, que vaiaumentando até chegar ao quar-to crescente. A lua cheia acontecequando o disco lunar (projeçãoda lua sobre a esfera celeste) ficatotalmente iluminado. Na se-qüência, a porção iluminadadecresce até o quarto minguante.A partir daí, diminui novamenteaté chegar à lua nova, recome-çando o ciclo.

Popularmente, são associadosà lua cheia lendas de lobisomem,crimes, aumento no número denascimentos e até especulaçõessobre transformações no compor-tamento feminino. Diversos estu-dos já foram feitos, mas atéagora nenhum deles comprovouqualquer relação entre o fenô-meno da lua cheia e o comporta-mento humano.

Até mesmo uma chamada“Dieta da Lua” já foi criada. Noentanto, segundo a nutricionistaVanessa Valverde, “isso é umabobagem”. Segundo a cre n ç a ,reforçada por alguns astrólogos,diz que a dieta deve começarquando a Lua estiver num signofixo – Touro, Leão, Escorpião ouAquário – para prolongar osefeitos do regime. A pessoa deveingerir apenas líquidos a partirda mudança de fase da Lua.

Julho/Dezembro68

Nenhum dos diversosestudos realizados até

agora comprovouqualquer relaçãoentre o fenômeno da Lua cheia e o comportamento

humano

ESO Photo Gallery

A Lua vista dos lagos Andinos

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A nutricionista explica que“qualquer pessoa que passe 24horas só bebendo, vai ficar maisleve, desinchada, como as mu-lheres gostam. Mas isso é dife-rente de emagrecer”.

Outra associação feita constan-temente inclui a Lua como umelemento que influencia no re s u l-tado dos cortes de cabelo: “Te mcliente que chega aqui pra cortar ep e rgunta, já sentada na cadeira,qual é a Lua. Eu sempre re s p o n d oa mesma coisa: é a que vai deixarseu cabelo espetacular”, diz oc a b e l e i re i ro Nestor Maia.

Segundo a crença, cortar o ca-belo durante a Lua cre s c e n t eapressa o crescimento. Na fasecheia, o volume capilar aumen-ta, enquanto que na Lua novafortalece as raízes. Contudo, nafase minguante, os fios enfraque-cem e caem. Sobre o assunto, odermatologista Roberto Favillosaexplica: “O crescimento de pêlos,cabelos principalmente, é contro-lado por hormônios, boa alimen-tação, entre outras coisas. A Luanão tem nada com isso”.

Lendas sobre a Lua são com-provadas cientificamente

Os pesquisadores Ivan Kelly,James Routton e Roger Culver,que escreveram livros e fizerampesquisas sobre o assunto, apon-tam quatro fatores principaispara a sobrevivência das lendas:efeitos da mídia, folclore e tra-dição, concepções errôneas e ví-cios cognitivos.

De fato, a Lua exerce umagrande força de atração gravita-cional sobre a Te rra, e seu efeitomais conhecido é a elevação daságuas dos oceanos duas vezes

por dia, provocando as marés.Mas isto, cientificamente, nãotem relação com a taxa de na-talidade. Esta lenda baseia-se nasuposição de que, sendo o corpohumano formado por 80% deágua – mesma proporção que as u p e rfície da Te rra – e, se a Luainfluencia os oceanos, o mesmoacontece com o corpo humano,afetando seu comport a m e n t o .De acordo com os cientistas, asuposição é incorreta. Este astroafeta massas não confinadas,como os oceanos, enquanto aágua no corpo humano estáconfinada. Além disso, a forçapara causar marés depende dadistância da Te rra, e não de suaf a s e.

As marés ocorrem em interva-los regulares de 12 horas e 12minutos – a cada 24 horas e 50minutos, o mar sobe e desce duasvezes constituindo o fluxo e re-

fluxo das águas. À medida emque a Terra gira, outras regiõespassam a sofrer elevações, comose o nível da água se deslocasseseguindo a Lua. Durante suaconjunção e oposição, nas fasesnova e cheia, a maré alta é muitoalta e a baixa, muito baixa.

A Lua como instrumento deestudo da astrologia

A astrologia, ciência estudadahá milênios, sempre foi alvo decuriosidade e ceticismo. No en-tanto, apesar da disseminação dehoróscopos pela mídia, poucossabem que a Lua e o Sol são osprincipais planetas estudados emum mapa astral. Enquanto o Solé o princípio vital, aparente e quenada esconde, a Lua é o oposto e,ao mesmo tempo, complementar,e incorpora o oculto.

O satélite natural da Te rr aapresenta suas fases no período

Boas Noites 69

A Lua percorre em 28 dias a mandala zodiacal

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de 28 dias que, coincidentemen-te, se iguala ao ciclo menstrualda mulher. A Lua representa oelemento água, o que engloba anutrição, a criança no ventrematerno.

Por isso é importante saber ahora exata do nascimento, “aposição da Lua é necessária parao rigor do mapa astral”, explica aastróloga Monique Yvonne Sou-risseau. Segundo ela, a Lua indicaa necessidade emocional de umapessoa, análise que depende ex-clusivamente do signo e casa ocu-pados pelo satélite no momentodo nascimento.

Uma Lua na casa seis, porexemplo, em qualquer signo queesteja, terá energia de Virgem, ouseja, ligada ao trabalho e à roti-na. Entretanto, existem elemen-tos que definem a influência da

Lua: os aspectos fluentes e os difí-ceis. Os fluentes (representadosno mapa astral pelas linhasazuis) fazem a pessoa mais recep-tiva, dócil e, muitas vezes, com-passiva. Já uma Lua com aspec-tos difíceis tornam o indivíduomenos tolerante. São os aspectosque “suavizam” ou “sublinham”fortes tendências apontadas nomapa.

Lua exerce um importantepapel nas religiões

As lendas sobre a Lua tambémestão presentes em algumas re-ligiões, como o judaísmo, o is-lamismo, religiões incas e afri-canas, e, até mesmo, bruxaria.Cada qual com leis e costumespróprios, tão diferentes entre si,elas têm o satélite natural daTerra em comum.

A influência da Lua varia dereligião para religião. A práticaWicca, que significa feitiçariamoderna, tem uma visão femi-nista da criação do mundo e seidentifica com a natureza. Fre-qüentemente, os membros destacrença recorrem à magia e aosritos para anular negatividade ealcançar crescimento espiritual.Estas práticas são marcadas pelasfases da Lua e pelas quatroestações do ano.

E n t re os povos da ÁfricaAustral, esta idéia está bastantedifundida, como no caso doshotentotes e dos bosquímanos,que vêem a Lua como uma figu-ra boa e amigável. Nas religiõesincas, originárias do Peru, osdeuses eram as forças da na-tureza, principalmente o Sol e aLua. A partir da observação des-tes astros, os sacerdotes incas cri-avam um calendário, que era uti-lizado para calcular um futuropróspero ou desfavorável. As fes-tividades incas e os sacrifícios ofe-recidos também dependiam dosciclos solar e lunar.

A Lua também está presenteem religiões mais conhecidas, talcomo o judaísmo e o islamismo.Apesar de serem, à primeiravista, bastante diferentes, estasreligiões têm muito em comum.Ambas são monoteístas e seuscalendários são lunares. Isto querdizer que o dia começa a ser con-tado a partir do pôr do sol, quan-do está anoitecendo e a Luaaparece. As festividades judaicase islâmicas são contadas atravésda Lua. Por exemplo, o Ramadã,mês sagrado para os muçulma-nos, é contado a partir da apa-rição da Lua.

Janeiro/Junho 200370

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