alternativas para redução de resíduo eletrônico

14
Programa integrado para aumentar a vida útil de computadores: alternativa para diminuir a geração de resíduos eletrônicos. Mirieli A. Zanetti 1 Maurício Dziedzic 2 Paulo Roberto Janissek 3 Resumo Toneladas de resíduos eletro-eletrônicos são descartadas diariamente no meio ambiente sem tratamento adequado. Segundo estimativas de órgãos especializados, o tempo médio de vida útil dos computadores está cada vez menor. Mas a tendência é a redução desses prazos, devido à facilidade de aquisição e a rápida obsolescência. A situação é preocupante, pois estes resíduos são altamente tóxicos, representando um grande risco ao meio ambiente e à saúde humana. Os principais problemas relacionam-se com a lixiviação de metais pesados, quando descartados em lixões e aterros, e a evaporação de substâncias perigosas quando são incinerados de forma inadequada para a recuperação de metais. Algumas substâncias apresentam-se centenas de vezes mais solúveis nos lixiviados de aterros, podendo desta forma atingir um nível considerável de dispersão no ambiente, contaminando o solo e águas subterrâneas. A queima destes resíduos promove a emissão de particulados contendo metais pesados, que apresentam um elevado nível de toxicidade. Através de análise documental, o presente trabalho relata um programa de gerenciamento de computadores em uma universidade em Curitiba, cujo objetivo é prolongar a vida útil desses equipamentos, reduzir a aquisição de equipamentos novos e evitar descartes prematuros, através da prática dos três Rs: O Reuso é praticado no remanejamento dos computadores entre 3 diferentes níveis de usuários, antes de chegar ao final do ciclo, prolongando o tempo de vida dos equipamentos em até 6 anos. Na Redução são reaproveitadas peças provenientes de equipamentos que seriam descartados, evitando novas aquisições desnecessárias. A Reciclagem acontece somente ao final da vida útil do equipamento, quando este não mais atende os padrões mínimos de uso. A saída do campus ocorre através de venda para funcionários, doações ou vendas para empresas especializadas em reciclagem. Palavras-chave: resíduos eletroeletrônicos; reuso; reciclagem. 1 Introdução Os produtos eletrônicos e elétricos tem se tornado obsoletos cada vez mais rapidamente, ocasionando um incremento na geração de um tipo particular de resíduos. Em especial, isso tem sido observado para os equipamentos de informática, eletrodomésticos, vídeo e som, sistemas de iluminação e equipamentos de telefonia móvel e fixa (WIDMER et 1 Mestranda em Gestão Ambiental na Universidade Positivo. [email protected] 2 Pós-Doutorado em Mecânica dos Fluidos na University of Toronto. [email protected] 3 Doutorado em Química na Universidade de São Paulo (USP). [email protected]

Upload: mirieli-zanetti

Post on 22-Jun-2015

598 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

Programa integrado para aumentar a vida útil de computadores:

alternativa para diminuir a geração de resíduos eletrônicos.

Mirieli A. Zanetti1

Maurício Dziedzic2

Paulo Roberto Janissek3

Resumo

Toneladas de resíduos eletro-eletrônicos são descartadas diariamente no meio ambiente sem

tratamento adequado. Segundo estimativas de órgãos especializados, o tempo médio de vida

útil dos computadores está cada vez menor. Mas a tendência é a redução desses prazos,

devido à facilidade de aquisição e a rápida obsolescência. A situação é preocupante, pois estes

resíduos são altamente tóxicos, representando um grande risco ao meio ambiente e à saúde

humana. Os principais problemas relacionam-se com a lixiviação de metais pesados, quando

descartados em lixões e aterros, e a evaporação de substâncias perigosas quando são

incinerados de forma inadequada para a recuperação de metais. Algumas substâncias

apresentam-se centenas de vezes mais solúveis nos lixiviados de aterros, podendo desta forma

atingir um nível considerável de dispersão no ambiente, contaminando o solo e águas

subterrâneas. A queima destes resíduos promove a emissão de particulados contendo metais

pesados, que apresentam um elevado nível de toxicidade. Através de análise documental, o

presente trabalho relata um programa de gerenciamento de computadores em uma

universidade em Curitiba, cujo objetivo é prolongar a vida útil desses equipamentos, reduzir a

aquisição de equipamentos novos e evitar descartes prematuros, através da prática dos três Rs:

O Reuso é praticado no remanejamento dos computadores entre 3 diferentes níveis de

usuários, antes de chegar ao final do ciclo, prolongando o tempo de vida dos equipamentos

em até 6 anos. Na Redução são reaproveitadas peças provenientes de equipamentos que

seriam descartados, evitando novas aquisições desnecessárias. A Reciclagem acontece

somente ao final da vida útil do equipamento, quando este não mais atende os padrões

mínimos de uso. A saída do campus ocorre através de venda para funcionários, doações ou

vendas para empresas especializadas em reciclagem.

Palavras-chave: resíduos eletroeletrônicos; reuso; reciclagem.

1 Introdução

Os produtos eletrônicos e elétricos tem se tornado obsoletos cada vez mais

rapidamente, ocasionando um incremento na geração de um tipo particular de resíduos. Em

especial, isso tem sido observado para os equipamentos de informática, eletrodomésticos,

vídeo e som, sistemas de iluminação e equipamentos de telefonia móvel e fixa (WIDMER et

1 Mestranda em Gestão Ambiental na Universidade Positivo. [email protected]

2 Pós-Doutorado em Mecânica dos Fluidos na University of Toronto. [email protected]

3 Doutorado em Química na Universidade de São Paulo (USP). [email protected]

Page 2: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

al., 2005). Esta rápida obsolescência, segundo alguns autores, é causada por fatores como as

inovações tecnológicas, a redução do tempo de vida útil dos produtos, e fatores sociais como a

criação de novas necessidades e desejos (COOPER, 2005). Para Bertram et al. (2002), os

resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE), comparados aos outros resíduos,

apresentam crescimento mais rápido, o que enfatiza a necessidade de garantir eficientes

estratégias de reaproveitamento e reciclagem para esse tipo de resíduos. Todo o ciclo de vida

dos equipamentos elétrico-eletrônicos contribui para a insustentabilidade ambiental, pois nos

processos envolvidos na produção destes bens, desde a extração de matérias primas até seu

descarte, são consumidos recursos naturais não renováveis e energia, além de muitos outros

impactos relacionados às emissões de substâncias tóxicas em todas as etapas. Os impactos são

agravados pelo descarte prematuro deste tipo de produto(RODRIGUES, 2007).

Diante deste panorama, merecem destaque ações da iniciativa pública e privada que

possibilitem a diminuição do problema, tendo em vista que a eliminação total do problema é

altamente improvável. A utilização de equipamentos eletro-eletrônicos continuará a sua

tendência de crescimento, restando como soluções alternativas as que permitam a produção

mais limpa, o prolongamento da vida útil e a utilização de materiais e tecnologias

direcionadas para o reaproveitamento e/ou a reciclagem dos componentes ao final da vida útil.

Este trabalho relata alternativas que podem contribuir na extensão da vida útil de

computadores, e minimizar a rápida obsolescência, bem como o descarte prematuro, na

maioria dos casos inadequado, destes equipamentos. Dados do programa de gerenciamento

de computadores numa Universidade em Curitiba, realizado pelos gestores da tecnologia da

informação, são apresentados. Entre as alternativas adotadas para maximizar o ciclo de vida

de equipamentos eletro-eletrônicos utilizados no campus desta universidade, estão as

adaptações e aplicações das práticas dos 3 R’s. Além de detalhar o fluxo dos resíduos

eletroeletrônicos que ocorre na Instituição, são apresentados também os principais aspectos e

impactos, os tratamentos adotados pelo Brasil e comunidade internacional e as

regulamentações acerca destes resíduos.

2 O Fluxo dos REEE: Ciclo de Vida, Geração de Resíduos e Descarte

Estimativas de entidades de defesa do meio ambiente e de empresas de consultoria

ligadas ao setor de Informática mostram que em países desenvolvidos o tempo médio de vida

de um computador é de aproximadamente dois anos, antes da troca por um modelo mais novo.

Page 3: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

No Brasil, a troca não é tão constante, pois estudos apontam que os computadores são

mantidos por até quatro anos nas empresas e por uma média de cinco anos pelos

consumidores domésticos (COTTA, GUARITA E IMBROSI, 2008). Mas a tendência é a

redução desses prazos, aliada ao crescimento das vendas dos produtos eletrônicos, mais

especificamente computadores. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Elétricos e

Eletrônicos (ABINEE, 2008), no primeiro semestre de 2008 o mercado brasileiro de

Computadores Pessoais (PC’s) movimentou 5,7 milhões de unidades, registrando crescimento

de 31% em comparação ao mesmo período do ano anterior (4,3 milhões). Deste total, 3,9

milhões são desktops e 1,8 milhões são notebooks, sendo que a venda destes últimos teve

crescimento de 186%, enquanto as vendas de desktops cresceram 5%. Em termos de descarte,

o Programa Ambiental das Nações Unidas, apresenta números alarmantes: 50 milhões de

toneladas de lixo eletrônico são geradas anualmente em todo o mundo. Já a Associação

Internacional de Recicladores Eletrônicos, apresentou um relatório prevendo que o número de

dispositivos eletrônicos que deverão ser descartados entre 2006 e 2010 é de 3 bilhões.

Somente nos Estados Unidos, segundo a Agência de Proteção Ambiental (EPA), estima-se

que 50 milhões de computadores são descartados anualmente, onde a vida útil é menor, de

aproximadamente 2 anos para os computadores, característica típica de um país desenvolvido.

Na Europa, segundo a Comissão Européia, em 1998 foram geradas 6.000.000 de toneladas de

Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE), o que equivale a 4% do fluxo de

Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). Prevendo um crescimento de 3 a 5% por ano, estima-se que

este quantitativo duplicará de 12 em 12 anos (Comissão Européia, 2004). Parte da

responsabilidade sobre estes descartes, relacionados aos números supracitados, é atribuída às

estratégias de marketing do mercado, à disseminação de modismos e também, à inviabilidade

de conserto, que é promovida pela indústria através da não disponibilização de peças de

reposição, ou então quando disponibilizadas, de custo incompatível com a viabilidade

econômica do reparo (RODRIGUES, 2007). Entretanto, ganham importância as discussões

acerca da degradação ambiental decorrente desta lógica, pois todo este volume normalmente é

disposto juntamente com o lixo doméstico. Assim, no mundo inteiro equipamentos menores e

obsoletos são depositados em aterros ou incinerados sem tratamento prévio (VEIT ET AL.,

2004).

Page 4: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

3 Aspectos e Impactos Ambientais dos REEE

Os REEE, se descartados de forma inadequada, ou incinerados, devido às substâncias

tóxicas existentes na sua composição, têm grande potencial de comprometer solos, águas

superficiais e subterrâneas, além de afetar flora e fauna. Portanto, merecem classificação na

classe I da norma brasileira, NBR 10.004/2.004, exatamente pelos riscos ambientais a que

expõem, não só os meios físicos e biológicos, mas o próprio meio antrópico. Dados

apresentados pela Comissão Européia (2004) mostram que os principais problemas

relacionam-se com a lixiviação e a evaporação de substâncias perigosas quando determinados

dispositivos são destruídos. Na sua composição estão presentes substâncias tóxicas como

metais pesados que, ao serem depositados em aterros, poderão sofrer lixiviação para o solo e

águas subterrâneas. Algumas destas substâncias apresentam-se 200 vezes mais solúveis nos

lixiviados de aterro do que em água destilada, podendo desta forma atingir um nível

considerável de dispersão no ambiente. As águas ácidas que se encontram com freqüência em

aterros dissolvem quantidades significativas de íons chumbo, provenientes de vidro partido,

como o vidro dos tubos de raios catódicos. Perdas de plastificantes, decorrentes da deposição

de PVC em aterros, representam grande potencial de danos à saúde humana e ao ambiente. A

queima destes resíduos promove a emissão de metais e de outras substâncias químicas, tais

como dioxinas e furanos, que apresentam um elevado nível de toxicidade (Comissão

Européia, 2004). A composição de um computador (PC) é um exemplo da grande diversidade

de materiais e da presença de substâncias tóxicas, muitas delas ainda sem alternativas de

reciclagem, conforme indica a tabela 1.

Tabela 1: Composição percentual e índice de reciclabilidade dos materiais componentes de um computador

(Microelectronics and Computer Technology Corporation, 2000):

Material (%) do Peso

Total

Índ. Recicla-

bilidade(%)

Localização

Sílica 24,9 0 Vidro

Alumínio 14,2 80 Circuito Integrado, solda e bateria

Cobre 6,9 90 Condutores

Chumbo 6,3 5 SemicondutoresZinco 2,2 60 BateriaEstanho 1 70 Circuito Integrado

Níquel 0,8 80 Estrutura, Encaixes

Manganês 0,031 0 Estrutura, encaixesPrata 0,018 98 Condutores

Ouro 0,016 98 Conexão, Condutores

Berílio 0,015 0 Condutivo térmico, conectores

Cádmio 0,009 0 Bateria, chip, semicondutores, estabilizadores

Cromo 0,006 0 Decoração, proteção contra corrosão

Mercúrio 0,002 0 Bateria, ligamentos, termostatos, sensores

Page 5: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

4 O Tratamento dos REEE na Comunidade Internacional e no Brasil

Na China o sistema de reciclagem não se presta exclusivamente ao lixo eletrônico. Um

problema grave naquele país é a prática ilegal de recebimento dos despejos vindos de países

ricos, principalmente dos Estados Unidos, que justifica o envio de seus computadores

obsoletos com o propósito da Inclusão Digital. Tal prática, na verdade, trata-se de uma

atividade mal intencionada, pois é uma forma barata de resolver a questão (BEIRIZ 2005).

Sem legislação própria e subsídios para tratar de um lixo caro e tóxico, este acaba sendo

reciclado com métodos primitivos causando graves problemas ambientais e na saúde da

população. O desmantelamento dos componentes é feito de forma manual, geralmente por

crianças e mulheres sem nenhuma proteção. O que tem valor comercial é vendido e o restante

acaba sendo queimado, agravando a situação. Na Índia, a maior parte dos resíduos provém

dos fabricantes e, da mesma forma que observado na China, o trabalho é manual sem qualquer

proteção e instrumentos específicos; geralmente mulheres e crianças estão envolvidas nessas

operações. O destino também é o mesmo: o que não pode ser vendido é queimado a céu

aberto ou depositado em aterros (ARTONI, 2005). O procedimento inadequado adotado

nestes países para recuperar os metais, faz com que componentes tóxicos como o cádmio e o

mercúrio contaminem água, solo e ar.

Entretanto, vários países já perceberam que este lixo, tratado de forma correta, pode

trazer retornos financeiros interessantes. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos está

desenvolvendo um estudo detalhado sobre como conseguir um melhor proveito econômico da

reciclagem do lixo eletrônico (BEIRIZ 2005). Os países da União Européia, por sua vez,

decidiram implementar medidas destinadas a prevenir a produção destes resíduos e a fomentar

a sua reutilização, reciclagem e outras formas de valorização, com vista à redução da sua

quantidade e, ao mesmo tempo, melhorar os resultados ambientais dos agentes econômicos

envolvidos na sua gestão. Estas medidas fazem parte da diretiva WEEE (2005), que

responsabiliza os fabricantes pelo ciclo de vida dos seus produtos, arcando com os custos de

coleta seletiva, transporte, tratamento e reciclagem. A diretiva também obriga as indústrias a

agirem em duas frentes: reduzir a toxicidade dos produtos e desenvolver métodos para um

pós-uso eficaz.

A produção de eletrônicos com solda livre de chumbo data do início dos anos 1990 e

teve êxito graças à criação de uma rede de inovação que cobre instituições diversas, como

universidades, institutos de pesquisa, e associações industriais. Os principais fabricantes de

Page 6: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

equipamentos eletroeletrônicos realizaram medidas para redução dos impactos ambientais nas

áreas de eficiência energética, redução de substâncias perigosas, eficiência de recursos e

reciclabilidade. As medidas incluem ainda a redução do uso de materiais através da

miniaturização; o prolongamento da vida útil do produto via reuso de componentes e

facilidade na desmontagem.

No Brasil, pesquisas revelam que a maior parte dos resíduos eletrônicos tem um fim

semelhante aos resíduos comuns, ou seja, os aterros. O destino do lixo especial também

depende da política de cada município e na maior parte do país existem falhas no tratamento e

disposição final. No entanto, em vários municípios esta realidade está mudando, e já existem

várias empresas especializadas na coleta e destinação de resíduos perigosos.

5 Legislação e Regulamentação

A Comunidade Européia preocupa-se com resíduos contendo substâncias perigosas

desde os anos 1970 e promulgou, em 2003, dois regulamentos (WEEE, 2005) importantes

para tratar do problema: a Diretiva 2002/96/CE sobre Resíduos de Equipamentos

Eletroeletrônicos (WEEE) e a Diretiva 2002/95/CE sobre a Restrição do Uso de Substâncias

Perigosas (RoHS). Essas exigências incorporam a responsabilidade do produtor (produtor,

distribuidor ou importador) e têm impactos globais. A diretiva fundamenta-se nos princípios

do poluidor-pagador, da precaução e da responsabilidade estendida do produtor. A

responsabilidade do produtor está associada às etapas de coleta seletiva, tratamento,

recuperação, reciclagem e financiamento.

No Brasil não há uma legislação específica para tratamento e gerenciamento de

resíduos perigosos - apenas ações isoladas de estados e municípios. Para resíduos perigosos

destacam-se as resoluções do CONAMA que devem ser respeitadas enquanto leis federais.

Mais especificamente, pode-se citar a Resolução nº 257 para a destinação de pilhas, baterias e

lâmpadas (CONAMA. RESOLUÇÃO, 1999). Quanto aos demais componentes, aguarda-se a

aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, ainda em tramitação.

No estado do Paraná, foi aprovada a Lei Estadual 18.851/08, que segundo a

Assembléia Legislativa do Estado (2008), obriga as empresas produtoras, distribuidoras e as

que comercializam equipamentos de informática a destinar adequadamente os equipamentos

no final de sua vida útil. Os fabricantes devem emitir nota de entrada dos resíduos, sendo uma

das vias encaminhada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente para controle e fiscalização

Page 7: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

6 A Política dos 3R’s

A compreensão da necessidade de gerenciamento integrado dos resíduos sólidos

propiciou a formulação da chamada Política dos 3R’s - recebendo essa nomenclatura devido à

junção das palavras “Reduzir”, “Reutilizar”, e “Reciclar” (MUNIZ, 2007). O enfoque inicial

da política dos 3R´ s estava nas ações de redução e reutilização do lixo para se construir uma

via na busca por uma relação homem-meio ambiente mais harmônica. A reciclagem seria

apenas o último passo neste processo de “minimizar” o lixo (LAYRARGUES, 2005).

Segundo Vilhena e Albuquerque (2007), os 3Rs compõem uma metodologia básica

para utilização dos recursos naturais, combate ao desperdício e introdução da reciclagem,

tornando-se um convite à reflexão sobre a utilização de insumos e às ações pró-ativas de

cuidados com o meio ambiente.

Muniz (2007) ressalta que há dois modos de ação derivados da Política dos 3R’s: o

primeiro prioriza a redução e a reutilização; o outro prioriza a reciclagem. Ele explica o

primeiro modo de ação, ressaltando a importância do aumento da vida útil com a recuperação

dos bens deteriorados e a reutilização de materiais descartados, onde ambas são estratégias

mais eficientes que a reciclagem, pois demandam menos energia para conversão. Afirma

ainda que aumentar a vida útil de um produto significa reduzir o consumo de energia, água,

matérias-primas e a poluição gerada. Em relação ao último modo, a reciclagem, devido a

interesses econômicos tornou-se a principal ferramenta e não mais uma coadjuvante como os

demais. É comum se ver campanhas que ao invés de promoverem a conscientização sobre a

diminuição do consumo e a reutilização de materiais, ressaltam a importância da reciclagem

como a única alternativa viável, pois desta forma, tudo pode ser consumido, desde que seja

reciclado. Ou seja, de uma forma geral, as finalidades comerciais da reciclagem se sobrepõem

aos fins ambientais (MUNIZ, 2007). Entretanto, não deve ser encarada como um processo

solitário ou inviável. Pelo contrário, as ações engajadas de redução, reutilização e reciclagem

são complementos na busca por soluções cada vez mais adequadas ao destino dos resíduos

sólidos, no caso deste trabalho, dos resíduos eletro-eletrônicos, principalmente se aliadas à

educação ambiental.

Merece destaque neste contexto a extensão da vida útil através da Reutilização-onde

as partes podem ser reutilizadas para a mesma função anterior ou para uma nova atribuição.

Em alguns casos pode passar por um processo de remanufatura, o que significa passar por

Page 8: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

processos que possibilitem que seja utilizado como novo (LUIZIO, 2004). O reuso, portanto,

pode ser entendido como uma forma sustentável na fase de descarte, uma vez que o

equipamento integralizado tenha sido reparado ou remanufaturado deixaria de estar na

condição de resíduo, passando a ter uma segunda vida útil. Rodrigues (2007) também afirma

que o reuso de equipamentos pode ocorrer por intermédio de:

• Repasse informal do equipamento obsoleto dentro de uma mesma organização, entre

familiares ou através de doações a terceiros (indivíduos, organizações sociais, etc.);

• Venda a empresas privadas que compram os equipamentos pós-consumo para

consertá-los e revendê-los;

• Remanufatura: existem empresas que se dedicam a consertar os equipamentos usados

que passam por processos de reformulação, envolvendo desmontagem de componentes

e revisão, e adquirindo desempenho de equipamentos novos.

7 Estudo de Caso: Gerenciamento de Computadores em uma Universidade em Curitiba,

PR.

O presente trabalho apresenta dados sobre o programa e as alternativas adotadas em

uma Universidade em Curitiba/PR, para tratar da questão dos Equipamentos Eletro-

Eletrônicos. Tendo em vista a complexidade, a variedade e o grande número destes

equipamentos, somente os computadores foram abordados, não sendo incluídos outros

equipamentos como projetores, impressoras e monitores.

O campus da Universidade tem similaridade com outros geradores de resíduos

eletrônicos, mas apresenta uma estrutura organizacional específica e interessante, por se tratar

de uma instituição de Ensino que atende diversos cursos com demandas de equipamentos de

informática (configurações) específicas.

A Universidade, no que tange à gestão dos computadores que fazem parte do seu

parque tecnológico, enfatiza a Política dos 3Rs: Redução, Reutilização e Reciclagem. Várias

ações são realizadas com o objetivo de promover o prolongamento da vida útil de seus

equipamentos, reduzindo descartes prematuros e, por conseqüência, danos ambientais. O

Departamento de Informática da Universidade é responsável pelo parque tecnológico da

Instituição, e desenvolveu uma metodologia de gerenciamento de resíduos baseada em níveis

de organização, destino e distribuição dos equipamentos. Inicialmente é feito um estudo

prévio do padrão tecnológico dos computadores a serem adquiridos associados às exigências

dos softwares utilizados por cada um dos 26 cursos de graduação ofertados pela instituição.

Page 9: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

Alguns cursos necessitam de softwares específicos para controle de equipamentos e para

algumas práticas laboratoriais, demandando computadores de maior velocidade de

processamento, capacidade de memória e armazenamento. A Universidade possui 2.715

computadores (dados de agosto 2008) distribuídos em 52 laboratórios de informática e demais

ambientes que possuam equipamentos de informática, como salas de aula, laboratórios

específicos, biblioteca, ambientes administrativos utilizados por funcionários, ambientes

acadêmicos utilizados pelo corpo docente, escritórios-modelo, entre outros.

Várias configurações de laboratório, incluindo área física, número de computadores e

programas instalados estão disponíveis, sendo algumas características dos Laboratórios de

Informática descritas na tabela 2.

Tabela 2: Algumas características dos Laboratórios de Informática da Universidade.

Área física

(m2)

No PCs / laboratório

(média)

No de

laboratórios

No total de

computadores

65-84 22 10 221

94 28 22 620

105-120 36 10 362

155-160 28 8 230

220 100 1 220

Totais 51 1.653

Os processos de aquisição, remanejamento e destinação final dos computadores do

campus são descritos na figura 1. O objetivo deste processo é prolongar a vida útil dos

equipamentos a fim de evitar desperdícios e descartes prematuros, através da prática dos 3

R’s.

Page 10: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

Computador Novo

Programas “pesados”

Computador 2o Uso Softwares específicos

Baixo desempenho

Computador 3o Uso Uso básico

upgrade

reapro

veita

mento

upgrade

reapro

veita

mento

Tipo de computador

Alto Engenharias, Arquitetura,

Desenho Industrial

Médio Demais Cursos, como Direito, Administração

Biologia,

Baixo Secretarias, Biblioteca,

Administrativo

Nível de Utilização

Usuário Típico Tempo Médio

de vida

2 anos

1 a 2 anos

1 a 2 anos

Doação Venda para Reciclagem

Baixa do ativo no controle Patrimonial

Reuso

Reaproveitamento

Reciclagem

Figura 1. Esquema representando os processos de aquisição, remanejamento e destinação dos computadores na

Universidade.

Reutilização: É praticada no remanejamento (transferência direta de máquinas) entre

os diferentes níveis de usuários, pois computadores que não atendem mais os usuários que

demandam máquinas com alto desempenho passam para usuários com demanda moderada

(intermediários). Ainda é possível, e praticada para muitos computadores, uma terceira

reutilização, quando os computadores passam de usuários intermediários para usuários (ou

laboratórios) cujas necessidades são atendidas por computadores com configuração básica.

Reaproveitamento: Devido ao grande número de computadores existentes, e ao

sistema de controle adotado pelo departamento de informática, é possível um alto índice de

reaproveitamento de peças que estejam em boas condições de uso e que sejam compatíveis

com os demais equipamentos. Assim, por exemplo, a capacidade de um computador pode ser

melhorada pela adição de mais memória ou disco rígido, reduzindo desta forma a aquisição de

peças novas e evitando aquisições desnecessárias.

Reciclagem: A reciclagem acontece somente ao final da vida útil do equipamento,

quando não existe mais a possibilidade de se manter dentro dos padrões mínimos de uso. A

Page 11: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

venda da sucata é realizada para uma empresa de reciclagem especializada em eletro-

eletrônicos.

Através deste programa, obtém-se uma redução do número de equipamentos novos e o

prolongamento da vida útil dos computadores usados, que, além de reduzir o descarte de

REEE, permite uma significativa economia de recursos.

Os resultados obtidos através deste programa podem ser analisados na tabela 3, que

apresenta para o período de 2003 a 2007, as aquisições, remanejamentos e baixas (destinação

final) dos computadores no campus.

Tabela 3: Aquisições, remanejamentos e remoção de computadores realizadas pelo departamento de informática

da Universidade.

Ano Alunos Graduação Número de Computadores

Novos Remanejados Removidos Total (a)

2003 8120 363 65 47 1404

2004 8392 70 137 81 1474

2005 8547 280 112 182 1754

2006 8429 304 85 344 2058

2007 8355 657 503 379 2715

Médias no

Período 8369 335 180 207 1881

% do total de

computadores 18 10 11 (a) Total de computadores existentes no campus.

A figura 2 representa graficamente as médias praticadas para remanejamento, remoção

e aquisição de novos computadores para o campus.

Gerenciamento dos Computadores

18; 46%

10; 25%

11; 29%

Novos

Remanejados

removidos

Figura 2: Médias no período de 2003-2007 para as alternativas de remanejamento, remoção e aquisição de novos

computadores no Campus.

Page 12: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

Vale ressaltar que o programa conseguiu remanejar praticamente o mesmo número de

computadores descartados. Com essa política, as aquisições de computadores novos

permaneceram, em média, abaixo de 20% do total de computadores existentes no Campus, no

período de cinco anos, em que o levantamento de dados foi realizado. Estes valores refletem o

esquema apresentado na figura 2, mostrando que, com o programa integrado, o tempo médio

de um computador no Campus é de cinco anos, sem prejudicar o desempenho das máquinas e

as necessidades dos usuários, pois estes recebem novas máquinas ou atualizações em média a

cada dois anos. A figura 3 apresenta as porcentagens relativas à aquisição de computadores

novos, remanejados ou removidos, considerando somente estas três opções.

20032004

20052006

2007

Remanejados

removidos

Novos

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Tota

l no

ano

(%)

Figura 3: Porcentagens de computadores novos, removidos e reaproveitados no período de 2003-2007

no Campus da Universidade.

Ao longo do período, o número de computadores remanejados foi sempre expressivo

em relação às aquisições de computadores novos, sendo quase o dobro para o ano de 2004.

Durante este período, o número total de alunos nos cursos de graduação permaneceu

praticamente o mesmo, porém o número de alunos para cada computador passou de 5,78 em

2003 para 3,1 em 2007. Este número é apenas indicativo, já que o número total de

computadores inclui os computadores utilizados por funcionários administrativos e

professores. No entanto, ao se considerar o total de 1653 computadores disponíveis nos

laboratórios de informática, conforme dados da tabela 2, tem-se um computador para cada 37

alunos, sem considerar que estes alunos estão divididos em dois turnos (manhã e noite), o que

melhora esta relação.

Page 13: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

8 Conclusão

Os equipamentos eletro-eletrônicos representam grande risco ao ambiente e à saúde

das pessoas devido ao seu curto ciclo de vida útil, à sua composição que apresenta vários

componentes tóxicos, e ao descarte inadequado. Em muitos casos, o reaproveitamento de

alguns componentes, como os metais, é realizado de maneira precária, sem nenhum critério

ou proteção das pessoas diretamente envolvidas. Diante deste quadro alarmante, várias

iniciativas vêm sendo apresentadas em diversas esferas. São exemplos legislações específicos

e programas de gerenciamento de resíduos especiais adotados por empresas. Na Universidade

foco do presente estudo, o departamento de Informática desenvolve um programa integrado

para maximizar o ciclo de vida dos equipamentos eletro-eletrônicos, diminuindo assim a

aquisição de equipamentos novos e a geração de resíduos. Esse programa inclui o cadastro

dos laboratórios e usuários e a demanda por máquinas de alto, médio e baixo desempenho.

Este programa enfatiza o reuso de computadores e o reaproveitamento de componentes e a

redução na aquisição de novos equipamentos, permitindo que cada usuário receba

atualizações ou novas máquinas em média a cada dois anos. Dessa forma, em termos gerais, o

gerenciamento de computadores realizado pelo departamento de informática permite atender a

demanda dos usuários e laboratórios, sem aumentar significativamente a produção de REEE,

pois cada computador passa por três níveis de utilização, tendo uma vida útil de até seis anos,

até ter a sua saída do Campus, através de programas de doação ou vendas para empresas

especializadas em reciclagem.

9. Referências

ARTONI, Camila. O Lado B da Tecnologia. Revista Galileu, set. 2005. Seção Meio

Ambiente. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,,ESD875-1707-

0,00.html >. Acesso em: 19 nov. 2007.

ASSEMBLÉIA Legislativa do Estado do Paraná. Lei Estadual 18.851/08, 2008. Disponível

em: < http://www.alep.pr.gov.br/> Acesso em: 9 jul. 2008.

BEIRIZ, Fernando Antonio Santos. Gestão Ecológica de Resíduos Eletrônicos – Proposta

de Modelo Conceitual de Gestão. Niterói, RJ: 2005. Originalmente apresentada como

dissertação de mestrado, Universidade Federal Fluminense, 2005. Disponível em:

<http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_arquivos/14/TDE-2006-10-06T135439Z-

462/Publico/Beiriz.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2007.

BERTRAM, M. et al., 2002. The contemporary european copper cycle: waste

management subsystem. Ecological Economics 42, 43–57.

Page 14: Alternativas para redução de resíduo eletrônico

COMISSÃO Européia, Diretiva 2002/96/CE do Parlamento Europeu, de 11 de Março de

2004. Disponível em <http://eur-

lex.europa.eu/Notice.do?mode=dbl&lang=pt&ihmlang=pt&lng1=pt,mt&lng2=bg,cs,da,de,el,e

n,es,et,fi,fr,hu,it,lt,lv,mt,nl,pl,pt,ro,sk,sl,sv,&val=343031:cs&page=#top>. Acesso em 12 de

Jun de 2007.

CONAMA. Resolução 257, de 30 de Junho de 1999. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res99/res25799.html>. Acesso em: 23 nov. 2007.

COOPER, T. Slower Consumption. Journal of Industrial Ecology, Vol. 9, nº 1-2, p. 51-67,

Massachusetts Institute of Technology and Yale University, 2005.

COTTA, T. P.; GUARITA, A.; IMBROSI, D. Riscos dos lixo eletrônico, disponível em

<http://www.secom.unb.br/bcopauta/meioambiente17.htm>, acesso 23 ago. 2008.

LAYRARGUES, R.S.C.; CASTRO, R.S. Educação ambiental: repensando o espaço da

cidadania. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

LUIZIO, Mónica. Gestão de equipamentos elétricos e eletrônicos – Proposta para um

modelo de gestão de REEE em Portugal. Originalmente apresentada como dissertação para

obtenção do título de Licenciatura em Engenharia Ambiental, Instituto Nacional Técnico,

2004.

MUNIZ, Rafael Ninno. Educação, Energia e Movimentos Sociais. Disponível em: <

http://rafaelninno.googlepages.com/EducaaoeEnergiamaio2007.pdf>. Acesso em: 12 jul.2007.

OLIVEIRA, Elizabeth. Contaminação: Pilhas e Baterias. Disponível em:

<http://www.abetre.org.br/noticia_completa.asp?NOT_COD=759> Acesso em: 21 nov. 2007.

REALFF, Matthew J.; RAYMOND, Michele; AMMONS, Jane C. E- waste an opportunity.

Giving Obsolete Electronics New Life. Materials Today, January 2004. Disponível em:

<http://imt.cmg.net/newsletter.html?id=1071776093&y=us=TRIMTN406aec869c006&SMSE

ESSION=NO&SMSESSION=NO>. Acesso em: 19 nov. 2007.

RODRIGUES, Angela Cassia. Impactos Socioambientais dos Resíduos de Equipamentos

Elétricos e Eletrônicos: Estudo da Cadeia Pós-Consumo no Brasil. Santa Bárbara d’

Oeste, SP:[s,n], 2007. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado,

Universidade Metodista de Piracicaba, Programa de Pós Graduação em Engenharia de

Produção, UNIMEP, 2007. Acesso em: 20 nov. 2007.

VILHENA, Renata Maria Paes de; ALBUQUERQUE, Ana Cristina B. Modernização da

gestão: implantação de licitações sustentáveis, 2007. Disponível em: <

http://www.clad.org.ve/fulltext/0057925.pdf >. Acesso em: 15 jul. 2009.

Waste Electrical and Electronic Equipament – WEEE. Disponível em: <http://www.weee-

recycle.com/home.html>. Acesso em: 20 nov. 2007.

WIDMER, R. et AL. Global perspectives on e-waste, Environmental Impact Asssment

Review, Volume 25, n.5, 2005, P. 436-458 Elsevier.

ZIGLIO, Luciana Aparecida Lotti. Convenção de Basiléia e o destino dos resíduos

industriais no Brasil. São Paulo, SP: 2005. Originalmente apresentada como dissertação de

mestrado, Universidade de São Paulo, 2005. Disponível em: <

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-17032006-171602/> Acesso em: 22 nov.

2007.