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Centro Universitário Hermínio Ometto UNIARARAS MÁRIO CEZAR GUIMARÃES MUNHOZ ALTERAÇÕES DA TIPOLOGIA FACIAL DECORRENTES DA RESPIRAÇÃO BUCAL ARARAS/SP JUNHO/2005

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  • Centro Universitário Hermínio Ometto

    UNIARARAS

    MÁRIO CEZAR GUIMARÃES MUNHOZ

    ALTERAÇÕES DA TIPOLOGIA FACIAL

    DECORRENTES DA RESPIRAÇÃO

    BUCAL

    ARARAS/SP

    JUNHO/2005

  • 1

    Centro Universitário Hermínio Ometto

    UNIARARAS

    MÁRIO CEZAR GUIMARÃES MUNHOZ

    [email protected]

    ALTERAÇÕES DA TIPOLOGIA FACIAL

    DECORRENTES DA RESPIRAÇÃO

    BUCAL Dissertação apresentada ao

    Centro Universitário Hermínio

    Ometto – UNIARARAS, para

    obtenção do Título de Mestre em

    Odontologia, Área de

    Concentração em Ortodontia.

    Orientador: Prof. Dr. Mário

    Vedovello Filho

    e-mail: [email protected]

    Co-Orientadora: Profª. Dra.

    Heloísa Cristina Valdrighi

    e-mail: [email protected]

    ARARAS/SP

    JUNHO/2005

  • 2

    FOLHA DE APROVAÇÃO

  • 3

    DEDICATÓRIA

    Dedico à minha família, à minha

    esposa Heloisa, pelo apoio constante, amor e

    carinho a mim dedicado.

    Aos meus filhos Ana Carolina,

    Eduardo, Thaís, Beatriz, Amanda, André e

    Deborah. A eles, com toda gratidão e orgulho

    por tê-los como razão da minha atual

    existência.

    Aos meus pais, Maria Cecília e

    Professor Doutor Manoel Munhoz (in

    memorian) por quem tenho muito orgulho,

    muito devo e pelo grande apoio e exemplos

    dados ao longo da nossa convivência.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Dr. Mário Vedovello Filhofilho por vosso esforço ao complexo

    encargo de aperfeiçoar profissionais e pela orientação dessa dissertação.

    À Professora Dra. Heloisa Cristina Valdrighi pelo estímulo e dedicação

    empregados no decorrer deste trabalho e pela amizade durante a execução do

    mestrado.

    À Dona Duse Rügger Ometto, Presidente do Conselho Superior da Fundação

    Hermínio Ometto, pela luta incessante em prol de um ideal, que certamente

    tráz benefícios a comunidade acadêmica e sempre levantando templos à

    virtude.

    À Magnífica Reitora Professora Dra. Miriam de Magalhães Oliveira Levado,

    magnífica reitora do Centro Universitário Hermínio Ometto – UNIARARAS, pela

    oportunidade concedida e pelo exemplo de dedicação.

    Ao pró-reitor de pós-graduação Professor Dr. Marcelo Augusto Esquizatto

    Marreto, pelo exemplo de ponderação e lealdade.

    À Pró-Reitora do Centro Universitário Hermínio Ometto – UNIARARAS,

    Professora Dra Rose Mary Coser, pelo empenho em nos esculpir para

    transformar-nos em verdadeiras “pedras polidas”.

    Ao Coordenador dos Cursos Pós-Graduação, da Faculdade de Odontologia de

    Araras, Centro Universitário Hermínio Ometto - UNIARARAS, Professor Dr.

    Ricardo de Oliveira Bozzo, pela fidelidade junto a esta entidade.

  • 5

    Aos Professores do Departamento de Ortodontia do Centro Universitário

    Hermínio Ometto - UNIARARAS, em especial à Professora Ùrsula A. W.

    Vargas, por todo o estímulo, cooperação e aplicação em ensinar.

    Ao companheiro, incentivador e amigo, Professor Gil Fonseca Barison, C.D. a

    quem muito prezo e aprecio, e que sempre esteve “em pé e a ordem” na

    revisão dos trabalhos, meus mais francos agradecimentos.

    Aos meus colegas de mestrado por estes anos agradáveis de convívio, pela

    fraternidade, lealdade e pelo apoio que recebi nos momentos de dúvidas e

    dificuldades.

    Aos funcionários do Centro de Pós-Graduação e Pesquisa do Centro

    Universitário Hermínio Ometto – UNIARARAS: Caumo, Inácio, Luís, Maria

    Aparecida, Olimpio e Rosana, pela amabilidade e cautela sempre dispensadas.

    Aos funcionários da Biblioteca do Centro Universitário Hermínio Ometto -

    UNIARARAS, em especial à Senhora Maria Sílvia da Costa Mazetto,

    Bibliotecária Responsável, pelo auxílio e atenção nas tarefas de levantamento

    bibliográfico.

    Ao GADU - Grupo de apoio aos Docentes e Universitários, pelo ajuda na

    elaboração deste trabalho.

  • 6

    “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer

    um novo começo, qualquer um pode começar

    agora e fazer um novo fim”.

    Chico Xavier

    “Ser mestre é o desejo de muitos,

    porém, é o privilégio de poucos”.

    Mário Munhoz

  • 7

    RESUMO

    A respiração bucal tem sido assunto de grande interesse nos últimos

    anos, pois, propicia perda de qualidade de vida e alterações esqueléticas

    secundárias à disfunção nasal com comprometimento dos arcos dentários,

    sendo considerada provável fator etiológico de algumas maloclusões. A

    respiração bucal é, muitas vezes, resultado da obstrução provocada pelo

    desvio do septo nasal, do edema da membrana mucosa nasal ou da hipertrofia

    do tecido linfoideano na nasofaringe, bem como da inflamação prolongada da

    mucosa nasal associada a alergias ou infecções crônicas. O tratamento da

    respiração bucal é considerado difícil, pois, mesmo depois de removida a

    causa, as estruturas ósseas e musculares já se encontram modificadas e o

    problema pode persistir como um hábito residual. O objetivo deste trabalho é

    apresentar a pesquisa sobre as alterações da tipologia facial decorrentes da

    respiração bucal, apresentando uma revisão bibliográfica sobre os prováveis

    fatores etiológicos e as alterações estruturais presentes na face.

    Palavras Chaves: ortodontia / respiração bucal / desenvolvimento maxilofacial.

  • 8

    ABSTRACT

    The mouth breathing has been subject of great interest in the last years,

    since it propitiates loss of quality of life and skeletal alterations secondary to the

    nasal dysfunction with the involvement of the dental arcs, being considered

    probable etiologic factor of some malocclusions. The mouth breathing is, many

    times, result of the blockage due to shunting line of nasal septum, edema of the

    nasal mucous membrane or hypertrophied of the lingual tonsil in the

    nasopharynx, as well as, drawn out inflammation of the nasal mucous

    associated with allergies or chronic infections. The treatment of the mouth

    breathing is considered difficult because even after removed the cause, the

    osseous and muscular structures have already been modified and the problem

    can persist as a residual habit. The objective of this paper work is to research

    about the alterations of the facial typology resulted from the mouth breathing,

    presenting a bibliographical revision about the probable etiologies factors and

    the structural alterations that are present at the face.

    Keys-words: orthodontics / mouth breathing / maxilofacial development.

  • 9

    SUMÁRIO

    Resumo................................................................................................................7

    Abstract................................................................................................................8

    1. Introdução......................................................................................................10

    2. Objetivos........................................................................................................11

    3. Revisão da Literatura.....................................................................................12

    4. Discussão......................................................................................................42

    5. Conclusões....................................................................................................45

    Referências bibliográficas..................................................................................46

  • 10

    1. INTRODUÇÃO

    A respiração bucal tem sido citada como sendo um dos fatores

    etiológicos das alterações na perfeita harmonia facial. Uma vez que a função

    respiratória determina a postura da língua e da mandíbula, parece lógico que

    possa também influenciar na alteração do desenvolvimento mandibular, na

    formação dos arcos dentários também na estrutura facial. (GRIMM; THOMAS,

    1997; BUSHEY, 1965; RICKETTS, 1968; HARVOLD; VANGERVIK; CHIERICI

    1973; KOSKI; LÄHDEMÄKI, 1975; PETRELLI, 1992).

    A respiração nasal é primordial para que haja um correto crescimento e

    desenvolvimento craniofacial. Pesquisas indicam que são comuns e complexos

    os desvios do crescimento facial quando a respiração que ocorre pelo nariz não

    está presente. (LINDER-ARONSON, 1979; SUBTELNY, 1980; AZEVEDO,

    1984; SANTOS-PINTO, 1984; MOYERS, 1988; HUNGRIA, 1991; SANTOS,

    1996; CASANOVA, 2000; CONTI; LEITE, 2003).

    Trabalhos histológicos comprovam que a prevenção e o tratamento

    precoce da respiração bucal são de fundamental importância, pois evitam

    conseqüências que poderão prejudicar a harmonia facial (SERRA-NEGRA;

    PORDEUS; ROCHA JÚNIOR 1997; KRUGER, 1984).

    O intuito deste trabalho é relatar as alterações do complexo craniofacial

    com a presença da respiração bucal. Esta mudança no desenvolvimento facial

    poderá ocorrer nas diferentes etapas do processo de crescimento das

    estruturas craniofaciais.

  • 11

    2. OBJETIVOS

    1. Relacionar respiração bucal com padrão facial.

    2. Analisar as alterações faciais dos indivíduos respiradores bucais.

  • 12

    3. REVISÃO DA LITERATURA

    STRAUB (1944) realizou uma pesquisa cujo objetivo era observar em

    um grupo de cento e quatro indivíduos, com rinite alérgica, possíveis alterações

    bucofaciais associadas à disfunção respiratória. Neste trabalho, notou que

    todos os indivíduos apresentavam arco maxilar atrésico, retração mandibular e

    outras modificações morfológicas das estruturas que compõem a face.

    EMSLIE; MASSLER; ZWEMER (1994) realizaram uma revisão da

    literatura e observaram que a respiração bucal é um fator etiológico

    desfavorável que afeta o desenvolvimento da face, da mandíbula e da maxila,

    porém não de forma aceitável para mudar os fatores genéticos pré-

    determinantes de cada indivíduo. Concluíram que as distorções derivadas do

    hábito de respirador bucal outrora são contestáveis.

    SHELTON; BOSMA (1962) observaram que existe um aumento da

    dimensão faríngea, para a passagem de ar, como reação ao ato de se levar a

    cabeça para uma posição mais estendida. Eles demonstraram em um estudo

    experimental, que a postura da cabeça é dependente do padrão respiratório.

    Para tanto, eles selecionaram trinta indivíduos e induziram-nos á respiração

    bucal usando um tipo de grampo nasal para nadadores durante duas horas.

    Depois do encaixe do grampo nasal, a ausência da respiração nasal foi

    confirmada pela aplicação de um espelho frio sob as narinas obstruídas

    durante a respiração forçada e o repouso. Outros trinta e um voluntários foram

    submetidos à privação visual, com uma máscara de gaze e fita adesiva, para

    verificar seu efeito na postura da cabeça durante noventa minutos. Dez

    voluntários tiveram o grampo nasal e a máscara colocados conjuntamente

    durante a fase experimental. Eles observaram que há uma extensão

    progressiva da cabeça acompanhada geralmente por uma separação entre a

    maxila e a mandíbula, alcançando um pico em aproximadamente noventa

    minutos após a introdução do estímulo. Não se pode ao certo afirmar que esta

    adaptação postural persistiria indefinidamente no evento da obstrução nasal se

    prolongássemos as pesquisas por causa da limitação ética desta pesquisa.

  • 13

    BUSHEY (1965) destacou que uma das conseqüências da respiração

    bucal consiste no aumento da altura facial anteroinferior, evidenciada pela

    maior divergência do plano mandibular em relação ao plano palatino. Referiu-

    se ainda à clássica teoria da compressão que atribui às crianças com tonsila

    faríngea hipertrófica uma maior prevalência do arco superior em forma de “V”.

    Essa característica de estreitamento do arco superior resultaria de um

    desequilíbrio muscular, decorrente da posição inferior da língua e de uma

    compressão excessiva da musculatura externa sobre o seguimento posterior

    da maxila, associados a um desenvolvimento labial atrófico, conseqüente da

    respiração bucal. Fez ainda alusão à teoria da atrofia por desuso.

    RICKETTS (1968) demonstrou a importância das dimensões da

    nasofaringe em relação à presença do tecido da tonsila faríngea. Se ela fosse

    profunda, o palato mole estaria adequadamente inclinado; se fosse rasa, o

    palato mole estaria precipitado, levando a um ângulo agudo em relação à

    espinha nasal posterior. Nestas condições, particularmente nos indivíduos

    longilíneos, a língua não ocuparia uma posição adequada, pois o palato mole

    dirigir-se-ia mais para trás e para cima, vedando assim a nasofaringe. Para a

    manutenção da passagem do ar, o palato mole poderia tender para baixo e a

    língua, conseqüentemente, adquiriria uma postura mais anterior e mais baixa

    na boca, como resultado de demandas funcionais do palato mole. Observou

    ainda que o posicionamento mais anteriorizado da língua era freqüente nos

    casos em que a nasofaringe estava obstruída pela tonsila palatina. A língua se

    encontrava nesta postura devido às condições da nasofaringe. A erupção dos

    dentes estaria relacionada com a ação muscular da língua por um lado e dos

    lábios e bochechas por outro. Essas transformações decorrentes das

    atividades da língua e de outros músculos durante a respiração bucal causam

    alterações na harmonia facial.

    HARVOLD; VANGERVIK; CHIERICI (1973) submeteram macacos

    rhesus a obstrução nasal total e, como mecanismo autônomo de adaptação, os

    pesquisadores aumentaram o fluxo respiratório bucal posicionando a língua

    para frente, sobre a borda incisal dos incisivos inferiores. Com o tempo a língua

    tornou-se mais longa e mais delgada, e uma mordida aberta anterior foi

  • 14

    desenvolvida. A rotação horária da mandíbula foi seguida por um deslocamento

    da maxila. Os efeitos oclusais variaram entre os animais, alguns

    desenvolveram maloclusão de classe II, enquanto outros, de classe III.

    Verificaram que não somente a mudança no padrão respiratório causou a

    maloclusão, mas também que o desenvolvimento de uma respiração

    predominantemente bucal alterou a função neuromuscular da face.

    KOSKI; LÄHDEMÄKI (1975) compararam dados cefalométricos de

    alguns indivíduos com tonsila faríngea aumentada e de outros que sofreram

    remoção cirúrgica da tonsila faríngea, e concluíram que a rotação dorsal do

    ramo mandibular foi observada como característica facial dos indivíduos com

    tonsila faríngea aumentada, bem como face longa, posição da língua rebaixada

    e incisivos inferiores inclinados em relação às sua linhas basais.

    SUBTELNY (1975) mencionou que o respirador bucal mantém a

    mandíbula e a língua numa posição inferior para criar uma passagem de ar por

    meio da cavidade bucal. Os lábios tornam-se entreabertos e, quando saem da

    sua postura normal de repouso, há uma tendência em alterar seu tônus e

    comprimento. O lábio superior pode se tornar curto e hipotônico e o inferior

    evertido e sem tonicidade. Relatou também que a respiração bucal

    desencadeia necessidades posturais adaptativas que fazem com que a

    mandíbula assuma uma postura rebaixada. Com esta posicionando-se mais

    para baixo antes ou durante o período de crescimento pré-puberal, pode haver

    um padrão de crescimento vertical que implicaria em um aumento na altura

    facial anterior e maior probabilidade do estabelecimento da mordida aberta

    anterior.

    SOLOW; KREIBOR (1977) analisaram cento e vinte indivíduos por meio

    da cefalometria e foi constatado que a vinculação entre obstrução aérea nasal

    e alteração facial resultam em uma dilatação do tecido mole facial, alterando a

    morfologia craniofacial. Concluíram ainda que a obstrução nasal leva à

    mudança da postura da cabeça, o que irá influenciar no desenvolvimento

    dentofacial.

    FRENG; KVAM (1979) relataram que a obstrução nasal pode ser

    resultado da tonsila faríngea hipertrófica, da rinite alérgica, da atresia das

  • 15

    conchas nasais (uma situação rara) e do desvio anatômico que causa

    obstrução praticamente total do curso de ar pelo nariz. Pesquisaram as

    análises cefalométricas de cinqüenta e um indivíduos com problemas de

    obstrução nasofaríngea e encontraram uma convergência para deficiência

    maxilar sagital associada à deficiência mandibular. Relataram que as crianças

    que sofrem de hipertrofia da tonsila faríngea e de rinite alérgica crônica

    mantêm a cabeça numa disposição mais elevada.

    HARVOLD (1979) relatou que a mandíbula, quando se encontra em

    posição de descanso, estabeleceu um dos fatores mais importantes no

    desenvolvimento da oclusão. Se a via respiratória nasal encontra-se obstruída,

    estabelece-se uma posição postural mandibular inferior, possibilitando a

    respiração bucal compensatória. Concluiu que, em resposta à hipertrofia das

    tonsilas palatinas ou obstrução nasal, ocorre um acréscimo do tônus muscular

    do pterigóideo lateral, do digástrico e do milohióideo, ou seja, dos músculos

    depressores da mandíbula. Averiguou também uma distensão dos músculos

    temporal, masseter, pterigóideo interno e elevadores da mandíbula. Se a

    obstrução permanecer durante meses, a musculatura adaptar-se-á ao novo

    acondicionamento postural que por sua vez poderá modificar a ação da matriz

    muscular. Quando a língua não ocupa uma posição normal na cavidade bucal,

    altera-se todo o suporte dos dentes superiores, permitindo a ocorrência de uma

    maloclusão.

    LINDER-ARONSON (1979) realizou um acompanhamento durante cinco

    anos de oitenta e um indivíduos respiradores bucais com tonsila faríngea

    hipertrófica, comparando-os com um número semelhante de casos controle do

    mesmo gênero e idade, mas sem obstrução nasal. Os resultados mostram que

    os indivíduos que tinham dificuldades na respiração nasal apresentavam

    aumento da altura facial inferior, uma menor profundidade sagital do osso

    nasofaríngeo, língua em posição mais baixa, arcada superior estreita, incisivos

    superiores e inferiores inclinados para vestibular, palato mole de altura normal,

    mordida cruzada, tendência para mordida aberta e relação normal

    anteroposterior entre os arcos. Os indivíduos com problemas respiratórios

    sofreram remoção cirúrgica da tonsila faríngea. Após essa intervenção os

  • 16

    indivíduos apresentaram normalização da inclinação dos incisivos superiores e

    inferiores, da largura do palato, da profundidade sagital do espaço

    nasofaríngeo e da inclinação do plano mandibular em relação ao maxilar.

    Concluiu que a respiração nasal alterada pode modificar a morfologia facial e a

    dentição dos indivíduos. Quando a porcentagem de respiração nasal é pobre

    comparada à bucal, algumas características dentofaciais são encontradas, tais

    como a dimensão longa da face, o posicionamento da língua numa disposição

    anterior, dimensão craniofacial anteroposterior diminuída, retrognatismo facial,

    aumento da angulação craniana inferior, arco maxilar estreito e em forma de

    “V”, palato mais profundo, incisivos superiores mais proclinados e, na maioria

    das vezes, incompetência labial e mordida cruzada posterior associada à

    maloclusão de classe II ou III.

    SUBTELNY (1980) Conceituando a respiração nasal como uma

    utilização adequada do trato nasal e nasofaríngeo, concluiu que o aumento das

    estruturas contidas nestas áreas anatômicas, do tecido da tonsila faríngea na

    nasofaringe e das conchas nasais poderia causar um impedimento da

    passagem do ar no canal nasorespiratório. Se a obstrução nasal fosse de

    dimensão suficiente para impedir a respiração nasal, o resultado poderia ser

    uma adequação para respiração bucal, então causaria uma adaptação postural

    das estruturas da cabeça e da região do pescoço, levando a conseqüências

    indesejáveis nas relações entre a maxila e a mandíbula e no desenvolvimento

    craniofacial.

    Segundo MURAD (1981), os indivíduos com o hábito de respiração

    bucal mantêm a boca constantemente aberta, evitando que a língua pressione

    o palato que tem a tendência de subir ficando com um formato ogival, e a

    arcada dentária superior tende a se deslocar para frente e para dentro,

    provocando a distoclusão e as mordidas cruzadas. Com a diminuição do

    espaço bucal a língua vai para trás, comprimindo a cartilagem epiglote sobre a

    glote, conseqüentemente o canal de passagem de ar aos pulmões permanece

    sempre bloqueado e para respirar o indivíduo permanece com a boca aberta.

    Sendo o palato o assoalho do nariz, a persistência das deformidades determina

    a continuidade da obstrução nasal. Estas alterações provocam o aspecto

  • 17

    prolongado e estreito da face. São muitas as características do respirador bucal

    e entre elas podemos destacar: hipodesenvolvimento da maxila e mandíbula;

    prognatismo ou retrognatismo; micrognatia; atresia da maxila (estiramento da

    musculatura peribucal); palato ogival; alterações da forma das narinas; sulco

    nasolabial curto; lábios ressecados e rachados; língua hipotônica, volumosa e

    mal posturada, com a ponta baixa, repousando no assoalho bucal; língua

    geográfica; gengivas hipertrofiadas e edemaciadas; sorriso gengival;

    assimetrias faciais (por usar só um lado para mastigar); deformidade torácica;

    “fácies” alongadas ou adenoidiana; olheiras e olhar sem "brilho". Com relação

    as alterações de ordem respiratória podemos destacar: obstrução nasal,

    respiração bucal, respiração audível, roncos, apnéia e coriza. De acordo com

    as alterações de ordem muscular podemos destacar as seguintes

    características: tensão do bucinador e mentalis, hipertonia do orbicular da boca

    e do mentoniano, lábio superior hipertônico, lábio inferior evertido, gretado e

    hipotônico, boca entreaberta, hipotonia do palato mole, hipotonia muscular

    (corpórea) e ricto facial ao deglutir saliva ou alimento. Poderemos ter ainda,

    alterações posturais tais como: ombros para frente comprimindo o tórax, vícios

    posturais (cabeça, lordose/cifose, escápulas, pelve), alterações na planta dos

    pés, ventre proeminente, oclusão em classe II ou pseudo classe III, por pressão

    lingual ou por presença de hipertrofia das tonsilas palatinas, sobremordida,

    mordida aberta ou cruzada, distúrbios da fala, diminuição do olfato e paladar,

    zumbidos, estalidos e pressão nos ouvidos, hipoacusia, disfunção

    temporomandibular, voz rouca anasalada, nariz pequeno afilado e bruxismo.

    Podemos ter alterações segundo caracteres nutricionais tais como:

    alimentação inadequada, obesidade ou magreza e mastigação ruidosa. Com

    relação ao comportamento, podemos destacar que o indivíduo freqüentemente

    dorme sentado, reluta em ir para cama, tem um sono inquieto, com pesadelos

    claustrofóbicos, possui pouca concentração nos estudos e apresenta fadiga.

    Quando há presença de obstrução crônica poderemos ter, hipertensão arterial

    (sem causa cardiovascular primária), hepertrofia dos cornetos (por rinopatia

    alérgica ou vasomotora, hipertrofia da tonsila faríngea e tonsilas palatinas,

  • 18

    nódulos de pregas vocais, hipertensão pulmonar e finalmente desvio de septo

    nasal.

    QUINN (1981) relatou que os Indivíduos com obstrução nasal

    proporcionam uma rotação descendente e inversa da mandíbula com o

    desenvolvimento facial imediato. Estas modificações morfológicas transitórias

    passam a ter um resultado em adolescentes e adultos com faces longas e um

    aumento da altura facial inferior e problemas oclusais.

    Segundo VIG et al. (1981), existem diversos métodos de avaliação da

    obstrução nasal. Os mais acurados e recentes são a rinometria acústica, para

    avaliação da geometria da cavidade nasal (medidas de área e volume) e a

    rinometria de pressão e fluxo, para análise do fluxo e resistência do ar nas vias

    aéreas superiores. Ambos são testes não invasivos e de curta duração,

    aproximadamente vinte e cinco minutos, que, quando conjugados, geram um

    bom diagnóstico das condições gerais de morfologia e função da cavidade

    nasal. Embora exista relação positiva entre o fluxo de ar e as medidas

    anatômicas das vias aéreas superiores obtidas por meio de análise

    cefalométrica, a validez deste estudo bidimensional numa projeção radiográfica

    para medir uma estrutura tridimensional é questionável. Sabe-se, entretanto,

    que estes testes respiratórios também têm limitações, pois, não geram

    informações suficientes para se afirmar que o indivíduo é um respirador bucal,

    havendo necessidade de se comprovar com exames clínicos e anamnese. A

    verdadeira função destes testes é a de indicar quantitativamente, o grau de

    obstrução nasal. Correlacionando respiração bucal com a morfologia facial,

    observaram indivíduos com proporções faciais normais e lábios competentes,

    indivíduos com proporções faciais normais e lábios incompetentes e indivíduos

    com face longa e competência labial. Concluíram que a incompetência labial

    não é sinônimo de respiração bucal e que não se deve relacionar respiração

    bucal com morfologia facial.

    Segundo MASSLER (1983), alguns dos fatores etiológicos responsáveis

    por hábitos bucais incluem conflitos familiares, pressão escolar, irritações

    associadas com erupção dental, interferências oclusais, obstrução respiratória,

    má postura e outros fatores emocionais. Há ainda causas associadas a

  • 19

    problemas na tonsila faríngea, nas tonsilas palatinas ou no próprio nariz (desvio

    do septo e hipertrofia das conchas). Estes dois podem trazer como

    conseqüência a respiração bucal, que interfere na tonicidade, postura,

    mobilidade e sensibilidade de órgãos fonoarticulatórios, podendo gerar hábitos

    bucais viciosos. É imprescindível que a avaliação otorrinolaringológica seja

    realizada sempre que estão presentes os hábitos bucais viciosos para que

    sejam descartados fatores anatomofuncionais como etiologia do quadro clínico

    presente. Esses hábitos bucais, em especial a respiração bucal, alteram, na

    maioria das vezes, o padrão facial normal.

    AZEVEDO (1984) relatou que a respiração feita pelo nariz propicia

    crescimento e desenvolvimento do maciço craniofacial, agindo com a

    mastigação e a deglutição. A deficiência crônica de oxigenação sanguínea

    apropriada (diminuição da saturação do O²) propicia perda da qualidade de

    vida, alterações estéticas secundárias a disfunção nasal com repercussão

    sobre os arcos dentários e aceleração dos processos de envelhecimento. Da

    mesma maneira, quem respira pela boca tem constantes faringites e

    hipertrofias das tonsilas palatinas. Esses indivíduos apresentam variações nas

    características faciais tais como: face longa e estreita, lábios superiores

    hipotônicos, protrusão mandibular, entre outras.

    KRUGER (1984) pesquisou sobre o prognatismo mandibular e chegou à

    conclusão de que este é, dentre as anomalias de desenvolvimento da

    mandíbula, a mais facilmente encontrada, sendo conhecida de forma comum,

    como uma má formação hereditária transmitida da mesma maneira que outras

    anomalias faciais (como a micrognatia e o retrognatismo), ou como

    conseqüência de um distúrbio endócrino. Vários transtornos são acarretados

    por este tipo de deformidade, principalmente os de caráter estético e funcional.

    Funcionalmente o prognatismo mandibular é responsável por alterações

    oclusais, fonéticas, periodontais, temporomandibulares e na tipologia facial. Os

    fatores função e estética estão relacionados ao tratamento das deformidades

    maxilomandibulares, porém a população tem uma maior consciência das

    alterações da estética do que as limitações funcionais delas advindas, mesmo

    que funções vitais como a respiração e a alimentação sejam afetadas. Todo

  • 20

    este processo está também relacionado com a respiração bucal.

    SANTOS-PINTO (1984), com o objetivo de estudar as alterações

    craniofaciais decorrentes da hipertrofia da tonsila faríngea em crianças,

    analisou, com o auxílio da cefalometria radiográfica, cinqüenta indivíduos de

    ambos os gêneros, na faixa etária dos nove aos quatorze anos e portadores de

    maloclusão de classes I e II de ANGLE. Vinte e cinco dos indivíduos

    apresentavam imagens do espaço aéreo nasofaringeano amplo e livre de

    quaisquer processos que pudessem interferir com a livre passagem de ar,

    enquanto os demais indivíduos exibiam uma redução desse espaço por

    hipertrofia da tonsila faríngea. Pela análise dos dados obtidos, concluiu que,

    nos jovens com tonsila faríngea hipertrófica, a altura facial anterior apresenta-

    se aumentada.

    WARREN; LEHMAN; HINTON (1986) observaram que a postura do

    padrão respiratório e a morfologia craniofacial tem sido questão de

    considerável interesse nos campos da antropologia, da ortodontia, bem como,

    da pediatria médica e odontológica e da otorrinolaringologia. Na área

    antropológica, o interesse parece estar relacionado com a necessidade de

    comparar a morfologia craniana entre os diversos grupos populacionais,

    enquanto na ortodontia, o interesse se relaciona com a busca da estética

    apreciável e a necessidade de se confeccionar planejamentos terapêuticos que

    modificarão a morfologia craniofacial. Os pediatras e os otorrinolaringologistas

    têm também interesse especial nesta área porque visam ao cuidado da saúde

    geral do indivíduo. Respiração bucal é um resultado inevitável de obstruções

    das vias aéreas superiores associadas à postura mandibular e à função

    muscular peribucal, e tem sido postulada como causadora de mudanças

    indesejáveis no crescimento facial e do arco dentário. A existência de um

    relacionamento entre postura da cabeça, padrão de respiração e morfologia

    dentofacial tem sido avaliada por meio de diferentes metodologias.

    Segundo MOYERS (1988) existem indivíduos adultos que contatam

    apenas dentes posteriores, contraem fortemente a musculatura facial e

    projetam fortemente a língua durante a deglutição. Este tipo de deglutição

    atípica pode estar acompanhada de síndromes que acometem o esqueleto

  • 21

    craniofacial. Nestes indivíduos, existe uma história de problemas respiratórios

    crônicos, tonsilas palatinas e faríngeas inflamadas, o que levaria a língua a

    uma posição para frente e, muitas vezes, para fora da cavidade bucal, como

    que se afastando da região dolorosa e permitindo mais espaço para a

    passagem do ar. Isto pode associar a deglutição atípica com a obstrução nasal

    e crescimento facial. Estudou também crianças alérgicas com hábito de

    respirar pela boca e com alterações na estrutura craniofacial.

    SHAPIRO (1988) relacionou obstrução nasal e crescimento facial em

    crianças alérgicas e respiradoras bucais com face longa e estreita e

    retrognatismo mandibular. Comparando-as com um grupo controle, concluiu

    que a intervenção médica em crianças alérgicas não tem demonstrado

    interferência no padrão do crescimento facial, bem como as terapias invasivas,

    como a intervenção cirúrgica da tonsila faríngea, também não conduziram a

    uma significante alteração na forma facial. Constatou ainda que embora muitos

    estudos demonstrem o relacionamento entre obstrução nasal e crescimento

    facial, o clínico deveria ser cauteloso em prescrever terapias agressivas.

    COOPER (1989) revisando alguns estudos clínicos realizados para a

    determinação do padrão respiratório, verificou que nem todo incompetente

    labial era respirador bucal, pois somente um terço dos indivíduos com

    incompetência labial exibiam respiração bucal. Os dois terços restantes eram

    respiradores nasais, pois, apesar de manterem os lábios abertos, a entrada de

    ar estava obstruída pelo dorso da língua que se encontrava elevado. Esses

    indivíduos estudados apresentavam características faciais modificadas por todo

    o processo respiratório anormal, ou seja, pela boca.

    Segundo GOMES; PROENÇA; LIMONGI (1989) os hábitos bucais

    viciosos mais freqüentes são sucção de lábio, dedo, bochecha ou de objetos,o

    que podem provocar alterações na arcada dentária e na mordida, hipotonia dos

    órgãos fonoarticulatórios, respiração bucal, onicofagia e outros. O hábito de

    respirador bucal tem sido fonte de estudo, pelo fato de ser tão freqüente e

    pelos danos que pode causar. Esses hábitos trazem conseqüências

    importantes na morfologia do palato duro, alteração de posicionamento dental,

    movimentação da língua, com alterações musculares peribucais e

  • 22

    fonoarticulatórias, tendo maior risco de desenvolvimento da mordida aberta,

    mordida cruzada, altura facial exagerada e distúrbios de motricidade bucal.

    HARTGERINK; VIG (1989), num estudo com a finalidade de analisar a

    resistência nasal antes e após uma expansão da maxila, não encontraram

    relação entre essas duas variáveis. Nesse mesmo trabalho correlacionaram

    postura labial, altura inferior da face e resistência nasal, e concluíram que

    nenhuma correlação importante poderia ser estabelecida entre fatores

    morfológicos e respiratórios.

    LINO (1990) afirmou que, possivelmente o hábito de respiração bucal

    era o único que trazia alterações em níveis acima do complexo dentoalveolar,

    na região nasomaxilar. Ressaltou a importância do diagnóstico precoce da

    síndrome do respirador bucal e da abordagem interdisciplinar, para que os

    danos fossem evitados ou sanados o mais precocemente possível. A

    respiração bucal, quando instalada desde a infância, passando pela fase de

    crescimento, causa grandes transtornos à saúde do indivíduo. O tratamento do

    respirador bucal deve ser individualizado, abrangendo um caráter pessoal,

    psicológico, emocional, familiar e social.

    FIELDS et al. (1991) estudaram o padrão respiratório por um meio

    bastante determinado a plestimografia (análise dos movimentos do abdômen e

    da caixa torácica durante a respiração). Dezesseis indivíduos com dimensões

    faciais normais e trinta e dois com faces longas foram submetidos ao teste.

    Concluíram que a porcentagem de respiração nasal no grupo de dolicocéfalos

    era reduzida, quando comparada à de indivíduos de dimensões faciais

    normais. Não obstante, alegaram que as diferenças expressivas no modelo

    respiratório, mesmo que adicionadas ao tipo facial, não devem ser puramente

    relacionadas ao arquétipo facial, uma vez que se deve ressaltar o papel na

    amostra da respiração. Reafirmaram a necessidade de testes respiratórios

    agregados a um exame físico e anamnese completa para se fechar o

    diagnóstico.

    De acordo com HUNGRIA (1991), o septo nasal pode sofrer

    deformações decorrentes do hábito de respiração bucal permanente em

    crianças, pois, a obstrução nasal forma vácuo relativo nas fossas nasais e a

  • 23

    respiração bucal promove maior pressão atmosférica sobre o palato, tornando-

    o ogival, conseqüentemente provocando o encurvamento do septo nasal.

    Outras modificações faciais podem ser observadas nestas crianças como

    narinas finas, estreitamento e alongamento do corpo da mandíbula,

    crescimento craniofacial desordenado, ou seja, fora do padrão normal.

    ALTMANN (1992) relatou que a tonsila faríngea é um tecido linfóide

    implantado na mucosa da faringe. No nascimento, ela resume-se a uma

    discreta saliência que, com o passar do tempo, vai aumentando e, em função

    disso, pode provocar dificuldade respiratória. Ela atinge o seu volume máximo

    entre os quatro e os quatorze anos de vida. No entanto, nessa mesma ocasião

    há um aumento do volume da nasofaringe pelo crescimento da face e do

    crânio, melhorando assim o problema obstrutivo. A partir dessa faixa etária, a

    tonsila faríngea passa a involuir espontaneamente, desde que não esteja

    sujeita a infecções crônicas ou recorrentes. Descreveu também que há nesses

    casos adaptações morfológicas devido a atividades dos músculos faciais

    relacionados ao hábito de respiração bucal. Relatou ainda que o

    estabelecimento da função respiratória depende do diâmetro livre da faringe

    para a passagem do ar direcionado para os pulmões. Para manter esse

    diâmetro, necessita-se de tônus adequado da musculatura intrínseca da própria

    faringe e de sua musculatura de sustentação. As alterações do crescimento

    facial mais comuns são o hipodesenvolvimento do terço médio da face, as

    mordidas cruzadas anteriores e as mordidas cruzadas posteriores. Estas

    alterações afetam a harmonia das arcadas dentárias e o equilíbrio da

    musculatura bucofacial. A abordagem terapêutica fonoaudiológica no pós-

    cirúrgico ortognático é de fundamental importância, uma vez que toda estrutura

    mole pode ainda estar comprometida por ter ficado por algum tempo alterada,

    como nos casos de assimetria facial, mordidas abertas esqueléticas, mordidas

    cruzadas, levando também a alterações na mastigação, deglutição, respiração

    e na musculatura da expressão facial que se pode apresentar hipotônica,

    hipertônica ou até mesmo estirada como no caso dos lábios e dos músculos

    mastigatórios, além da falta de sensibilidade dos tecidos que foram cortados e

    sofreram algumas microlesões nervosas.

  • 24

    PETRELLI (1992) enfatizou que existe uma predominante tendência em

    aceitar a respiração bucal como etiologia de algumas maloclusões. A

    respiração bucal provoca adaptações como, alterações no posicionamento da

    língua e alterações posturais que, se permanecerem por um longo período de

    tempo, são capazes de provocar repercussões desastrosas na arquitetura

    facial.

    URIAS (1992) afirmou que a causa da obstrução da via nasal pode ser

    um fator etiológico ou, ao menos, predisponente ao desenvolvimento das

    maloclusões como a mordida aberta e, caso estas alterações persistam por um

    longo período, poderá levar a alterações esqueléticas mudando assim o padrão

    facial normal. Ponderou ainda que não existe uma relação simples de causa e

    efeito entre a função nasorrespiratória e o desenvolvimento craniofacial.

    BIANCHINI (1993) relatou que os indivíduos portadores de disfunção

    respiratória crônica apresentavam hipotonia dos músculos tempbucal, masseter

    e bucinador, língua baixa e hipotônica e lábios entreabertos. Mencionou

    também que as alterações respiratórias modificam todo o comportamento do

    sistema estomatognático. Concluiu que a diminuição do espaço nasofaríngeo a

    principal causa geradora de uma respiração bucal. Salientou que, quando a

    respiração nasal está obstruída, é freqüente o aparecimento de narinas

    estreitas, microrrinia, palato ogival ou inclinação do plano palatino para cima,

    língua baixa e hipotônica (em alguns casos, alta para regular a passagem de

    ar), lábios entreabertos e hipotônicos comprometendo assim a harmonia facial.

    MARCHESAN; KRAJKAUER (1993) salientaram que a respiração bucal

    interfere negativamente na postura adequada da língua em repouso ou em

    ação, encontrando-se freqüentemente associada à hipofunção dos músculos

    elevadores da mandíbula e à incompetência labial. Baseados em uma vasta

    experiência clínica, enumeraram as possíveis conseqüências da respiração

    bucal, entre elas a hipotonicidade dos lábios, da língua, das bochechas e

    alterações na fala decorrentes de deformidades bucofaciais. Esclareceram que

    a denominação “fácies adenoideana” ou síndrome da face longa tem sido

    utilizada para descrever as características típicas de um indivíduo respirador

    bucal. As deformidades da arcada dentária e do palato, a altura facial

  • 25

    aumentada e o retroposicionamento da mandíbula são achados constantes

    nessa população geral de respiradores bucais. Sabe-se que a respiração bucal

    ocorre com mais freqüência em indivíduos dolicocéfalos, devido ao fato de o

    terço inferior da face ser mais longo, dificultando o selamento labial e mesmo o

    posicionamento da língua.

    Segundo DOUGLAS (1994), num período em que o ar se torna mais

    seco, lábios poluído e frio, os consultórios médicos começam a receber um

    maior número de indivíduos, em sua grande maioria crianças, com problemas

    de ordem respiratória. A respiração ideal fisiológica ocorre pelo nariz, e

    proporciona uma filtragem, aquecimento e umidificação do ar. Quando a

    criança não consegue respirar pelo nariz, é obrigada a usar a boca, e o ar que

    penetra pela boca chega aos pulmões poluídos, com umidade e temperatura

    inadequadas, favorecendo o aparecimento de rinites alérgicas, sinusites,

    hipertrofia das tonsilas faríngea e palatinas, definindo o quadro de respiração

    bucal. A manutenção dessa situação no tempo irá induzir à ocorrência de

    diversos transtornos, entre eles podemos destacar altura facial exagerada,

    lábios hipotônicos e incisivos superiores inclinados excessivamente para fora

    da cavidade bucal. Essas características desarmonizam a arquitetura facial.

    GROSS et al. (1994) afirmaram que um certo número de teorias

    defendem que o crescimento facial indesejado e a maloclusão estão

    associados à respiração bucal. Uma fossa nasal obstruída pode resultar na

    alteração do fluxo e pressões de ar interferindo no crescimento do palato.

    Como resultados, as crianças respiradoras bucais podem apresentar incisivos

    superiores inclinados para vestibular, uma arcada superior em forma de “V”,

    uma abóbada palatina alta e estreita, uma relação esquelética de classe II e

    uma tendência de mordida aberta.

    Segundo MICHAS et al. (1994), as evidências clínicas e experimentais

    sugerem que as relações musculares com os dentes e estruturas esqueléticas

    podem ser significativamente influenciadas pelas mudanças do meio ambiente.

    Um fator ambiental amplamente observado com influências no

    desenvolvimento das anomalias dentofaciais é a mordida aberta postural,

    geralmente associada à respiração bucal. Indivíduos com o hábito de

  • 26

    respiração bucal, a longo prazo são caracterizados freqüentemente por uma

    mordida cruzada posterior, mordida aberta postural, narinas pequenas e

    pobremente desenvolvidas, um lábio superior curto e hipotônico e um lábio

    inferior cheio e evertido. Esses indivíduos podem apresentar a maxila atrésica,

    uma abóbada palatal estreita, uma arcada superior em forma de “V”, incisivos

    superiores inclinados para vestibular e uma face longa e estreita. Essas

    adaptações morfológicas são o resultado de uma alteração na atividade dos

    músculos faciais relacionados à respiração bucal.

    OULIS et al. (1994) pesquisaram a incidência de desvios no padrão

    facial, associados a hábitos bucais numa população de crianças que

    apresentavam hipertrofia da tonsila faríngea com ou sem tonsilas palatinas

    aumentadas, as quais estavam prontas para serem removidas cirurgicamente.

    Na mesma amostra, foi feita uma tentativa para relatar a presença de

    obstruções severas das vias respiratórias superiores. Os resultados dessa

    pesquisa revelaram altas porcentagens de desarmonias faciais em crianças

    com obstrução bucofaríngea e obstrução nasal severa. Deve–se ressaltar que

    a obstrução parcial da nasofaringe faz com que a respiração bucal seja

    necessária para completar a extensão exata da respiração.

    Segundo JUSTINIANO (1995), várias são as causas existentes na

    obstrução nasal, tais como: infecções das vias aéreas superiores, rinite

    medicamentosa ou alérgica, hipertrofia da tonsila faríngea, hipertrofia e atresia

    das conchas nasais, hipertrofia bilateral das tonsilas palatinas, desvio de septo

    nasal, tumores nasais, traumatismos faciais e obstrução mecânica do nariz (por

    exemplo, presença de corpos estranhos). As alterações observadas

    clinicamente na síndrome do respirador bucal são: face longa e estreita, boca

    aberta, lábios separados e ressecados, lábio superior curto, lábio inferior

    hipotônico e evertido, língua hipotônica e volumosa, mordida aberta anterior,

    mordida topo a topo, desarmonias oclusais, palato ogival e contração facial

    exagerada ao deglutir.

    PROFFIT; FIEDS JUNIOR (1995) citaram a teoria da matriz funcional de

    crescimento, afirmando que nem o osso nem a cartilagem determinam o

    crescimento craniofacial. Esse desenvolvimento ósseo ocorre como uma

  • 27

    resposta para as necessidades funcionais, sendo mediado pelos tecidos moles

    associados a esse osso. Em outras palavras, à medida que os tecidos moles

    crescem, eles constituem a matriz funcional para o crescimento das cartilagens

    e dos ossos. Muitos são os fatores que determinam o crescimento e, se

    alterados, como por exemplo, com as obstruções nasofaríngeas e com a

    presença de alterações do modo respiratório, irão influenciar a função e a

    atividade do sistema estomatognático e as estruturas que fazem parte da face.

    De acordo com SANTOS (1996), os reflexos sincronizados das funções

    de respiração, mastigação e deglutição, maturados a partir da amamentação

    natural, deveriam ocorrer durante os sucessivos períodos da dentição sem

    problemas físicos (falta de espaço, má posição dentária, perda óssea por

    trauma, entre outros) e funcionais (nas articulações ou músculos). Quando o

    processo respiratório é alterado temos um comprometimento esquelético em

    relação ao complexo craniofacial.

    TOLEDO; BEZERRA (1996) concluíram que a respiração bucal tem sido

    citada como provável fator etiológico dos fatores que modificam o padrão facial

    aceitável. Uma vez que a função respiratória determina a postura da mandíbula

    e da língua, parece lógico que possa também alterar o desenvolvimento

    mandibular, a forma dos arcos dentários e a altura da face, alterando assim o

    padrão facial. A respiração bucal, como conseqüência do bloqueio

    nasofaríngeo, pode provocar não apenas a mordida aberta, mas também uma

    série de modificações neuromusculares que acarretam alterações no padrão do

    crescimento facial. Estudos epidemiológicos concluíram ser significante a

    relação entre a respiração bucal, a relação de classe II e as desarmonias

    faciais, indicando que essas anomalias não são autocorrigidas.

    GRIMM; THOMAS (1997) Fizeram pesquisas sobre a cavidade bucal e

    consideraram que as mudanças da tipologia facial eram variáveis, dependendo

    de uma série de fatores como o grau da atresia das conchas nasais e a

    presença da traqueotomia. O estreitamento do palato, retrognatia, postura da

    língua para frente, alongamento facial, entre outros, estavam presentes nos

    indivíduos pesquisados.

  • 28

    JABUR et al. (1997) investigaram as possíveis repercussões das

    variações de padrão respiratório sobre as alterações funcionais,

    neuromusculares, esqueléticas e dentárias. Foram estudados quarenta e três

    indivíduos, sendo todos submetidos a exames fonoaudiológico e ortodônticos.

    Concluíram que os indivíduos portadores do hábito de respirar pela boca

    apresentavam os mais variados tipos de oclusão, não estando limitados a uma

    maloclusão específica, desarmonia facial, padrão de crescimento vertical,

    modificações na arquitetura facial e alterações no equilíbrio muscular.

    De acordo com KÖHLER (1997), as questões ligadas às vias aéreas

    superiores têm implicações em relação a postura da região craniocervical, ao

    mecanismo hióideo (que é a base estrutural de sustentação da língua tanto em

    repouso quanto em sua dinâmica), ao crescimento transversal do terço médio

    da face, representada pela região nasomaxilar e seus anexos e com as

    questões da miodinâmica de toda a região. Não é preciso reiterar que o que se

    pode inferir de forma lógica e racional e deduzir que todo o equilíbrio, harmonia

    morfofuncional não só da face, mas de todo o contexto craniocervicofacial

    estará comprometido com a presença do hábito de respiração bucal.

    MOCELIN; CIUFFI (1997), por meio de estudos longitudinais, chegaram

    à conclusão que indivíduos com o hábito de respiração bucal mantêm a boca

    aberta constantemente, evitando que a língua pressione o palato. Com isso, há

    compressão externa da maxila pelo desenvolvimento do sistema ósseo e

    muscular da face. O palato duro tende a subir (formando o palato ogival) e a

    arcada superior tende a se deslocar para frente e para dentro, provocando a

    distoclusão e a mordida cruzada posterior. Ao subir, o palato pressiona o septo

    cartilaginoso para cima e para frente, desviando-o. Estas alterações provocam

    o aspecto prolongado e estreito da face, característico dos respiradores bucais.

    Com relação à arcada dentária, a grande maioria das crianças com o hábito de

    respiração bucal evoluem para alteração da oclusão dentária, que é a

    “desoclusão” com a inclinação dos incisivos para vestibular.

    OLIVEIRA (1997) fez estudos da presença de desvio do padrão facial e

    seus fatores etiológicos e chegou ao seguinte resultado: a prevalência da

    desarmonia facial atingiu o topo em duzentas e vinte e quatro crianças entre

  • 29

    três e cinco anos de idade. Os fatores etiológicos considerados são: hábitos de

    sucção digital, uso da chupeta, problemas respiratórios, posição postural

    durante o sono, má posição dentária (ainda que com apenas um dente) e perda

    precoce ou retenção prolongada da dentição decídua. Na prática, o que se

    observa com freqüência é a associação de alguns fatores como, por exemplo,

    problemas respiratórios, atresia da maxila, interferências oclusais em caninos

    decíduos, faces alongadas, narinas finas e estreitas, entre outros.

    Segundo RIBEIRO et al. (1997), a síndrome de Rett é uma desordem

    progressiva neurológica que atinge um para dez mil indivíduos do gênero

    feminino. Dezessete crianças com a síndrome de Rett foram estudadas na

    faculdade de odontologia da Universidade de São Paulo e constatou-se que

    41% (ou seja, sete das dezessete) eram respiradoras bucais; cinco projetavam

    a língua para frente e para fora da boca; duas tinham o hábito de deslocar a

    mandíbula lateralmente. Somente cinco tinham o hábito de babar. Com relação

    aos fatores etiológicos responsáveis pela respiração bucal desta síndrome,

    entre eles podemos observar hipertrofia da tonsila faríngea e tonsilas palatinas,

    obstruções e deformidades nasofaríngeas e infecções das vias respiratórias

    superiores. Aparentemente, essas infecções são os principais fatores para

    estes hábitos dentre as crianças examinadas. Foram feitas avaliações da

    oclusão dessas crianças nas relações anteroposterior, vertical e lateral. Na

    relação anteroposterior foram estudadas as relações entre os caninos, molares

    decíduos e molares permanentes; na relação vertical, foi examinada a mordida

    aberta ou mordida profunda, na relação lateral foram examinadas as mordidas

    cruzadas posteriores. Concluíram que 10% das crianças apresentavam relação

    de classe II; 8% tinham mordida aberta (o que provocava a desarmonia facial,

    provavelmente relacionada com hábito de sucção de dedo), respiração bucal e

    língua protuída; nove crianças tinham uma relação lateral anormal e mordida

    cruzada posterior, o que tornava essas crianças com algum desvio do padrão

    facial normal.

    Segundo SERRA-NEGRA; PORDEUS; ROCHA JÚNIOR (1997), na

    abordagem terapêutica do respirador bucal, o ideal seria a presença de uma

    equipe interdisciplinar, atuando adequadamente em cada etapa do processo.

  • 30

    Os profissionais essenciais requisitados para o tratamento envolvem médicos

    otorrinolaringologistas, cirurgiões-dentistas ortodontistas e fonoaudiólogos, não

    descartando a possibilidade de intervenção de médicos alergistas, psicólogos,

    nutricionistas e fisioterapeutas. A melhor maneira de se prevenir as alterações

    decorrentes da respiração bucal é a correção nos primeiros anos de vida. É

    inegável a importância do aleitamento materno, que contribui para o pleno

    desenvolvimento da criança, tanto no plano psicológico, quanto no plano de

    saúde bucal. O aleitamento materno é um método preventivo importante no

    desenvolvimento correto dos ossos e músculos da face, sendo neste momento

    que a criança exercita toda a musculatura peribucal e promove a respiração

    nasal. No ato da sucção do leite materno, a respiração é feita corretamente

    pelo nariz, havendo um vedamento labial e um tônus muscular adequado dos

    músculos bucofaciais. É fundamental que a amamentação, como um trabalho

    muscular de ordenha, seja a prevenção da síndrome do respirador bucal e das

    disfunções do aparelho estomatognático. Quando a respiração não ocorre pelo

    nariz, temos uma adaptação morfológica nas estruturas faciais.

    SOLIVA (1997) estudou sobre algumas desarmonias faciais e estruturais

    na visão da reabilitação dinâmica e funcional da ortopedia facial. Dentre elas

    podemos citar: lábios hipotônicos, mordida aberta anterior, lábio inferior

    evertido, altura facial aumentada, entre outras. Observou também que a causa

    mais freqüente desse tipo de desvio do padrão facial é a respiração bucal, em

    que haverá uma notória compressão na maxila. Resultou que, com a presença

    do hábito de respiração bucal, irá desenvolver uma atresia simétrica da maxila,

    um trauma oclusal compulsório provocado pela oclusão de topo nas áreas

    mencionadas, criando as condições propícias para um desvio no padrão facial.

    De acordo com SCHINESTSCK; SCHINESTSCK (1998), a respiração

    bucal representa uma disfunção orgânica da maior importância sendo o início

    de alterações funcionais e das adaptações morfofuncionais que se manifestam

    em vários órgãos, função e sistemas, comprometendo a harmonia do padrão

    facial. As repercussões orgânicas, oriundas da inversão do padrão respiratório,

    atingem principalmente os sistemas respiratório, digestivo, dentomaxilofacial e

    esquelético pulmonar.

  • 31

    SIMÕES (1998) correlacionou a condição respiratória inadequada

    juntamente com a associação de hábitos nocivos, como o uso prolongado de

    mamadeira, sucção de chupeta e ou dedo, os quais solicita da musculatura

    respiratória e mastigatória um trabalho diferente do normal. O indivíduo passa a

    desenvolver adaptações funcionais e alterações estruturais, prejudicando o

    crescimento e desenvolvimento craniofacial e o posicionamento satisfatório dos

    dentes, além de trazer transtornos em relação ao padrão facial. O

    desenvolvimento do complexo craniofacial está relacionado com dissipação de

    forças resultantes de origem mastigatória, geradas pelos impactos nas

    superfícies dos dentes, pelo que a situação oclusal seria importante no controle

    da função mastigatória, regida pelo sistema neuromuscular.

    VIG (1998) estudou o porque da existência da respiração bucal e a

    modificação no crescimento facial. Concluiu que há de ser identificadas as

    “crianças de risco” por meio de um exame completo incluindo os testes

    rinanométricos, e propor terapia ortodôntica o mais rápido possível. O

    tratamento apropriado é geralmente a expansão rápida de maxila (que pode

    ser efetuado até mesmo na dentição decídua), conjuntamente ou seguida de

    intervenção fonoaudiológica. O conceito de intervenção precoce elimina o fator

    de risco para o crescimento facial e melhora a longo prazo a estabilidade da

    morfologia facial.

    WATASE; MOURINO; TIPTON (1998) tiveram o propósito de observar a

    oclusão de crianças com seis anos de idade e com diagnóstico de otite média.

    O estudo foi feito com cento e doze crianças com otite média confirmada por

    seus médicos pediatras. Foram constatadas crianças com história do uso de

    chupeta, hábito de sucção digital, hábito de mordida aberta postural, hábito de

    mamar, ronco, alergias, infecções das vias aéreas superiores e um certo

    número de fumantes no convívio familiar. Nas cento e doze crianças

    estudadas, as duas formas mais comuns de maloclusão foram a mordida

    aberta (17%) e o trespasse vertical (17%). Esses dois tipos de maloclusão

    foram estimados em 66 % das anomalias da oclusão presentes nesse estudo.

    Dos indivíduos que tinham mordida aberta, treze dos dezenove (68%) usavam

    chupeta. Foram encontradas mais crianças com mordida cruzada anterior

  • 32

    (10%) do que com mordida cruzada posterior (7%). Neste estudo, comparou-se

    o diagnóstico de otite média com a presença de maloclusões, faces alongadas,

    narinas finas, hipotonias labiais superiores relacionadas com problemas

    respiratórios nas cento e doze crianças examinadas.

    MOTONAGA; BERTI; LIMA (1999) pesquisaram cento e quatro crianças.

    Quarenta e oito (46,15%) eram do gênero feminino e cinqüenta e seis (53,85%)

    do gênero masculino, com idade média de seis anos. Chegaram aos seguintes

    resultados: As principais causas da respiração bucal foram rinite alérgica,

    hipertrofia da tonsila faríngea e ou tonsilas palatinas, por hábito e patologias

    obstrutivas associadas. As alterações morfológicas mais comuns foram face

    sugestiva de dolicocéfalo, olheiras, mandíbulas abaixadas, lábios entreabertos

    e alterações dentárias. Não houve associação em tamanho do tecido da tonsila

    faríngea e freqüência de alterações bucofaciais. Não houve associação entre

    causa da obstrução e freqüência de alterações. A denominação “fácies

    adenoideana” ou “síndrome da face longa” tem sido utilizada para descrever as

    características típicas de um indivíduo respirador bucal. As deformidades das

    arcadas dentárias e do palato e o retroposicionamento da mandíbula são

    achados constantes nessa população de respiradores bucais. Sabe-se que a

    respiração bucal ocorre com mais freqüência em indivíduos dolicocéfalos,

    devido ao fato de que o terço inferior da face é mais longo, dificultando o

    selamento labial e mesmo o posicionamento da língua. Existem situações que,

    embora não levem à obstrução nasal, são responsáveis pela respiração bucal,

    entre elas obstrução nasofaríngea, macroglossias, insuficiência labial e por

    hábito. Uma criança respiradora bucal pode ser identificada por características

    faciais típicas. São algumas dessas alterações boca entreaberta, lábio superior

    curto, lábio inferior volumoso e evertido, graus variáveis de face estreita, nariz

    achatado, orifícios nasais pequenos e mal desenvolvidos. A dentição também

    se encontra alterada, consistindo em protrusão dos incisivos superiores com

    estreitamento da maxila, palato ogival e relação entre a maxila e a mandíbula

    desajustada.

    TUKASAN et al. (1999) fizeram um relato de um caso clínico e

    constataram que, no exame intrabucal o indivíduo encontrava-se na fase de

  • 33

    dentição mista, apresentando mordida cruzada anterior associada com mordida

    cruzada posterior unilateral esquerda. A linha média apresentava-se desviada,

    e quando a mandíbula era conduzida à relação cêntrica, verificava-se

    coincidência das linhas média e atresia bilateral da maxila. Tudo isso levava o

    indivíduo a ter um desvio no padrão facial. No exame inicial e anamnese do

    indivíduo, verificaram que ele apresentava o hábito de sucção digital,

    deglutição atípica, problemas rinofaríngeos, respiração mista e dificuldades em

    alguns fonemas.

    CAPELLI JÚNIOR; CARLINI; OLIVEIRA (2000) acreditaram que fatores

    ambientais, como a respiração bucal e interposição lingual, são elementos de

    formação para o mistério do ângulo facial alto. Relataram que a causa destas

    maloclusões é geralmente multifatorial, hereditária ou habitual. Considerando o

    diagnóstico diferencial da face, o ângulo FMA (inclinação do plano mandibular

    com o plano horizontal de Frankfurt) é um dos critérios cefalométricos que

    quantifica o indivíduo com um alto ângulo de dimensão facial. É talvez o valor

    de maior significância porque indica a direção do crescimento facial inferior em

    ambas as dimensões horizontal e vertical. Um ângulo FMA de 30º ou maior,

    seria considerado um indivíduo com um ângulo facial alto. Afirmaram ainda que

    os indivíduos com problemas esqueléticos apresentam: altura facial posterior

    diminuída (relacionada a um ramo ascendente curto); altura facial anterior

    aumentada (relacionada à direção de crescimento do ramo e à forma e

    posição da maxila com desenvolvimento dentário superior e erupção

    compensatória); ou uma combinação de ambas. O segundo fator a ser

    considerado é o conceito de forças direcionais com controle vertical. Define a

    força direcional como um grupo de sistemas de forças que utilizam o controle

    direcional para posicionar os dentes de tal maneira que eles entrem em

    harmonia com os padrões esqueléticos e faciais do indivíduo.

    Segundo CASANOVA (2000), a mudança da respiração nasal para

    bucal traz como principais seqüelas as alterações musculares e ósseas que

    geram assimetrias faciais; alterações da forma nasal; obstrução nasal; olheiras;

    alterações na mordida; hipotonia labial, lingual e de bochechas; alterações no

    crescimento facial; problemas de fala; alterações no posicionamento da língua;

  • 34

    entre outras. O mau posicionamento lingual é responsável pela deformação

    dos arcos dentários, assim o respirador bucal pode roncar ou babar enquanto

    dorme, apresentar irritabilidade, gengivas hipertrofiadas, língua flácida e

    anteriorizadas, deglutição atípica, bruxismo, mau posicionamento da cabeça e

    palidez. Nem sempre, porém, o indivíduo apresentará simultaneamente todas

    as alterações citadas acima. As conseqüências se agravam quanto mais cedo

    for instalada a respiração bucal, já que quanto mais jovem for o indivíduo,

    maiores serão as alterações na oclusão dentária, pois, os ossos em indivíduos

    jovens são moldáveis com maior facilidade. Com isso, pode ocorrer o

    desenvolvimento craniofacial inadequado, se houver no indivíduo uma

    predisposição genética. Os indivíduos portadores de respiração bucal crônica

    apresentam alterações miofaciais, posturais, socioemocionais, expressivas,

    digestivas, fonéticas, crescimento craniofacial e da oclusão dentária. A

    respiração bucal é considerada erroneamente, por alguns autores, como um

    hábito deletério, por seu caráter repetitivo e inconsciente. No entanto, suas

    características e complexidades fazem com que a encaremos muito mais do

    que um simples hábito, mas sim como uma síndrome, a síndrome do respirador

    bucal ou insuficiente respirador nasal. As alterações pertinentes ao sistema

    mastigatório são lábios hipotônicos, posição mandibular prejudicada

    (geralmente em distoclusão, classe II de Angle), vestíbulo versão dos dentes

    superiores anteriores (seguida de Trespasse horizontal em alguns casos),

    estreitamento do arco superior, atresia da maxila transversa com mordida

    cruzada bilateral, face longa, boca entreaberta, palato ogival, seios maxilares

    atrésicos, falta de espaço e apinhamento dos dentes, mordida aberta anterior,

    tônus muscular deficiente e hipodesenvolvimento. É importante ressaltar que

    ocorrem várias alterações sistêmicas e o fator psicológico pode estar envolvido.

    A respiração bucal crônica também pode causar problemas nasais, timpânicos,

    faciais e na postura corpbucal . Os distúrbios torácicos produzem não só

    efeitos estáticos, como também diminuição da capacidade respiratória e

    ventilatória das crianças, agravando o quadro broncopulmonar.

    De acordo com CINTRA; CASTRO; CINTRA (2000), em recentes

    pesquisas foram encontradas várias causas de alterações na harmonia facial

  • 35

    com relação à presença do hábito de respirar pela boca entre elas podemos

    destacar: mordida aberta e palato ogival, pois, a pressão negativa do ar

    entrando pela cavidade bucal, em vez de entrar pelo nariz, faz com que o

    palato cresça para cima, provocando desarmonias faciais como a face

    alongada e estreita. O hábito de respiração bucal é um hábito deletério que

    causa algumas deformidades faciais alterando o equilíbrio das estruturas que

    compõem a face.

    KÖHLER (2000) descreveu a resposta neuromuscular do organismo

    frente à obstrução das vias aéreas superiores. Trata-se de uma adaptação na

    condição postural da cabeça e da mandíbula à língua em uma posição mais

    inferiorizada e adaptação da musculatura da face à forma de mastigar, deglutir

    e respirar. O trabalho inadequado da musculatura induz à ocorrência de

    modificações danosas à arcada dentária, conseqüência de estreitamento da

    maxila, com projeção desta favorecendo o estabelecimento da mordida

    cruzada posterior, modificando também várias características morfofuncionais

    da face.

    IANNI FILHO et al. (2001) compararam dois métodos auxiliares de

    diagnóstico das obstruções nasofaringeanas, a telerradiografia cefalométrica

    lateral e a videoendoscopia nasofaringeana, para avaliar a eficácia dos

    mesmos, por meio de um estudo de reprodutibilidade e validade. Trinta

    indivíduos em tratamento ortodôntico, idades entre sete e dose anos, com um

    padrão de respiração bucal ou mista, persistente ao tratamento

    otorrinolaringológico, realizaram, no mesmo dia, exames radiográficos e

    endoscópico nasofaringeano. Emitiram o diagnóstico segundo analise prévia

    dos exames, e os resultados evidenciaram que a endoscopia nasal foi mais

    confiável ao diagnosticar os diversos processos obstrutivos nasofaringeanos. A

    respiração nasal tem um importante papel nas funções de aquecimento,

    filtragem, e umidificação do ar inspirado e também tem um papel fundamental

    no desenvolvimento da morfologia facial. Quando as vias aéreas superiores

    estão obstruídas por processos obstrutivos de natureza morfológica, fisiológica

    ou patológica, a respiração nasal pode ser alterada levando a um padrão de

    respiração bucal. Em crianças tais alterações podem eventualmente afetar a

  • 36

    morfologia facial e a forma dos arcos dentários. Radiografias isoladamente

    fornecerão uma limitada quantidade de informações, por serem imagens

    bidimensional e estática de estruturas tridimensionais e dinâmicas. A

    videoendoscopia nasofaringeana tem sido apontada como eficiente método de

    diagnóstico e permite uma visualização direta e avaliação dinâmica da

    nasofaringe, com detalhes de cor, textura e volume.

    MARCHESAN; JUNQUEIRA (2001) relataram que as condições

    anatômicas, em especial da faringe, são muitas vezes as principais causas que

    possibilitam as crianças a adquirir uma posição anteriorizada da língua.

    Portanto essa postura normalmente desaparecerá com a puberdade, pois entre

    os oito e os dose anos de idade, indivíduos portadores de hábitos de língua,

    tendem a atingir um padrão de deglutição adulta normal. Isso é atribuído ao

    aumento do tamanho do espaço bucofaríngeo, com o crescimento dos ramos

    mandibulares e com a diminuição da quantidade de tecido linfóide, pois nessa

    idade, ocorre normalmente uma involução das tonsilas palatinas e da tonsila

    faríngea.

    PEREIRA et al. (2001), correlacionaram as alterações na morfologia

    facial, encontradas num grupo de crianças respiradores bucais, comparando-as

    com um grupo de crianças da mesma idade, com respiração

    predominantemente nasal. Foram estudadas trinta e cinco crianças entre sete e

    dez anos de idade, tendo sido divididas em vinte respiradoras bucais e quinze

    respiradoras nasais. As alterações cefalométricas mais comuns encontradas

    em respiradores bucais, comparando-os com os respiradores nasais, foram a

    hipoplasia da maxila e da mandíbula e o aumento do ângulo goníaco, com

    rotação posteroinferior da mandíbula. As mudanças miofuncionais da boca em

    respiradores bucais mais triviais foram a posição dos lábios entreabertos e da

    língua sobre o assoalho bucal, a hipotonicidade dos lábios, da língua e das

    bochechas e a interferência da língua entre as arcadas durante a deglutição e a

    fonação. As alterações esqueléticas no modelo facial, encontradas nas

    crianças respiradoras bucais nos levam a seguinte conclusão: existem

    alterações craniofaciais e miofuncionais nesses indivíduos, já nesta idade,

    mesmo antes do surto de crescimento na puberdade. Este elemento reforça o

  • 37

    valor da análise multidisciplinar e da terapêutica precoce para prevenir as

    seqüelas prejudiciais da respiração bucal contemporizada em crianças.

    Segundo JUNQUEIRA et al. (2002), a tonsila faríngea quando

    aumentada, devido a sua localização pode causar obstrução nas vias aéreas

    superiores e levar à respiração bucal de suplência. Em alguns casos as

    cirurgias de remoção da tonsila faríngea e das tonsilas palatinas são indicadas

    para eliminação do fator obstrutivo, possibilitando a respiração nasal. Algumas

    crianças mesmo sem apresentar queixas e/ou alterações vocais no período

    pré-operatório, desenvolvem uma qualidade vocal hipernasal após remoção

    cirúrgica da tonsila faríngea. Descreveram um caso de hipernasalidade pós-

    cirúrgica com tratamento fonoaudiológico, bem como, os possíveis riscos e

    seqüelas após o procedimento cirúrgico. A primeira infância tem sido marcada

    como uma etapa de ocorrência de problemas respiratórios, principalmente pelo

    aumento da tonsila faríngea e/ou tonsilas palatinas, comum em crianças

    pequenas.

    MACEDO et al. (2002) consideraram a síndrome da face longa como

    exemplo clássico da correlação entre a obstrução das vias aéreas e o

    crescimento anormal do crânio e da face, caracterizada por um rosto alongado

    e estreito, olhos caídos, olheiras profundas, lábios entreabertos, hipotônicos e

    ressecados. Relataram que o relacionamento entre a respiração e o

    crescimento das estruturas da extremidade cefálica tem sido objeto de

    interesse e controvérsia e assim sendo, nem todo indivíduo com esta síndrome

    é um respirador bucal e que a obstrução da função respiratória pode ser

    encontrada em diferentes tipos faciais. Mesmo existindo uma herança genética

    que determine o padrão de crescimento, circunstâncias ambientais como a

    obstrução nasal, podem influenciar esse desenvolvimento. Relataram que

    indivíduos com respiração bucal induzem a um impacto ambiental que pode

    produzir alterações morfofuncionais, resultando em maloclusão.

    MATTAR (2002) buscou verificar as influências da respiração bucal

    crônica sobre o crescimento e desenvolvimento dentofacial em idades mais

    precoces. Afirmou que a função nasorespiratória comprometida pode exercer

    efeitos indesejáveis sobre a morfologia do complexo dentoesquelético. Avaliou

  • 38

    setenta e três crianças de ambos os gêneros, com idades entre três e seis

    anos. Após o diagnóstico otorrinolaringológico quanto à respiração, quarenta e

    quatro crianças respiradoras bucais e vinte e nove respiradoras nasais foram

    comparadas no que se refere ao padrão morfológico da face (analisado por

    meio de radiografia cefalométrica lateral) e características oclusais (analisadas

    nos modelos de estudo). Os resultados desse estudo permitiram concluir que

    as alterações na função respiratória apresentaram-se diferentes nos

    respiradores bucais, quando comparados aos nasais, indicando tendência ao

    padrão dólicofacial. Não houve diferença significativa entre os grupos quanto

    ao relacionamento anteroposterior da mandíbula e da maxila. Com relação às

    características oclusais, somente as distâncias intermolares apresentaram

    correlações expressivas, indicando estreitamento da maxila nos respiradores

    bucais. Contudo, não houve constatação estatística de altercações entre os

    dois grupos quanto as variáveis tais como: distância intercaninos, relação

    anteroposterior de caninos, plano terminal dos segundos molares decíduos,

    trespasse vertical, trespasse horizontal, mordida aberta anterior e presença de

    mordida cruzada posterior.

    Segundo CONTI; LEITE (2003), a fala e a expressão facial fazem parte

    do veículo de comunicação do homem com o mundo. Qualquer alteração que

    cause um desequilíbrio muscular, por exemplo, um hábito bucal insalubre como

    a respiração bucal, trará conseqüências no crescimento facial, na estética e

    nas funções estomatognáticas. A respiração nasal é a mais eficiente, mais

    profunda e a que realiza uma melhor oxigenação pulmonar. A obstrução nasal,

    se não for corrigida, modifica o padrão de respiração do indivíduo para uma

    respiração bucal, causando vários transtornos em órgãos e estruturas, além de

    modificar a arquitetura facial do indivíduo.

    De acordo NEIVA et al. (2003), a criança ao sugar o seio materno,

    estabelece o padrão adequado de respiração nasal e postura correta da língua

    e que os músculos envolvidos estão sendo adequadamente estimulados,

    aumentando o tônus e promovendo a postura correta para futuramente exercer

    a função de mastigação. Os dentes e as demais estruturas que compõem a

    face sofrem pressões de forças provenientes da musculatura da face e da

  • 39

    língua durante as funções de sucção, mastigação, deglutição, respiração e

    articulação dos sons, indicando estreita relação entre o desenvolvimento da

    dentição e a atividade muscular. Estas forças musculares, quando adequadas,

    promovem uma ação modeladora; entretanto, em condições inadequadas,

    podem conduzir a alterações anatomofuncionais indesejáveis. O desmame

    precoce pode levar à ruptura do desenvolvimento motor-bucal adequado,

    provocando alterações na postura e prejudicando as funções de mastigação,

    deglutição, respiração e articulação dos sons da fala. A falta da sucção

    fisiológica ao peito pode interferir no desenvolvimento motor-bucal,

    possibilitando a instalação de maloclusão, respiração bucal e alteração motora-

    bucal. Apontaram ainda que o aleitamento artificial interfere na realização das

    funções de mastigação, sucção e deglutição e pode levar à presença de

    alterações na musculatura bucofacial, na postura de repouso dos lábios e da

    língua, alterações na formação das arcadas dentárias e alterações no palato.

    Mostraram que quanto mais prolongado o aleitamento materno, menor a

    ocorrência de hábitos bucais nocivos, hábitos de sucção, respiração bucal e

    bruxismo. O padrão correto de respiração pode sofrer influências negativas do

    desmame precoce. O lactente com aleitamento materno mantém a postura de

    repouso de lábios ocluídos e respiração nasal. Quando ocorre o desmame

    precoce, a postura de lábios entreabertos do bebê é mais comum, facilitando a

    respiração bucal. A criança que recebe aleitamento natural nos primeiros

    meses de vida tem maior possibilidade de ser um respirador nasal, assim como

    a falta de amamentação natural pode ser um dos fatores que contribuem para o

    surgimento da respiração bucal ou buconasal. A alteração motora-bucal

    compromete as funções de respiração, mastigação e deglutição, podendo estar

    associada a outros problemas. Esta alteração pode decorrer do uso de

    mamadeiras e dos hábitos de sucção não nutritiva, provocando modificações

    na respiração e maloclusão. Verificaram que o aleitamento natural exclusivo

    favorece a sucção normal, e o aleitamento misto induz alterações na sucção,

    que podem levar à ineficiência do padrão motor-bucal da criança. Ressaltaram

    a importância do aleitamento materno tendo em mente o fato de que o

  • 40

    desmame precoce traz conseqüências no desenvolvimento motor-bucal, na

    oclusão, na respiração e nos aspectos motores bucais da criança.

    FRONZA et al. (2004) relataram que a respiração bucal tem sido

    responsabilizada por sérios efeitos no desenvolvimento craniofacial e da

    oclusão, quando não há uma correlação entre as forças internas e externas da

    musculatura bucal ou quando a língua deixa a sua posição normal na abóbada

    palatina, inicia-se um desequilíbrio muscular que pode resultar na maloclusão.

    Nesses casos, a função respiratória normal não ocorre e a musculatura

    peribucal não alcança o seu potencial de força, permanecendo fraca. Tais

    indivíduos também podem desenvolver, além da maloclusão, um hábito de

    deglutição atípica e projetar os incisivos além de suas bases, causando

    problemas periodontais precoces. Observaram que as modificações

    decorrentes da respiração bucal, associada os padrões anormais de

    musculatura envolvem também, modificações posturais em todo o complexo

    craniofacial. Verificaram na literatura, certa falta de critérios ao se diagnosticar

    de forma precisa os indivíduos portadores de lábios sem a tonicidade normal

    ou o comprimento necessário para o correto vedamento labial. Assim, para o

    diagnóstico precoce e para a formulação de um plano de tratamento acertado,

    é fundamental saber se em indivíduos com Classe II, divisão 1 a musculatura

    peribucal pode ter sofrido influências ambientais, como a respiração bucal a

    ponto de alterar a sua fisiologia.

    SANCHES (2004) relatou que devido ao pequeno crescimento da

    mandíbula do recém-nascido no período neonatal (retração mandibular

    fisiológica), a língua se apóia sobre a gengiva ou lábio inferior, numa posição

    anteriorizada e rebaixada, ocasionando um espaço aereofaríngeo que obriga à

    respiração nasal, a qual ocorre em todo recém-nascido. O volume aumentado

    da língua, maior que a estrutura óssea que a suporta (mandíbula), está ligado à

    sua função na alimentação, já que o contato com o lábio inferior permite uma

    postura adequada para a amamentação. Na parte posterior da boca, a base da

    língua encontra-se bem próxima à epiglote, em razão do posicionamento mais

    alto que a laringe do recém-nascido ocupa (bem próximo ao palato mole) até o

    terceiro ou quarto mês, com a função de proteção das vias aéreas inferiores

  • 41

    durante a deglutição, facilitando também o acesso do alimento. Essas

    diferenças anatômicas do recém-nascido são importantes porque o sistema

    bucal infantil ainda não está tão estruturado e eficiente quanto no adulto para

    coordenar sucção, deglutição e respiração. Quanto à pega, é importante

    verificar se o queixo toca a mama, se os lábios estão voltados para fora,

    realizando um correto selamento labial, e se uma área maior de aréola é visível

    acima, e não abaixo, da boca do bebê. Deve-se observar também se a língua

    envolve inferiormente o complexo areolomamilar durante a sucção. Os

    movimentos de ordenha da mandíbula devem ser suaves, coordenados com o

    ritmo de deglutição e respiração, sem a participação do músculo bucinador

    (ausência de “covinhas”), e as sucções devem ser lentas e profundas, com

    pausas.

    LESSA et al. (2005) avaliaram por meio de análise cefalométrica as

    diferenças nas proporções faciais de crianças respiradoras bucais e nasais.

    Foram selecionadas sessenta crianças entre seis e dez anos de idade, que,

    após a avaliação otorrinolaringológica para o diagnóstico do tipo de respiração,

    foram divididas em dois grupos: grupo I, constituído de crianças respiradoras

    bucais, com elevado grau de obstrução das vias aéreas e grupo II, composto

    de crianças respiradoras nasais. Os indivíduos foram submetidos à avaliação

    ortodôntica por meio de radiografias cefalométricas em norma lateral, a fim de

    avaliar as proporções faciais. Constataram que a inclinação do plano

    mandibular nos respiradores bucais foi estatisticamente maior do que nos

    respiradores nasais, enquanto que a proporção da altura facial posterior e

    anterior, e da altura facial anterior superior e inferior foram estatisticamente

    menores nas crianças respiradoras bucais, indicando altura facial posterior

    menor que a anterior e altura facial anterior inferior aumentada nessas

    crianças. Concluíram, então, que os respiradores bucais tendem a apresentar

    maior inclinação mandibular e padrão de crescimento vertical, evidenciando a

    influência da função respiratória no desenvolvimento craniofacial.

  • 42

    4. DISCUSSÃO

    Diversos autores consideraram a respiração bucal como um hábito

    insalubre, pesquisaram sobre a respiração bucal e correlacionaram a condição

    respiratória com o entendimento das patologias acarretadas por esse hábito

    deletério (SIMÕES, 1998; CINTRA; CASTRO; CINTRA, 2000). Contudo, outros

    autores completaram que os defeitos vindos do hábito de respirador bucal

    ainda são discutíveis. Relataram ainda que a respiração bucal é apreciada de

    maneira incorreta, como um hábito nocivo, por seu caráter cíclico e

    inconsciente (EMSLIE; MASSLER; ZWEMER, 1994; HARTGERINK; VIG, 1989;

    CASANOVA, 2000).

    Alguns autores concluíram que a respiração bucal faz com que a língua

    fique numa postura imprópria em repouso ou em ação, encontrando-se

    repetidas vezes integrada à incompetência labial. Esclareceram que o

    selamento labial é comprometido quando há u