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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 4 Número 12 maio 2014 Edição Especial Homenageado F E R N A N D O T A R A L L O Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 192 ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO: DÉCADAS DE 70, 90 e 2010 Eliete Figueira Batista da Silveira* 1 (UFRJ) [email protected] Silvia Carolina Gomes de Souza** (UFRJ) [email protected] RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo descrever o comportamento das vogais médias seguidas de consoante nasal, com base em dados orais da década de 70, 90 e 2010. Para tanto, utilizam-se dados orais coletados em entrevistas realizadas na cidade do Rio de Janeiro. Por meio de análise qualitativa e quantitativa, intenta-se observar: (i) o alteamento em uma análise em tempo real de curta duração (LABOV, 2003); (ii) se o processo de alteamento teve sua frequência de uso modificada ao longo de trinta anos, durante as décadas 70, 90 e 2010, e (iii) que fatores sociais e linguísticos propiciam o fenômeno. Pretende-se caracterizar a fala carioca em uma análise em tempo real, contribuindo para o conhecimento do português brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: Vogais Médias; Alteamento; Variação. ABSTRAT: This paper aims to describe the behavior of mid vowels followed by nasal consonant, based on oral data of the 70, 90 and 2010. To do so, we use data collected from oral interviews conducted in the city of Rio de Janeiro. By means of qualitative and quantitative analysis, attempts should be noted: (i) increasing height in a real-time analysis of short duration (Labov, 2003), (ii) the process of increasing height had changed their frequency of use over thirty years, during the decades 70, 90 and 2010, and (iii) factors that favor the social and linguistic phenomenon. It is intended to characterize the speech Rio in a real-time analysis, contributing to the knowledge of Brazilian Portuguese. KEYWORDS: Medium vowels; Raising; Change. 1. Introdução O trabalho aqui apresentado pretende analisar o comportamento das vogais médias pretônicas travadas por consoante nasal /N/ no Município do Rio de Janeiro, nas 1 * Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. ** Bacharel e Licenciada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, aluna de Iniciação Científica: [email protected] , financiada pela FAPERJ.

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E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 192

ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO

MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO: DÉCADAS DE 70, 90 e 2010

Eliete Figueira Batista da Silveira*

1 (UFRJ)

[email protected]

Silvia Carolina Gomes de Souza** (UFRJ)

[email protected]

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo descrever o comportamento das vogais médias

seguidas de consoante nasal, com base em dados orais da década de 70, 90 e 2010. Para tanto, utilizam-se

dados orais coletados em entrevistas realizadas na cidade do Rio de Janeiro. Por meio de análise

qualitativa e quantitativa, intenta-se observar: (i) o alteamento em uma análise em tempo real de curta

duração (LABOV, 2003); (ii) se o processo de alteamento teve sua frequência de uso modificada ao longo

de trinta anos, durante as décadas 70, 90 e 2010, e (iii) que fatores sociais e linguísticos propiciam o

fenômeno. Pretende-se caracterizar a fala carioca em uma análise em tempo real, contribuindo para o

conhecimento do português brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE: Vogais Médias; Alteamento; Variação.

ABSTRAT: This paper aims to describe the behavior of mid vowels followed by nasal consonant, based

on oral data of the 70, 90 and 2010. To do so, we use data collected from oral interviews conducted in the

city of Rio de Janeiro. By means of qualitative and quantitative analysis, attempts should be noted: (i)

increasing height in a real-time analysis of short duration (Labov, 2003), (ii) the process of increasing

height had changed their frequency of use over thirty years, during the decades 70, 90 and 2010, and (iii)

factors that favor the social and linguistic phenomenon. It is intended to characterize the speech Rio in a

real-time analysis, contributing to the knowledge of Brazilian Portuguese.

KEYWORDS: Medium vowels; Raising; Change.

1. Introdução

O trabalho aqui apresentado pretende analisar o comportamento das vogais

médias pretônicas travadas por consoante nasal /N/ no Município do Rio de Janeiro, nas

1 * Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutora pela Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

** Bacharel e Licenciada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, aluna de Iniciação Científica:

[email protected], financiada pela FAPERJ.

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décadas 70, 90 e 2010, com intuito de verificar o comportamento do fenômeno ao longo

das décadas: se houve um incremento do processo ou se está em declínio.

O presente estudo fundamenta-se nos pressupostos teóricos da Sociolinguística

Variacionista laboviana (WEINREICH; LABOV & HERZOG, 1968/2006), ou seja, no

princípio de que os sistema se constitui de heterogeneidade ordenada, sendo, portanto, a

língua um diassistema (COSERIU, 1979), um conjunto de sistemas que se entrecruzam.

Em função disso, os autores defendem que diferentes sistemas coexistem e estão

disponíveis aos falantes pertencentes a toda a comunidade, o que resulta em considerar

que diferentes formas de expressar o mesmo conteúdo entram em competição, podendo

ocorrer situações distintas: a) o desaparecimento de uma das variantes, ou seja, ocorre

mudança linguística, ou b) a coexistência das variantes, o que se denomina variação

estável, ambas reguladas por fatores internos (ou linguísticos) e externos (ou

extralinguísticos ou sociais). Em função dessa dupla possibilidade, a sociolinguística

propõe que toda mudança linguística implica um estágio de variação. No entanto,

variação não necessariamente conduz a uma mudança. Interessa, portanto, à

Sociolinguística o estudo dos fenômenos variáveis, a fim de observar possíveis

mudanças no sistema linguístico.

No Estado do Rio de Janeiro, ocorre a variação existente entre as vogais [e] ~ [i]

e de [o] ~ [u], fenômeno denominado de alçamento ou alteamento que consiste na

substituição de um fone por outro que não estabelece par positivo, resultando em uma

neutralização fonética. Tal fenômeno não é recente na história da Língua Portuguesa,

uma vez que são encontrados registros do alçamento em cartas, documentos dos séculos

passados.

Castro (1991, p.20) afirma que a elevação das pretônicas se tenha generalizado

no português durante a primeira metade do século XVIII, destacando que deva ter se

iniciado no século anterior, o que confirma o relato de Paul Teyssier (1977, p.71) de que

a elevação das vogais em posição pretônica já fora documentada em textos medievais

portugueses. Também Marquilhas (2000, p.254) afirma que há possibilidades de a

elevação das pretônicas ocorrer desde o século XVI.

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O alçamento, portanto, é um fenômeno em variação que consiste na escolha de

um ou outro fone, no caso [e] ~ [i] e [o] ~ [u]. Essa variação pode ser motivada

fonologicamente, fenômeno descrito como processo de harmonização vocálica, em que

há assimilação do traço de altura da vogal presente na sílaba tônica, como em

realizações m[e]ntira por m[i]ntira, [e]sino por [i]nsino e c[o]mprido por c[u]mprido,

p[o]ntudo por p[u]ntudo. A partir do alçamento de vogais por harmonização, Bisol

(1981) afirma que o alteamento consiste em um processo que não faz saltos (mexerica ~

mexirica ~ mixirica, mas não *mixerica) e, por isso, defende a hipótese de que a

assimilação se dá com a vogal alta da sílaba imediatamente seguinte, chamando a

atenção para a relevância do fator contiguidade, não importando se a uma alta pretônica

ou tônica.

Entretanto, há outros casos em que o alteamento não pode ser justificado pelo

processo de harmonização vocálica, uma vez que não há a presença de vogal alta na

sílaba imediatamente seguinte, como em [i]mpregada, [i]nfeite, c[u]nversa, fenômeno

denominado redução vocálica (ABAURRE-GNERRE, 1981), por tratar-se de

assimilação do traço [+ alto] presente na consoante adjacente.

Em relação às médias travadas por nasal, objeto de estudo do presente trabalho,

verifica-se a impossibilidade de realização da vogal de timbre aberto, pois a presença de

uma consoante nasal “elimina as vogais médias de 1º grau”, como afirma Camara Jr.

(2006, p. 42). Sabe-se, ainda, que a consoante nasal já é um forte condicionador do

alteamento das vogais médias; no entanto, verifica-se que há palavras que sempre se

alteiam (entrada, empregada, compadre) e outras que se mostram resistentes ao

processo (entidade, centrada, controle).

Em estudos sociolinguísticos sobre o alteamento das vogais pretônicas, Viegas

(1987, p. 163-168) afirma que a variação ocorre em contextos específicos, sendo

possível descrever o fenômeno através de uma regra fonológica variável. No entanto,

destaca que há itens lexicais que sempre alteiam e outros que não sofrem o processo,

apresentando ou não contextos fonéticos favorecedores, o que permite afirmar que a

regra de alçamento atua primeiramente nos itens lexicais mais frequentes e mais

comuns.

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A partir dessas constatações questiona-se: o alçamento das vogais é um processo

de mudança neogramática ou de difusão lexical ou mesmo se há atuação das duas

propostas de análise? O modelo difusionista defende que as mudanças sonoras (i) não

têm exceções, as que porventura ocorrem são explicadas pelo principio de analogia; (ii)

são condicionadas apenas por fatores fonéticos e (iii) são foneticamente graduais e

lexicalmente repentinas, atingindo todos os itens lexicais. O modelo difusionista

defende que (i) há exceções e as mudanças sonoras não podem ser explicadas por

analogias; (ii) não são todas as formas que apresentam condicionamento fonético e (iii)

as mudanças sonoras são foneticamente abruptas e lexicalmente graduais, uma vez que

as palavras não são afetadas ao mesmo tempo.

O presente trabalho, por considerar diferentes sincronias, está fundamentado no

estudo da mudança no tempo real tipo tendência. Há dois estudos de tempo real: de

longa duração e o de curta duração. O primeiro analisa dados de diferentes séculos. Este

apresenta uma grande dificuldade que é a ausência de dados de usuários da língua, o que

obriga o pesquisador a recorrer aos textos escritos. O segundo é composto por dados de

anos próximos em que se considera intervalos de cerca de vinte anos.

Segundo Paiva e Duarte (2003) e Labov (1994), uma técnica para acompanhar

os fenômenos variáveis em uma comunidade de fala e nos falantes individualmente

pode ser realizado por meio do estudo tipo tendência, que compara amostras distintas de

uma mesma comunidade, e estudo do tipo painel, que utiliza dados coletados em

amostra de um mesmo indivíduo (por recontato) em diferentes períodos do tempo.

O estudo tipo tendência é realizado através de coleta aleatória de dados de

falantes, em uma comunidade linguística específica, em momentos de tempo distintos.

As pessoas que contribuíram para a constituição do corpus podem ser consideradas

representantes da comunidade, uma vez que a amostra é sociolinguisticamente

estratificada. A partir deste estudo, é possível verificar se a mudança de uma variável se

encontra em propagação, estabilização ou em recuo.

O estudo da mudança em tempo aparente baseia-se no pressuposto de que

comportamentos linguísticos distintos entre gerações podem ilustrar diferentes estágios

da língua. De acordo com Labov (1994), o melhor método para analisar a mudança na

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língua é combinar o estudo em tempo aparente com o estudo em tempo real, o que será

empreendido na presente pesquisa.

Com vistas à caracterização do comportamento das vogais em contexto

pretônico, intenta-se investigar que fatores linguísticos e extralinguísticos contribuíram

para a variação das vogais, o alteamento em uma análise em tempo real de curta

duração, se há condicionamento de base difusionista e neogramática em relação ao

fenômeno e se houve evolução no processo de alteamento das vogais pretônicas no

transcorrer das décadas selecionadas.

2. Desenvolvimento

2.1. Aspectos metodológicos

2.1.1. Constituição do Corpus

Com o propósito de observar a evolução do processo de alteamento nas décadas

de 70, 90 e 2010, o corpus constituiu-se de dados oral coletados em entrevistas

realizadas na cidade do Rio de Janeiro, utilizando-se dezoito informantes pertencentes a

faixas etárias e gêneros diferentes, disponibilizados no endereço eletrônico do projeto

Norma Linguística Urbana Culta – RJ (NURC): www.letras.ufrj.br/nurc-rj/ e no Estudo

comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e

européias – RJ: http://www.concordancia.letras.ufrj.br/.

A partir dos pressupostos teóricos da Sociolinguística Variacionista

(WEINREICH; LABOV & HERZOG, 1968), cujas bases se assentam na premissa de

que a língua é heterogênea e, ao mesmo, tempo ordenada, elaborou-se um conjunto de

variáveis de caráter linguístico e extralinguístico que condicionariam o alteamento. Tais

variáveis foram submetidas ao pacote de programas Goldvarb-X, que selecionou as

variáveis condicionadoras para o fenômeno a ser estudado.

2.1.2 Variáveis Dependentes

Controlaram-se três possibilidades de concretização das vogais médias

pretônicas seguidas de nasal /e/ e /o/: [i], [u], como em imbaixo e cumprida ou, ainda, a

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realização ditongada das médias [ej] e [ow], como em [ej]ntendeu, c[ow]seguiu. Esta

variante foi considerada apenas na análise percentual, a fim de observar sua

produtividade. Em uma segunda análise, foram recodificadas como variantes alteadas,

pois se entende que as vogais ditongadas encontram-se, em um contínuo, mais próximas

ao alteamento do que ao não alteamento.

2.1.3. Variáveis Independentes

As variáveis independentes foram separadas em nove fatores de ordem estrutural

e quatro de ordem social. Portanto, há um total de onze variáveis independentes.

2.1.4 Variáveis estruturais

(a) Contexto precedente à pretônica + nasal

(b) Contexto fonológico subsequente à pretônica + nasal

As variáveis (a) de (b) são consideradas por entender que as consoantes

adjacentes ao contexto vogal média + nasal condicionam o alteamento vocálico, ainda

que de maneira diversa a pretônica anterior e a posterior. Entende-se que a regra de

elevação afeta mais fortemente a média anterior do que a posterior, visto que o contexto

nasal aproxima a média anterior [e] da zona articulatória de [i] (ocorre o aumento das

frequências dos formantes altos), favorecendo o alteamento vocálico. Já no caso da

vogal posterior [o], o aumento das frequências do formante 2 e dos formantes altos

torna [o] mais baixo e mais central, afastando-o [o] da zona articulatória de [u] (cf.

BISOL, 1988).

Ainda sabendo que o contexto nasal já é favorecedor do alteamento -

especialmente de /e/ -, entende-se que a consoante adjacente pode ser mais um fator

condicionante, tendo em vista que se a consoante tiver ponto de articulação mais

próximo de [i] ou de [u] atuará como impulsionador do processo assimilatório. Assim,

parte-se da hipótese de que velares, por serem articuladas com o dorso da língua

levantado) e as palatais, por serem articuladas com o corpo da língua levantado,

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propiciará o alteamento de /o/. De outro lado, as alveolares, cuja articulação ocorre com

a língua em posição mais plana e a parte da frente levantada, não possuem pontos de

articulação próximos a [i] e [u] e, portanto, desfavorecem o alteamento vocálico. As

labiais são caracterizadas por possuírem formante 2 de frequências baixas. Assim,

quando combinadas com [o], baixam também o F2 de [o], aproximando-o da zona

articulatória de [u] de F2 de frequências mais baixas e propiciando o alteamento. Já a

atuação de labiais sobre [e] torna-a levemente centralizada, (pelo abaixamento de F2),

afastando-a da alta [i].

(c) Posição / Distância da sílaba em foco em relação a outra vogal alta adjacente

Acredita-se que a vogal alta tônica ou a vogal alta mais próxima da pretônica

alvo podem atuar para o alteamento, num processo denominado harmonização vocálica.

Assim, esta variável visa a identificar se a maior ou menor contiguidade é um fator

relevante para a atuação do alteamento.

Assim, controla-se a posição e a distancia observando cinco possibilidades de

ocorrência: i) a vogal média pretônica + nasal estar contígua à vogal alta pretônica

([i]nsinava, c[u]mbinar); ii) a vogal média pretônica + nasal estar contígua à vogal alta

tônica (m[i]ntira, c[u]mprido); iii) a vogal média pretônica + nasal estar intercalada por

1 sílaba da tônica alta ([i]nvolvido, [i]entendida); iv) a vogal média pretônica + nasal

estar intercalada por 1 sílaba da pretônica alta ([i]nvernizada, [i]ngravidando), v) a

vogal média pretônica + nasal estar intercalada por 2 sílabas da tônica alta ([i]ncarecida,

[i]ngenharia).

(d) Classe do vocábulo

Controlam-se as classes de palavras, a fim de verificar se o fenômeno do

alteamento se inicia em uma classe de palavras específica e se espraia às demais, como

se prevê em um modelo difusionista. Tal proposta visa a confrontar os dois modelos

teóricos: o da Difusão Lexical (CHEN, M.; WANG, W.S.-Y., 1975; OLIVEIRA, 1991,

1992, 1995) o da Neogramática. O primeiro postula que as mudanças são foneticamente

abruptas, não selecionam um contexto fonológico específico, e lexicalmente graduais,

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uma vez que cada palavras tem sua história e, portanto, é atingida de diferentes formas

pelas mudanças sonoras. O segundo inicialmente previa que as mudanças são

foneticamente graduais, atinge um contexto fonológicas por vez, e lexicalmente

abruptas, atinge todas as palavras do léxico que possuam o contexto de mudança. Labov

(1994: 603) reformula a proposta ortodoxa neogramática e postula que a mudança

fonética é uma mudança na concretização fonética de um segmento fonológico,

independentemente da classe gramatical a que pertençam as palavras analisadas. Ainda,

propõe que uma mudança do tipo neogramático obedece a fatores fonéticos e processa-

se independentemente de intervenção semântica.

(e) Localização da pretônica

Intenta-se verificar se o alteamento ocorre mais nas palavras em que a pretônica

se encontra no prefixo, por exemplo, [i]mbaixo / c[u]ncentra, ou na base lexical, por

exemplo, [i]mpolga / c[u]mplicada. Investiga-se também a origem do vocábulo em

dicionários etimológicos, a fim de verificar a existência de formação por prefixação,

mesmo que sincronicamente esta não seja evidente. Parte-se do pressuposto de que a

maior parte dos alteamentos ocorra em prefixos, uma vez que são átonas permanentes.

(f) Natureza da vogal média pretônica

Entende-se átona permanente aquela que nunca figura em sílaba tônica (menino,

meninice, meninada) e por átona eventual aquela que pode figurar como sílaba tônica,

como em lembro/lembrar. A átona permanente nunca recebe acento principal, ficando

suscetível ao alteamento vocálico. Diferentemente, aquela que eventualmente é átona,

em função de deslocamento da tonicidade, parece preservar o timbre vocálico, numa

espécie de “resíduo” acentual.

(g) Registro de grafias passadas:

Postula-se que o registro em épocas pretéritas dos vocábulos do corpus com os

grafemas <i> e <u> em posição pretônica da sílaba pode ser evidência i) de variação já

existente nesse contexto, ii) de retomada à grafia latina, conforme postula Viegas

(2001).

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2.1.5. Variáveis extralinguísticas

(a) Faixa Etária

Pretende-se verificar se o alteamento é um fenômeno inovador - o que se

comprova se este apresenta maior uso entre os mais jovens - ou se um fenômeno

conservador – manifesta-se com mais frequência entre falantes mais idosos. De acordo

com o estudo em tempo aparente, comportamentos linguísticos distintos entre gerações

podem representar diferentes estágios da língua.

(b) Gênero do informante

Pretende-se verificar o comportamento do fenômeno entre os gêneros. Segundo

Labov (1972), as mulheres tendem a levar adiante a variante inovadora, se esta não é

estigmatizada, ao passo que os homens tendem ao uso da variante estigmatizada.

(c) Década

Pretende-se verificar se houve evolução no processo de alteamento das vogais

pretônicas no transcorrer das décadas de 70, 90 e 2010.

2.2. Resultados

Levantaram-se 1.448 ocorrências de vogais médias pretônicas em contexto de

travamento por consoante nasal, 698 ocorrências da vogal média anterior e 750

ocorrências da vogal média posterior. O alteamento ocorreu 367 vezes no total das

vogais pretônicas médias anteriores e 110 vezes no das posteriores. As análises de cada

vogal foram feita separadamente por se entender que fatores diferentes controlam o

alteamento de /e/ + Nasal e de /o/ + Nasal.

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Tabela 1 – Resultados gerais percentuais - /e/ e /o/ + Nasal

Média Anterior [e] + Nasal Média Posterior [o] + Nasal

Décadas Alteados Não Alteados Total Alteados Não Alteados Total

70 126

51,42%

119 245 53

21,63%

192 245

90 63

56,75%

48 111 24

20,86%

91 115

2010 178

52,04%

164 342 33

8,46%

357 390

Confirma-se que, por se tratar das pretônicas seguidas de consoante nasal, o

alteamento da vogal posterior é menos cômodo articulatoriamente ao falante, visto que a

vogal [u] é a mais posterior da série e a consoante nasal inicia sua articulação na parte

anterior do trato vocal, posteriorizando-se pela articulação de /o/. Como dito, a

nasalização aumenta as frequências do formante 2 e dos formantes altos de [o],

tornando-o mais baixo e mais central, afastando-o da área de [u] e o consequente

possibilidade de alteamento.

A análise dos percentuais de /e/ e /o/ evidenciam maior alteamento da anterior

do que da posterior, em todas as décadas consideradas, assumindo [e] sempre mais de

50% de alteamento, ao passo que [o] apresenta resultados bastante inferiores. Isso se

deve ao fato de que a nasalização de /e/ aumenta as frequências dos formantes altos,

aproximando essa vogal da área da vogal [i]. Cabe confirmar os resultados percentuais,

com base na análise probabilística.

O programa GoldvarbX selecionou para o contexto vogal média anterior travada

por nasal as variáveis Contexto fonológico subsequente à pretônica + nasal, Natureza

da vogal média pretônica, Contexto fonológico precedente à pretônica + nasal,

Distância da sílaba em foco em relação a outra vogal alta adjacente, Natureza da

pretônica e Registro de grafias passadas. No nível de seleção, o input foi de 0.744 e a

significância 0.003.

No contexto vogal média posterior travada por nasal, o programa GoldvarbX

selecionou as variáveis Distância da sílaba em foco em relação a outra adjacente,

Década, Natureza do vocábulo, Faixa Etária, Localização da pretônica, Contexto

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fonológico subsequente à pretônica + nasal, Contexto fonológico precedente à

pretônica + nasal, Natureza da vogal média pretônica e Gênero. No nível de seleção, o

input foi de 0.239 e a significância 0.040.

Seguem abaixo as tabelas, bem como a leitura dos resultados com as hipóteses

que nortearam o presente trabalho.

2.2.1 Variável contexto fonológico subsequente à pretônica + nasal

A análise da variável independente contexto fonológico subsequente tem como

principal objetivo verificar o alteamento pela assimilação de traços presentes nos fones

que sucedem a vogal média, provocando uma antecipação na articulação, fenômeno

nomeado por Abaurre-Gnerre (1981) de redução vocálica.

Os resultados mostram que a presença das velares (108 – 90,8% - 0.738),

palatais (19 – 82,6% - 0.720) e labiais (144 – 81,8% - 0.715) no contexto seguinte à

vogal média anterior travada por nasal, bem como a presença das consoantes palatais

(3 – 33.3 – 0.672) e labiais (53 – 17.5 – 0.651) no contexto seguinte a vogal posterior

travada por nasal são grandes favorecedoras do alteamento, comprovando a hipótese

de que há um condicionamento fonético de assimilação de traços que colabora para o

alteamento da vogal + nasal.

As alveolares desfavorecem o alteamento tanto de /e/ (96 – 25,3% - 0.309)

quanto de /o/ (52 – 13,5% - .434), e a velares inibem o alteamento apenas de /o/ (2/54 –

3,7% - 0.152), pelo fato de essas consoantes não partilharem com as vogais altas [i] e

[u] – harmonizadoras - nenhuma semelhança articulatória. As alveolares articulam-se

com a língua em posição bastante plana, ainda que apresentem ligeira elevação da ponta

da língua, inibindo o alteamento; já as velares se articulam com o dorso da língua

recuado em direção à região velar, o que em tese deveria propiciar o alteamento de /o/.

No entanto, como se trata de vogal posterior seguida de consoante nasal, a articulação

de /N/, inicialmente na região alveolar (anterior), inibe a assimilação do traço [+ alto] da

velar.

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Tabela 2 – Contexto Fonológico Subsequente à Pretônica + Nasal

Fatores

Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal

Aplic./Total % P.R Aplic. / Total % P.R

Alveolares Exs.: s[e]ntido, [i]nsopada

/ p[u]ntudo, c[o]ncentra

96/380

25.3

0.309

52/384

13.5

0.434

Labiais Exs.: [i]mpregada,

[e]nfeite / c[u]mprida,

c[o]mprava

144/176

81.8

0.715

53/303

17.5

0.651

Velares Exs.: [i]ncapar,

[e]ngraçadas / c[u]ncurso,

c[o]nclusão

108/119

90.8

0.738

2/54

3.7

0.152

Palatais Exs.: [e]ngenheiro,

[i]nxada / c[u]njugado,

c[o]njunto

19/23

82.6

0.720

3/9

33.3

0.672

2.2.2 Variável natureza da vogal média pretônica

O resultado confirma a hipótese de que a pretônica permanentemente

átona - anterior (343 – 73% - 0.668) e posterior (104 – 15.9% - 0.548) - é mais

suscetível à variação do que a pretônica eventual, uma vez que esta é derivada de uma

tônica e, por isso, tende a manter o traço da média [e], preservando o timbre vocálico.

Tabela 3 – Natureza da Vogal Média Pretônica

Fatores

Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal

Aplic. /

Total

% P.R Aplic. / Total % P.R

Eventual

Exs.: s[e]ntia, [i]nchia /

c[u]mprou, p[o]ntudo

24/226

10.6

0.189

6/95

6.3

0.211

Permanente

Exs.: [i]mbutidos,

[e]nvolver / c[u]nsumo,

c[o]ntinua.

343/472

72.7

0.668

104/655

15.9

0.548

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2.2.3 Variável contexto fonológico precedente a pretônica + nasal

O resultado para esta variável revela que, de fato, a ausência de contexto

fonológico antecedente é o maior propiciador do alteamento das vogais médias

anteriores seguidas de consoante nasal (332 – 73.5% - 0.625), confirmando a hipótese

de Viegas (1987, p. 109) “para que a vogal média [anterior] alce, ela deve estar

precedida de pausa, ou melhor, em início de palavra”. Tal resultado também é

corroborado nos estudos de Viegas (1987, p. 113) que, ao analisar a vogal média

anterior [e], afirma parecer existir “uma relação direta entre início de palavra e

alçamento: quanto mais próximo do início da palavra, maior a porcentagem de

alçamento”. Trata-se, pois, de uma estrutura silábica em que o onset (ataque silábico)

encontra-se vazio e a vogal média é facilmente atingida pelo alteamento. A presença de

consoante em contexto precedente, ao contrario, inibe o fenômeno. Para comprovar

isso, basta confrontarem-se os pares [e]ntrada ~ [i]ntrada e c[e]ntrada ~ *c[i]ntrada.

Já para as vogais médias posteriores travadas por nasal, os resultados revelam

que as consoantes labiais em contexto precedente a pretônica + nasal são favorecedoras

do alteamento (50 – 30% - 0.827). Tal resultado confirma a hipótese de que a labial

baixa as frequências de F2 de [o], aproximando-o da área de [u].

Já as consoantes velares (95 – 13.7% - 0.472) não favorecem o alteamento de /e/,

mas favorecem o de /o/ por este assimilar o traço [+ alto] e [+ recuado], aproximando-o

de [u].

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Tabela 4 – Contexto Fonológico Precedente + nasal

Fatores

Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal

Aplic. / Total % P.R Aplic. / Total % P.R

Ausência de contexto

Exs.:[i]ngomar,[i]nrolado.

332/452

73.5

0.625

Labiais

Exs.:m[e]ndigos,m[i]ntira

/ am[u]ntoadas,

b[o]nsucesso

4/105

3.8

0.099

15/50

30

0.827

Velares

Exs:c[u]nfiança,c[o]ntrola

95/691

13.7

0.472

Alvelares

Exs.: s[e]ntinela,

des[i]nvolve,

31/132

23.5

0.502

2.2.4 Variável posição / distância da sílaba em foco em relação a outra adjacente

De uma maneira geral, a presença de vogal alta na posição tônica favorece o

alteamento, uma vez que tanto se estiver contígua (34/75 – 45,3%– 0.719) quanto se

estiver separada da vogal alta tônica por duas sílabas (10/12 – 86,7%– 0.640) a vogal

média pretônica anterior tende a ser alteada. Cabe observar que tanto em [i]ng[e]nharia

quanto em [i]ncar[e]cida, não parece, de fato, que seja a vogal alta o desencadeador do

fenômeno, mas estar a pretônica em sílaba sem apoio. Aliás, nota-se que tais exemplos

contrariam a máxima de Bisol (1981) que prevê que a harmonia vocálica não faz saltos

(m[e]x[e]rica ~ m[e]x[i]rica ~ m[i]x[i]rica, mas não *m[i]x[e]rica).

Assim como para a pretônica /e/ + Nasal, a contiguidade da vogal posterior /o/ +

Nasal a uma vogal alta é o fator favorecedor do alteamento, conforme revelam os

resultados: 33 - 43.4% - 0.730, mostrando a atuação da harmonização vocálica.

Parece, então, que o efeito da harmonia vocálica, fenômeno em que a média

pretônica assimila o traço de altura da vogal presente na sílaba tônica – especialmente se

contígua - atua supra-dialetalmente, visto que se verifica também nos dialetos do sul e

de Belo Horizonte: Bisol (1981: 114-5) “(...) é natural a regra de assimilação que atinge

sons vizinhos e não natural a que pula uma sílaba para afetar terceiras.” e Viegas (1987,

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p.63) “nos dados por mim coletados, o alçamento de (e) ocorre com frequência quando

este está seguido de vogal alta”.

Tabela 5 – Posição / Distância em foco em relação a outra adjacente

Fatores

Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal

Aplic. / Total % P.R Aplic. / Total % P.R

Contígua à vogal alta

pretônica

Exs.: [e]nsinava,

[i]mpurrão /

c[u]mbinar, c[o]nfusão

29/55

52.7

0.397

41/192

21.4

0.403

Contígua à vogal alta

tônica

Exs: m[i]ntira, s[e]ntido

/ c[u]mprido,

c[o]ncurso

34/75

45.3

0.719

33/76

43.4

0.730

Intercalada por 1

sílaba antes da tônica

alta

Exs: [i]nvolvido,

[e]ntendida

6/17

35.3

0.121

Intercalada por 1

sílaba antes da

pretônica alta

Exs.: [i]nvernizada,

[e]ngravidando

6/11

54.5

0.133

Intercalada por 2

sílaba antes da tônica

alta

Exs.: [i]ncarecida,

[e]ngenharia

10/12

83.3

0.640

2.2.5 Variável natureza do vocábulo

Na análise da variável independente natureza do vocábulo, controlam-se as

classes de palavras, a fim de verificar se o fenômeno do alteamento se inicia em uma

classe de palavras específica e se espraia aos demais. Os resultados da tabela

demonstram que os verbos de segunda conjugação (32 – 66.7% - 0.746) são

favorecedores ao alteamento das vogais médias anteriores travadas por nasal e os verbos

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de 1ª conjugação (27 – 14.5% - 0.670) e na forma nominal (16 – 26.2% - 0.756) são

favorecedores ao alteamento das vogais médias posteriores travadas por nasal. Nota-se a

neutralidade

A partir da análise do resultado, pode-se dizer que parece haver um processo de

Difusão Lexical, tanto nas vogais anteriores quanto nas posteriores travadas por nasal,

pois o alteamento ocorre em uma classe de palavra específica, no caso verbos. Tal

resultado corrobora com o estudo de Labov “evidencia que há muitos casos que dão

sustentação ao modelo neogramático. Estes casos mostram que todas as palavras de uma

classe são afetadas por uma dada regra.” (Viegas, 2001, p.38).

Em última análise e em confronto com os resultados que levam em conta o

contexto fonológico antecedente e subsequente – de cunho neogramático -, pode-se

dizer que a difusão lexical parece atuar mais fortemente nas posteriores do que nas

anteriores, sobre as quais parece haver maior efeito neogramático. Pode-se considerar,

ainda, conforme Oliveira (1991), que as palavras afetadas pelo processo de alteamento

são: i) as mais comuns e mais frequentes (nesse sentido, verbos são palavras

recorrentes); ii) as com contexto fonético natural para o alteamento (e assim se

conjugam tanto o efeito fonético quanto as premissas da difusão lexical), e iii) as ditas

em contexto informal da fala, como o são as entrevistas com os informantes de Nova

Iguaçu – Rio de Janeiro.

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Tabela 6 – Natureza do Vocábulo

Fatores Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal

Aplic./Total % PR Aplic./Total % PR

Verbo 1ª conjugação

Exs.:

[i]ncapar,[e]ncontrar /

c[o]mprava, c[u]mbinar

66/139

47.5

0.299

27/186

14.5

0.670

Nome

Exs.:[i]mpregada,

p[e]ntiadeira /

c[u]mprido, c[o]ndução

245/423

57.9

0.534

60/377

15.9

0.382

Verbo na forma

nominal

Exs.:[i]ntendido,

[e]nsinando/c[u]nversan

do,c[o]nsumido

16/80

20

0.526

16/61

26.2

0.756

Verbo 2ª conjugação

Exs.: [e]ntender,

des[i]nvolver

32/48

66.7

0.746

Verbo 3ª conjugação

Exs.:

c[u]nsigo,c[o]nseguir

7/44 15.9 0.391

2.2.6 Variável localização da Pretônica

Observa-se que o fato de a pretônica encontrar-se no prefixo favorece ao

alteamento tanto das vogais médias anteriores seguidas de consoante nasal (154 –

90.1% - 0.779) quanto das posteriores travadas por nasal (2 – 28.6% 0.790). Cabe

destacar que a análise da variável independente localização da pretônica implicou

investigar a origem do vocábulo, a fim de se verificar existência de formação de

palavras por prefixação. No caso, pensou-se na hipótese de que a tendência ao

alteamento esteja vinculada ao fato de o prefixo ser uma forma dependente (átona). Ao

agregar-se à base, figurará como sílaba átona permanente, o que se tem revelado um

forte condicionador do alteamento. Tal resultado ainda é reforçado pelo estudo de Bisol

sobre os prefixos (1981, p. 37). A autora afirma serem os prefixos originários, em sua

maioria, de preposição, advérbio e adjetivo. Estes prefixos podem se incorporar

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totalmente à base lexical, de modo a não serem mais percebidos como tal: “quando o

prefixo se incorpora de todo à palavra como se fora um sufixo ou quando se tem perdida

a sua origem, então a harmonização passa a atuar: retiro – ritiro; porvir – purvir”. Por

outro lado, a localização da pretônica na base lexical não favorece ao alteamento,

conforme atestam os resultados, vogais anteriores (213 – 40.4% - 0.399) e posteriores

(102 – 13.9% - 0.497). Os exemplos a seguir ilustram a variável:

Tabela 7 – Localização da Pretônica

Fatores Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal

Aplic./Total % PR Aplic./Total % PR

Prefixo

Exs.:[e]mpilhados,

[i]mbaixo / c[o]ncentra,

c[u]ncentração

154/171

90.1

0.779

2/7

28.6

0.790

Base

Exs.:

[i]mpolga,[e]ncantadora /

c[o]ntinuação,

c[u]mplicada

213/527

40.4

0.399

102/733

13.9

0.497

2.2.7 Variável registro de Grafias Passadas

A variável registro de gráficas passadas foi selecionada apenas para o contexto

das vogais anteriores travadas por nasal. Os resultados demonstram que o fato de a

palavra ter sido outrora grafada com vogal alta <i> (174 - 65.1 – 0.672) favorece ao

alteamento das vogais médias anteriores travadas por nasal, confirmando a afirmativa de

Paul Teyssier (1977, p.71) de que a elevação das vogais em posição pretônica já se acha

documentada em textos medievais portugueses, passando ao português do Brasil e aos

crioulos. Reforça isso Marquilhas (2000, p. 254) que diz haver possibilidades de a

elevação das pretônica ocorrer desde o século XVI. Nos registros do ortógrafo João

Moraes Madureira Feijó (1734), verificam-se casos de alçamento de vogais médias

pretônicas, registrados na parte que o autor destina à apresentação de erros de escrita e

pronúncia. Há, no ortógrafo, um total de 459 dados, sendo 63 de médias travadas por

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consoantes e 396 em outros contextos. Nas palavras em que as vogais médias se

encontram travadas por nasal, existem 42 dados de alçamento, como cumpitente. Nos

demais contextos, há 265 casos de alteamento. A partir desses dados, confirma-se a

hipótese de que o alçamento das pretônicas no plano sincrônico pode ser resíduo das

grafias (e também pronúncias) de sincronias passadas. Os exemplos a seguir ilustram o

alteamento nas décadas de 70, 90 e 2010.

Tabela 8 – Registro de Grafias Passadas

Fatores Média Anterior + Nasal

Aplic./Total % PR

Grafada com <i>

Exs.: [e]ntregar, [i]mpregos

174/268 64.9 0.672

Grafada com <e>

Exs.: [e]ngomar, [i]ncostava

189/418 45.2 0.388

Grafada com <a>

Exs.: [e]nfeite, [i]nxada

4/6 66.7 0.415

2.2.8 Variável faixa Etária

A variável faixa etária se mostrou condicionadora do contexto das vogais

posteriores travadas por nasal. A análise da variável social faixa etária parte da hipótese

de Labov (1972/2008). Segundo ele, a mudança linguística inicia-se em um grupo da

comunidade de fala e é levada às gerações sucessivas. Pretende-se verificar se o

alteamento é um fenômeno inovador – o que se comprova se este apresenta maior uso

entre os mais jovens – ou se um fenômeno conservador – manifesta-se com mais

probabilidade entre falantes da faixa etária mais avançada. Os resultados revelam que a

primeira (35 – 16,7% - 0.593) e segunda faixas etárias (50 – 17,1% - 0.571) favorecem

mais ao alteamento, diferentemente da terceira (25 – 10,1% – 0.341) que não contribui

para o alteamento.

Este resultado se coaduna com o estudo de Viegas (1981, p. 146) que afirma

serem os jovens mais favorecedores ao alteamento do que os mais velhos. Entretanto,

tal resultado não corrobora com estudos anteriores em que se afirma ser a faixa etária

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mais avançada a maior contribuinte para o alteamento, Bisol (1981) ressalta o número

menor de alçamento nos jovens. Callou et alii (1991, p.76) afirmam: “Não há, portanto,

qualquer indício de progressão da regra [de elevação da vogal pretônica], mas antes de

possível perda da produtividade”.

Deve-se, nesse momento, chamar a atenção para o fato de que o contexto sob

análise é o de travamento nasal, ao passo que os estudos anteriores levam em conta

todos os tipos de travamento (/S/ e /R/), bem como as pretônicas em sílaba livre.

Avelheda (2013; Batista da Silveira, 2013) mostram que, a depender do tipo de estrutura

silábica (livre ou travada) e ainda a depender da vogal (anterior ou posterior), os

estágios de alteamento encontram-se em desenvolvimento diferentes:

Figura 1: Continuum de alteamento de [e]

(Cf. AVELHEDA, 2013, p. 126)

Figura 2: Continuum de alteamento de [o]

(Cf. AVELHEDA, 2013, p. 169)

Como ilustra a trajetória acima, as vogais médias pretônicas /e/ e /o/ travadas por

nasal encontram-se num estágio intermediário no curso do alteamento. Assim sendo, é

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possível que o alteamento de pretônicas em contexto nasal seja inovador, ou seja, está

em início de processo, conforme indicam os continua, elaborados com base nos valores

de input da regra oferecidos pelo programa Goldvarb X. Estes valores constituem o

nível geral de uso da variante alteada. O tabela 8 e os exemplos a seguir ilustram tal

conclusão:

Tabela 9 – Faixa Etária

Fatores Média Posterior + Nasal

Aplic./ Total % PR

25-35 anos

Exs.: c[o]nseguir, c[u]ntida

35/209 16.7 0.593

36-55 anos

Exs.: c[o]ntinuava, c[u]mplicada

50/293 17.1 0.571

56 anos –

Exs.: c[o]mprei, c[u]nverso

25/248 10.1 0.341

2.2.9 Variável Década

A análise da variável independente social década – selecionada apenas para a

pretônica posterior - tem como objetivo verificar se o estágio do fenômeno do

alteamento nas diferentes décadas consideradas. Trata-se de estudo do tipo de

tendências que possibilita detectar o comportamento da comunidade, em relação ao

alteamento (LABOV, 1994). Segundo Paiva e Duarte (2003, p.8), “se baseia na

comparação de amostras aleatórias da mesma comunidade de fala, estratificadas com

base nos mesmos parâmetros sociais, em dois momentos do tempo”. Esse estudo

permite identificar se há propagação, estabilização ou recuo do fenômeno linguístico,

além disso, segundo Paiva & Duarte (2010) verifica a regularidade na ação dos

princípios que regem a variação e subjazem à implementação da mudança.

Os resultados mostram que a tendência ao alteamento era mais forte nas décadas

de 70 (0.651) e 90 (0.669), declinando na de 2010. Isso revela que, ao longo do tempo,

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o alteamento tem regredido, preferindo a comunidade a variante médio-baixa [o]. Os

exemplos a seguir ilustram a variável:

Tabela 10 – Década

Fatores Média Posterior + Nasal

Aplic./ Total % PR

70

Exs.: [i]nvidraçada,

p[e]ntiadeira / c[u]ntinua,

m[o]ntanha

53/245 21.6 0.651

90

Exs.: s[e]ntia, [i]nvolve /

c[u]ntinuação,c[o]nclusão

24/115 20.9 0.669

2010

Exs.: [i]mpresas, s[e]ntinela

/ c[o]ndução, ac[u]ntecendo

33/390 8.5 0.355

A fim de comparar o comportamento das médias pretônicas anterior e posterior

travadas por nasal, procedeu-se à elaboração de dois gráficos com base nos resultados

percentuais de cada década, bem como o cruzamento das variáveis década e faixa

etária:

Gráfico I - Análise em Tempo Real de Curta Duração das Vogais Médias Anteriores + Nasal

4849505152535455565758

70 90 2010

Percentuais

Linear(Percentuais)

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Gráfico II - Análise em Tempo Real de Curta Duração das Vogais Médias Posteriores + Nasal

Gráfico III – Cruzamento das variáveis Década e Faixa Etária

Os resultados da variável década, em relação à vogal média anterior + Nasal

confirmam a estabilização no processo de alteamento, com leve tendência ao aumento.

No entanto, para as pretônicas posteriores + Nasal, a taxa de frequência decresce ao

longo das décadas, revelando tendência ao recuo do alteamento. Tem-se, então, dois

comportamento diferenciados para o alteamento. Em relação ao cruzamento das

variáveis (gráfico III), confirma-se a tendência à inibição do fenômeno ao longo do

tempo nas três faixas etárias em quaisquer décadas consideradas.

0

5

10

15

20

25

70 90 2010

Percentuais

Linear(Percentuais)

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2.3. Conclusão

Tendo em vista a seleção da sete variáveis da média anterior + nasal e oito

variáveis da média posterior + nasal, observou-se que a vogal anterior [e] + nasal

apresenta maior tendência ao alteamento, ao passo que [o] + nasal apresenta maior

resistência ao fenômeno, demonstrando que o fenômeno não está em estágios iguais

para ambas as vogais pretônicas.

Constatou-se, também, o efeito neogramático tanto para as médias anteriores

quanto para as posteriores seguidas de nasal. No entanto, entende-se que pode se tratar

de mais um contributo para a difusão lexical, visto que o verbo é a classe de palavras

mais afetada pelo processo de alteamento da média pretônica.

Ressalte-se, ainda, que a pretônica em sílaba com ataque vazio em início de

palavra se revelou o contexto mais favorecedor do alteamento; estando o ataque

preenchido, há maior resistência ao processo. Figuram como altamente relevantes a

natureza permanentemente átona da pretônica, a pretônica figurar em prefixo e vir

contígua à vogal alta tônica.

A partir do estudo do tempo real de curta duração tipo tendências, verifica-se a

estabilidade do processo de alteamento das vogais médias pretônicas + nasal, com

redução do fenômeno em todas as faixas etárias, nas três décadas consideradas.

Entende-se que estudos sobre o vocalismo átono ainda são de fundamental

importância, visto ser um fator de diferenciação entre os subfalares brasileiros, bem

como ser um dos aspectos que distingue o português brasileiro e o europeu.

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Recebido Para Publicação em 30 de outubro de 2013.

Aprovado Para Publicação em 19 de abril de 2014.