alma em pedacos

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ALMA EM PEDAÇOS JOSÉ MANUEL VICENTE JORGE RAPOSO Passar ao clicar o mouse

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Page 1: ALMA EM PEDACOS

ALMAEM

PEDAÇOS

JOSÉ MANUEL VICENTEJORGE RAPOSO

Passar ao clicar o mouse

Page 2: ALMA EM PEDACOS

A POESIAJosé M. Raposo

A poesia transpiraO que vem ao pensamento.

Está nas cordas da liraE vem ao sabor do vento.

No toque do beija-flor,Na meiguice da mulher,

No aconchego e no calorDa paixão e seu mister.

Numa criança chorando,Numa nuvem a chover,

Num passarinho cantando Ou numa vida a morrer.

Está no sopro da brisa,Também na vaga que corre

E na saudade que avisaO fim, quando tudo morre.

Page 3: ALMA EM PEDACOS

MAR DA MINHA ILHAJosé M. Raposo

Oh, mar da minha ilha,Desse verde azuladoEstou hoje afastado,

Mas, sinto o teu saborE reflectes em meu olhar

A tua beleza, oh mar! Oh, mar da minha ilha,Dessas tão altas vagas

Eu quero que tu me tragas,E que venham se enrolar

Em meus pésO verde das tuas algas,Trazido pelas marés. Oh, mar da minha ilha,

Traz-me o grito do garajauE as pedrinhas do calhau,

Onde em criança eu brincava...E o saboroso carapau

Que a minha mãe fritava. Oh, mar da minha ilha,

Sinto o teu magnetismo,Alivia minha saudadeE leva p’ro teu abismo

A solidão que me invade.

Page 4: ALMA EM PEDACOS

TU, A MEU LADOJosé M. Raposo

Levanto-me... O dia ainda não nasceu.

Retine em meus ouvidos O sepulcral silêncio da noite.Dissipa-se a névoa dos olhos,Os sonhos se desvanecem...A realidade de mais um dia

Fere-me a retina, Com imagens repetidas.

Sinto na bocaO sabor do teu último beijo.

Uma a uma, como por magia,As estrelas se escondem.Um medroso raio de sol

Atravessa a vidraça e o cortinadoE brilha, na alvura do teu corpo.

Reflecte e iluminaA pureza do teu sono,

Da tua alma.Faz-me pensar...

Como sou afortunado,Pelas estrelas,

Pelo sol E por ti a meu lado !

Page 5: ALMA EM PEDACOS

BORBOLETAJosé M. Raposo

Olho através da janela,E vejo nesse momento,A borboleta mais bela

Bailando ao sabor do vento. 

Enquanto no seu bailadoMostrava tanta beleza,

Tecia um lindo bordadoNo matiz da natureza.

 Na altura que ela beijava

Um rosa que se abria,Um arco íris tocava

A mais bela melodia. 

Com minha alma aberta,Do fundo do coração,Agradeço à borboleta,

Também à rosa em botão,Terem sido do poeta

A fonte de inspiração.

Page 6: ALMA EM PEDACOS

QUEM SOU EU?José M. Raposo

Quem sou eu?Folha arrancada da árvore

Em dia de temporal,Caída na corrente Levada pelo rio,

Sobre as ondas vogando,Em altos mares sulcando,

Longe do galho e da árvore Onde nasci e me criei.

Quem sou eu?Pobre folha arrancadaPelo vento em assobio,

Poema inacabado,Pobre Poeta frustrado,Muitas vezes revoltado,

Tentando falar a verdadeNuma hipócrita sociedade,

Onde tanta coisa dóiE não vê que a realidadePouco a pouco a destrói.

Quem sou eu? Colina?Vertente? Encosta?

Pergunto.Não encontro resposta.

Page 7: ALMA EM PEDACOS

ALMA EM PEDAÇOSJosé M. Raposo

Ando ao sabor da corrente,Na imensidão do mar.

Sigo sozinho entre a gente, Com medo de me encontrar.

Há algo que eu desejo Com tamanha persistência,Que até, por vezes, não vejoRazão p’ra minha existência.

E por querer encontrarFelicidade absoluta,

Continuo a sustentar Dentro de mim esta luta.

Nesta vida de espinhos,P’ra morte vou dando passos,

Deixando pelos caminhos,A minha alma em pedaços.

Page 8: ALMA EM PEDACOS

HERANÇAJosé M. Raposo

Eu tive agora a lembrançaDe alterar meu testamentoE incluir, como herança,O sabor que tem o vento

E também a saudade,Que sei que terás de mim,No perfume e suavidade

Das rosas do meu jardim.

Depois de cá não estar,De ti não me apartarei.

Por isso farei bailarAs roseiras que eu plantei.

E tu hás de adormecerComigo abraçado a ti.E irás compreender,

Que afinal eu não morri.

Page 9: ALMA EM PEDACOS

SE EU PUDESSEJosé M. Raposo

Se eu pudesse Formar um mundo pequenino,

Com um céu diferente,Onde só os teus olhos

Brilhassem...Onde a Lua

Fosse a tua face,As estrelas o reflexo Dos meus desejos...E o vento resultasse

Do arquejar dos nossos peitos,Onde só coubessemOs nossos corpos,Os nossos sonhos,Os nossos beijos...

Se eu pudesse Dar à vida outro jeito,

Formar um pequeno mundo,Mas perfeito,

Onde só flutuassem As nossas almas...

Eu eternizaria nossos momentosSob a forma de poemas.

Se eu pudesse....

Page 10: ALMA EM PEDACOS

BENDITA SEJA A LOUCURAJosé M. Raposo

Poeta louco?Não, os poetas não são loucos!

Loucos são os que os lêem E que nos seus poemas nada vêem.

Poeta louco?Não, os poetas não são loucos!

Loucos são aqueles, que aos poucos,Aos poetas chamam loucos.Os poetas não são loucos!Usam sempre as palavras

E as plantam, como sementes,Que em qualquer parte vão crescer.

Pena que alguns não as saibam colher. Os poetas não são loucos,

Só fingem sentir a dorQue dão às palavras, a cor.

Esses loucos poetasSão como os pintores,Que em suas paletas,

Misturam a belas coresQue dão vida às borboletas.

Mas, se os poetas são loucos,Nesta vida, por vezes dura,

Onde se ama, se vive E se morre aos poucos . . .

Bendita seja a loucura!

Page 11: ALMA EM PEDACOS

ONDE ESTÁ DEUS?José M. Raposo

Milénios, séculos, décadas,Anos, meses e dias.

Horas, minutos, segundos,Tristezas e alegrias.Primavera, Verão,Outono, Inverno,

Equinócios e solstícios.Flores, calor, cor e frio,

Orvalho, chuva, correntes,Riachos, ribeiras, torrentes,

Rios, oceanos e mares.Casas, ruas, cidades.

Distritos, províncias, nações,Ódios, guerras, paixões.

Estrelas, planetas, cometas,Asteróides e galáxias...

Universo!E o homem,

Minúscula partículaDe matéria, embrulhada,

No meio de tudo isto, pergunta:- Onde está Deus?

Page 12: ALMA EM PEDACOS

AUSÊNCIAJosé M. Raposo

A ausência que eu sinto Explica-la bem nem sei,

Falo verdade e não minto Nas vezes que eu te amei.A ausência, esse martírio,Que a alma nos atormenta,

É por vezes o alívio Se o coração não aguenta.

Traz a ausência a dor,Traz também a realidade,

Traz o amargo saborTraz presença da saudade.

Por muito longe que estejas,Estarás na minha mente,

Pode ser que não me vejasMas creias, estou presenteEm tudo o que tu desejas,

Por isso vivo contente.

Page 13: ALMA EM PEDACOS

MINHA EXPIAÇÃOJosé M. Raposo

Não queres que eu fale?Não falarei.

Queres que eu me cale?Calar-me-ei.

Mas, versos ao vento Escreverei.

Se eles forem bater À tua janela,

Como gotas de chuva Em manhã bela,

Estende-lhes a mão.Não deixes que caiam no chão.

Podem ser Os últimos versos de amor

Do meu coração...Podem ser um dilema,

Uma ilusãoOu da minha almaSeu último poema.

Minha expiação!

Page 14: ALMA EM PEDACOS

OS FILHOS DA NOSSA ALMAJosé M. Raposo

Sei que um dia vou morrer.Quando tal acontecer,

Deixo-te as rosas e o vento,Deixo-te a chuva e o sol,

O cantar do rouxinol,Minh’alma e meu pensamento.Deixo-te a nuvem que passa,

E que o vento faz correr,Deixo-te o encanto e a graça

De uma papoila a crescer,Deixo-te as ondas do mar

Que se desmancham na areia,Deixo-te o ténue luar

Em noites de lua cheia,Deixo-te a flor e a belezaDos poemas que escrevi,

E deixo-te a natureza...Quando o teu tempo findar

E tu te fores daquiNalgum lugar hei de estar,

Só esperando por ti.E ao partires, deixaremos

Plantado, como uma palma,Os poemas que escrevemos.

Os filhos da nossa alma.

Page 15: ALMA EM PEDACOS

Fragmentos...As poesias destes slides são de autoria de

José Manuel Vicente Jorge Raposo

e estão publicadas no livro

“Alma em Pedaços”,

registrados sob o nº 978-1-4243-1579-9