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Alimentação na Terceira Idade Padinha, P 1 ., Santana, M.A. 1 , Sousa A.S. 2 1 Escola Superior Agrária de Santarém 2 Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra Introdução: A área da Alimentação/Nutrição tem sido alvo de grande interesse por parte da comunidade científica, pois desde muito cedo foi associada à promoção da saúde, reconhecendo-se, actualmente, que a alimentação influencia não só o estado de saúde como também o estado psicológico e social das pessoas 1 . Para os idosos, esta área apresenta ainda maior importância pois, com o envelhecimento, o organismo vai perdendo as suas capacidades funcionais, causando alterações a nível biológico, psicológico e social. Com a idade vão aparecendo alguns problemas de saúde que conduzem à perda de apetite, prazer e conforto associados à ingestão de certos alimentos 2 , influenciando a quantidade ingerida desses alimentos. Ocorre uma diminuição na ingestão calórica e de nutrientes importantes, originando no idoso um risco mais elevado de sofrer de doenças crónicas, como artrite, osteoporose, diabetes e doenças cardiovasculares, podendo este risco ser diminuído ou os seus efeitos minimizados através de uma alimentação adequada 1 . Um dos papéis de um técnico de nutrição dentro de uma instituição como a Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra, é o de elaborar planos de ementas saudáveis, devidamente adaptados à situação da população a que se destinam 3 . Outro dos papéis é a realização de avaliações nutricionais aos utentes, permitindo deste modo fornecer ao profissional uma noção do estado nutricional da população, ajudando assim na elaboração mais adequada dos planos de ementas. Materiais e Métodos: Elaboração de planos de ementas As ementas elaboradas para a associação foram realizadas mensalmente e apresentados por semanas onde constava a descrição do almoço e do jantar com ementa geral e dieta.

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Alimentação na Terceira Idade

Padinha, P1., Santana, M.A.1, Sousa A.S.2

1Escola Superior Agrária de Santarém

2 Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra

Introdução:

A área da Alimentação/Nutrição tem sido alvo de grande interesse por parte da

comunidade científica, pois desde muito cedo foi associada à promoção da saúde,

reconhecendo-se, actualmente, que a alimentação influencia não só o estado de saúde

como também o estado psicológico e social das pessoas1.

Para os idosos, esta área apresenta ainda maior importância pois, com o

envelhecimento, o organismo vai perdendo as suas capacidades funcionais, causando

alterações a nível biológico, psicológico e social. Com a idade vão aparecendo alguns

problemas de saúde que conduzem à perda de apetite, prazer e conforto associados à

ingestão de certos alimentos2, influenciando a quantidade ingerida desses alimentos.

Ocorre uma diminuição na ingestão calórica e de nutrientes importantes, originando

no idoso um risco mais elevado de sofrer de doenças crónicas, como artrite,

osteoporose, diabetes e doenças cardiovasculares, podendo este risco ser diminuído

ou os seus efeitos minimizados através de uma alimentação adequada1.

Um dos papéis de um técnico de nutrição dentro de uma instituição como a

Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra, é o de elaborar planos de

ementas saudáveis, devidamente adaptados à situação da população a que se

destinam3.

Outro dos papéis é a realização de avaliações nutricionais aos utentes,

permitindo deste modo fornecer ao profissional uma noção do estado nutricional da

população, ajudando assim na elaboração mais adequada dos planos de ementas.

Materiais e Métodos:

Elaboração de planos de ementas

As ementas elaboradas para a associação foram realizadas mensalmente e

apresentados por semanas onde constava a descrição do almoço e do jantar com

ementa geral e dieta.

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Tabela 1: Necessidades energéticas e de macronutrientes para idosos4

Para a escolha dos constituintes e dos métodos de confecção das refeições

teve-se em atenção as necessidades nutricionais da população (tabela 1), o orçamento

do lar, os recursos humanos disponíveis, os meios estruturais da instituição e a

sazonalidade dos alimentos, entre outros.

Valor Diário Recomendado

Energia (kcal)

Proteína (g)

Glúcidos (g)

Gordura total (% kcal)

51-70 anos:

Homens Mulheres

2204 1978

56 46

130 130

- -

≥ 70 anos: Homens Mulheres

2054 1873

56 46

130 130

- -

AMDR - 10-35% 45-65% 20-35%

Estas ementas eram entregues uma semana antes do mês em que entravam

em vigor e eram aprovadas pela Directora Técnica e pela Mesa Administrativa

De forma a criar ementas variadas e equilibradas eram seguidos os seguintes

passos:

1º Prato principal: alternar as refeições entre carne e peixe e, sempre que

necessário e possível, escolher um prato diferente para a dieta;

2º Acompanhamento: arroz, massa, batatas ou leguminosas;

3º Fonte de legumes ou hortaliças: em cru, em forma de salada ou cozinhados;

4º Sopa;

5º Sobremesa: onde se dava preferência à fruta.

Avaliação Nutricional

Caracterização da população:

A instituição aloja 122 utentes (81 mulheres e 41 homens) com idade média de

81,8 anos. No total, foram avaliados 83 utentes (54 mulheres e 29 homens) através do

índice de massa corporal. Somente 69 utentes conseguiram fazer a medição da massa

gorda (45 mulheres e 24 homens).Não foi possível, por questões de saúde dos idosos,

avaliar os restantes 39 utentes.

Dados Recolhidos:

- Altura: foi utilizada a altura do bilhete de identidade;

- Peso: balança digital da marca TAURUS de limite máximo 140 kg;

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6%

40% 30%

22% 2%

Gráfico 1: Avaliação nutricional segundo o IMC

Baixo PesoPeso normalExcesso de pesoObesidade grau IObesidade grau II

Tabela 2: Resultados gerais

- Índice de massa corporal (IMC) e a Massa Gorda (MG): aparelho de

bioimpedância da marca OMRON (referência BF306). O aparelho tem como limite

de idade 70 anos, pelo que foi essa a idade utilizada para todos os utentes que

ultrapassavam o limite;

- Perímetro da cintura e da anca: fita métrica flexível da marca LINDOR - Ausonia;

- Índice Cintura/Anca: usando a fórmula ( )

( ).

Resultados:

A Tabela 2 mostra os valores médios gerais obtidos. Verifica-se que o valor

médio do IMC é de 25,9 kg/m2, que segundo os valores estabelecidos pela OMS, se

encontra dentro dos limites do Excesso de Peso, também chamado de Pré-Obesidade

(entre 25 e 29,9 kg/m2). A média do ICA também se encontra em Excesso, pois

ultrapassa tantos os valores para o sexo feminino como para o sexo masculino.

O gráfico 1 mostra a distribuição geral de utentes segundo os valores obtidos

do IMC. Pode observar-se que apenas 40% da população avaliada se encontra dentro

do Peso normal e que 30% está com Excesso de Peso, sendo que a restante se

encontra num maior risco nutricional.

Através do gráfico 2, verifica-se que mais de metade da população tem a

percentagem de MG considerada elevada ou muito elevada para a sua idade, peso,

altura e sexo.

Dados Recolhidos Média

Peso (kg) 65,0

Altura (m) 1,58

IMC (kg/m2) 25,9

Massa Gorda (%) 33,6

ICA 0,98

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16%

26%

35%

23%

Gráfico 2: Avaliação nutricional segundo a % de MG

Baixa

Normal

Elevada

Muito elevada

Conclusão:

Os resultados obtidos na avaliação nutricional dos utentes mostraram que a

média do IMC se encontra dentro do Excesso de Peso e que a maioria tem a MG fora

dos limites normais para o seu peso, idade, altura e sexo, o que faz com que sejam

necessárias modificações na alimentação dos utentes do lar. Os planos de ementas

deverão ser adequados de modo a tentar corrigir e/ou a evitar mais casos de utentes

em risco nutricional. A alimentação deverá ser mais controlada, sendo o ideal haver

um acompanhamento mais personalizado daqueles que se encontram em maior risco.

Referências:

1. Hark, L.; Deen, D. (2005) Saúde e Nutrição, Porto: Civilização, Editores, L.dª, 336

pp.;

2. Santos, A.; Powerpoint da aula da disciplina de Nutrição e Alimentação ao

longo da vida (20/05/2009) – Nutrição em Geriatria, 2º Ano, 4º Semestre da

Licenciatura em Nutrição Humana e Qualidade Alimentar da Escola Superior

Agrária de Santarém;

3. Guia de elaboração de ementas da Associação Portuguesa dos Nutricionistas;

4. http://www2.fiu.edu/~nutreldr/SubjectList/D/DRI%20Table%203%20pages%20

9-13-2004.pdf), consultado a 07/09/2011.

Agradecimentos:

À Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra e a todos os seus

colaboradores.