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Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação da CUT (Contac/CUT)Rua Caetano Pinto, 575, 3° andarBrás - São Paulo - SPCEP 03041-000(11) [email protected]

Presidente Siderlei Silva de Oliveira Vice- Presidente Ernani Garcia Ferreira

Secretário Geral Paulo Juarez Madeira Soares

Tesoureiro Carlos Pereira Cerqueira

Secretário de Formação Nilton Vieira Rhis

Secretário de Política Sindical Nelson Morelli Secretário de Política Social Sérgio Pinto Soares

Secretária de Relações Internacionais Mara Lúcia Lira

Secretária de Organização Vilson Gimenes Gregório

Secretária da Mulher Trabalhadora Geni Dalla Rosa de Oliveira

Secretário de Saúde, Meio Ambiente e Previdência Social Célio Alves Elias

Departamento Oléo e Cereais Antônio Marcos Tebom

Departamento Laticínios Eduardo José Sodré

Departamento Balas e Chocolates Adão José Gossmann

Departamento Bebidas José Enoque da Costa Souza

Departamento Frigoríficos José Modelski Júnior

Departamento Fumo e Erva Mate Clenir Graff

Departamento de Alimentação Geral/ Panificação Cláudia Regina FerigolloDepartamento de Cana e CaféOsvaldo Teófilo

Conselho Fiscal Lucinara Buenos DiasCeleste Rodrigues de SouzaDaniel Constantino Pedro

Suplentes do Conselho Fiscal Messias Moreira BrumErenilde Tessaro PeccinJaciane Santos da Silva

REVISTA CONTAC 20 ANOSSetembro de 2014

Produção, redação e edição Paola Bello(MTB SC03022JP)

FotografiaArquivos Alesp, UITA e ContacArquivo pessoal/Airton E. dos SantosDino Santos/CUT NacionalEmmanuel DenauiJoão Guilherme ClosLeonardo Severo/CUT NacionalMarcelo Camargo/Agência BrasilPaola BelloArquivos pessoais e divulgação de entrevistados e respectivas entidades

CapaWilliam Jun Takahashi

ImpressãoElyon Indústria Gráfica

Tiragem5.000 exemplares

Apoio

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DUAS DÉCADAS DELUTAS E CONQUISTAS

A Contac nasceu em 1994, no Rio Grande do Sul, com a proposta de ser diferente das outras confe- derações. Desde o começo, foi pensada para organizar os

trabalhadores de toda a cadeia produtiva, da terra ao prato. Nasceu pensando desde o trabalhador do campo, que planta e colhe os alimentos, até o trabalhador da indústria, que processa e disponibiliza o produto que chega às nossas casas.

Também foi criada com a missão de defender a qualidade dos alimentos e ser uma aliada da população. Desde o início, levantou bandeiras contra agrotóxicos e transgênicos, assim como sempre denunciou o desrespeito aos direitos humanos e do trabalhador ao longo das cadeias. Nessa jornada, colheu alguns bons frutos, como a conquista da Norma Regulamentadora 36, específica para o setor frigorífico, mas que já espelha demandas futuras.

Em 2014, a Contac comemora 20 anos de fundação. São duas décadas de trabalho árduo, de lutas e de conquistas. De bandeiras levantadas e que permanecem erguidas em defesa do direito dos trabalhadores e trabalhadoras por condições dignas de trabalho, saúde e segurança e em busca do diálogo com as empresas.

Nas próximas páginas, você terá acesso a um breve resgate histórico desses anos que fizeram da Contac uma das confede- rações mais respeitadas e reconhecidas pelos trabalhadores, no Brasil e fora dele.

Essa revista é uma breve homenagem a todos aqueles que construíram essa história de sucesso e que certamente ainda terão muitas vitórias para comemorar. Parabéns a todos e boa leitura.

EDITORIAL

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04 | UMA FERRAMENTA DE LUTA DE FATOPor Siderlei Oliveira, presidente da Contac

06 | DE SUOR E LUTAS, NASCE UMA CONFEDERAÇÃOEm 1994, a Contac é fundada a partir dos anseio dos trabalhadores por uma representação nacional

10| CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E GERAÇÃO DE MUDANÇASPor Hugo Chimenes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação de São Borja (RS)

12 | A VOZ E A VEZ DA MULHER TRABALHADORAPor Geni Dalla Rosa, vice-presidente da Federação Latino-Americana da Alimentação

14 | HISTÓRIA MARCADA POR MOBILIZAÇÕES E VITÓRIASEm 20 anos, confederação coleciona conquistas por melhores condições de trabalho

20 | A NR 36 E OS DESAFIOS IMPOSTOS AO MEIO SINDICALPor Heiler Natali, procurador do Trabalho

22 | A SAÚDE DA CLASSE TRABALHADORAPor Roberto Ruiz, médico e membro do Grupo de Trabalho de criação da NR 36

ÍNDICE

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24 | A JUVENTUDE NA MIRA DOS FRIGORÍFICOSPor Wagner Rodrigues, secretário da juventude da Contac

26 | BANDEIRAS DA ALIMENTAÇÃO COM ENGAJAMENTO SOCIALPara a Contac, pensar a sociedade também faz parte da ação sindical

32 | ALIMENTOS SAUDÁVEIS PARA TODOSPor João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST

34 | 20 ANOS DA CONTAC: MUITA HISTÓRIA E MUITOS DESAFIOSPor Gerardo Iglesias, secretário regional da UITA

36 | ESFORÇO E TRABALHO RECONHECIDOS NACIONALMENTEDepois de quase duas décadas de lutas, a Contac é reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego

38 | TODO APOIO AOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DA CONTACPor Vagner Freitas, presidente da CUT Nacional

40 | O QUE DIZEM OS PARCEIROS DA CONTACDepoimentos de lideranças no cenário internacional e no Macrossetor Indústria da CUT

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UMA FERRAMENTADE LUTA DE FATO

Siderlei de Oliveira, fundador epresidenteda Contac

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A Contac foi fundada den-tro do espírito de liber-dade de organização

dos trabalhadores e das tra-balhadoras. Nasceu livre e fora das limitações legais, mas com forte aderência e empatia.

Nasceu de lutas e cresceu em meio a reivindicações por melhores condições de saúde e por mais dignidade aos tra-balhadores, no campo e na linha de produção. E foi por ter as mesmas reivindicações do chão de fábrica que a confede- ração teve sua existência garan-tida e afirmada mesmo antes da fundação, em 1994.

A Contac foi fundada com mais atenção nos trabalhadores que na estruturação sindical brasileira. E quando uma das maiores empresas cervejeiras do País negou a negociação,

alegando que a confederação era “ilegal”, os trabalhadores unidos responderam com 17 dias ininterruptos de greve. E foi assim que nascemos fortes e respeitados pelo empresariado brasileiro.

Até 2013, a Contac não era legal, mas era legítima repre-sentante dos trabalhadores. A falta da oficialização não per-mitiu, por quase duas décadas, que a entidade arrecadasse fundos. Entretanto, reforçou a identidade da confedera- ção, uma vez que sempre foi mantida por contribuições diretas e voluntárias dos trabalhadores.

Até 2013, não éramos le-gais, mas éramos legítimos. Hoje, estamos reconhecidos. E assim chegamos aos nossos pri-meiros 20 anos.

OPINIÃO

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Em maio de 1994, o primeiro congresso de alimentação realizado em Viamão, no Rio Grande do Sul, foi o marco da fundação da Contac

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DE SUOR E LUTAS, NASCEUMA CONFEDERAÇÃO

Em 1994, a Contac é fundada a partir dos anseio dos trabalhadores por uma representação nacional

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Quando a Contac foi funda-da oficialmente, em maio de 1994, muito já havia

acontecido no setor de alimen-tação no Brasil. Ao longo das décadas anteriores, ainda du-rante a ditadura militar que caçava os trabalhadores or-ganizados, algumas bandei-ras foram erguidas e se tor-naram determinantes para que a confederação nascesse. Assim, a Contac surgiu como resultado do suor, da luta e da determinação de milhares de trabalhadores e trabalhado-ras em busca de uma repre-sentação nacional capaz de gerar mudanças.

Uma dessas bandeiras foi a necessidade de uma entidade que pudesse representar os trabalhadores e trabalhadoras nacionalmente junto às empre-sas. Embora os primeiros movi- mentos pela organização da confederação tenham aconteci-do no sul do Brasil, as empre-sas que estavam instaladas na região atuavam nacionalmente.

Por isso, os trabalhadores se uniam em busca de nego-ciações que pudessem ser apli-cadas em todas as plantas,

padronizando conquistas e uni-ficando a categoria.

“No setor de bebidas, havia a Polar Antarctica S.A., que na época tinha mais de 800 operários só no Rio Grande do Sul”, lembra um dos fundadores da Contac, Airton Engster dos Santos. “Começamos a sonhar com uma negociação nacional para a indústria de bebidas, porque no Estado tínhamos muitos municípios que produ-ziam refrigerante e cerveja, ou para a Antarctica ou para a Brahma. Então, construímos uma pauta comum para o Esta-do e, em 1990, buscamos a nego-ciação nacional”, lembra.

Os primeiros resulta-dos dessa negociação foram alcançados a partir de uma comissão nacional e incluíam auxílio-escola e participação nos lucros e resultados das empresas. Mas não era o su-ficiente. “As empresas ainda estavam muito negligentes quanto aos salários e cláusu-las sociais”, lembra Santos. Foi quando, em 1991, os cerve-jeiros decretaram greve nacio-nal. Foram 17 dias de fábricas paradas, tanto no Rio Grande

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do Sul quanto em São Paulo. E, pela primeira vez no setor de alimentação e bebidas, per-cebeu-se que a organização nacional poderia alavancar resultados.

FORMAÇÃO E PARTICIPAÇÃO

Ao mesmo tempo em que os setores se organizavam nacionalmente, um impor-tante parceiro internacional investia esforços no Brasil. O processo começou em 1979, quando a União Internacional dos Trabalhadores da Alimen-tação (UITA) realizou, em Porto Alegre (RS), uma conferên-cia com convidados de toda a América Latina. A par-tir deste encontro, estabele-ceu-se como prioridade a for-mação de trabalhadores na região, com o objetivo de cons- cientizar e organizar o setor em busca da liberdade e da autono-mia sindical.

Foram realizados diver-

sos seminários para capacitar coordenadores de círculos de estudos. Ao mesmo tempo, os sindicatos gaúchos optaram por destinar 10% da arrecadação para a formação de dirigentes e trabalhadores”, lembra o presi- dente da Contac, Siderlei de Oliveira, que, na época, foi no-meado o primeiro coordenador do programa de formação. “Um dos grandes resultados desse processo aconteceu em 1992, quando a Federação dos Tra-balhadores nas Indústrias de Alimentação do Rio Grande do Sul realizou eleições diretas para a direção da entidade. Era a base escolhendo a diretoria, um fato inédito em todo o siste-ma CUT”, lembra.

“Estar próximo dos tra-balhadores e manter o pé no chão da fábrica sempre foram diferenciais da Federação do Rio Grande do Sul e que foram estabelecidos como fundamen-tais também na Contac”, conta uma das fundadoras da con-federação, Marlene Goulart,

hoje secretária da mulher tra-balhadora da área de alimen-tação da FTIARS.

A ideia da fundação da Contac foi amadurecendo, as-sim como a aproximação e o en-volvimento dos trabalhadores com este objetivo. Também foram surgindo as primeiras comissões nacionais. Primeiro foi a Comissão Nacional da Bebida, seguida pela do Frango, a da Carne, a dos Cereais e dos Laticínios. Por fim, a aproxi-mação da UITA e as denúncias dos sindicatos ligados à ali-mentação no mercado interna-cional pressionavam para uma organização nacional do setor.

“A gente tinha essa visão de que o empresário se preocu-pa com a própria imagem no mercado. Quando você faz uma denúncia que mexe com a ima-gem da empresa, dá resultado. Nós fomos, antes mesmo da fundação da Contac, aos EUA fazer uma denúncia contra a Cutrale, com a ajuda da UITA. E deu resultados”, lembra um

O índio caingangue e operador de máquinas Alan Bento Ribeiro (esquerda) e Airton Engster dos Santos, atuante no Rio Grande do SulFo

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dos fundadores da Contac, Nelson Morelli, atual diretor de relações sindicais da confe- deração. “Então, a Contac nas- ceu com essa vocação, de não ser mais uma opção, mas de ser um representate legítimo do trabalhador. Porque a gente en-tendia que, de fato, tínhamos a responsabilidade de defender os interesses da classe trabalhadora, que estava em risco”, completa.

Neste cenário, em maio de 1994, é realizado o 1º Congresso Nacional dos Trabalhadores da Alimentação CUTista, na cidade gaúcha de Viamão. E é fundada oficialmente ali a Contac, com o objetivo de unir, dentro de uma mesma representação nacional, trabalhadores e trabalhadoras da indústria da alimentação, bebidas e agronegócio.

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Entre os fundadores da Contac estão Nelson Morelli (acima), sindicalista no Estado de São Paulo, e Marlene Goulart (abaixo), da Secretaria da Mulher da Federação do Rio Grande do Sul

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Defesa das minoriasDesde que foi fundada, a

Contac também buscou repre-sentar as minorias no setor de ali-mentação. Por isso, foi a primeira confederação brasileira a possuir pautas voltadas exclusivamente para trabalhadores indígenas. O primeiro encontro sobre esse tema aconteceu em 2010, em Sidrolândia (MS).

O operador de máquinas Alan Bento Ribeiro partipou do evento. Ele é caingangue de uma aldeia em Montes Caseiros, a 90 quilômetros de Passo Fundo (RS). Há cinco anos, ele trabalha em um frigorífico da região, assim como outros 40 trabalhadores da mesma tribo.

A principal preocupação da Contac é que os indígenas, assim como os demais trabalhadores, sejam respeitados e tratados de forma igualitária. “Com o tra-balho da confederação, diminuiu o preconceito, mas ainda existe. A gente precisa de mais oportuni-dade. Precisa que, um dia, um ín-dio também seja colocado como chefe”, espera o caingangue.

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CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E GERAÇÃO DE MUDANÇAS

Hugo Chimenes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação de São Borja (RS)

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F ormação faz parte do DNA da Contac. Antes mesmo da fundação da

confederação, os trabalhadores do setor da alimentação foram os escolhidos para o Programa Na-cional de Ciclos de Estudos Sindi- cais. O programa, inédito na América Latina, foi referência na construção de lideranças, mesmo durante a ditadura brasileira.

Idealizado pela União In-ternacional dos Trabalhadores da Alimentação (UITA), o pro-grama existiu entre os anos de 1980 e 1994. Neste período, passaram por seus cursos repre- sentantes de 242 sindicatos. Foram mais de 1.700 seminários, totalizando 27 mil horas de cursos, 19,5 mil mulheres e 41,2 mil homens formados em temas essenciais para o sindi-calismo gerador de mudanças.

Deste programa, surgiram líderes exemplares que iniciaram transformações no meio sindi-cal brasileiro. O conhecimento gerado, assim como a qualidade das informações veiculadas nos cursos e seminários, não se limi-taram à ditadura. Em meio à repressão, mantiveram a cora- gem de lutar pelos direitos hu-manos, dos trabalhadores e das

trabalhadoras.A Contac é fruto desse pro-

cesso. E, como fruto, perpetua a qualificação de seus dirigen-tes e a necessidade constante de se levar informação a todos os trabalhadores. Afinal, in-formação e conhecimento são as principais ferramentas que um sindicalista pode ter para transformar o ambiente em que vive, para ajudar a resolver os problemas do trabalhador.

Desde o começo, a for-mação é cultivada na Contac como diferencial entre seus dirigentes. A informação é construída, compartilhada e feita ferramenta de luta. Com a formação, nós aprendemos a mudar as estruturas, conse-guimos nos aproximar dos tra-balhadores de base. E é disso que o trabalhador precisa: de representantes que saibam negociar, mas que também saibam falar a sua língua, que tenham o pé no chão da fábrica.

Hoje, é impossível pensar em ação sem capacitação. A formação gera conhecimento, que gera mudança. E os bons líderes sabem o valor que tem a formação. Isso é o chamado sindicato cidadão.

OPINIÃO

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A VOZ E A VEZ DAMULHER TRABALHADORA

Geni Dalla Rosa, vice-presidente da Federação Latino-Americana da Alimentação

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É preciso dar voz à mulher trabalhadora. Por mais de 20 anos no ramo da

alimentação, tenho percebido a presença cada vez mais cons-tante das mulheres nos pos-tos de trabalho. Hoje, repre-sentamos 52% do mercado de trabalho nacional e 62% dos empregos ligados à alimen-tação, a maior parte em frigo- ríficos. Somos a maioria, a parte que mais sofre e a par-te que mais precisa lutar pelo lugar que ocupa.

Das doenças ocupacionais, a Lesão por Esforço Repetiti-vo (LER) é uma constante no ramo da alimentação. Elas, porém, sofrem com 90% de to-dos os casos registrados. Mes-mo assim, a mulher que sofre com dores no trabalho, na maioria das vezes continua a dor da segunda jornada diária. E consegue, com toda a garra que tem, sair do emprego, dar atenção à família e dedicar-se ao lar. Tudo em um único dia, em duas jornadas.

A mulher que luta pelo emprego e pela saúde é tam-

bém a mulher que luta por melhores salários. Segundo pesquisas do Dieese, ainda re-cebemos até 30% a menos que os homens que ocupam a mes-ma função. A mulher que tra-balha mais, que sofre mais, é também a que recebe menos.

Por isso, é hora de nós, mulheres, nos unirmos por mudanças. Já estivemos pre-sentes com força em vários momentos desses 20 anos da Contac. Foi, inclusive, no pro-grama de formação das mulhe- res que sugiu a necessidade de fundação de uma confedera- ção CUTista, que se concreti-zou em 1994 com a fundação da Contac. Com garra, também lutamos contra os transgênicos, na organização dos assalaria- dos rurais e na conquista da Norma dos Frigoríficos.

Agora é hora de nos orga-nizarmos e nos capacitarmos para a luta. Não podemos nos conformar apenas com as cotas. Precisamos estar preparadas para ocupar, com ainda mais poder, garra e conhecimento, o lugar que conquistamos.

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OPINIÃO

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HISTÓRIA MARCADA POR MOBILIZAÇÕES E VITÓRIAS

Em 20 anos, confederação coleciona conquistas por melhores condições de trabalho

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Assembleia da Pedigão em Serafina Corrêa (RS), durante campanha nacional em 2013

A Contac nasceu pela necessidade de os tra-balhadores estarem re-

presentados nacionalmente em grandes questões coletivas. Da agroindústria ao processa-mento de alimentos e bebidas, a confederação sempre lutou por melhores condições de tra-balho, saúde e segurança de trabalhadores e trabalhadoras em todo o País. E algumas das lutas, como a conquista da NR 36, se tornaram referência no meio sindical internacional. A primeira grande luta do ramo da alimentação e bebi-das resultou na fundação da Contac. Envolveu cervejeiros do Rio Grande do Sul e de São Paulo que exigiam negociação coletiva, melhores salários e inclusão de cláusulas sociais em seus contratos. A falta de diáologo com a empresa resul-tou, no ano de 1991, em 17 dias consecutivos de greve. “A greve teve papel pre-ponderante na negociação no ano seguinte, que foi quando surgiram os avanços”, lembra Airton Engster dos Santos, na época presidente do Sindi-cato dos Trabalhadores nas Indústrias e Cooperativas da

Alimentação de Estrela (RS). Entre as reivindicações alcan- çadas em 1991 estavam plano de saúde aos funcionários e ex-tensivo aos familiares, e que co-brisse não só despesas médicas e hospitalares, mas também medicamentos. “Em 1991, conseguimos o auxílio escolar, que era um valor pago no início do ano, correspondente a um salário mínimo por filho que frequen-tasse a escola. O valor era su-ficiente para comprar uniforme, mochila, livros, cadernos, lápis, livros. Em 1992, conseguimos participação nos lucros, e fomos sempre avançando nas nego-ciações”, lembra o sindicalista. Os avanços no setor de bebidas brasileiro foi uma referência no modelo de nego-ciação, até que, em 1999, as principais fábricas fundiram e geraram a Ambev. De acordo com o presidente do Sindica-to dos Trabalhadores das In-dústrias de Cervejas, Vinhos, Águas e Bebidas em geral da Grande São Paulo, José Eno-que da Costa Souza, a fusão marca a retomada de grandes desafios para sindicalistas e trabalhadores na empresa.

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“Com a fusão, perdemos várias cláusulas que já havía-mos conquistado, como o auxí-lio escolar. As negociações deixaram de ser nacionais, e isso tem sido um dos maiores desafios que temos”, afirma José Enoque. “Temos conse-guido manter a base dos acor-dos coletivos, com reajuste da inflação e aumento real todos os anos. Mas pra gente não é o suficiente, porque sabemos o que já conquistamos. Nos-so trabalho atual é discutir melhorias na PLR e, aos pou-cos, tentarmos retormar o cenário que já tivemos antes da fusão”, planeja.

DESAFIOS DA AÇÃO ISOLADA Outra empresa que difi-culta a ação sindical devido às negociações isoladas é a Nestlé. Desde 1996, a Contac, ao lado dos sindicatos ligados à multinacional e com o apoio da UITA, tem denunciado, na-cional e internacionalmente, práticas prejudiciais aos tra-balhadores nas plantas. A principal bandeira dos sindi-calistas ligados à multinacio-

nal é a busca por tratamen-tos igualitários nas diferentes fábricas da empresa – motivos que levaram, naquele mesmo ano, a uma greve de 48h na unidade de Itabuna (BA). Em 2006, uma nova greve na planta tentou buscar rea-justes mais justos nos salários e nos benefícios. A greve durou 36 horas e levou a um incremento significativo na PLR e no vale alimentação dos trabalhadores. Em 2011, a Contac e os sindi-catos iniciaram uma campanha em todo o País denunciando a Nestlé por discriminação de seus trabalhadores na região nordeste. Na época, as dife-renças nas remunerações dos trabalhadores chegavam a ser 20% menores em compra- ração às demais regiões do País – incluindo o pagamento de salários, horas extras e partic-ipação nos lucros e resultados. “Até 2011, tentamos cons- truir um grupo de sindicatos de diferentes centrais para tentar uma negociação unifi-cada com a empresa”, conta o diretor do Sindicato dos Tra-balhadores das Indústrias de Alimentos e Afins do Estado

Sequência de fotos mostra greve geral dos cervejeiros em Estrela (RS), em 1991; a paralização durou 17 dias consecutivos e envolveu

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“A gente aprendeu que o diálogo é o melhor caminho.” Darci Dallagnol, do sindicato de Serafina Corrêa (RS)

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da Bahia, Eduardo João Sodré. Segundo o diretor, a falta de um acordo entre os própri-os sindicatos levou à deses- truturação do grupo, que ago-ra trabalha isoladamente. “A Nestlé tem a estratégia de agilizar a negociação com os trabalhadores desorganizados e desmobilizados. Quando eles aceitam as propostas, elas são apresentadas aos demais, o que dificulta muito a nego-ciação”, lamenta. O resultado dessa sepa-ração são condições bastante distintas nas diferentes plantas, além de ações isoladas. Embora sem a unificação, a persistência dos sindicalistas soma avanços significativos nas negociações e garantia dos direitos. “A Nestlé costuma chantagear os trabalhadores. Teve ano que a empresa chegou a enviar cartas às esposas dos funcionários que ameaçavam entrar em greve. Mas, com o apoio da Contac e da UITA, conseguimos de-nunciar essas práticas à OIT e evitar danos maiores aos tra-balhadores. Nosso desafio agora é conseguir caminhar na di-reção da unificação da categoria em todo o país”, comenta Sodré.

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CONQUISTAS DO TRABALHO CONJUNTO

Se na Nestlé os trabalhadores encontram dificuldades para conquistas conjuntas, na Lácteos Brasil (LBR) a união tem garan-tido vitórias importantes. Desde 2003, quando a então Parmalat entrou em crise mundial e decretou falência no Brasil, os tra-balhadores do setor de laticínios têm se unido para minimizar os estragos causados por crises consecutivas. A última grande crise no setor iniciou em 2013, quando o gru-po LBR entrou com pedido de recuperação judicial, carregando uma dívida de R$ 1 bilhão. Até chegar a este ponto, a fusão de empre-sas que geraram o grupo e a estratégia administrativa adotada, com aquisição e fechamento de pequenos laticínios, já haviam co-locado os sindicatos em alerta. “Tivemos laticínios que fecharam da noite para o dia, colocando 200 funcionários na rua. Teve outros que reduziram para 30% o quadro de funcionários”, lembra o secretário de Política Social da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul, Sílvio Ambrósio. Para evitar estragos maiores, os sindicatos, com apoio constan-te da Contac, têm promovido greves e atos em todo o Brasil. Atual- mente, o grupo possui mais de 2 mil trabalhadores em sete Esta- dos brasileiros. “Hoje, com a ajuda da Contac, temos uma luta uni-ficada, com informação organizada. Conseguimos uma negociação nacional e temos um acordo único no setor de laticínios”, ressalta Ambrósio. Desde o início do processo de recuperação judicial, os trabalhadores têm uma comissão que acompanha todas as nego-ciações envolvendo a empresa. “O sindicato está lá, na mesa de ne-gociação, participando das conversas com as empresas que querem comprar a LBR. O trabalhador agora é escutado.” A união dos trabalhadores nas lutas também é uma marca na BRF. Antes da fusão, o engajamento dos trabalhadores nas ações já era percebido. A mais marcante delas aconteceu em 1987, na então Perdigão, quando a empresa se negou a sentar com os trabalhadores para negociar salários e melhorias nas condições de trabalho.

Fotos: Arquivo pessoal/Airton Engster dos Santos

trabalhadores do Norte ao Sul do País em ação que foi uma das determinantes para a fundação da Contac, três anos depois

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“A negociação não andava e, na época, nós tínhamos medo de uma repressão se fizéssemos greve. Foi quando iniciamos a operação tartaruga”, lembra o secretário de Organização Sindi-cal do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Alimentícia de Serafina Corrêa (RS), Darci José Dallagnol. No frigorífico em que ele trabalhava, eram abatidos 850 porcos por dia. A estratégia foi reduzir em 50 abates diariamente. Ao final de uma semana sem negociações, o número de porcos abatidos passou de 850 para 500. “Éramos em 900 na fábrica e o processo iniciava no abate, onde trabalhávamos em 150 pessoas. Com a operação tarta-ruga, afetamos toda a planta, porque chegavam menos porcos para os processos seguintes”, lembra Dallagnol. A principal motivação para a operação era a negociação da data-base. Enquanto os sindicalistas pediam 10% de ajuste, a empresa oferecia 1% e se negava a negociar. “Depois da operação tar-taruga, conseguimos reajuste de 9%. Foi a nossa melhor nego-ciação da história”, comemora. Os resultados da operação tartaruga são colhidos até hoje. Segundo Dallagnol, os setor de frigoríficos mantém a nego-ciação nacional e os sindicatos permanecem unidos, inclusive na possibilidade de fazer novas paralizações. “O Brasil in-teiro ficou sabendo da operação tartaruga. Ganhamos respeito porque não deixamos de trabalhar. A gente ia, não respondia o patrão, mas trabalhava em ritmo mais lento. Depois disso, mesmo depois das compras e fusões, o setor continua sendo respeitado. Nossos sindicatos são muito unidos e têm muito apoio da população. Com isso, a gente aprendeu que o diálogo é o melhor caminho.”

NR 36: REFERêNCIA MUNDIAL DE UNIÃO E LUTA

Mesmo ainda sem estar reconhecida oficialmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego, a Contac conseguiu, em 2013, uma conquista que poucas confederações alcançaram até hoje. Depois de anos de luta e reivindicações, ao lado do Ministério Público do Trabalho e de representantes de tra-balhadores e trabalhadoras, a Contac conseguiu a aprovação da Norma Regulamentadora 36, também conhecida como a NR dos frigoríficos. Entre as mudanças que a NR 36 proporciona estão a limitação da jornada, a obrigação de pausas ao longo do dia de trabalho, a instalação de equipamentos de proteção e se-gurança em maquinários e condições que previnam acidentes de trabalho e problemas de saúde. A falta de regulamentação no setor antes da NR 36 fez milhares de vítimas. Uma delas gerou atos de manifestação e chamou a atenção da mídia para Sitrolândia, no Mato Grosso do Sul. “Havia um funcionário indígena da empresa, na época Cargill, que fazia a higienização da fábrica. Naquele dia, ele trabalhava na área do chiller, que é uma máquina por onde passam os frangos depois de depenados e eviscerados, para

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De cima para baixo, os dirigentes José Enoque Souza, Darci Dallagnol, Sérgio Bolzan, Celio Elias e Eduardo Sodré

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Secretário de política social da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul, Sílvio Ambrósio

resfriamento. Essa máquina não parava nunca e não tinha nenhum tipo de proteção. A rou-pa dele engatou no caracol da máquina e ele foi puxado pra dentro”, lembra o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Carne de Sitrolân-dia (Sindaves), Sérgio Bolzan. O frigorífico, que hoje faz parte do grupo JBS, foi um dos que teve trabalhadores engaja-dos na luta pela aprovação da NR 36. O grupo possui cerca de 2 mil trabalhadores diretos e outros 2 mil nos demais elos da cadeia produtiva. Segundo Bol-zan, a NR 36 trouxe melhorias imensuráveis ao local de tra-balho, mas ainda há motivos para preocupação. “As pausas na jornada deveriam, pela lógi-ca, diminuir a produção. Mas

isso não aconteceu. Mesmo com menor tempo de trabalho por dia, o número de frangos abatidos permanece o mesmo. Isso quer dizer que o ritmo de trabalho acabou aumentando. Assim, o trabalhador não adoece mais tão rápido como era antes, mas ainda está adoecendo”, alerta. Até que a NR 36 fosse aprovada, foram mais de dez anos de debates e reivindi-cações. E foi devido à persistên-cia na luta pela qualidade de vida do trabalhador que a Contac se tornou conhecida e respeitada. “Depois que foi cria-da a comissão tripartite, com tra-balhadores, empresas e Gover- no, foram mais de três anos de debate”, lembra o presidente do Sindicato dos Trabalhadores

na Indústrias da Alimentação de Criciúma e Região, Célio Alves Elias. “O dia 18 de abril de 2013 é um marco para a Contac e para todos os trabalhadores que lu-tam por melhores condições de trabalho”, completa Elias. “Já conseguimos colocar as nossas reivindicações no papel e ago-ra, com a NR 36, temos uma ferramenta para exigir que essas questões sejam cumpri-das. Ainda é um desafio cons-tante, porque nem todos os frigoríficos estão cumprindo como se deve. Mas, aos poucos, com o apoio do Ministério Pú-blico do Trabalho e com a par-ticipação dos trabalhadores, que ligam e fazem denúncias, nós vamos conseguir mudar esse cenário.”

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A NR 36 E OS DESAFIOS IMPOSTOS AO MEIO SINDICAL

Heiler Natali,procurador do Trabalho

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M uitos atores sociais e personagens foram en-volvidos para a formu-

lação do que hoje conhecemos como a Norma Regulamenta-dora do Trabalho em Frigorífi-cos, ou simplesmente NR 36. O resultado desse esforço coletivo só é realmente conhecido por quem vivenciou e testemunhou verdadeiras batalhas travadas durante as dezenas de reuniões que culminaram com a elabo-ração do texto aprovado por con-senso geral entre trabalhadores, empregadores e Governo.

Nesse contexto, um dos atores sociais mais proeminen-tes foi, sem dúvida, a Contac. Agora que a NR 36 está em vigor, impõe-se à confederação e a todas as entidades sindicais do ramo da alimentação uma atuação efetiva com vistas à implementação do seu texto e, mais do que isso, de um padrão decente de trabalho no interior dos frigoríficos.

Nessa linha, não é possível

mais firmar acordos ou con-venções aceitando banco de horas em frigoríficos. Muito menos prêmios assiduidade ou produtividade que inexoravel-mente colaboram com o acrésci-mo dos índices de adoecimento derivado da fatídica conjugação do estímulo à produção com a realização de horas extras em ritmo exauriente e, por vezes, em condições insalubres.

Esse primeiro passo deve ser encarado como ponto insus-cetível de negociação por par-te das entidades sindicais que verdadeiramente se preocupam com a saúde dos empregados que se ativam em frigoríficos.

Os demais passos a serem dados passam pela qualifi-cação, inclusive do corpo jurídi-co, para atuação em defesa da categoria a partir das inúmeras possibilidades abertas pela NR 36. Para tanto, acredita-se que a Contac tem ainda muito a oferecer às suas entidades de base. Boa luta a todos!

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cionais que roubam a saúde dos trabalhadores e das tra-balhadoras e os fazem perder sua força de trabalho. Por este motivo, a pauta da saúde está cada vez mais forte nas reivin-dicações que devem ser feitas pelos sindicatos. A Contac foi a pioneira na luta em defesa da saúde e da vida dos trabalhadores do ramo da alimentação. Exemplo con-creto é a Norma Regulamenta-dora 36, cujo processo começou em 1997 e se intensificou nos anos de 2011 e 2012, e que re-sultou em muitos benefícios. Entre eles estão as pausas ao longo da jornada, o controle da exposição ao frio, ao ruído e à amônia, e o controle do ritmo de trabalho imposto na linha de produção. Além disso, a Contac já deu início ao processo de formação de dirigentes sindicais e mili-tantes de base sobre a NR 36. A Contac está fazendo sua par-te. Cabe, agora, unir esforços para cobrar que a norma seja implantada completamente em todos os frigoríficos do País.

A SAÚDE DA CLASSETRABALHADORA

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Roberto Ruiz, médico e membro do Grupo de Trabalho de criação da NR 36

D urante décadas, a luta do movimento sindical podia ser resumida em

uma só pauta: aumento de salários. Entretanto, com o pas-sar dos anos, a classe trabalha-dora brasileira tem avançado nas reivindicações. Hoje, tra-balhadores e trabalhadoras unem forças pelas chamadas cláusulas sociais, com destaque para a área da saúde. Vivemos em uma sociedade de classes, onde a classe tra-balhadora tem apenas a força de trabalho para sobreviver. As-sim, quando perde-se a saúde, perde-se também a capacidade de vender a força de trabalho. E este é um dos grandes motivos pelos quais o dirigente sindi-cal precisa estar atento ao que acontece em suas bases. Cada vez mais, doenças acometem trabalhadoras e trabalhadoras. São frequentes LER/DORT (tendinites, bur-sites e síndrome do túnel do carpo), assim como depressão, síndrome do pânico, ansiedade, assédio moral e perda auditiva por ruído. São doenças ocupa-

OPINIÃO

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A JUVENTUDE NA MIRADOS FRIGORÍFICOS

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dignidade humana.Quando a produtividade

não é alcançada, a discrimi-nação cresce, inclusive por co-legas de trabalho, assim como os índices de doenças e aci-dentes laborais. Outro fator preocupante é que, em bus-ca da superação por metas, e devido às jornadas estafantes, os jovens acabam abandonan-do os estudos. Assim, o tra-balho se sobrepõe à formação, ao lazer, à cultura e à partici-pação sindical.

Nesse cenário, temos o de-safio de organizar e motivar a juventude a trazer suas deman-das para dentro dos sindicatos, para que se sintam plenamente representados. É indispensável que haja uma aliança dos jovens com bons referenciais de luta. Afinal, ser jovem não significa travar disputa com os mais ex-perientes, mas é dar as mãos com todas as gerações e ter a responsabilidade de continuar as lutas, aperfeiçoar as práti-cas e formar as futuras ge-rações por uma sociedade mais justa e igualitária.

Wagner do Nascimento Rodrigues, secretário de juventude da Contac

O setor frigorífico tem ocu-pado papel estratégico na economia nacional.

É inquestionável que o abate e processamento, principalmente de aves, bovinos e suínos, são responsáveis diretos do sur-gimento e crescimento das nossas transnacionais do setor frigorífico.

Na contramão dos recordes de produtividade e lucro ano após ano, temos uma realidade cruel que assola trabalhadores e trabalhadoras. Quanto menor o frigorífico ou mais distante dos grandes centros urbanos, piores são as condições de tra-balho e salário. Nesse cenário, a juventude acaba sendo a “peça” descartável mais utilizada pela indústria.

Jovens são atraídos para a indústria frigorifica normal-mente pela falta de opções no entorno e pela ilusão da possi-bilidade de uma grande carrei-ra. Assim, acabam se tornando o elo mais frágil em empresas movidas a metas, onde a co-brança por produção exacer-bada se sobrepõe ao respeito à

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BANDEIRAS DA ALIMENTAÇÃO COM ENGAJAMENTO SOCIAL

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Sebastião Pinheiro, referência sobre agrotóxicos no País, foi parceiro da Contac nas primeiras lutas

Para a Contac, pensar a sociedade também faz parte da ação sindical

A inda na década de 1970, a sociedade brasilei-ra começou um grande

questionamento envolvendo o ramo da alimentação. Em meio aos resquícios das grandes guer-ras, que mostraram ao mundo o poder das armas químicas, pessoas ligadas a entidades so-ciais e acadêmicas começaram a questionar as toneladas de agrotóxicos adquiridas e distribuídas pelas lavouras de todo o País. As lutas que começaram como preocupação à saúde foram ganhando sim-patizantes ao longo dos anos. Hoje, apesar de possuir outras características e bandeiras, as lutas por saúde e bem-estar da população conquistaram leis nacionais, destaque internacio-nal e ultrapassaram as barrei-ras do sindicalismo. “No início da década de 1970, o agricultor era usado para testar agrotóxicos. Os níveis de intoxicação eram absurdos. Na época, chamavam de ‘defensivo agrícola’, mas aquele veneno deixava cada vez mais pessoas doentes. O primeiro que sofria era lá na ponta da cadeia, era o pro-dutor rural. Quando começa-mos a lutar contra, muita gen-

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te se engajou quando viu que as pessoas estavam morrendo”, lembra o engenheiro agrônomo e florestal Sebastião Pinheiro. Por muitos anos, Pinheiro trabalhou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no estudo da agricultura. Tam-bém esteve engajado, desde o início, nas lutas sindicais, an-teriores à fundação da Contac, pela saúde do trabalhador do campo. Ele conta que o segredo para o sucesso das campanhas, e que ainda hoje é visto como um grande diferencial das lutas da Contac, é usar a informação a favor da mobilização. Foi o que aconteceu, desde o início, com a campanha contra os agrotóxicos.

“De 1979 para 1980, per-cebemos que a melhor maneira de eliminar o agrotóxico não era falar mal dele. Então, começa-mos a falar de uma agricultura onde não existisse espaço pra o veneno. Começamos a pro-mover os orgânicos a preços acessíveis, direto do produtor do campo, em feiras livres. E foi assim que ganhamos o público”, lembra Pinheiro. Foi com essa estratégia que os movimentos sindicais e sociais conseguiram leis estaduais para controle do

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uso de defensivos e, em 1989, a aprovação da Lei Nacional dos Agrotóxicos.

Embora a Contac e os movi- mentos sociais tenham con-quistado vários aliados na luta contra os agrotóxicos, o cenário brasileiro, segundo Pinheiro, continua preocupante, já que o Brasil é hoje o País que mais consome agrotóxicos. A mesma preocupação é compartilha-da com relação aos transgêni- cos. Mas, nessa última luta, a estratégia teve peso maior por parte dos trabalhadores. “Diferente do agrotóxico, que mata o trabalhor, o transgêni-co modifica a vida. Por isso, entramos nessa briga com o trabalhador, que também é responsável pela qualidade do alimento que chega ao merca-do”, ressalta Pinheiro.

PIONEIRISMO

“A importância da Contac na questão da segurança ali- mentar é muito grande”, re-força o presidente da Federa- ção dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São

Paulo (Feraesp), Elio Neves. “Antes mesmo de os trans-gênicos chegarem ao Brasil, a Contac já estava envolvida nas discussões. A Feraesp se uniu a essa empreitada, mas a liderança sempre esteve com a Contac, usando a infor-mação como uma ferramenta de luta”, completa.

A estratégia do uso da informação foi bastante posi- tiva e levou a Contac a ser a primeira entidade a promover um debate sobre transgênicos no País. O evento aconteceu em 1998 e contou com o apo-io fundamental da UITA. “O evento foi organizado por qua-tro pessoas, entre elas, eu e o companheiro Siderlei”, lembra Pinheiro. “Em fevereiro, a Mon-santo tinha feito um evento só com elite, sociólogos e reitores para tentar convencer sobre os transgênicos. E nós demos a res- posta. Reunimos mais de 900 pessoas, de três continentes diferentes, sem cobrar ingresso de ninguém. A UITA pagou o hotel, nós convidamos as pes-soas. E foi nesse evento que o MST e os latifundiários se

posicionaram contra os trans-gênicos”, completa.

Com a mobilização da so-ciedade, a Contac e os parceiros começaram a exigir mais trans-parência nos processos produti-vos que envolvem transgênicos. “Desde o começo, exigimos que os rótulos dos alimentos falem se ele é ou não feito com trans-gênicos. Exigimos isso porque o consumidor precisa saber o que está comprando. Quan-do o transgênico chegou com força ao Brasil, no final dos anos 1990, já exigíamos isso. O resultado foi que criamos um alerta para o consumidor bra-sileiro, inclusive sobre o signifi-cado da palavra. Lutamos com informação”, afirma o presi-dente da Feraesp.

E foi com informação que a Contac firmou importância e protagonismo nos temas. As-sim, o conhecimento foi mul-tiplicado por meio dos cursos de formação, e a informação e o conhecimento passaram a fazer parte da plataforma dos trabalhadores, desde a la-voura. “Quando a gente viu, estava dando treinamento e

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“Antes mesmo de os transgênicos chegarem ao Brasil, a Contac já estava envolvida nas discussões” Elio Neves, presidente da Feraesp

capacitação para trabalhador humilde, falando sobre DNA, mitocôndria e processos de transgenia. Então, tudo o que a gente fez foi mudar a briga, foi tirar da mão do ambientalista e colocar na mão do trabalhador”, comemora Pinheiro.

QUALIDADE DE ALIMENTOS

“As campanhas da Contac são em defesa dos interesses da sociedade, não só brasileira”, completa o tesoureiro da confe- deração, Carlos Cerqueira. Na entidade há 14 anos, ele conta que o envolvimento com temas de interesse social sempre es-teve na pauta de lutas. “A Contac luta contra transgênicos e agrotóxicos há vários anos, e são debates que envolvem toda a sociedade. São campanhas feitas não apenas no Brasil. Se a Contac representa o setor da alimentação, nada mais justo que seja ela quem levante esta bandeira”, diz.

“A Contac tem feito muitas

campanhas no Brasil e fora. Tem feito caravanas, caminha-das, seminários e treinamen-tos envolvendo toda a cadeia, do produtor à indústria e ao comércio. Isso é preciso reco- nhecer”, completa o presidente da Feraesp. Para ele, é funda-mental ter uma confederação que englobe diferentes setores e que promova esses debates. “Hoje em dia é muito difícil adquirir um alimento 100% livre de produtos químicos. A vaca come soja transgênica, a galinha come milho transgêni-co. Então, tudo o que a gen-te consome acaba tendo esses resquícios. A informação é im-portante, mas é preciso ter mais, porque há muitos analfabetos funcionais no Brasil, que são ci-dadãos que não conseguem in-terpretar o que está nos rótulos dos alimentos”, alerta.

Uma das iniciativas de grande sucesso lideradas pela Contac é o programa “Da Terra ao Prato”. Por meio dele, bus-ca-se a qualidade de alimentos

Com o apoio da UITA, Contac e parceiros realizaram o primeiro encontro nacional para debater o perigo dos transgênicos

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O presidente da Feraesp, Elio Neves, afirma ser importante envolver diferentes setores na mesma luta

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desde o plantio até o processa-mento e a chegada ao mercado consumidor. Neste programa, estão envolvidas iniciativas que promovem produtos orgânicos, que incluam a responsabili-dade social das empresas em todo o processo e que garan-tam a saúde e a segurança do trabalhador em todos os pon-tos da cadeia.

“Frango, boi confinado, soja, milho, tomate e trigo são os produtos que a população mais consome, então nós te-mos trabalho mais voltado pra eles. Não que não fazemos em outros produtos, mas são os de maior foco”, explica Cerque-ira. “Nesse processo, temos discutido nas convenções co-letivas não apenas a melhoria dos salários, mas a qualidade de vida do trabalhador. E isso pode ser garantido com uso de equipamentos que amenizem acidentes físicos e de contami-nação, por exemplo.”

ALIADOS DE PESO

O tesoureiro da Contac também afirma que garantir a qualidade de vida do tra-balhador é um processo com várias vantagens: reforça a proximidade com os tra-balhadores e o conhecimento da confederação, garante o bem-estar dos trabalhadores e auxilia no processo de quali- dade dos alimentos até o produ-to final. “Ter o trabalhador en-volvido com o sindicato é funda-mental para o bom andamento da Contac, inclusive nas nos-sas lutas. O trabalhador sabe como ninguém o que acontece

Sindicalista carrega bandeira em mobilização contra transgênicos em Belo Horizonte (MG)

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no processo de produção. Ele é quem traz informações impor-tantes para a defesa da quali- dade dos alimentos. E é com essa informação que a gente constrói argumentos para o debate com a empresa e com a sociedade. O trabalhador é nosso principal parceiro”, re-força Cerqueira.

Para Sebastião Pinheiro, a Contac também conta com outros aliados importantes na luta pela qualidade dos ali- mentos. “Em qualquer tipo de revolução, é fundamental o envolvimento da dona de casa e do operário, que é o tra-balhador organizado e sindi-calizado. E a Contac ainda tem a vantagem de trabalhar com o que as pessoas comem. En-tão, é estratégico que ela tome

a frente dessas lutas, como os agrotóxicos e os transgêni- cos, porque os resultados serão bem maiores”, afirma.

Outro fator importante na atuação da Contac é a a- tuação com outros setores econômicos, como ressalta o presidente da Feraesp: “A CUT deve muito à Contac no que diz respeito a pensar a partir da cadeia produtiva, o que a central chama hoje de macrossetor. O macrossetor começou a ser discutido tan-to pelos metalúrgicos quan-to pela indústria da alimen-tação, na perspectiva de que o movimento sindical precisa ser mais corporativo e tem que pensar nas condições ofereci-das aos trabalhadores em toda a cadeia”, afirma Neves.

“As campanhas da Contac são de interesse de toda a sociedade, e não apenas da brasileira.” Carlos Cerqueira, tesoureiro da Contac

Para o tesoureiro da Contac, Carlos Cerqueira, a confederação tem o dever dedebater temas que envolvam as cadeias produtivas dos alimentos

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ALIMENTOS SAUDÁVEIS PARA TODOS

João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST

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E stamos diante de um enorme desafio histórico na defesa da sobrevivência

da humanidade e de uma vida saudável para todo o povo bra- sileiro: a necessidade de se pro-duzir alimentos saudáveis.

Hoje, o comércio mundial de alimentos e das commodities agrícolas é controlado por menos de 50 grandes corporações trans-nacionais, que dominam mais de 80% de todo comércio e agroin-dústria. Dentro das indústrias, impõem condições de trabalho desumanas, em busca apenas do lucro máximo.

Nas lavouras, aplicam um modelo de produçao baseado nas sementes transgênicas, na mecanização intensiva e no uso de venenos, o que desemprega e expulsa o povo do campo, mata a biodiversidade, padroniza os produtos e envenena o solo, as águas, o ar e, sobretudo, vai contaminando os alimentos do dia a dia. O consumo per-sistente de alimentos contami- nados com agrotóxicos traz como consequência a ampliação de doenças. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a cada ano, 540 mil brasileiros são acometidos com câncer. Cerca de 40% deles irão a óbito.

Diante dessa tragédia anun-

ciada, de alimentos industria- lizados, com baixo valor nutriti-vo e uso de venenos, somente a classe trabalhadora pode fazer frente. Por isso, precisamo nos unir. No campo, a todos os tra-balhadores rurais que vivem como camponeses, pescadores, quilombolas, assentados e agri-cultores familiares. Na cidade, a todos os trabalhadores, em especial os da agroindústria e da industria química. Precisa- mos nos unir para organizar outras formas de produção que garantam empregos, qualidade de vida e de trabalho. Que ga-rantam a produção de alimen-tos saudáveis e baratos para toda a população.

Ao longo desses 20 anos, a Contac tem sido parceira da classe trabalhadora da cidade e do campo. Tem denunciado e se preocupado com a construção de um novo modelo de pro-dução de alimentos. Junto com os militantes do MST e dos de-mais movimentos sociais que fazem parte da Via Campesina Brasil, como MPA, MAB, movi- mento de mulheres, quilombo-las, povos indígenas, pastorais sociais, continuaremos, ao lado da Contac, nessa nossa lon-ga historia por uma sociedade mais justa e igualitária.

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20 ANOS DA CONTAC: MUITA HISTÓRIA E MUITOS DESAFIOS

Gerardo Iglesias, secretário regional da UITA

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Desde que a Contac foi parida, deixou mais pro-vas do que ladrões inex-

perientes na cena do crime. Muitas coisas poderão ser ditas sobre a sua condição e a sua condução. Entretanto, a maioria sabe que se trata de uma organização única, onde o que é alheio a outras insti-tuições forma parte de um compromisso mais político e cotidiano da Contac, um es-paço diferente. Em todo este tempo, é uma enorme satisfação para a nos-sa Regional ter sabido sempre reconhecer e identificar um

algo diferente e sumamente vital como o motor da Contac. Graças a ela, também soubemos aprender e desa- prender, fazendo-nos melhores e mais eficientes. Os 20 anos transcorridos foram de enorme valor e mar-cam uma trajetória inédita no mundo sindical. O desafio será o de como enfrentar os próximos 20 anos, por sabermos que não será fácil suprir a equipe que en-grandeceu essa confederação. Nosso compromisso é o de seguirmos juntos, pois o camin-ho é o mesmo. Enviamos nosso abraço em grande hora!

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Das federações que legalizaram a Contac, da esquerda para a direita: Messias Brum, da FATIAES, Osvaldo Teófilo, da FEDETIA/MG e Ernane Ferreira, da FTIA/PR

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ESFORÇO E TRABALHORECONHECIDOS NACIONALMENTE

Depois de quase duas décadas de lutas, a Contac é reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego

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N o dia 27 de dezembro de 2014, o Diário Oficial da união trazia em suas pá-

ginas o registro de mais uma conquista dos trabalhadores da alimentação. Nele, era oficiali- zado o pedido de registro sindi-cal da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação da CUT (Contac/CUT).

No registro, constavam como unidades fundadoras três federações: a Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação do Estado do Paraná (FTIA/PR), a Federa- ção Democrática dos Traba- lhadores nas Indústrias de Ali- mentação, Panificação, Con-feitarias e Massas Alimentí-cias do Estado de Minas Gerais (FEDETIA/MG) e a Federa- ção dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins no Estado do Espírito Santo (FATIAES). Foram três federações envolvidas com a confederação desde o início e que se comprometeram a levar adiante os trâmites judiciais.

“Politicamente, houve um avanço muito grande quando os trabalhadores começaram a ser organizados dentro da Contac. Sempre foi nosso sonho legali- zá-la”, lembra o presidente da FEDETIA/MG, Osvaldo Teófi-lo. “A Contac é atuante, com-batente e participativa. Por

isso, é mais reconhecida que muito sindicato”, ressalta.

“Mesmo antes da entrada do pedido de legalização, a confederação já era reconheci- da pelos trabalhadores de todo o mundo”, completa o presiden-te da FTIA/PR, Ernane Garcia Ferreira. “Muitos acordos cole-tivos nacionais e internacionais aconteceram por intermédio da Contac. Hoje, a categoria da al-imentação colhe muitos frutos, e é isso que deixa a confede- ração ainda mais próxima dos trabalhadores.”

Aos longo dos 20 anos de atuação, a falta de reconhe- cimento oficial pelo MTE não impetiu a atuação da confe- deração. Porém, legalizada, ela passa agora a receber mais re-cursos e poderá participar de mais atividades oficiais, inclu-sive federais.

“O setor da alimentação é muito complexo, produz mui-ta doença. A Contac faz muita coisa, mas com a legali- zação, vai dar pra dar passos maiores, conversar com outros setores sobre temas comuns. Afinal, trabalhador é traba- lhador em qualquer setor, e precisa ser defendido”, afir-ma o secretário de finanças da FATIAES, Messias Brum. “Nossas vitórias serão ainda maiores agora, reconhecidos de fato e de direito.”

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TODO APOIO AOS TRABALHADORES E ÀS TRABALHADORAS DA CONTAC

Vagner Freitas, presidente da CUT Nacional

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A Confederação Brasileira Democrática dos Tra-balhadores nas Indústri-

as da Alimentação da CUT (Contac/CUT) foi reconhecida, no fim do ano passado, pelo Ministério do Trabalho e Em-prego como legítima represen-tante dos trabalhadores na indústria de alimentação.

Essa conquista, fruto de muita persistência e deter-minação, garante a unidade CUTtista na representação dos trabalhadores e trabalhadoras do ramo em todo o Brasil, o que pressupõe combatividade, éti-ca, mobilização, organização e pressão para melhorar a quali- dade de vida e de trabalho de toda a categoria.

A formalização amplia e potencializa a luta da Con-federação, que já tem um histórico que inclui batalhas memoráveis como a que seus dirigentes fizeram contra os transgênicos, a importação da carne contaminada no aciden-te de Chernobyl, práticas an-tissindicais nas empresas do setor, e a luta por mais saúde e segurança no trabalho.

E também conquistas como

a Norma Regulamentadora 36, que trata de melhorias no am-biente de trabalho em áreas de abates e processamento de carnes e derivados. A NR 36 representa um passo funda-mental no combate às doenças ocupacionais, como epidemia de lesões e mutilações que viti-mou centenas de trabalhadores e trabalhadoras da indústria de alimentação.

Minha homenagem espe-cial vai para todos os militantes que durante anos se dedicaram à construção da Contac. Sem o apoio e o trabalho de todos esses militantes, a Contac não existiria e, se existisse, não teria função. Sindicatos, fede-rações, confederações e cen-trais sindicais são necessaria- mente instrumentos de lutas e defesa de toda a classe tra-balhadora. Portanto, a Contac foi criada a partir das lutas dos trabalhadores nas indústrias de alimentação do Brasil e deve existir para defender estes tra-balhadores e trabalhadoras da ativa e aposentados.

Parabéns aos trabalhadores e trabalhadoras representados pela Contac!

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OPINIÃO

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O QUE DIZEM OSPARCEIROS DA CONTAC

“Desde o 11° Congresso da CUT, quando foi aprovada a estraté-gia de organização da central por macrossetores, temos tido a oportunidade de conhecer mais de perto a realidade das tra-balhadoras e trabalhadores da alimentação. Essa convivência permitiu percebermos que os setores químico e de alimentação estão bastante interligados e que, por isso, possuímos agendas de lutas comuns. O agrotóxico fabricado no setor químico, por exemplo, é utilizado no setor da alimentação, e em ambos o tra-balhador é colocado em risco. Dialogar com a Contac tem feito de nós não apenas parceiros, mas companheiros de luta por melho-rias salariais, sociais e para a vida de milhares de trabalhadores e trabalhadoras em todo o Brasil.”

Lucineide Varjãopresidenta da Confederação Nacional dos Químicos da CUT (CNQ/CUT)

“A ação séria e combativa da Contac/CUT, particularmente junto aos trabalhadores dos frigoríficos na conquista da Norma Regu-lamentadora 36, que garantiu as tão necessárias pausas para o enfrentamento à epidemia de lesões e mutilações, e sua pioneira articulação com os movimentos sociais na luta contra a contami- nação por agrotóxicos são importantes referências não só para o movimento sindical brasileiro, como de todo o planeta. Com com-promisso e dedicação, o presidente Siderlei de Oliveira tem sido um combatente firme e um parceiro exemplar na construção do novo sindicalismo.”

João Antonio Felício presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI)

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Depoimentos de lideranças no cenário internacional e no Macrossetor Indústria da CUT

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Desde a sua fundação, a Contac tem se mostrado essencial para a defesa dos trabalhadores e trabalhadoras nas indústrias de ali- mentação. Graças à atuação incansável da entidade, a categoria conquistou a NR 36, que estabelece mecanismos fundamentais para garantir a segurança e a saúde daqueles que trabalham nos frigoríficos. A Contac tem sido também uma firme parceira para a consolidação do Macrossetor Indústria da CUT e a unidade de ação com as demais entidades do ramo. Parabéns, Contac!

Paulo Cayres presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT)

“Completar 20 anos com prestígio nacional e internacional é o re-sultado do comprometimento com os trabalhadores e trabalhado-ras do ramo da alimentação, tanto nas demandas trabalhistas quanto nas demais questões sociais. O companheiro Siderlei sempre se demonstrou incansável na defesa dos direitos da cate- goria no Brasil, tendo como grande exemplo para nos espelhar-mos a conquista da assinatura e implantação da NR 36. É por toda essa trajetória de proximidade com a classe trabalhadora e efetiva participação na CUT e nos órgão internacionais que a Contac tem muito a contribuir com o Macrossetor Indústria.”

Cida Trajanopresidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Vestuário da CUT (CNTV/CUT)

“A Contac tem papel fundamental no Macrossetor Indústria porque é hoje um setor expoente da economia, é o carro chefe das expor-tações brasileiras. A posição atual do Brasil na economia mundial é fruto do setor da alimentação, por isso a importância da Contac ser ouvida, principalmente na defesa da saúde e segurança dos trabalhadores, expostos a ritmos cada vez maiores de trabalho. Indiretamente, essa estratégia reflete em outras categorias. Com essa interação do macrossetor, conseguimos compreender a reali-dade do ramo da alimentação e reforçarmos suas ações.”

Claudio da Silva Gomes presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias de Construção e da Madeira filiados à CUT (Conticom/CUT)

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