alicerces - instituto politécnico de lisboa · a organização de um conjunto de debates...
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ALICERCES
JoelFredericodaSilveiraeLusMarques(org.)
SERVIOPBLICODETELEVISO:
DESAFIOSPARAOSCULOXXI
ConfernciaInternacionalInformaoeProgramaodeServioPbliconumContextoCompetitivo
19e20deMarode2007,organizadapelaRTPepeloCIMDECentrodeInvestigaoMediaeDemocracia,nombitodasComemoraesdos50anosdaRTP
NDICEOscinquentaanosdaRTPLusAndrade..............................................................................................................9ServiopblicodetelevisonaEuropa:oprincpiodofimouumnovocomeonosculoXXI?KarolJakubowicz.....................................................................................................11Audincias,consumidoresecidados:implicaesdasmudanasnasrelaesdosoperadoresdeserviopblicoRobertG.Picard......................................................................................................33Para uma reorganizao do servio pblico de media. Responsabilidadesocial, independncia institucional eautonomia editorial no quadro darelaoproblemticaentreoestadoeomercadoChristianS.Nissen...................................................................................................39AinformaoeaprogramaodoserviopblicodetelevisoAugustoSantosSilva...............................................................................................61VenturasedesventurasdatelevisopblicaJosRebelo..............................................................................................................69Vermonos,vendoosoutros:investigaocomparativadenotciastelevisivasAkibaA.Cohen........................................................................................................79Daprogramaodefluxotelevisodestock:programaoeserviopblicoEmiliPrado..............................................................................................................91Oqueestamudarnavidadaspessoas.OquenoestamudarnosmediaJosAlbertoCarvalho............................................................................................101InvestigaoBBC:auxiliandoaBBCaaproximarsedasuaaudinciaJudedeSouza........................................................................................................111DispositivodeavaliaodaqualidadedosprogramasRemiFesta.............................................................................................................115Noticiriosnateleviso:aseduodoespectculoAlejandroPeraleseJuanMenor...........................................................................123
6 ndice
Dareformadomonoplio,em1975,aoadventododigital:trsdcadasdeestudosedepesquisasnoseiodaRAIBrunoSomalvico....................................................................................................135OestadodoscanaisdenotciasnosEstadosUnidosem2006AmyMitchell.........................................................................................................159Asprincipaistendnciasnainvestigaorealizadapeloserviopblicoalemo,osinvestigadoresacadmicosnocampodoserviopblicoeassuasintersecesBarbaraThomass...................................................................................................193PolticasderesponsabilizaoeavaliaodequalidadenoserviopblicodetelevisoholandsJoBardoel..............................................................................................................209Qualidade:umconceitomultifacetado,delicado,completoenecessrioOlleFindahl............................................................................................................225AinvestigaoemcomunicaonaeradosmediaglobaisPamelaJ.Shoemaker,Xiuli(Charlene)Wang,Gang(Kevin)Han,E.JordanStorm.............................................................................................241OdebatesobreoserviopblicodetelevisoemPortugal:algumasnotasManuelPinto.........................................................................................................255EstadodaartedainvestigaosobrejornalismotelevisivoJacintoGodinho.....................................................................................................267Estudossobreprogramaotelevisiva:osprogramasdeinformaoeoscontedosparaainfnciaFelisbelaLopeseSaraPereira...............................................................................277InvestigaosobreprogramaotelevisivaemPortugal:areadacinciaedoambienteJosAzevedo.........................................................................................................301Televisoedemocracia:eleiesedebatespolticosNilzaMouzinhodeSena........................................................................................319Ficoeentretenimento:daprogramaotelevisivainvestigaoacadmicaIsabelFerin............................................................................................................333AbibliografiaportuguesasobreodireitodaactividadetelevisivaesobrearegulaodatelevisoAlbertoAronsdeCarvalho....................................................................................353
ndice 7
Pblicos,audinciaequalidade:paraumasociologiacrticaFranciscoRuiCdima.............................................................................................363Economiapolticadosmedia:origensepercursos,caractersticasnuclearesegrandestemticasHelenaSousa.........................................................................................................383
OSCINQUENTAANOSDARTP
LusAndrade1
AorganizaodeumconjuntodedebatesuniversitriossobreatelevisonaeradigitaledeconfernciasinternacionaismultitemticaspermitiuRTPabrirseaoexterior,procurando,atravsdodilogocomalgunsdosmelhoresespecialistasnacionais e internacionais, compreendermelhor a importncia do seu papel nasociedade portuguesa, assim como alguns dos grandes desafios que ter deenfrentarnofuturo.
Anossaprimeiragrandeconfernciainternacional,InformaoeProgramaodeServioPbliconumContextoCompetitivo,queestevenaorigemdestelivro,decorreuapartirdeumaparceria comoCIMDECentrode InvestigaoMediaeDemocracia, tendooprofessordoutor JoelFredericodaSilveiradesempenhado,nestembito,umpapelmpar,garantindoqueraqualidadedastemticasapresentadasquerapresenadeumlequealargadodepersonalidadesnacionaiseestrangeiras.
Apesardejteremexistidodiversasiniciativasmeritriasdediscussosobreo serviopblicode televiso, consideroqueodebateno tem sido suficientementeaprofundado.Nessesentido,estaobra,ServioPblicodeTeleviso.Desafios para o Sculo XXI, assumese como uma das melhores contribuies dascomemoraesdoscinquentaanosdaRTPparaasociedade,emparticularparaosestudanteseinvestigadoresdoensinosuperioremPortugal.
Com a realizaoda referida conferncia internacional e com apublicaodesta importante obra, tornase assimmais fcil fazer uma reflexo profcua ealargadasobreopresenteeofuturodoserviopblicodeteleviso.Paratal,contamoscomaspreciosasajudaeexperinciadealgunsdosmelhoresespecialistasnacionaiseestrangeiros.
Neste livro,desenvolveseumamploevivodebate,que juntaacadmicoseprofissionaisque reflectem sobreo tema enospermite compreendermelhor aactualidade e o futuro da televiso de servio pblico, nomeadamente a nvelinternacional.
ComoresponsveldascomemoraesdoscinquentaanosdaRTP,nopossodeixardesalientar,ainda,queestelivroumimportantecontributoparaquepossamosmelhoraronossoservioeaumentaraqualidadedeprestaodoserviopblicoaudiovisual,deformaaconfirmarmos,cadavezmais,onossoestatutodeempresadeexcelncia.
1 ResponsvelpelascomemoraesdoscinquentaanosdaRTP
ALICERCES,Lisboa,EdiesColibri/InstitutoPolitcnicodeLisboa,2011,pp.910.
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Temos,poroutrolado,anecessidadededesenvolverumesforopermanentedeadaptaoscadavezmaioresexignciasdospblicos,sobretudonocontextode uma ofertameditica em constante crescimento, em particular no caso dosmediamais recentes, comoa internet,queatravessa fronteirase cujo consumocrescetodososanosdeformacontnua.
Salientoalgunsdospilaresbsicosdoserviopblicodetelevisoquedevemosprestaraoscidados:
.agarantiadodireitoaumainformaodemocrticaepluralista;
.adefesada lnguaeda identidadenacional(garantesdacoesoeda integraosocial);.oacessoculturaeaosaber;.umainformaoquecontempleosespaoslocal,regional,nacional,lusfonoeglobal;.adiversidadeeopluralismodaprogramao;.adefesadasobrasedaproduoportuguesa;.a defesa dos valores vulnerveis, assim como a recusa da violncia, doracismoedasformasdediscriminao,eaprotecodepblicosinfantisejuvenis.
Conhecemos hoje uma globalizao acelerada, ao nvel da qual, cada vez
mais,o serviopblicode televisopodeedevedesempenharumpapel fundamentalnareafirmaodeumapolticadalnguaedacultura,quereafirmeapromoo da lngua portuguesa, quer na Europa quer noMundo. Nesse sentido,encontramonosnaprimeira linhadedefesadanossa lngua comum,queaprofundaosentimentodepertenaaumacomunidade.
Paraconcluir,noquerodeixardesalientarque,comos importantescontributosdestelivro,aRTPficamaispreparadaparaenfrentarosdesafiosapresentadospeloserviopblicode televisoeque,estoucerto,osdiferentes textosdereflexoaquipublicadosnosajudaroatrabalharcadavezmelhor.
SERVIOPBLICODETELEVISONAEUROPA:
OPRINCPIODOFIMOUUMNOVOCOMEONOSCULOXXI?
KarolJakubowicz
Nasltimasdcadas,nemumsmspassousemquetenhamsurgido,numounoutropas,umagrandereportagem,umlivro,umaconfernciaouumestudoacercado serviopblicode televiso (SPT).Ouvimos constantementequenovas leis soadoptadasouquesesucedemlanamentosdereformasdasorganizaesdeSPTemdeterminadolocal.Tudoistoatestaaimportnciadestainstituioderadiodifuso.
Contudo, talpode ser interpretadocomo sendoumaevidnciada sensibilidadeedavulnerabilidadedoconceitodoserviopblicoderadiodifuso,queestpermanentementeemmutao,necessitandodeconstantesreajustamento,redefinio,reafirmaodasualegitimidadeeadaptaoaumnovocontexto.
AAssembleiaParlamentardoConselhoEuropeureferiuqueoSPT
umadasinstituiessociopolticasedemediachavedesenvolvidaspelasdemocraciasdaEuropaOcidentalnosculoXXequedebatlo,narealidade,discutiracercadosfundamentosfilosficos,ideolgicoseculturaisdasociedadeeacercadopapeldoEstadoedosectorpblicoem irdeencontrosnecessidadesdosindivduosedasociedadecomoumtodo(Publicservicebroadcasting,2004).
Poroutraspalavras,quandoconsideramosomodelofuturodoSPT,estamosna realidade a falar no tipo de sociedade em que queremos viver. A referidaassembleiachamouosestadosmembrosdemodoasedefinirumenquadramentoapropriadoparaofuncionamentodoserviopblicoderadiodifusobemcomoasuaadaptaoemodernizaodeformaasatisfazerasnecessidadesdopblicoeos requisitosdaeradigital (Recomendao1641,2004), criando condiesparaqueoSPTcontinueaserviropblicoeacidadaniapolticaecultural.
1.1O SPT no contexto de abordagens de conflito e diferentes sistemas demedia
Destemodo,aAssembleiaParlamentarassumiuocompromissodeoptarporumadastrs formasdeolharparaoserviopblicodetelevisodehoje,representadasportrsdistintosgruposdecontendores:
ALICERCES,Lisboa,EdiesColibri/InstitutoPolitcnicodeLisboa,2011,pp.1132.
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i)neoliberais do seu ponto de vista, no necessria uma intervenopblicanomercadodosmedia.Esteprovidenciarcontedoscomprocurae,porisso,oSPTdeverserdesmantelado;
ii)liberalismocomfacehumananasuamaneiradever,omercadodeveserpredominante,mas,umavezqueestenosatisfaztodasasnecessidades,deversemanteralgumaformadeprovisodeserviopblico.Omodoexactodessaprovisomatriadedisputanestecampo.
Deacordocomalguns,oSPTdevermantersecomoumnichoderadiodifusoparacontornarfalhasdemercado;estaabordagemrepresentadapelosectorprivado,querecolheucercadetrintaqueixasetransmitiuasComissoEuropeia,colocandoemquestoqualquernovodesenvolvimentoquevparaalmdotipodeSPTdosanos60,ouseja,aceitandoapenasosmodelosdopassadoeosirrelevantesdaactualidade.
Para outros, o tempo do SPT enquanto instituio separada acabou e estedeversersubstitudopelofinanciamentocontestveldoserviopblico,ouseja,porumsistemanoqualasdiferentesorganizaescomerciais(oudeSPT,emcasosexcepcionais)concorrampelodinheiropblico,demodoaproduziremetransmitiremcontedoSPT(discutiremosabaixoestaideiacommaioresdetalhes);
i)apoiantesdoSPTvemesteserviocomoumelementovitaldasociedadeequerempreservloemodernizlo.
As perspectivas para a sobrevivncia e amodernizao do SPT devem ser
abordadas nos termos da evoluo da poltica dosmedia. Depois deMcQuail(2000: 208209), podemos listar trs fases de poltica de desenvolvimento dosmedia (ou, demodomais abrangente, da comunicao) nos pases ocidentaisdesenvolvidos:
i)adapolticademdiaemergente,queduroudesdeofinaldosculoXIXataosanos20dosculoseguinteecujosprincipaisobjectivospassavampelaprotecodosinteressesestratgicosdoGovernoedanaoepelapromoododesenvolvimentoindustrialeeconmicodosnovossistemasdecomunicao;
ii)ado serviopblico,queatingiuo seuapogeunosanos70enaqual seprocuravaalcanarobjectivosculturaisesociais(principalmenteemradiodifuso)eproporcionarobemestardacomunicao,assegurandosetambmaresponsabilidade social da imprensa escrita e limitandose o poder demonoplio dosdonosdosmedia.Elevarcondiodeprincipaisobjectivosaprotecodo interessepblicoeoaperfeioamentodademocraciasignificou,emtermosprticos,proteger a independncia dos media, garantindo a sua diversidade poltica esocial,bemcomoasuaresponsabilidadeparacomasociedadeeosutilizadores.Nestafase,aintervenodoEstadonosistemadosmediaeravistacomojustificadaenecessriaparaseatingiremosobjectivosculturaisesociaisdapolticadosmeiosde comunicao social.Entreestes, contribuindoparaodesenvolvimentodemocrtico,estoa limitaodomonoplioprivadoeoencorajamentodaconcorrncia,ocontroloearegulaodepadresnasquestesquesoimportantesparaasociedade,asconcessesparaosmediaqueservempropsitosdemocrticosretendoouapoiandooserviopblicoderadiodifusoeoencorajamento
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do profissionalismo, da responsabilidade do pblico e de novos usos para osrgosdecomunicao,quevisamalvospolticoseeducacionais;
iii)adonovoparadigma,noqualseda introduoda internacionalizao,dadigitalizaoedaconvergncia,equemaisorientadopara finseconmicosdoqueparaobemestarsociopoltico.Concentrase,emprimeirolugar,emassuntoscomoacontinuaodaconcorrnciacomercial,ainovaotecnolgica,aaberturaea transparnciadaposseedo controlo,omximoacessopara todoseaescolhaparaosconsumidores.Estafasemarcadapeladesregulaoepelaretiradadetantasrestriesaofuncionamentodomercadodosmediaquantopossvel. Isto foi acompanhadoporuma revisodapolticade comunicaes,dandoorigemaumnovomodeloregulatrio,baseadonoreconhecimentodaslimitaesdoGoverno edaspolticas exercidas, enquanto sepromove a concorrncia e aautoregulao.Asrazesquemotivavamoacessoqualidadedosmediatinhammenosquevercomnoesdeculturaedeparticipaoemaiscomoportunidadesindividuais e necessidade de satisfao.Osmecanismos das foras domercadoestavamemaltaemtermosdeconfiana.
Onovoparadigmanopromove,certamente,oSPT;emvezdisso,favorece
osneoliberaiseoliberalismoderostohumano.Emconsequncia,oParlamentoEuropeueosapoiantesdoSPTestoatentar
oporse a umamudana na evoluo da poltica dosmedia, cenrio que no favorvelaoserviopblicoderadiodifuso.Asobrevivnciafuturaeodesenvolvimento do SPT constituem, por conseguinte, uma questo essencialmente demeiosmaisgeraisedepolticapblica.Paraabordaresteassunto,devemoscomear por olhar para omodo como a poltica dosmeios de comunicao se temdesenvolvidoetemafectadoocrescimentodoSPT.
ExistemvriasmaneirasdeclassificarosmediaeossistemasdeSPT.Nestembito,em1988,oCSAFrancspublicouumestudodesenvolvidoemcincopasesdaEuropaOcidental,tendodistinguidodoismodelosprincipais:
i)o anglosaxnico (ReinoUnido e Alemanha) existe uma considervelindependnciadosagentesdoSPT,quetmfundossuficientese,portanto,noseregistacompetiodirectaentreosagentescomerciais. Istopermitiua retenodefactoresdistintivoseconstituiuopontodereferncianopanoramadaradiodifuso;
ii)olatino (Frana, ItliaeEspanha)osSPTtmestadohmuitotemposobatutelapolticaeoseufinanciamentonospasesabrangidosporestemodelotemsemostradoinsuficiente,oqueresultounumapermanentedestabilizaodosector pblico assim que se deu o aparecimento da radiodifuso comercial. Oinsuficientefinanciamentocrnicodosectorpblicotornouo[nestestrspases]numatuteladoEstado(LatlvisionpubliqueenEurope,1988).
Contudo, seolharmosmaisatentamente,descobrimosqueaquestoum
poucomaiscomplicadadoqueisto.Historicamente falando, conseguimos distinguir trs vagas demodelos de
desenvolvimentodeSPT:
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ii)opaternalista levadoa cabonoReinoUnido,ondeoobjectivodo SPTpassava pelo desenvolvimento damaioria de forma desejvel para aminoria(Williams,1968:117);
ii)o democratizanteemancipatrio presente, nos anos 60 e 70, noutrospasesdaEuropaOcidental,numaalturaemquejnoerasustentvelocontrolodomonopliodosoperadoresporpartedoEstado(Governo);
iii)o sistmico utilizado na AlemanhaOcidental (aps a SegundaGuerraMundial),emEspanha,emPortugalenaGrcia(nosanos70)enaEuropaCentralede Leste (aps1989)e constituaumaparceladeumamudanapolticamaisabrangente.
Umavezestabelecidos,oSPTeassuasoperaesforaminfluenciadosdecisi
vamentepelasituaosocialepolticaepelosistemademediaexistenteemcadapas.Nasanlisesque fizeramaestes sistemas,HallineMancini (2004)usamotermoparalelismopoltico,emboratambmpossamosfalardeparalelismosistmico significandoqueosmeiosde comunicao social somoldadospelosacontecimentossociopolticoseculturaisverificadosnasnaesemqueoperam,influnciasque incluemonveldeconflitosocialactualoupotencialeograudeconsolidaodademocracia.
A forte influncia do desenvolvimento democrtico no sistema dosmediapode,porventura,sugerirumafortecorrelaoentreossistemasparticulareseastrsondasdedemocratizaoidentificadasporHuntington(1995).1
Contudo,enquantonospases includosnaprimeira vagadeHuntington,oSPT foi introduzidoem linhacomomodelopaternalista,mais tardenohaveriainterdependncias claras. O modelo democrtico e emancipatrio assumiusecomoomaisforteantesdaterceiravagadedemocratizaoeduranteamesma,mas, inicialmente, emergiu nos pases de primeira vaga que j apresentavamcaractersticasdeprocedimentosdemocrticos.Emdeterminadasnaes,seguiusea referida introduo inicialdoSPT (em linha comomodelopaternalista),oqueenfatizaaideiadequeumpaspode,efectivamente,comotempo,verserlheaplicadomaisdoqueummodelo.EstouconvictodequeestetemsidoocasodePortugal,dadasasrecentesmudanasorientadaspelasociedadecivilnomodelodeSPT.
Omodelosistmicotemsidomaissalientenospasesdaterceiravaga(oquenoquerdizerqueoSPTestejaagorapresenteemtodoseles),maseraigualmenteevidentenoutros,nosquaiscomoocasodaAlemanhaademocratizao
1Osanos18281926,duranteosquaisseassistiudemocratizaodaAustrlia,doCanad,da
Finlndia,da Islndia,daNovaZelndia,daSucia,dosEUA,daSua,doReinoUnido,daustria, daBlgica, daDinamarca, da Frana, daHolanda ou daNoruega (assim como deoutrospases,que,contudo,reverterampararegimesnodemocrticos);
Osanos19431964,quandoaocupaoaliadaajudouaimporademocraciaemvriospases(Alemanha,Japo, Itlia,CoreiadoSul),enquantooutros(Grcia,Turquia,Brasil,Argentina,Peru,Equador,VenezuelaeColmbia)avanavamparaademocracia,sendoque,nestaaltura,tambmosprimrdiosdadescolonizaopromoveramoprocesso;
Osanosaps1974,perododuranteoqualaquedado regimedaUnioSoviticaea fasefinaldadescolonizaoseassumiramcomoosprincipaisimpulsionadoresdoprocesso.
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foiseguidapeloretornoregradototalitarismo/autoritarismo.SosubsequentecolapsodestesregimespermitiutrilharocaminhoquelevoutransformaodosmediadoEstadoemmeiosdeserviopblico.Dependendodaforaqueatradio democrtica tem num determinado pas ou do caminho da consolidaodemocrtica,oSPT,nalgunscasos(porexemplo,nodaAlemanha),apesardeterproduzidoummodelotipicamentepluralista,podetambmconduziraummodelodemocrticocorporativista.
AscorrelaessimplessoigualmenteilusriasnocasodevagasdedemocratizaoedesistemasdosmediacomoosclassificadosporHallineMancini(2004).verdadequeosistemaliberalseencontraexclusivamentenalgunspasesdaprimeiravaga(EstadosUnidos,ReinoUnido,CanadeIrlanda).Contudo,algunsquepertencemaesselote(ustria,Blgica,Dinamarca,Frana,Holanda,Noruega,Suaetc.)desenvolveramomodelodemocrticocorporativista,devido,obviamente,aofactodeosseussistemassociopolticos,assuastradieseassuasdivisesculturaisereligiosasrequereremaconcordnciadosinteressesdevriosgrupos.
Porsuavez,asnaesdaterceiravagatm,atagora,comoregra,desenvolvidoumsistemamediterrnico(pluralismopolarizado).Sooscasos,segundoaanlisedeHallin eMancini,no sdaGrcia,da Espanha ede Portugal, comotambmdaFranaedeItlia.
Istomostraquea ideiadeum serviopblicode televiso independenteeapolticoestaenfrentarmuitasdificuldadesemmuitospaseseuropeus,especialmentenaquelesquecontemplamosistemademediamediterrnico.
Correspondentemente,queraevoluodapolticadosrgosdecomunicao social quer a forma como os sistemas demedia se desenvolveram sob ainfluncia de determinantesmacroestruturais (incluindo, especialmente, o progressonademocratizaoenasuaconsolidao)estoacriarumambientequeproporcionamuitosdesafiosaoSPT.
1.1.1RazesparapreservaroSPT
Nadadoque foiditoacimadeverserentendidodeacordocoma ideiadequeoSPTumacoisadopassadooudequeosseusapoiantesnodeveminsistirnosesforosqueempreendemparaassegurarqueelesobrevivaesedesenvolva.
OsobjectivosdosprogramastradicionaisdeSPTcontinuamvlidoserelevantes.Podemosenumerarosmaisimportantes:
i)informaroscidados,educlos,entretlosedarlhespoder;
ii)realizar o servio pblico de acordo com a convenincia da democracialiberal,emnomeda sociedade civiledos seus interesses; reflectir totalmenteasociedade na programao e representla perante as autoridades; fazermuitomaisdoquemascararasfalhasdemercado.
iii)definir a audincia e procurar conhecer as necessidades dessas pessoasenquantosereshumanoscompletos,possuidoresdeumlequealargadodenecessidadeseinteresses;fazermuitomaisdoquemascararasfalhasdemercado;
iv)gozardesoberaniadeprogramao;
v)mantersedistintodosoperadorescomerciais;
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Defacto,possvelafirmarsequeparadoxalmenteoSPTsepodertornarmaisnecessrio(enomenos)numambientedigital.Istosugeridopelaprevisoquesesegue,relativastrsfasesdarevoluodigitalnateleviso(Norris,ePauling,2005).
Senotemosacertezadequeastransmissesporcanalabertooudecontedolocalvosobrevivereradigital,entodeveremosfazertudooqueestaonossoalcanceparapreservaroSPT.IstofoiconfirmadopelasituaoverificadanoReino Unido. As autoridades inglesas tm alertado para o facto de os meioscomerciais(que,noReinoUnido,tmoestatutodeoperadoresdeserviopblicocomercial)nopoderemnumaeraagressivamarcadapelacompetionumambientededesenvolvimentomulticanalcontinuarpormuitomaistempoaserumveculo fivelparaa transmissodecontedosdeSPT.AComisso IndependentedeTelevisodescobriu,halgunsanosatrs(ITC,2000),queofornecimento de SPT nos canais comerciais era limitado: Apesar da televisomulticanal,algunsgneros[SPT]eramsuboferecidos.Comexcepododesporto,existepoucaprogramaodeprimeirafeitaapensarnaaudincianoReinoUnido.QueraITCqueraOFCOMavisaramparaasmudanasqueavinham.Aprimeira (2000)disseque,provavelmente,nemoCanal3nemoCanal5seriamcapazesdetransmitir a longo prazo um SPT,muito para alm do switchover digital. A OFCOM(2004)previu,igualmente,que,numprazodecincoanos,seiriainiciarumperodomarcadopelodeclniodaobrigaodeosoperadorescomerciaisprestaremserviopblico,poisessaseriaanicaformadeteremalgumahiptesedesobrevivernumambientecompetitivo.
EstaaprincipalrazopelaqualsedeveassegurarasobrevivnciadefortesorganizaesdeSPT.medidaqueosoperadorescomerciaisretiramaofertadecontedosdealtaqualidade,oSPT,especialmenteemcanaisgeneralistasterrestres,pareceganharalgumadahegemoniaqueperdeuaonveldocontedodeserviopblico edo contedodomsticooriginal.O SPT tambmpoder vir adeter, como tempo,omonopliodos serviosdeprogramao generalista emcanalaberto.
Adifusocomercialpareceestaraoferecerumagrande riquezadecontedos,masestescanaisvoevmdeacordocomasvagasdeprocuradoconsumidoroucomosditamesdosfornecedoresdeplataformasoudeprogramas.OSPTmanterse e continuar a disponibilizar a programao de que a audincianecessita, podendo, com a crescente fragmentao das audincias, tornarse onicomeiodecompletodebatepblicoedeformaodevontadepolticaescalasocialnecessrioaoprocessodemocrtico.
Adicionalmente,talcomoMcKinseyeCompany(1999)descobriram,oSPTum instrumentode regulao estrutural. Podemanter viva aprocuradeprogramaodealtaqualidadeeproduzirumefeitodedemonstrao,ou seja,capaz de encorajar os operadores comerciais a imitar, com sucesso, gneros eformatoscaractersticosdoserviopblico.
Seooperadordeserviopblicocomoestesdoisautoresreferemsaudvel e bem financiado, ento pode ser um forte influenciador da ecologia datransmisso.SeoSPTforfraco,osagentescomerciaistenderoadominaraecologia,demodoabeneficiaremosseusaccionistas,emboramuitasvezesofaamemdetrimentodeummercadoderadiodifusoalargadoedequalidade.
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ASuciadeunosumbomexemplodecomoosdiferenteselementosdeecologia particularmente o regulador e o SPT podem trabalhar juntos, com oobjectivodeaumentaraqualidadedomercadoderadiodifusocomoumtodo.Acompetiocomercialterrestrecomeouem1991,enovosconcorrentes,comoaTV3eaTV4,ganharammuito rapidamenteumaquotademercado significativa.Contudo,comoopagamentodelicenaquefinanciaaSVT,estaperdadequotanoafectouimediatamenteassuasreceitas.
ASVTadoptoutcticasmaissofisticadasdeprogramao(porexemplo,projectandoosseusespectculosdeentretenimentoparaoinciodohorrionobre),masmantendoasuagrelhageraldelargoespectro,oquepermitemantervivonomercado o apetite pelos contedos de alta qualidade (McKinsey&Company,1999:16)
Destaforma,oGoverno,atravsdoapoioedoencorajamentodeumSPTcomaudinciaselevadas,aproveitasedadinmicadomercadoparaconduzirumamisturamaisrobustaapartirdetodososoperadores.DeacordocomHolznagel(n.d.),existemdezmissescentraisparaoSPTnumsistemadigitaldecomunicaes:
i)servirdeilhadecredibilidadenosmercadosdemediafragmentados;
ii)garantiraparticipaodetodosnasvantagensdarevoluodigital;
iii)serumfornecedordeinformaoindependenteecredvel;
iv)garantirumabaseglobaldedivulgaodeperspectivasde informaoeinteresses;
v)servirdevozdanaonaEuropaenoMundo;
vi)garantirnveisdequalidade;
viii)corrigirasfaltasdosectorcomercial;
viii)desempenharafunodeguardiodaidentidadecultural;
ix)encorajarproduesnacionaiseeuropeias;
x)serummotorparaainovao.
1.1.2Oquenecessriofazer?
Agora,enofuturo,oSPTdeverreterassuascaractersticasfundamentaisemudarmuitosignificativamente.Seoobjectivopassaporsermodernizadoeporse tornar relevanteno sculoXXI,entodeverhaver alteraesna tecnologia,noscontedosenofinanciamento.Todavia,adecisivachavedamudanadeverdizerrespeitorelaodooperadordeserviopblicocomaaudincia.UmpontoconsideradoseparadamenteaformainstitucionaleaorganizaodoSPT.
1.1.2.1Tecnologia
Comecemos pela tecnologia. Notamos que, cada vez mais, o trfego decomunicao passa da antiquada alocuo (isto , empurrar) para a consulta(puxar)eaconversao(democraciasemitica).
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Figura1.1Bordejwik,VanKaam:tipologiadotrfegodeinformao.
AdaptadodeMcQuail,2005:146redistribuiodetrfegodeinformaodevidosnovastecnologias.
Tradicionalmente,oSPTrepresentou,grossomodo,omododealocuodecimaparabaixocomunicaodeumasvia.Sesepretendequeelesemantenhaapardasalteraesnatecnologiaenosmodosdecomunicao,entodeverse tendencialmente seguirparamodoconsulta (comunicaoondemand)econversao(exemplificadahojepeloscontedosgeradospelosutilizadores).
EmJaneirode2007,oComitdeMinistrosdoConselhodaEuropaadoptouarecomendaoRec(2007)3sobreamissodosmeiosdeserviopbliconasociedadede informao, considerandoqueestava convencidodeque amissodeserviopblicoaindamaisrelevantenasociedadedeinformaoequepodeserfornecidapororganizaesdeserviopblicoatravsdediversasplataformasedaofertadediversosservios,resultandonaemergnciademeiosdeserviopblico (sublinhado acrescentado K. J.). Demodo amodernizar o SPT, tornasenecessriodeixarcairoTdasiglaeaceitaranoodeserviopblicodemedia(electrnicos)SPM.Narealidade,nemtodasasnovastecnologiaseplataformasqueoSPMdeveusarparasemanteraparda inovaotecnolgicasoplataformasdedifuso(televiso).
OSPMdeveoferecer,pelomenos,trstiposdeservios.
i)Serviosdeprogramaoparaopblicoemgeral,quesemanterocomoabasedoSPT.Podem incluira interactividadeespecficadeprogramasoude itenscujarecepodependedoenvolvimentoactivodoreceptor.
ii)Servios dirigidos a audincias com necessidades especiais: produo denotciasedeassuntoscorrentes,canaisculturaisecanaisbaseadosnalnguanativaounoutras.Onvelde interactividadedestes serviosdeve sermaiordoqueaquiloqueacontececomosquesedirigemaopblicoemgeral.
iii)Serviospessoais: serviosondemand (online) comumelevado graudeinteractividade.
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Umpassoadicionaldeveserodeaberturaacontedosgeradospeloutilizador.UmexemplodistotemsidoadecisodaBBCNews24delanaraquiloqueclassificoucomosendooprimeiroprogramadenotciasdoReinoUnidobaseadointeiramente em contedos gerados pelo utilizador (Holmwood, 2006). As SuasNotcias transmite as histrias, as situaes e os vdeos que, na televiso e nainternet, se mostraram mais populares entre os espectadores e abrange, porexemplo, histrias noticiosas que cobrem questes apontadas pormembros dopblico.Apresentatambmumsegmentoaolongodoqualserespondeaperguntasqueforamenviadasparaoprograma.
1.1.2.2Programao
OdebateacercadoSPT/SPMnaEuropatemsedesenvolvidoemtornodeumnmerodemodelosdedicadosaestaformadedifuso(cf.Jakubowicz,2003).
GrandepartedosapoiantesdoSPMoptapelomodelodeportfoliocompleto,ouseja,comofoireferidoacima,porusartodasasplataformasrelevantesdetransmissoeporoferecerumavariedadegrandedecontedos. Istotornaseclaro,porexemplo,atravsdosdocumentosdoConselhodaEuropaaquicitados.OsopositoresdoSPMapoiamosmodelosdeeroso,oserviopblicodistribudoemosteiro.
Aqui,vamosmodificarotermoparaportfoliocompletoedistinto,designaonaqualestoenglobadasduasnoes:
i)portfoliocompletotodososcontedos,todasasplataformasrelevantes;
ii)distinocontedoquediferentedosoperadorescomerciaisemalcance,qualidade,diversidadeepropsito.
ApesardeserverdadequeosobjectivosdeprogramaodoSPTcontinuama
servlidose relevantes, tambmcertoquecircunstnciasemmutao requeremumnovoolhar.ChristianNissen(2006)ilustra,domodoquesepodeobservarna figura 1.2, asmudanas verificadas nas obrigaes de programao do SPT,confirmandooconceitodeportfoliocompletoedistinto.
Discursando, em Liverpool,naConferncia EuropeiadoAudiovisual (2005),Mark Thompson, directorgeral da BBC, reflectiu sobre o conceito de portfoliocompletoedistinto:
Osinvestimentoseuropeusdelargaescalagarantidosemmuitascategoriasdecontedos vo continuar a exigir interveno pblica activa.H uma grandediferenaentre simplesvariedadeeescolhagenuna.Muitosgnerosestarosubrepresentadosnoapenasosassuntoscorrentes,aarteeareligio,mastambmomenosbviognerodeserviopblico,acomdia.Oespaodigitalumespaopblico,umapartecadavezmaisimportantedarealidadepblicaampliada.NecessitardeintervenocvicaactivaeinvestimentopblicosignificativosesepretenderfazerchegartodooseupotencialaopovodaEuropa.
Destemodo,adistinonocobreapenasosgnerostradicionaisdeSPT,mastambm,entreoutros,acomdia,crucialparadestilaraexperinciadodiaadiaea tradioculturale,aomesmo tempo,criarum laoqueunaasnaes,dandovidasuaidentidade.
20 KarolJakubowicz
Figura1.2ObrigaesdoSPM:antecedenteseconsequncias.
Noentanto,como foi sugeridoacimaporNissen, tambmoscontedosde
programao tm de semodificarmuito significativamente, caso queiram estarpreparados para responder a novas necessidades da audincia e se pretendamadaptarscircunstncias,emconstantemutao,davidadosculoXXI.
AsseguintestabelaspropemformasdemodernizaredeestenderastarefastradicionaisdeprogramaodoSPT/SPM:
i)emrelaocidadaniapolticaedemocracia;
ii)relativamentecultura;
iii)emrelaoeducao;
iv)enquantoindstriacultural;
v)emtermosdecoesosocial.
1.1.2.3Financiamento
Comosesabe,apenasumpequenonmerodeoperadoresdeSPMsesustentaessencialmenteatravsde receitasde taxasoude licenas, semprecisardosrendimentos de publicidade: BBC (Reino Unido); DR (Dinamarca); NHK (Japo);NRK(Noruega);YLE(Finlndia);SVT(Sucia).Algunssofinanciadosporapropriaesdefundosestatais(ABDAustrlia),possivelmentecomainclusoderecei
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taspublicitrias(CBCCanad),ouporsubsdiosgovernamentais,patrocniosoudinheiroprovenientedirectamentedasaudincias(PBSEUA).
Osistemamaiscomumodofinanciamentodual:receitasdetaxasaudiovisuaissuplementadascompublicidadeecommontantesprovenientesdepatrocnios.
Onmerodepasesnosquaisnoexistem receitasde taxasdeaudiovisualparaasorganizaesdeSPMestacrescer.Taldeveseadoismotivos:
i)salteraeslegislativasqueeliminamastaxas(comonaBlgicaFlandres,em2000;naEstnia,em2001;naBlgicaValnia,em2002;naIslndiaplaneadopara2008;naRepblicaChecaplaneadopara2009);
ii)aoestabelecimentodeSPTempasessemtaxadeaudiovisual,nosquaisestadificilmentepodeserintroduzida(Srvia,Bulgria,Litunia,Letnia).
Podemos tambmmencionardoiscasosespeciais:Portugalondea televi
sopblica seviuprivada,no inciodosanos90,dessa fontede financiamento,vindoa recuperlaem2003 eaHungriacujogovernodeixoude recolherareceitadataxa,substituindoaportransfernciasoramentaisfeitasparaatelevisonacional(MTV),semalteraralei(oquesignificaque,dopontodevistalegal,aobrigaodepagarataxacontinuaregistada).
Outroprocessodemudanapretendeestenderaobrigaodepagarataxadeaudiovisualamembrosdaaudinciaqueusamoutrosequipamentosderecepoquenoostradicionaisreceptoresderdioeteleviso.Em2007,foisubstituda,naAlemanha,porumataxademedia,pagveltambmporpessoasquenotmumreceptordeteleviso,maspossuemcomputadorescomacessointernet(independentementedeestaremconfigurados(ouno)parasepoderverTV).NaSua,na Irlanda,naDinamarca,naSuciaeemFrana,a taxadeaudiovisualobrigatriaparatodosaquelesquepodemverteleviso, independentementedoaparelhousadoparaopropsito.NoReinoUnido, talaplicaseacasasque tmcomputadoresequipadoscomumcartodeteleviso.
Assim,hduastendnciasclarasnoquerespeitaamtodosdefinanciamentodoSPT:
i)extensodataxadeaudiovisual(taxademedia)anovasplataformas;
ii)eliminaodataxadeaudiovisual,comooramentodeEstadoatransformarsenaprincipalfontedefinanciamento(naHolanda,odinheirovemdeumimpostoespecialpago,comestafinalidade,peloscontribuintes).
ComosalientouoGrupodeEstratgiaDigitalEBU(2002),
Hmuitas razespelasquaisosoperadoresde serviopblicodevemolharparao futurodo financiamentocomapreenso.No soescassasasdeclaraes feitaspelos governoseorganizaes internacionaisdando contaqueosoperadoresdeserviopblicodevemterosmeiosseguroseapropriadosparaodesenvolvimentodassuasmisses.Contudo,arelutnciapolticaemaumentaracontribuioaudiovisual,quepodeserobservadahojenalgunspases,podesignificarque,no longoprazo, asorganizaesdedifusodo serviopbliconopossammanterosnveisdequalidadedaprogramao.Seosestadosno
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podem cumprir com as suas declaraes, necessrio que aos operadoressejamatribudas condiesdeenquadramento,que lhespermitam recorreraoutras fontesde financiamento.Elesdevempoderexpandiros seus servios,querparapoderemproduzirprodutos,quesustentamereforamosseusservioscentrais,querparafazeremmaisdinheiro,desdequeistonoelimineasuacapacidadededesempenharassuasactividadesemplenaconsonnciacomasuamisso.
Oassuntoest,ento,claramenteporresolver.Podemosapenasanteverqueamanutenodataxadoaudiovisualsetornarcrescentementemaisdifcil,especialmentenoambienteondemand,equemtodosalternativossetornarocadavezmaispopulares.AacrescerquiloqueasorganizaesdeSPMesto,elasprprias,aexigir(novasfontesdefinanciamentoprprioeumacapacidadedefazerdinheiroatravsdaadiodeactividadesnopblicasquelasdedicadasa fazerchegara suamissode serviopblico)encontraseapossibilidadede sedaraintroduo,numcrescentenmerodepases,deapropriaesoramentaisparaasorganizaesdeSPM.
Setalacontecer,noseriaumaboaideiarepetiraexperinciaholandesa:umgovernoprometeuqueonveldeapropriaesnosemodificaria(equeodinheiro para o SPM seria intocvel); contudo, o seguinte quebrou essa promessa ecomeouareduzilo.
Como salientouMiklosHaraszti (2006),as trs condiesparaum financiamentodoserviopblicodemediaautosuficientesoasseguintes:
i)querofinanciamentosejagarantidopormltiplasfontesquerosejaporapenasuma,asomadorendimentoanualdeversersuficienteparagarantirofuncionamentocorrectodooperadordeserviopblico;
ii)sejaqualforotipodefinanciamento,estatalouno,omontantenecessrioterdesergarantidocomalgunsanosdeavano,demodoaexcluirnegociaesanuaisquepoderiamlevaracednciaseditoriaiseacorrupo;
iii)omontantedefinanciamentodeveserindexadoinflao.Harasztiexplica tambmquaisdeveroserospropsitosdeumsistemade
financiamentoapropriadoparaoSPM:
i)deverabriraomximoaschamadastesourasdeprogramao,daresultandoumaprogramaodeserviopblicoindependenteenica,claramentedistintadadoscanaiscomerciais(comojtestemunhmosnopassado,quandoosoperadoresdeserviopblicosoforadosaasseguraroseurendimentoatravsdeactividadesdepublicidade,asuaofertatransformase,gradualmente,emprogramaodetipocomercial);
ii)terdefazerdosistemadualdedifusoumarealidadeautosustentada;poroutraspalavras,osucessodosectorcomercialnodevercontinuaraserumaameaaaosectordeserviopblico(e,devemosacrescentar,viceversa).
Noquerespeitasapropriaesoramentais,naGergiadecidiuseintrodu
ziruma regraqueditaqueestas,no casodooperadorpblico/estatal,deveropermanecernumvalorconstante,equivalentea0,15%doPIB.NaLetnia,props
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seque,apartirde2008,elasnodeveriam constituirmenosdoque0,73%dototaldooramentodeEstado.Estetipodesoluoiriadeencontroaocritriodeumnvelgarantidoeindexadoderendimentoque,desejavelmente,seriaadequadoesuficiente.
Outrapossibilidade levantadaporHarasztipassapor ligarodestinodadifusodo serviopblicoao sucessodo sectordedifuso comercial.Oxitodestetornaseuma foraquenodestri, antes sustenta,o ramode serviopblico,contribuindoparaamanutenodasuadifuso (e,portanto,paraasustentaodoprpriosistemadual).
Segundoo autor, isto concretizvel atravsdeum sistemaquepode serdesignadoportransfernciadepublicidadeouporoutsourcingdepublicidade,quedeclaraooperadordeserviopblicolivredeactividadesdepublicidade,oferecendoporinteiro,destemodo,omercadodepublicidadeaoscanaiscomerciais.Emtroca,estespagamaosistemadeserviopblicoumvalorespecfico,definidopor leiouporcontrato,assegurandosedequeoacordovaideencontrostrscondiesacimadetalhadas;ouseja,dequeomontante,sozinhooucombinadocomoutrosrendimentos,sersuficiente,garantidodurantevriosanose indexado inflao.Assim,osmeiosdeserviopblico,decertomodo,contratamforaassuasprpriasactividadescomerciais,paraondesoexecutadasdemodomaisprofissional,isto,paraosoperadorescomerciais.
Podem serencontrados vriosexemplosdestemodelo, incluindoooriginalfinlands,ooriginalestoniano,obritnicoChannel4eo americanoCSpan.NaFinlndiaenaEstnia,oscanaiscomerciaispagavamumacontribuioaosoperadoresdeserviopblico.NoReinoUnido,oChannel4foioriginalmenteestabelecidocomoumoperadorpblicoporpartedecanaiscomerciais.Estescolocaramannciosnosseusprogramas,contribuindo,emcontrapartida,paraamanutenodoChannel4comumaproporofixadasreceitas.OCSpan,porsuavez,operadopelascompanhiasdecabo,queasseguramamanutenodestecanaldeserviopblicoemtrocadassuaslicenas.
No ser necessrio dizer que cada pas ter de encontrar omtodo detransfernciaquecompatvelcomassuasleiseconstituio;porexemplo,naFinlndiaenaEstnia,foidevidoaalgunsprocessoslegais,levantadosporcertoscanaiscomerciaisquenoestavamdispostosapagaratransferncia,queosistema(que,deresto,funcionavabem)foiabandonado.
1.2Fornecimentodeserviopblico:enquadramentoinstitucional
AnecessidadedeumSPMenquantoinstituioespecialdedicada,comojfoireferido,questionada,especialmente,porrepresentantesdaorientaoliberalismocomumafacehumana.Osproponentesmaisradicaisdestavisogostariamdeverodesmantelamentodas instituiesdeSPMea introduodaquiloaquechamamosomodelodeserviopblicodistribudo.
Comofoiexplicado,porexemplo,porGiles(2006:106),
Aideiapordetrsdeumconcursoparareceberfinanciamentopblicodirecta.Acompetiopelodireitodeproduzirumbemouprovidenciarumserviolevaramenorespreoseaumamaiorqualidade.Semaisdoqueumfornece
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dor recebe um contrato, essa competio pode ser aguada aindamais porcomparao directa entre dois ou mais vencedores de contratos similares.Aquelesqueatribuemoscontratospodemvercomocadafornecedoractuaemcomparaodirectacomoutros.geralmenteaceitequeestetipodecompetioporfinanciamentoquasedecertezamelhordoqueoestabelecimentodeumoperadordosectorpblicoparaodesempenhodatarefaoudoqueaatribuiodedinheiroaumcandidato.
Em sntese, ento, conclumos que tambm a proviso de servio pblicopodesersubordinadaaforasdemercadoecompetio.Estefactoencontraseemlinhacomapolticademercantilizaogeral,queevidentenospasesocidentaisequeconsiste,segundoMurdockeGolding(1999:3),emtodasaquelasintervenes de poltica desenhadas para aumentar a liberdade de aco dasempresasprivadaseparainstituirobjectivosinstitucionaiseprocedimentosorganizacionais, como os padres em relao aos quais o desempenho de todas asformasdeculturaempresarialjulgado.Aquelaenglobaaprivatizao,aliberalizaoeacorporativizao (isto,oencorajamentoouoestmulodasorganizaesparaque,aindaqueofaamdentrodosectorpblico,persigamoportunidadesdemercadoeinstituamformasempresariaisdeorganizao).
Gilesdescortinaumnmerodepossveisformasdeintroduzirfinanciamentocontestvel.
i)UmConselhodeArtesdoAudiovisual.Estepoderia financiarprogramasindividuais nas grelhas das redes de difuso.No haveria qualquer tratamentoespecialparaaBBC,quesepoderiacandidatarafundoscomoqualqueroutroconcorrente.De resto, seria livre de procurar quaisquer outros capitais atravs desubscriooudepublicidade.
ii)Financiamentocompletamentecontestvelaonveldooperador.Osdifusores,porumperodoespecficotrsanos,digamos,iriamcompetirporfinanciamentoembloco,especificandoquaisostiposdeprogramaodeSPTqueiriamproduzir.
iii)Financiamentocompletamentecontestvelaonveldooperadorparaumfranchise especfico.Os operadores iriam competir entre si pela gesto de umcanaldeestiloSPT.IstosegueaslinhasdapropostadaOfcomparaapublicaodeumserviopblico.
iv)ABBCcompetindocoma ITV/C4/C5pordinheirospblicos.Umprocessode leilo fechado, do qual resultaria a distribuio do dinheiro pblico pelosincumbentes correntes da televiso analgica terrestre, de acordo com as suaspropostasecomoscustosqueacarreta iraoencontrodosdesafiosdo interessepblico.
v)ABBCporsis,comocomissionistasemqualquerproduo.Istotornlaiaum ConselhodeArtesdoAudiovisual, apresentandouma grelhaque seriapreenchidademodoacorresponderaointeressepblico.
vi)Concorrnciaparageriros serviosdaBBC.OGovernopoderia leiloarodireitoagerireaoperarosserviosdacadeia.Porexemplo,poderialeiloaragestodaBBC2.
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Comosepodeobservar,oprprioGilesapresentaduasopespossveis:
i)ou a substituio das instituies de SPT por um sistema de leilo dosdinheirospblicos(itens2,3);
ii)ouapossibilidadedereterasinstituiesdeSPT(todosositensrestantes),retirandolhes,contudo,qualquerseguranaougarantiadesobrevivncia,oqueasforariaacompetirpordinheiroepelodireitoaexistir(havendoahiptesede,nocasodeperderemacompetio,acabarempordesaparecer).
Umaversomaissuavedestaabordagemrepresentadapelavisosegundo
aqualdeveriahaverorganizaesdeSPTconcorrentes,noexistindoummonopliodeprovisode serviopblico.Aautoridadede regulaobritnica,OFCOM,avanoucomestepontodevistahalgunsanos,propondooestabelecimentodeumeditordeserviopblicoparaleloBBC(OFCOM,2005).
PhilipSchlesinger(2004)concordacomanecessidadedeexistirmaisdoqueumaorganizaodeSPTnumpas:
TeraproduodeSPTamplaouexclusivamente limitadaauma instituioacarretariaumcertonmerodeefeitos indesejveis.Tenderseiaa identificaroSPTcomoqueelaproduz,oque iriaminaratentativadedesenvolverumaconcepoanalticaindependentedomesmonoquerespeitaaospropsitosderegulaoe responsabilidade.Almdisso,neste cenrio,noexistiriaaconcorrnciapluralentreempresasaoperarnummesmoconjuntoamplodepressupostossimilares. Isto teria impactona capacidadepara inovarenadistribuiode clusterscriativosnoReinoUnido.Naprtica,umnovomonopliodeSPT,noquerespeitamedida do seu prprio desempenho, tenderia a olhar para dentro.O hiato iriacrescer entre os valores do SPT e os do resto domercado, esmagadoramenteguiadosporuma lgica comercial. Tal tornaria a futura sustentabilidadedo SPTmaisvulnervel,poistudodependeriadodestinodaBBC.
Aomesmotempo,SchlesingernotemdvidasdequenecessriopreservarasinstituiesdeSPTcomoelasso:
i)halgunsargumentosfortesparaseconsiderardeummodosrioasinstituiesdeteledifuso.Porexemplo:estasconstituemesustentamclusterscriativos;socializamopessoalepodempermitiralgumespaoparapensarparaalmdoprximoprojecto.Contribuemdeummododifuso,mastambmdirecto,paraoestabelecimentodeumaculturacomum,quernointeriordacomunidadeprodutivaquerparaopblicoemgeral,apesardetalnoenvolverumconsensorelativamentequiloquesepodequalificarcomoSPToucomohierarquiasdevaloresculturais.Parecealgoevidentequeestaculturacomum seencontra sobalgumatenso;
ii)amassacrticaem termos institucionaispodeassegurarumamaior resistnciaapressesexternas.O financiamentopblico,emparticular,permiteperseguirobjectivosquenoestototalmentesubordinadosaumalgicademercado. Dito isto, as instituies orientadas para o servio pblico estaroinevitavelmente condicionadaspor imperativosdemercado eporobjectivosdepolticapblica.Hdesafiosparticulares,querparaaBBCquerparaoChannel4,
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aonveldanavegaoentreestaslgicas(frequentemente)divergentes,dadoque(tendoemcontaaprovvelreduodasexpectativasderegulaodaITV1eda5)estessero,provavelmente,ossustentculosdoserviopbliconofuturo.Defacto,existemrazesparaseduvidardopapelfuturodoChannel4noSPT.Istovaiterimplicaes significativas para a BBC, empurrandoa potencialmente para umpatamardequasemonopliodeSPT.
Nocontextodamudanatecnolgicaedadigitalizao,emergeumdiferente
conjuntodeassuntosrelacionadoscomamoldurainstitucionaldoSPM.ComofoimencionadopeloGrupodeEstratgiaDigital (2002), comnovos contedosprogramticos, novas infraestruturas produtivas, novos fluxos de trabalho e umambiente diferente, os operadores pblicos devem tambm reavaliar as suasestruturasorganizacionaiseconsiderarmudanas.Necessitamdesereorganizar,demodoaseadaptaremaoambienteemergenteeaosnovosmodosdetrabalharnaproduo,queincluemousocrescentedomultimdianoacompanhamentodecontedosouemserviosde internetseparados,bemcomoaprovvelmigraodeserviosderdioetelevisoparaumamaiorpluralidadedeofertadecanaiseaconvergnciadosmeiosdecomunicaoemgeral.
Umaestruturaclssicaadoptadaparaadifusocombinadadeserviopblicode rdio e de televiso como oGrupo de EstratgiaDigital lhe chama aestrutura orientada dosmedia. A empresa encontrase organizada em partesrelativamenteautnomas;cadaumadestaspreocupasecomardioouateleviso,oquereproduz,emmuitosaspectos,ousoseparadodosaparelhosdereceponacasadoouvinte/espectador.Cadadomnioderdioedetelevisonaorganizaodedifusotemoseuprpriopessoaldeproduoedegestoeassuasprprias instalaes.Asvantagensdestaestrutura incluemaatenodedicadaseparaodegestoedepessoal(cadaumestarcomprometidocomorespectivo servio), algoque se aplica igualmente aosoperadores comorganizaesderdio e televiso inteiramente independentes. Todavia, estas vantagens podemtornarsemenosbviasnumambientemultimdia,noqualatecnologiaeosdireitos sobre contedos e formas de trabalho se fundem em torno da tradicionalseparaodemeios.
Soasmudanasradicaisemuitorpidasverificadasnoambientedosmediadosoperadorespblicoseanecessidadequeestestmdeseacomodaraofuturomultimdiaqueservemdecenrioparaaintroduodenovosmodelosorganizacionaisedemercados internosnalgumasorganizaesdedifuso.Algumasdelastambminstigaramnovasunidadesdedesenvolvimentodosmedia,cujoobjectivopassaporencorajaraaplicaodenovosmeios,enquantoosprpriosresponsveis pela programao desenvolvem pacotes de contedos para os seus programas.
Adigitalizao tornapossvelousodediferentes estruturas funcionaisouorientadasparaomultimdia,adequadasatemposdeproduodigitalemultimdia. A empresa encontrase organizada em partes relativamente autnomas(combinando rdio, televisoemultimdia),destinadasacadaumadas funesprincipais: controlo de canais, produo de programas, servios internos e deapoio.Aproduodecontedos,emsi,noseencontraseparadacombaseemcanaisoumeios,masdeacordocomgnerosdeprogramas.Asvantagensdesta
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estruturaabarcamas sinergiasde recursoseo talentoparaaproduodeprogramas,afertilizaocruzadadeideiaseamaiorpossibilidadedeutilizao,entredepartamentos,decontedosdeprogramas,quesolevadosporvrioscanaisouservios,atravsdemltiplasplataformasdeacesso,atumavariedadedenovosreceptores,combinadosparausoemdiferentessituaes.
AnecessidadedeexistirumamaiorflexibilidadeeumaacomodaomaisfcilamudanasexternaslevoucomosalientaoGrupodeEstratgiaDigitalalgunsoperadorespblicosa introduziruma formadedistribuir recursos internamentemaisorientadaparaomercado.Ummercado interno,quepodeseraplicadoestruturaorientadaparaosmeiosouestrutura funcionaloudirigidaaomultimdia.Oconjuntodoprogramaoramentaldooperadordadoacontroladoresde canal,osquaispodem ser,ouno,escolhidosapartirdedepartamentosdeprogramao internos ou de produtores externos. No limite, o controlador decanalpodenoter instalaesdeproduo internas,oqueo levar,portanto,atornarseumeditoroperador.
TudoistorevelaqueavisopredominanteadequeasinstituiesdeSPM,numaformaounaoutra,devempermanecer,sendoquesasvisesmaisextremas apoiam o seu desmantelamento. Nenhum sistema de fundos contestveispoderiaassegurarosbenefciostrazidospororganizaesdeSPMafuncionarcorrectamentenemcumprir todasasobrigaesdeprogramaodelineadasacima.EnquantooSPM fornecer,emantenaaberta,programas lineares,estesterodeserapoiadosporinstituiescapazesdedescarregarassuasmuitasobrigaes.
1.3Umanovaparceriacomaaudincia/osusurios
Halgunsanos,SiuneeHulten(1998:36)escreveram:Adifusodeserviopblicoircontinuarenquantoexistirumsistemadualanvelnacionaloueuropeucomumapoiosuficientedosistemapolticoedaaudinciaaosseusservios.Umanomais tarde,Sondergaard (1999:27)chegouaopontodeargumentarqueoapoiopolticoaoserviopblicodemedianuncafoitoforte,enohsinaisdequeospolticosestejaminclinadosaabandonaresseapoio.
Podesequestionarsetaleraverdadeem1999;hoje,seriamuitodifcilsustentarestavisosemquaisquerreservas.medidaqueosmediacomerciaiscrescemempoder, vose tornando cada vezmais capazesde influenciar apolticagovernamental,sendoqueumdosseusobjectivosaestenvelpassa,certamente,pelamarginalizaodosrgosdeserviopblicoenquantoconcorrentesdemercado.Destemodo,a saga,promovidapelaUnioEuropeia,dedebatedo financiamento da difuso de servio pblico foi, em parte, despoletada por queixaslevantadaspelosoperadorescomerciais.Emqualquercaso,governosereguladoresestosobapressodeteremdejustificarassuaspolticasrelativasaoSPT.
Seumdospilaresque sustentamoSPTou seja,oapoiopoltico estaenfraquecer,entotudoterdeserfeitoespecialmentepelasprpriasorganizaesdosectorparasefortalecerooutropilar.Comosemencionouanteriormente,sesepretendequeoSPTfloresanosculoXXI,entoamudanachaveterquevercomarelaoentreooperadordeserviopblicoeaaudincia.
Osdilemasclssicosexistentesaestenvelencontramseesboadosnafigura1.3.
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Figura1.3SPMemrelaocomasarenasdeumademocraciaconsolidada.
SPMEnasociedade:qualquensqueremos?
Temosaquiduasescolhas fundamentaisnoque respeitaao tipode relao
entreSPM,polticoseopblico:ouseoptaporummodelotopobasedecontrolopolticodosmeiospblicos,queserveospropsitosdepropagandaehegemonia,ouporummodelobasetopodemeiospblicoscontrolados,guiadoseprotegidospelopblicoeque servemdevigilantesdospoderosos.Naturalmente,apenasasegundaopopodeserdescritacomosendooreflexodopapelprpriodeSPMedasuarelaocomasociedade.
Noentanto,oassunto jno seencerraaqui.Comovimos,os sistemasdecomunicaomodernospromovemumademocraciasemiticaeumaconversao, pondo um fim era em que os jornalistas e as organizaes demediasabiammelhor.
provvel que este processo tenha consequncias profundas para o SPM,queentrarnumanovafasedasuaevoluoemtermosderelaescomasociedade.Poroutraspalavras,tercontinuaoodesenvolvimentoque, largamente,psumfimabordagempaternalistaemrelaoaudinciaeque,agora,deverser levadomuitomais longe,demodoaajustaroSPMs condiesmodernas.Estaevoluopodeserapresentadadoseguintemodo:
.de1920ataosanos30rdioestatalouSPTpaternalista;
.de 1960 at aos anos 80 evoluo democrticoemancipatria do SPT(laosmaisprximoscomasociedadecivil);.de2000at2010(edcadaseguinte)SPMeopblicoumanovaparceria.Umgrandenmerodeautoresansiavaporistohmuitotempo.Collins,Finn,
McFaydeneHopkins(2001:11)salientamque
aspessoasdevempodersentirqueadifusodeserviopblicosua[]Osnovosmeios,comovriosoperadoresdeserviopblicoreconheceram,fornecemevidentesoportunidadesparacortarcom[o]modoaceiteaquiloquelhedado.Masasmudanasorganizacionaistambmoferecemaosoperadoresdeserviopblicooportunidadesdeconstruirnovasrelaesdeparceria,identificao,esentidodepoderpartilhadoqueenvolveostelespectadores,osouvinteseosnavegadoresdainternetdefacto,oquetransformaosreceptoresememissores(vertambmKearns,2003).
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No entanto, esta questo tem ramificaes mais profundas. John Keane(1991,1993)clamouporumarevisofundamentaldomodelodeserviopblico,demodo aque estepudesse facilitaro surgimento deuma genunaCommonwealthde formasdevida,prefernciaseopinies,dandopoderaumapluralidadedecidadosquenosogovernadosnemporestadosdespticosnemporforasdemercado.Circulariaparaelesumagrandevariedadedeopinies(Keane,1993:6). Istoserviriaopropsitodedesmercantilizaoemaximizaodaliberdade,assimcomoaigualdadedecomunicao,eexigirianavisodeKeaneumaintervenopblicaemmassaaonveldosistemadosmedia,desenvolvendose,dessemodo,umapluralidadedemeiosnoestataisegarantindose,entreoutrascoisas,direitosdeacessoatempodeantenaparaos indivduos,gruposeprogramadoresindependentes.
Emsuma,aspropostaslegais,institucionaisefinanceirasdeKeanerelativasameioseformasprticasdeimplementaodesteconceitoremontamsideiasdasdcadasde60e70.NosculoXXI,tornasebvioque,graassTIC,tudoistoseencontraemprocessodeemergncia.Assim,aviso(quetemmuitoderecomendvel)deKeanepodeseramplamentealcanadaatravsdasimplesaberturadosmeiosdoSPMaomundodademocraciasemitica,encorajandoosamanteremseabertosstendnciasdasociedadedacomunicao.
Jem1932,oencenadoralemoBertoltBrecht(n.d.)pretendiaverardiocomoumUtensliodeComunicao,expressandoavisodequeelaunidireccional,quandodeveriaserbidireccional.apenasumutenslioparaadistribuio,paraamerapartilha.Daquisurgeumasugestopositiva:transferiladadistribuioparaacomunicao.Ardioseriaomelhor instrumentopossveldecomunicaonavidapblica().Ouseja,eracomosenosoubesseapenasreceber,mastambmtransmitir;comosedeixasseoouvintefalar,almdeoouvir;comoseotrouxesseparaumarelaoemvezdeoisolar.Sobesteprincpio,ardiodeveriasair do negcio da oferta e organizar os seus ouvintes enquanto fornecedores.Qualquer tentativadeconferirumcarcterverdadeiramentepblicosocasiespblicasumpassonadirecocorrecta.
Na linguagem contempornea, o que Brecht pretendia era liberdade decomunicao,deparparapar,viardio.Assuaspalavrasprofticasesto,hoje,atornarse verdadeiras, apesar de, para o efeito, ter sido essencial uma grandequantidadedemudanatecnolgica.OSPMdeveagarraraoportunidadedesatisfazerestaprofundanecessidadehumanadecomunicao,emalternativameradifuso.Assim,oquenecessriohojeabriroSPMEconversao,fazendodele um SPM comomeio de comunicao entre as pessoas (e no apenas derecepo).Istodeveracontecer,emgrandemedida,porviadeantena,mas,primariamente,atravsda internet.Eis a razopelaqual to importanteque asorganizaes do SPM sejam capazes de alcanar as novas tecnologias digitais(incluindo,predominantemente,ainternet).
Kearns(2003)tambmsalientaesteponto,afirmandoqueavelhadescrioreithianadasobrigaesdeserviopblicodeveriaserestendida:
Osnossoscidadosnecessitamagoradesereducados,informados,dereceberentretenimentoede receberpoderAspossibilidadesdecomunicao interactivaonlineoferecemumapotencialsadadacrisenacomunicaodemocrticaOsmediaonline (deserviopblico)oferecemaoportunidadedeuma
30 KarolJakubowicz
novaesferapblicademocrticaABBCnecessitadesevernoapenascomoumcanaldecomunicao,mastambmcomoumfornecedordeespaosocial.Necessitadeprovidenciarespaosdeparticipao,demodoaservira funodedarpoderaoscidados.Agora,quandoosprocessosdanossademocraciaaparentamnoestarafuncionarbem,opropsitodeverpassarporajudarasvozesinformadaseeducadasdapopulaoaserouvidasdeformamaiseficazeregularHumanecessidadedeexistirumServioPblicodeComunicaesatrabalharnosentidodeumacessouniversalaosserviosdisponveis.Noapenasemtermosdeacessotecnologia(apesardeistoservitalmenteimportante),mastambmsferramentasnecessriasaoacessospromessasdomundoonline...HanecessidadedeumComunsCvicono ciberespao.Umaplataforma de confiana para os cidados deliberarem, para se reunirem e paraseremouvidos.
Estaaprincipalmudanaquetemdeocorrernosmeiosdeserviopblico;umacondiofundamentalparaquesejacapazde,alongoprazo,serviropropsitopblicoededesempenharasuafunodeuniropblicoemsociedade.
Assim,osculoXXInoapenaspoder,como,defacto,deverserumnovocomeoparaosmeiosdeserviopblico.Todavia,paraseasseguraresteobjectivo,necessriaumatransformaoprofunda.
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AUDINCIAS,CONSUMIDORESECIDADOS:
IMPLICAESDASMUDANASNASRELAESDOSOPERADORESDESERVIOPBLICO
RobertG.Picard
Osmedia encontramse perante um cenriomuito diferente daquele queexistiaaquandodafundaodaRTP,h50anos,oqualsecaracterizavapelacomplexidadeepelaturbulnciadomercado(Picard,2004).Oprimeiroaspectoresulta das dificuldades com as quais se debatem as empresas de comunicao,enquantoo segundodecorreda instabilidadeeda faltadeorientao claranosmercados,factoresqueoriginamincertezaeriscosestratgicos.
Aspressessobreosmediasoprovocadasporcincofactoresdecisivossubjacentesaodesenvolvimentocontemporneodosector:abundnciademeiosdecomunicao; fragmentao e polarizao das audincias; desenvolvimento decarteirasdeprodutos; erosoda foradas empresasdemedia; e alteraesdepodernoprocessocomunicacional.
Oprimeirofactortornasevisvelatravsdoacrscimodramticodetiposeunidadesdemedia,bemcomodocrescimentodaoferta,queexcedelargamenteoaumentodeprocuraemtermosmonetriosetemporais.Dispararamaquantidadedepginasdos jornais eonmerodehorasdiriasde emisso (tantode rdiocomode televiso) ede revistas e livrospublicados.Nesta altura, as condiestcnicaseeconmicaseaspolticaspblicasfomentamoaparecimentodenovosfornecedoresdecontedos,aumentando,dramaticamente,aofertadeempresas.
Habitumonosaconsideraracompetioentrejornaisouentrecanaistelevisivos,maseste incrementodaofertacriaconcorrncianosentrediferentesmeiosde comunicao, como tambmentreesteseoutrasactividadesde lazer(como,porexemplo,desportos,concertosesocializaoemcafsoubares).
Estaabundnciacriouumafragmentaoeumapolarizaodasaudincias,oquesetraduznofactodeosconsumidoresusufruremdosmediadeformamaisdispersa, uma vez que dispem agora de mais canais e programas (Becker eSchnbach,1999;Picard,2002;Napoli,2003).Istoconduzasituaesextremasdeutilizaoedenoutilizaodoscanaisedosprogramasdisponveis:nocasodateleviso,por exemplo, verificaseuma tendnciapara cada indivduo se servir,essencialmente,de3/4 canais.O aumentodonmerode canaisno gera igual
ALICERCES,Lisboa,EdiesColibri/InstitutoPolitcnicodeLisboa,2011,pp.3338.
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aproveitamento: se, por exemplo, uma habitao receber 20 canais, apenas 5serovistos,emmdia;nocasodeserem50canais,ovalormdiodosquesoutilizadossobepara12;se,poroutro lado,arecepoforde100canais,onmeromdiodaquelesaosquaisosresidentesassistemsituaseapenasnos16(NielsenMediaResearch,2003).
Asalteraes registadasaonveldousodosmediaporpartedasaudinciassignificamqueaconcorrnciajnodefinidainstitucionaleestruturalmente,massim atravsdo tempo edodinheirodispendidosporpartedesses consumidores,estandoofocodecompetiocentradoagoranaeconomiadaatenoedaexperincia.Osucessopassaadepender,ento,dacapacidadeparaseatrairesemanteraatenodosconsumidores,proporcionandolhesexperinciasagradveis.
Asdificuldadesenfrentadasporcadacanaldedifusooudepublicaolevaramasempresasdemediaacriareaoperarcarteirasdeprodutosconcebidosparaatraireservirpequenasaudincias (Picard,2005b).Aproliferaodecanaisdetelevisodeserviopblicodirigidosapblicosalvoconstituiumexemplodessaprtica,sendoquemuitasdessasempresaspossuemdiferentescanais,apontadosaaudinciasurbanaserurais,acrianasouaapreciadoresdemsicaedenotcias.
Apesardocrescimentodasempresasdemedia(edassuascarteirasdeprodutos),ovigordestastemsedesgastado.Hojenoseencontranenhumanogrupodas quinhentasmais importantes domundo e, no obstante o facto de teremaumentadodedimenso,oseualcanceestadecrescer:cadaumacativamenosaateno dos telespectadores, leitores e ouvintes. Isto coloca os mediacomerciaisnumasituaodifcilperanteosanuncianteseosinvestidores,levandoaqueosoperadoresdeserviopblicosejamcriticadosporestaremaperderasaudinciaseaquesejustifiqueaatribuiodefinanciamentopblico.
Subjacenteatudoistoencontraseumaalteraofundamentaldepodernascomunicaes:o espaomeditico, anteriormente administradopelas empresasdecomunicao,actualmentecadavezmaiscontroladopelosconsumidores; jnoexisteummercadodeoferta,massimdeprocura.
Poroutrolado,omodelodepagamentoporpartedoconsumidorcontinuaaconstituirabasedofinanciamentodasiniciativascontemporneasdosmediaporcaboesatlite,dasTVerdios,dadescargadeficheirosdeudioevdeo,datelevisodigitaledosmeiosdecomunicaomveis.Actualmente,porcadaeurogastopelosanunciantesnosmeiosdecomunicao,osclientespagamtrs(PricewaterhouseCoopers,2005).Resultado:arelaoentreosoperadoreseasaudinciasestaserdramaticamentetransformada,afectandotantooscomerciaiscomoosdeserviopblico.
Hojeemdia,hqueapresentarosdesafiosmaiscomplexos,umavezquejnopossvelconceptualizaremtermossimplistasareferidarelao.
Nosdiasdo fluxounilateralde comunicaes,osmediade serviopblicobaseavamsenofornecimentodecontedosaumaaudinciapassiva.Emmuitoscasos, esta relao fundamentavase na autoridade, reforada pela excluso deoutras vozesmotivada pelo estatuto demonoplio conferido aos emissores deserviopblico.Estesconseguiamservirasnecessidadessociaiscolectivas,destinandoassuasemissesaumaaudinciarelativamenteannimaeagregada.
Oconceitodeaudincia foi,desdesempre, imperfeitoeabstracto,baseadonaagregaodosqueouvem,vemoulemosmediaeconcebendooscomouma
Audincias,consumidoresecidados 35
entidadenica,dependentedoagentequedisponibilizaoscontedos(e influenciadaporele).Hoje,essaconceptualizaojnofazsentido.
Semelhanteconcepoconduziuenfatizaode tudooquehdemelhornoserviopblico,permitindoaessesoperadoresservirasnecessidadesculturais,sociais epolticasdas suas audincias,proporcionarum serviouniversal quefomentaa identidadenacionalecriarosmeiosparacanalizarematerializarasaspiraeseosreceiosdoscidados.Levou, igualmente,aqueasaudinciasfossem concebidas como cidados com necessidade de educao e orientao, demodoalevaremacaboassuasresponsabilidadesemsociedadesdemocrticas.
Umcidado,pordefinio,aquelequefazpartedeumacomunidadepoltica,cabendolheodireitodeparticiparnassuasactividades.Acomunidadecomoum todobeneficiado aprofundamentodas capacidadesedadisponibilidadedeparticipaodoscidados. Informlosemobilizlostmsidoobjectivosprimordiaisdosoperadoresdeserviopblicoaolongodasuahistria.
Estaconceptualizaodeaudinciasedecidados,apardascapacidadesnicasdosreferidosoperadorespara lhestransmitircontedos,permitiramaindaqueosdecisorespolticoseaselitessociaisdefinissemeconcentrassemasnecessidades,aidentidade,asaspiraeseaspreocupaesdopblico.Osmembrosdasaudinciascompontosdevistamaisdissonantespossuamumacapacidade limitadaparaseleccionaroutroscontedosouparaveicularassuasideiaseopinies.
Odesenvolvimentoda tecnologiadedifuso tornoupossvelaemissoemespectrosmaisestreitos,eofactodeasaudinciasaspiraremacontedosdistintosdosproporcionadosconduziuexpansodoscanaisdosoperadoresdeserviopblico,bemcomoaoaparecimentodeoperadorescomerciaisondeanteriormente no existiam. O nmero disponvel de canais aumentou igualmente com odesenvolvimentodastecnologiasporcaboeporsatlite.
Estasalteraesmodificaramaconceptualizaoinicialdeaudincia,gerandoconcorrnciaentrefornecedoresdecontedosetransformandotelespectadoreseouvintes,quepassaramdeumaposiopassivacativaparaoutraemque lhespossvelexercerodireitodeescolheraquiloqueconsomem,oseufornecedor,eotimingdesseconsumo.Abasedarelaoentreemissoresepblicoscontinuaaserum fluxo unidireccional de contedo disponibilizado a um grupo agregado deouvintesetelespectadores,masestespassarama formarmltiplasaudincias (eno uma), formadas por indivduos com capacidade para decidir em qual delaspretendeminserirse.
Estamodificaoconferiualgumpoderaoscidadosedeu inciotransformao destes em consumidores que fazem escolhas activas, deixando de sermembrospassivos.Comoresultado,tornaramseclientesdosemissores.Otermoclienteidentificaumsujeitoquetemohbitodefrequentarumalojaespecfica,naqualefectuaassuascompras.Olojistadincentivoscomoobjectivodeconservarohbitodo indivduo,assegurandocompras futuras,peloqueprocurarservilocomumtratocordial.Noqueserefereaoperadoresdeserviopblico,aideiadeclientediferedademembrodeumaaudinciaapartirdomodocomooprimeirovalorizadoetratado.Estavalorizaotemdeserfeita,nosporoclientesetratardeumcidadomembrodeumasociedade,comotambmpelofactodeteracapacidadedepatrocinar(ouno)osoperadores.
Estapassagemdeaudinciaparaclientefoiaprofundadapelasvendasepelosalugueresdevdeoeudioepelaspossibilidadesdecomunicaobilateralede
36 RobertG.Picard
procura ondemand proporcionadas pela internet e pelas telecomunicaes debandalarga.Istofazcomqueosindivduospossamoptarporsairdasaudinciasindependentementedequoagregadasseencontremeagircomoconsumidoresindividuais,semaorientaodosprogramadoreseosconstrangimentosporelesimpostos.
Estasmudanastmenormes implicaesnomodocomoosoperadoresdeserviopblico lidamcomosouvintesecomostelespectadoresespecialmenteaquelesque tmdepagar taxasde licenciamento (Picard,2005a).Aeficciadofinanciamentoatravsde licenas,cadavezmais,postaemdvidaemmuitospases (idem,2006).So crescentesasexigncias feitaspelosdecisorespolticosaosreferidosoperadoresdevidolimitadacapacidadedefinanciamentodestesnosentidodeencontrarem,atravsdeactividadescomerciais,meiosquesuportem financeiramente as suas prprias iniciativas. Isto remete a relao entre ooperadorde serviopblico e o seupblicoparaum contextodemercado,deofertaedeconsumo.
Osoperadoresdeserviopblicotmdeprocuraredefinirnovasformasdecaracterizaodasuafunoenovostiposderelacionamentocomopblicoquedeixadesercativo,dirigveleinfluencivel,paraassumircadavezmaiscaractersticasde consumidor ,melhoresdoqueosadoptadaspelosoperadores comerciais,descobrindonovaslgicasparaasituaoeparaofinanciamentoprivilegiadoquerecebemdasociedade.
As tcnicasempresariaisde gestoda relao como clienteproporcionammeiosparaaconstruodessa ligao (Berry,2000;Curry,2000;Schmitt,2003).Estaexigirestratgias relativasaos tiposde relaoque sedevemestabelecer,novas funes internaseestruturas,umamelhorcompreensodasnecessidadesindividuais (e no tanto das colectivas) e das aspiraes dos telespectadores eouvintescolocandoanfasenasatisfaodasprimeiras,umesforonaconstruodeumacomunidadedeindivduosemedidasespecficasdefidelizao.
Todas estas necessidades exigiro uma orientao para o cliente, anteriormente subestimada e subdesenvolvidapelosoperadoresde serviopblico. Emanos anteriores,expectativas,necessidadesda audinciaequalidadedo serviono eram definidas pelos clientes,mas sim por organismos governamentais ecomissesestatais.Nonovocontexto,opblico temdedesempenharumpapelsignificativonadefiniodestasdirectrizes.
Os clientes ficam satisfeitosquandoumprodutoou servio supera as suasexpectativas; o contrrio sucede quando estas excedem a performance do quelhesfornecido.Essasexpectativasbaseiamseemfactorescomoapercepodautilidadedosprodutosouservios,assuascaractersticasnicas,a fiabilidade,aconsistncia,adurabilidade,aestticaeoprstimofornecido.Osserviosenvolvemaspectostangveiseintangveis,emuitadasatisfaoprendesecomomodocomoosclientessentemquesotratados,comarapidezderespostadaorganizaossuassolicitaes,comaatenoquedssuasnecessidadesedesejosecomaimportnciaqueconfereacadaum(Schmitt,2003).Todaaexperinciadestescomosoperadoresafectarasuapercepo.Estes factoresso importantesnamedidaemqueafidelizaodosclientessebaseianumaelevadaavaliaodaqualidade,doservioedoprazerqueadvmdoconsumo(Reichheld,1996;Oliver,1997;Griffin,2002).Aqui,o factodeaqualidade,oservioeasatisfaoserem
Audincias,consumidoresecidados 37
determinadospeloutilizador (enopelo fornecedor)oelemento crucial,umavezqueosoperadoresdeserviopblicodefiniam,tradicionalmente,qualidadeeserviosporsiprprios,easaudinciasnotomavampartenoprocesso.
Dado que os telespectadores e os ouvintes se consideram, cada vezmais,consumidoresdaprogramaotransmitida,osoperadoresdeserviopblicotmde comeara conceptualizlos como clientes.Asactividadesdestesoperadorestmdeestaremsintoniaedevemsatisfazerasescolhasefidelidades individuaisdosconsumidores,criando, igualmente,vnculos individuaiscompensadoresederespeitomtuo.Sernecessrioquea interacoeacolaboraocomosconsumidoressejamdeumanaturezacompletamentenova:osoperadoresnopodemmeramentemanter laos comos seus representantespolticos comitsgovernamentais, comisses de difuso e parlamentos como acontecia no passado(Picard, 2005). Estas necessidades obrigam ao desenvolvimento de capacidadessignificativasdegestoderelacionamentoedeactividades.Infelizmente,hojeemdia,amaioriadosoperadoresdeserviopblicotempoucacapacidadeparatal.
Contudo,existeaquiumaambiguidade.Aindaqueoobjectivodefomentaredemanter relaesefectivasdecliente juntode telespectadoreseouvintessejaexequvel,serviloscomocidadosconstitui,nonovocontexto,umdesafiocomplexo. A autoridade e o controlo essenciais para o exerccio de influncia e deengenharia social esto a diminuir rapidamente, pelo que somos confrontadoscom a seguinte questo: como que a sociedade define e alcana objectivossociaiscomo,porexemplo,apromooeasimplificaodecidadaniaactiva?
No contexto contemporneo tornase indispensvel encontrar formas dealteraraanteriorrelaoentreosoperadoresdeserviopblicoeosseusutilizadores,naqualosprimeirosacreditamqueconhecemomelhorcontedoedisponibilizamnoquelesquenosabemdaquiloqueprecisam.Temdesedesenvolverumnovo tipode relacionamento,noqualasaudincias se tornamparticipantesactivasnadeterminaoda sua susceptibilidadepara serem influenciadasedosmeiossegundoosquaisessainflunciaocorre.
Tratasedeumdesafioespinhoso,que temde ser solucionadoparaqueooperadordeserviopblicopossaservistoapenascomomaisumquedisputaaatenoeotempodasaudincias.provvelqueistopossaserconseguido,masexigirqueessesoperadoresalteremalgumasdassuasatitudeseprticasprofissionais e que o compromisso com os telespectadores e os ouvintes passe porencarlosenquanto indivduos.Nofuturo,tmmuitoaofereceraosconsumidoresesociedade,masapenasoconseguiroseoseurelacionamentocomelesforsaudvelesecriaremsatisfaoeapoiopblicoconstante.
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PARAUMAREORGANIZAODOSERVIOPBLICODEMEDIA.RESPONSABILIDADESOCIAL,INDEPENDNCIAINSTITUCIONAL
EAUTONOMIAEDITORIALNOQUADRODARELAOPROBLEMTICAENTREOESTADOEOMERCADO
ChristianS.Nissen
Introduo
Odebateem tornodosmediadeserviopblicoabordacom frequncia,epor boas razes, o quo justificvel o envolvimento pblico nomercado dosmeiosdecomunicaosocialeparaaquelesqueoaceitemanaturezadoseupapel,do seu campodeoperaesedos contedose serviosdisponibilizados.Estasquestesdefinemocampodebatalhacentral,onde se jogaodestinoeopapeldosmediadeserviopblico.
Aosassuntosdegovernanadispensadamenorateno.Seaceitarmosqueosmediapblicosdesempenhamumpapelimportantenasesferasculturalepolticadassociedadeseuropeias,comodeverofornecimentodosseusserviosserorganizado? Como se conseguir encontrar o delicado equilbrio entre controlopblico,responsabilizaoeautonomiaeditorial?Estasquestes,queconstituirooobjectodestecaptulo1,somuitasvezesconsideradasumsubtemaburocrticoporpessoascominteressesespecficoseconhecimentosespecializados,comoocasodefuncionriospblicosnasautoridadesderegulao,advogadosemgruposprivados de comunicao, acadmicos, ou gestores/administradores de mediapblicos.Noentanto,atemticadeveatrairagoramaiorateno,umavezqueasquestesdegovernaopodemconstituironovoemaissubtilcampodebatalha,noqualosgruposprivadosdecomunicaoprocuramnovasoportunidades,apsverificaremqueoseuataqueprpriaexistnciadosseuscongnerespblicosnosetraduziunumavitriaclara.
OdebatesuscitadopelanovaRoyalCharterdaBBC(20072016)umexemploilustrativo.superfcie,enoobstanteosfortesataquesdosprivados,aCharter garantiuo estatuto constitucional eo financiamento futurodaBBC,prolongandooseupapelenquantofornecedoramultimdianosdecanaisgeneralistas
1OcaptulobaseadonoaprofundamentodorelatrioPublicservicemediaintheinformationsociety(DivisoMedia,DirectrioGeraldeDireitosHumanos,ConselhodaEuropa,2006),dosmesmosautores.
ALICERCES,Lisboa,EdiesColibri/InstitutoPolitcnicodeLisboa,2011,pp.3959.
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transmitidos, como tambm de servios especiais atravs de novos meios decomunicao social.Poroutro lado,eaindaque comalgumesforo,poderseargumentarqueesse sucessoacarretaumanovaestruturadegovernanaeumregimederegulaoquepode,a longoprazo, limitara liberdadeoperacionaleopapeldaBBCemtermosmaisgerais.2
Em seces diferentes, este captulo abordar duas questes principais: 1)comodevero serorganizadas aprovisoe adistribuiodosmediade serviopblico?;e2)quetipodeestruturadegovernaopoderassegurarquerocontrolo pblico necessrio quer as indispensveis independncia institucional eautonomiaeditorial?
3.1Organizandoaprovisoeadistribuiodosmediadeserviopblico
Napocadosmonopliosdedifuso,aquestoorganizacionalnoeracontroversa.Talcomonocasodeoutrosserviospblicos,ardioe,posteriormente,aTVencontravamseestabelecidascomounidadesorganizacionaismaisoumenosautosustentadas. Inspirados pela BBC, alguns pases atriburam aos meios decomunicaodeserviopblicoumstatuquode independnciaespecial,foradoaparelhoestatal.excepodacisodardioedatelevisoemdiferentesorganizaes,observadaemalgunspaseseuropeus,omodeloorganizacionalpredominanteassentavanumaunidaderesponsvelportudo,desdeacriaoeaproduodecontedossuadistribuio.
Como ser defendido na seco seguinte, existem ainda boas razes pelasquais as relativamentepequenasorganizaes europeiaspblicasdemedia somantidascomoentidadescorporativas,aindaquesejammaisabertasecolaboremousubcontratempartedasuaproduoaempresasterceiras.Aopopelooutsourcingnoseencontra,noentanto,livredeproblemas,devendoserconcretizadasomenteapsumaavaliaosriadassuasvantagensedesvantagensedeumareflexoponderadaacercadelas.Esta secoabordarestasquestes,apresentandoalgunsdosargumentospropostos.Osaspectosmaisinternoseadministrativosdosmediadeserviopbliconoconstaronestadiscusso.
3.1.1Cortandoobolodoserviopblico
Amudananodebateacercadaestruturaorganizativadosmeiosdecomunicaodeserviopblicoeosargumentosafavordareformaorganizacionalfazempartedeumadiscussomaisalargadasobreomododeorganizaodaproduodebenseserviospblicos.Atendnciapoderserdescritacomosendoapassagemdeumaabordagemestruturalparaumafuncionalou,comomuitasvezes apresentada, atravsdesta frase: o importantenoonde (i.e., sob agidepblicaouaprivada)umserviopblicoproduzido,masoqueproduzido,asuaqualidadeeopreo.Estaabordagem funcionalpromoveuasubcontratao
2EstesdoisladosdamoedasoapresentadosporStevenBarnettemCanthePublicServiveBroadcastersurvive?Renewalandcompromise in thenewBBCcharter,em J.Bardoel,eG.Lowe(orgs.)(2007),FromPublicServiceBroadcastingtoPublicServiceMedia,Nordicom.
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deserviosinternos(limpeza,manutenodosedifcios,serviosdeTI,etc.)queremempresaspblicasqueremprivadas.Nosltimosanos,algunsserviospblicosessenciais,comoasade,osserviossociaiseosprisionais,foramsubcontratadosaempresasprivadasdeorientaocomercial.Subjacenteaestaopoestuma fuso de racionalizao econmica, optimizao da qualidade e ideologiapoltica,tendoemvistaareduodosectorpblicoeoalargamentodoalcancedosectorprivado.
Ter conscinciadestas tendnciasgerais,quandonosdebruamos sobreosmediadeserviopblico,conduzaoreconhecimentodequeassugestesparaasubcontrataodepartedasoperaesdessesrgosnosoapenaseespecificamente direccionadas contra eles. Contudo, possvel enfatizar componentesespecficasdaspolticasdeoutsourcingformuladasnareadosmeiosdecomunicaopblicos:
i)asorganizaesdemediapblicassovistasporalgunscomogigantescosequase assustadores smbolosdopoderqueoGoverno tem sobre as almase asmentesdosseuscidados.Reduzirasuadimensopodeconstituirumobjectivoemsimesmo;
ii)uma linha semelhante de pensamento aponta a ciso da cadeia devalores dosmedia pblicos (i.e., do desenvolvimento criativo de contedos produo de programas e do controlo de canais sua distribuio nas redes)atravsdooutsourcingdealgumasdasligaesdamesmaaempresasprivadasdecomunicaooudetelecomunicaes;
iii)emcertospases,existeumdesejopolticodeestabelecerumnovosectorprivadode comunicao (oudeapoiaroexistente), sendoatribudaaempresasprivadasumaparceladobolopblico.
Olhemosmaisdepertoparaesteseparaoutroselementosdaestratgiade
outsourcingparcialdasactividadesdosrgosdecomunicaopblicos,dasquaisexcluiremosserviosinternosoudeapoioemreasnasquaisosmedianosejamdiferentesdequalqueroutra indstria.nosaspectoscentraisdaproduoedadistribuiodecontedosqueasquestessocruciaisecontroversas.
Antes de entrarmos em temas que justifiquem razes para se ter algumareservafaceatendnciasdecisoedeoutsourcingdosmediapblicos,devemosapresentaraargumentaoemdefesadoreforodoslaosexistentesentreesteseosprivados.Osprimeirosconstituemummundofechadoeautosuficientedesdeosdiasdomonoplio,alturaemqueeradifcilencontrarparceirosnosectorprivado.Actualmente,existemmltiplasoportunidadesparaatrocadeideias,paraaavaliaodedesempenho,quernaproduoquernaqualidade,eparaacapacitaoprpriacomrecursoacompetnciasexternas.Estasoportunidadestmdeserexploradasemmaiorprofundidadedoqueaquelaqueseverificaemempresasdecomunicaodeserviopblico.
Devemos igualmente mencionar a oportunidade de criao de parceriaspblicoprivadasemreascomoadocontedoaudiovisual interactivoemplataformas digitais, no mbito da qual nem corporaes pblicas de media nemempresas privadas de software possuem todas as competncias e experincianecessrias.Actualmente,devido regulaodaconcorrncia, taisparceriasso
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frequentemente permitidas apenas numa base estritamente comercial, o querepresentanormalmenteumobstculoaodesenvolvimentoeaexperinciasnestes campos. Tal colaborao vital, sobretudo em pases pequenos, nos quaisempresasprivadaspblicasnopossuemadimensoeosrecursosparaselanarememprojectoscomplexosearriscadosforadassuasesferasdeactuao.reasemergentesdenegciocomoestapodemserdesenvolvidasatravsdeparceriaspblicoprivadas,aonveldasquaiscadaladocontribuicomassuascompetnciaseosseusmeios.Os frutosdesta iniciativapodemserexploradosapartirdapermissodasuautilizaopelosprivadosemactividadescomerciaisnoutrasregiesepelospblicosemprojectosnoseuprprioterritrio.
Regressando questo do outsourcing: foi anteriormente mencionada anecessidade de haver um escrutnio cuidadoso das suas consequncias e dosargumentos em sua defesa. Cinco pontos podem ser avanados para posteriorcomentrio:
i)emprimeirolugar,serqueadimensoimportanteemsimesma?Linhasmestrase inspiraespara responderaestaquestopodemserencontradasnomercado internacional demedia. Na ltima dcada, assistimos fuso de umgrande nmero de empresas privadas, que integraram os seus sistemas e seabsorveram mutuamente em processos de concentrao horizontal e deintegraoverticaldassuascadeiasdevalor.Seadimensoeocontrolodacadeiade valor tmuma importncia realnulapara a gesto racionaldeumnegcio,podemosquestionarnossobrearazopelaqualosgruposdecomunicaosocial,normalmente geridos de forma muito profissional, seguem esta via. No nosdevemosesquecerdequeentreasvintemaiorescorporaesdemedianaEuropasecontamapenastrsoperadorespblicos(ARD,BBCeRAI).Nosvriospequenospaseseuropeus,existem razeshistricasparaqueasorganizaespblicasdecomunicao sejam frequentemente consideradas corporaes gigantescas dedistorodaconcorrncia,quandona realidade somerosanesentregigantescomerciais.Adimensoimportantenoapenasparaseatingiremeconomiasdeescala,mas tambmparaseaumentaravisibilidadenomercado,de formaasemelhoraracapacidadedeacumulaodeprofissionalismoedeknowhoweasemanterumainfraestruturatcnicacomplexa;
ii)asegundaquestodizrespeitosquotasdeproduoexterna,estabelecidas, atravs de lei ou de deciso governamental, para um nmero cada vezmaiordecorporaespblicasdemedia.Hcercadevinteanosatrs,ogovernodoPartidoConservadorforouaBBCasubcontratar25%dasuaproduodeprogramas (em termosdehorasde transmisso)aprodutoresexternose independentes.poucoprovvelquesealeguequeestadecisotenhaacarretadogravesconsequnciasparaaBBC,masdevemosteremcontaqueestaemissoraentredezevintevezesmaiordoqueamaioriadosoperadorespblicoseuropeus:poderiasubcontratarat90%doseuproduto,que,mesmoassim,manteriaumaproduoprpriasuperior,porexemplo,produototaldecadaumdosemissorespblicosdaEscandinvia.
Asseguraraexistnciademassa crticanaproduoprpriavitalparaosoperadorespblicos,eamaioriadascorporaeseuropeiasdessanaturezapertencemaestacategoria.Umacorporaodeste tipo,comaobrigaodeprovi
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denciarprogramaoalargada,necessitadeexperinciatransversaledeconhecimentoaprofundado,eno conseguiratingirospadresexigidos seo seu staffestiversubdimensionadofaceaopesoexcessivodasquotasdeproduoexterna.A criatividade e a inovao na produo de contedosmediticos raras vezesemergemdementes individuais,sendoantesofrutododesenvolvimentodetrabalhode equipa ede ambientes criativos ao longodo tempo,quepodero serdebilitadospelofardodemasiadopesadodasquotas;
iii)aindaqueaconjugaodecompetnciasinternaseexternasfaasentido,etendoemcontaquemuitomaisdeviaserfeitonessecampo,devesersublinhado um terceiro ponto, que se relaciona com o debate sobre amassa crticaquando fazemosumaprospectivadaeradaproduomultimdiaecrossmedia.Nestenovomundodedesenvolvimentodecontedosedeproduodependentedatecnologiadainformao,aintegraodosprocessosdetrabalhotornaseaindamais importante,cruzandobarreirasentredepartamentosefronteirasorganizacionaiseprofissionais.Estedesenvolvimentonoatingiroseupotencialmximo se uma parte considervel da produo de crossmedia (tradicional ou emnovosmeiosdecomunicao)tiverlugarforadacorporao.Estepontoaplicadonaexplicaodatendnciadosmediaparaseconcentraremnosectorprivado;
iv)umquartopontosurgetambmapartirdodesenvolvimentodeplataformastransversa