alguém disse na tv

14
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru - SP – 03 a 05/07/2013 “Alguém Disse Na TV”: Em busca de capital social ou simplesmente amor de fã? 1 Paula FERNANDES 2 Pedro Henrique VITAL 3 Carlos D'ANDREA 4 Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG RESUMO Tratando-se de compartilhamento de informações, a internet se destaca pela diversidade de formatos existentes para tal feito. Assim, cada tipo de conteúdo pode facilmente se adaptar a seu público e conseguir êxito na transmissão de informação. Desta forma, a página, inserida na rede social Facebook, “Alguém Disse Na TV” ilustra o objetivo de transmitir um tipo específico de conteúdo para seus membros: trechos de filmes e seriados. Logo, princípios da cibercultura são presentes em tal página e serão analisados, bem como a dinâmica do grupo e interação membro-membro da página, administrador-administrador e membro-administrador, e vice-versa. PALAVRAS-CHAVE: Fãs, Redes Sociais, Capital Social, Cultura de Fã, Netnografia. 1.Introdução “A web representa um espaço de experimentação e inovação, onde os amadores testam o terreno, desenvolvem novas práticas, temas, e geram material que pode vir a atrair seguidores nos seus próprios termos” (JENKINS, 2006, p.148) e a dinâmica das redes sociais, atualmente, permite que qualquer tipo de conteúdo seja compartilhado entre os membros de tal rede, sendo possível mesclar mais de uma e assim difundir mais ainda o conteúdo a ser divulgado. Desta forma, com a liberdade presente nas possibilidades de exposição de conteúdo, variados formatos se popularizam dentro e fora da internet. A rede social Facebook, segundo documento enviado à Securities and Exchange Comission (SEC), comissão reguladora do mercado de capitais dos EUA, (...)criada em 2004 alcançou, em março, a marca de 901 milhões de usuários ativos (pessoas cadastradas que acessaram o serviço ao menos uma vez no mês) – um acréscimo de 41% em relação ao mesmo período de 2011 (680 milhões). O site se aproxima, assim, da marca de 1 bilhão de pessoas conectadas. (SBARAI, 2012) 1 Trabalho apresentado no IJ 05 – Rádio, TV e Internet, do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, realizado de 3 a 5 de julho de 2013. 2 Aluna líder e Estudante de Graduação do 5º semestre do Curso de Jornalismo da UFV-MG, e-mail: [email protected]. 3 Estudante de Graduação do 5º semestre do Curso de Jornalismo da UFV-MG, e-mail: [email protected]. 4 Orientador do trabalho e professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: [email protected] 1

Upload: anita-chavez-gomes

Post on 06-Sep-2015

10 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Tratando-se de compartilhamento de informações, a internet se destaca pela diversidadede formatos existentes para tal feito. Assim, cada tipo de conteúdo pode facilmente seadaptar a seu público e conseguir êxito na transmissão de informação. Desta forma, apágina, inserida na rede social Facebook, “Alguém Disse Na TV” ilustra o objetivo detransmitir um tipo específico de conteúdo para seus membros: trechos de filmes eseriados. Logo, princípios da cibercultura são presentes em tal página e serãoanalisados, bem como a dinâmica do grupo e interação membro-membro da página,administrador-administrador e membro-administrador, e vice-versa.

TRANSCRIPT

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    Algum Disse Na TV: Em busca de capital social ou simplesmente amor de f?1

    Paula FERNANDES2

    Pedro Henrique VITAL3

    Carlos D'ANDREA4

    Universidade Federal de Viosa, Viosa, MG

    RESUMOTratando-se de compartilhamento de informaes, a internet se destaca pela diversidadede formatos existentes para tal feito. Assim, cada tipo de contedo pode facilmente seadaptar a seu pblico e conseguir xito na transmisso de informao. Desta forma, apgina, inserida na rede social Facebook, Algum Disse Na TV ilustra o objetivo detransmitir um tipo especfico de contedo para seus membros: trechos de filmes eseriados. Logo, princpios da cibercultura so presentes em tal pgina e seroanalisados, bem como a dinmica do grupo e interao membro-membro da pgina,administrador-administrador e membro-administrador, e vice-versa.

    PALAVRAS-CHAVE: Fs, Redes Sociais, Capital Social, Cultura de F, Netnografia.

    1.Introduo

    A web representa um espao de experimentao e inovao, onde os amadores

    testam o terreno, desenvolvem novas prticas, temas, e geram material que pode vir a

    atrair seguidores nos seus prprios termos (JENKINS, 2006, p.148) e a dinmica das

    redes sociais, atualmente, permite que qualquer tipo de contedo seja compartilhado

    entre os membros de tal rede, sendo possvel mesclar mais de uma e assim difundir mais

    ainda o contedo a ser divulgado. Desta forma, com a liberdade presente nas

    possibilidades de exposio de contedo, variados formatos se popularizam dentro e

    fora da internet. A rede social Facebook, segundo documento enviado Securities and Exchange Comission (SEC),comisso reguladora do mercado de capitais dos EUA, (...)criada em 2004alcanou, em maro, a marca de 901 milhes de usurios ativos (pessoascadastradas que acessaram o servio ao menos uma vez no ms) umacrscimo de 41% em relao ao mesmo perodo de 2011 (680 milhes). Osite se aproxima, assim, da marca de 1 bilho de pessoas conectadas.(SBARAI, 2012)

    1 Trabalho apresentado no IJ 05 Rdio, TV e Internet, do XVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste, realizado de 3 a 5 de julho de 2013.2 Aluna lder e Estudante de Graduao do 5 semestre do Curso de Jornalismo da UFV-MG, e-mail: [email protected]. 3 Estudante de Graduao do 5 semestre do Curso de Jornalismo da UFV-MG, e-mail: [email protected] Orientador do trabalho e professor do Departamento de Comunicao Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: [email protected]

    1

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    tem como uma de suas plataformas de compartilhamento de contedo as pginas, que

    podem ser criadas por qualquer perfil da mesma rede. Cada uma com seu carter

    especfico, o presente artigo, frente conceitos da cibercultura, principalmente capital

    social e cultura de f, tem como objeto de anlise a pgina Algum Disse Na TV5,

    no Facebook.

    Entender o funcionamento da pgina em questo vai alm de identificar e aplicar

    fatores da cibercultura. Compreender a satisfao e o objetivo de quem participa e se

    dedica a tal pgina tambm faz parte da pesquisa analtica, que, juntamente com a

    conceituao, e paralela ligao entre teoria e fato, embasam o presente artigo.

    2. Sobre os fundamentos tericos: aplicando conceitos da Cibercultura

    O tema redes sociais recorrente, abrindo discusso para vertentes diversas.

    Tratando-se do Facebook, as postagens refletem um quesito que a grande maioria dos

    usurios buscam: visibilidade e reconhecimento.Se at hoje a fama estava relacionada associao de uma rosto a um nome,na cibercultura este aspecto transferido ao perfil de usurio. () Editamose transferimos tudo o que diz respeito a ns mesmos ao ciberespao, esociabilizamos atravs dele. Transferimos nossas questes de lugar.Descarregamos mais do que nossa identidade. (NATAL, VIANA, 2009, p.3)

    Um site de rede social uma categoria de websites com perfis, comentrios

    pblicos, semi-persistentes no perfil, e uma rede social transversal e publicamente

    articulada, conectada ao perfil. (BOYD, 2006). O fenmeno de tais redes despontou no

    cenrio mundial com a cada vez mais frequente interao no presencial entre pessoas.

    Segundo Benkler (2006), somos uma sociedade em rede agora - indivduos em rede,

    conectados uns aos outros. Desta forma, compreender a dinmica das redes sociais

    essencial para participao nas mesmas. Assim, pode-se afirmar que, redes sociais so

    um espao da web que permite aos seus usurios construir perfis pblicos, articular

    suas redes de contatos e tornar visveis essas conexes. (Boyd & Ellison, 2007;

    Ellison, Steinfield & Lamp, 2007).

    Segundo Raquel Recuero e Gabriela Zago (2009), sendo (as redes online) um

    espao prioritariamente de entretenimento, as pessoas divulgam as suas informaes

    pessoais, as suas preferncias e os seus gostos, ou seja, o perfil dos usurios a

    representao do eu semelhante a pginas pessoais. Por meio delas, um usurio

    capaz de reproduzir o que acha interessante ou importante para um determinado grupo.

    5 http://www.facebook.com/AlguemDisseNaTv?fref=ts

    2

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    No caso da pgina Algum Disse na TV, o alvo um grupo de fs. Graas ao

    Facebook, possvel que amadores sejam capazes de publicar para os seus seguidores

    material referente aos filmes e seriados mais famosos. Esse material construdo em

    forma de imagem e texto. Portanto, os administradores, que so fs, ou seja, amadores,

    podem publicar trechos considerados importantes, acontece um recorte da parte que

    interessa, ao invs de somente indicar o nome do seriado ou filme.Por isso, para Axel Bruns (2008), a digitalizao modifica a maneira como nosrelacionamos com outras pessoas, produtos e contedos. O usurio deinformao assume novos papeis: precisa selecionar contedos a partir de umuniverso muito maior, que frequentemente no foi submetido a filtrosprofissionais, como era o caso da informao em livros, CDs, jornais, revistasetc.; pode atuar como esse filtro, mediando informaes que considereimportantes para outros sujeitos; e passa no apenas a acessar e indicar, mastambm a poder publicar informaes. (ZILLER, 2011, p. 88).

    O espao que as redes sociais permitem aos amadores percebido na pgina

    Algum Disse na TV. Pelo simples fato de os administradores terem acesso a internet,

    estes podem publicar informaes que os estdios profissionais no produzem. Sites de

    redes sociais, de publicao de vdeos e fotos, de mapeamento da realidade nossa volta

    se baseiam na lgica da publicao de informao por qualquer pessoa que tenha acesso

    Internet. (ZILLER, 2011, p. 88).

    As opes presentes na rede curtir, compartilhar e comentar representam

    o quo aceita pela rede de amigos de tal perfil, no caso, pgina. Tal aceitao esperada

    por quem realiza a postagem o reflexo de uma recompensa pelo trabalho de ter

    selecionado determinado contedo, seja texto, foto ou vdeo ou mesclagem. Assim

    pode ser explicitado o carter vital do Capital Social para quem dedica tempo s redes

    sociais, sem fins lucrativos, como a Algum Disse Na TV, como afirma Recuero

    (2009), que os valores gerados nos sites de rede social so frequentemente referidos

    como capital social.

    O Capital Social como conceito, definido por Bourdieu (1983) e ainda segundo

    Recuero (2006), o conjunto de recursos potenciais que esto presentes nas relaes

    entre as pessoas, associados ao pertencimento a uma coletividade, est, assim, presente

    nas relaes entre as pessoas. Compreende os recursos coletivos que esto disponveis a

    um indivduo que faz parte de um grupo. A visibilidade, reconhecimento e

    sociabilidade dependem de investimento coletivo e individual e, dentro da dinmica de

    uma pgina em rede social, onde os administradores so identificados de uma mesma

    forma, o esforo individual torna-se coletivo, por todos representam um: o perfil da

    pgina. O capital social, portanto, s existe enquanto recurso coletivo, mas por ter

    3

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    capacidade de ser alocado e utilizado individualmente, tem este carter duplo.

    (RECUERO, 2006, p.4)

    A presena no-fsica, como cita Recuero (2006), deixa de ser um empecilho

    para sociabilidade, no universo do ciberespao, elementos como reputao, confiana e

    visibilidade tornam-se importantssimos para a interao, como bases de relaes

    sociais e de redes sociais, atravs das quais algum ter acesso a um determinado tipo

    capital social. (BERTOLINI; BRAVO, 2004).

    Alm disso, a escolha dos administradores e mesmo a opo de curtir a pgina

    pelos usurios do Facebook, se d atravs de contato mediado pelo computador e, logo,

    internet, ou seja, a atuao do estudo netnogrfico frequente. Um dos problemas que

    se desenha, ao se procurar estudar as redes sociais nos vrios sistemas que permitem as

    interaes na Internet , justamente, aquele de compreender o que considerar um ator e

    o que considerar uma conexo e como avaliar esses elementos. (RECUERO, 2009,

    p.1).

    A diminuio de distncias uma das grandes vantagens da internet, permitindo

    que relaes sejam construdas entre indivduos que no se conhecem pessoalmente.

    Como acontece na pgina Algum Disse Na TV, dentre os administradores tem-se

    perfis de cidades e estados diferentes, que se conhecem apenas via online. Assim, a

    netnografia aplicada involuntariamente pelos prprios membros da pgina, da mesma

    forma que a pesquisa analtica para o presente artigo foi feita.

    O estudo netnogrfico faz com que os perfis sejam melhor construdos, visto que

    sero utilizados como objeto de anlise em vertentes que antes no eram abordadas, no

    s em pesquisas relacionadas a redes scias, com a presente, mas at mesmo para

    anlise profissionais. A apropriao das ferramentas de comunicao mediada por computadorpelos indivduos, assim, capaz de gerar um processo de individualizao epermanente de construo de identidade na Internet (EFIMOVA; DE MOOR,2005). Essas apropriaes funcionam como uma presena do "eu" nociberespao, um espao privado e, ao mesmo tempo, pblico.(RECUERO,2009, p.2)

    Desta forma, as relaes sociais institudas atravs da internet vem ganhando valor em

    suas diversas maneiras de serem feitas, principalmente via redes sociais. Garton, Haythornthwaite e Wellman (1997) explicam que as relaes sociais,no contexto da mediao pelo computador apresentam diferenas vitais comrelao aos demais contextos. Para os autores, no mbito da Internet, asrelaes tendem a ser mais variadas, pois h troca de diferentes tipos deinformao em diferentes sistemas, como por exemplo trocas relacionadas aotrabalho, esfera pessoal e mesmo a outros assuntos. Um determinado grupo,

    4

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    por exemplo, pode utilizar diversos sistemas para a interao. (RECUERO,2009, p.4-5)

    Alm de princpios tericos, a motivao de pessoas comuns para investir tempo

    e pesquisa para produzir as postagens fundamental para que a pgina exista e

    perpetue, uma vez que se trata de um contedo produzido por fs para fs. O

    combustvel para dedicar tempo e qualidade refletido no princpio defendido por

    Henry Jenkins, Cultura de f. Como afirma Lucio Luiz (2008), A rpida expanso da

    cultura participatria no ciberespao resultado dessas mudanas e vm sendo alvo de

    vrias pesquisas, especialmente por Jenkins (1992), que foi um dos primeiros

    pesquisadores a chamar a ateno para a importncia dessa cultura de f..A Convergncia cultural (tambm proposta por Jenkins (2006)) envolve ofluxo de imagens, idias, histrias, sons, marcas e relacionamentos atravs domaior nmero de canais miditicos possveis, e que tal fluxo no poderia sercontido. O contedo que o consumidor deseja ser obtido por ele, seja pormeios ilegais ou legais. Ambos os conceitos interagem entre si, garantindouma circulao de qualquer tipo de mdia que envolve esse fluxo. (Blog deCibercultura, 19/03/2012)

    A atividade desenvolvida pela equipe Algum Disse Na TV mostra a

    preocupao e interesse de fs utilizarem do produto de gosto comum, no caso seriados

    e filmes, selecionar o que acha ser notrio perante outras informaes inclusas no

    produto geral e postarem, de maneira fiel original, porm direcionando para os outros

    fs, que curtem a pgina recebendo a atualizao de contedo. A partir da surgem as

    possibilidades disponibilizadas pelo Facebook, que replicaro o contedo, fazendo com

    que chegue a mais usurios. A reformulao das cenas, sem alterar as falas e imagens

    originais, fazendo apenas um recorte, torna o administrador que as posta um integrante

    do que Jenkins (2009) chama de cultura de f, uma vez que esta consiste na produo de

    contedo sobre determinado assunto por um indivduo, ou grupo, que demonstra

    interesse por tal tema. Assim, o recorte feito um produto oriundo do material original

    elaborado por uma pessoa qualquer objetivando valorizar seu objeto de fanatismo, expor

    seu gosto, e divulg-lo a possveis fs.

    5

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    3. Sobre a pgina: Algum Disse Na TV

    FIGURA 16: Capa da Algum Disse na TV em 14/10/2012

    Trechos de seus Filmes e Sries Preferidos. Esta a definio que consta na

    descrio da pgina Algum Disse Na TV, na rede social Facebook. Relata direta e

    basicamente o que postados e divulgado. Com 365.768 usurios que curtem a

    pgina, a visibilidade de seu contedo satisfatoriamente difundida, visto que seu

    pblico se estende a quem a curte diretamente a pgina e visualizada por quem assina

    estes perfis, recebendo as atualizaes de curtidas, abrindo espao para novos

    adeptos, alm de novos curtir, compartilhamentos e comentrios, e assim

    continuamente.

    A pgina surgiu em Fevereiro de 2012 a partir do gosto da criadora Ruty

    Rodrigues7 por filmes e seriados, e viu neste amor de f uma possibilidade de promover

    o contedo que gosta e proporcionar a outros fs a chance de ter uma cena/ momento

    recortados e publicados, alm de compartilhar comentrios e opinies a respeito de tal

    filme ou seriado. Segundo ela, tudo comeou nas frias de 2011/2012 a partir de um

    gosto pessoal de salvar em seu computador pessoal as cenas que gostava mais:

    Comeou comigo sozinha eu estava de frias e j assistia a muitas sries e sempre gosteide salvar meus momentos favoritos dos filmes, s que no tinha onde guardar. Foi a que

    criei a pgina.. Posteriormente, a prpria Ruty criou um grupo, de mesmo e na mesma

    6 http://www.facebook.com/AlguemDisseNaTv?fref=ts7 Criadora e administradora da pgina Algum Disse Na TV. Estudante, 18 anos de idade. E-mail: [email protected]

    6

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    rede, onde usurios eram adicionados - Grupo Algum Disse Na TV - com o mesmo

    objetivo de postar montagens de cenas dos seriados e filmes favoritos, alm de

    compartilhar dvidas, opinies e informaes, como define a prpria descrio do

    grupo: Agora temos um grupo onde voc pode fazer pedidos e publicar seus prprios

    print/cenas e claro discutir assuntos aleatrios :) PARTICIPE. Assim, desde o incio de

    2012, a pgina j acumula quase 400 mil curtir (usurios da rede social Facebook que

    fazem parte da rede de perfis da pgina, recebendo atualizaes diretas do contedo

    postado). Sobre isso, Ruty destaca que no era este o objetivo da pgina: Nem foi nointuito de virar o que virou, era mais um lugar onde podia armanezar minhas cenas

    favoritas. Mas a o pessoal foi curtindo e eu adorando os comentrios sobre, e de repente

    virou isso, um grande grupo de amantes do cinema!. A equipe se estende, tendo novos

    administradores, tanto para o Facebook quanto para outros portais online, como o twitter8, o

    tumblr9 e o blog10, tendo, ento, mais integrantes, que tambm tem acesso pgina, mas

    so responsveis por manterem tais outros portais atualizados.

    A estrutura da pgina no Facebook conta, atualmente, com sete administradores,

    que postam contedo constante e exclusivamente nela, e a criadora. Conceitualmente, a

    estruturao assim feita da pgina pode ser definida, segundo Recuero (2008), como

    aquilo que um grupo social tem de mais permanente, ou seja, implica em uma certa

    sedimentao dos modos de agir e das relaes sociais. Alm deste aspecto, a autora

    ressalta, tambm, a organizao, que trabalha com as relaes de um modo geral, ou

    seja, o conjunto de elementos que faz parte da estrutura. (2008).

    A interao entre os membros tambm faz parte da estrutura da pgina, uma vez

    que quando trabalhamos com o ciberespao, a interao social d-se de uma maneira

    muito particular. Trata-se de uma interao mediada pelo computador (RECUERO,

    2008, p. 5). A dinmica de postagens, de contedo e harmonia entre os administradores

    ditam a qualidade do perfil da pgina, correspondendo s expectativas dos membros.

    Como explica Recuero (2008), A interao que acontece dentro de uma determinada rede a base do estudode sua organizao. Ela pode ser cooperativa, competitiva ou geradora deconflito. A interao que cooperativa pode gerar a sedimentao dasrelaes sociais, proporcionando o surgimento de uma estrutura. Quanto maisinteraes cooperativas, mais forte se torna o lao social desta estrutura,podendo gerar um grupo coeso e organizado. Na organizao da comunidadevirtual [pgina], portanto, necessrio que exista uma predominncia de

    8 @FaceDisseNaTV9 http://alguem-dissenatv.tumblr.com10 http://alguemdissenatv.blogspot.com.br

    7

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    interaes cooperativas, no sentido de gerar e manter sua estrutura decomunidade. (2008, p. 13)

    Ressaltando a dinmica de funcionamento, que tambm est relacionada estruturao,

    a autora ainda destacaque a dinmica da comunidade deve ser adaptativa, auto-organizada ecooperativa. Alm disso, padres de sincronismo e clusterizao soesperados, pois demonstram a coeso estrutural do grupo. Tambm aagregao de novos membros esperada, pois trata-se de elementofundamental para o crescimento e manuteno da rede. Essas dinmicas,entretanto, podem no ser especficas das comunidades virtuais, mas comunsa vrias redes sociais. (2008, p. 13)

    O modelo de postagem da pgina se assemelha a uma rede j em desuso: o

    Fotolog. Uma imagem (foto) era postada com um pequeno texto descrevendo ou

    comentando-a, da mesma forma como os prints (fotografia/recorte de uma imagem no

    computador) so compartilhados na Algum Disse Na TV.

    FIGURA 211: Postagem em 14/10/2012 FIGURA 312: Postagem em 14/10/2012

    11http://www.facebook.com/photo.php?fbid=484671621554505&set=a.272312799457056.66595.272305396124463&type=112http://www.facebook.com/photo.php?fbid=484372714917729&set=a.272312799457056.66595.272305396124463&type=1

    8

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    FIGURA 413: Postagem em 14/10/2012

    Conforme perceptvel nas figuras 2, 3 e 4, o formato texto (descrio,

    comentrio ou simplesmente o nome do seriado/filme e/ou personagens) + imagem

    quase unnime nas postagens, variando apenas em comentrios soltos e outros portais e

    links relacionados ao tema da pgina. Mas, de qualquer forma, a prioridade satisfazer

    o gosto de quem curte a pgina, ou seja, do f que acompanha as sries/filmes

    destacados pela equipe. O contedo selecionado, trabalhado e articulado para aquele

    contexto (JENKINS, 2009), satisfazendo o f que posta, atravs do capital social, j

    definido e situado anteriormente, e o f que recebe a atualizao, tendo mais contedo

    sobre seu objeto de fanatismo.

    4. Sobre a equipe: mais que usurios, fs.

    Tratando-se de uma pesquisa envolvendo internet, o estudo netnogrfico a

    principal ferramenta utilizada para conseguir informaes, especificamente para

    entender e conhecer a equipe Algum Disse Na TV. Entrevistas foram realizadas

    mediadas pelo Facebook e pelo software de comunicao por vdeo, texto e voz, Skype,

    obtendo, assim, as informaes sobre o funcionamento prtico da pgina, bem como as

    interaes pessoais entre os administradores no Facebook e de outros portais online.

    13http://www.facebook.com/photo.php?fbid=484557524899248&set=a.396449413710060.90592.272305396124463&type=1

    9

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    O principal pr-requisito para se tornar administrador da pgina Algum Disse

    Na TV ser f de sries ou filmes. A maioria dos administradores so jovens, entre 15

    e 20 anos.

    As postagens so feitas todos os dias. Paloma Barros14 acredita que os usurios

    da pgina so muito crticos e s vezes esto cheio de pedras nas mos, mas apesar

    disso, so eles que divulgam e fazem a pgina crescer. A busca por tentar atender aos

    pedidos dos fs tambm move Paloma: por eles (usurios da pgina) que tentamos

    acertar e agradar a todos.. Muriell Costa15 tambm compartilha do mesmo objetivo:

    Esperamos que os nossos fs fiquem felizes com o que fazemos para eles..

    Na tentativa de agradar os fs, os administradores buscam a manuteno do

    capital social. Percebe-se uma interao social entre os dois lados. A maioria dos

    autores relaciona a criao e a manuteno do capital social aos investimentos

    realizados pelos atores na estrutura social por meio da interao (Putnam, 2000; Lin,

    2001). (RECUERO, ZAGO, 2009, p.84). Este capital social, que os administradores

    buscam, segundo Recuero e Zago (2009) pode ser obtido atravs da sua rede de

    seguidores - os usurios que curtem a pgina - na qual os administradores extraem

    reputao, popularidade, visibilidade e influncia.

    A questo do hobby, do prazer pessoal, tambm est presente como uma das

    caractersticas dos administradores da pgina. Vanessa Suzuki Ken16 j assistia muitas

    sries antes mesmo de se tornar uma das integrantes da equipe Algum Disse Na TV:

    Eu me divirto muito na pgina, pra mim mais como um hobby..

    No h um critrio certo sobre quem posta sobre qual srie. Vai da preferncia

    do administrador. Ainda segundo Paloma Barros, a pgina Algum Disse Na TV no

    tem muitas regras: Somente o suficiente para manter a organizao, afinal so muitas

    pessoas e em contexto somos uma grande famlia.. Segundo Las Barbosa17, a ideia

    que as pessoas se identifiquem com as frases.

    As reunies dos administradores da pgina so via Skype e so nestes momentos

    que os membros da equipe adquirem mais proximidade, conforme ainda destaca Las:

    De uns meses pra c pegamos intimidade um com os outros depois de conversas no

    Skype..

    14 Administradora da pgina. Estudante, 15 anos de idade. E-mail: [email protected] Administrador da pgina. Estudante, 17 anos de idade. E-mail: [email protected] Administradora da pgina. Estudante, 20 anos de idade. E-mail: [email protected] Administradora da pgina. Estudante, 20 anos de idade. E-mail: [email protected].

    1

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    Portanto, percebe-se que h extrema dedicao dos administradores em atender

    com carinho os fs em uma demanda que s cresce. So amadores, assim como

    quaisquer fs, mas realizam um trabalho que profissionais no fazem. Como destaca

    Jenkins (2009) que a audincia no se v mais no papel de simples espectadora, agora

    ela mesma quer produzir material sobre sua srie ou filme favorito. Nota-se tambm um

    conceito de cultura participativa, na qual aponta Jenkins (2009), em que os fs so

    convidados a participar ativamente da criao e da circulao de novos contedos.

    5. Concluso

    A fundamentao terica discorrida ao longo do artigo confirma a presena dos

    conceitos principais da Cibercultura. Mesmo inconscientemente, a pgina traz consigo,

    e seus membros e administradores, exemplificaes de capital social, uma vez que a ex-

    pectativa da equipe a reciprocidade e identificao dos membros para com o contedo

    postado, sendo o gostar das informaes e se conectar com elas a recompensa para

    quem trabalha na pgina; de cultura de f, observado no trato das cenas e frases, produ-

    zindo, a partir do original, novos produtos para os fs; e de netnografia, dado que a inte-

    grao e conexo membros-administradores e administradores-administradores media-

    da pela internet, e a prpria forma de relacionamento pessoal entre os usurios e o estu-

    do de perfis, que tambm feito desta forma. Tais abordagens inclusas na rede social

    Facebook, conceito este tambm discutido ao longo da pesquisa, ilustrada de maneira

    clara e explcita pela Algum Disse Na TV, com as interaes, laos e ligaes que

    so objetivo da rede e do conceito em geral.

    Criar, manter e promover uma pgina em uma rede social, com tamanha popula-

    ridade como o Facebook, exige tempo, esforo, compromisso e interesse. Mais do que

    isso, sustentar aproximadamente 400 mil membros, mantendo-os interessados no conte-

    do, exige gostar do que postado. Portanto, no caso da Algum Disse Na TV, amar

    o que faz literalmente parte do trabalho de administr-la.

    Mesmo tendo o capital social como pagamento da dedicao e carinho pelo es-

    foro de trabalhar o contedo, o maior prazer proporcionado em ter reconhecimento

    do amor pela srie e/ou filme favorito alm dos fatores envolvidos em tais sries e fil-

    mes nas postagens e na recepo do contedo pelos membros. Logo, o que pode ser

    percebido, principalmente, no funcionamento desta pgina que antes de administrado-

    res, eles so fs. Ou seja, uma pgina feita de fs para fs.

    1

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    Um f capaz de saber cada detalhe da vida de seu dolo (...) e os deta-lhes de cada episdio de seu seriado favorito.Um f no se importar em gastar dinheiro com objetos que s tm im-portncia para si mesmo ou, no mximo, para determinado grupo depessoas que compartilhem do mesmo interesse.Um f buscar sempre novos produtos ligados quilo de que tanto gos-ta, como um livro que amplia a histria de um filme ou uma adaptaocinematogrfica de uma histria em quadrinhos.Por fim, um f no apenas se satisfar em buscar novos produtos cultu-rais derivados como vai, ele mesmo, sozinho ou em conjunto com ou-tros fs, criar novos produtos culturais derivados. (LUIZ, 2008, p. 1).

    Assim como fazem, de maneira eficiente visto que a pgina tem grande retorno de quem

    a curte, os administradores da Algum Disse Na TV.

    Definindo f no contexto da Cibercultura precisamos considerar que nem sempre

    os estudos a respeito da cultura de fs foram tratados com credibilidade (NATAL, VIA-

    NA, 2009). Como afirma Jenkins (2006a et al NATAL, VIANA, 2009, p. 10) os fs

    operavam de forma marginal na nossa cultura, ridicularizados na mdia, estigmatizados

    socialmente, () e frequentemente classificados como limitados e no articulados..

    Agora, pode-se observar claramente no exemplo da Algum Disse na TV que atuar na

    Cibercultura faz do f um indivduo engajado, dedicado, preocupado e criativo, eles fo-

    gem mdia e so levados pela paixo, criatividade e por uma noo de dever (Mc-

    CONNELL, HUBA, 2008, p. 3 et al NATAL, VIANA, 2009, p. 7), tanto com seu prprio

    amor de f pelo seu dolo, seja seriados, filmes ou fatores envolvidos como artistas,

    trilhas sonoras, etc e com outros fs, que compartilham de suas postagens, e com-

    preendem o que ser f.

    Referncias Bibliogrficas

    FACEBOOK. FIGURA 1. Disponvel em: Acessado em: 14 Out. 2012.

    FACEBOOK. FIGURA 2. Disponvel em: Acessado em: 14 Out. 2012.

    FACEBOOK. FIGURA 3. Disponvel em: Acessado em: 14 Out. 2012.

    FACEBOOK. FIGURA 4. Disponvel em: Acessado em: 14 Out. 2012.

    1

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    JENKINS, Henry. Cultura da Convergncia. 2 ed. Trad. Susana Alexandria. So Paulo: Aleph, 2009.

    LUIZ, Lucio. A Expanso da Cultura Participatria no Ciberespao: Fanzines, fan fictions, fan films e a cultura de f na internet. Cencib. Disponvel em: Acessado em: 8Out. 2012.

    NATAL, Georgia; VIANA, Lucina Reitenbach. CULTURA DO HOBBY: A CONDIO DO F COMO PRODUTOR E COLECIONADOR DE CONTEDO. Cencib. Disponvel em: Acessado em 8 Out. 2012.

    RECUERO, Raquel. Comunidades em redes sociais na Internet: um estudo de caso dos fotologs brasileiros. Revista Ibict. Disponvel em: Acessado em: 8 Out. 2012.

    ______. Comunidades Virtuais em Redes Sociais na Internet: Uma proposta de estudo. Raquel Recuero. Disponvel em: Acessado em: 8 Out. 2012.

    ______. Diga-me com quem falas e dir-te-ei quem s: a conversao mediada pelo computador e as redes sociais na internet. Revistas Eletrnicas. Disponvel em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/5309/3879> Acessado em: 8 Out. 2012.

    ______. Dinmicas de Redes Sociais no Orkut e Capital Social. Ponto Mdia. Disponvel em: Acessado em: 8 Out. 2012.

    ______. Mapeando redes sociais na Internet atravs da conversao mediada pelo computador. Ponto Mdia. Disponvel em: Acessado em 8 Out. 2012.

    ______. O Digital Trash como Mainstream: Consideraes sobre a difuso de informaes em redes sociais na Internet. Academia.edu. Disponvel em: Acessado em: 8 Out. 2012.

    ______; ZAGO, Gabriela. A Economia do Retweet: Redes, Difuso de Informaes e Capital Social no Twitter. Ponto Mdia. Disponvel em: Acessado em 8 Out. 2012.

    ______; ______. Em busca das redes que importam: redes sociais e capital social no Twitter. Caspr Lbero. Disponvel em:

    1

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVIII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste Bauru - SP 03 a 05/07/2013

    Acessado em: 8 Out. 2012.

    ZILLER, Joana. Produsage, a lgica do usurio antropofgico. UFMG. Disponvel em: Acessado em: 8 Out. 2012.

    1