algas da lagoa de marapendi albertoa 1997

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1 1 Albertoa, Rio de Janeiro, v. 4, n. 18, p.233-244, 1997 ALGAS BENTÔNICAS DA LAGOA DE MARAPENDI, RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL 1 . Alexandre de Gusmão Pedrini 2 , Dolymar dos Santos Lima 3 , Osny Pereira Filho 3 , Vânia da Silva Musquim 4 e Joel Campos De-Paula 3 . Resumo (Algas Bentônicas da Lagoa de Marapendi, Rio de Janeiro, RJ). Foram coletadas mensalmente, de dezembro de 1987 a novembro de 1988 as algas bentônicas da laguna de Marapendi (coordenadas 22° 55' 00"S e 23°05' 00"S e os meridianos 43° 18'30 "W e 43° 32' 30" W), no estado do Rio de Janeiro. Foram 8 áreas de coleta : a) Canal de Marapendi; b) Marina do Condomínio Nova Ipanema; c) Cais do Condomínio Novo Leblon (Avenida das Américas); d) Saco da Pedra de Itaúna; e) Parque Zoobotânico de Marapendi; f) Avenida Sernambetiba 11500 (Ex-Concharia); g) Cais do Condomínio Novo Leblon (Avenida de Sernambetiba); h) Mangue degradado do Summer Palace Hotel. Foram determinados 25 táxons infragenéricos, 20 clorófitas, 4 rodófitas e 1 carófita. A área do Saco da Pedra de Itaúna foi a mais rica com 20 táxons a do Summer Palace a mais pobre com 1 Apoio Financeiro Parcial: FAPP-UERJ e CNPq. 2 - Dept o. de Biologia Vegetal (DBV), I. de Biologia (IB), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, CEP 20550-013, Rio de Janeiro, RJ; Brasil; pedrini@uerj.,br 3 DBV , IB ,UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524, CEP 20550-013, Rio de Janeiro, RJ. 4 Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, proc. n o .802446.1-87).

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Albertoa, Rio de Janeiro, v. 4, n. 18, p.233-244, 1997

ALGAS BENTÔNICAS DA LAGOA DE MARAPENDI, RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL1. Alexandre de Gusmão Pedrini2, Dolymar dos Santos Lima3, Osny Pereira Filho3, Vânia da Silva Musquim4 e Joel Campos De-Paula3 . Resumo

(Algas Bentônicas da Lagoa de Marapendi, Rio de Janeiro, RJ).

Foram coletadas mensalmente, de dezembro de 1987 a novembro de 1988 as algas bentônicas da laguna de Marapendi (coordenadas 22° 55' 00"S e 23°05' 00"S e os meridianos 43° 18'30 "W e 43° 32' 30" W), no estado do Rio de Janeiro. Foram 8 áreas de coleta : a) Canal de Marapendi; b) Marina do Condomínio Nova Ipanema; c) Cais do Condomínio Novo Leblon (Avenida das Américas); d) Saco da Pedra de Itaúna; e) Parque Zoobotânico de Marapendi; f) Avenida Sernambetiba 11500 (Ex-Concharia); g) Cais do Condomínio Novo Leblon (Avenida de Sernambetiba); h) Mangue degradado do Summer Palace Hotel. Foram determinados 25 táxons infragenéricos, 20 clorófitas, 4 rodófitas e 1 carófita. A área do Saco da Pedra de Itaúna foi a mais rica com 20 táxons a do Summer Palace a mais pobre com

1 Apoio Financeiro Parcial: FAPP-UERJ e CNPq. 2 - Depto. de Biologia Vegetal (DBV), I. de Biologia (IB), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, CEP 20550-013, Rio de Janeiro, RJ; Brasil; pedrini@uerj.,br 3 DBV , IB ,UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524, CEP 20550-013, Rio de Janeiro, RJ. 4 Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, proc. no.802446.1-87).

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10 táxons. Houve uma redução. Os meses de verão e início de outono foram os mais ricos com 21 táxons. Os de inverno foram mais pobres com 8 táxons. Temporalmente e espacialmente as clorófitas superaram em número de táxons as outras divisões estudadas (rodófitas e carófitas). A flora encontrada era essencialmente filamentosa e encontrada emaranhada em outras plantas ou crescendo em pedras. Descritores: Taxonomia, Algas Bentônicas, lagunas costeiras, distribuição temporal e espacial. Abstract (Benthic Algae from Marapendi Lagoon)

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Key words : benthic algae, taxonomy, coastal lagoon, seasonal and temporal distribution, Brazil Introdução O conhecimento taxonômico de algas bentônicas de lagunas hiposalinas do Brasil é restrito (Oliveira Fº, 1977). Há os de trabalhos : a) Coutinho (1982) de composição taxonômica e Coutinho & Seeliger (1984, 1986) de variação sazonal e temporal das algas da Lagoa dos Patos e de Biancamano (1995) de composição taxopnômica da Lagoa de Tramandaí. Pedrini (1980) apontou doze táxons para o século passado à flora lagunar costeira fluminense (cf. Martens, 1866; Moebius, 1889). Neste século,apenas a Lagoa de Itaipu foi estudada [Sá & Carneiro, 1984; Pedrini, De-Paula & Barreto ( no prelo)] que determinaram 66 táxons, (25 clorófitas, 8 feófitas e 33 rodófitas). Para a Lagoa de Marapendi, há apenas três trabalhos de algas bentônicas : a) o de Van den Hoek (1982) que citou Cladophora vagabunda ( L. ) Van den Hoek; b) o de Pedrini & Silveira (1985) que citaram cinco clorófitas e duas rodófita, pertencendo à comunidade epífita em Ruppia maritima L. ; c) o terceiro de Pereira Filho (1990) - estudo preliminar do presente trabalho. Com o litoral brasileiro marcado por inúmeras lagunas costeiras estes trabalhos são exíguos para se conhecer a flora ficológica bentônica brasileira. Assim, o presente trabalho, atende esta demanda. 2. Área Estudada

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A Lagoa de Marapendi, segundo Maia et al.( 1984 ) situa-se

entre as coordenadas dos paralelos 22o 55 00" S e 23o 05 00" S e

pelos meridianos 43o 18 30" W e 43o 32 30". Faz parte do complexo de cinco lagunas da Baixada de Jacarepaguá (Tijuca, Camorim, Jacarepaguá e Lagoinha) e se liga com o mar, via Canal de Marapendi e Laguna da Tijuca; (Carvalheira, 1993), recebendo água doce pelo Canal das Taxas (Fig.1). Segundo Roncarati & Neves ( 1976 ) seu contorno é irregular com a presenca de vários "bolsões" e cúspides ao longo de seu comprimento, criando regiões calmas e rasas, próprias para o desenvolvimento de algas como no Saco de Itaúna (Pedrini & Silveira, 1985). Segundo dados da FEEMA ( 1988 ) seu comprimento é de 10 km por 0,35 km de largura média. A salinidade da água oscilava de 12 a 29 ‰ e a temperatura da água entre 22o e 33o C, segundo Pedrini & Silveira (1985). Estudos da FEEMA (1991) apontam o lançamento de esgostos sanitários orgânicos irregulares na laguna. Dos 108 condomínios situados às margens da laguna, apenas 40 tinham Estação de Tratamento de Esgotos e na maioria da laguna a balneabilidade é inadequada. Carvalheira (1993) constatou estado avançado e progressivo de degradação, mas, ainda com fauna e flora bentônicas. Trabalhos recentes bióticos e abióticos podem ser citados sobre a) as angiospermas marginais (Araujo, 1978); b) os nutrientes da água (Andreatta et al., 1991); c) o ictioplancton (Soares et al., 1991); d) a ictiofauna (Andreatta et al. 1992); e) a macroinfauna (Carvalheira, 1993); f) Carneiro et al. (1994) mediram cerca de 500-700 toneladas de algas secas de Chara hornemanni, cobrindo o solo da laguna. Áreas de coleta (Fig. 1): a) M1: Canal de Marapendi; b) M2 : Marina do Condomínio Nova Ipanema; c) M3 : Cais do Condomínio Novo Leblon ( Avenida das Américas ); d) M4 : Saco da Pedra de Itaúna; e) M5 : Parque Zoobotânico de Marapendi; f) M6 : Avenida Sernambetiba 11.500 ( Ex-Concharia ); g) M7: Cais do Condomínio

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Novo Leblon ( Avenida Sernambetiba ); h) M8: Mangue degradado ao lado do Summer Palace Hotel. . (Colocar Fig. 1 aqui) 3. Material e Métodos A coleta foi manual. O material foi acondicionado em formol a 4 % neutralizado com Bórax e transportado para o laboratório. Algumas amostras foram mantidas vivas, visando análise detalhada do plasto ao microscópio. Para o destaque dos pirenóides foi usado lugol fresco e para as partes vegetativas a anilina. Os cortes foram feitos, manualmente, com auxílio de lâminas de barbear. O material foi herborizado e duplicatas doadas aos herbários do Museu Nacional (R) ou ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB). 4. Resultados 4.1 Táxons encontrados Foram determinados 25 táxons, sendo 4 rodófitas (Compsopogon coeruleus, Catenella caespitosa, Bostrychia radicans e Polysiphonia subtilissima), 20 clorófitas (Enteromorpha sp. E. chaetomorphoides, E. clathrata, E. flexuosa ssp. flexuosa, E. flexuosa ssp. paradoxa, E. lingulata, E. linza, E. prolifera, E. ramulosa, Ulva lactuca, Chaetomorpha linum, C. brachygona, C. minima, C. nodosa, Cladophora coelothrix, Cl. vagabunda, Rhizoclonium africanum, R. tortuosum, Pitophora oedogonia e Spyrogira sp.) e 1 carófita (Chara hornemannii f. longifolia), esta, uma nova referência para o Brasil. Houve predomínio de espécies de clorófitas das ordens Ulvales (40%)

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e Cladophorales (32%), juntas perfazendo a maioria absoluta de táxons da Lagoa. Dentre as rodófitas houve predomínio da ordem Ceramiales (50%). Pode-se notar, então, predomínio total de algas macroscópicas filamentosas (Cladophora e Rhizoclonium) e tubulares (Enteromorpha), emaranhadas entre si ou com angiospermas marginais como Ruppia maritima L. Por estimativa visual, pudemos observar uma alta biomassa de Chara hornemannii f. longifolia, que, ocupando áreas lagunares consideravelmente grandes, proporcionava substrato adequado a fixação de outras espécies filamentosas. Foi observado visualmente uma expressiva biomassa de espécies de Chaetomorpha e Rhizoclonium em enseadas marginais da laguna. Lá o hidrodinamismo e a profundidade eram menores em comparação a áreas de correnteza onde as espécies em questão se apresentaram em tímidas ocorrências. 4.2 Distribuição espacial Espacialmente, três espécies ocorreram em todos os pontos de coleta : Enteromorpha sp., Enteromorpha lingulata e Rhizoclonium tortuosum. (Tab.1). Tabela 1. Distribuição dos táxons da Lagoa de Marapendi, por áreas de coleta

TÁXONS ÁREAS DE COLETA 1 2 3 4 5 6 7 8

Compsopogon coeruleus - - X X X - - - Catenella caespitosa - X - - - - - - Bostrychia radicans X - - X - - - - Polysiphonia subtilissima X X X - - X - X Enteromorpha sp. X X X X X X X X E. chaetomorphoides X X X X X X X - E. clathrata X X X X X X X -

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E. flexuosa ssp. flexuosa X X X X X X - X E. flexuosa ssp. paradoxa X X X - - X - - E. lingulata X X X X X X X X E. linza - - X X - X X - E. prolifera X - X - - X X - E. ramulosa X - X X - - X - Ulva lactuca - - - X - X X - Chaemorpha linum X X X X - X - - C. brachygona X X X X - X X X C. minima X X X X X X X X C. nodosa X X - X X X X X Cladophora coelothrix X X X X X X X - C. vagabunda X X X X X X X - Rhizoclonium africanum - - X X - X X X R. tortuosum X X X X X X X X Pithophora oedogonia X - - X X - - X Spyrogira sp. - - - X X X X X Chara hornemannii f. longifolia

- - - X - X X -

TOTAL 18 15 18 22 12 20 17

10

Legenda: x presença - ausência

Legenda das áreas de coleta: 1 - Canal de Marapendi; 2 - Marina do Condomínio Nova Ipanema; 3 -Cais do Condomínio Novo Leblon (Avenida das Américas); 4. - Saco da Pedra de Itaúna; 5 - Parque Zoobotânico de Marapendi; 6 Avenida Sernambetiba 11.500 ( Ex- Concharia); 7. - Cais do Condomínio Novo Leblon (Avenida Sernambetiba); 8 - Mangue degradado ao lado do Summer Palace Hotel. As espécies com distribuição horizontal mais descontínuas (ausentes em quatro ou cinco áreas de coleta) foram: Compsopogon coeruleus, Catenella caespitosa, Bostrychia radicans, Enteromorpha linza, E. flexuosa ssp. paradoxa, E. prolifera, E. ramulosa, Ulva lactuca, Pitophora oedogonia e Chara hornemanii f. longifolia. A área de coleta mais rica em táxons (21) foi o Saco da Pedra de Itaúna. A

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área mais pobre com 10 táxons em táxons, foi o Mangue degradado do Edifício Summer Palace na Avenida Sernambetiba, este em área exposta à freqüentes ventos, vindos do mar. Ventos que contribuem para conduzir as algas flutuantes para outras áreas da laguna, além de ser também a área mais degradada do presente estudo. Enquanto que na área mais rica as algas viviam em pequenas reentrâncias protegidas de ventos e da correnteza. A Fig. 2 mostra a formação de três grupos de áreas de coleta ao nível da linha A. O grupo I, abrangendo as áreas 1, 2, 3, 4, 6 e 7 que apresentam salinidades similares é também zona de percolação de água do mar (Zee et al., 1990) para a laguna. Este fenômeno foi facilmente observado "in loco" nas áreas 6 e 7 que se situam ao longo do cordão litorâneo da laguna. As áreas 1, 2 e 3 situam-se em regiões expostas à língua de água, vinda pelo Canal de Marapendi e que possibilita a renovação das águas da laguna (cf. Carvalheira, 1993). O grupo II ressalta a área de menor salinidade e ausência de muitos táxons. E o grupo III representa uma área de mangue degradada com o menor número de táxons da laguna. Inclusive com a ausência de espécies de gêneros típicos de macroalgas de manguezais como Bostrychia e Catenella. Como era de se esperar para ambientes estuarinos brasileiros, houve um amplo domínio numérico das clorófitas em relação as demais divisões (Fig. 3), com picos de riqueza de espécies nas estações 4 e 6. Apesar do número de espécies, estas estações apresentaram algumas diferenças específicas que não as tornam as mais similares entre as estações (Fig. 2). As rodófitas tiveram baixa ocorrência na laguna, sendo que as estações 1,2,3 e 4 tiveram assinaladas 2 ocorrências e a única estação a não apresentar rodófitas foi a estação 7.

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Fig.2 : Dendrograma de similaridade dos táxons de algas entre as áreas

de coleta da Laguna de Marapendi, Baixada de Jacarepaguá, Rio de Janeiro.

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1 2 3 4 5 6 7 8

Carófita

Rodófita

Clorófita

0

5

10

15

20Número de táxons

Estações de coleta

Divisões

Fig. 3 : Distribuição espacial das divisões estudadas na Lagoa de Marapendi (1987-1988) 4.3 Distribuição temporal Temporalmente os táxons que ocorreram durante todos os meses de coleta ou quase, isto é, não observadas excepcionalmente no intervalo não consecutivo de um mês foram : Polysiphonia subtilissima, Enteromorpha sp., E. chaetomorphoides, Enteromorpha flexuosa, Chaetomorpha linum, C. brachygona, C. minima, Cladophora coelothrix e C. vagabunda. (Tab. 2).

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Tabela 2. : Distribuição temporal dos táxons da Lagoa de Marapendi, Rio de janeiro,

TÁXONS DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO

SET OUT NOV

Compsopogon coeruleus - - - - x x x - x - x x Catenella caespitosa - - - - - - - - - - x - Bostrychia radicans - - - - - - - - - - - x Polysiphonia subtilissima x x x x x x x x x x x x Enteromorpha sp. x x x x x x x x x x x - E. chaetomorphoides x x x x x x x - x - x - E. clathrata x x x x x x - - - x x x E. flexuosa ssp. flexuosa x x x x x x x x x x x x E.flexuosa ssp. paradoxa x x x x - - - - x - x - E. lingulata x x x x - - - - x - x - E. linza x - - - - x - - - - - - E. prolifera x x - x - - - - - - - - E. ramulosa x - x x x x - - - - - - Ulva lactuca - - - - - x x - - - - - Chaetomorpha linum x - x x x x - x x - x x C. brachygona x x x x x x - x x x x x C. minina x x x x x x - x x x x x C. nodosa x - - x x - - - x x x x Cladophora coelothrix x x x x x x - x x x x x C. vagabunda x x x x x x x x x x x x Rhizoclonium africanun x x x x x - - - - - - - R. tortuosum x x x x x x - x x x - - Pitophora oedogonia - - - x x - - - - x x x Spirogyra sp. - - - - x x x x x x x x Chara hornemannii f. longifolia

x x x x x x - - x - x -

TOTAL 21 17 18 19 21 20 08 11 17 13 18 14 Legenda: x Presença - Ausência

12

12

RJ(1987-1988) Legenda das áreas de coleta: 1 - Canal de Marapendi; 2 - Marina do Condomínio Nova Ipanema; 3 -Cais do Condomínio Novo Leblon (Avenida das Américas); 4. - Saco da Pedra de Itaúna; 5 - Parque Zoobotânico de Marapendi; 6 Avenida Sernambetiba 11.500 ( Ex- Concharia); 7. - Cais do Condomínio Novo Leblon (Avenida Sernambetiba); 8 - Mangue degradado ao lado do Summer Palace Hotel. De dezembro a maio foi a época em que ocorreram os maiores picos de ocorrência de táxons : 21 em dezembro e abril e 20 em maio. Pedrini & Silveira (1985) também encontraram os picos altos de biomassa no verão, especialmente de Cladophora vagabunda. Também foi quando apareceram 50% das rodófitas. Nos meses de inverno (junho e julho) ocorreram as menores incidências (8 em junho e 11 em julho). Dentre as ocorrências mais ocasionais estão as rodófitas Catenella caespitosa (outubro) e Bostrychia radicans (novembro). Observadas em conjunto as clorófitas predominaram ao longo dos doze meses de coleta em relação às divisões rodófitas e carófitas. Apenas, nos meses de inverno e de seca é que pode-se notar uma pobreza geral de algas.

13

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DEZJANFEV MARABR

MAI

JUN JULAGOSET

OUT NOV

Carófita

Rodófita

Clorófita0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Número de táxons

M eses do ano

Divisões

Fig. 4 : Distribuição temporal das divisões estudadas na Lagoa de Marapendi (1987-1988). 4. Discussão 4.1 Composição Específica e Forma de Ocorrência. O predomínio de espécies de Ulvales e Cladophorales (Clorófitas), em lagunas hiposalinas na L. de Marapendi, na dos Patos, (Coutinho, 1982) e na L. de Tramandaí (Biancamano, 1995). Estes padrões de ocorrência, demonstram a capacidade das espécies de clorófitas filamentosas e tubulares em resistir a ambientes de constante variação de salinidade, sendo as principais colonizadoras destes ambientes adversos a espécies mais sensíveis. Yarish e Edward (1982) já haviam evidenciado que as clorófitas seriam, em termos de contribuição ao número de espécies, os organismos mais importantes. A variabilidade morfológica observada na laguna foi marcante nas

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clorófitas (Hoek, 1963; Koeman & Hoek, 1984) e, no Brasil, por Reis (1990-92) As ramificações extensas, intensas e flácidas podem ser causadas pela movimentação fraca da água em locais onde ocorreram, por exemplo, Cladophora vagabunda e Enteromorpha spp. . Estas ocorriam também epífitas sobre Ruppia maritima (Pedrini & Silveira, 1985) , Chara hornemanni f. longifolia ou emaranhadas na vegetação terrestre marginal mormente coberta quando o nível de água da laguna subia . Visualmente percebeu-se grandes massas flutuantes e lanuginosas de talos com dezenas de centímetros em regaços marginais por parte de espécies de Chaetomorpha e Rhizoclonium. Grandes, os fios enroscam-se em substratos consolidados existentes nas reentrâncias das margens lagunares mais protegidas do vento. Assim, plantas entremeadas à outras ou flutuantes em lagunas hiposalinas costeiras já foi verificado por Abott (1947) Conover (1964), Verhoeven (1980) na Europa, Thorne-Miller et al. (1983) nos EUA, para as Ilhas Hawaianas e Coutinho (1992) no Brasil e .Pedrini & Silveira (1985). Dentre as rodófitas predominaram as Ceramiales. O mesmo foi observado por Coutinho (1992) e Biancamano (1995), respectivamente, para as Lagoas de Tramandaí e Patos (Rio Grande do Sul). Entretanto, assim como para Marapendi e as duas Lagoas do Rio Grande do Sul, a contribuição em número de espécies de rodófitas foi muito baixo quando comparada com estudos de lagunas do hemisfério norte como por exemplo Conover (1964) estudando um complexo lagunar no Texas, onde as rodófitas superaram o número de clorófitas, Gonzalez (1969) para o México onde o número de rodófitas é cerca do dobro ao de clorófitas e Mercier (1973) para estudo de um complexo de 4 lagunas francesas, onde a contribuição de rodófitas foi próxima ao de clorófitas.

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4.2. Distribuição espacial. A área de coleta mais rica em táxons (23) foi o Saco da Pedra de Itaúna. Pedrini & Silveira (1985) encontraram sete táxons sobre um banco de Ruppia maritima L. Estes todos foram reencontrados neste trabalho nesta mesma região. A 'pobreza de táxons encontrada na área M8 pode ser explicada pelo lançamento de esgotos in natura na laguna, impedindo um adequado desenvolvimento de algas. Yarish & Edwards (1982), atribuíram uma capacidade ligeiramente menor das rodófitas em relação as feófitas em resistirem e colonizarem ambientes estuarinos. No entanto, na Laguna de Marapendi foram encontradas somente rodófitas e clorófitas. O mesmo foi observado por Thorne-Muiller & Harlin (1984) para a Laguna Ninigret, em Rhode Island, USA. Estas autoras estimaram a produção total anual de Enteromorpha spp. em cerca de 3, 5 toneladas de peso seco. Nos meses de verão, em especial dezembro é que as carófitas ocorrem efusivamente, confirmando os resultados de Pedrini & Silveira (1985). Portanto, a importância destes fatores (ventos, salinidade e presença substrato consolidado) na ocorrência e distribuição espacial das algas é patente, tal como Conover (1964) e Den Hartog ( 1967) mencionaram para o hemisfério norte e Coutinho & Seeliger (1986) assinalaram tabém para a Lagoa dos Patos. No entanto, hipóteses explicativas de distribuições espaciais não podem ser possíveis, sem associar dados abióticos como ventos e salinidade e temperatura da água sobre a flora lagunar. 5. Bibliografia Abott, I. A. 1947. Brackish-Water Algae from the Hawaiian Islands. Pacific Science 1 (4) : 193-214.

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Andreatta, J. V., Barbiéri, L. R. R., Sebília, A. S. C., Silva, M. H. C., Santos, M. A. & Santos, R. P. dos. 1990. Relação dos peixes da Laguna de Marapendi. Atlantica, Rio Grande, 12 (1) : 5-17. Andreatta, J. V., Moraes, L. A. F. & Lima, I. C. de. 1991. Parâmetros hidrológicos da laguna de Marapendi : distribuição e flutuações dos sais nutrientes e alguns aspectos meteorológicos. Acta Biol. Leopol. 1 : 49-64. Araujo, D. S. D. de. 1978. As comunidades vegetais das margens das lagoas da Baixada deJacarepaguá.Cadernos FEEMA, 3 : 1-35. Biancamano, M. I. M 1995. Estudo das Macroalgas na Lagoa de Tramandaí, Rio de Grande do Sul, Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 112 p. Carneiro, M. E. R., Azevedo, C., Ramalho, N. M. & Knoppers, B. A.1994. Biomassa de Chara hornemanii em Relação ao Comportamento Físico-Químico da Lagoa de Piratininga (RJ). An. Acad. bras., . 66,(2) : 213-221. Carvalheira, L. 1993, V. Macroinfauna bentica da Lagoa de Marapendi, Complexo Lagunar de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, Brasil.. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, Instituto de Oceanografia ,171 p + anexos. Conover, V. T. 1964. The Ecology, seasonal periodicity and distribution of benthic plants in some Texas Lagoons. Botanica Marina, 7 : 4-41. Coutinho, R. 1982. Taxonomia, distribuiçäo, crescimento sazonal, reproduçäo e biomassa das algas bentônicas do estuário da Lagoa dos Patos (RS). Dissertaçäo de Mestrado, Fundação Universidade do Rio Grande, 184 p.

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Fig.1 : Mapa mostrando a Baixada de Jacarepaguá, no estado do Rio de Janeiro, Brasil e a laguna de Marapendi com as áreas de coleta (M1- M8)