alfabeto cirílico para iniciantes

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Alfabeto Cirílico para Iniciantes usado em russo, bielorrusso, ucraniano, búlgaro, servo-croata, macedônio, ruteno, mongol, cazaque, uzbeque, tchetcheno, osseto, tchuvache, basquir e romeno (Moldávia) А Б Ц Д Э “А”, igual ao nosso “B”, igual ao nosso “TS”, como em ‘pizza’ (transliterado como C) “D”, igual ao nosso “É”, sempre aberto Ф Г Х И Ж “F”, igual ao nosso “G”, sempre com som duro, nunca como “J” som de “H aspirado”, porém mais forte que em inglês, como o “CH” alemão ou o “J” espanhol “I”, igual ao nosso “J”, igual ao nosso К Л М Н О “K”, sempre som de K “L”, igual ao nosso “M”, igual ao nosso “N”, igual ao nosso “O”, meio-aberto, meio-fechado П Ч Р С Т “P”, igual ao nosso “TCH”, como em ‘tchau’ ou o “CH” espanhol em ‘muchacho’ “R”, igual ao nosso “S”, sempre com som surdo, nunca como “Z” “T”, igual ao nosso У В Ш З OBS.: A ordem alfabética em cirílico não é esta. Usei a ordem tradicional do alfabeto latino para facilitar a memorização. “U”, igual ao nosso “V”, igual ao nosso “SH”, como o nosso “CH” de ‘chave’ ou o “X” de ‘xícara’ “Z”, igual ao nosso VOGAIS E LETRAS QUE REPRESENTAM DITONGOS (PRESENTES NO RUSSO, BÚLGARO, BIELORRUSSO E UCRANIANO) Я “IÁ”, como ‘pia da’ ou no final de ‘Rússia ’, ‘Bulgária ’ e ‘Iugoslávia Ы vogal dura, entre “I” e “”, com “som de soco na barriga” Е em russo, é ditongo “IE”; nas outras, é um “E”, igual ao nosso Й “I curto”, semivogal, como em ‘pai’ ou ‘Niterói’, ou ‘Caio’ Ё “IÔ”, como em ‘io gurte’ Ь sinal brando; marca uma consoante suavizada, em geral no fim das palavras Ю “IÚ”, como em ‘Iugoslávia’ Ъ em russo, sinal duro (não usada); em búlgaro, som do “soco na barriga” 1

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Um pequeno guia sobre o alfabeto cirílico (usado para escrever russo, búlgaro, servo-croata e outras línguas) para falantes de português. Inclui um resumo histórico e tabelas com equivalências de sons e letras (transliteração).

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Page 1: Alfabeto Cirílico para Iniciantes

Alfabeto Cirílico para Iniciantesusado em russo, bielorrusso, ucraniano, búlgaro, servo-croata, macedônio, ruteno, mongol, cazaque, uzbeque, tchetcheno, osseto, tchuvache, basquir e

romeno (Moldávia)

А Б Ц Д Э“А”, igual ao nosso “B”, igual ao nosso “TS”, como em ‘pizza’

(transliterado como C)“D”, igual ao nosso “É”, sempre aberto

Ф Г Х И Ж“F”, igual ao nosso “G”, sempre com som

duro, nunca como “J”

som de “H aspirado”, porém mais forte que em inglês, como

o “CH” alemão ou o “J” espanhol

“I”, igual ao nosso “J”, igual ao nosso

К Л М Н О“K”, sempre som de K “L”, igual ao nosso “M”, igual ao nosso “N”, igual ao nosso “O”, meio-aberto,

meio-fechado

П Ч Р С Т“P”, igual ao nosso “TCH”, como em ‘tchau’ ou o

“CH” espanhol em ‘muchacho’

“R”, igual ao nosso “S”, sempre com som surdo, nunca como “Z”

“T”, igual ao nosso

У В Ш ЗOBS.: A ordem alfabética em cirílico não é esta. Usei a ordem tradicional do alfabeto latino para facilitar a memorização.“U”, igual ao nosso “V”, igual ao nosso “SH”, como o nosso “CH” de

‘chave’ ou o “X” de ‘xícara’“Z”, igual ao nosso

VOGAIS E LETRAS QUE REPRESENTAM DITONGOS(PRESENTES NO RUSSO, BÚLGARO, BIELORRUSSO E UCRANIANO)

Я “IÁ”, como ‘piada’ ou no final de ‘Rússia’, ‘Bulgária’ e ‘Iugoslávia’ Ы vogal dura, entre “I” e “”, com

“som de soco na barriga”

Е em russo, é ditongo “IE”; nas outras, é um “E”, igual ao nosso Й “I curto”, semivogal, como em

‘pai’ ou ‘Niterói’, ou ‘Caio’

Ё “IÔ”, como em ‘iogurte’ Ьsinal brando; marca uma

consoante suavizada, em geral no fim das palavras

Ю “IÚ”, como em ‘Iugoslávia’ Ъ em russo, sinal duro (não usada); em búlgaro, som do “soco na barriga”

CONSOANTES PARTICULARES DE CADA LÍNGUA

Щem russo, é “SHCH”, como no

inglês ‘fresh cheese’; em búlgaro, é “SHT”, como ‘pista’ no carioca Ј “I curto” para as línguas

iugoslavas, como ‘Niterói’, ‘Caio’

Љ “LH” em servo-croata e macedônio, como ‘lhama’ ou ‘melhor’ Њ “NH” em servo-croata, mais

parecido com o “Ñ” espanhol

ДЖ maneira da maioria das línguas para escrever o som “DJ” Џ “DJ” em servo-croata e

macedônio; como “J” em ‘James’

Ђ“DJ afetado”, com língua atrás

dos dentes; como fim de ‘verdade’ pronunciado com afetação Ѓ “DJ afetado” em macedônio

Ћ“TCH afetado”, com língua atrás dos dentes; como fim de ‘chicote’

pronunciado com afetação Ќ “TCH afetado” em macedônio

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Page 2: Alfabeto Cirílico para Iniciantes

С* letra inventada em Montenegro para justificar uma língua própria Ѕ “DZ” macedônio

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Page 3: Alfabeto Cirílico para Iniciantes

TRANSLITERAÇÃO DE ALFABETO CIRÍLICO

Para transliterar nomes em cirílico, dependendo do idioma, seguimos a tabela de correspondência abaixo. Note que as duas últimas colunas são das transliterações em inglês e espanhol – portanto, grafias que NÃO usamos, incluídas apenas como referência. A primeira coluna é como devemos grafar em português.

O português brasileiro adota um padrão intermediário entre a norma estrita de transliteração portuguesa (por exemplo, usando SH em vez de CH; K em vez de sempre C; e acentuando quando necessário) e a norma que repete os padrões para a língua inglesa (TCH em vez de CH, J em vez de ZH; SCH e não SHCH; dispensando acentuação).

Português RUS UCR BIEL BUL MAC SER Inglês EspanholA А А А А А А A AB Б Б Б Б Б Б B BV В В В В В В V V

GAOU/GUEI Г Ґ - Г Г Г G/GH G/GUD Д Д Д Д Д Д D D

E/IE Е Е Е Е Е Е E/YE E/IEJ Ж Ж Ж Ж Ж Ж ZH ZH (ou Y)Z З З З З З З Z ZI И И И И И I II Й Й Й - Ј Ј Y IK К К К К К К K KL Л Л Л Л Л Л L LM М М М М М М M MN Н Н Н Н Н Н N NO О О О О О О O OP П П П П П П P PR Р Р Р Р Р Р R R

S/SS С С С С С С S ST Т Т Т Т Т Т T TU У У У У У У U UF Ф Ф Ф Ф Ф Ф F F

KH Х Х Х Х Х Х KH J/HTS Ц Ц Ц Ц Ц Ц TS TS

TCH Ч Ч Ч Ч Ч Ч CH CHSH Ш Ш Ш Ш Ш Ш SH SH

SCH Щ Щ ШЧ Щ - - SHCH SHCH´ Ъ Ъ Ъ - - - ´ -Î Ы И Ы Ъ - - Y I´ Ь Ь Ь - - - ´ -E Э Э Э - - - EH EIU Ю Ю Ю Ю - - YU IUIA Я Я Я Я - - YA IAIO Ё Ё Ё Ё - - YO IOGH - Г Г - - - GH -DZ - - - - Ѕ - DZ DZDJ - - - - Ѓ Ђ, Џ J Y

TSCH - - - - Ќ Ћ CH CHLH ЛЬ ЛЬ ЛЬ ЛЬ Љ Љ LY LLNH НЬ НЬ НЬ НЬ Њ Њ NY ÑW - Ў - - - - W Ü

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Page 4: Alfabeto Cirílico para Iniciantes

Algumas regras genéricas para além da tabela: o Й final, quando vem logo após um И (ou seja, ИЙ), deve ser reduzido a I,

para não ficar como “IY” o S deve ser dobrado (SS) para fazer o som /s/ quando С vem entre vogais o Г deve ser escrito como GU para fazer o som /g/ antes de Е (E) e И (I) КС deve sempre ser mantido como KS, nunca como “X” (Aleksei, Aleksandr) Os apóstrofos para os sinais duro (Ъ) e brando (Ь) são dispensáveis quando

aparecem ao final de palavras

Algumas grafias recorrentes e como ficam:

Vladimir Lenin Iossif Stalin Liev Davidovitch Trotski Nikita Khruschov Leonid Brejnev Mikhail Gorbatchov Boris Ieltsin Vladímir Putin Dmitri Medvedev Vladímir Jirinovski Fiodor Dostoievski Piotr Ilhitch Tchaikovski Pushkin Dmitri Mendeleiev

Mikhail Lomonossov Serguei Prokofiev Serguei Lavrov Iuri Lujkov Féliks Dzerjinski Vaslav Nijinski Tchernobil Balé Bolshoi Iaroslavl Rua Arbat Nijni-Novgorod Vladivostok Voronej Iujno-Sakhalinsk

Uma exceção na transliteração é o servo-croata (marcado na coluna SER na tabela), que usa simultaneamente os alfabetos latino e cirílico. O idioma é escrito com o latino na Bósnia e na Croácia, e com cirílico na Sérvia e em Montenegro. Existe uma correspondência perfeita entre as duas ortografias. Por isso, nesse caso, não é preciso um padrão de transliteração, já que toda palavra tem grafia nas duas escritas. Usa-se, então, a grafia latina. Mais uma vez, ele consta na tabela apenas como referência.

ATENÇÃO: Transliterar não é a mesma coisa que “aportuguesar”: a palavra continua original; apenas sua grafia que é adaptada à nossa pronúncia. Por exemplo: Moskvá é uma transliteração, mas o aportuguesamento (exônimo) é Moscou. É bom ressaltar que alguns nomes têm exônimos (versão em português), como São Petersburgo (não Sankt Peterburg), Ecaterimburgo (não Yekaterinburg), Volgogrado (não Volgograd), Astracã (não Astrakhan), Tchetchênia (não Tchetchnya).

NORMAS OFICIAIS DE TRANSLITERAÇÃO

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tinha um padrão estabelecido pela NB-102 de 1961, para determinar a transliteração em datilografia. Esta tabela era especialmente desenhada para adaptar-se às limitações das máquinas de escrever, que não aceitavam “caracteres especiais” como os computadores atuais. Em fevereiro de 2006, esta norma foi cancelada sem substituição – isto é, a ABNT não propõe nenhuma atualmente.

Os (poucos) dicionários bilíngües russo-português e português-russo (os da Porto Editora, 2006, da Edições Russki Yazik, 1989, e da Gossudarstvennoe Izdatesl’stvo Inostrannîkh i Natsional’nîkh Slovarei, 1961) são coerentes nesta questão e adotam todos o seguinte padrão nas transliterações e transcrições fonéticas:

IA, IO e IU para transliterar Я, Ё e Ю, respectivamente; nunca “Y” sempre I para transliterar Й (semivogal “i breve”); nunca “Y”

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Page 5: Alfabeto Cirílico para Iniciantes

K para transliterar К, em qualquer situação KH para transliterar Х (“aspirado”) CH para Ш (não SH), TCH para Ч (não CH) e J para Ж (não ZH) SS dobrado para С quando entre vogais sem acentuação tônica

Finalmente, existem padrões estrangeiros de transliteração cirílico-latino (dos quais alguns se supõem internacionais, embora sejam exclusivamente baseados na ortografia inglesa), que examinaremos a seguir.

I. TC (Transliteração Científica ou International Scholarly System)

A transliteração “científica” é baseada na língua servo-croata, que usa os dois alfabetos indistintamente, na correspondência quase perfeita entre cirílico e latino. Ironicamente, foi desenvolvida não por anglófonos, mas pelos alemães da Preußische Instruktionen (a ABNT do II Reich). Ela designa um caractere latino para cada letra cirílica, mas inclui diversos sinais diacríticos e caracteres adaptados, como o 'đ', o 'ć' e todos com o haček ou caron (o "circunflexo invertido"): Č, Ğ, Š, Ř, Ť, Ž.

A transliteração “científica” é plenamente adotada na Itália, tanto pela imprensa quanto por normas acadêmicas. Nenhum outro país a utiliza disseminadamente.

Nos sistemas informatizados em inglês, temos o problema de nossos softwares não reconhecerem a imensa maioria dos diacríticos e adaptados. Assim, a TC perde a utilidade, já que confunde 'd' e 'đ', 's' e 'š', 'z' e 'ž', 'c', 'č' e 'ć'.

Mais detalhes: http://en.wikipedia.org/wiki/Scientific_transliteration

II. ISO 9

O padrão da ISO (Organização Internacional de Padrões) é baseado na TC, mas com algumas adaptações. As principais delas são usar mais acentos, diacríticos e caracteres semelhantes, como Š e Ŝ (o que vários softwares não diferenciam). Ela foi estabelecida pela primeira vez em 1954 e sofreu adaptações em 1968, 1986 e 1995. A versão mais recente da norma é a ISO 9:1995, a primeira feita após o advento da internet e a disseminação da informática, que permitiu a adoção de caracteres antes não disponíveis nas máquinas de escrever.

Com a norma ISO 9, algumas diferenças importantes são abordadas (que outros padrões deixam de fora), como a inexistência do G em ucraniano (assim, o nome do técnico da seleção brasileira de ginástica artística é Oleh Ostapenko) e o K e o G palatalizados do macedônio (Ќ e Ѓ). Mas, de forma geral, sua acentuação é complexa e praticamente impossível de reproduzir na imprensa.

A documentação da ISO 9:1995 pode ser comprada aqui:http://www.iso.ch/iso/en/CatalogueDetailPage.CatalogueDetail?CSNUMBER=3589&COMMID=&scopelist=

Mais detalhes: http://en.wikipedia.org/wiki/ISO_9

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Page 6: Alfabeto Cirílico para Iniciantes

III. GOST 16876-71

O padrão GOST (GOssudarstvennîi STandart) da Agência Nacional de Geodésia e Cartografia da União Soviética foi criado em 1971. Ele é o único sistema de transliteração que não usa diacríticos, apenas dígrafos e trígrafos. É nele que se baseia a esmagadora maioria das transliterações para língua inglesa do russo e das outras línguas faladas na ex-URSS que usavam o cirílico, inclusive as não-eslavas, como cazaque e romeno (moldavo).

O GOST 16876-71 foi adotado primeiro pelo Comecon (bloco econômico socialista) em 1978 e depois pela ONU em 1987, com a forma revisada de 1983. Em 2002, a Rússia abandonou o GOST-71 em favor do ISO-9:1995, rebatizado lá como GOST-2000. Mais tarde, o padrão da ONU também foi modificado, passando a trocar dígrafos por diacríticos (isto é, 'sh' por 'š' etc.).

O problema, para nós, é que os sons propostos não têm nenhuma relação em absoluto com a ortografia portuguesa. Assim, ele propõe o uso do 'j' como semivogal, e o dígrafo 'zh' para o som do nosso /j/. Isso pode levar a inúmeras confusões de grafia e pronúncia, tais quais o nome “Juzhnaja Amеrika” (América do Sul) sendo pronunciado como /juznaja/ quando na verdade é /iújnaia/.

Além disso, também usam 'û' para o som de “iú” e 'â' para o som de “ia”, o que pode levar a ambigüidades e confusões não só nos navegadores, mas em editores do texto online e no próprio Word.

Também segundo esse padrão, o sobrenome de Boris Iéltsin deveria ser escrito “Elcin”.

Mais detalhes: http://en.wikipedia.org/wiki/GOST_16876-71

IV. FOLHA DE S.PAULO

Por último, o jornal Folha de S.Paulo segue um padrão fixo que, embora possa parecer radical, é coerente e coaduna tanto com os dicionários russo-português quanto com a regra do Aurélio. Abaixo está a tabela de referência adotada pelo jornal (que é nosso cliente) e algumas orientações específicas do manual. Note-se que ela vale especificamente para o russo, não para todas as línguas que usam o cirílico.

Russo Inglês Espanhol PortuguêsА A A AБ B B BВ V V VГ G G/GU G/GUД D D D

Е ou Ё ** E/O/YE/YO E/O/IE/IO E/O/IE/IO1

Ж ZH ZH (ou Y) JЗ Z Z ZИ I I IЙ I/Y I I

1 O “Manual da Folha” trata Е e Ё como se fossem a mesma letra como diferenças de acentuação, o que não é verdade: elas são duas letras diferentes (como N e Ñ em espanhol), inclusive organizadas em separado na ordem alfabética e dicionários. O Е russo pode soar como /ie/ quanto tônico e /e/ ou /i/ quando átono, mas o Ё sempre terá som de /io/. O problema é que os russos, no uso cotidiano, não têm o costume de escrever o trema no Ё, o que confunde os estrangeiros. É por isso que o manual afirma que o trema só é usado em livros de alfabetização e para crianças. A imprensa russa, no entanto, obedece à norma correta.

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Page 7: Alfabeto Cirílico para Iniciantes

Russo Inglês Espanhol PortuguêsК K K KЛ L L LМ M M MН N N NО O O OП P P PР R R RС S S S/SSТ T T TУ U U UФ F F FХ KH J/H KHЦ TS TS TSЧ CH CH TCHШ SH SH CHЩ SHCH SHCH SCHЪ - - -Ы Y I IЬ - - -Э E E EЮ YU IU IUЯ YA IA IA

“** Pode soar como E, IE ou IO. Após as consoantes TCH, CH, SCH e J, use sempre E ou O. Após vogais, as demais consoantes, espírito brando ou em posição inicial, use E, IE ou IO. A diferença entre E, IE e IO tem de ser conhecida de antemão. Em textos para iniciantes ou crianças, indica-se que o som é IO com um trema sobre a letra cirílica E.” (contrastar com observação abaixo)

Além desta tabela, o jornal faz as seguintes orientações específicas:

“Translitere segundo a pronúncia aproximada. (...) Acentue os nomes e topônimos de acordo com as normas do português: Púchkin, Ievguêni, Trótski, Lênin; mas Gorbatchov, Khruschov, Gavriil. Se você não tiver certeza sobre a sílaba tônica, não marque nenhum acento.

Quando as transliterações inglesas e espanholas conflitarem e você não tiver acesso ao original russo, passe para o português através do inglês, cuja transliteração é em geral mais uniforme que a espanhola.

Simplifique os sufixos ЫЙ e ИЙ por I. (...) Use GU antes do E e I. Use SS em posição intervocálica. Alguns nomes russos se consagraram por uma outra transliteração.

Respeite: Rachmaninoff, Rostovtzeff. Lembre-se de que muitos topônimos russos chegaram ao português através de outras línguas e não diretamente do russo. Assim, escreve-se Moscou e não Moskva, São Petersburgo e não Sankt Peterburg.

São sempre louváveis os esforços para escrever em português nomes de línguas grafadas em alfabetos não-latinos. Entretanto, o aportuguesamento deve ser feito com muito cuidado e de maneira sistemática, sempre após consulta a especialista.”

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Page 8: Alfabeto Cirílico para Iniciantes

V. Comparação entre os diferentes padrões de transliteração de cirílico

A tabela abaixo faz uma comparação entre os diferentes padrões usando o nome do dirigente soviético "Никита Хрущёв" como exemplo, apresentando em cada norma aplicada (incluindo a forma em português) como ficaria a grafia transliterada e como ela apareceria nas limitações dos softwares norte-americanos:

NORMA RECOMENDAÇÃO GRAFIA SEM ACENTOSTC Nikita Xruščëv Nikita XruscëvISO 9 Nikita Hruŝëv Nikita HrusëvGOST/inglês Nikita Khrushchev Nikita Khrushchevespanhol Nikita Jrushchov Nikita Jrushchovdicionários Nikita Khruschov Nikita KhruschovFolha Nikita Khruschov Nikita KhruschovAurélio Nikita Khrushchov Nikita Khrushchov

A norma que adotamos, então, é a dos dicionários, que costuma coincidir com a da Folha de S.Paulo. Em caso de divergência, adotamos a tabela da pág.3

VI. UM POUCO DE HISTÓRIA

O alfabeto cirílico foi desenvolvido no Império Bizantino, no século IX, para converter os povos eslavos, então pagãos, ao cristianismo. Ao contrário do que muitas vezes se conta, o alfabeto cirílico não foi inventado por São Cirilo. Este monge grego, junto com seu companheiro São Metódio, foi evangelizador dos povos eslavos, que viviam na periferia do império, e passou a vida em mosteiros da Macedônia. Cirilo e Metódio inventaram o alfabeto glagolítico, que usava desenhos complexos e muito diferentes das letras a que os cristãos estavam acostumados. Por isso, era de difícil aprendizagem para os missionários e caiu logo em desuso. Em seu lugar, os discípulos de Cirilo (principalmente um monge chamado Clemente de Ácrida) desenvolveram um novo alfabeto baseado em letras gregas e latinas, e o batizaram em homenagem ao mestre, que já tinha morrido muitos anos antes.

No início, o cirílico era usado apenas para traduzir as escrituras bíblicas e textos eclesiásticos da igreja bizantina, que depois seria a Igreja Ortodoxa (a partir do Grande Cisma com a Igreja Católica, em 1054). Esses textos eram escritos numa língua eslava da região dos mosteiros, entre o norte da Grécia, o sul da Sérvia e o oeste da Bulgária, em torno da Macedônia. Essa língua, mais tarde chamada de “eslavônico” ou “eslavo eclesiástico antigo”, passou a ser usada para converter os demais povos eslavos ao cristianismo, inclusive em terras muito distantes dali, como os russos. Com isso, acabou adotada pelo que viria ser o maior país do mundo: a Rússia.

O Império Russo dos tsares (porque “czar” é uma transliteração incorreta) espalhou o alfabeto cirílico para todos os povos que dominou, inclusive em regiões muito distantes da Ásia, como o Turquestão e a Mongólia. No século XVIII, o tsar Pedro, o Grande, promoveu a primeira reforma do cirílico, eliminando algumas letras redundantes e criando outras, como o Я (desenhada pessoalmente por ele). Mais tarde, na fase do romantismo europeu, outros povos fariam normatizações de seus idiomas e alfabetos, como os sérvios e búlgaros, enquanto buscavam criar identidades nacionais na luta por libertação contra o Império Otomano. A última grande reforma no cirílico russo (e bielorrusso e ucraniano) seria feita em 1924, promovida por Lenin, após a revolução bolchevique.

Nos Bálcãs, em meados do século XIX, lingüistas sérvios e croatas se reuniram para compatibilizar a ortografia dos dois padrões da língua comum entre eles, o servo-croata, escrito em cirílico pelos sérvios (ortodoxos, evangelizados pelos bizantinos

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Page 9: Alfabeto Cirílico para Iniciantes

e submetidos ao Império Otomano) e latino pelos croatas (católicos, evangelizados pelos romanos e submetidos ao Império Austro-Húngaro). Desde então, cada letra da grafia croata em latino corresponde exatamente a uma da grafia sérvia em cirílico. Antes, os turcos tinham anexado toda a região bizantina ao Império Otomano e passaram séculos forçando o uso do alfabeto árabe, inclusive para as línguas eslavas. Por causa disso, usar o alfabeto cirílico para os cristãos tornou-se um símbolo de orgulho e de identidade.

Atualmente, o alfabeto cirílico é usado para escrever todas as línguas eslavas orientais (russo, bielorrusso e ucraniano), além de eslavas meridionais (búlgaro, macedônio e servo-croata, nos padrões da Sérvia, Bósnia e Montenegro) e línguas não-eslavas, como o mongol, o cazaque e o uzbeque (que são línguas túrquicas), mais línguas caucasianas de minorias étnicas da Rússia, como o tchetcheno, o inguche, o osseta, o tchuvache e o basquir. Também é usado parcialmente em línguas que adotam outros alfabetos, como o romeno (escrito em latino na Romênia, mas em cirílico na Moldávia, ex-república soviética) e o persa (chamado de “tadjique” no Tadjiquistão, também ex-parte do Império Russo e da URSS).

Todas essas são línguas de famílias muito diferentes, não apenas eslavas, o que indica a grande maleabilidade do cirílico para representar sons de origens bem distintas. A maioria das línguas eslavas, aliás, utiliza o alfabeto latino, como todas as do grupo de eslavas ocidentais (polonês, tcheco, eslovaco, sorábio) e algumas das eslavas meridionais (esloveno; padrão croata do servo-croata).

Em diversos países, há campanhas para substituir o uso do cirílico pelo alfabeto latino, como ocorre na Bielorrússia (principalmente por grupos direitistas de oposição ao governo, que desejam se distanciar da Rússia e uma maior aproximação com a Europa), na Moldávia (onde o uso do alfabeto cirílico é o que diferencia a suposta “língua nacional” do romeno, falado na vizinha maior Romênia e escrito em latino) e no Uzbequistão. No Tadjiquistão, fundamentalistas islâmicos preferem escrever o idioma local (persa) no alfabeto árabe. Outros países já usaram o cirílico e trocaram para o latino: Azerbaijão (cuja língua é muito próxima do turco, escrito em latino desde 1920) e Turcomenistão.

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