alfabetizaÇÃo e letramento na educaÇÃo...

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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA - AJES ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL TANIA CRISTINA DE CAMPOS ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO VÁRZEA GRANDE/2013 INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA - AJES

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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA - AJES

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

TANIA CRISTINA DE CAMPOS

ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO

VÁRZEA GRANDE/2013

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA - AJES

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ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

TANIA CRISTINA DE CAMPOS

ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO

"Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Educação Infantil."

VÁRZEA GRANDE/2013

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DEDICATÓRIA

Ao eterno e grandioso Deus que nos

permitiu Realizar este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por ter me proporcionado saúde e

sabedoria, para que pudesse concluir mais esta etapa de nossas

vidas.

Aos meus familiares que ao longo deste curso permaneceram ao

meu lado, incentivando com carinho e dedicação.

Aos meus queridos colegas pelo companheirismo e amizade que

nos uniu durante este percurso, que com certeza mudará todas

as nossas vidas.

MUITO OBRIGADO

RESUMO

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A decisão de pesquisar sobre o tema: Alfabetização e Letramento na

Educação Infantil, foi com o intuito de enriquecimento intelectual e principalmente

como cursista do curso de pós-graduação na área de educação infantil, pois este

trabalho tem como requisito parcial deste curso, e acreditando que tal tema servirá

como embasamento para o meu fazer pedagógico enquanto profissional. Foi uma

pesquisa bibliográfica a qual forneceu argumentos necessários para uma reflexão

sobre o tema abordado. E como é de conhecimento de todo ser humano sobre a

importância que tem a leitura perante a sociedade, até porque através dela nós

podemos construir um mundo melhor, pois quem lê exercita o cérebro, cria e recria

história, a leitura é a melhor forma decisões de qualquer processo construtivo em

prol a cidadania.

A reflexão sobre o ensino da leitura na escola é muito importante nos dias de

hoje. Nesta reflexão é primordial analisar os fatores que impedem a formação de

sujeitos leitores para que se possam apresentar caminhos de renovação e

qualificação na prática pedagógica relativa à leitura.

Concluiu-se que a leitura sempre teve e tem um papel social de grande

interferência na sociedade, mas enquanto haver educadores com caráter dominador

o processo educacional será sempre excludente. O trabalho de leitura, na escola,

tem por objetivo levar o aluno à análise e à compreensão das idéias dos autores e

buscar no texto os elementos básicos e os efeitos de sentido. É muito importante

que o leitor se envolva se emocione e adquira uma visão de vários materiais

portadores de mensagens presentes na comunidade em que vive buscando sempre

a democracia.

Portanto, o objetivo deste trabalho monográfico é despertar o interesse dos

indivíduos pelo gosto da leitura.

PALAVRAS-CHAVE: ler, exercício, visão de mundo

SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO...........................................................................................................06

CAPITULO I: A HISTÓRIA DA ESCRITA................................................................07

1.1 – A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA......................................................................10

CAPÍTULO II: A LEITURA COMO VISÃO DE MUNDO...........................................19

CAPITULO III: BUSCANDO UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE..........................28

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................39

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INTRODUÇÃO

O ato de ler e escrever são naturais na criança e está em construção dentro

dela, desde o nascimento.

No decorrer deste trabalho, veremos um pouco da história da escrita, para

que possamos nos situar e para assim compreender os níveis em que a criança

passa a até chegar a essa prática.

Veremos através de análise pedagógica em uma sala da pré-escola da rede

pública na exploração dos temas trabalhos e projetos que o aluno produz seu

próprio texto.

Nos trabalhos realizados notaremos que: a criança procura expressar-se de

sua maneira, utilizando-se do desenho para expressar sua idéia, seus

conhecimentos e em outros casos, como já avançam em relação à construção de

sua escrita.

E é justamente o percurso que a criança faz que está sendo mostrado

quando avançam ao desenharem e tentam escrever, expressando seus

conhecimentos, idéias e pensamentos. Assim, cada produção é o resultado de um

processo em que ocorreu a transformação de um significado em forma.

A organização, as informações contidas nas produções revelam que as

crianças formam imagem mental e têm no pensamento uma forma e conhecimento

de escrita dentro do nível que se enquadra.

A prática pedagógica ajuda na desenvoltura da criança quando se utiliza de

materiais concretos, atividades lúdicas etc, entretanto cada uma segue um caminho

diferenciado, a partir de suas experiências de vida, seus valores, suas próprias

regras de organização mental e seus conhecimentos anteriores sobre a escrita.

No capítulo I trata-se da história da escrita, no capítulo II a leitura como

visão de mundo e no Capítulo III buscando uma educação de qualidade.

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CAPITULO I

1.0 A HISTÓRIA DA ESCRITA

A representação gráfica da linguagem verbal, com caráter visual e estável

faz-se através da escrita.

Para PERSONA (1993), a escrita é uma prática social, o que vale dizer que

ela é uma criação dos homens. O uso que os homens fazem da escrita apresenta-se

diferente em cada época histórica, o que podemos constatar facilmente através das

mudanças que ocorrem na própria escrita, no seu uso e na forma de aprendizado

desse sistema de comunicação. O uso da escrita ocorre de um entrelaçamento de

outras situações, de outras situações, de outras relações, de outras necessidades.

Por esta razão a escrita, enquanto fato social atende a uma necessidade que, por

sua vez, é definida por outros fatos sociais. Assim, houve épocas em que a escrita

era uma prática restrita a determinado grupo, cuja função específica estava

diretamente dependendo do domínio do ler-escrever. Essa limitação da escrita se

tornava necessária.

Na nossa sociedade, a escrita assumiu uma função inteiramente nova: a de ser um sistema de comunicação mais genérico, que é praticado por quase todo o conjunto da sociedade e que tem implicações diretas e indiretas na vida de todos. Por esta razão o ato de ler e escrever deixaram de ser privilégio de poucos e passou a ser de muitas pessoas. (PERSONA, 1993: 32).

Os primeiros sistemas de escrita que representam diretamente a linguagem

oral (sistemas logográficos) aparecem, segundo PERSONA (1993), no IV milênio a.

C. sistemas morfemográficos, cuja invenção se produziu diversas vezes, em

diferentes pontos do mundo em sociedade provida de uma “indústria” relativamente

desenvolvida, um comércio ativo e um Estado organizado, atendendo às

necessidades da civilização urbana.

Para os povos egípcios, segundo PERSONA (1993), (os funcionários das

divindades) incumbidos de receber a administrar rendas vultosas, precisavam de

uma escrita para suas anotações. O instrumento da escrita substitui a memória e

tanto como a leitura era especialmente de um pequeno grupo na sociedade educado

para esse fim.

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Hoje, segundo PERSONA (1993), a escrita está presente no nosso

cotidiano de forma global, onde todos dependem de algo escrito. E a escola é

responsável pelo processo de aquisição da leitura e da escrita.

O que somos hoje, depende daquilo que fomos no passado e o que seremos

amanhã, depende da análise crítica que fazemos hoje do nosso passado e para se

ter conhecimentos e usufruir da riqueza histórica construída pelos homens de todos

os tempos é preciso a prática da leitura e da escrita.

Para KATO (1994:74), “a história da escrita pode ser caracterizada como

tendo três fases distintas: a pictórica, a ideográfica e a alfabética.”

A fase alfabética se caracteriza pelo uso de letras. Estas tiveram sua origem

nos ideogramas, mas perderam o valor ideográfico, assumindo uma nova função de

escrita: a representação puramente fonográfica. O ideograma perdeu seu valor

pictórico e passou a ser simplesmente uma representação fonética.

(CAGLIARI,1989: 64-65).

Para CAGLIARI (1989:109), antes que o alfabeto tomasse a forma que

conhecemos atualmente, passou por inúmeras transformações. Primeiro surgiram os

silabários, que consistiam num conjunto de sinais específicos para representar as

sílabas.

Seja qual for à escrita, segundo CAGLIARI (1989), pictória, ideográfica,

alfabética, sempre foi uma maneira de representar a memória coletiva, religiosa,

mágica, cientifica, política, artística e cultural. Depois da invenção da escrita e da

imprensa mais se firmou e se consolidou a história da humanidade.

A escrita tem como objetivo primeiro permitir a leitura. A leitura, segundo

CAGLIARI (1989), é uma interpretação da escrita que consiste em traduzir os

símbolos escritos em fala. Ler é um ato lingüístico diferente da produção espontânea

da fala sobre um assunto qualquer.

LUCKESI (1996: 4), diz,

não podemos entender o processo de leitura como um simples ato de decodificar num processo mecanicista comandado por estimulo e respostas. Pois assim a leitura seria apenas um soletrar enfadonho de sílabas e palavras, sem ligação alguma com a realidade, nem tão pouco podemos entender a leitura como a sonorização de frases soltas, desconexas e fora do contexto real onde elas têm origem.

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Ao contrario de tudo isso, a leitura é um ato simples natural, inteligente,

reflexivo e característico do ser humano, porque a leitura nada mais é que um ato de

compreensão do mundo, da realidade que nos cerca e em meio a qual vivemos.

"A leitura é um exercício constante, reflexivo, critico da capacidade que nos

é inerente de ouvir e entender que nos a realidade que nos acerca e da qual

também somos parte integrante.” (LUCKESI, 1996:122).

A leitura, segundo LUCKESI (1996), exerce um papel fundamental na vida

das pessoas, porque tudo ao nosso redor se traduz por atos de leitura, no uso do

código escrito à leitura é um ato de reflexão continua. Ao ler estamos fazendo uso

da língua numa de sua modalidade e aprendendo em que circunstância vai usar

esse saber em nosso proposto. Através da leitura reflexiva se processa a leitura do

mundo registrado na escrita e se incorporam as idéias, segundo as experiências e o

conhecimento do leitor. A leitura não é meramente descobrir a relação de letras/

sons, mas envolve uma programação de fala, o de sentir o texto de modo que

consiga ritmo, acento, entonação própria.

Ler não é decifrar o sentido de um texto. É a partir do texto, segundo

LAJOLO (1993), ser capaz de atribuir-lhe significação.

O desempenho da leitura é resultado de uma ação consciente e continua do

ser humano, voltada para a compreensão dos referenciais do mundo inscritos em

diferentes tipos de textos.

ZIELAK (1992), nos relata que

a aprendizagem da leitura e escrita constitui-se num complexo sistema funcional nada atraente para a criança uma vez que resolve tudo facilmente com o uso da fala, leitura e escrita não são funções isoladas, mas integradas num único conjunto, ligado ao desenvolvimento infantil. Quando a criança aprender a escrever terá que se desligar do aspecto sensorial da fala e substituir palavras por imagem de palavras. A fala oral é representação sonora do pensamento, enquanto que a escrita é a representação simbólica das palavras. (p.32).

Neste sentido, a escrita é um processo no qual estão envolvidos

basicamente aspectos cognitivos. É pensando sobre o que a escrita representa e

como ela se estrutura que a criança constrói esse sistema, é o que abordaremos no

item a seguir, deste trabalho.

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1.1 A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA

A teoria de Piaget permitiu às autoras FERREIRO e TEBEROSKY (1986

p.26), identificar o sujeito que aprende como sujeito cognocente, aquele que busca

adquirir conhecimento, isto é, “o que procura ativamente compreender o mundo que

o rodeia, e trata de resolver as interrogações que este mundo provoca”.

Também da teoria de PIAGET, as autoras retiraram a noção de assimilação,

isto é, o objeto do conhecimento não atua diretamente no sujeito, mas é

transformado pelos seus sistemas assimiladores. Neste ato de transformação, o

sujeito interpreta o objeto e é somente em conseqüência dessa interpretação que a

conduta do sujeito se faz compreensível. (FERREIRO e TEBEROSKY, 1986, p. 27).

Quando FERREIRO (1986), procurou compreender o desenvolvimento da

leitura e da escrita do ponto de vista dos processos de apropriação do objeto

socialmente constituído, investigou seus modos de organização, encontrando uma

série de representações que precedem a representação alfabética da linguagem e

que obedecia a certa ordem. Essas representações manifestavam-se em vários

níveis, partindo dos modos de representação que não identificam o som com a

escrita.

Para FERREIRO e TEBEROSKY (1986, p. 10), cada um destes níveis

caracteriza-se por formas de concepção que atua na mesma maneira que qualquer esquema assimilador, absorvendo a informação dada, deixando de lado parte da informação disponível, mas não assimilável e introduzindo sempre um elemento interpretativo próprio. O resultado são construções originais, tão estranhas ao nosso modo “alfabetizado” de ver a escrita, que parecem caóticas a primeira vista.

O desenvolvimento da escrita ocorre em um ambiente social. As

informações sobre a escrita retiradas das práticas sociais não são recebidas

passivamente pelas crianças. Ao tentar compreendê-las, elas se transformam. O

que surge no centro destas interpretações são os conflitos que, ao serem

superados, levam à evolução da escrita. Esse conceito retoma Piaget quando este

diz que a principal razão para a elaboração dos sistemas novos e mais coerentes é

na verdade a necessidade de superar contradições. (p.66,67).

Para ZIELAK (1992, pg.19), quando a criança pequena inicia seus traços,

rabiscos, garatujas e desenhos, começa a exercitar e usar a sua escrita. A escrita

em seu aspecto social cumpre funções sociais e tem meios concretos de existência.

Portanto, não é um produto escolar simplesmente, mas sim um objeto cultural.

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FERREIRO e TEBEROSKY (1986), demonstraram que a leitura e a escrita,

como objetos culturais do conhecimento, são adquiridos por um processo de

autoconstrução no confronto e interação da criança com o meio. Comprovaram que

os vários métodos e estratégias com vistas a favorecer a compreensão e o domínio

da leitura pela escrita, assim como os testes de maturidade, listas de habilidades

motoras e perceptivas – temporais não são suficiente para atingir o êxito desejado

no processo de leitura e da escrita.

Para as autoras, as crianças que estão crescendo em um ambiente, onde a

língua escrita se lê e se escreve não apenas como atos muito especiais, mas como

parte da vida diária, onde são estimuladas a manusear livros, onde se permite

escrever e desenhar, estas crianças adquirem muitas informações sobre a língua

escrita. Geralmente fazem por contra própria uma boa parte do caminho da

alfabetização. Se ao contrário a criança não tem contato com a língua escrita, se ao

redor não há pessoas que possam ler e escrever, é muito difícil que chegue a escola

sabendo o que dizer e entendendo o que quer dizer escrever.

E esse saber ler e entender escrever é mais fácil de ser executado pela

criança, principalmente se não tem contato com a língua escrita em seu convívio,

porque essa representação simbólica das palavras exige da criança habilidade

cognitiva, psicológica e motora. Diz ZIELAK (1992 p. 55),

para a criança a utilização da escrita é algo novo e estranho, sem atrativo para ela. Na fala há um locutor e uma mensagem dirigida a alguém ausente ou imaginário. Assim, a criança não vê necessidade e seu uso porque seus anseios imediatos ela resolve quando fala. Não consegue ver o mesmo com a escrita.

Os motivos para a escrita não são livres, cômodos e fáceis, porque exigem

da criança uma participação ativa com todos os seus processos intelectualizados

abstratos e ainda mais distante das necessidades imediatas do próprio cotidiano.

Algumas crianças, desde muito cedo, convivem com situações de uso da

escrita, vêem os pais lerem jornais, notam como eles procuram o número de um

telefone no catálogo, observam o irmão maior rir com a piada que leu na revista etc.

Estas vivências vão dando a elas valiosas informações sobre os usos e funções que

a escrita desempenha na nossa cultura.

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Não são todas as crianças, como as referidas acima, que convivem com

estas situações de escrita. Isto faz com que desde o primeiro dia de aula existem

diferenças marcantes entre os alunos de uma mesma sala.

Os conhecimentos em relação à escrita adquiridos pelas crianças de classe

média, são bem diferentes das adquiridas pelas crianças que nunca tiveram livros ou

revistas e que assistiram a bem poucos atos de leitura e de escrita. Isso

independentemente da sua língua ou região. E de acordo com a vivência de cada

um é que se inicia o processo de construção do conhecimento para aquisição da

escrita.

De acordo com FERREIRO e TEBEROSKY, (1986), a aquisição de língua

escrita se inicia quando as crianças começam, a diferenciar o que traçam no papel

quando desejam desenhar e quando desejam escrever”. Com esta diferenciação

elas demonstram perceber a existência de duas formas independentemente de

registrar suas idéias ou sentimento: o desenho e a escrita.

Neste momento, já começam a escrever mesmo que só produzam garatujas.

Após uma série de explorações, segundo FERREIRO e TEBEROSKY,

(1986), as crianças chegam a seguinte conclusão: não é o tipo de linha que nos

permite distinguir entre um desenho e uma outra coisa escrita. Na verdade

produzimos os dois, através de linhas retas, curvas, ou de pontos. Com o mesmo

tipo de linha podemos desenhar e escrever. A diferença está na organização das

linhas. Quando desenhamos, as linhas são organizadas, seguindo os contornos do

objeto; na escrita, as mesmas linhas não acompanham os contornos dos objetos.

As crianças continuam a desenvolver a idéia de escrita quando estabelecem

que para escrever existe a necessidade de uma quantidade mínima de letras e que

estas não podem ser repetidas. Elas mantêm estas características mesmo quando

usam letras inventadas.

Para FERREIRO E TEBEROSKY (1986: 122)

uma nova e fundamental descoberta marca o caminho do aprender a ler e escrever quando as crianças compreendem a relação que existe entre a escrita e a sonoridade da linguagem. Elas percebem que há uma relação entre o que se fala e o que se escreve.

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Quando fazem esta descoberta, as crianças geralmente pensam que cada

letra representa uma sílaba. Assim, imaginam que para escrever sapato são

necessárias três letras, pois sabem que falam sapato em três etapas: sa-pa-to.

Quando pensam e escrita destra forma, segundo FERREIRO E

TEBEROSKY (1986), passam a observar que as palavras que têm som parecido

também são escritas de modo parecido. Escrevendo uma letra para cada sílaba, as

crianças encontram dificuldades quando tentam ler o que escrevem ou quando

percebem como é difícil para os outros ler a sua escrita.

Neste momento, compara a sua escrita com as outras e percebem que

devem colocar mais letras no que escrevem. Vão estabelecendo relações a sua

escrita e a dos outros, assim vão sucessivamente, modificando a sua escrita até que

ela possa ser lida e entendida por todos. (In; REVISTA para ler e escrever, 1997:24-

25).

Para escrever, segundo FERREIRO E TEBEROSKY (1986), a criança

deverá ser capaz de traçar letras, unindo-as de modo a formarem silabas e palavras.

Para que isso ocorra é necessário que a criança já tenha um razoável treino de

modo a ter desenvolvido um bom controle motor, além de uma relativa fluência

motora que lhe permita a utilização adequada no papel no ato de escrever.

Conforme já explicitamos na concepção de FERREIRO E TEBEROSKY

(1986), a criança cem sua evolução na escrita passa por quatro grandes níveis que

são: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.

KATO (1994), a escrita de crianças que se encontram no nível pré-silábico,

nível 1, não apresentam nenhum tipo de correspondência entre grafia e som.

O nível pré-silábico, segundo KATO (1994), se caracteriza pela caminhada

em dois grandes trilhos paralelos, um deles é o do reconhecimento de que letras

desempenham um papel na escrita, e o outro é o da compreensão ampla da

vinculação do discurso oral com o texto escrito. No nível pré-silábico, as lingüísticas

(letras, palavras, frase, texto) não são claramente definidas.

Uma criança no nível pré-silábico, segundo KATO (1994), não pode ser

conduzida à análise silábica, por que sendo incapaz de compreendê-las, perde a

lógica do ensino julgando que na escola não se trata de compreender as lições, mas

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de adivinhar o que o professor quer ensinar. Ferreiro divide esse nível em

categorias: A, B, C, e D.

A categoria A, segundo KATO (1994), compreende as subcategorias:

grafismo primitivo, escrita unigráfica e grafia sem controle de quantidade. O grafismo

primitivo se caracteriza pelo predomínio de rabiscos e pseudoletras. A utilização de

grafias convencionais é um intento para criança. Desenvolvem procedimentos para

diferenciarem escritas.

Nas escritas unigráficas, segundo KATO (1994), aparecem as utilizações

de uma só grafia para cada nome (quantidade de controle).

Pode a mesma grafia ou uma diferente.

Escritas sem controle de quantidade apresentam o que CLAY (1975), chama

de “principio recorrente” já que é a repetição de uma mesma grafia, até alcançar o

limite da folha de papel. Este tipo de grafia não diferencia as palavras pela

quantidade.

Na categoria B, segundo KATO (1994), aparece a “escrita fixa”, que

predomina grafias convencionais e também um controle quanto à quantidade de

grafias: nem uma só, nem um número indeterminado, consistindo em uma mesma

série de letras, numa mesma ordem, que são usadas para representar diferentes

palavras.

Escritas diferenciadas da categoria C, segundo KATO (1994), predomina

grafias convencionais, assim como sua utilização em uma quantidade controlada,

permitindo uma facilidade de manejo.

As escritas diferenciadas, segundo KATO (1994), contêm as seguintes

categorias:

� Repertório fixo com quantidade variável - trata-se de uma mínima diferenciação

com quantidade fixa. Algumas servem para diferenciar;

� Quantidade constante com repertório variável – trata-se de uma mínima

diferenciação com quantidade fixa. Algumas servem para diferenciar;

� Quantidade constante com repertório variável – apresenta quantidade constante

para todas as escritas, com diferenciação quantitativa, as letras mudam de uma

grafia para outra, ou mudam a ordem;

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� Quantidade variável e repertório variável – expressam máxima diferenciação

controlada para diferenciar uma escrita de outra.

A categoria D aparece escritas diferenciadas com valor sonoro igual, com

presença de letras que tenham a ver com a sonoridade da palavra. A construção

está determinada por uma intenção de correspondência sonora, porém cada letra

que inicia tem a ver com o valor sonoro da primeira sílaba da palavra. (FERREIRO,

1989, p.55-57).

O nível silábico é a atenção às atividades sonoras do significante que marca

neste período a fonetização da escrita (descoberta dos sons da fala), que se inicia

com um período silábico e culmina no período alfabético. A criança chega à hipótese

de que a escrita representa a fala. (FERREIRO, 1989).

É o momento em que a criança faz a correspondência da escrita com fala,

sendo a fase mais importante da alfabetização.

A criança começa por descobrir que as partes da escrita (suas letras) podem

corresponder a outras partes de palavras escritas (suas sílabas).

No nível silábico, segundo FERREIRO (1989), a criança formula a hipótese

de que cada letra ou sinal vale por uma sílaba. Num primeiro momento as grafias

são diferenciadas sem que as letras tenham seu valor sonoro convencional.

Num grau de evolução maior, segundo FERREIRO (1989), as crianças

empregam nas suas grafias, vogais e até consoantes tendo já o seu valor

convencional.

Ex: PMCH= boneca

BONB= bola

Essa hipótese silábica é importante, segundo FERREIRO (1989), por duas

razoes:

1. Permite obter um critério geral para regular as variações na quantidade das letras

que devem ser escritas;

2. centra a atenção da criança nas variações sonoras entre as palavras.

Contradição – monossílaba, segundo FERREIRO (1989), deveria ser escrita

com uma única letra, mas assim o escrito poderia ser lido.

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Conflito presente na criança – as escritas dos adultos, para FERREIRO

(1989), possuem mais letras do que a hipótese silábica permite.

Ex: E= pé

O – A – bola

A – A – casa

0 – E – O – cobertor.

segundo FERREIRO (1989), não significa capacidade da criança para

corresponder e assimilar sílaba. Ela percebe silaba no oral e na escrita.As crianças

no nível silábico não avançam trabalhando possivelmente com cartilha (famílias

silábicas). Elas só evoluem através de jogos com alfabeto e sílabas móveis, que lhes

permitem construir e comparar palavras e sílabas, onde separa palavras e outras

atividades específicas para este nível.

Para a criança passar do nível silábico para o nível silábico-alfabético, é

imprescindível que ela descubra a construção de sílaba. Isso lhe será possibilitado

nos jogos com o alfabeto móvel.

O nível silábico-alfabético, para FERREIRO (1989), é o período que marca a

transição entre os esquemas prévios em via de ser abandonados (hipótese silábico)

e os esquemas futuros em vias de ser construídos. A criança descobre que a sílaba

não pode ser considerada com uma unidade, mas que ela é por sua vez composta

de elementos menores.

Neste nível, segundo FERREIRO (1989), a criança enfrentará então novos

problemas:

� Quantitativo – não basta uma letra por sílaba, mas também não se pode

estabelecer nenhuma regularidade, duplicando a quantidade de letras por

sílabas, já que há silabas com uma, duas, três ou mais letras;

� Qualitativo – Enfrentará os problemas ortográficos – a identidade do som não

garante a identidade das letras, nem a identidade de letras a de som.

Mesmo som – várias letras. Ex: xícara, chinelo, selo, cedo.Essa fase pode

caracterizar a omissão de letras pela criança, mas na verdade a criança está

acrescentando à sua escrita da fase anterior (silábica), nessa fase é muito

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importante o trabalho do professor com letras e sílabas móveis nos jogos e

atividades.

Exemplos:

FUTEBO= futebol

GACAE= jacaré

ELEVIZÃO= televisão (p.27 e 28).

O nível alfabético, segundo FERREIRO (1989), pode-se considerar que o

aluno atingiu a compreensão do sistema de representação da linguagem escrita. Ele

percebe que a palavra é constituída de subconjuntos de letras que são as sílabas.

O aluno já é capaz de fazer a análise sonora dos fonemas das palavras,

porque descobre que cada letra corresponde a valores menores que a sílaba. Não

significando que todas as dificuldades estejam vencidas. A partir daí, surgirão os

problemas relativos à ortografia que serão trabalhados e tratados no período pós-

alfabetização, quando será enfatizada a construção da base ortográfica.

Para FERREIRO (1989), nesse nível a criança já venceu todos os

obstáculos conceituais para a compreensão da escrita correspondente a valores

sonoros menores que a sílaba, e realiza sistematicamente uma análise dos fonemas

das palavras que vai escrever.

A passagem por esses níveis é feita pela criança de forma natural.

Entretanto, segundo FERREIRO (1989), a evolução na escrita dependerá dos

estímulos e oportunidades que lhes serão oferecidos. Por isso não exige

correspondência prefixada. Idade – Níveis de Escrita – Série Escolar.

Para Yetta M. Goodman (1995:32), assim como qualquer outro, o nível

alfabético é o ponto final da evolução anterior e, ao mesmo tempo, o ponto de

partida de novos desenvolvimentos.

Quando falamos dos níveis evolutivos da criança, temos que compreender

que para a criança chegar ao nível alfabético ela passa por etapas que é um

processo longo, e é na atividade de linguagem que acontece entre criança e o meio

em que vive que ela, aos poucos dá sentido ao que os outros querem significar

quando falam, escrevem, dramatizam e representam através da música, artes

plásticas, danças, jogos.

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A passagem destes níveis, segundo Yetta M. Goodman (1995), é um

processo natural e não pode ser precipitado pelos pais ou mestres, do contrário à

evolução destes níveis se deve dar por estímulos por parte dos educadores de uma

forma natural e prazerosa.

Quando se dá condição de recursos à criança ela, segundo Yetta M.

Goodman (1995), avança cada vez mais nos seus níveis de conceituação e

construção da leitura e escrita dentro de suas respectivas possibilidades. É

fundamentalmente importante que o professor tenha clareza dos níveis que uma

criança passa até ser considerada alfabetizada, pois a compreensão desse processo

só ajudará na aprendizagem e construção do próprio conhecimento da criança, por

esta razão não existe correspondência prefixada – idade – níveis de escrita – série

escolar.

É o que procurarei abordar no próximo item deste trabalho como se deu a

construção da língua escrita nas crianças da pré-escola em sala de aula da rede

pública.

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Page 20: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTILbiblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130830110026.pdfA escrita tem como objetivo primeiro permitir a leitura. A leitura,

CAPÍTULO II

2.0 A LEITURA COMO VISÃO DE MUNDO

Este tem por objetivo esclarecer que ler não é apenas passar os olhos por

algo escrito, nem fazer a versão oral descritos, mas garantir ao indivíduo um espaço

na sociedade para a interação sistemática com a informação veiculada

cotidianamente, contribuindo para a formação de cidadãos críticos na construção e

reconstrução de novos conhecimentos, fazendo com que o indivíduo perceba-se

como ser histórico social.

A leitura estabelece parâmetros amplos propiciando relações entre o

desenvolvimento do raciocínio lógico e envolvendo momentos de aprendizagem de

forma prazerosa. Percorrendo pelos percursos do hábito da leitura o aluno terá uma

compreensão de mundo mais profundo e enriquecido nas diversas áreas do

conhecimento como da compreensão da escrita, de números, das operações, das

medidas, das formas, dos tamanhos, da história, da geografia, português, e de tudo

que se relaciona com o conhecimento, à leitura está presente, além do senso crítico

adquirido pela compreensão da leitura.

Lê-se para entender o mundo, para viver melhor. Em nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção de mundo e de vida, mais intensamente se lê, numa espiral quase sem fim, que pode e deve começar na escola, mas não pode encerrar-se nela. Do mundo da leitura para a leitura de mundo, o trajeto se cumpre sempre, refazendo-se inclusive, por um vive-versa que transforma a leitura em prática circular e infinita. Como fonte de prazer e de sabedoria, a leitura não esgota seu poder de sedução nos estreitos limites da escola. (LAJOLO, 1997, p. 119).

A leitura, segundo LAJOLO (1997), é uma atividade vital para a vida do

indivíduo, e desde criança é necessário incentivar a leitura no seu dia-a-dia,

passando a fazer parte do seu processo de desenvolvimento, estabelecendo

relações entre o raciocínio lógico e envolvendo momentos de prazer.

Portanto o processo de construção da escrita e da leitura no sentido escrito

é um processo inicial de aquisição das habilidades básicas de leitura e escrita -

sentido lato-processo que busca o domínio da linguagem escrita e suas variações,

levando à construção de um escritor e leitor dos mais variados, ricos e criativos

textos. A alfabetização, em seu sentido estrito, segundo LAJOLO (1997), conta com

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as seguintes fases: a fase da garatuja, pré-silábica, silábica, silábico-alfabética,

alfabético-ortográfica.

No processo de construção da escrita, segundo LAJOLO (1997), o grupo

tem papel fundamental ele possibilita levantamento e verificação de hipóteses e,

portanto, avanços significativos.

Na construção da base alfabética, segundo LAJOLO (1997), o contato com a

narrativa, por exemplo, é imprescindível. Mesmo inconscientemente, a criança

interioriza os elementos da narrativa (narrador, personagem, ação - conflito e

desfecho-espaço e tempo) e esta é a base para a construção de suas próprias

histórias. Através desse contato constante e intenso, a criança passa a ter a chance

de ser sujeito da narração, descrição e até da dissertação (se o discurso

argumentativo não aparece na narrativa, pode surgir em um debate posterior sobre

as atitudes das personagens, o desfecho da história etc.). A narração, a descrição e,

sobretudo, a dissertação continua sendo objeto de estudo.

A linguagem oral, para LAJOLO (1997), é uma forma de linguagem mais

coloquial e informal (e, nem por isso, menos importante), que supõe a presença de

um interlocutor, que tem o apoio de elementos rítmicos, de entoação e expressivos

(expressão facial, gestos, movimento do corpo etc.), além de um contexto imediato.

O adulto lê para a criança textos variados, que estimulam a fantasia e a

criatividade. São diversas formas de estimular e desafiar a criança para a leitura pelo

educador (a leitura pelo professor na roda e depois a discussão pelo grupo; a

construção de um ambiente agradável e facilitador da leitura; a leitura de bilhete aos

pais pelo educador ou de uma notícia de jornal, informando sobre algo discutido em

classe; criação da hora e do espaço da leitura etc.) Como estratégia de leitura, cabe

ao educador abrir em sua rotina com o grupo a hora e o espaço para as atividades

de leitura. No estímulo para a leitura pelo professor, a afetividade tem papel

importantíssimo.

Educador que lê, revelando o seu gosto pela leitura, facilita o laço afetivo

entre o novo leitor e o texto. O contato, afetivo e próximo do educador, com as

crianças, nestes momentos de leitura, LAJOLO (1997), amplia a possibilidade de se

vislumbrar o nascimento de um leitor sensível e apaixonado.

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O ato de ler, para LAJOLO (1997), não se esgota na simples decifração de

códigos, mas, ao contrário, inicia-se com esse fenômeno e alcança múltiplas

dimensões de significado. E diversos são os fatores que determinam tal significação,

já que é o sujeito-leitor, considerando a sua historicidade, o seu imaginário e as

circunstâncias de enunciação, quem irá significar o texto. Toda leitura apresenta-se

como uma estrutura possível, aberta às inúmeras possibilidades de atribuição de

sentidos. Isso revela a complexidade do ato de ler, distanciando-o das

caracterizações reducionistas.

O processo de ler pressupõe o ato de compreender, que envolve diversos

mecanismos cognitivos para que se alcance a constituição do sentido do texto.

Este trabalho busca um novo olhar sobre a leitura, em seus múltiplos

aspectos, e sobre a prática da leitura na escola. A presente pesquisa propõe-se a

representar um projeto que reflete e redimensiona a prática do ensino de leitura em

diversas áreas do conhecimento, já que a preocupação com o ensino da leitura e da

escrita é um compromisso de todas as áreas. E mais que ensinar o maior objetivo de

todo profissional da educação deve ser despertar o aluno para o prazer de ler e de

buscar gratuitamente o conhecimento, transformando a leitura num momento de

fruição do 'sabor' do texto, pois só assim se estará ensinando o aluno à 'pescar',

porque conforme afirma o provérbio chinês: "Se deres um peixe a um homem, ele se

alimentará por um dia, mas se o ensinares a pescar, ele se alimentará sempre".

É preciso recuperar esse prazer na escola. E, para que isso ocorra, faz-se

necessário trazer para dentro da escola as histórias de leitura de cada leitor, não no

sentido de tomar mero conhecimento de sua existência, mas sim no sentido de

resgatá-las com seu valor imprescindível de ponto de partida para todo o trabalho

pedagógico que será desenvolvido daquele momento em diante. “Temos de

respeitar os níveis de compreensão que os educadores acreditam - não importa

quem sejam - estes terão a sua própria realidade”. (FREIRE, 2001, p.27).

Tenho certeza de que a leitura não é comparável a nenhum outro meio de

aprendizagem e de comunicação, porque ela tem um ritmo que é governado pela

vontade do leitor; a leitura abre espaços de interrogação, de meditação e de exame

crítico, isto é, de liberdade; a leitura é uma correspondência não só com o livro, mas

também com o nosso mundo interior através do mundo que o livro nos abre.

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Essa predisposição para uma determinada leitura, se bem investida, pode

ampliar-se no sentido de solidificar o prazer de ler e fomentar o desejo da busca

constante de outras leituras. Neste sentido, e já que a literatura apresenta-se como

objetos fundamentais numa pesquisa sobre histórias de leitura, surgem os

questionamentos: o que é literatura? Que textos podem considerar como literários?

Tais inquietações são constantes entre profissionais, especialistas e leitores em

geral e só encontram repostas provisórias, restando à única certeza de que a visão

sobre esse assunto modifica-se ao longo do tempo. Portanto, compartilhando do

pensamento de LAJOLO (2001), conceituar literatura corresponde a ser parcial em

uma definição. "A literatura hoje ganhou cara nova e os critérios utilizados para a

classificação de um texto em literário ou não-literário também se tornaram mais

diferenciados ao longo do tempo.” (p. 9).

Destacam-se alguns aspectos históricos que posicionam o progresso e o

avanço da leitura, discute-se a importância da família e da escola neste processo.

Enfatizam-se os caminhos e reflexões sobre o despertar do gosto pela leitura.

Proporcionam-se gestões de caminhos percorridos pela comunidade escolar para

que possa provocar no sujeito reflexões, transformações, interpretações, fazendo da

leitura um ato de construção de conhecimento, um processo de descobrimento,

criação e recriação de novos conhecimentos, oportunizando que esse ocorra através

da interação com meio.

Um trabalho de leitura e de formação de leitores, segundo LAJOLO (2001)

precisa abordar tipos de textos, pois o mundo está em mudança constante, e é

preciso acompanhar tal mudança de acordo com a tecnologia. No âmbito escolar

percebemos que os alunos cada vez mais se afastam e desinteressam pela leitura,

onde é aí que entra o questionamento da prática pedagógica, o ensino e o incentivo

da leitura em sala de as propostas de ação que podem levar as crianças a se

tornarem competentes. "Investir na formação de leitores é uma tarefa urgente".

É preciso apostar que é possível ir muito além da alfabetização e que

sujeitos leitores são capazes de olhar reflexivamente a realidade à sua volta, e de

fazer a opção de mudá-la de alguma forma.

A escola, LAJOLO (2001) precisa ser entendida como um lugar de

experimentação de sentidos e não de descontextualização da linguagem. Também é

essencial que todo professor tenha consciência de que, independentemente de sua

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área de atuação, ele é, antes de tudo, um professor de leitura e que cabe a ele

buscar sempre novas metodologias, cujo maior objetivo seja conduzir o aluno a

seduzir-se pelas palavras, pelo texto e pelo prazer que a leitura pode proporcionar,

além de fazê-lo, inclusive, ter consciência da leitura como fonte de conhecimento e

informação capaz de levá-lo ao seu crescimento enquanto ser, e, dessa forma,

passar a sentir-se motivado a uma busca espontânea de mais e mais leituras.

A leitura, segundo LAJOLO (2001), deveria ser introduzida na escola, não

como uma tarefa árdua, mas sim no universo das atividades diversificadas, criativas,

enfim, mais vivas e praticadas nas diferentes áreas do conhecimento.

A declaração do "é preciso ler", muito comum no ambiente escolar, pode

levar o aluno, através das metodologias comumente utilizadas, mas o que é

imprescindível é fazer com que a criança perceba a importância da leitura na sua

vida.

É necessário, segundo LAJOLO (2001), dessacralizar o livro, mostrando

uma visão mais próxima e real do que representa o livro para aqueles que gostam

de ler, para que o aluno não o trate como um objeto todo-poderoso e inacessível,

que exige um cuidado e respeito tão excessivo a ponto de provocar um

distanciamento entre os dois. A dessacralização do livro é, portanto, um pressuposto

essencial para o leitor adentrar o texto, descortinar o imaginário e tomar-se receptivo

a inúmeras narrativas possíveis.

Não basta ao aluno querer ler, ou seja, haver sido despertado para o prazer

de ler. É preciso que ele tenha acesso ao livro e diverso tipos de leitura. É

importante, segundo LAJOLO (2001), romper com a artificialidade que se institui na

sala de aula e tornar o aluno um ser verdadeiramente ativo no processo de

aquisição da leitura como uma aprendizagem prazerosa. Essas são algumas

possibilidades de ações experimentadas com sucesso e que resignifica o ensino de

leitura na escola.

As práticas de leitura que se desenvolvem numa instituição escolar não são

eventos neutros, segundo LAJOLO (2001), estão relacionada à história da

instituição, a sua filosofia educacional, às concepções dos sujeitos que a realizam, a

certas visões pedagógicas.

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A relação com o ato de ler e de escrever, segundo LAJOLO (2001), diz algo

sobre a concepção de ser humano que é mais forte na instituição. O que os alunos e

professores lêem e escrevem o que trazem de fora para ler, o que se recusam a

copiar, o que desperta seus interesses, tudo isso revela também um determinado

tipo de relação com seus mestres, com o ambiente escolar e uma forma de

interação entre sua própria subjetividade e as situações de leitura e escrita,

A prática pedagógica, segundo LAJOLO (2001), é estruturada a partir dos

quadros de referência ideológicos, sociais e morais de todos os envolvidos na

dinâmica escolar, e tais quadros se cruzam com todo o universo simbólico cultural

que dá sentido a atitudes e comportamentos. Portanto, algumas questões do

cotidiano da escola são apresentadas antes de falar nas práticas de leitura e escrita.

Os professores trabalham com autonomia e se relacionam, em geral, com

colegas de áreas afins; mas a fragmentação do trabalho escolar é, segundo

LAJOLO (2001), um fato • Didática da Linguagem não trabalha com livros de

literatura porque existe a disciplina 'Literatura Infantil'; e Literatura Infantil, por sua

vez, não discute a linguagem em suas diferentes expressões porque cabe à Didática

da Linguagem; e assim por diante. De um modo geral, o que se percebe escola é

uma compartimentalização do ensino da língua portuguesa. Neste caso, não há um

momento onde os professores se encontrem para discutir e traçar um planejamento

em comum.

Se quisermos formar leitores "vorazes" na escola, apenas o trabalho de sala

de aula não basta: é preciso, segundo FREIRE (2001), criar uma cultura de leitura

que envolva os diferentes atores do processo educativo. É fundamental discutir a

importância de a escola desenvolver um projeto global de leitura, envolvendo todos

os segmentos e articulando ações e projetos dentro de um contexto social.

Partindo da premissa de que a leitura é uma prática sócio-cultural inserida

nas relações de poder da sociedade, entender o letramento de grupos sociais das

camadas populares pressupõe, segundo FREIRE (2001), a análise das práticas de

leitura e escrita que fazem parte dos contextos e instituições em que esses grupos

sociais· estão inseridos.

Essa concepção de que a leitura se restringe as habilidades que precisam

de treino e avaliações constantes é repassada para a família e se constitui uma das

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características marcantes da leitura no espaço escolar, num processo histórico de

escolarização do letramento. “A compreensão crítica da importância do ato de ler se

veio em mim constituindo através da sua prática." (FREIRE, 2001, p.16).

O fazer fazendo, é um buscar constante de qualificar e adquirir uma

construção de conhecimento com maior segurança e exatidão do que faz de forma

consciente (fazendo é que se aprende a fazer).

No espaço familiar, além de identificar o grupo social a que pertencem,

verificar os suportes textuais que fazem parte do cotidiano dessas famílias e suas

formas de utilização.

De uma forma geral, constatou-se existir, no conjunto das famílias, várias

práticas de leitura com usos e funções diferenciadas: para interação social, busca de

informações, auxílio à memória, leitura de textos religiosos, brincadeiras de

escolinha e lazer.

É interessante perceber, FREIRE (2001), que algumas dessas leituras

apresentam características próprias, como a leitura de cartas sem a prática de

escrevê-las ou a busca de informações em jornais e revistas velhas desvinculadas

da preocupação com a atualidade da informação.

Além disso, o que possibilita o acesso aos materiais de leitura, FREIRE

(2001), é a troca desses materiais entre amigos, o empréstimo em centros

comunitários e a doação feita por patrões ou amigos. O prazer, a resolução de

problemas cotidianos, as exigências profissionais e escolares. Essas famílias se

diferem em relação ao tipo de moradia, constituição familiar, nível de escolaridade e

ocupação do leitor.

Nesse sentido a diversidade de leituras nas famílias, FREIRE (2001), aponta

para a multiplicidade de suas possibilidades, visualizadas tanto em práticas que se

aproximam de um modelo de leitura legitimado socialmente como a leitura de livros

por puro prazer, como também por práticas de leitura diferenciadas em que as

revistas e os jornais utilizados para embrulhos se tornam objetos de leitura.

A escola de uma forma geral trabalha com diferentes práticas de leitura.

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Pela sua própria junção e especificidade, essas práticas diferem de outras

práticas de leitura no campo social, visto que, mais do que uma necessidade social,

tem como objetivo explícito a formação de leitores.

Todas as práticas de leituras na escola pesquisada visam à formação de um

leitor socialmente posicionado, embora apresentem funções prioritárias

diferenciadas.

Essa diversidade é não só importante, mas, FREIRE (2001), também

necessária para a formação dos leitores; entretanto, no espaço de sala de aula,

onde as experiências de leitura tendem a se aprofundar, a ênfase recai no processo

de sistematização da leitura, quase que em detrimento das outras possibilidades,

privilegiando textos e fragmentos de textos retirados quase que exclusivamente de

livros didáticos e propondo uma leitura destinada unicamente a desenvolver ou

avaliar conhecimentos lingüísticos, no sentido restrito.

A tentativa de romper com essa concepção de leitura se apresenta nas

iniciativas da professora ao inserir no trabalho outros suportes textuais, como o livro

de literatura e o jornal, reconhecendo que o trabalho com a leitura é mais amplo e

exige outras atividades além daquelas que se prestam à sistematização.

A literatura infantil, ABROMOVICH (2002), ajuda a desenvolver todo um

potencial crítico, libera a autonomia e a confiança, fazendo com que a criança possa

sentir pensar, duvidar, questionar, pois a literatura infantil condiciona significados em

tantos níveis diferentes e enriquece a existência da criança.

Ler uma história interessante com qualidade, comovente, cutucante, nova

surpreendente, emocionante, bem escrita para uma criança é viver momento de

prazer e encantamento.

Se cada livro chama a atenção por algo de especial, porque não deixar a criança sozinha descobrir essa especificidade que ela sentiu, percebeu... e escolher sobre o que quer falar?.

Literatura é arte, literatura é prazer... que a escola encampe esse lado. É apreciar e isso inclui criticar. (ABROMOVICH, 2002, p.147 -148).

Sabemos que os determinantes sociais e culturais, a maturidade psicológica,

cognitivo e intelectual e o acesso às informações condicionam interesses, constroem

possibilidades, mas também criam limites a compreensão do que se lê. Em relação à

família, o discurso escolar reforça a crença de que as crianças que moram em

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favelas, por exemplo, estão menos expostas a situações significativas de leitura e

escrita do que crianças que moram em outros espaços.

Ao fazer generalizações em relação ao tipo ou local de moradia, a escola,

segundo ABROMOVICH (2002), reforça o processo de seleção dos grupos sociais.

Exerce o papel valorizar e exigir determinadas formas de relação com a linguagem

trabalha com as competências para tal, mas delega o desenvolvimento dessas

competências à família, ou simplesmente justifica sua ausência pela impossibilidade

de as famílias ajudarem seus filhos.

A concepção de leitura das famílias tem grande influência da concepção de

leitura escolar. Seja pela experiência escolar vivenciada pelos pais, pela

preocupação com o desempenho escolar dos filhos, o grande investimento é feito

nos livros didáticos, nas revistas guardadas para o recorte nos trabalhos escolares,

ficando a cargo da escola a própria seleção dos livros de leitura para as crianças.

Ainda que com crianças que já dominam o processo de codificação, a ênfase

também recai na concepção de que é preciso aprender a ler para só então poder

efetivamente ler.

Entretanto, as famílias juntamente com a escola deveriam ser os espaços

privilegiados da leitura, pois o primeiro contado da criança com o texto é realizado

diretamente com os pais através da voz, contando contos de fada, histórias e

trechos bíblicos. E a escola é a continuação dessa formação do indivíduo. Pois a

leitura estimula o exercício da mente; a percepção do real em suas múltiplas

significações; a consciência do eu em relação ao outro. A relação entre literatura e a

escola é forte desde o início até hoje.

Diversos estudiosos defendem o uso do livro em sala de aula, mas

atualmente o objetivo não é transmitir os valores da sociedade e sim propiciar uma

nova visão da realidade.

A literatura infantil constitui um material indispensável, que aflora a

criatividade infantil e desperta a veia artística da criança. Nessa faixa etária,

segundo ABROMOVICH (2002), os livros de literatura devem ser oferecidos às

crianças, que permitirá emoções que favoreçam a proliferação do gosto pela

literatura, enquanto forma de lazer e diversão e reflexão da sua própria condição

pessoal.

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CAPITULO III

3.0 BUSCANDO UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

O Ciclo Básico foi à principal medida para a melhoria da qualidade ensino,

ampliação das oportunidades de acesso e permanência na escola pública e busca

de maior aproveitamento da comunidade escolar (pais, professores e alunos) no

sistema educacional.

Simplesmente não há oportunidades nem encorajamento suficientes para os

professores atuarem em conjunto, para aprenderem uns com os outros e para

melhorarem sua qualificação como uma comunidade. Embora a Escola possua dois

grupos de professores.

Um grupo de professores se queixa por não ser envolvido no processo

decisório que afeta seu trabalho, por não ter reconhecimento de sua qualificação e

por se ver sufocado por uma administração indiferente.

Outro grupo é o de professores envolvidos com os colegas e por eles

valorizados; professores confiantes, que se sentem respeitados como profissionais.

Essas diferenças têm implicações: em relação à ética (como os professores,

enquanto profissionais, devem ser tratados, como as escolas devem ser conduzidas

e quem deve estar envolvido nessa liderança); na qualidade, na eficiência e na

excelência do ensino (a maneira em que os professores se relacionam com os

estudantes e os envolvem no dia-a-dia do ensino).

O envolvimento dos professores em suas escolas, o apoio ao que fazem,

bem como sua valorização, e a ajuda para que trabalhem mais unidos aos colegas

causam um impacto na qualidade de ensino e aprendizagem em nossas salas de

aula.

Muitas escolas estão buscando tornar os professores mais responsáveis

pelas políticas e práticas que nelas são criadas. Ao mesmo tempo, precisamos de

uma forte imposição de prioridades curriculares, bem como esquemas para

monitorar e avaliar professores e alunos.

Em nossas pesquisas fizemos um questionamento com as professoras do

C.B.A (Ciclo Básico de Alfabetização).

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Como o profissional da educação está sempre na procura da receita

infalível, na questão de alfabetizar, questionamos, para que pudéssemos, até

mesmo verificar se realmente há, ou se alguém já encontrou pelo menos, algo que

se aproxime da receita infalível de se alfabetizar, e para tal partimos da seguinte

pergunta:

- Professora, você já encontrou ou sabe fazer uso de um método de

alfabetização, que o julgue melhor em relação a todos esses que nos são colocados

por alguns educadores especialistas?

- Já tentei de quase tudo, eu sei que a metodologia do construtivismo é

ótima, mas infelizmente para a nossa realidade é algo que distancia muito, primeiro

porque há necessidade da confecção e até mesmo, a apresentação de materiais

pedagógicos concretos, e infelizmente não possuímos e não temos condições de

comprá-los.

Por outro lado, temos a questão do próprio espaço físico que não contribui

tanto para o desenvolvimento de aula e de darmos continuidade da mesma no dia

seguinte, por exemplo: se pregarmos um cartaz ou confeccionamos um quadro

mural com os trabalhos dos alunos, no dia seguinte já não se encontra mais o que

se foi deixado, pelo fato da mesma sala de aula pertencer a outras séries diferentes,

nos outros períodos, e isto sem contar com a falta de condições dos pais para

comprar os materiais básicos dos alunos.

E geralmente o livro didático que recebemos, foge completamente da

realidade de nossos alunos, e na realidade não temos muita coisa para nos

apegarmos. No meu entender, o que funciona e tem funcionado até hoje, é o método

tradicional, que se dá através da silabação. Eu sei que hoje criticam muito este

método, mas a grande maioria tem se apegado unicamente a ele. Construtivismo é a

idéia de que nada está pronto e acabado, e de que o conhecimento não é dado, em

nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do

indivíduo com meio físico e social, com mundo das relações humanas, se constitui

por força de sua ação não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou

meio.

Tendo agora este conceito do que vem ser Construtivismo, citação esta que

nos referimos tantas vezes. Fica assim mais claro, a postura nesta metodologia

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adotada pelas professoras com a implantação do CBA, nesta unidade escolar, que

se tornou alvo de nossa observação.

Percebemos a influência de VYGOSTKY (1995), que tem seus trabalhos

voltados para o campo do conhecimento biológico e cultural, na visão de como

trabalhar, hoje, em sala de aula, ou seja, o conhecimento não se dá apenas de um

individuo ativo (falante) no caso o professor para o individuo passivo (ouvinte) no

caso aluno. O conhecimento se dá, conforme a visão de VYGOSTKY, na interação

entre o grupo. Pois o homem é um ser social, como já foi dito antes, e por tal motivo

não se consegue aprender sem participar.

A especificidade da atual situação educacional é que se perdeu a articulação

entre a socialização primária e a socialização secundária. Não se trata, em

conseqüência, de definir técnicas de aprendizagem ou projetos curriculares. As

definições da atividade educativa não podem ser elaboradas á margem do processo

de socialização, sem uma idéia clara de articulação com as demais ações e

instituições socializadoras. No contexto de instabilidade e incerteza, ocorrem

fenômenos sejam de regressão aos pontos de referências tradicionais, sejam de

adesão a novos valores.

Assim, o que há de peculiar no atual período histórico é a importância que

assume a atividade do sujeito na construção de sua identidade. As identidades,

segundo VYGOSTKY (1995) , não são mais impostas totalmente do exterior, mas é

preciso construí-las de forma individual. Esse enfoque permite que se explique a

pluralidade de identidades.

A existência de sistemas de sentido (cultura) é cada vez menos separável

das inúmeras ações individuais que as questionam. O individuo incorpora “sistemas”

que existiam de forma independente, agora é a pessoa que deve reconstruir o

sistema.

Se, por um lado, a maior participação das pessoas na construção de suas

identidades supõe a libertação dos limites impostos por crenças, preconceitos,

visões pré-formadas da vida, por outro, segundo VYGOSTKY (1995), priva os

indivíduos da proteção que a posse de uma identidade fixa outorgava, na qual a

responsabilidade pelo desenvolvimento das condutas era determinada de fora.

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Essas mudanças no processo construção da identidade afetam o papel e as

modalidades da atividade educativa, em particular a educação forma, que foi

organizada sobre dois pressupostos: que o núcleo básico da socialização já está

dado pela família; que há um modelo cultural dominante, hegemônico, que a escola

podia ocupar-se de ensinar.

Agora, a escola começa a ser objeto de novas demandas para as quais não

está preparada. Diante dessas mudanças na base do processo de socialização

primária e de primarização da socialização secundária.

A secundarização da socialização primária, segundo VYGOSTKY (1995), se

expressa pelo ingresso cada vez mais precoce em instituições escolares, pelo

menor tempo passado com os adultos mais significativos (pais e mães) e pelo

contato com os meios de comunicação. A primarização da socialização secundária

se caracteriza pela incorporação de maior carga afetiva.

A interação professor/aluno, segundo VYGOSTKY (1995), constitui momento

primordial do processo pedagógico. E isto pelo que nós observamos, já está

acontecendo nestas salas de aulas, a partir do momento ela procura participar do

desenvolvimento do que foi proposta a sala, ela com certeza se informará sobre

como eles (alunos) constroem o conhecimento.

Assim ela terá mais condições de atingir bons resultados, uma vez que a

mesma terá um conhecimento da própria realidade dos alunos. Não se distanciando

assim, da realidade dos mesmos.

E o que é muito importante é sempre estar buscando fazer um trabalho de

alfabetização dentro daquilo que é de conhecimento do próprio aluno, facilitando

assim a compreensão.

Hoje se adota muito as novas nomenclaturas, mas não há como adotar uma

única metodologia, sem adaptá-las a uma outra, para que possam causar um efeito

maior.

Percebemos que o conceito de alfabetizar, ainda continua preso àquela

visão que, antes de tudo, e levar o à decodificação do Código Lingüístico (escrita)

tanto na leitura quanto na escritura correta.

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A alfabetização não é só isto. Onde fica a própria leitura de novos

horizontes, para que possamos compreender a criticar a todas as ações presentes

em nosso meio?

Em que momento se dá o ensinamento do olhar critico?

Essas indagações ficam na maioria das vezes sem resposta, dando lugar as

mesmas alienações da decodificação do signo lingüístico.

O que não torna viável, uma vez que o interesse maior é fazer com que

consigamos desenvolver no educando, um olhar capaz de enxergar aquilo que se

encontra por trás da mensagem ou texto.

Ou seja, fazer com que ele deixe de ser um leitor ingênuo e passe a ser um

leitor dinâmico, que esteja sempre pronto a buscar os significados implícitos no

contexto que a ele é apresentado.

Mesmo reconhecendo que, para ensinar bem, o professor precisa levar em

conta como as crianças aprendem. Muitos educadores, ao adotarem um enfoque,

estritamente psicologista do ensino, segundo VYGOSTKY (1995), imaginaram que

seria possível construir um modelo de educação primária apenas a partir das

evidências a respeito do desenvolvimento infantil, esquecendo-se que o ensino não

é psicologia do desenvolvimento aplicado.

A tradição do ensino centrado na criança, segundo VYGOSTKY (1995),

tendeu a adotar essa abordagem, negligenciando o estudo da prática de sala de

aula. No Brasil, essa tradição ignorou as condições concretas de vida das crianças

de classe popular, que não contam com todos os pré-requisitos e complementos

familiares exigidos, para o sucesso das propostas de ensino centrado na criança.

Estudos, segundo VYGOSTKY (1995), mostram que as crianças podem

aprender mais do que muitas vezes seria esperado a partir de noções fixas de

desenvolvimento cognitivo, indicado que desde pequena, a criança tem capacidade

para entender a estrutura das diferentes disciplinas ou matérias, quando se coloca a

ênfase adequada no professor como professor e não apenas como “facilitador”.

Estudos demonstram que o desempenho dos alunos, inclusive os do ensino

primário, é melhor quando, ainda que o conteúdo seja organizado por temas, o

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tratamento desse conteúdo na situação de ensino-aprendizagem mantém a

identidade das diferentes disciplinas se inicia nos primeiros anos da escolaridade.

O grande problema com a concepção de currículo por atividade ou tópicos,

no Brasil, foi, segundo VYGOSTKY (1995), que ela introduziu uma retórica nova, em

muitos casos desarticulou a organização tradicional de ensino por disciplinas e não

preparou nem os professores, nem o ambiente escolar para por em prática a nova

concepção curricular.

Atualmente parece não haver dúvidas sobre a importância de que o

professor domine o conteúdo que vai ensinar. Um caminho promissor, também, seria

o permanente acompanhamento dos professores mais novos por colegas

experientes. De qualquer forma a direção geral que parece estar emergindo é a de

que o bom professor se forma por meio de um processo permanente de supervisão

e assistência técnica dentro da sala de aula e da escola.

Essa nova concepção ou modelo põe em questão não apensa os cursos de

formação como as estratégias usuais de capacitação caracterizadas por cursos

pontuais, feitos fora da escola onde o professor trabalha e que não são

complementadas por um trabalho de acompanhamento em sala de aula.

Ensino individualizado trabalha em grupo e aulas para a classe como um

todo, para que constitua as estratégias que conduzem á sensata conclusão de que

cada uma delas se adequar a um tipo de conteúdo e objetivo de ensino, onde o bom

professor é aquele que consegue manejar essas estratégias retirando o que de

melhor cada uma pode oferecer e procurando, ao longo de um período, combiná-las

de modo balanceado para que os alunos possam vivenciar diferentes formas de

interação na sala de aula.

Clareza ou sensibilidade, entusiasmo ou paciência. A diferença entre valores

e crença desse tipo, segundo VYGOSTKY (1995), pode ser decisiva para determinar

se na sala de aula, onde tudo começa e termina, haverá um campo fértil para surgir

à cultura do sucesso ou um deserto de desalento, onde só cresce a erva daninha da

desesperança e do fracasso. No entanto, clareza é uma habilidade que se aprende e

se exercita com treino e supervisão. Ela pode simbolizar competência técnica.

O terceiro milênio, segundo VYGOSTKY (1995), vai requerer, desde agora,

que a competência técnica e o compromisso político se reconciliem e que a eficácia,

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a eficiência e o voluntarismo interajam de forma sinérgica para promover uma ampla,

profunda e duradoura melhoria na educação das crianças e jovens brasileiros.

Como já é de nosso conhecimento, de que a escola nada mais é de que

uma seqüência do desenvolvimento do conhecimento já adquirido pelas crianças de

forma consciente e inconsciente, onde cabe a escola elaborar o seu planejamento,

de atividades dentro de tal realidade.

E para nos certificarmos melhor, fizemos a seguinte pergunta:

- Existe um conhecimento dos pais naquilo que a criança vê na escola,

para que eles possam ajudar na assimilação daquilo que a escola propõe ás

crianças?

- Sempre procuramos colocar aos pais de como seus filhos estão na

escola, mas infelizmente, não se têm obtido bons resultados, uma vez que sentimos

uma falta de ânimo e até mesmo a falta de estrutura dos pais, no intimo de incentivar

ou até ajudar seus filhos na escola.

- Em algum momento a escola tem ou teve se preocupando em levar

palestra de esclarecimento aos pais, no sentido de orientá-los de como devem

ajudar a seus filhos e a grande importância disto tudo?

- Sempre procuramos trazê-lo à escola principalmente nas reuniões

bimestrais, onde entregamos as notas e ao mesmo tempo, procuramos incentivá-los

a colaborarem em casa, dando orientação para seus filhos.

- como eles reagem?

- É muito difícil, primeiro porque é a minoria de pais que participam das

reuniões, segundo eles alegam que não têm muito tempo para ajudar seus filhos,

cabendo assim toda a responsabilidade para a escola.

Esta falta de participação na vida escolar dos filhos, é uma realidade que

todos nós temos conhecimento, e isto não é porque os pais não queriam participar,

mas sim, são forçados por essa sociedade capitalista; não é de interesse desta

sociedade, que se leve o conhecimento a todos, mas sim, que dificulte cada vez

mais a aquisição de conhecimento, porque se isto acontecer, não terão mais uma

sociedade submissa a essas normas impostas pelos capitalistas.

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A socialização primária, que normalmente se dá no seio da família, é a fase

que o individuo atravessa na infância e mediante a qual se transforma em membro

da sociedade e a mais importante para o individuo, com ela ele adquire a linguagem,

os esquemas básicos de interpretação da realidade e os rudimentos do aparato

legitimador.

As duas características mais importantes da socialização primária a carga

afetiva e a identificação absoluta com o mundo tal como os adultos o apresentam.

Nesse sentido, segundo VYGOSTKY (1995), é importante perceber que a

socialização primária implica mais do que uma aprendizagem puramente cognitiva.

Ela se realiza em circunstâncias de enorme carga emocional.

A socialização secundária, segundo VYGOSTKY (1995), é todo o processo

posterior, que incorpora o individuo já socializado a novos setores do mundo objetivo

de sua sociedade. Na sociedade atual, os conteúdos da socialização primária são

transmitidos com uma carga afetiva diferente da do passado. Os grupos e as opções

ás quais uma criança é exposta tendem a diferenciar-se, a multiplicar-se e a

modificar-se com uma velocidade sem precedentes.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o trabalho realizado com os alunos de pré – escola em

relação à aprendizagem escrita, concluí que nenhuma criança, nenhum estudante

começa do zero, nenhum aluno chega à sala de aula com a mente vazia. Ela já vem

com conhecimentos, frutos de uma explicação diária.

Foram partindo desse ponto de vista, do seu próprio conhecimento sobre

assuntos, temas propostos. Levantando discussão ao grupo que surgiram as

primeiras escritas. Com essas crianças verificou que para o processo de construção

do conhecimento da escrita no indivíduo se inicia com características primitivas e vai

tomando forma como escrita moderna, mediante o rompimento das etapas.

Concluo também que a criança leva para a Escola o seu contexto diário da

família. Experiência de vida, valores que muitas vezes entram em contradição com a

escola, no sentido da não valorização de sua vivência, de seus costumes, sua

cultura etc. No entanto foi preciso a criança como sujeito histórico, pois ela produz

cultura quando dialoga na escola, na família, com os amigos etc.

E assim a aprendizagem, a construção da escrita se dá quando o professor

como mediador do conhecimento deixa a criança agir, propondo condições para que

o educado desenvolva sua capacidade de observação, reflexão e criação.

Considerando que as crianças cujas atividades estão contidas nesse

trabalho vêm de famílias de classe social menos favorecida, seus desempenhos são

considerados ótimos e que estão preparadas para desenvolver melhor suas

capacidades, alfabetizando – se com facilidade, inserindo no processo de leitura e

escrita que se prolonga por toda vida.

A alfabetização na linha descrita é baseada na teoria construtiva, cujos

princípios são:

� A aquisição da escrita é um processo cognitivo em que o aluno vai se apropriando

da escrita à medida que ele constrói hipóteses sobre o que se escreve;

� O professor deve ser um facilitador da aprendizagem no sentido de criar

condições favoráveis à evolução do aluno;

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� A aquisição da escrita deve ser um processo espontâneo de modo que o aluno

atue como agente principal da aprendizagem;

� O erro deve ser visto como construtivo, pois, a partir dele o aluno toma

consciência da forma “correta” da escrita e cria hipóteses alternativas da

aprendizagem;

� Toda e qualquer atividade deve ser antecedida de objetivos claramente definidos

para a classe. O aluno deve sempre saber por quê e para quê vai desenvolver

atividade solicitada.

Neste trabalho procurei chamar a atenção para alguns pontos referentes à

evolução da criança, quando analisada sob uma nova perspectiva de aprendizagem

da língua escrita.

Neste sentido, procurei levantar algumas considerações teóricas a partir dos

exemplos dos alunos da pré – escola expostos a uma nova proposta pedagógica, de

modo a realçar aspectos envolvidos na transposição da teoria para a prática.

Como vimos, os exemplos analisados ilustram a dinâmica presente no

processo de descoberta, por parte da criança, dos aspectos simbólicos e funcionais

da língua. Posso dizer que, as oportunidades proporcionadas à criança pelo

professor, à medida que reconhece qual desses aspetos ela precisa ser mais

estimulada, constitui um ponto crucial em sua prática.

Nesse sentido, essa pesquisa me trouxe um grau de evolução teórica maior,

o qual hoje me possibilita ver de maneira diferente o processo evolutivo da criança,

as etapas do conhecimento, compreendendo que a interação professor – aluno,

aluno – professor facilita o caminho da mesma.

De um modo geral, permitiu – me estar bem mais próximo do meu aluno,

elencando suas conquistas, comparando seus avanços, conhecendo sua família,

analisando os aspectos sociais que influenciam na aquisição do saber... A criança é

um ser que possui bastante iniciativa, basta oferecer condições a ela que tudo

acontece.

E digo: se antes eu valorizava as produções dos alunos respeitando suas

individualidades, hoje, valorizo muito mais, pois as diferenças individuais discutidas

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no coletivo possibilitam aos alunos o confronto e as trocas de informações através

da ajuda mútua. Quando comparam suas produções compartilham conhecimentos,

informações e ao mesmo tempo buscam desenvolver habilidades de respeito, de

convivência.

O trabalho relatado realizou-se com crianças que estão numa classe da pré-

escola da rede pública. Entretanto, é importante fazer algumas considerações

acerca de como o processo de leitura e escrita foi iniciado na escola com essas

crianças da pré-escola.

O pressuposto seguido durante todo o ano letivo foi o de considerar a escrita

como um sistema de representação da língua, cuja aprendizagem significa a

apropriação de um novo objeto de conhecimento. A questão fundamental no

processo de alfabetização é a compreensão da estrutura do sistema alfabético

enquanto representação da língua, ou seja, não se trata de considerar a escrita

alfabética como uma representação gráfica dos sons da língua. Esse enfoque

privilegia a escrita como um objeto substituto, que é diferente da linguagem oral,

portanto, a escrita não é a simples transposição da linguagem oral. (VIGOTSKY,

1979:131-2).

Assim caracteriza a escrita: “É uma linguagem feita apenas de pensamento

e imagem, faltando-lhe as qualidades musicais, expressivas e de entonação

características da linguagem oral. Ao aprender a escrever, a criança tem de se

libertar do aspecto sensorial da linguagem e substituir as palavras por imagens de

palavras [...] A escrita é também um discurso sem interlocutor, dirigido a uma pessoa

ausente ou imaginária ou a ninguém em particular, situação que, para a criança, é

nova e estranha”.

Trabalhar a escrita como um sistema de representação da língua significa

deslocar o eixo de compreensão para os aspectos já mencionados, levantados por

FERREIRO e TEBEROSKY e não para os figurativos, como orientação da escrita,

linearidade, perfeição da cópia etc.

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