alexandre rangel - as mais belas parabolas de todo os tempos

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parabolas

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  • DADOS DECOPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seusdiver-sosparceiros, com o objetivo de oferecer contedo para uso parcial empesquisase estudos acadmicos, bem como o simples teste da qualid-ade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.

    expressamenteproibida e totalmente repudavel a venda, aluguel, ouquaisquer uso comercial do presente contedo

    Sobre ns:

    O Le Livros e seus parceiros, disponibilizam contedo de dominiopublico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, poracreditar que o conhecimento e a educao devem ser acessveiselivres a toda e qualquer pessoa.Voc pode encontrar mais obras emnosso site: LeLivros.Info ou em qualquer um dos sites parceiros ap-resentadosneste link.

    http://lelivros.infohttp://lelivros.infohttp://lelivros.infohttp://lelivros.info/parceiros/
  • Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento,e no mais lutando por dinheiro e poder, ento nossa so-

    ciedade poder enfim evoluir a um novo nvel.

    3/259

  • Copyright ' 2002

    Alexandre Rangel

    Editor

    Nissim Yehezkel

    Coordenadora Editorial

    Raquel Teles Yehezkel

    Reviso de Texto

    Maria de Lourdes Queiroz (Tucha)

    Projeto Grfico e Capa

    Patrcia Magda Souza Rocha

    Desktop Publishing

    Patrcia Magda Souza Rocha

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Catalogao na Fonte do Departamento Nacional do Livro

    Rangel, Alexandre As mais belas parbolas de todos os tempos / Alexandre

    Rangel. -

    Belo Horizonte, MG: Editora Leitura, 2002

    1. Parbolas. I Ttulo

    R196C CDD808.8

    ISBN:

    978-85-7358-455-4

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida sem prvia autoriza-

    o por escrito da editora, sob pena de constituir violao do Copyright

    (Lei n 5.988)

  • IMPRESSO NO BRASIL

    Todos os direitos reservados ' Editora Leitura Ltda

    Rua Pedra Bonita, 870 - Barroca - Cep 30430-390

    Belo Horizonte - MG - Brasil

    (31) 3371-4902

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  • Agradecimentos

    As parbolas contidas neste livro resultaram de um esforocoletivo. Sou extremamente grato s colaboraes de FranciscoRoberto Rangel, Delermando Rangel, Katiane Evelyn dos SantosAnjos Martins, Vilma Manfre Schneider e s mensagensde apoiode Neiva da Glria SantosRangel, Pierre Schurmann, Roberto C.Pedro, Cristiane Guimares, Gleide Corra, do Jornal Correio deUberlndia ; Andr Luiz Nascimento, Eudes Rodrigues de Oli-veira, Rewry Gouveia Menezes, Gabriela Alessandra XavierGomes Carolino, Enilzio Benedito Coelho, Rogrio Cunha, doprograma Radar do SBT; Erasmo Lus Andreo Jnior, JooGomides de Souza,Jaime Lcio LageMunz de Souza,da Livrar-ia Siciliano; Luiz Basile Jnior, Clia Takase,Setsuko Takase(inmemoriam ) e muitos outros que, direta ou indiretamente, con-triburam decisivamente para a realizao desta obra.

    Agradecimentos especiais minha esposaPatrcia e ao meufilho Henrique, pela tolerncia e companhia durante o longotempo consumido na organizao deste livro.

    Para finalizar, quero expressar minha profunda gratido equipe da Editora Leitura e ao seu diretor Nissim Yehezkel,que,alm de distribuir, com extrema competncia, o meu primeirolivro de parbolas, muito me incentivou para a realizao destanova edio. Obrigado a todos.

    Alexandre Rangel

  • APRESENTAO

    Parbolas so breves narrativas, s vezes dramticas, svezescmicas, que possuem um contexto moral explcito ou im-plcito e que, alm de nos apresentar um pouco da cultura de umpovo, nos ajudam a decidir em questes morais de nosso dia-a-dia. claro que este livro pode ser lido com outros olhos, tendo asua utilidade um pouco mais despretensiosa,como para distrairou ser usado como exemplo em uma aula, uma palestra ou emum simples bate-papo.

    A sua leitura flexvel: voc pode comear em qualquerparte do livro na primeira pgina e seguir at a ltima, ou podeler ao acaso, folheando, lendo aqui e ali. De qualquer forma,acredito que voc dar uma pausa e pensar um pouco mais arespeito daquilo que leu.

    O ponto de partida deste livro consistiu nas parbolas queescutamos no nosso dia-a-dia. Posteriormente, foram adicion-adas algumas parbolas de palestrantes, oradores, advogados,ereunidas no livro As100Mais BelasParbo lasdeTodososTempos (Ed-itora Leitura, 2000). Com o sucessodesselivro e com as inmer-as sugestes de novas parbolas, iniciei, em conjunto com a Ed-itora Leitura, um novo trabalho de coleta, organizao e seleo,e o resultado foi um livro em novo formato, com 150 parbolas,algumas aproveitadas do primeiro livro, outras revisadase atual-izadas e outras delas inditas.

    Optei por excluir a concluso das parbolas aqui reunidas,pois, como j dissemos,a histria j apresentaum contexto mor-al, e se, alm dessecontexto, ainda incluirmos uma concluso,corremos o risco de ser repetitivos ou at mesmo o que con-sidero mais grave de induzir o leitor a somente um tipo de

  • lio, visto que as parbolas podem apresentar contextos difer-entes baseados em nosso estado de esprito, meio ou momento.

    Com estas sugestes, acredito que este livro ser uma con-tribuio na direo de uma vida com mais reflexo, conciliandorazo e sentimento.

    Alexandre Rangel

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  • O DESTINO EST EM SUAS MOS

    Conta-se que certa vez um homem muito maldoso resolveupregar uma pea em um mestre, famoso por sua sabedoria. Pre-parou uma armadilha infalvel, como somente os maus podemconceber.Tomou um pssaro e o segurou entre asmos, imagin-ando que iria at o idoso e experiente mestre, formulando lhe aseguinte pergunta:

    Mestre, o passarinho que trago nas mos est vivo oumorto?

    Naturalmente, se o mestre respondesseque estavavivo, eleo esmagaria com as mos, mostrando o pequeno cadver. Se aresposta fosse que o pssaro estava morto, ele abriria as mos,libertando-o e permitindo que voasse,ganhando as alturas. Qu-alquer que fosse a resposta, ele incorreria em erro aos olhos detodos que assistissem cena.

    Assim pensou. Assim fez.Quando vrios discpulos se encontravam ao redor do ven-

    erando senhor, ele se aproximou e formulou a pergunta fatal. Osbio olhou profundamente o homem nos olhos. Parecia desejarexaminar o mais escondido de sua alma, depois respondeu,calmo e seguro:

    O destino desse pssaro, meu filho, est em suas mos.

  • O SBIO E O GRANJEIRO

    Um granjeiro pediu a um sbio que o ajudasse a melhorarsua granja, que tinha baixo rendimento. O sbio escreveu algoem um pedao de papel e colocou em uma caixa. Fechou-a eentregou-a ao granjeiro, dizendo:

    leva esta caixa por todos os lados da sua granja, trs vezesao dia, durante um ano.

    Assim fez o granjeiro. Pela manh, ao ir ao campo segur-ando a caixa, encontrou um empregado dormindo, quandodeveria estar trabalhando. Acordou-o e chamou-lhe a ateno.Ao meio-dia, quando foi ao estbulo, encontrou o gado sujo e oscavalossem alimento. noite, indo cozinha com a caixa, deu-se conta de que o cozinheiro estavadesperdiando os gneros. Apartir da, todos os dias, ao percorrer sua granja de um lado parao outro com seu amuleto, encontrava coisas que deveriam sercorrigidas.

    Ao final do ano, voltou a encontrar o sbio e lhe disse:Deixa esta caixa comigo por mais um ano; minha granja

    melhorou o rendimento desde que estou com o amuleto.O sbio sorriu e, abrindo a caixa, disse-lhe: Podes ter esse amuleto pelo resto da sua vida.No papel estava escrita a seguinte frase: Se queres que as

    coisas melhorem deves acompanh-las constantemente.

  • O SBIO E O JOGO DE DAMAS

    Num remoto vilarejo da Europa Oriental, num dos dias deChanuka, um respeitado rabino entrou na casade estudos, nummomento em que no o esperavam,e encontrou seusdiscpulosjogando damas, quando deveriam estar estudando as leis sagra-das, como era o costume naqueles tempos. Quando viram omestre, ficaram confusos sem saber o que fazer. Pararam o jogoimediatamente. Um dos discpulos, envergonhado, tentoudesculpar-se:

    Perdoe-nos, mestre. Apenas queramos nos distrair umpouco!

    O velho fez um gesto bondoso e perguntou: Vocs conhecem as regras do jogo de damas?Como ningum respondeu, ele mesmo tratou de responder:Vou lhes dizer quais so as regras: a primeira que duas

    jogadasno podem ser feitas por vez; a segunda,que somente sepode mover para frente e no para trs; a terceira, que, quandose chega ltima fila, voc est livre para ir aonde quiser. Vocsesto aprendendo lies muito importantes sobre a nossa ex-istncia. Prossigam com o jogo, por favor, prossigam.

  • O QUE UM SBIO?

    O abadeAbrao soubeque perto do mosteiro de Scetahaviaum sbio. Foi procur-lo e perguntou-lhe:

    Se hoje voc encontrasse uma bela mulher em sua cama,conseguiria pensar que no era uma mulher?

    No respondeu o eremita. Mas conseguiria mecontrolar.

    O abade continuou:E se descobrissemoedas de ouro no deserto, conseguiria

    v-las como se fossem pedras?No. Mas conseguiria me controlar para deix-las onde

    estavam.E sevoc fosseprocurado por dois irmos, um que o odeia

    e outro que o ama, conseguiria achar que os dois so iguais?Com tranquilidade, ele respondeu:Mesmo sofrendo, eu trataria o que me ama da mesma

    maneira que o que me odeia.Naquela noite, ao voltar para o mosteiro de Sceta, Abrao

    falou aos seus novios:Vou lhes explicar o que um sbio. aquele que, em vez

    de matar suas paixes, consegue control-las.

  • O LTIMO CONSELHO DE UM SBIO

    O discpulo de um filsofo foi procurar seu mestre que es-tava para morrer e perguntou-lhe:

    No terias mais alguma coisa a dizer a teu discpulo?O sbio, ento, abriu a boca e ordenou ao jovem que olhasse

    l dentro. Vs minha lngua? perguntou. Claro respondeu o discpulo. E os meus dentes, ainda existem perfeitos?O discpulo replicou: No... E sabes por que a lngua sobrevive aos dentes? ...

    porque mole e flexvel. Os dentes se acabam e caem primeiroporque so duros. Assim aprendeste tudo o que vale a penaaprender. Nada mais tenho a ensinar-te.

  • ATIRANDO VACAS NO PRECIPCIO

    Um mestre da sabedoria passeavapor uma floresta com seufiel discpulo, quando avistou ao longe um stio de aparnciapobre e resolveu fazer-lhe uma breve visita. Durante o percurso,ele falou ao aprendiz sobre a importncia das visitas e as opor-tunidades de aprendizado que temos, tambm, com as pessoasque mal conhecemos.

    Chegandoao stio, constatou a pobreza do lugar, sem cala-mento, casade madeira, os moradores um casale trs filhos vestidos com roupas rasgadas e sujas. Ento, aproximou-se dosenhor, aparentemente o pai daquela famlia, e perguntou-lhe:

    Neste lugar no h sinais de pontos de comrcio e de tra-balho; como o senhor e a sua famlia sobrevivem aqui?

    O senhor, calmamente, respondeu:Meu amigo, ns temos uma vaquinha que nos d vrios

    litros de leite todos os dias. Uma parte desseproduto ns ven-demos ou trocamos na cidade vizinha por outros gneros de ali-mentos e a outra parte produzimos queijo, coalhada, etc., para onossoconsumo, e assim vamos sobrevivendo. O sbio agradeceua informao, contemplou o lugar por uns momentos, depois sedespediu e foi embora. No meio do caminho, voltou ao seu fieldiscpulo e ordenou-lhe:

    Aprendiz, pegue a vaquinha, leve-a ao precipcio ali nafrente e jogue-a l em baixo.

    O jovem arregalou os olhos espantados e questionou omestre sobre o fato de a vaquinha ser o nico meio de sobre-vivncia daquela famlia; mas, como percebeu o silncio abso-luto do seu mestre, cumpriu a ordem: empurrou a vaquinhamorro abaixo e a viu morrer. Aquela cena ficou marcada na

  • memria daquele jovem durante alguns anos.Um belo dia, ele resolveu largar tudo o que havia aprendido

    r voltar quele mesmo lugar e contar tudo quela famlia, pedirperdo e ajud-los. Assim fez, mas quando se aproximava dolocal avistou um stio muito bonito, com rvores floridas, todomurado, com carro na garageme algumas crianas brincando nojardim. Ficou triste e desesperado, imaginando que aquela hu-milde famlia tivera de vender o stio para sobreviver. Apertouo passo e, chegando l, logo foi recebido por um caseiro muitosimptico, a quem perguntou sobre a famlia que ali morava huns quatro anos. O caseiro respondeu-lhe:

    Continuam morando aqui.Espantado, ele entrou correndo casa adentro e viu que era

    mesmo a famlia que visitara antes com o mestre. Elogiou o locale perguntou ao senhor (o dono da vaquinha):

    Como o senhor melhorou este stio e est muito bem devida?

    O senhor, entusiasmado, respondeu: Ns tnhamos uma vaquinha que caiu no precipcio e

    morreu. Da em diante, tivemos de fazer outras coisas e desen-volver habilidades que nem sabamosque tnhamos e, assim, al-canamos o sucesso que seus olhos vislumbram agora.

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  • OBSERVANDO QUE APRENDEMOS

    O discpulo Cheng se preparava para liderar seu povo.Procurou, ento, o monge Lin:

    Mestre, j estou pronto para assumir o meu posto.Observe este rio: qual a importncia dele? perguntou

    Lin, do alto de uma montanha. Chengobservou o rio, seu vale, avila, a floresta, os animais e respondeu-lhe:

    Mestre, este rio a fonte do sustento da nossaaldeia. Elenos d a gua que bebemos,os frutos das rvores, a colheita daplantao, o transporte de mercadorias, os animais que esto aonosso redor e muito mais. Sem ele no estaramos aqui. Nossosantepassadosconstruram este templo e estascasas,justamentepor causa deste rio. Nosso futuro depende do futuro dele.

    O monge Lin colocou a mo na cabea do discpulo e pediu-lhe que continuasse a observar. Os mesessepassaram.O mestreprocurou Cheng.

    Observe este rio: qual a importncia dele? perguntouLin, do alto da mesma montanha.

    Mestre, este rio fonte de inspirao para nosso povo.Veja sua nascente:ela pequena e modesta, mas com o curso dorio se torna forte e poderosa. Esse rio nascee tem um objetivo:chegar ao oceano. Mas sabe que, para chegar l, ter de passarpor muitos lugares e por muitas mudanas. Ter de receber aflu-entes, contornar obstculos. Como o rio, temos de aprender afluir. O formato do rio definido pelas suas margens, assimcomo nossavida influenciada pelas pessoascom as quais con-vivemos. O rio sem suas margens no nada. Sem nossosami-gos e familiares, tambm no somos nada. O rio flui de acordocom o terreno; ns tambm temos de aprender a desviar nossas

  • rotas. O rio nos ensina que uma curva pode significar a soluode problemas, e isso no o desmerece.Logo aps a curva, po-demos achar um vale que desconhecamos. O rio tem suascachoeiras, suas turbulncias, mas continua em frente, porquetem um objetivo. O rio nos ensina que uma mudana imprevistapode ser uma oportunidade de crescer.Veja no fim do vale: o riorecebe de braos abertos um novo afluente e, assim, torna-semais forte. Ns temos de mudar e nos adaptar, mas os nossossonhos e objetivos estaro sempre presentes ao longo de todo ocaminho. Observo tambm que o rio no pergunta o que elepode usufruir da rvore, e sim como pode ajudar a rvore. Ecomo se o eu se realizasse pelo ns. Ajudando a rvore, ospssaros e animais, o rio, indiretamente, ajuda a si prprio.

    O monge Lin colocou a mo na cabea do discpulo e pediu-lhe que continuasse a observar. Os meses se passaram. Nova-mente o mestre perguntou:

    Observe este rio: qual a importncia dele?Mestre, vejo o rio em outra dimenso. Vejo o ciclo das

    guas. Esta gua que est indo j virou nuvem, chuva e penetrouna terra vrias vezes.Vejo as enchentes e tambm quando o rioparece secar. Vejo que o que chamamos de mudana parte deum ciclo maior, que se manifesta vez por outra, isto , a en-chente e a seca.O rio nos ajuda a no observar apenas a parteaparente dessefluxo, e isso a mudana. A enchente e a secadorio fazem parte de um processomaior. Para entend-los, temosde enxergar todo o ciclo.

    Entendendo o ciclo, a mudana deixa de ser inesperada epassa a ser esperada. Sempre que ns chamamos algo demudana porque no estamos percebendo o ciclo maior. O rionos mostra que, se aprendermos a perceber estes ciclos, o que

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  • chamamos de mudana ser apenas a continuidade do ciclo.Ser que um dia serei capaz de entender o fluxo da vida?

    O monge Lin colocou a mo na cabea do discpulo, semresponder-lhe a pergunta e pediu-lhe que continuasse a obser-var. Os meses se passaram. Novamente o mestre perguntou:

    Observe este rio, qual a importncia dele? Mestre, este rio me mostrou que, cada vez que eu o

    observo, aprendo algo de novo. observando que aprendemos.No aprendo quando aspessoasme dizem algo; aprendo quandoascoisasfazem sentido para mim. A observao o aprendizado,quando sabemos contemplar.

    V e siga o seu caminho, meu filho. Como difcil apren-der a aprender!

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  • SOBRE A PRIORIDADE DAS COISAS

    Um mestre foi questionado por seu discpulo sobre a realimportncia das coisas. Ao invs de responder-lhe a pergunta,pediu ao discpulo que pegasseum vaso de boca larga e colocas-se algumas pedras grandes dentro dele.

    Assim feito, o mestre perguntou ao discpulo: O vaso est cheio? Sim respondeu o discpulo.Ento, o mestre pediu ao discpulo que colocasseum monte

    de pedregulhos dentro do vaso. E agora, est cheio? Sim.Novamente o mestre pediu ao discpulo que colocasseareia

    dentro do vaso. E agora, est cheio? Sim.Ento, o mestre pediu ao discpulo que colocassegua den-

    tro do vaso.Nesse ponto o discpulo prontamente disse:Entendi mestre. A real importncia das coisas est na

    forma como as armazenamos.O mestre respondeu:No. O vaso s pode ser cheio desta forma porque as

    grandes coisas foram colocadas primeiro, depois as menores, eassim por diante. Assim tambm a vida. Priorize sua vida comas coisas que realmente so grandes e importantes, como a suafamlia, seusamigos e seu desenvolvimento pessoale profission-al; depois priorize as menores. Sevoc tivessecomeado a ench-er o vaso com pedregulhos, as pedras grandes jamais caberiam

  • nele. Assim tambm, se voc se ocupar apenas com as coisaspequenas, as grandes no tero espao.

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  • O PREO DA PREGUIA

    Havia um sbio que no poupava esforos para ensinarbons hbitos a seu povo. Frequentemente fazia coisasque pare-ciam estranhas e inteis; mas tudo o que fazia era para ensinar opovo a ser trabalhador e cauteloso. Ele dizia:

    Nada de bom pode vir a uma nao cujo povo reclama eespera que outros resolvam seus problemas. Deus d as coisasboas da vida a quem lida com os problemas por conta prpria.

    Uma noite, enquanto todos dormiam, ele ps uma enormepedra na estrada. Depois foi seesconderatrs de uma cercae es-perou para ver o que acontecia. Primeiro, veio um fazendeirocom uma carroa carregada de sementes que levava para mo-agem na usina.

    Quem j viu tamanho destino? disseele contrariado, en-quanto desviava sua parelha e contornava a pedra Por queessespreguiosos no mandam retirar essapedra da estrada? Econtinuou reclamando da inutilidade dos outros, mas sem aomenos tocar, ele prprio, na pedra.

    Logo depois, um jovem soldado veio cantando pela estrada.Ele pensavana maravilhosa coragem que mostraria na guerra eno viu a pedra. Tropeou nela e se estatelou no cho poeirento.Ergueu-se, sacudiu a poeira da roupa, pegou a espada eenfureceu-se com os preguiosos que insensatamente haviamlargado uma pedra imensa na estrada. Ele tambm se afastou,sem pensar uma nica vez que ele prprio poderia retirar apedra. Assim correu o dia. Todos que por ali passavam re-clamavam e resmungavam por causa da pedra colocada na es-trada, mas ningum a tocava.

    Finalmente, ao cair da noite, a filha do moleiro por l

  • passou. Era muito trabalhadeira e estava cansada, pois desdecedo andava ocupada no moinho. Mas disse a si mesma:

    J est quase escurecendo, algum pode tropear nestapedra noite e se ferir gravemente. Vou tir-la do caminho.

    E tentou arrastar dali a pedra. Era muito pesada, mas amoa empurrou, empurrou, puxou e inclinou a pedra, at queconseguiu retir-la do lugar. Para sua surpresa, encontrou umacaixa debaixo da pedra. Ergueu-a. Era pesada,pois estavacheiade alguma coisa. Havia na tampa os seguintes dizeres:

    Esta caixa pertence a quem retirar a pedra.Ela abriu a caixa e descobriu que estava cheia de ouro. A

    filha do moleiro foi para casa com o corao feliz. Quando ofazendeiro e o soldado e todos os outros ouviram o que haviaocorrido, juntaram-se em torno do local na estrada onde a pedraestava.Revolveram o p da estrada com os ps, na esperana deencontrar um pedao de ouro.

    Ento, o sbio disse:Meus amigos, com frequncia encontramos obstculos e

    fardos no caminho. Podemos reclamar em alto e bom som en-quanto nos desviamos deles se assim preferirmos, ou podemosergu-los e descobrir o que eles significam. A decepo nor-malmente o preo da preguia.

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  • O VERDADEIRO PODER

    Era uma vez um guerreiro, famoso por sua Invencibilidadena guerra. Era um homem extremamente cruel e, por isso,temido por todos. Quando seaproximava de uma aldeia, os mor-adores saam correndo para as montanhas, onde se escondiamdo malvado guerreiro. Subjugou muitas aldeias.

    Certo dia, algum o viu se aproximar, com seu exrcito , deuma pequena aldeia, onde viviam alguns agricultores e, entreeles, um velhinho muito sbio.

    Quando o pessoal escutou a terrvel notcia de que o guer-reiro se aproximava, tratou de juntar o que podia e fugir rapida-mente para as montanhas. S o velhinho ficou para trs. Ele jno podia fugir. O guerreiro entrou na aldeia e foi cruel, incendi-ando as casas e matando alguns animais soltos pelas ruas.

    At que chegou casa do velhinho. O velhinho, quando oviu, assustou-se.O guerreiro, sem piedade, foi dizendo ao velh-inho que seus dias haviam chegado ao fim, mas lhe concederiaum ltimo desejoantes de pass-lo pelo fio de sua espada.O vel-hinho pensou um pouco e pediu ao guerreiro que fosse com eleat o bosque e ali lhe cortasseum galho de uma rvore. O guer-reiro achou aquilo uma besteira: Esse velho deve estar gag.Que ltimo desejomais besta,mas, seesse o seu ltimo desejo,vou atend-lo. E l foi o guerreiro at o bosquee, com um golpede sua espada, cortou um galho de uma rvore.

    Muito bem disse o velhinho. O senhor cortou o galhoda rvore. Agora, por favor, coloque essegalho na rvore outravez.

    O guerreiro deu uma grande gargalhada, dizendo queaquele velho devia estar louco, pois todo mundo sabia que no

  • era mais possvel colocar o galho cortado na rvore outra vez. Ovelhinho, ento, lhe respondeu:

    Louco voc que pensa que tem poder s porque destrias coisas e mata as pessoasque encontra pela frente. Quem ssabe destruir e matar no tem poder. Poder tem aquela pessoaque sabejuntar, que sabeunir o que foi separado,que faz revivero que parece morto. Essa pessoa tem verdadeiro poder.

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  • AS TRS PERGUNTAS

    O rei, buscandoa certezade tudo de tal modo que nunca fal-hasse, fez trs perguntas aos homens estudados:

    1) Qual a hora certa de comear tudo?2) Quais as pessoas certas a escutar e a quem evitar?3) Qual a coisa mais importante a fazer?Os homens estudados divergiram nas respostas.O rei, ento, foi at um eremita, conhecido em toda parte

    pela sua sabedoria.O eremita estavacavando quando chegou o rei. Ento, o rei

    fez-lhe as trs perguntas. O eremita cumprimentou-o, mas nolhe respondeu e continuou a cavar. Notando que o velho j es-tava cansado,o rei se prontificou ajud-lo. E o fez por um longotempo.

    Mais tarde, um homem que estavana floresta espreita dorei para mat-lo, mas desistiu por causa de sua demora, foiferido pela guarda do rei. O rei perdoou-lhe e prometeu dar-lheassistncia, tendo em troca sua eterna lealdade.

    Aps isso, o rei fez novamente as trs perguntas ao eremita,que lhe respondeu dizendo que a hora mais importante foiquando estavacavando os canteiros (seno seria morto); e eu fuio homem mais importante; e fazer o bem pra mim foi o seu as-sunto mais importante. Depois, quando o homem correu nanossa direo, a hora mais importante foi quando voc estavaatendendo-o, pois se voc no tivesse cuidado dos ferimentosdele, ele teria morrido sem fazer as pazescom voc. Ento, elefoi o homem mais importante, e o assunto mais importante foiaquilo que voc fez por ele. Ento, lembre-se: existe apenasumahora que importante agora! a hora mais importante porque

  • a nica hora em que possumos algum poder.

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  • OLHANDO PARA MIM MESMO

    H muito tempo, um mestre vivia junto com um grandenmero de discpulos em um templo arruinado. Os discpulossobreviviam de esmolas e doaes, conseguidas numa cidadeprxima. Logo muitos deles comearam a reclamar sobre aspssimas condies em que viviam. Em resposta, o velho mestredisse um dia:

    Ns devemos reformar as paredes do templo. Desde quesomente ocupamos o nosso tempo estudando e meditando, noh tempo para trabalhar e arrecadar o dinheiro de que precisam-os. Assim, eu pensei numa soluo simples.

    Todos os estudantes se reuniam diante do mestre, ansiosospara ouvir suas palavras. O mestre disse:

    Cada um de vocs deve ir cidade e roubar bens quepodero ser vendidos para a arrecadao de dinheiro. Dessaforma, seremos capazes de fazer uma boa reforma em nossotemplo.

    Os estudantes ficaram espantadospor essetipo de sugestovir do sbio mestre. Como todos tinham o maior respeito por ele,no fizeram nenhum protesto. O mestre disse logo a seguir, demodo bastante severo:

    No sentido de no manchar a nossa excelente reputaopor estarmos cometendo atos ilegais e imorais, solicito quecometam o roubo somente quando ningum estiver olhando. Euno quero que ningum seja pego.

    Quando o mestre seafastou, os estudantesdiscutiram o pla-no entre eles.

    errado roubar disse um deles.Por que nossomestrenos solicitou para cometermos esse ato?

  • Outro respondeu em seguida:Isso permitir que possamos reformar o nosso templo, e

    essa uma boa causa.Assim, todos concordaram que o mestre era sbio e justo e

    deveria ter uma razo para fazer tal tipo de requisio. Logo,partiram em direo cidade, prometendo que no seriam pe-gos, para no causarem a desgraa para o templo.

    Sejamos cuidadosos e no deixemos que ningum nosveja roubando incentivavam uns aos outros.

    Todos os estudantes, com exceo de um, foram para a cid-ade. O sbio mestre se aproximou dele e perguntou-lhe:

    Por que voc ficou para trs?O garoto respondeu:Eu no posso seguir as suas instrues para roubar onde

    ningum esteja me vendo. No importa aonde eu v; sempre es-tarei olhando para mim mesmo. Meu prprios olhos iro me verroubando.

    O sbio mestre abraou o garoto com um sorriso de alegria edisse:

    Eu somente estava testando a integridade dos meusestudantes e voc o nico que passou no teste!

    Aps muitos anos, o garoto se tornou um grande mestre.

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  • AGINDO CONFORME A NATUREZA

    Monge e discpulos iam por uma estrada. Quando passavampor uma ponte, viram um escorpio sendo arrastado pelasguas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na gua etomou o bichinho nas mos. Quando o trazia para fora, obichinho o picou, e, por causa da dor, o bom homem deixou-ocair novamente no rio. Foi ento margem, tomou um ramo dervore, adiantou-se outra vez a correr pela margem, entrou norio, colheu o escorpio e o salvou. Voltou o monge e juntou-seaos discpulos na estrada. Eles haviam assistido cena e o rece-beram perplexos e penalizados:

    Mestre, deve estar doendo muito! Por que foi salvar essebicho ruim e venenoso?Que seafogasse!Seria um a menos! Vejacomo ele respondeu sua ajuda! Picou a mo que o salvou! Nomerecia sua compaixo!

    O monge ouviu tranquilamente os comentrios erespondeu:

    Ele agiu conforme sua natureza e eu, de acordo com aminha.

  • O SBIO E O CANOEIRO

    Conta-se que um filsofo, ao atravessar largo rio numacanoa, perguntou ao canoeiro se ele entendia de astronomia.

    No, senhor respondeu o trabalhador. Em toda minhavida nunca ouvi falar esse nome.

    O sbio replicou:Sinto muito que voc tenha desperdiado a quarta parte

    de sua vida. Voc sabe alguma coisa de matemtica?O pobre homem sorriu, meneou a cabea e respondeu-lhe: No!Ento, o sbio tornou a dizer:Lamentavelmente, voc perdeu outra quarta parte de sua

    vida, meu amigo.Logo em seguida, perguntou pela terceira vez: Sabe algo sobre geologia? No, nunca fui escola replicou o canoeiro. Bem, amigo, quase toda a sua vida foi mal-empregada.No momento em que conversavam, a canoa bateu numa

    pedra, e o canoeiro, enquanto tirava a jaqueta para nadar at amargem do rio, perguntou ao filsofo:

    O senhor sabe nadar? No respondeu o sbio.Sinto muito, o senhor desperdiou toda a sua vida com as

    cincias, e agora, em poucos minutos, a canoa se afundar.

  • ALIMENTANDO A BONDADE

    O neto aproxima-se do av cheio de raiva no corao porqueseu melhor amigo havia cometido uma injustia.

    O velho diz: Deixe-me contar-lhe uma histria. Muitas vezes senti

    grande dio daquelesque aprontaram especialmentequandopercebia a maldade ou quando eles no se arrependiam.

    Todavia, com o tempo, aprendi que o dio nos corri, masno fere nosso inimigo. como tomar veneno ao desejar que oinimigo morra. Passei a lutar contra esses sentimentos.

    E o experiente homem continuou:Tenho a sensao de que existem dois lobos dentro de

    mim. Um dos lobos bom, s quer o bem e no magoaningum.Esse lobo vive em harmonia com o universo ao seu redor e nose ofende, no fica vendo, no que no entende, agresses. Esselobo s luta quando certo lutar e, quando luta, o faz da maneiracorreta.

    Mas, ah! o outro lobo cheio de raiva. Mesmo pequeninascoisasprovocam sua ira! Ele briga com todos, o tempo todo, semmotivo. No conseguenem pensar, porque sua raiva e seu dioso to grandes que gastam toda sua energia mental.

    uma raiva intil, porque no mudar o mundo!s vezes, difcil conviver com os dois lobos dentro de mim,

    porque ambos tentam dominar meu esprito.O garoto atento olhou intensamente nos olhos do av e,

    carinhosamente, perguntou-lhe: Qual deles vence, vov?O av sorriu e respondeu baixinho: Aquele que eu alimento mais frequentemente.

  • QUEM O MELHOR NO USO DA ESPADA?

    Quem o melhor de todos no uso da espada?perguntouo guerreiro.

    V at o campo, prximo ao monastrio disse o mestre. Ali existe uma rocha. Insulte-a.

    Por que devo fazer isso? perguntou o discpulo. Arocha jamais me responder de volta!

    Ento, ataque-a com sua espada disse o mestre.Tampouco farei isso respondeu o discpulo. Minha es-

    pada se quebrar. E, se atac-la com minhas mos, ferirei meusdedos sem conseguir absolutamente nada.

    Mas minha pergunta era outra, mestre: afinal, quem omelhor no uso da espada?

    O melhor de todos o que se parece com a rocha es-clareceu o mestre. Sem desembainhar a lmina, conseguemostrar que ningum poder realmente venc-lo.

  • TORNANDO-SE O MELHOR CARATECA

    Um jovem atravessou o Japo em busca da escola de umfamoso praticante de artes marciais. Chegandoao doj, foi rece-bido em audincia pelo sansei.

    O que quer de mim? perguntou-lhe o mestre.Quero ser seu aluno e tornar-me o melhor carateca do

    pas respondeu o rapaz. Quanto tempo preciso estudar? Dez anos, pelo menos respondeu o mestre.Dez anos muito tempo tornou o rapaz. E seeu prati-

    casse com o dobro da intensidade dos outros alunos? Vinte anos disse o mestre.Vinte anos! E se eu praticar noite e dia, dedicando todo o

    meu esforo? Trinta anos foi a resposta do mestre.Mas eu lhe digo que vou dedicar-me em dobro, e o senhor

    me responde que o tempo ser maior? espantou-se o jovem.A resposta simples: quando um olho est fixo onde se

    quer chegar, s resta o outro para encontrar o caminho.

  • AS TRS PENEIRAS

    Conta-se que certa vez um amigo procurou Scrates, ocelebre filsofo grego, desejando contar-lhe algo sobre a vida deoutro amigo comum.

    Quero contar-te algo sobre o nossoamigo Andras que vaideixar-te boquiaberto.

    Espera interrompeu o filsofo passaste o que vaisdizer pelas trs peneiras.

    Trs peneiras? Espantou-se o interlocutor. Primeira peneira: a coisa que me contars verdade?Eu assim creio, pois me foi contada por algum de confi-

    ana diz o amigo...Bem! Algum te disse... Vejamos a segunda peneira: a

    coisa que pretendes me contar boa?O outro hesitou, resfolegou e respondeu: No exatamente...Scrates continuou sua inquirio: Isso comea a me esclarecer. Verifiquemos a terceira

    peneira, que a prova final: o que tinhas a inteno de me con-tar de utilidade tanto para mim como para o nosso amigoAndras e para ti mesmo?

    No, no e no.Ento, caro amigo, disse Scrates, a coisa que pretendias

    me contar no certamente verdadeira, nem boa, nem til; as-sim sendo, no tenho a inteno de conhec-la e aconselho-te ano mais procurar veicul-la.

    A cada dia somos alvo de pessoascom grande desejode noscontar coisas a respeito dos outros.

    Devemos procurar fazer o teste das trs peneiras gregas:

  • verdade? bom? til?Caso negativo, devemos simplesmente evitar que sejamos

    parte integrante nas bisbilhotices e nos mexericos de pessoasvidas de novidades sobre a vida alheia.

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  • DESPRENDENDO-SE DAS IDIAS NEGATIVAS

    Um monge peregrino ia caminhando apressadamentepelaestrada. Subitamente, apareceu, por entre os capins altos dabeira da estrada, um homem de grande estatura.

    Por favor, senhor! ele disseao monge, que sevirou com armeio distrado.

    O que voc quer?Vi que o senhor um monge e queria pedir-lhe um favor:

    salve-me desta vida de pecadosque tenho levado. Sou um crim-inoso, um ladro... Fui expulso de casapor meus pais. Como seestivesseafundando na lama, fui praticando crime aps crime...Tenho medo do futuro que me espera e no sinto sossegonempor um instante... Salve-me, por favor! Livre-me deste sofri-mento, desta angstia! Assim dizia o homem, ajoelhando-se di-ante do monge. Aps ouvir tudo em silncio e com os olhos fitosno homem, o monge disse, de repente:

    Puxa, estou com muita sede! Ser que no h algumafonte por aqui?

    Com expresso de surpresa por essarepentina pergunta, ooutro respondeu:

    O senhor est com sorte, pois h um poo velho logo ali.No tem roldana nem balde, mas eu tive uma boa idia. Tenhoaqui uma corda e vou amarr-la na sua cintura e desc-lo paradentro do poo. O senhor poder tomar a gua do poo at sesaciar. Quando terminar de tomar a gua, d-me um aviso, e euo puxarei para cima.

    O monge ficou muito contente e pediu-lhe que o descessepara o fundo do poo. Instantes depois, veio l do fundo a voz domonge:

  • Pode puxar!Est bem! respondeu o outro. E deu um puxo na corda,

    empregando a sua grande fora. Mas nada de o monge subir!Que coisa estranha, o peso era to grande que at parecia haverum bloco de chumbo na extremidade da corda.

    Que esquisito! pensou o homem e, esticando o pescoopela borda, perscrutou a semiescurido do interior do poo paraver o que sepassaval no fundo. Qual no foi a sua surpresa, aover o monge firmemente agarrado a uma grande pedra que haviadentro do poo! Por um momento, o homem ficou mudo de es-panto. Depois gritou, zangado:

    Ei, que negcio esse?Que diabo o senhor est fazendoa? Pare com essabrincadeira boba! J est escurecendoe logoser noite. Vamos, largue essa rocha imediatamente, para eupoder i-lo.

    O monge respondeu:Calma, meu rapaz! E escutebem o que vou lhe dizer: voc

    grande e forte, mas mesmo com toda essafora voc no con-segueme iar, seeu fico assim agarrado a esta rocha. Sabe, ex-atamente isso o que est acontecendo dentro de voc. Voc seconsidera um criminoso, um ladro, um filho prdigo e estfirmemente agarrado a essasideias. Desse jeito, mesmo que euou qualquer outra pessoafaa um esforo enorme para reergu-lo, no vai adiantar nada! Tudo depende de voc. voc quemresolve sevai continuar agarrado ou sevai sesoltar. Sevoc querse salvar, s desprender-se dessas ideias negativas que vocvem mantendo. muito simples. Desprenda-se, liberte-se.Assim voc vai poder sair imediatamente para um mundo cheiode luz, vai Conseguir a paz de esprito. No entanto, pensamentosilusrios de todos os tipos tm projetado suas sombras neste

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  • mundo, lanando muitas pessoasna escurido. Essaescurido o que chamamos de aflio, sofrimento, infelicidade. Mas pre-ciso compreender que escurido ou treva significa apenasa aus-ncia de luz. Na verdade, a treva no tem existncia real, por isso s aparecer a luz e pronto: a treva desaparece.Some imediata-mente, compreende?Pelo seu jeito, notei que, na realidade, voc um homem de bom corao. Alm disso, inteligente e dotadode grande fora. Percebeu isso? Vejo que j compreendeu...Ento, est tudo bem. Agora pode iar-me, pois eu tambm jme desprendi desta rocha.

    Uma vez fora do poo, o monge fitou o homem com os olhoscheios de bondade e seguiu seu caminho, deixando atrs de si ohomem que, finalmente, despertara para o bem.

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  • VENDO OS DEFEITOS

    Um mestre tinha centenasde discpulos. Todos rezavam nahora certa, exceto um, que vivia bbado. No dia da sua morte, omestre chamou o discpulo bbado e lhe transmitiu os segredosocultos. Os outros se revoltaram.

    Que vergonha! diziam. Ns nos sacrificamos por ummestre errado, que no sabe ver nossas qualidades.

    Diz o mestre:Eu precisava passar estes segredospara um homem que

    eu conhecessebem. Os que parecem muito virtuosos, geral-mente, escondem a vaidade, o orgulho, a intolerncia. Por issoeu escolhi o nico discpulo que eu podia ver o defeito: abebedeira.

  • DANDO EXEMPLO PARA OS FILHOS

    Certo velho trabalhou a vida inteira. Ao se aposentar, Com-prou uma fazenda, para que o filho a administrasse, e resolveupassar o resto de seus dias na varanda da casa principal.

    O filho trabalhou durante trs anos. Ento, comeou a ficarcom raiva.

    Meu pai no faz nada! comentava com os amigos.Passaa vida olhando o jardim e me deixando trabalhar

    como um escravo, para que eu possa aliment-lo....Um dia, resolveu acabar com aquela situao injusta. Con-

    struiu uma grande caixa de madeira, foi at a varanda e pediu aopai:

    Papai, por favor, entre a.O pai, sem sabero porqu, mas confiando em seu filho, obe-

    deceu. O filho rapidamente fechou a caixa e colocou-a em seucaminho e foi at a beira de um precipcio. Quando se pre-parava para jog-la l embaixo, escutou a voz do pai:

    Meu filho, lembre-se de guardar a caixa... Voc est dandoo exemplo, e seus filhos, na certa, tambm vo precisar us-lacom voc.

  • DOSANDO AUTORIDADE E BENEVOLNCIA

    Havia um poderoso monarca que, embora satisfeito com oseu reino, vivia preocupado sobre a forma de governo que dever-ia dar ao seu povo. Chamou um velho sbio e lhe exps:

    Sbio, oriente-me! Devo ser severo com meu povo paraque tenha mais respeito e afaste qualquer possibilidade de re-volta, ou devo ser benevolente para obter o carinho dos meussditos, fazendo-lhes, ento, as vontades? Ajude-me!

    O bom sbio pensou um pouco e perguntou-lhe: O que mais aprecias entre seus objetos pessoais?No entendendo a pergunta, o monarca respondeu-lhe

    mesmo assim:O que mais amo so dois vasosde porcelana que adquiri

    com muito esforo. Traga-os a mim!Ainda no entendendo o que o sbio queria com essepe-

    dido, ordenou a dois lacaios que trouxessem os vasos.Vendo osdois vasos, o sbio pediu-lhe:

    Traga gua fervente e gua gelada!O monarca entendia cada vez menos. O sbio, por sua vez,

    ordenou-lhe: Coloca a gua fervente em um vaso e a gelada em outro!O monarca, assustado, retrucou-lhe aos berros:Louco! No v que a gua fervente far em pedaos Um

    vaso e a gelada trincar o outro?Exatamente disse o sbio. Assim ser seu governo,

    pois se usar de autoridade severaou de benevolncia excessiva,no ser um bom monarca. Entretanto, se souber dosar os dois,ter seu nome gravado para sempre no corao dos seus sditos!

  • Tendo terminado de falar, o sbio pediu aos lacaios quemisturassem a gua fervente com a gelada.Assim, obteve a mor-na, que ao ser colocada nos vasos nada fez que os danificasse.

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  • ATACANDO O PROBLEMA

    O grande mestre e o guardio dividiam a administrao deum mosteiro. Certo dia, o guardio morreu e foi precisosubstitu-lo. O grande mestre reuniu todos os discpulos paraescolher quem teria a honra de trabalhar diretamente ao seulado.

    Vou apresentar-lhes um problema disse o grandemestre.

    Aquele que o resolver primeiro ser o novo guardio dotemplo.

    Terminado o seu curtssimo discurso, colocou um ban-quinho no centro da sala. Em cima estavaum vaso de porcelanacarssimo, com uma rosa vermelha a enfeit-lo.

    Eis o problema disse o grande mestre.Os discpulos contemplavam, perplexos, o que viam: os

    desenhossofisticados e raros da porcelana, a frescura e a elegn-cia da flor. O que representava aquilo? O que fazer? Qual seria oenigma? Depois de alguns minutos, um dos discpulos levantou-se,olhou o mestre e os alunos sua volta. Depois, caminhou res-olutamente at o vaso e atirou-o no cho, destruindo-o.

    Voc o novo guardio disse o grande mestre ao aluno.Assim que ele voltou ao seu lugar, explicou:Eu fui bem claro: disse que vocs estavam diante de um

    problema. No importa quo belo e fascinante o problema seja;ele tem de ser eliminado. Um problema um problema; pode serum vaso de porcelana muito raro, um lindo amor que j no fazmais sentido, um caminho que precisa ser abandonado, mas queinsistimos em percorr-lo porque nos traz conforto . S existeuma maneira de lidar com um problema: atacando-o de frente.

  • Nessashoras, no sepode ter piedade nem ser tentado pelo ladofascinante que qualquer conflito carrega consigo.

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  • INFERIORIDADE

    Certo dia, um samurai, que era um guerreiro muito orgul-hoso, veio ver um mestre zen. Embora fosse muito famoso, aoolhar o mestre, sua beleza e o encanto daquele momento, osamurai sentiu-se repentinamente inferior. Ele ento disse aomestre:

    Por que estou me sentindo inferior? Apenasum momentoatrs, tudo estava bem. Quando aqui entrei, subitamente mesenti inferior e jamais me senti assim antes. Encarei a mortemuitas vezes,mas nunca experimentei medo algum. Por que es-tou me sentindo assustado agora?

    O mestre falou: Espera. Quando todos tiverem partido, responderei.Durante todo o dia, pessoaschegavampara ver o mestre, e o

    samurai estava ficando mais e mais cansado de esperar. Aoanoitecer, quando o quarto estava vazio, o samurai perguntounovamente:

    Agora podes me responder por que me sinto inferior?O mestre levou-o para fora. Era uma noite de lua cheia, e ela

    estava justamente surgindo no horizonte. Ele disse ao samurai:Olha para estas duas rvores: a rvore alta e a rvore

    pequena ao teu lado. Ambas estiveram juntas ao lado de minhajanela durante anos e nunca houve problema algum. A rvoremenor jamais disse maior: Por que me sinto

    Inferior diante de voc?. Esta rvore pequena e aquela grande, este o fato, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso.

    O samurai, ento, argumentou: Isso se d porque elas no podem se comparar.O mestre replicou:

  • Ento, no precisa me perguntar. Voc sabe a resposta.Quando voc no compara, toda a inferioridade e superioridadedesaparecem. Voc o que e simplesmente existe. Umpequeno arbusto ou uma grande e alta rvore; no importa, voc voc mesmo. Uma folhinha da relva to necessria quanto amaior das estrelas. O canto de um pssaro to necessrioquanto qualquer Buda, pois o mundo ser menos rico se essecanto desaparecer. Simplesmente olhe sua volta. Tudo ne-cessrio e tudo se encaixa. uma unidade orgnica: ningum mais alto ou mais baixo, ningum superior ou inferior. Cadaum incomparavelmente nico. Voc necessrio e basta. Nanatureza, tamanho no diferena. Tudo expresso igual devida.

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  • ENCONTRANDO A MANEIRA CORRETA DE AGIR

    Um velho resolveu vender seu burro na feira da cidade.Como ia retornar andando, chamou o neto para acompanh-lo.Montaram os dois no animal e seguiram viagem.

    Passando por umas barracas de escoteiros, escutaram oscomentrios crticos: Como que pode duas pessoasem cimadeste pobre animal!

    Resolveram, ento, que o menino desceria e o velho per-maneceria montado. Prosseguiram...

    Mais frente tinha uma lagoa e algumas velhas estavamlavando roupa. Quando viram a cena, puseram-se a reclamar:Que absurdo! Explorando a pobre criana. Poderia bem deix-la em cima do animal.

    Constrangidos com o ocorrido, trocaram as posies, ouseja, o menino montou e o velho desceu.

    Tinham caminhado alguns metros, quando algumas jovenssentadasna calada externaram seu espanto com o que presen-ciaram: Que menino preguioso! Enquanto este velho senhorcaminha, ele fica todo prazeroso em cima do animal. Tenhavergonha!

    Diante disso, o menino desceu e, desta vez, o velho nosubiu. Ambos resolveram caminhar, puxando o burro.

    J acreditavam ter encontrado a frmula mais corretaquando passaramem frente a um bar. Alguns homens que ali es-tavam comearam a dar gargalhadas, fazendo chacota da cena:So mesmo uns idiotas! Ficam andando a p, enquanto puxamum animal to jovem e forte!

    O av e o neto olharam um para o outro, como que tentandoencontrar a maneira correta de agir.

  • Ento, ambos pegaram o burro e o carregaram nas Contas!

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  • COLOCANDO PONTOS EM NOSSA VIDA

    Um homem rico estavamuito mal. Pediu papel e pena e es-creveu: Deixo meus bens minha irm no a meu sobrinho ja-mais ser paga a conta do alfaiate nada aos pobres.

    Morreu antes de fazer a pontuao. A quem deixava ele afortuna? Eram quatro concorrentes.

    1) O sobrinho fez a seguinte pontuao:Deixo meus bens minha irm? No! A meu sobrinho. Ja-

    mais ser paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.2) A irm chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:Deixo meus bens minha irm. No a meu sobrinho. Ja-

    mais ser paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.3) O alfaiate pediu a cpia do original. Puxou a brasa para a

    sardinha dele:Deixo meus bens minha irm? No! A meu sobrinho? Ja-

    mais! Ser paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.4) A, chegaram os descamisadosda cidade. Um deles, sa-

    bido, fez esta interpretao:Deixo meus bens minha irm? No! A meu sobrinho? Ja-

    mais! Ser paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres.Assim a vida. Ns que colocamos os pontos. E isso faz a

    diferena.

  • SOMENTE RECLAMANDO

    Um monge vive em um mosteiro, onde tem de fazer um votode silncio. Ele s pode dizer duas palavras a cadadcada. A rot-ina diria do monge consiste em levantar s 3h30 da manh, deuma cama que no mais do que uma prancha de madeira, rezardurante horas a fio, ajoelhado em um cho de pedra, e copiarbblias mo. O monge segueessarotina dia aps dia, durantedez anos, sem dizer uma s palavra. Um dia, o abade chama omonge e lhe concede permisso para pronunciar suas duaspalavras.

    O monge olha para o abade com os olhos cansados e diz: Cama dura.Depois de dizer isso, o monge volta sua labuta, levantando

    s 3h30, rezando, comendo uma papa sem gosto, copiando bbli-as e dormindo em uma cama que no passade uma prancha demadeira. Passa-semais um ano. E outro. Passam-semais cinco.E mais dez. Depois de vinte anos nessarotina imutvel, o monge novamente convocado pelo abade, que lhe concedepermissopara dizer mais duas palavras. Sem hesitar, o monge murmura:

    Comida pavorosa.E volta sua triste rotina. Depois de mais uma dcada de

    silncio, despertando antes do nascer do sol, comendo papassem gosto, fazendo cpias, rezando e dormindo sem descansarsobre uma prancha de madeira, o monge novamente vai at oabade para dizer suas duas palavras.

    O monge encurvado, cansadoe frgil, levanta os olhos parao abade e diz:

    Eu desisto.O abade retruca:

  • timo! Voc s faz reclamar desde que chegou aqui.

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  • O MONGE TOLO

    Existia um mosteiro zen, conduzido por dois irmos. O maisvelho era muito sbio, e o mais novo, ao contrrio, era tolo etinha apenas um olho. Para um forasteiro conseguir hosped-agem por uma noite nesse convento, tinha de vencer um dosmonges, num debate sobre o zen-budismo. Uma noite, o foras-teiro foi pedir asilo no convento e, como o velho monge estavacansado,mandou o mais novo confrontar-se com ele, com a re-comendao de que o debate fosse em silncio. Dessa forma, omonge tolo no cometeria enganos. Algum tempo depois, oviajante entrou na sala do sbio monge e disse:

    Que homem sbio o seu irmo! Conseguiuvencer me nodebate, por isso, devo ir-me.

    O velho monge, intrigado, perguntou-lhe: O que aconteceu? E escutou a resposta: Primeiramente, ergui um dedo simbolizando Buda, e seu

    irmo levantou dois simbolizando Buda e seus ensinamentos.Ento, ergui trs dedos para representar Buda, seusensinamen-tos e seus discpulos, e meu inteligente interlocutor sacudiu opunho cerrado, minha frente, para indicar que todos os trsvm de uma nica realizao.

    Pouco depois, entra o monge tolo, muito aborrecido, e saudado pelo irmo, que lhe perguntou o motivo de suachateao. O caolho respondeu:

    Esseviajante muito rude! No momento em que me viu,levantou um dedo, insultando-me, indicando que tenho apenasum olho. Mas, como ele era visitante, eu no quis responder ofensa e ergui dois dedos, felicitando-o por ele ter dois olhos. Omiservel levantou trs dedos, para mostrar que ns dois juntos

  • tnhamos trs olhos. Ento, fiquei furioso e ameaceidar-lhe umsoco, com o punho cerrado. E, assim, ele foi embora.

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  • A INEXPERINCIA DO JOVEM CAPITO

    Um capito, ainda bastante jovem, tinha acabado de seformar na escola de oficiais da marinha e estava servindo numgrande navio de guerra a nau capitania. Sua frota estavafazendo exerccios num arquiplago, em meio a milhares de il-has. Eles j estavam chegando ao final do dia, o tempo estavapssimo, com nvoa densa e visibilidade muito ruim. Essa naucapitnia transportava o almirante, que estava comandando osexerccios, e o oficial, que estavaservindo no posto de comando.Em certo momento, o vigia contou ao comandante que haviauma luz piscando do lado direilo. O comandante perguntou se aluz era constante ou em movimento. Se fosse constante, estarianuma rota de coliso com o navio. O vigia confirmou que a luzestava parada e num curso de coliso. O comandante mandouuma mensagem diretamente para o suposto navio, informandoque estavanum curso de coliso e que seria necessrio mudar ocurso em 20 imediatamente. A seguinte mensagem voltou:

    melhor vocs mudarem seu percurso imediatamente.O capito pensou que a tripulao do outro navio no sabia

    quem ele era e transmitiu outra mensagem:Eu sou um capito, por favor mude seu percurso em 20 o.Voltou outra mensagem:Eu sou marinheiro de segunda classe, senhor, por favor

    mude seu percurso.O comandante ficou enfurecido e enviou sua mensagem

    final:Somos a nau capitnia da frota. No podemos manobrar

    to rapidamente. Mude seu percurso imediatamente em 20.Isso uma ordem!

  • Foi esta a mensagem que retornou:Senhor, somos um farol.S quando entendeu o que estava acontecendo que o

    comandante mudou de curso.

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  • LEVANDO UMA VIDA SIMPLES E SEM OSTENTAO

    Ao partir para uma longa viagem, o superior do mosteirodeu aos monges a seguinte recomendao:

    Cuidem do nosso mosteiro com carinho e austeridade,lembrando-se sempre de levar uma vida simples, respeitando onosso voto de ter apenas o necessrio para a nossa subsistncia.

    Nesse esprito de pobreza, cada monge possua nada maisdo que uma tnica e um par de sandlias. Nem bem o superiorhavia partido e o mosteiro foi atacado por uma praga de ratosvorazes, que roam tudo que encontravam pela frente, no lhesescapando sequer as tnicas e as sandlias, nicas posses dospobres monges.

    Precisamos arranjar uns gatos disse um dos monges,obtendo imediatamente a aprovao de todos para a sua ideia.

    Os gatos estavam vencendo os ratos, mas tomavam muitoleite. Assim, um dos monges sugeriu:

    Seria muito bom se tivssemos uma vaca... E nova-mente todos concordaram com a ideia.

    A vaca fornecia leite com abundncia aos gatos, mas tam-bm precisava comer. Por isso, os monges resolveram formarum pasto, que para ser plantado e mantido precisou de adubo eferramentas, que eles providenciaram junto com um paiol quetiveram de construir para armazenar as colheitas e um estbulopara os cavalosque conseguiram para puxar os arados e fazer ostransportes...

    Passaram-se longos anos, e um dia o superior voltou. Nolocal onde julgava estar o mosteiro, pareceu-lhe ser agora umaprspera fazenda, com um vasto rebanho e muitas plantaes.

    O superior aproximou-se da cercae perguntou a algum que

  • estava por ali trabalhando se ele sabia onde ficava o mosteiro.Ele disse que no sabia do que se tratava, mas ofereceu-separaconduzi-lo at a administrao da fazenda, onde certamente po-deriam lhe dar alguma informao.

    Ao chegar imponente construo onde funcionava a sededa fazenda, o superior imediatamente reconheceu um dos seusantigos monges e foi logo dizendo:

    Mas o que vem a ser isso tudo? O que foi que vocs fizer-am do nosso mosteiro? Eu no lhes recomendei que levassemuma vida simples e sem ostentao, tendo apenas o necessriopara a sua subsistncia?

    Sim, mestre, sim, e era exatamente isso que estvamosfazendo. Mas a os ratos apareceram...

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  • FUGINDO DO LEO

    Estavam no meio da mata um americano e um japons. Derepente, ouviu-se o rugido de um leo. Os dois homens se ol-haram. Imaginem o que devem ter pensado. O Japons sentou-se num toco de rvore, retirou a pesada bota que estava utiliz-ando e colocou um tnis muito mais leve e macio. O americano,desesperado, reclamou:

    Japons, temos de pensar em algo; o leo vai nos devorar.Ser que voc acha que com essetnis vai correr mais do que oleo?

    No seja tolo respondeu o japons Com este tnis voucorrer mais que voc.

  • MOTIVOS PARA SE INCOMODAR

    Quando voc nasce,de duas uma: ou voc nascerico ou vo-c nascepobre. Sevoc nascer rico, no tem motivo algum parase incomodar; sevoc nascer pobre, de duas uma: ou voc ficarrico ou voc continuar pobre. Se voc ficar rico, no havermotivo algum para se incomodar; se voc continuar pobre, deduas uma: ou voc ter sade ou voc ser doente. Sevoc tiversade, no haver motivo algum para se incomodar; se voc fordoente, de duas uma, ou voc ficar bom ou morrer. Se vocficar bom, no haver motivo algum para se incomodar; se vocmorrer, de duas uma: ou voc ir para o cu ou voc ir para oinferno. Sevoc for para o cu, no haver motivo algum para seincomodar; se voc for para o inferno, bom, voc ter decumprimentar tantos conhecidosque no ter tempo algum parase incomodar!

  • AS COLHERES DE CABO COMPRIDO

    Dizem que Deus convidou um homem para conhecero cu eo inferno. Foram primeiro ao inferno. Ao abrirem a porta, viramuma sala em cujo centro havia um caldeiro de sopae sua voltaestavam sentadas pessoas famintas e desesperadas.Cada umadelas seguravauma colher de cabo comprido, que lhes permitiaalcanar o caldeiro, mas no a prpria boca. O sofrimento eragrande. Em seguida, Deus levou o homem para conhecer o cu.Entraram em uma sala idntica primeira: havia o mesmocaldeiro, as pessoasem volta, as colheres de cabo comprido. Adiferena que todos estavam saciados.

    Eu no compreendo disse o homem a Deus por queaqui as pessoasesto to felizes enquanto na outra sala morremde aflio, se tudo igual?

    Deus sorriu e respondeu: Voc no percebeu? porque aqui elesaprenderam a dar

    comida uns aos outros.

  • FAZENDO ALGO DE BOM

    Um homem mau, ao morrer, encontra um anjo na porta doinferno, que lhe diz:

    Basta voc ter feito alguma coisa boa na vida e esta coisaboa o ajudar.

    O homem responde: Nunca fiz nada de bom na vida. Pense bem insiste o anjo.O homem, ento, se lembra de que, certa vez, enquanto an-

    dava por uma floresta, viu uma aranha em seu caminho e deu avolta, evitando pis-la. O anjo sorri e um fio de aranha descedoscus, permitindo que o homem suba at o paraso. Outros con-denados aproveitam para subir tambm, mas o homem se vira ecomea a empurr-los, pois tem medo de que o fio se rompa.Nessemomento, o fio arrebenta, e o homem de novo projetadopara o inferno.

    Que pena o homem escuta o anjo dizer. Seuegosmotransformou em mal a nica coisa boa que voc fez.

  • NO ABANDONANDO OS AMIGOS

    Um homem, seu cavalo e seu co caminhavam por uma es-trada. Depois de muito caminhar, essehomem se deu conta deque ele, seu cavalo e seu co haviam morrido num acidente. Asvezesos mortos levam tempo para sedar conta de sua nova con-dio... A caminhada era muito longa, morro acima, o sol eraforte e eles ficaram suadose com muita sede.Precisavamdeses-peradamente de gua. Numa curva do caminho, avistaram umporto magnfico, todo de mrmore, que conduzia a uma praacalada com blocos de ouro, no centro da qual havia uma fontede onde jorrava gua cristalina. O caminhante dirigiu-se aohomem que, numa guarita, guardava a entrada.

    Bom dia ele disse. Bom dia respondeu o homem. Que lugar este, to lindo? ele perguntou. Isto aqui o cu foi a resposta. Que bom que ns chegamosao cu. Estamos com muita

    sede disse o homem. O senhor pode entrar e beber gua vontade disse o

    guarda, indicando-lhe a fonte. Meu cavalo e meu cachorro tambm esto com sede. Lamento muito disse o guarda. Aqui no sepermite a

    entrada de animais.O homem ficou muito desapontado, porque sua sede era

    grande. Mas ele no beberia, deixando seus amigos com sede.Assim, prosseguiu seu caminho.

    Depois de muito caminharem morro acima, com sede ecansao multiplicados, chegaram a um stio, cuja entrada eramarcada por uma porteira velha semiaberta.

  • A porteira se abria para um caminho de terra, com rvoresdos dois lados, que lhe faziam sombra.

    sombra de uma das rvores, um homem estava deitado,cabea coberta com um chapu. Parecia que estava dormindo.

    Bom dia disse o caminhante. Bom dia disse o homem. Estamos com muita sede: eu, meu cavalo e meu cachorro. H uma fonte naquelas pedras disse o homem, indic-

    ando o lugar. Podem beber vontade.O homem, o cavalo e o cachorro foram at a fonte e matar-

    am a sede. Muito obrigado ele disse ao sair. Voltem quando quiserem respondeu o homem. A propsito, disse o caminhante, qual o nome deste

    lugar? Cu, respondeu o homem. Cu? Mas o homem na guarita ao lado do porto de mr-

    more disse que l era o cu! Aquilo no o cu, aquilo o inferno.O caminhante ficou perplexo. Mas, ento disse ele essa informao falsa deve

    causar grandes confuses. De forma alguma respondeu o homem. Na verdade,

    eles nos fazem um grande favor: l ficam aqueles que socapazes de abandonar seus melhores amigos

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  • ENSINANDO SOBRE O CU E O INFERNO

    Um samurai grande e forte, de ndole violenta, foi procurarum pequenino monge.

    Monge disse numa voz acostumada obedinciaimediata , ensina-me sobre o cu e o inferno!

    O monge miudinho olhou para o terrvel guerreiro e re-spondeu com o mais absoluto desprezo:

    Ensinar a voc sobre o cu e o inferno? Eu no poderiaensinar-lhe coisa alguma. Voc est imundo. Seu mau cheiro insuportvel. A lmina da sua espada est enferrujada. Voc uma vergonha, uma humilhao para a classe dos samurais.Suma da minha vista! No consigo suportar sua presenaexecrvel.

    O samurai enfureceu-se. Estremecendo de dio, o sanguesubiu-lhe s facese ele mal conseguiu balbuciar palavra algumade tanta raiva. Empunhou a espada,ergueu-a sobre a cabea e sepreparou para decapitar o monge.

    Isso o inferno disse o monge mansamente.O samurai ficou admirado com a compaixo e a absoluta

    dedicao daquele pequeno homem, oferecendo a prpria vidapara ensinar-lhe sobre o inferno! O guerreiro foi lentamenteabaixando a espada, cheio de gratido, subitamente pacificado.

    Isso o cu completou o monge com serenidade.

  • EXISTE DEUS?

    Buda estava reunido com seus discpulos certa manh,quando um homem se aproximou.

    Existe Deus? perguntou. Existe respondeu Buda.Depois do almoo, aproximou-se outro homem. Existe Deus? quis saber. No, no existe disse Buda.No final da tarde, um terceiro homem fez a mesma

    pergunta: Existe Deus? Voc tem de decidir respondeu Buda. Mestre, que absurdo! disse um de seus discpulos.Como o senhor pode dar respostasdiferentes para a mesma

    pergunta? Porque so pessoasdiferentes respondeu o iluminado.

    E cada uma se aproxima de Deus sua maneira: pela certeza,pela negao e pela dvida.

  • DEUS SABE O QUE FAZ

    H muito tempo, num reino distante, havia um rei que noacreditava na bondade de Deus. Tinha, porm, um sdito quesempre o lembrava dessa verdade. Em todas situaes dizia:

    Meu rei, no desanime, porque Deus bom!Um dia, o rei saiu para caar juntamente com seu sdito e

    uma fera da floresta atacou o rei. O sdito conseguiu matar o an-imal, porm no evitou que SuaMajestade perdesseo dedo mn-imo da mo direita. O rei, furioso pelo que havia acontecido esem mostrar agradecimento por ter sua vida a salvo pelos es-foros de seu servo, perguntou-lhe:

    E agora, o que voc me diz? Deus bom? Se Deus fossebom eu no teria sido atacado e no teria perdido o meu dedo.

    O servo respondeu: Meu rei, apesar de todas essas coisas, somente posso

    dizer-lhe que Deus bom, e que mesmo isso perder um dedo para seu bem!

    O rei, indignado com a resposta do sdito, mandou prend-lo na sela mais escura e mais ftida do calabouo. Aps algumtempo, o rei saiu novamente para caar e aconteceu que ele foiatacado, desta vez, por ndios que viviam na selva. Essesndioseram temidos por todos, pois sabia-seque faziam sacrifcios hu-manos para seus deuses.Mal prenderam o rei, passaram a pre-parar, cheios de jbilo, o ritual do sacrifcio. Quando j estavatudo pronto e o rei j estava diante do altar, o sacerdote ind-gena, ao examinar a vtima, observou furioso:

    Essehomem no pode ser sacrificado, pois defeituoso!Falta-lhe um dedo!

    E o rei foi libertado. Ao voltar para o palcio, muito alegre e

  • aliviado, libertou seu sdito e pediu-lhe que viesse suapresena. Ao ver o servo, abraou-o afetuosamente, dizendo-lhe:

    Meu caro, Deus foi realmente bom comigo! Voc j deveestar sabendo que escapei da morte justamente porque notinha um dos dedos. Mas ainda tenho em meu corao umagrande dvida: se Deus to bom, por que permitiu que vocfosse preso da maneira como foi, logo voc que tanto Odefendeu?

    O servo sorriu e disse-lhe: Meu rei, se eu estivessenessa caada, certamente seria

    sacrificado em seu lugar, pois no me falta dedo algum!

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  • PEGADAS NA AREIA

    Uma noite eu tive um sonho... Sonhei que estava andandona praia Contigo e, atravs do Cu, passavam cenas de minhavida. Para cada cena que passava, percebi que eram deixadosdois pares de pegadasna areia: um era o meu; o outro, o Teu.Quando a ltima cenade minha vida passoudiante de ns, olheipara trs, para as pegadasna areia, e notei que muitas vezesnocaminho da minha vida havia apenas um par de pegadas naareia. Notei tambm que isso aconteceunos momentos mais di-fceis e angustiosos da minha vida. Isso me aborreceu deveras,eento perguntei-Te:

    Tu me disseste, quando resolvi Te seguir, que andariassempre comigo todo o caminho. Mas notei que, durante asmaiores atribulaes do meu viver, havia na areia dos caminhosda vida apenasum par de pegadas.No compreendo por que nashoras em que eu mais necessitava de Tu me deixaste.

    Deus respondeu: Meu precioso filho, Eu te amo e jamais te deixaria nas

    horas da tua prova e do teu sofrimento. Quando viste na areiaapenasum par de pegadas,foi exatamente a que Eu te carregueiem meus braos.

  • NEM SEMPRE AS COISAS SO COMO PARECEM

    Dois anjos estavam viajando e pararam na casa de umafamlia rica para passara noite. A famlia recusou-sea receb-losno quarto de hspede da manso e, ao invs disso, foi-lhes dadoum lugar frio no poro. Assim, eles arrumaram suas camas nocho duro. O anjo mais velho viu um buraco na parede e ofechou. Quando o anjo mais novo perguntou o porqu daquilo, oanjo mais velho respondeu:

    Nem sempre as coisas so como parecem!Na noite seguinte, os dois anjos vieram descansarna casa

    de um fazendeiro muito pobre, porm hospitaleiro. Depois decompartilhar a pouca comida, o casal deixou que os anjosdormissem na sua cama, onde puderam ter uma boa noite dedescanso.Quando o sol veio na manh seguinte, os anjos encon-traram o fazendeiro e sua esposaem lgrimas. A nica vaca,cujoleite era o nico rendimento da famlia, estavamorta no campo.O anjo mais novo perguntou ao anjo mais velho:

    Como voc deixou que isso acontecesse?O primeirohomem tinha tudo, mesmo assim voc o ajudou. A segundafamlia tinha pouco, porm estava disposta a dividir todas ascoisas e voc deixou que sua vaca morresse?

    Nem sempre as coisas so como parecem respondeu oanjo mais velho. E continuou: Quando estvamos no poro damanso, vi que havia ouro guardado em um buraco na parede.Visto que o dono estava to obcecado pela cobia e no estavadisposto a compartilhar sua fortuna, eu fechei a parede e ele noser capaz de encontr-la. Ento, na noite passada, enquantons dormamos na cama do fazendeiro, o anjo da morte veiopara levar sua esposa.Eu lhe disse que levasseo animal no lugar

  • da esposa.

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  • AS SEMENTES DE DEUS

    Entrei numa loja e vi um senhor no balco.Maravilhado com a beleza do lugar, perguntei-lhe: Senhor, o que se vende aqui? Todos os dons de Deus. E custam muito? voltei a perguntar. No custam nada; aqui tudo de graa.Contemplei a loja e vi que havia jarros de amor, vidros de f,

    pacotes de esperana, caixinhas de salvao, muita sabedoria,fardos de perdo, pacotes grandes de paz e muitos outros donsde Deus.

    Tomei coragem e pedi-lhe: Por favor, quero o maior jarro de amor de Deus, todos os

    fardos de perdo, um vidro grande de f, para mim e para toda aminha famlia.

    Ento, o senhor preparou tudo e entregou-me um pequen-ino embrulho que cabia na palma da minha mo.

    Incrdulo, disse-lhe: Mas como possvel estar aqui tudo que eu pedi?Sorrindo, o senhor me respondeu: Meu querido irmo, na loja de Deus no vendemos

    frutos, s sementes. Plante-as!

  • O ALPINISTA INCRDULO

    Esta a histria de um alpinista que sempre buscavasuper-ar mais e mais desafios. Ele resolveu, depois de muitos anos depreparao, escalar o Aconcgua. Mas ele queria a glriasomente para ele e resolveu escalar sozinho, sem nenhum com-panheiro, o que seria natural no caso de uma escalada dessadificuldade.

    Ele comeou a subir, e foi ficando cada vez mais tarde,porm ele no havia se preparado para acampar e resolveuseguir a escaladadecidido a atingir o topo. Escureceu,e a noitecaiu como um breu nas alturas da montanha. No era possvelmais enxergar um palmo frente do nariz. No se via absoluta-mente nada. Tudo era escurido, zero de visibilidade, no havialua, e as estrelas estavam cobertas pelas nuvens. Subindo poruma parede, a apenas cem metros do topo, ele escorregou ecaiu. Caa a uma velocidade vertiginosa. Somente conseguia veras manchas que passavamcada vez mais rpidas na mesma es-curido e sentia a terrvel sensao de ser sugado pela fora dagravidade. Ele continuava caindo, e nesses angustiantes mo-mentos passaram por sua mente todos os momentos felizes etristes que ele j havia vivido em sua vida... De repente, ele sen-tiu um puxo forte que quase o partiu pela metade... Shack!Como todo alpinista experimentado, havia cravado estacas desegurana com grampos a uma corda comprida que fixara emsua cintura. Nessesmomentos de silncio, suspensonos ares nacompleta escurido, no houve alternativa seno gritar:

    O meu Deus, me ajude!De repente, uma voz grave e profunda vinda do cu

    respondeu:

  • O que voc quer de Mim, meu filho? Salve-me, meu Deus, por favor! Voc realmente acredita que Eu possa salv-lo? Tenho certeza, meu Deus! Ento, corte a corda que mantm voc pendurado...Houve um momento de silncio e reflexo. O homem se

    agarrou mais ainda corda e refletiu que se fizesse issomorreria...

    Conta o pessoal do resgate que no outro dia o alpinista foiencontrado congelado, morto, agarrado com fora, com as suasduas mos, a uma corda... a to-somente dois metros do cho.

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  • A CRUZ MUITO PESADA

    Um homem julgava sua cruz muito pesada.Fazia a jornadada vida, entre os demais, carregando de m vontade os prpriosproblemas.

    Pensoumuito em como amenizar o fardo e um dia... Eureca!descobriu que podia serrar um pedao da sua cruz. Isso o sat-isfez por certo tempo, at que, de novo, decidiu:

    Por que no facilitar a vida? Sou livre para fazer o quebem entendo com a minha cruz!

    E, ligando a inteno ao ato, serrou mais um pedao. Osanos se passaram e muitos pedaos foram cortados. Por fim, ohomem levava uma minscula cruz. Chegando ao termo daviagem, pararam todos, margem de uma vala. Do outro lado,apareceu um anjo, que deu boas vindas a todos e instruiu:

    Deponham suas cruzes sobre a vala. a medida exatapara servir de ponte para c. Mas cada um s pode atravessarpela prpria cruz.

    O homem olhou a largura da vala, comparou com suapequena cruz e olhou para o anjo. Mas este lhe disse:

    uma pena, mas voc deve voltar e juntar todos os ped-aos serrados, emend-los e trazer a cruz inteira a seu termo.

  • A CASA QUEIMADA

    Certo homem saiu em uma viagem de avio. Ele acreditavaem Deus e sabia que Ele o protegeria. Durante a viagem, quandosobrevoavam o mar, um dos motores falhou e o piloto teve defazer um pouso forado no oceano.Quase todos morreram, maso homem conseguiu agarrar-se a alguma coisa que o conservousobre a gua. Ficou boiando deriva durante muito tempo, atque chegoua uma ilha no habitada. Ao chegar praia, cansado,porm vivo, agradeceu a Deus pelo livramento maravilhoso damorte. Ele conseguiu se alimentar de peixes e ervas. Conseguiuderrubar algumas rvores e, com muito esforo, conseguiu con-struir uma casinha para ele. No era bem uma casa,mas um ab-rigo tosco, com paus e folhas, porm significava proteo. Eleficou todo satisfeito e mais uma vez agradeceu a Deus, porqueagora podia dormir sem medo dos animais selvagensque talvezpudessemexistir na ilha. Um dia, ele pescoumuitos peixes.Comcomida abundante, estava satisfeito com o resultado da pesca,porm, ao voltar-se na direo de sua casa, tamanha foi sua de-cepo, ao v-la toda incendiada. Ele se sentou em uma pedra edisse, em prantos:

    Deus! Como que o Senhor pde deixar isso acontecercomigo? O Senhor sabe que eu preciso muito desta casa parapoder me abrigar e deixou-a queimar-se todinha. Deus, o Senhorno tem compaixo de mim?

    Neste mesmo momento uma mo pousou-lhe no ombro eele ouviu uma voz dizendo:

    Vamos, rapaz?Ele se virou para ver quem estava falando com ele, e qual

    no foi sua surpresa quando viu sua frente um marinheiro todo

  • fardado, dizendo-lhe: Vamos, rapaz, ns viemos busc-lo. Mas como possvel? Como vocs souberam que eu es-

    tava aqui? Ora, amigo, vimos os seus sinais de fumaa pedindo so-

    corro. O capito ordenou que o navio parassee me mandou virbusc-lo naquele barco ali adiante.

    Os dois entraram no barco e, assim, o homem foi para o na-vio que o levaria em segurana de volta para os seus queridos.

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  • O VESTIDO AZUL

    Num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma ga-rotinha muito bonita.

    Ela frequentava a escola local. Sua me no tinha muitocuidado com aquela criana, que, quase sempre, apresentava-sesuja. Suas roupas eram muito velhas e maltratadas.

    O professor ficou penalizado com a situao da menina.Como que uma menina to bonita pode vir para a escola

    to mal arrumada? pensou.Separou algum dinheiro do seu salrio e, embora com di-

    ficuldade, resolveu comprar-lhe um vestido novo. Ela ficou lindano vestido azul.

    Quando a me viu a filha naquele lindo vestido azul, sentiuque era lamentvel que sua filha, vestindo aquele traje novo,fosse to suja para a escola.Por isso, passoua lhe dar banho to-dos os dias, a pentear-lhe os cabelos e a cortar-lhe as unhas.

    Quando acabou a semana, o pai disse-lhe: Mulher, voc no acha uma vergonha que nossa filha,

    sendo to bonita e bem-arrumada, more em um lugar como este,caindo aos pedaos? Que tal voc ajeitar a casa?Nas horas vag-as, eu vou dar uma pintura nas paredes, consertar a cerca eplantar um jardim.

    Logo mais, a casase destacavana pequena vila pela belezadas flores que enchiam o jardim e pelo cuidado com todos os de-talhes. Os vizinhos ficaram envergonhadospor morar em barra-cos feios e resolveram tambm arrumar suas casas, plantarflores, usar pintura e criatividade.

    Em pouco tempo, o bairro todo estava transformado. Umhomem, que acompanhava os esforos e as lutas daquela gente,

  • pensou que eles bem mereciam um auxlio das autoridades. Foiao prefeito expor suas ideias e saiu de l com autorizao paraformar uma comisso para estudar os melhoramentos que seri-am necessrios ao bairro.

    A rua de barro e de lama foi substituda por asfalto e caladade pedra. Os esgotosa cu aberto foram canalizados, e o bairroganhou ares de cidadania.

    E tudo comeou com um vestido azul. No era intenodaquele professor consertar toda a rua nem criar um organismoque socorresseo bairro. Ele fez o que podia, deu a sua parte. Fezo primeiro movimento, que acabou fazendo com que outraspessoas se motivassem a lutar por melhorias.

    Ser que cada um de ns est fazendo a sua parte no lugarem que vive?

    Por acasosomos daquelesque somente apontamos os bura-cos da rua, as crianas solta sem escola e a violncia dotrnsito?

    Lembremo-nos de que difcil mudar o estado total dascoisas.

    difcil limpar toda a rua, mas fcil varrer a nossacalada.

    difcil reconstruir um planeta, mas possvel oferecer aalgum um vestido azul.

    H moedas de amor que valem mais do que os tesourosbancrios, quando endereadas no momento certo e combondade.

    Voc acaba de receber um lindo vestido azul. Faa a suaparte.

    Ajude a melhorar o planeta!

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  • TODO MUNDO, ALGUM , QUALQUER UM ENINGUM

    Esta uma histria sobre quatro pessoas:Todo Mundo, Al-gum, Qualquer Um e Ningum. Havia um grande trabalho a serfeito e Todo Mundo tinha certeza de que Algum o faria.

    Qualquer Um poderia t-lo feito, mas Ningum o fez. Al-gum se zangou porque era um trabalho de Todo Mundo.

    Todo Mundo pensou que Qualquer Um poderia faz-lo, masNingum imaginou que Todo Mundo deixasse de faz-lo.

    Ao final, Todo Mundo culpou Algum quando Ningum fezo que Qualquer Um poderia ter feito

  • VEREDICTO

    Conta uma antiga lenda que na Idade Mdia um homemmuito honesto foi injustamente acusadode ter assassinadoumamulher. Na verdade, o autor era pessoainfluente do reino e porisso, desde o primeiro momento, procurou-se um bode expi-atrio para acobertar o verdadeiro assassino.

    O homem foi levado a julgamento, j temendo o resultado: aforca. Ele sabia que tudo iria ser feito para conden-lo e que ter-ia poucaschancesde sair vivo desta histria. O juiz, que tambmestava combinado para levar o pobre homem morte, simulouum julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado queprovasse sua inocncia.

    Disse o juiz: Sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar

    sua sorte nas mos do senhor. Vou escrever em um pedao depapel a palavra inocente e noutro pedao a palavra culpado. Osenhor sortear um dos papis e aqueleque sair ser o veredicto.O senhor decidir seu destino. Sem que o acusadopercebesse,ojuiz preparou os dois papis, mas em ambos escreveuculpado, demaneira que, naquele instante, no existia nenhuma chancede oacusado se livrar da forca. No havia sada. No havia altern-ativas para o pobre homem.

    O juiz colocou os dois papis em uma mesae mandou o acu-sado escolher um. O homem pensou alguns segundos e, pres-sentindo a vibrao, aproximou-se confiante da mesa,pegou umdos papis e rapidamente colocou-o na boca e o engoliu. Ospresentesao julgamento reagiram surpresos e indignados com aatitude do homem.

    Mas o que o senhor fez?E agora?Como vamos saber qual

  • o seu veredicto? muito fcil respondeu o homem. Basta olhar o

    outro pedao que sobrou e saberemos que acabei engolindo oseu contrrio. Imediatamente o homem foi libertado.

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  • OS PESSIMISTAS

    Existia um rei que, por causado aniversrio de seu reinado,resolveu fazer uma grande festa. Todos do reino foram convida-dos, e a prova que mais exigia de todos era a "escaladaao poste.Era um poste muito alto, em cujo topo estava o prmio: umacesta cheia de comida e ouro. Aquele corajoso sdito que con-seguisseescalar at o alto do gigantesco mastro poderia se deli-ciar com a comida e pegar todo o ouro. Milhares de pessoascompareceram ao evento, vindas de todos os cantos do reino, eno dia vrias se inscreveram para a prova. O primeiro a parti-cipar foi um rapaz alto e forte. Ele tomou uma distnciacurtssima e, muito negligentemente, subiu no poste, nochegando nem metade. L em cima ainda e j descendo,comeou a blasfemar contra o rei...

    Este rei est louco dizia. Ele colocou o prmio bemalto justamente para ningum conseguir apanh-lo.... Ele estgozandode nossacara continuou o rapaz. E tem mais: se to-dos deixarem de tentar, o rei ser obrigado a diminuir otamanho do mastro... Vamos desistir, mais fcil continuou ojovem.

    Alguns sditos se decepcionaram tanto com o rei quecomearam a ir embora com a cabea baixa e chorando. Outrosproferiam contra ele palavras de desapontamento. Naquele in-stante, apareceu um garoto bem magrinho... Tomou distncia,aproveitando a baguna gerada, e, correndo como vento, subiuno mastro. Na primeira tentativa no teve xito. Quando se pre-parava para a segunda tentativa, as pessoas gritavam:

    Desiste, desiste, desiste...Mesmo assim, ele se afastou e, mais convicto do que a

  • primeira vez,subiu rapidamente no mastro, com muita energia econvico, e, num esforo gigantesco, conseguiu se balanar notopo. A, sim, caiu a cesta com o prmio.

    Todos ficaram admirados. Uns aplaudiram, outroscomentavam sobre a proeza. Um rapaz, totalmente rendido pelofato, foi imediatamente procurar explicao com o pai do garoto,que contava o prmio, saboreavaa comida desejadae distribuaa todos com maior alegria pela conquista. O pai do garoto, ind-agado pelo rapaz sobre como e por qual razo o pequeno jovemhavia conseguido o feito, respondeu-lhe...

    Olha, existem duas coisas que motivaram meu filho aconquistar o prmio: a primeira a fome; a segunda que ele surdo.

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  • RVORE DOS DESEJOS

    Uma vez um homem estavaviajando e, acidentalmente, en-trou no paraso. E no conceito indiano de paraso existemrvores dos desejos. Voc simplesmente senta debaixo delas,deseja qualquer coisa e imediatamente seu desejo realizado.No h intervalo entre o desejo e sua realizao. O homem es-tava cansado e pegou no sono debaixo da rvore dos desejos.Quando despertou, estava com tanta fome que disse em voz alta:

    Estou com muita fome. Desejaria poder conseguir algumacomida de algum lugar.

    Imediatamente apareceu comida vinda do nada simples-mente uma deliciosa comida flutuando no ar. Ele estava tofaminto que no prestou ateno de onde a comida viera.(Quando se est com fome, no se filsofo.) Comeou a comerimediatamente a comida to deliciosa. Em seguida, olhou suavolta. Agora estava satisfeito. Outro pensamento surgiu em suamente: Se ao menos pudesse conseguir algo para beber... Ecomo no h proibies no paraso, imediatamente apareceuumexcelentevinho. Bebendo o vinho relaxadamente na brisa frescado paraso, sob a sombra da rvore, comeou a pensar: O queest acontecendo?Estou sonhando ou existem espritos ao redorque esto fazendo truques comigo? E espritos apareceram.

    Eram ferozes, horrveis, nauseantes.Ele comeou a tremer,e um pensamento surgiu em sua mente:

    Agora vou ser assassinado, com certeza!E ele foi assassinado.

  • FAZENDO A DIFERENA

    Era uma vez um escritor que morava em uma tranqilapraia, prxima de uma colnia de pescadores.Todas as manhsele caminhava beira do mar para se inspirar e tarde ficava emcasa escrevendo. Certo dia, caminhando pela praia, ele viu umvulto que parecia danar. Ao chegar perto do vulto, ele reparouque se tratava de um jovem que recolhia estrelas-do-mar daareia para, uma por uma, jog-las novamente de volta ao oceano.

    Por que est fazendo isso? perguntou o escritor.Voc no v? explicou o jovem A mar est baixa e o sol

    est brilhando. Elas vo secar e morrer se ficarem aqui na areia.O escritor espantou-se: Meu jovem, existem milhares de quilmetros de praias

    por estemundo afora e centenasde milhares de estrelas-do-marespalhadaspela praia. Que diferena faz?Voc joga umas poucasde volta ao oceano. A maioria vai perecer de qualquer forma.

    O jovem pegou mais uma estrela na praia, jogou de volta aooceano e olhou para o escritor.

    Para essa, eu fiz a diferena.Naquela noite o escritor no conseguiu dormir, nem sequer

    conseguiu escrever. Pela manh, voltou praia, uniu-se aojovem e, juntos, comearam a jogar estrelas-do-mar de volta aooceano.

  • O JARDINEIRO

    Era uma vez um jardineiro. Todo dia ele subia s montan-has para cortar pedras e, enquanto trabalhava, cantava, pois,embora fosse pobre, no desejava nada alm daquilo que pos-sua, por isso no tinha uma preocupao sequer.

    Um dia foi chamado para trabalhar na manso de umnobre. Quando viu o esplendor da manso, sentiu a dor dodesejopela primeira vez na vida e disse com um suspiro: Ah, seeu fosserico! No teria de ganhar a vida com suor e fadiga, comoagora.

    Imaginem seu espanto quando ouviu uma voz lhe dizer: Seu desejo foi realizado. Daqui para frente tudo o que

    desejar lhe ser concedido.Ele no sabia o que queriam dizer essaspalavras, at que

    voltou sua choupana naquela noite e, em seu lugar, encontrouuma manso to magnfica quanto aquela onde estivera trabal-hando. Assim, o jardineiro desistiu de cortar pedras e comeou agozar a vida dos ricos. Certo dia, quando a tarde estavaquente emida, aconteceude olhar pela janela e ver o rei passarcom umgrande nmero de nobres e escravos. Ele pensou: Como eugostaria de ser um rei, sentado no fresco da carruagem real!

    Seu desejo foi prontamente atendido, e ele se viu reclinadono conforto da carruagem real. Mas a carruagem revelou-se maisquente do que ele supusera. Olhou pela janela da carruagem ecomeou a maravilhar-se com o poder do sol, cujo calor penet-rava at nas grossas paredes da carruagem.

    Gostaria de ser o sol, disse para si mesmo.Mais uma vez,seu desejo foi realizado, e ele seviu enviando

    ondas de calor para o universo.

  • Durante algum tempo, tudo correu bem. Ento, em um diachuvoso, ele tentou abrir caminho atravs de uma grossanuveme no conseguiu. Foi transformado em uma nuvem e gloriou-sede seu poder de manter o sol afastado. Transformou-se emchuva e descobriu, contrariado, uma enorme pedra que blo-queava o caminho. Foi obrigado a fluir em volta dela.

    Como? gritou. Uma simples pedra mais poderosa doque eu? Bem, ento, desejo ser uma pedra.

    Assim, l estava ele, altaneiro no cimo da montanha. Malteve tempo de se alegrar por seu belo aspecto...Ouviu estranhossonsde martelo vindos de seusps. Olhou para baixo e, para suaconsternao, viu um diminuto ser humano ocupado em cortarpedaos de pedra de seus ps.

    O qu? gritou. Uma criatura insignificante mais po-derosa do que uma imponente pedra como eu? Quero ser umhomem!

    E, assim, descobriu que era outra vez um jardineiro, su-bindo a montanha para cortar pedras, ganhando a vida com suore fadiga, mas com uma cano no corao, porque estava con-tente de ser o que era e de viver com o que tinha.

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  • JULGAMENTO

    Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas at reis o in-vejavam, pois ele tinha um lindo cavalo branco... Reis lhe ofere-ciam quantias fabulosas pelo cavalo, mas o homem dizia:

    Este cavalo no um cavalo para mim, uma pessoa.Ecomo se pode vender uma pessoa, um amigo?

    O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo. Numamanh, descobriu que o cavalo no estava na cocheira. A aldeiainteira se reuniu, e algumas pessoas lhe disseram:

    Seu velho estpido! Sabamos que um dia o cavalo seriaroubado. Teria sido melhor vend-lo. Que desgraa!

    O velho disse: No cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo

    no est na cocheira. Este o fato; o resto julgamento. Se setrata de uma desgraa ou de uma bno, no sei, porque este apenas um fragmento. Quem pode saber o que vai se seguir?

    As pessoasriram do velho. Elas sempre souberam que eleera um pouco louco. Mas quinze dias depois, de repente, numanoite, o cavalo voltou. Ele no havia sido roubado, ele havia fu-gido para a floresta. E no apenas isso: ele trouxera uma dziade cavalosselvagensconsigo. Novamente aspessoasse reunirame lhe disseram:

    Velho, voc estavacerto. No se tratava de uma desgraa;na verdade, provou ser uma bno.

    O velho disse: Novamente vocs esto seadiantando. Apenasdigam que

    o cavaloest de volta... Quem sabese uma bno ou no? Este apenasum fragmento. Voc l uma nica palavra de uma sen-tena e como pode julgar todo o livro?

  • Dessavez as pessoasno podiam dizer muito, mas interior-mente sabiam que ele estavaerrado. Doze lindos cavalos tinhamvindo... O velho tinha um nico filho, que comeou a treinar oscavalos selvagens.Apenas uma semana mais tarde ele caiu deum cavalo, fraturou a coluna e ficou paraltico. Novamente aspessoas se reuniram e, mais uma vez, o julgaram. Elas disseram:

    Voc tinha razo novamente. Foi uma desgraa. Seunico filho perdeu o uso das pernas, e na sua velhice ele era seunico amparo. Agora voc est mais pobre do que nunca.

    O velho disse: Vocs esto obcecadospor julgamentos. No seadiantem

    tanto. Digam apenasque meu filho fraturou as pernas. Ningumsabese isso uma desgraa ou uma bno. A vida vem em frag-mentos, mais que isso nunca dado.

    Aconteceu que, depois de algumas semanas, o pas entrouem guerra e todos os jovens da aldeia foram forados a sealistar.Somente o filho do velho foi deixado para trs, porque era alei-jado. A cidade inteira estava chorando, lamentando-se, porqueaquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dosjovens jamais voltaria. Elas vieram at o velho e disseram:

    Voc tinha razo, velho, aquilo se revelou uma bno.Seu filho pode estar aleijado, mas ainda est com voc. Nossosfilhos foram-se para sempre.

    O velho disse mais uma vez: Vocs continuam julgando. Ningum sabe!Digam apenas

    que seus filhos foram forados a entrar para o exrcito e quemeu filho no foi. Mas somente Deus, a totalidade, sabese isso uma bno ou uma desgraa.

    E continuou: No julguem, porque dessa maneira jamais se tornaro

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  • unidos com a totalidade. Vocs ficaro obcecadoscom fragmen-tos, pularo para as concluses a partir de coisas pequenas.Quando algum julga, deixa de crescer.Julgamento significa umestado mental estagnado. E a mente sempre deseja julgar,porque estar em processo sempre arriscado e desconfortvel.Na verdade, a jornada nunca chega ao fim. Um caminho ter-mina, outro comea; uma porta se fecha, outra seabre. Atinge-seum pico; sempre existe um pico mais alto. Somente os que somuito corajosos, no se importando com a meta e se content-ando com a jornada, satisfeitos simplesmente de viver o mo-mento e de nele crescer... somente estesso capazesde camin-har com a totalidade.

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  • LIO VIVA

    Era uma tarde de domingo ensolarada na cidade de Ok-lahoma. Bobby Lewis aproveitou para levar seusdois filhos parajogar minigolfe. Acompanhado pelos meninos, dirigiu-se bil-heteria e perguntou ao bilheteiro:

    Quanto custa a entrada?O bilheteiro respondeu prontamente: So trs dlares para o senhor e para qualquer criana

    maior de seis anos. A entrada grtis se eles tiverem seis anosou menos. Quantos anos eles tm?

    Bobby informou que o menor tinha trs anos e o maior,sete.

    O rapaz da bilheteria falou com ares de esperteza: O senhor acabou de ganhar na loteria ou algo assim? Se

    tivesse me dito que o mais velho tinha seis anos eu no saberiareconhecer a diferena. Poderia ter economizado trs dlares.

    O pai, sem perturbar-se, disse: Sim, voc talvez no notassea diferena, mas as crianas

    saberiam que no essaa verdade e para economizar pequenasoma em moedas eu desperdiaria o tesouro do ensinamentonobre e justo.

  • MILHO BOM

    Esta a histria de um fazendeiro que venceu o prmioMilho crescido.

    Todo ano ele entrava com seu milho na feira e ganhava omaior prmio. Uma vez um reprter entrevistou-o e aprendeualgo interessante sobre como ele cultivava o milho.

    O reprter descobriu que o fazendeiro compartilhava a se-mente do seu milho com os seus vizinhos.

    Como pode voc se di