todas as parabolas da biblia pdf

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  • Edgwseds v

    Todas as

    PARBOLAS

    da Bblia

    Uma anlise detalhada de todas as

    parbolas das Escrituras

    SUMRIO

    Introduo

    A longevidade do mtodo de parbolas; O significado do termo parbola; As

    vrias divises da linguagem figurada; O valor da instruo por parbolas; A

    misso da parbola; A falsa e a verdadeira interpretao da parbola; As mltiplas

    formas da parbola.

    Primeira parte As parbolas do Antigo Testamento

  • Introduo

    As parbolas dos livros histricos (Gnesis J)

    As parbolas de Salomo (Provrbios, Eclesiastes e Cntico dos Cnticos)

    As parbolas de Isaas

    As parbolas de Jeremias

    As parbolas de Ezequiel

    As parbolas de Daniel

    As parbolas de Osias, de Miquias e de Habacuque

    As parbolas de Zacarias e de Malaquias

    Segunda parte As parbolas do Novo Testamento

    Introduo

    As parbolas e seu potencial na pregao; Parbolas como retratos falados; As

    parbolas de acordo com um esboo; Parbolas do incio do ministrio; Parbolas

    do final do ministrio; Parbolas da semana da paixo.

    As parbolas de Joo Batista

    As parbolas do Senhor Jesus Cristo

    em Mateus

    em Marcos

    em Lucas

    Ausncia de material parablico em Joo

  • Instrues parablicas em Atos

    Instrues parablicas nas epstolas paulinas

    Instrues parablicas nas epstolas universais

    Instrues parablicas em Apocalipse

    Bibliografia

    ndice de assuntos

    INTRODUO

    Em todo o mbito literrio no h livro mais rico em material alegrico e em

    parbolas do que a Bblia. Onde, por exemplo, podemos encontrar parbolas,

    emblemas ou figuras de linguagem comparveis quelas que os grandes profetas da

    antigidade dentre os quais Jesus, o maior de todos eles empregavam quando

    discursavam aos de sua poca? Sabendo do poder e do fascnio da linguagem

    pictrica, usavam esse recurso para aumentar o efeito de seu ministrio oral. Como

    descobriremos em nosso estudo sobre as parbolas da Bblia, especialmente as

    transmitidas pelo Senhor Jesus, veremos que so o mais perfeito exemplo de

    linguagem figurada para mostrar e reforar as verdades divinas.

    Em outro livro meu, All the miracles of the Bible [Todos os milagres da

    Bblia], tratamos das diferenas entre milagres parbolas em ao e parbolas

    milagres em palavras. Nada h de miraculoso nas parbolas, que, na maior parte,

    so naturais e indispensveis, chamando a ateno para a graa e para o juzo. Os

  • milagres manifestam poder e misericrdia. Westcott, no estudo The gospels [Os

    evangelhos], afirma que a parbola e o milagre "so perfeitamente correlatos entre

    si; na parbola, vemos a personalidade e o poder do Grande Obreiro; no milagre, a

    ao geral e constante da Obra [...] naquela, somos levados a admirar as mltiplas

    formas da Providncia e neste, a reconhecer a instruo vinda do Universo".

    No debate acerca dos vrios aspectos do desenvolvimento e da de-

    monstrao do mtodo parablico encontrado na Bblia, interessante

    observar quantos escritores do assunto mencionam, de forma elogiosa, a abrangente

    pesquisa de Trench em seu Notes on the parables [Anotaes sobre as parbolas].

    O dr. Gordon Lang, por exemplo, no "Prefcio" do seu livro esclarecedor The

    parables of Jesus [As parbolas de Jesus], afirma que o trabalho do dr. Trench foi

    o nico que ele consultou ao preparar a sua obra. "Seria simplesmente um

    atrevimento tentar escrever alguma coisa sobre as parbolas", diz o dr. Lang, "sem

    a orientao que advm da percia e da grande percepo do dr. Trench". Outros

    estudiosos de parbolas, entre os quais me incluo, so unnimes em reconhecer

    que devem muito ao dr. Trench. Para orientar pregadores e estudiosos,

    apresentamos a seguir uma indispensvel introduo que trata dos mais variados

    aspectos da parbola.

    A longevidade do mtodo de parbolas

    Embora o uso das parbolas tenha sido caracterstica mpar do ensino

    popular de Jesus, visto que "Sem parbolas no lhes falava", no foi Cristo o

    criador desse recurso didtico. As parbolas so utilizadas desde a antigidade.

    Embora Jesus tenha contribudo para os escritos sagrados com parbolas

    inigualveis e tenha elevado esse mtodo de ensino ao mais alto grau, era sabedor

    da existncia milenar desse mtodo de apresentar a verdade. Na poca e na regio

    em que Jesus apareceu, as parbolas eram, como as fbulas, um mtodo popular de

    instruo, e isso entre todos os povos orientais. O dr. Salmond, no manual The

    parables of our Lord [As parbolas do nosso Senhor], faz lembrar, no pargrafo

    que trata do "Encanto da linguagem figurada", que a utilizao desse tipo de

    linguagem exercia:

    ... atrao especial sobre os povos orientais, para quem a

    imaginao era mais rpida e tambm mais ativa que a faculdade

    lgica. A grande famlia das naes conhecidas como semitas, aos quais

  • pertencem os hebreus, junto com os rabes, os srios, os babilnios e

    outras raas notveis j demonstraram a especial tendncia

    imaginao, como tambm um gosto particular por ela.

    A antigidade desse mtodo disseminado de linguagem se confirma pelo

    fato de figurar no AT em larga medida e sob diferentes formas. A primeira

    parbola, registrada, em forma de fbula, mostra rvores escolhendo para si um rei,

    retrato d que aconteceria entre o povo (Jz 9). Joto usou essa fbula com o objeti-

    vo de convencer os habitantes de Siqum sobre a tolice de terem escolhido por rei o

    perverso Abimeleque. As parbolas e os smiles do AT, abordados nesta seo,

    mostram que era muito comum o mtodo de instruo por meio de parbolas. Para

    uma melhor compreenso da maneira em que os escritores judeus da antigidade

    usavam o mundo visvel para ilustrar o reino espiritual, o leitor precisa consultar o

    captulo muito interessante de Trench, chamado "Outras parbolas que no as das

    Escrituras". Em nota de rodap, cita-se a declarao dos judeus cabalis-tas, segundo

    a qual "a luz celestial nunca desce at ns sem um vu [...] impossvel que um

    raio divino brilhe sobre ns, a menos que velado por uma diversidade de

    revestimentos sagrados".

    Graas sua infinidade, Deus tinha de utilizar aquilo com que os seres

    humanos estivessem familiarizados, com o objetivo de comunicar finita mente

    humana a sublime revelao de sua vontade. A revelao de preceitos fundamentais

    era revestida de parbolas e analogias. Hillel e Shammai foram os mais ilustres

    professores a usar parbolas antes de Cristo. Depois de Jesus veio ainda Meir, com

    quem, segundo a tradio, a capacidade de criar parbolas declinou conside-

    ravelmente. A figueira do povo judeu secou e no pde mais produzir frutos.

    Quando o Senhor Jesus apareceu entre os homens, como Mestre, tomou a

    parbola e honrou-a, usando-a como veculo para a mais sublime de todas as

    verdades. Sabedor de que os mestres judeus ilustravam suas doutrinas com o

    auxlio de parbolas e comparaes, Cristo adotou essas antigas formas de ensino e

    deu-lhes renovao de esprito, com a qual proclamou a transcendente glria e

    excelncia de seu ensino. Depois de Jesus, as parbolas poucas vezes foram usadas

    pelos apstolos. No existem parbolas em Atos, mas, como mostraremos quanto

    ao NT, as epstolas e o Apocalipse contm impressionantes exemplos da verdade

    divina revestida em trajes humanos.

    Embora os apcrifos faam grande uso das figuras de linguagem, no h

    parbolas nos evangelhos apcrifos. Entre os pais da igreja havia um ou dois que se

  • utilizavam de parbolas como meio de expresso. Trench fornece uma seleo

    desses primeiros escritores da igreja, cujos trabalhos eram ricos em comparaes.

    Entre os exemplos citados, est este excerto dos escritos de Efraem Siros:

    Dois homens iniciaram viagem a certa cidade, localizada a cerca

    de 6 km. Uma vez percorridos os primeiros quinhentos metros,

    encontraram um lugar junto estrada, em que havia bosques e rvores

    frondosas, alm de riachos; lugar muito agradvel. Ambos olharam ao

    redor, e um dos dois viajantes, com a inteno de continuar a

    caminhada rumo cidade dos seus desejos, passou apressado por

    aquele local; mas o outro primeiramente parou para olhar melhor e de-

    pois resolveu permanecer um pouco mais. Mais tarde, quando comeava

    a querer deixar a sombra das rvores, temeu o calor e assim deteve-se

    um pouco mais. Ao mesmo tempo, absorto e encantado com a beleza da

    regio, foi surpreendido por uma fera selvagem que assombrava a

    floresta, sendo capturado e arrastado at a caverna do animal. Seu

    companheiro, que no se descuidou em sua viagem, nem se permitiu

    demorar naquele lugar, seduzido pela beleza das rvores, seguiu

    diretamente para a cidade.

    Comparada com as parbolas da Bblia, essa que acabamos de ver parece um

    tanto sem graa e infantil. Como demonstraremos mais tarde, as parbolas de Jesus

    so magnficas na aplicabilidade, na conciso, na beleza e no poder de atrao.

    Embora Cristo no tenha criado o recurso didtico da parbola, certamente o dotou

    de elevada originalidade, conferindo-lhe profunda importncia espiritual, com

    dimenses at ento desconhecidas.

    O significado do termo parbola

    Embora estejamos inclinados a limitar o significado de parbola s

    parbolas de Jesus encontradas nos trs primeiros evangelhos, na verdade o

    vocbulo tem uma flexibilidade de emprego, pois abarca diferentes aspectos da

    linguagem figurada, como os smiles, as comparaes, os ditados, os provrbios e

    assim por diante.

  • No AT a palavra hebraica traduzida por parbola m_sh_l, que significa

    provrbio, analogia e parbola. Com ampla gama de empregos, essa palavra "cobre

    diversas formas de comunicao feitas de modo pitoresco e sugestivo todas

    aquelas em que as idias so apresentadas numa roupagem figurada. Em virtude de

    sua aplicao ser to variada, encontra-se na verso portuguesa diferentes

    tradues". A idia central de m_sh_l "ser como" e muitas vezes refere-se a

    "frases constitudas em forma de parbola", caracterstica da poesia hebraica. O

    vocbulo nunca usado no sentido tcnico e especfico de seu correspondente

    neotestamentrio.

    Pode ser encontrado no discurso figurado de Balao:

    Ento proferiu Balao a sua palavra... (Nm 23:7,18; 24:3,15).

    O mesmo termo usado em ditados proverbiais curtos e substanciais:

    Pelo que se tornou em provrbio: Est tambm Saul entre os

    profetas? (ISm 10:12).

    Salmond observa que "nesse sentido a palavra usada em referncia s

    mximas de sabedoria contidas no livro conhecido como Provrbios"; essas

    mximas se apresentam em larga medida na forma de comparao, como quando se

    diz:

    Os tesouros da impiedade de nada aproveitam, mas a justia livra

    da morte (10:2).

    M_sh_l o termo traduzido por provrbios em 1:1, em 10:1 e na frase:

    ... assim o provrbio na boca dos tolos (26:7,9; v. lRs 4:32).

  • Tambm usado com respeito frase de sabedoria tica de J:

    Prosseguiu J em seu discurso... (27:1; 29:1).

    tambm usado em referncia aos ditados obscuros, declaraes

    enigmticas e enigmas:

    ... decifrarei o meu enigma na harpa (Sl 49:4);

    ... proporei enigmas da antigidade (Sl 78:2).

    E usado ainda como correspondente de figura ou alegoria:

    Fala aos filhos de Israel... (Nm 17:2; 24:3).

    C. W. Emmet, no Dictionary of the gospels [Dicionrio dos evangelhos],

    organizado por Hastings, observa que "h cinco passagens no AT geralmente

    citadas como a mais prxima representao da 'parbola' no sentido tcnico do

    termo. Cumpre salientar que em nenhuma dessas passagens se encontra a palavra

    parbola. Como j vimos, quando temos a referncia "no temos o referente (a

    parbola propriamente dita); de igual modo, quando temos o referente, no

    encontramos a referncia".

    As parbolas de Nata (2Sm 12:1-4) e de Joabe (2Sm 14:6) so um tanto

    semelhantes, tendo uma histria real com uma aplicao forte. A primeira

    corresponde Parbola do credor e dos devedores, e a de Joabe traz mente a

    Parbola do filho prdigo.

  • A Parbola do profeta ferido (lRs 20:39) conta com o auxlio de uma

    dramatizao. "Em todas as trs parbolas", diz Emmet, "o objetivo comunicar a

    verdade da histria e condenar o ouvinte mediante os comentrios impensados que

    saem de sua prpria boca". Nos ltimos dois casos, o mtodo talvez inclua a sus-

    peita de trapaa, modalidade no utilizada pelo nosso Senhor; a aplicao da

    Parbola dos lavradores maus (Mt 21:33) tem sua origem em Isaas 5:1-6.

    A Parbola da vinha do Senhor (Is 5:1-7) verdadeira, embora apenas

    pouco desenvolvida, e serve de exemplo da relao entre a parbola e a metfora. A

    linha divisria entre a parbola e a alegoria estreita (SI 80:8).

    A Parbola do lavrador (Is 28:24-28) apresenta uma comparao entre o

    mundo natural e o espiritual, e no h narrao. Conseqentemente, o AT faz

    grande uso das parbolas, mostrando algumas vezes serem iguais em esprito, em

    forma e em linguagem, com notveis semelhanas, s parbolas do NT. Nossa ex-

    posio acerca das parbolas do AT revela que podem ser divididas em trs classes:

    narrativas, das quais a das Arvores um exemplo (Jz 9:7-15);

    predicantes, conforme a encontrada na da Vinha do Senhor (Is 5:1-7);

    simblicas, ilustrada pela Parbola dos dois pedaos de pau (Ez 37:15-22).

    No NT, o termo "parbola" assume uma variedade de significados e formas,

    sem se restringir s longas narrativas dos Evangelhos que conhecemos como

    parbolas de Cristo. H no grego duas palavras traduzidas por "parbola". O termo

    mais comum parbola, que ocorre 48 vezes nos evangelhos sinpticos sem nunca

    encontrar definio. O seu significado s se pode conjec-turar, tendo sido

    aproveitado da Septuaginta, que geralmente traduz o vocbulo hebraico "parbola"

    por parabol_.

    H sobretudo duas idias presentes na raiz da primeira palavra, a saber,

    "representar ou significar algo"; "semelhana ou aparncia". Esse termo grego

    significa "ao lado de" ou "lanar ou atirar", transmitindo idia de proximidade, num

    cotejamento que visa a verificar o grau de semelhana ou de diferena. Uma

    "semelhana" ou "pr uma coisa ao lado da outra". Certo escritor disse que o

    vocbulo original significa comandar ou governar, como um prncipe cujos

    preceitos e ordens de justia devem ser obedecidos pelo povo.

  • O outro vocbulo traduzido como "parbola" paroimia, que significa

    "adgio, ditado enigmtico, provrbio, apresentao que se distingue dos meios

    normais de comunicao". Esse termo praticamente prprio de Joo, que o usa

    quatro vezes (Jo 16:6-18,25; 15:1-18). Esse apstolo nunca usa o primeiro termo,

    parabol__, que o nico dos dois usados por Mateus, por Marcos e por Lucas.

    Paroimia, usado na Septuaginta e por Joo, denota um provrbio (ou parbola)

    "tirado dos acontecimentos e objetos do dia-a-dia, disponvel para o uso pblico e

    para esse fim destinado. O que se dizia uma vez em qualquer caso poderia ser

    repetido sempre nas mesmas circunstncias".

    Encontra-se flexibilidade no uso do termo "parbola" quando aplicado a

    ditos proverbiais concisos:

    Sem dvida me direis este provrbio (parbola): Mdico, cura-te

    a ti mesmo (Lc 4:23);

    Disse-lhes uma parbola (Lc 6:39; 14:7)

    tambm usado em referncia a comparaes ou afirmaes ilustrativas sem

    a presena de narrativa. Por exemplo, o cego conduzindo outro cego: "Explica-nos

    essa parbola" (Mt 15:15; Lc 6:39). Alm disso h ainda a figueira e seu sinal evi-

    dente: "Aprendei agora esta parbola da figueira" (Mt 24:32,33). As palavras de

    Jesus Cristo sobre as coisas que profanam so citadas como "parbolas" : "Seus

    discpulos perguntaram-lhe a respeito da parbola" (Lc 7:1-23). Na nossa verso, o

    termo "parabol_ " traduzido por figura: "... e da [Abrao] tambm em figura

    [parbola] o recobrou" (Hb 11:19).

    Muitas das figuras de linguagem usadas por Jesus contm a semente da

    parbola. Outras, chamadas parbolas, so simplesmente smiles ou comparaes

    maiores. Pense sobre esta parbola embrionria: "Pode o cego guiar o cego?" (Lc

    6:39). Fairbairn diz que precisamos apenas desenvolver esta pequena indicao,

    para termos uma histria perfeita. "Dois cegos so vistos levando um ao outro pela

    estrada e, depois de lutarem contra as dificuldades, ambos caem no fosso ao lado da

    estrada". Nesse provrbio sucinto e ilustrativo de Jesus, temos a substncia, embora

    no a forma, da parbola. Nos episdios acima, os aspectos comuns da vida so

    empregados para ressaltar uma verdade mais sublime.

  • Se entendermos o uso dos termos j citados, estaremos prontos para

    responder pergunta "O que exatamente ma parbola?" O que ela no ser

    compreendido quando examinarmos sua natureza. "O uso constante de um termo

    com o significado de semelhana, tanto no hebraico como no grego, torna evidente

    que uma caracterstica essencial da parbola est em unir duas coisas diferentes, de

    forma que uma ajude a explicar e a ressaltar a outra". O estudo das parbolas de

    Cristo nos convence de que eram mais que uma boa escolha de ilustraes acerca

    da verdade que ele queria transmitir. A parbola j foi explicada como "um smbolo

    externo de uma realidade interna". E tambm o "seu poder est na harmonia

    expressa entre o mundo natural e o espiritual". Bond, em The Master Teacher [O

    maior dos mestres], explica a parbola como "uma figura retrica que traduz, por

    contrastes e similaridades, as leis e os fatos naturais, empregando os termos da vida

    espiritual". A narrativa fiel natureza ou vida usada com o propsito de

    comunicar verdades espirituais mente do ouvinte. Certa estudante de escola

    dominical "chegou quase l" quando disse que, para ela, a parbola era "uma hist-

    ria terrena com um significado celestial".

    As parbolas demonstram haver harmonia preordenada entre as coisas

    espirituais e as naturais. Usam-se objetos materiais para expressar" verdades

    espirituais e revelar que a natureza mais do que aparenta ser. A natureza um

    livro de smbolos fato que Tertuliano tinha em mente quando escreveu: "Todas

    as coisas da Natureza so esboos profticos das operaes divinas; Deus no

    apenas nos conta as parbolas, mas as executa". Charles Kingsley refora esse

    sentimento neste pargrafo: "Este mundo terreno que vemos um retrato exato, o

    padro do mundo espiritual e celestial que no vemos".

    A afirmao de Paulo sobre o mundo visvel de Deus, que nos instrui acerca

    dos mistrios da f e dos deveres morais, diz: "Pois os atributos invisveis de Deus,

    desde a criao do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se en-

    tendem, e claramente se vem pelas coisas que foram criadas..." (Rm 1:20).

    Incontveis so os outros testemunhos sobre o fato de que, quando a Bblia e

    a natureza so postas lado a lado, parecem corresponder. Lisco, cujo trabalho muito

    instrutivo On the parables [Sobre as parbolas] de especial valor por citar os

    grandes telogos da Reforma em relao a cada parbola, diz que o mundo fsico

    tipifica o mundo moral, mais sublime: "Ambos os reinos se desenvolveram de

    acordo com as mesmas leis; as parbolas de Jesus no eram meras ilustraes, mas

    analogias internas, a natureza tornando-se testemunha do mundo espiritual; tudo o

    que se encontra no reino terreno tambm existe no reino celestial". Quando

    examinarmos as parbolas de Jesus, descobriremos que so terrenas na forma e

  • celestiais no esprito, de acordo com a caracterstica da prpria manifestao de

    Cristo.

    O fato de a natureza ter sido escolhida por Deus para representar verdades e

    relacionamentos de natureza espiritual e de durao eterna justamente o que lorde

    Bacon tinha em mente quando escreveu: "A verdade e a Natureza diferem, da

    mesma forma que a impresso original difere da cpia". Thomas Carlyle, em Sartor

    resartus, concorda e diz que "todas as coisas visveis so emblemas. O que voc v

    aqui, no est aqui por acaso; a matria apenas existe para representar uma idia e

    torn-la palpvel".

    O arcebispo Trench, cujo excepcional Notes on the parables [Anotaes

    sobre as parbolas] nunca ser suficientemente reconhecido, por mais que seja

    elogiado, lembra que "as analogias ajudam a fazer a verdade inteligvel [...] As

    analogias do mundo natural [...] so argumentos e podem ser chamadas

    testemunhas, sendo o mundo da natureza testemunha do mundo espiritual em todos

    os sentidos, procedente de uma mesma mo, crescendo a partir da mesma raiz e

    sendo constitudo para o mesmo fim. Todos os amantes da verdade reconhecem

    prontamente essas misteriosas harmonias e a fora de argumentos que delas resul-

    tam. Para eles, as coisas da terra so cpias das do cu".

    Da talentosa pena de um verdadeiro profeta cristo, o dr. John Pulsford,

    selecionamos a seguinte contribuio, encontrada em seu livro Loyalty to Christ

    [Lealdade a Cristo]: "As parbolas no so ilustraes foradas, mas reflexos das

    coisas espirituais. Terra e cu so obras do nico Deus. Todos os efeitos naturais

    esto ligados s suas causas espirituais e suas causas espirituais esto ligadas aos

    seus efeitos naturais. Os mundos espirituais e os mundos naturais concordam, como

    o interno e o externo".

    J nos detivemos o suficiente sobre o assunto das analogias existentes entre

    as obras de Deus na natureza e na providncia, e suas operaes pela graa. Uma

    concluso apropriada para essa inegvel correspondncia em muitas das parbolas,

    quem d William M. Taylor, em Parables ofour Savior [As parbolas do nosso

    Salvador]: "O mundo natural veio em sua forma primitiva e ainda sustentado pela

    mo daquele que criou a alma humana; e a administrao da Providncia continua

    sendo feita por Aquele que nos deu a revelao de sua vontade nas Sagradas

    Escrituras, e nos ofereceu a salvao por seu Filho. Portanto, talvez encontremos

    um princpio de unidade que percorra essas trs reas de sua administrao; e o

    conhecimento de suas operaes em qualquer uma delas pode ser til em nossa

    investigao a respeito das demais".

  • Como o termo geralmente traduzido por "parbola" significa pr lado

    a lado, transmitindo a idia de comparao, a parbola literalmente pr ao

    lado ou comparar verdades terrenas com verdades celestiais, ou uma semelhana,

    ou ilustrao entre um assunto e outro. As parbolas demonstram: o que h fora de

    ns o espelho em que podemos contemplar o espiritual e o interno, como Milton

    nos revela nestas linhas:

    E se a terra

    E apenas a sombra do cu e das coisas que nele h,

    E um se parece com o outro mais do que se supe na terra?

    As vrias divises da linguagem figurada

    So vrias as figuras de linguagem que a Bblia emprega, e todas so

    necessrias para ilustrar verdades divinas e profundas. Como nossa tendncia

    agrupar todas essas palavras sem distinguir umas das outras, cada forma, parece-

    nos, merece ateno especial. Benjamin Keach, na sua obra antiga e um tanto

    difcil, The metaphors [As metforas], apresenta uma dissertao introdutria a

    respeito da distino de cada figura de linguagem. H tambm o captulo sobre "As

    figuras de linguagem da Bblia", do dr. A. T. Pierson. Insisto com o leitor para que

    leia a obra de Trench, de elevada percia, On the definition of the parable [Sobre a

    definio da parbola] , em que diferencia a parbola da alegoria, da fbula, do

    provrbio e do mito.

    Smile. O vocbulo smile significa parecena ou semelhana,

    exemplificado no Salmo dos dois homens: "Ser como a rvore plantada junto a

    ribeiros de guas [...] Os mpios [...] so como a moinha que o vento espalha" (Sl

    1:3,4).

    O smile difere da metfora por ser apenas um estado de semelhana,

    enquanto a metfora transfere a representao de forma mais vigorosa, como

    podemos ver nestas duas passagens: "Todos os homens so como a erva, e toda a

    sua beleza como as flores do campo. Seca-se a erva, e caem as flores..." (Is 40:6,7);

  • "Toda a carne como a erva, e toda a glria do homem como a flor da erva. Seca-

    se a erva, e cai a sua flor..." (lPe 1:24).

    No smile, a mente apenas repousa nos pontos de concordncia e nas

    experincias que se combinam, sempre alimentadas pela descoberta de semelhanas

    entre coisas que diferem entre si. O dr. A. T Pierson observa que "a parbola

    autntica , no uso das Escrituras, um smile, geralmente posto em forma de nar-

    rativa ou usado em conexo com algum episdio". Portanto, parbolas e smiles se

    parecem.

    Provrbio. Ainda que os princpios da parbola estejam presentes em alguns

    dos pequenos provrbios, das declaraes profticas enigmticas e das mximas

    enigmticas da-Bblia (ISm 10:12; SI 78:2; Pv 1:6; Mt 24:32; Lc 4:23), no entanto,

    diferem do provrbio propriamente dito, que em geral breve, trata de assuntos

    menos sublimes e no se preocupa em contar histrias. Os apcrifos renem

    parbolas e provrbios num s grupo: "Os pases maravilhar-se-o diante de seus

    provrbios e parbolas"; "Ele buscar os segredos das sentenas importantes e

    estar familiarizado com parbolas enigmticas" (Ec 47:17; 39:3).

    Embora parbola e provrbio se-jam termos permutveis no NT, Trench

    ressalta "que os chamados provrbios do evangelho de Joo tendem a ter muito

    mais afinidade com a parbola do que com o provrbio, e so de fato alegorias.

    Dessa forma, quando Cristo demonstra que o relacionamento dele com o seu povo

    se assemelha ao pastor com as ovelhas, tal demonstrao denominada provrbio,

    embora os nossos tradutores, mais fiis ao sentido que o autor pretendia, a tenham

    traduzido por parbola (Jo 10:6). No difcil explicar essa troca de palavras. Em

    parte deve-se a um termo que no hebraico significa ao mesmo tempo parbola e

    provrbio". (Cf. Pv 1:1 com ISm 10:12 e Ez 18:2.) De modo geral, provrbio um

    dito sbio, uma expresso batida, um adgio.

    Metfora. A Bblia rica em linguagem metafrica. A metfora afirma de

    modo inconfundvel que uma coisa outra totalmente diferente. O termo origina-se

    de dois vocbulos gregos que significam estender. Um objeto equiparado a outro.

    Aqui temos dois exemplos do uso de metforas:

    Pois o Senhor Deus sol e escudo (Sl 84:11);

  • Ele o meu refgio e minha fortaleza (Sl 91:2).

    Dessa forma, como pode ser observado, metfora um termo conhecido por

    ns "na rea da experincia que faz sentido, e indica que determinado objeto,

    possuidor de propriedades especiais, transfere-as a outro objeto pertencente a uma

    rea mais elevada, de modo que o anterior nos d uma idia mais completa e

    realista das propriedades que o ltimo deve ter". Nas passagens supracitadas, tudo o

    que relacionado ao Sol, ao escudo, ao refgio e fortaleza transferido para o

    Senhor. O Sol, por exemplo, fonte de luz, calor e poder. A vida na Terra depende

    das propriedades do Sol. Portanto, o Senhor como Sol a fonte de toda a vida.

    No evangelho de Joo no existem parbolas propriamente ditas,

    mas h, entretanto, uma srie de metforas impressionantes como:

    Eu sou o bom pastor (Jo 10:11).

    Eu sou a videira verdadeira (Jo 15:1).

    Eu sou a porta (Jo 10:7).

    Eu sou o po da vida (Jo 6:35).

    Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14:6).

    Alegoria. No fcil distinguir entre parbola e alegoria. Esta ltima no

    uma metfora ampliada e dela difere por no comportar a transferncia de

  • qualidades e de propriedades. Tanto as parbolas como as metforas abrangem ex-

    presses e frases, servindo para desvendar e explicar algumas verdades ocultas que

    no poderiam ser facilmente compreendidas sem essa roupagem. Num verbete de

    Fairbairn sobre as "parbolas", em sua renomada Biblical enciclopaedia

    [Enciclopdia bblica], ele diz: "A alegoria corresponde rigorosamente ao que se

    encontra na origem da palavra. E o ensinamento de uma coisa por outra, da segunda

    pela primeira; deve existir uma semelhana de propriedades, uma seqncia de

    acontecimentos semelhantes de um lado e de outro; mas a primeira no toma o

    lugar da segunda; as duas se mantm inconfundveis. Considerada dessa forma, a

    alegoria, em sentido mais amplo, pode ser tida como um gnero, do qual a fbula, a

    parbola e o que geralmente chamamos alegorias so espcies".

    A. alegoria, explica o dr. Graham Scroggie, "... uma declarao de fatos

    supostos que aceita interpretao literal, mas ainda assim exige ou admite, com

    razo, interpretao moral ou figurada". A alegoria difere da parbola por conter

    aquela menos mistrios e coisas ocultas que esta. A alegoria se interpreta por si s e

    nela "a pessoa ou objeto, ilustrado por algum objeto natural, imediatamente

    identificado com esse objeto". Diz o dr. Salmond: "Quando nosso Senhor conta a

    grande alegoria da vinha, do agricultor e dos ramos, em que ensina aos seus disc-

    pulos a verdade sobre o relacionamento que ele prprio tinha com Deus, comea

    dizendo que ele prprio a videira verdadeira e seu Pai, o agricultor (Jo 15:1).

    Desejando uma melhor compreenso das figuras de linguagem mencionadas

    na Bblia, recomendamos ao leitor a obra de grande flego do dr. E. W. Bullinger

    sobre o assunto, a qual, sem dvida, o melhor estudo j feito sobre o mtodo

    figurado empregado pela Bblia. O dr. Bullinger lembra que h grande controvrsia

    sobre a definio e significado exato de alegoria e declara que, na verdade, os

    smiles, as metforas e as alegorias so todos baseados na comparao.

    Smile a comparao por semelhana.

    Metfora a comparao por correspondncia.

    Alegoria a comparao por implicao.

    Na primeira, a comparao afirmada; na segunda, substituda; na

    terceira, subentendida. A alegoria ento diferente da parbola, pois esta um

  • smile continuado, enquanto aquela representa algo ou d a entender que alguma

    coisa outra.

    H uma alegoria a que Paulo se refere de modo inequvoco: "... Abrao teve

    dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu

    segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que se entende por alego-

    ria..." (coisas que ensinam ou dizem mais do est escrito v. Gl 4:22,24).

    Bullinger chega a provar que a alegoria pode algumas vezes ser fictcia; no entanto,

    Gaiatas 4 mostra que uma histria verdadeira pode ser alegorizada (ou seja, pode

    mostrar algum ensinamento alm daquele que, na verdade, se observa), sem no

    entanto anular a verdade da histria. A alegoria sempre apresentada no passado

    e nunca no futuro. Dessa forma, distingue-se da profecia. A alegoria oferece outro

    ensinamento com base nos acontecimentos do passado, enquanto a profecia trata de

    acontecimentos futuros e corresponde exatamente ao que se diz.

    Hillyer Straton, em seu A guide to the parables of Jesus [Guia das parbolas

    de Jesus], comenta que "a alegoria uma descrio codificada. Ela personifica

    coisas abstratas; no pe uma coisa ao lado da outra, mas faz a substituio de uma

    pela outra. Cada aspecto da alegoria se torna importante". O dr. Straton, ento,

    acaba por citar a mais famosa alegoria de toda a literatura, O peregrino, em que

    John Bunyan usou a sua imaginao notavelmente frtil para ressaltar a verdade da

    peregrinao crist.

    Fbula. A fbula uma narrao fictcia que pretende ilustrar um princpio

    ou uma verdade (Jz 9:8-15; 2Rs 14:9). A misso primordial da fbula reforar o

    conceito da prudncia. A fbula, usada poucas vezes nas Escrituras, est a quilme-

    tros de distncia da parbola, embora uma possa, em alguns momentos, ser

    semelhante outra nos aspectos externos. Comparando qualquer das fbulas de

    Esopo com as parbolas de Jesus, percebe-se que a fbula um tipo inferior de

    linguagem figurada e trata de assuntos menos elevados. Est associada terra e

    focaliza a vida e os negcios comuns a todos. Tem por funo transmitir lies de

    sabedoria prudente e prtica e gravar nas mentes dos ouvintes as virtudes da

    prudncia, da diligncia, da pacincia e do autocontrole. Tambm trata do mal

    como loucura e no como pecado, alm de ridicularizar as falhas e desdenhar os

    vcios, escarnecendo deles ou os temendo. Essa a razo por que a fbula faz

    grande uso da imaginao, dotando plantas e animais de faculdades humanas,

    fazendo-os raciocinar e falar. A parbola, no entanto, age numa esfera mais sublime

    e espiritual e nunca se permite a zombaria ou a stira. Tratando das verdades de

    Deus, a parbola naturalmente sublime, com ilustraes que correspondem

  • realidade nunca monstruosas ou anti-natu-rais. Na parbola, nada existe contra a

    verdade da natureza. Fairbairn diz: "A parbola tem um objetivo mais admirvel

    [...] A parbola poderia tomar o lugar da fbula, mas no o contrrio". Desejando

    informaes acerca da narrativa mtica, o leitor deve ler o pargrafo "Os mitos", de

    Trench.

    Tipo. Significa marca ou impresso e tem a fora da cpia ou do padro

    (ICo 10:1-10,11 "exemplos"; na margem "tipos"). As parbolas unem os tipos de

    um lado, e os milagres de outro. Todas as figuras de linguagem que a Bblia

    emprega so elos de uma corrente unida de forma inseparvel; os elos como um

    todo s podem ser desvinculados em detrimento de alguns. Os muitos tipos da

    Bblia constituem um estudo independente e fascinante.

    Parbola. Apesar de j termos tratado da natureza da parbola, retornamos a

    ttulo de resumo. Na parbola, a imagem do mundo visvel emprestada e se faz

    acompanhar de uma verdade do mundo invisvel ou espiritual. As parbolas so os

    portadores, os canais da doutrina e da verdade espiritual. Cumpre ressaltar que as

    parbolas no foram feitas para ser interpretadas de uma nica forma. Em algumas,

    h grandes disparidades e aspectos que no podem ser aplicados espiritualmente.

    Esto sempre ligadas ao domnio do possvel e do verdadeiro. Os discursos e as

    frases, cheios de sabedoria espiritual e de verdade, so chamados parbolas por

    dois motivos:

    1. por infundir um senso de culpa e a compreenso da autoridade divina;

    2. por ser a pedra de toque da verdade normas que, portanto, devem ser

    seguidas.

    A parbola j foi definida como "a bela imagem de uma bela mente". A

    parbola tambm a justaposio de duas coisas que divergem na maioria dos seus

    aspectos, mas concordam em alguns. "Os milagres", diz o dr. A. T. Pierson, "ensi-

    nam sobre as foras da criao; as parbolas, sobre as formas da criao. Quando a

    parbola for proftica, estar sempre em roupagem alegrica; quando instrutiva e

    didtica, em roupagem factual e histrica".

  • "Diferente do smile e da metfora e considerada uma espcie de alegoria",

    diz Fairbairn, "pode-se dizer que a parbola uma narrativa, ora verdadeira, ora

    com aparncia da verdade; exibe na esfera da vida natural um processo

    correspondente ao que existe no mundo ideal e espiritual". possvel que a

    Parbola do filho prdigo seja o relato de fatos reais. As parbolas so "pomos de

    ouro em quadros (molduras) de prata".

    O valor da instruo por parbolas

    O ensino por parbolas tem muitas utilidades e possui vantagens sem igual.

    Seu mrito ou valor, como instrumento pedaggico, est no fato de ser um teste de

    carter cujo resultado pode ser punio ou bno. Smith, em seu Biblical

    dictionary [Dicionrio da Bblia], diz: "s vezes, a parbola afasta a luz daqueles

    que amam a escurido. Protege a verdade contra os escarnecedores. Deixa uma

    mensagem aos descuidados, que depois pode ser interpretada e compreendida.

    Releva-se, entretanto, aos que buscam r> verdade". A parbola pode ser ouvida,

    assim como o seu significado pode ser compreendido, ainda que os ouvintes jamais

    se preocupem com o seu significado real. Em meio s muitas vantagens, pode-se

    provar que as parbolas das Escrituras so muito proveitosas, porque a parbola:

    1. atraente e, quando completamente compreendida, mais fcil de

    lembrar. de grande ajuda memria. Estamos mais inclinados a nos lembrar de

    uma narrao ou ilustrao do que de qualquer outra coisa proferida em um sermo.

    A parbola pode ser relembrada muito depois de j termos esquecido o tema

    principal do sermo.

    2. presta grande auxlio mente e capacidade de raciocinar. Os seus

    significados devem ser estudados. E como uma mina de ouro, e devemos escav-la

    e busc-la com toda a nossa diligncia, para descobrir o verdadeiro veio. O mtodo

    parablico nos faz pensar. "O Mestre dos mestres sabia que no poderia ensinar

    nada aos seus ouvintes, se no os levasse a ensinar a si prprios. Ele deveria

    alcanar a mente deles e faz-los trabalhar com a dele. A forma da parbola atraa a

    todos, mas apenas os pensadores entendiam o seu significado". O significado no

    podia ser encontrado sem o uso do pensamento. A parbola ao mesmo tempo atraa

    e peneirava a multido.

  • 3. estimula os afetos e desperta as conscincias, como quando o inferno,

    numa parbola, mostrado como uma fornalha de fogo e a conscincia como um

    verme roedor.

    4. chama e prende a ateno. Atentos s parbolas de Jesus, os ouvintes se

    mostravam maravilhados e diziam: "Nunca ningum falou como este homem". Ele

    precisava fazer o povo ouvi-lo e conseguiu! Era maravilhosa a forma em que

    usava, pronta e espontaneamente, as sugestes do momento; desse modo chamava e

    prendia a ateno dos que estivessem sua volta!

    5. preserva a verdade. Ao escrever acerca desse mrito em particular, Cosmo

    Lang disse: "Quando as pessoas pensam por si mesmas, nunca esquecem; o

    exerccio da mente produz esse efeito. Alm do mais, a linguagem dos smbolos

    expressa por aquilo que o olho pode ver e construda na imaginao mais

    poderosa e de efeito mais duradoura do que a linguagem que utiliza somente

    palavras abstratas. Ela comunica e traz de volta mente o significado interior com

    rapidez e segurana; traz consigo uma mensagem rica em sugestes e associaes".

    As palavras mudam constantemente de significado, ao passo que os smbolos

    usados para a vida e para a natureza, como os que foram empregados pelo Senhor

    em suas parbolas, so to duradouros quanto a prpria natureza e a vida.

    Ao comentar acerca das parbolas de Mateus 13, Finis Dake, em sua

    Annotated reference Bible [Bblia de referncias anotada], apresenta sete

    benefcios do uso das parbolas:

    1. revelar a verdade de forma interessante e despertar maior interesse (Mt

    13:10,11,16);

    2. tornar conhecidas novas verdades a ouvintes interessados (Mt

    13:11,12,16,17);

    3. tornar conhecidos os mistrios por comparaes com coisas j conhecidas

    (Mt 13:11);

    4. ocultar a verdade de ouvintes desinteressados e rebeldes de corao (Mt

    13:11-15);

  • 5. acrescentar mais conhecimento da verdade aos que a amam e anseiam

    mais dela (Mt 13:12);

    6. afast-la do alcance dos que a odeiam ou que no a desejam (Mt 13:12);

    7. cumprir as profecias (Mt 13:14-17,35).

    A misso da parbola

    Os intuitos e a misso da parbola esto intimamente ligados aos seus

    mtodos de ensino. Quais so as funes ou os objetivos da parbola? J tratamos

    rapidamente do seu poder de atrao, mas por que Cristo usou esse mtodo? Para

    iluminar, exortar e edificar. No prefcio de seu livro esclarecedor Lectures on our

    Lord's parables [Prelees sobre as parbolas do nosso Senhor], o dr. John

    Cumming diz que:

    A profecia um esboo do futuro, que ser preenchido pelos eventos; os

    milagres so pr-atos do futuro, realizados em pequena escala no presente; as

    parbolas so a prefi-gurao do futuro, projetadas em uma pgina sagrada.

    Todos os trs crescem diariamente em esplendor, interesse e valor. Em

    breve, o Sol Meridional os far transbordar! Espero que estejamos prontos!

    Fazendo uso da parbola, Jesus procurou confiar as verdades espirituais do seu

    Reino ao entendimento e ao corao dos homens. Ao adotar um mtodo

    reconhecido pelos mestres judeus, Cristo atraiu mentes e prendeu atenes. Os ho-

    mens tinham de ser conquistados, e a parbola era o melhor mtodo disponvel para

    conseguir isso. Alm do mais, Jesus foi extraordinrio no uso das parbolas.

    Jesus adotou o mtodo de ensinar por parbolas quer ao se dirigir aos

    discpulos, quer aos fariseus, seus inimigos, a fim de convencer aqueles e condenar

    estes. A pergunta dos discpulos "Por que lhes falas por meio de parbolas?" (Mt

    13:10) respondida por Jesus nos cinco versculos seguintes. Cristo abria a boca e

    falava em parbolas por causa da diversidade de carter, de nvel espiritual e de

    percepo moral de seus ouvintes (Mt 13:13). "Por isso lhes falo por parbolas".

    Por isso d a entender, segundo Lisco: "Como a instruo to comumente dada a

    eles em linguagem clara de nada lhes aproveita, agora vou tentar, com figuras e

    smiles, lev-los a refletir, conduzindo-os a uma preocupao maior acerca da

    salvao". Infelizmente, tal era a insensibilidade tola dos lderes religiosos, os quais

    no compreendiam a verdade profunda e espiritual que Jesus, de maneira to

    vigorosa, lhes entregou em forma de parbola. Esses lderes tambm no

  • perceberam que as parbolas so os melhores instrutores dos que esto cheios da

    Palavra de Deus, e ensinam e valorizam as coisas relacionadas paz eterna.

    A falsa e a verdadeira interpretao da parbola

    Antes de iniciarmos, deve-se dispensar especial ateno a um princpio

    fundamental, qual seja: a parbola precisa ser considerada no todo, como algo que

    ilustra ou reala alguma verdade central, obrigao ou princpio no governo divino,

    e as suas diferentes partes somente servem, em certo sentido, para crescer e se

    desenvolver. E de suma importncia procurar saber com certeza a real esfera de

    ao e o objeto da parbola.

    Alm do mais, necessrio examinar com cuidado e observar a relao da

    parbola com o ambiente em que foi produzida e com a situao dos seus ouvintes,

    a fim de que se chegue o mais prximo possvel da verdade que ela revela. Lisco

    diz: "Para que a parbola seja explicada e aplicada, primeiramente precisamos

    examinar sua relao com o que a precede e a segue, e descobrir, com base nisso,

    antes de qualquer outra coisa, a sua idia principal. Enquanto no chegarmos a esse

    ponto central, a esse cerne da parbola, da maneira mais precisa e conclusiva

    para isso examinando de modo atento e reiterado o assunto e as circunstncias

    dessa parbola, nem precisamos nos ocupar do significado de qualquer de seus

    integrantes, uma vez que cada um deles s pode ser corretamente compreendido

    tomando por base esse ponto central.

    O objetivo principal da parbola pode ser deduzido com base numa

    exposio mais genrica ou mais especfica, quando no do objetivo primordial do

    narrador, que se pode depreender quer da abertura, quer da concluso. Por exemplo,

    observe o que vem antes e depois da parbola da Vinha do Senhor e da do Rico e

    Lzaro. Quanto a esse aspecto, uma leitura atenta do captulo "The settingof

    parables" ["O ambiente das parbolas"], de Ada R. Habershon, ajudar o leitor.

    Muito j se escreveu sobre a interpretao da parbola. Ela tem sofrido

    bastante com as vrias interpretaes errneas. Tomemos primeiro as ms

    interpretaes. Quanto abuso tem havido no uso das parbolas! Muitos so

    culpados de aplicar certas parbolas de forma artificial e de forar um significado

    que os seus autores jamais sonharam! H dois extremos que devem ser evitados na

    interpretao da parbola. Um extremo dar-lhe muita importncia o outro

    atribuir-lhe pouca importncia. Cumming, em seu livro Lectures [Prelees],

    tratou desse erro duplo desta forma:

  • H dois grandes erros na interpretao das parbolas: um

    consiste em arrancar significado de cada parte, como se no houvesse

    nada secundrio; o outro, em considerar boa parte da parbola

    secundria, mera tapearia. O primeiro repreensvel, pois a parbola

    e a sua verdade no so, como j dissemos, duas retas que se encontram

    em todos os pontos, mas sim uma reta e uma esfera que se tocam em

    grandes momentos. Cada parbola materializa um grande propsito,

    que notoriamente o principal e o mais nobre, e isso sempre deve ser

    levado em conta na interpretao de todos os aspectos secundrios da

    Bblia. O segundo v pouco sentido na parbola; percebe em boa parte

    dela mera inteno de inventar uma histria, sendo seus componentes

    meros conectivos que mais prejudicam que apresentam a finalidade da

    parbola. Este ltimo tipo destri muitas das riquezas das Escrituras.

    Cada parte da parbola, como em qualquer trecho da Bblia, tem seu

    significado e importncia. Uma pintura perfeita no tem partes que no

    contribuam para o resultado geral, e cada parte a vida brilha e

    resplandece de tal forma que a ausncia da menor delas j seria uma

    deficincia.

    Desejando um tratamento mais aprofundado acerca dos prs e dos contras

    da interpretao, o interessado deve ler o captulo "The interpretation of parables"

    ["A interpretao das parbolas"], da obra incomparvel de Trench, The parables of

    our Lord [As parbolas do nosso Senhor], e "Methods of interpretation" ["Mtodos

    de interpretao"], da obra de Ada Habershon, The study of parables [O estudo das

    parbolas]. Trench, referindo-se aos extremos acima, diz que tem havido exageros

    nos dois sentidos."Os defensores da interpretao superficial e no detalhada esto

    confortavelmente satisfeitos com sua mxima favorita. Toda comparao deve ser

    interrompida em algum ponto". Trench cita um ditado de Teofilacto: "A parbola,

    se for sustentada em todos os seus aspectos, no ser parbola, mas o aconteci-

    mento que a gerou".

    Quanto ao outro extremo da interpretao, "H o perigo de, com uma mente

    frtil, deixar de atribuir o devido valor Palavra de Deus, a menos que o prazer que

    o intrprete sente no exerccio dessa "fertilidade", admirada que por tantos, no

    lhe tire de vista que a santificao do corao pela verdade o principal objetivo

    das Escrituras".

  • Muitos dos pais da igreja, buscando alegorizar passagens tanto do Antigo

    como do NT, foram muito extremistas. Se estavam ou no errados em pensar que

    havia um significado para todas as coisas o que se tem debatido h sculos.

    Agostinho um exemplo notvel dos que espremiam as parbolas para

    ensinar algo totalmente fora dos limites. Ao tratar do ensino tradicional da igreja

    (considerando as parbolas alegorias, em que cada termo representava o

    criptograma de uma idia, de modo que o todo precisava ser decodificado em cada

    termo), C. H. Dodd, em The parables of the kingdom [As parbolas do reino], cita

    a interpretao de Agostinho da Parbola do bom samaritano:

    Descia um homem de Jerusalm para Jerico seria uma referncia

    ao prprio Ado;

    Jerusalm a cidade celestial da paz, cuja bno Ado perdeu;

    Jeric a lua e representa a nossa mortalidade, porque nasce,

    cresce, mngua e morre;

    os assaltantes so o diabo e seus anjos;

    os quais o despojaram, i.e., lhe retiraram a imortalidade;

    e, espancando-o, persuadindo-o a pecar;

    deixando-o meio morto, porque, quando o homem compreende e

    conhece a Deus, vive; mas, quando se entrega, sendo oprimido pelo

    pecado, est morto; por causa disso, chamado meio morto;

    o sacerdote e o levita, que o viram e passaram de largo, represen-

    tam o sacerdcio e o ministrio do AT, que no continham a riqueza da

    salvao;

    o samaritano significa o guardio, e o prprio Jesus conhecido

    por esse nome;

    atou-lhe as feridas o resgate do pecado;

    o leo o consolo da esperana;

    o vinho a exortao para trabalhar com ardor;

  • a cavalgadura era a carne, por meio da qual Jesus veio at ns;

    pondo-o sobre a sua cavalgadura a crena na encarnao de

    Cristo;

    a hospedaria a igreja, em que os viajantes recebem refrig-rio

    no retorno da peregrinao ptria celestial;

    o outro dia significa o perodo posterior ressurreio do

    Senhor;

    os dois denrios so os dois mandamentos do amor, ou a pro-

    messa desta vida e da que est por vir;

    o hospedeiro o apstolo Paulo.

    O arcebispo Trench segue as linhas mestras de Agostinho, com um

    detalhamento ainda mais frtil. Outro exemplo desse tipo de interpretao se

    encontra entre os intrpretes da Reforma e os catlicos romanos, que encontraram

    um grande significado para o leo da Parbola das dez virgens. Para aqueles, o

    leo a f, sem a qual as virgens no poderiam fazer parte das bodas; para estes,

    so as obras, que, de acordo com essa viso, eram igualmente necessrias. O

    mesmo se deu com o termo virgens e as suas classificaes. No entanto, Hillyer H.

    Straton afirma: "Sua interpretao depender do lugar em que se encontra; voc

    paga e encolhe o que comprar. Uma coisa sabemos: Jesus desejava ressaltar que

    devemos estar preparados".

    Outros exemplos desse mtodo de interpretao no-autorizada se vem na

    Parbola do mordomo infiel, interpretada por alguns como a histria da apostasia

    de Satans, e na Parbola da prola de grande valor, uma referncia Igreja de

    Genebra. Trench relata o exemplo de Fausto Socino, para quem, com base na

    Parbola do credor incompassivo em que Deus perdoou seu servo apenas com

    uma petio (Mt 18:32), no por alguma reparao ou interveno de um

    mediador, podemos com isso concluir que, da mesma forma, sem sacrifcios nem

    intercessores, Deus perdoar os pecadores simplesmente pelas oraes. Diante

    dessa aplicao, podemos concordar com a observao de Jernimo a respeito

    desses que "torcem, para satisfazer vontades prprias, aquelas passagens que as

    contrariam".

  • Como cada parbola tem uma lio prpria, que nos impede de tentar

    encontrar significados diferentes ou especiais em cada uma de suas circunstncias e

    ensinos descritivos, indispensvel descobrir a real finalidade da parbola. O dr.

    Graham Scroggie mostra como nos podemos proteger contra o engenho artificial,

    imprprio e equivocado ao tratar da parbola. Deve-se tomar o cuidado ao tentar

    distinguir entre interpretao e aplicao. "Uma interpretao, muitas aplicaes"

    pode ser uma distino completamente errnea, visto que, se a aplicao dada

    pelo Esprito Santo, tambm pode tornar-se uma interpretao. Tristemente, muitas

    aplicaes mal se podem denominar interpretaes! "Toda a Bblia para ns, mas

    no sobre ns. A interpretao limitada pela inteno original da parbola, e esta

    determinada pela ocasio e pela circunstncia; mas a aplicao no limitada, visto

    que pode nos auxiliar justamente no seu significado. A interpretao

    dispensacional e proftica. A aplicao moral e prtica. Os princpios da

    interpretao podem ser aprendidos nas duas parbolas que o prprio Senhor Jesus

    interpretou (Mt 13:18-23,36-43). No que diz respeito s suas parbolas como um

    todo, torna-se difcil avaliar at que ponto ele quer que interpretemos as parbolas

    sem levar em conta a sua finalidade e o seu foco principal. Se formos honestos e

    sinceros em nossa busca da verdade, podemos depender do Esprito Santo para nos

    revelar as coisas de Cristo (ICo 2:11,13).

    Quando procuramos a realidade nas caractersticas de uma parbola,

    precisamos saber que na maioria dos casos ela tem apenas um ponto principal.

    "No podemos, entretanto, afirmar que todas as parbolas de Cristo tratam de um

    s assunto, pois Jesus era um artista interessado em comunicar verdades, no em

    manter certo estilo". C. H. Dodd concorda com esse princpio importante da

    interpretao: "A parbola em geral, seja uma simples metfora, seja um smile

    mais elaborado, seja uma narrativa completa, apresenta apenas um ponto de

    comparao. No h a inteno de que os detalhes tenham um significado indepen-

    dente. J na alegoria, cada detalhe uma metfora independente, com significado

    prprio". Dodd ento d um dos dois exemplos desse princpio, entre eles a

    Parbola do semeador: "A beira do caminho e os pssaros, os espinhos e o cho

    pedregoso no so criptogramas da perseguio, do engano das riquezas e assim

    por diante. Esses smbolos esto ali para evocar um quadro da grande quantidade

    de trabalho desperdiado, que o fazendeiro precisa enfrentar, e assim fazer sentir o

    alvio da colheita, apesar de todo o trabalho". No seu captulo "The method of

    interpretation" ["O mtodo da interpretao"] , Ada Habershon, em The study of the

    parables [O estudo das parbolas], expressa a opinio de que "pode ser verdade

    que cada detalhe (da parbola acima) tinha um significado, e devemos estar bem

    preparados para descobrir que algumas delas tinham diversos [...] Nenhuma

    explicao esgotar os significados da mais simples parbola proferida por Jesus e,

  • se reconhecermos isso, tambm estaremos prontos para tirar de cada uma "toda

    sorte de des-pojos". O caminho mais seguro para lidar com a parbola procurar o

    pensamento central ou a idia principal, em torno da qual todos os elementos

    subordinados se agrupam. A idia principal no deve perder-se em meio a um

    emaranhado de acessrios complexos, mesmo que estes tenham significado

    espiritual. As parbolas no devem ser tratadas como se fossem um repositrio de

    textos. Cada parbola deve ser vista por suas particularidades, e qualquer analogia

    feita deve ser real, no imaginria, sempre subordinada lio principal da

    parbola".

    Outros aspectos da interpretao, tratados de forma completa pela Biblical

    enciclopaedia [Enciclopdia da Bblia], de Fausset, so:

    1. a parbola, em sua forma externa, deve ser bem compreendida (e.g., o

    amor de um pastor do Oriente Mdio para com suas ovelhas);

    2. a situao no comeo da parbola, como em Lucas 15:1,2, o ponto de

    partida das trs parbolas do captulo;

    3. as caractersticas que, interpretadas de forma literal, contrariam as

    Escrituras, do um colorido ao texto, e.g., o nmero das virgens prudentes era igual

    ao das insensatas (Mt 25:1-13).

    Em seu captulo "Place and province of the parables" ["O local e o campo

    das parbolas"], o dr. A. T. Pierson afirma: "As parbolas bblicas so narrativas

    factuais ou fictcias, usadas para transmitir verdades e ensinamentos morais e es-

    pirituais. Podem ser histricas, ticas e alegricas ao mesmo tempo; mas, se o

    significado mais elevado se perde no menos elevado ou por ele obscurecido,

    assim como no caso do espiritual em relao ao literal, perdem-se tambm o seu

    objetivo e o seu significado. Em geral a parbola se faz acompanhar de certas

    indicaes de como deve ser interpretada. A lio central o principal objeto de

    interesse; o restante pode ser secundrio, como a cortina e o cenrio de um teatro".

    As mltiplas formas da parbola

    Quanta diversidade h nas parbolas bblicas! Na verdade, so inigualveis

    nas suas imagens descritivas. Sob a orientao do Esprito Santo, os escritores da

  • Bblia exploraram todos os veculos apropriados, para expressar a verdade divina.

    De fato, precisaram de todos eles para ilustrar a inigualvel maravilha da Palavra de

    Deus, que radiante em sua riqueza de material parablico. O resumo que o dr.

    Graham Scroggie faz das parbolas do NT aqui aplicado para que entendamos o

    alcance das parbolas bblicas como um todo. A medida que formos explicando as

    parbolas, remeteremos o leitor para o campo em que cada uma se enquadra.

    1. Reino espiritual: parbolas associadas com cu, inferno, querubins e

    anjos;

    2. Feimenos naturais: parbolas relacionadas com sol, luz, raios,

    terremotos, fogo, nuvens, tempestade e chuva;

    3. Mundo animado: parbolas relacionadas com criaturas (cavalos, animais

    selvagens, lees, guias, camelos, bois, ovelhas, cordeiros, lobos, jumentos,

    raposas, porcos, ces, bodes, peixes, pssaros e serpentes); parbolas ilustradas por

    plantas e rvores, espinhos, cardos, figos, oliveiras, sicmoros, amndoas, uvas,

    juncos, lrios, anis, menta, vinha, cedro e condimento de amoras pretas;

    4. Mundo mineral: parbolas simbolizadas por metais (ouro, prata, bronze,

    ferro e lato);

    5. Vida humana: A variedade de ilustraes parablicas muito ampla:

    fsica (carne, sangue, olho, ouvido, mos, ps; fome, sede, sono, doena,

    riso, choro e morte);

    domstica (casas, lmpadas, cadeiras, alimento, forno, culinria, po, sal;

    nascimento, mes, esposas, irms, irmos, filhos, afazeres, casamento e tesouros);

    pastoral (campos, vales, pastores, ovelhas, agricultores, solo, semente,

    cultivo, semea-dura, crescimento, colheita e vinhas);

    comercial (pescadores, alfaiate, construtor, negociante, balana, talentos,

    dinheiro e dvidas);

    de interesse pblico (escravido, roubo, violncia, julgamento, punio e

    impostos);

    social (casamento, hospitalidade, festas, viagens e saudaes);

  • religiosa (tabernculo, templo, esmolas, dzimos, jejuns, orao e o

    sbado).

    As pginas seguintes serviro para mostrar que as parbolas da Bblia so

    comparaes ilustrativas extraordinrias que nos falam sobre a verdade divina.

    Podem ser definidas como "narrativas criadas com o objetivo especfico de

    representar uma verdade religiosa de forma pictrica".

  • PRIMEIRA PARTE

    AS PARBOLAS DO

    ANTIGO TESTAMENTO

  • INTRODUO

    lamentvel que quase todos os livros referentes s parbolas se atenham

    apenas nas que proferiu o nosso Senhor, esquecendo-se do que o resto da Bblia

    alm dos quatro evangelhos apresenta em matria de linguagem figurada. Perde

    tempo quem procura um estudo expositivo das muitas parbolas do AT. G. H.

    Lang, em The parabolic teaching of Scripture [O ensino parablico das

    Escrituras], dedica cinco pginas ao assunto. O melhor tratamento dado s

    parbolas do AT que conheo Miracles and parables ofthe Old Testament [Mi-

    lagres e parbolas do Antigo Testamento], publicado pela primeira vez em 1890 e

    agora reimpresso pela Baker Book House, de Grand Rapids, EUA. Certamente

    alguns dicionrios bblicos trazem uma sinopse do ensino parablico do AT, onde o

    termo m_sh_ l empregado com ampla gama de significados. Como j deixamos

    prever, h apenas cinco textos tidos como o equivalente mais prximo da "parbo-

    la" em sentido estrito, a comear pela parbola do profeta Nata. Ainda assim, como

    demonstrar o estudo que se segue, o AT faz amplo uso das ilustraes parablicas.

    Talvez o estudo mais completo e esclarecedor sobre o simbolismo do AT

    seja o de Ada Habershon, em seu livro muito instrutivo The study ofthe parables [O

    estudo das parbolas], sntese daquilo que nos propusemos na presente obra.

    Aquele que "falou-lhes de muitas coisas por meio de parbolas" o mesmo que

    inspirou "homens santos da parte de Deus" a escrever o AT; portanto, podemos

    encontrar a mesma linha de pensamento em todos os livros. Muitas das parbolas,

    dos tipos e das vises do AT ilustram e esclarecem os do Novo, provando a

    maravilhosa unidade das Escrituras. Os que ouviram as parbolas de Jesus tinham

    alguma percepo do ensino que em geral servia de base ao ritual levtico e

    identificavam o sentido espiritual existente nas cerimnias que deviam realizar.

    Os judeus certamente se lembraram do man de Deuteronmio 8 quando

    Jesus, em Joo 6, referiu-se a si mesmo como "o man", e tambm quando disse,

    em Mateus 4, que "no s de po vive o homem".

    A casa construda sobre a rocha com certeza reportou os ouvintes de Jesus ao

    cntico de Moiss, em que Deus considerado a Rocha (Dt 32:4).

    A Parbola dos lavradores maus lhes trazia mente a Parbola da vinha do

    Senhor, numa estrutura textual praticamente idntica de Isaas 5. Compare

    tambm Isaas 27:3 com Joo 15.

  • As festas de Levtico 23 devem ser estudadas cuidadosamente, junto com as

    parbolas de Mateus 13. H muitas analogias entre as festas anuais e esse grupo de

    parbolas.

    A lei sobre os animais puros e impuros (Lv 11; Dt 14) passou a ter um

    sentido mais profundo quando Pedro viu aquele lenol descer do cu.

    A figura da casa por demolir encontra correspondente no NT (cf. Jr 33:7 e

    Ez 36:36 com At 15:15-17 e Rm 11:1,2).

    A instruo a respeito da ovelha perdida um maravilhoso complemento da

    Parbola do Salvador (cf. Dt 22:1-3 com Lc 15).

    Muitos acontecimentos da vida de Jos so ilustraes da vida e do reinado

    de nosso Senhor.

    A narrativa da vinha de Nabote nos faz lembrar da Parbola dos lavradores

    maus, retratada por Jesus.

    A Parbola do juiz inquo assemelha-se experincia da sunamita (2Rs 8),

    que clamou ao rei pela sua terra e pela sua casa.

    A compra de um campo (Jr 32) vincula-se Parbola do tesouro escondido

    (Mt 13).

    A vestimenta do profeta Josu em forma de parbola (Zc 3) pode ser posta

    lado a lado com a Parbola do filho prdigo (Lc 15).

    A viso de Zacarias do efa corresponde em muitos aspectos Parbola do

    fermento.

    Sobre o simbolismo dos Salmos, 78:2 pode ser associado a Mateus 13:34,35,

    o Salmo 1 a Mateus 24:45-51 e o Salmo 2 Parbola dos lavradores maus. O

    Salmo 23 fica ainda mais precioso ao lado de Joo 10. O Salmo 45, que descreve

    uma noiva e o seu atavio encantador, corresponde s Bodas do Cordeiro (Ap 19). O

    Salmo 19, em que o noivo sai de seu quarto e se alegra, como um homem forte que

    participa de uma corrida, remete encarnao do Verbo e ao retorno glorioso do

    nosso Senhor Jesus.

    A mais bela de todas as parbolas a da Pequena cidade, em Eclesiastes

    9:13-17, uma maquete do mundo, atacado por Satans, mas liberto pelo Senhor

    Jesus. interessante observar, nos livros de Provrbios e Eclesiastes, que muitos

  • versculos contm a mesma linguagem simblica das parbolas de nosso Senhor.

    Compare Provrbios 12:7, 24:3 e 14:11 com Mateus 7 e ICorntios 3. Os versos

    finais de Provrbios 4 nos fazem lembrar de muitas parbolas do Senhor, especial-

    mente daquela que ensina aos discpulos que a corrupo brota no daquilo que

    entra pela boca em forma de alimento, mas do que sai da boca, em palavras. Em

    meio s palavras de Salomo, existem referncias se-meadura e sega. Compare

    Provrbios 11:24 com 2Corntios 9:6; Provrbios 11:18 e 22:8 com Gaiatas 6:7;

    Provrbios 11:4,28 com a Parbola do rico e Lzaro, em Lucas 16; Provrbios

    12:12 com Joo 15; Provrbios 28:19 com a Parbola do filho prdigo; Provrbios

    13:7 faz referncia ao que vendeu tudo o que tinha para que pudesse comprar o

    campo e a prola.

    Alm das parbolas propriamente ditas e daquilo que se aproxima do que

    chamamos parbolas, h centenas de expresses, versculos e palavras de natureza

    parablica. Seria muito proveitoso nos deter-mos nos muitos ttulos dados a Deus

    no AT, como "Um Pequeno Santurio", "Fortaleza", "Me" etc, procurando mostrar

    o sentido espiritual dessas figuras de linguagem. Esperamos que os exemplos que

    se seguem estimulem o estudo mais profundo desse aspecto envolvente da verdade

    bblica.

    AS PARBOLAS DOS LIVROS HISTRICOS

    Parbola do monte Mori

    (Gn 22; Hb 11:17-19)

    E o Esprito Santo quem nos autoriza a classificar como parbola o episdio

    em que Abrao oferece seu filho Isaque a Deus. O inspirado autor da carta aos

  • Hebreus diz que, depois do ato de obedincia de Abrao, Deus "em figura o

    recobrou" (11:19). A palavra traduzida por "figura" nesse versculo a mesma

    traduzida por "parbola" nos evangelhos. A Verso Revisada (em ingls) diz: "em

    parbola o recobrou". O ato de depositar Isaque sobre o altar uma representao

    parablica da morte parbola em gestos, no em palavras, e sua libertao foi,

    portanto, uma representao da ressurreio de Cristo. A realizao figurada do ato

    passa para a narrativa histrica: "Pegou no cutelo para imolar o filho..." (Gn 22:10).

    Essa frase, e o fato de que Abrao cria que Deus era capaz de ressuscitar Isaque da

    morte, revela a grandiosidade do sacrifcio que o patriarca foi chamado a fazer.

    interessante observar que Isaque o nico nas Escrituras, alm de Jesus, a ser

    chamado "unignito" (Gn 22:2; Hb 11:17).

    A f deu a Abrao o poder de atender ordem divina ainda que implicasse a

    morte de Isaque. At o tempo de Abrao, ningum jamais havia ressuscitado da

    morte, mas o pai da f, crendo na promessa de Deus, tinha a confiana de que seu

    filho, uma vez morto, poderia ressuscitar. Assim, quando Isaque estava sobre o

    altar, na sombra da morte, Abrao recebeu-o de volta vida, pela graa de Deus.

    Quando o patriarca disse aos seus servos "voltaremos a vs" (Gn 22:5), usou o

    idioma da f. Abrao nunca duvidou da onipotncia de Deus.

    Esta narrativa uma figura impressionante da oferta do Filho unignito de

    Deus, que foi por escolha prpria entregue "por todos ns" (Rm 8:32) e foi

    recebido de entre os mortos pelo Pai! (lTm 3:16) A divergncia, entretanto, nessa

    parbola em ao, o fato de que, embora Abrao tenha oferecido seu filho, este

    foi poupado. O cordeiro, apanhado entre os arbustos, tornou-se substituto de Isaque

    e foi sacrificado em seu lugar. Mas Cristo foi o ferido e o aflito de Deus. O Criador

    deu o seu Filho unignito para morrer pelos nossos pecados. Ns deveramos ter

    morrido, mas Cristo, como o Cordeiro sacrificado, foi morto em nosso lugar. Mor-

    reu pelos pecados de um mundo perdido.

    Outra mensagem aos nossos coraes a prontido em fazer a vontade de

    Deus. Paulo sabia que a grande qualidade do verdadeiro servio a nossa

    disposio: "Pois se h prontido de vontade, ser aceita segundo o que qualquer

    tem, e no segundo o que no tem" (2Co 8:12). Abrao percorreu um longo

    caminho e sofreu grande angstia para cumprir a vontade de Deus. To logo ouviu

    a ordem divina, manifestou a prontido de execut-la. Muitos de ns vo s at

    certo ponto e depois param, como Marcos, que Paulo recusou-se a levar em sua

    viagem missionria (At 15:18). Abrao destaca-se magnificamente como aquele

    que foi at onde Deus o permitiria ir.

  • Parbola do tabernculo

    (Hb 9:1-10; x 25:31)

    Neste caso tambm o Esprito Santo quem nos autoriza a afirmar que o

    tabernculo erigido por Moiss no deserto era uma parbola para ns de uma

    herana ainda mais gloriosa. "O Esprito Santo estava dando a entender [...] o

    primeiro tabernculo [...] uma parbola para o tempo presente..." (Hb 9:8,9).

    As figuras ou os objetos parablicos, associados a todos os servios e aos

    utenslios do tabernculo, do margem para muito estudo. De maneira notvel, os

    sacrifcios, as ofertas, as festas e a construo do tabernculo ilustram a pessoa e a

    obra do Redentor, bem como as bnos e os privilgios dos remidos. O

    maravilhoso captulo 9 de Hebreus a exposio do Esprito Santo acerca do

    tabernculo, em que se apresenta um retrato sublime da obra completa de Cristo a

    favor do crente e da vida dos crentes em Cristo como um todo.

    O estudante que deseja entender o significado simblico das coisas ligadas

    ao tabernculo poder escolher entre as inmeras exposies sobre o assunto.

    Alguns comentaristas deixaram a imaginao correr solta na interpretao dos

    elementos de menor importncia dessa construo temporria no deserto.

    Sabiamente, o dr. A. T. Pierson disse: "Ningum se pode dar por infalvel na

    interpretao dessas imagens e desses objetos, estando a beleza dessa forma de

    ensino, em parte, no fato de permitir uma nitidez cada vez maior de viso e uma

    crescente acuidade de percepo, assim como a nossa vida e o nosso carter se

    aproximam da indiscutvel perfeio [...] Mas estamos certos de que h uma

    riqueza de significados imaginvel, mesmo aos filhos de Deus, e ainda por

    explorar, a qual apenas os anos que esto por vir conseguiro revelar e desvendar

    completamente".

    A principal caracterstica do tabernculo estava na sua diviso em trs partes

    a unidade da trindade:

    o trio, com o altar do holocausto e a pia de bronze,

    o Santo Lugar, com a mesa dos pes da proposio, o candelabro de

    ouro e o altar do incenso,

  • o Santo dos Santos, com a arca da aliana sobre a qual estava o

    propiciatrio.

    Nem precisa muita imaginao para vermos, nessas caractersticas expressas,

    uma parbola sobre a obra de Cristo na ordem em que se deu, desde o seu sacrifcio

    vicrio na cruz at a descida do Esprito Santo regenerador e santificador, passando

    por toda a sua jornada como Luz do mundo, Po da vida e nosso Intercessor alm

    do vu, na presena de Deus.

    O tabernculo pode tambm ser considerado uma parbola que mostra como

    o crente pode aproximar-se de Deus em Cristo.

    O trio passa a idia de dois estados: remisso dos pecados pelo sangue da

    expiao e regenerao do esprito pela Palavra de Deus e pelo Esprito Santo

    condies da comunho.

    O Santo Lugar ilustra as trs formas da comunho a vida de luz como

    testemunho, a sistemtica consagrao interna e a vida de constante orao.

    O Santo dos Santos retrata o ideal e o objetivo da comunho, em que "a

    obedincia perptua se parece com uma tbua inquebrvel da lei, a beleza do

    Senhor nosso Deus est sobre ns e todos os seus atributos esto em perfeita

    harmonia com os nossos sentimentos e atividades". Uma anlise mais completa

    desse fascinante aspecto do estudo da Bblia, o leitor encontrar no "Old Testament

    symbolism" ["O simbolis-mo do Antigo Testamento"], captulo do livro The study

    of parables [O estudo das parbolas], de Ada Habershon. Essa talentosa autora

    tem um pequeno livro, Studies on the tabernacle [Estudos sobre o tabernculo],

    com muitos esboos claros e bblicos que mostram como os detalhes do

    tabernculo foram "sombra dos bens futuros" e "figuras das coisas que esto no

    cu" (Hb 10:1; 9:23; Cl 2:17; Jo 5:45).

    As parbolas de Balao

    (Nm 22; 23:7,18; 24:3,15,20-23)

    Seis das dezoito ocorrncias da palavra "parbola" no AT esto associados

    aos pronunciamentos de Balao. George H. Lang comenta que "as declaraes

  • profticas de Balao so chamadas parbolas. So assim chamadas porque os

    projetos e os fatos ligados a Israel so apresentados por meio de comparaes,

    compostas na maioria de elementos no-humanos". Por estranho que parea, as

    parbolas profticas desse insignificante profeta esto entre as mais inconfundveis

    e admirveis do AT. Todas elas "do testemunho do chamado de Israel para ser o

    povo escolhido de Jeov," diz Fairbairn, "e das bnos que estavam reservadas

    para esse povo, as quais nenhum encantamento, fora adversa ou maldio poderia

    tirar; tambm do testemunho da Estrela que despontaria de Jac e da destruio de

    todos os que a ela se opusessem".

    Qual era o passado de Balao, de Petor, e como veio a conhecer Balaque?

    Balao praticava a adivinhao, que compreendia a leviandade e o engano to

    comuns nos pases idolatras. O fato de ser ganancioso fica claro quando ele declara

    que "o preo dos encantamentos " estava nas suas mos e nas dos seus cmplices.

    Balao "amou o prmio da injustia". Foi esse homem que Balaque procurou para

    receber informaes. Os israelitas, seguindo viagem rumo a Cana, armaram suas

    tendas nas regies frteis da Arbia. Alarmados com o nmero e com a coragem

    dos hebreus, que haviam recentemente derrotado o rei Ogue, de Bas, os moabitas

    temeram tornar-se a prxima presa. Balaque, ento, foi at os midianitas, seus

    vizinhos, e consultou os seus ancios, mas as informaes que recebeu eram de

    grande destruio.

    Esse caso, em que Deus faz uso de um falso profeta para proferir parbolas

    divinamente inspiradas prova inequvoca do seu amor e dos seus desgnios para

    o seu povo, mostra que o Senhor, se necessrio, lana mo do melhor

    instrumento que puder encontrar, ainda que esse instrumento contrarie a sua natu-

    reza divina. Deus disse a Balao: "Vai com esses, mas fala somente o que eu te

    mandar". Ao encontrar Balaque, Balao, j orientado por Deus, disse: "Porventura

    poderei eu agora falar alguma coisa? A palavra que Deus puser na minha boca, essa

    falarei". Quando censurado por Balaque, rei de Moabe, por ter abenoado Israel,

    Balao respondeu: "Como amaldioarei o que Deus no amaldioou? E como

    denunciarei a quem o Senhor no denunciou? [...] Porventura no terei cuidado de

    falar o que o Senhor ps na minha boca?".

    Ento, compelido a declarar o que teria alegremente omitido, Balao irrompe

    num rompante de poesia parablica e prediz a bno indiscutvel do povo para

    cuja maldio fora contratado. Suas parbolas so de fcil identificao.

    Na primeira, o pensamento principal a separao para Deus, a fim de

    cumprir os seus desgnios: "Vejo um povo que habitar parte, e entre as naes

    no ser contado" (Nm 23:9).

  • Essa escolha divina de Israel era a base das reivindicaes de Deus sobre o

    povo e a razo de todos os ritos e instituies singulares que ele decretara para

    serem observados, pois dissera: "Eu sou o

    Senhor vosso Deus que vos separei dos povos. Portanto fareis distino entre

    os animais limpos e os imundos [...] Sereis para mim santos, porque eu, o Senhor,

    sou santo, e vos separei dos povos para serdes meus" (Lv 20:24-26).

    H tambm o cumprimento do antigo propsito, pelo qual Deus "fixou os

    limites dos povos, segundo o nmero dos filhos de Israel" (Dt 32:8). Nessa

    parbola, que trata da separao de Israel, uma ilustrao extrada do solo abaixo

    dos nossos ps: "Quem pode contar o p de Jac...?" (Nm 23:10). Aqui temos uma

    referncia ao imenso nmero dos descendentes de Abrao, anteriormente compa-

    rados areia e s estrelas (Gn 22:17). Alguns comentaristas vem no p e na areia

    uma referncia figurada a Israel os descendentes terrenos de Abrao, e nas

    estrelas, uma referncia simblica igreja de Deus os descendentes espirituais

    de Abrao. Mas, como George H. Lang afirma: "Fao uma advertncia contra o tra-

    tamento fantasioso das parbolas e dos smbolos, pois por trs vezes Moiss usa as

    estrelas como smbolo do Israel terreno (Dt 1:10; 10:22; 28:62; v. lCr 27:23).

    De uma coisa estamos certos: a mesma escolha separadora e soberana de

    Deus o fundamento do chamado cristo nesta dispensao da graa. Fomos

    "chamados para ser santos", ou seja, separados. Fomos eleitos em Cristo "antes da

    fundao do mundo". Fomos salvos e chamados "com uma santa convocao [...]

    segundo o seu propsito e a graa, que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos

    tempos eternos". Essas e outras referncias caractersticas compem a verdadeira

    igreja. Separados do mundo, devemos viver nele como forasteiros e peregrinos.

    A parbola seguinte ressalta a justificao do povo separado. Percebesse a

    progresso dos pronunciamentos e das predies parablicas de Balao na frase

    "Ento proferiu Balao a sua palavra", que se repete cinco vezes. Ao escolher Is-

    rael, Deus no poderia voltar atrs em sua deciso; ento encontrou Balao e ps na

    sua boca esta palavra para Balaque: "Deus no homem para que minta, nem filho

    do homem para que se arrependa. Porventura tendo ele dito no o far, ou tendo

    falado no o realizar? Recebi ordem de abenoar; ele abenoou, e no o posso

    revogar. No vi iniqidade em Jac, nem desventura observei em Israel. O Senhor

    seu Deus est com ele, e entre eles se ouvem aclamaes ao seu rei" (Nm 23:19-

    21). A histria do povo escolhido mostra que havia iniqidade, da qual o

    verdadeiro Jac estava dolorosamente consciente; e havia tanta perversidade em

    Israel, que o mundo pago ao redor ficava surpreso. Mas a maravilha disso tudo

    que os olhos de Deus estavam sobre o seu povo pela luz que emanava da graa

  • divina, depois pelo sangue dos sacrifcios ofertados pelo povo a favor de si mesmo

    e por fim pela morte expiatria do seu muito amado Filho.

    A natureza novamente contribui para a inspirada e instrutiva parbola de

    Balao, pois refere-se a Deus como "foras [...] como as do unicrnio", enquanto

    Israel retratado com a fora do boi selvagem e a natureza assustadora do leo e da

    leoa (Nm 23:22,24; 24:8,9). Tendo sido justificados gratuitamente pela graa

    divina, justificados pelo sangue de Jesus, justificados pela f e, portanto

    justificados de todas as coisas, ns, os cristos, no temos fora em ns mesmos.

    Nossa fora est na graa de Jesus Cristo, nosso Senhor (2 Tm 2:1).

    Na terceira parbola, Balao declara que produzir frutos para Deus o

    resultado inevitvel de sermos separados para ele e justificados perante ele. Quo

    bela e expressiva essa explicao inspirada sobre o povo escolhido de Deus! "Que

    boas so tuas tendas, Jac! E as tuas moradas, Israel! Como vales que se

    estendem, como jardins ao lado de um rio, como rvores de sndalo que o Senhor

    plantou, como os cedros junto s guas!" (Nm 24:3-14). A linguagem figurada que

    Balao empregou forma um estudo parte. O soberano do cu comparado a uma

    estrela (cf. Nm 24:17 com Ap 2:28; 22:16). O cetro, smbolo comum da realeza,

    refere-se poderosa soberania do Messias de Israel. O ninho posto na penha fala da

    segurana dos quenitas (Nm 24:21). Os navios que vinham da costa de Quitim

    eram uma aluso proftica s vitrias de Alexandre, o Grande (Nm 24:24).

    Embora decepcionado, Deus ainda assim tinha todo o direito de contar com

    os frutos do seu povo no deserto. No os tinha escolhido, redimido e abenoado,

    fazendo deles seu tesouro particular? Quanto mais no espera de ns, que fomos

    comprados com o precioso sangue de seu querido Filho? Ser que no o glori-

    ficaremos quando damos muitos frutos? (Jo 15:8). No somos exortados a estar

    cheios do fruto da justia? (Fp 1:11). No tem um valor extremamente prtico o

    fato de sermos separados para ele e justificados pela graa diante dele? A nossa

    posio privilegiada no deveria resultar em sermos frutferos em toda boa obra?

    (Cl 1:10).

    No pertinente que a parbola seguinte se volte para a segunda vinda de

    Cristo? A coroa de vitria o adorno para a fronte daquele que chamou, separou,

    justificou e abenoou o seu povo. "V-lo-ei, mas no agora; contempl-lo-ei, mas

    no de perto. Uma estrela proceder de

    Jac, e de Israel subir um cetro"(Nm 24:17). Segundo certo comentarista:

    "A estrela refere-se sua primeira vinda; o cetro, sua segunda vinda; e, como o

    falso profeta no o via como salvador, profere a prpria condenao". Trata-se do

  • dia do juzo para os inquos, pois "Um dominador sair de Jac, e destruir os

    sobreviventes da cidade". A destruio ser arrasadora e terrvel, como diz Balao:

    "Ai, quem viver, quando Deus fizer isto?" (Nm 24:23).

    Parbola das rvores

    (Jz 9:7-15)

    Essa parbola contada aos homens de Siqum por Joto, filho mais novo de

    Gideo e nico sobrevivente do massacre de seus 70 irmos por Abimeleque (outro

    irmo) outra profecia em forma de parbola, uma vez que se cumpriu.

    Abimeleque, filho bastardo de Gideo, aspirava a ser rei e persuadiu os homens de

    Siqum a matar todos os 70 filhos legtimos de seu pai (exceto o que escapou) e o

    proclamarem rei. Joto, o sobrevivente, subindo ao monte Gerizim, proferiu a

    parbola ao rei e ao povo, fugindo em seguida.

    Muitos estudiosos discordam da natureza parablica do pronunciamento de

    Joto. Por exemplo, o dr. E. W. Bullinger, em Figures ofspeech [Figuras de

    linguagem], diz: "No se trata de parbola, porque no h nenhuma comparao, na

    qual uma coisa equiparada a outra [...] Quando rvores ou animais falam ou

    pensam, temos uma fbula; e, quando essa fbula explicada, temos uma alegoria.

    Se no fosse a orao explicativa 'fazendo rei a Abimeleque' (9:16), o que a torna

    uma alegoria, teramos uma fbula". O dr. A. T. Pierson refere-se a ela como "a

    primeira e mais antiga alegoria das Escrituras [...] Uma das mais lindas, de todas as

    fbulas ou aplogos de todo o universo literrio". O professor Salmond igualmente

    refere-se a ela como "um exemplo legtimo de fbula [...] os elementos grotescos e

    improvveis que a tornam um meio inadequado para expressar a mais sublime ver-

    dade religiosa".

    Ellicott comenta: "nesse captulo temos o primeiro 'rei' israelita e o primeiro

    massacre de irmos; dessa forma, temos aqui a primeira fbula. As fbulas so

    extremamente populares no Oriente, onde so muitas vezes identificadas com o

    nome do escravo-filsofo Lokman, o congnere de Esopo [...] A 'fbula' uma

    narrativa imaginria usada para fixar prudncia moral nas mentes". Junto com

    outros comentaristas, entretanto, inclino-me para o aspecto parablico do discurso

    de Joto, o qual, como disse Stanley, "falou como o autor de uma ode inglesa".

    Lang tambm.v o discurso como uma parbola e faz trs observaes:

  • 1. o material da parbola pode ser verdadeiro, assim como as

    rvores so objetos reais;

    2. o uso desse material pode ser completamente imaginrio; como

    quando mostra as rvores em uma reunio, propondo a eleio de um

    rei e convidando aquelas que esto em crescimento a oliveira, a

    figueira, a videira e o es-pinheiro a reinar sobre as rvores mais

    altas, como o cedro;

    3. os detalhes imaginrios podem corresponder exatamente aos

    homens que precisavam ser instrudos e aos seus feitos [...] O cedro era

    o mais alto e imponente; assim tambm eram os homens de Siqum, que

    foram fortes o suficiente para levar adiante o terrvel massacre.

    Ainda, quanto diferena entre interpretao e aplicao, cumpre dizer que

    a primeira se relaciona com o problema em questo, a saber, a relao entre Israel e

    Abimeleque, sendo histrica e local; a segunda proftica, e dispensacional. A

    interpretao imediata da parbola de Joto seria: as diferentes rvores so

    apresentadas em 'busca de um novo rei', e sucessivamente apresentam-se a oliveira,

    a figueira, a videira e, por ltimo, o espinheiro. Nessas rvores desejosas de um rei,

    temos a apresentao figurada do povo de Siqum, que estava descontente com o

    governo de Deus e ansiava por um lder nominal e visvel, como tinham as naes

    pagas vizinhas. Os filhos mortos de Gideo so comparados a Abimeleque, como

    as rvores boas ao espinheiro. A palavra traduzida por reina sobre d a idia de

    pairar e encerra tambm a idia da falta de sossego e de insegurana. Keil e

    Delitzsch, em seus estudos sobre o AT, afirmam: "Quando Deus no era a base da

    monarquia, ou quando o rei no edificava as fundaes de seu reinado sobre a graa

    divina, ele no passava de uma rvore, pairando sobre outras sem lanar razes

    profundas em solo frutfero, sendo completamente incapaz de produzir frutos para a

    glria de Deus e para o bem dos homens. As palavras do espinheiro, 'vinde

    refugiar-vos debaixo da minha sombra', contm uma profunda ironia, o que o povo

    de Siqum logo descobriria".

    Ento, como observaremos, a vida da nao israelita retratada pela

    semelhana com as rvores citadas na parbola, cada qual com propriedades

    especialmente valiosas ao povo do Oriente. Muito poderia ser dito a respeito das

    rvores, sendo a vida de cada uma diferente uma da outra. Embora todas recebam

  • sustento do mesmo solo, cada uma toma da terra o que compatvel com a sua

    prpria natureza, para produzir os respectivos frutos e atender s suas necessidades.

    So as rvores diferentes no que se refere ao tamanho, forma e ao valor. Cada

    rvore possui glria prpria. As fortes protegem as mais fracas do calor intenso e

    das tempestades ferozes (v. Dn 4:20,22 e Is 32:1).

    A oliveira uma das rvores mais valiosas. Os olivais eram numerosos na

    Palestina. Winifred Walker, em seu livro lindamente ilustrado Ali the plants of the

    Bible [Todas as plantas da Bblia], diz que "uma rvore adulta produz anualmente

    meia tonelada de leo". O leo proporcionava a luz artificial (x 27:20) e era usado

    como alimento, sendo tambm um ingrediente da oferta de manjares. O fruto

    tambm era comido, e a madeira, usada em construes (lRs 7:23,31,32). As folhas

    da oliveira simbolizam a paz.

    A figueira, famosa por sua doura, era tambm altamente apreciada. Seu

    fruto era muito consumido, e seus ramos frondosos forneciam um excelente abrigo

    (ISm 25:18). Ado e Eva usaram folhas de figueira para cobrir a sua nudez (Gn

    3:6,7). Os figos so os primeiros frutos mencionados na Bblia.

    A videira era igualmente estimada por causa dos seus imensos cachos de

    uva, que produziam o vinho grande fonte de riqueza na Palestina (Nm 13:23). O

    "vinho, que alegra Deus e os homens". Sentar-se debaixo da prpria figueira ou

    videira era uma expresso prover-bial que denotava paz e prosperidade (Mq 4:4).

    O cedro, a maior de todas as rvores bblicas, era famosa por sua notvel

    altura, pois muitas vezes "media 37 m de altura e 6 m de dimetro". Por causa da

    qualidade da madeira, o cedro foi usado na construo do templo e do palcio de

    Salomo. Altivos e fortes, eles simbolizavam os homens de Siqum, poderosos o

    suficiente para levar adiante o terrvel massacre dos filhos de Gideo. Lang fez a

    seguinte aplicao: "Assim como um espinheiro em chamas poderia atear fogo

    numa floresta de cedros e assim como um cedro em chamas causaria a destruio

    de todos os espinheiros sua volta, tambm Abimeleque e os homens de Siqum

    eram mutuamente destrutivos e trocaram entre si a recompensa da ingratido e da

    violncia das duas partes".

    O espinheiro um poderoso arbusto que cresce em qualquer solo. No

    produz frutos valiosos, e sua rvore, da mesma forma, no serve de abrigo. Sua

    madeira usada pelos habitantes como combustvel. O dr. A. T. Pierson lembra-