alexandre herculano

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Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (1810 - 1877) Considerado a personalidade mais completa do primeiro romantismo português. Teve um papel fundamental na literatura e na historiografia do país. De uma família relativamente modesta, não seguiu estudos superiores por falta de recursos. 1831: Obrigado a exilar-se em Inglaterra, e depois em França, onde tomou contacto com o Romantismo. 1832: Regressa a Portugal, politicamente ativo na defesa da Constituição. 1836-37: Publica em Lisboa o folheto A Voz do Profeta e dirige a revista O Panorama. 1839: Nomeado diretor das Bibliotecas Reais da Ajuda e das Necessidades. 1840: Deputado, mas abandona o parlamento no ano seguinte e dedica-se ao trabalho literário e histórico. 1846: A História de Portugal suscita o desagrado do clero, cuja intervenção na política nacional o autor, embora crente, desaprovava. 1851: Após o golpe de Estado que derrubou Costa Cabral, Herculano desenvolve intensa atividade política. 1860-65: A sua colaboração na redação do código civil português suscita polémica pela sua defesa do casamento civil a par do religioso. 1866: Retira-se para a sua quinta em Vale de Lobos, onde se dedicou à agricultura. Interveio ainda em questões nacionais, como a proibição das Conferências do Casino, e reuniu em volume alguns dos seus textos polémicos. Como escritor, a formação de Herculano é plenamente romântica, marcada pelas culturas francesa e inglesa, com que contactara diretamente durante o exílio, e pela alemã que desde cedo conhecia. Da sua obra são indissociáveis o contexto histórico da época e a sua posição na vida pública. A sua poesia, de cariz meditativo, reflete por vezes sobre os horrores da guerra civil, a par de outros temas, como a morte, a liberdade humana ou Deus. Como romancista, introduziu em Portugal o romance histórico, sob a influência de Sir Walter Scott e Victor Hugo, localizando as suas obras sobretudo na Idade Média, objeto privilegiado da sua investigação histórica e, segundo os preceitos do Romantismo, origem e fundamento da identidade nacional. Foi colaborador de inúmeros jornais, tendo alguns dos seus romances saído em fascículos na imprensa, como era habitual na época. Defende como historiador os ideais do liberalismo, afastou-se da conceção da história feita por reis e heróis, preocupando-se antes em analisar o papel das coletividades e das instituições na evolução do país. O seu sentido crítico, apoiado na investigação documental, levou-o, por exemplo, a refutar o milagre de Ourique, reacendendo a sua polémica com o clero. Como jornalista, criticou o funcionamento das instituições, bateu-se por reformas no ensino, na agricultura e na literatura. Defendeu o municipalismo, que via como a solução político-administrativa mais adequada ao país e aos seus ideais.

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Alexandre Herculano

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Page 1: Alexandre Herculano

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (1810 - 1877)

Considerado a personalidade mais completa do primeiro romantismo português.

Teve um papel fundamental na literatura e na historiografia do país.

De uma família relativamente modesta, não seguiu estudos superiores por falta de recursos.

1831: Obrigado a exilar-se em Inglaterra, e depois em França, onde tomou contacto com o Romantismo.

1832: Regressa a Portugal, politicamente ativo na defesa da Constituição.

1836-37: Publica em Lisboa o folheto A Voz do Profeta e dirige a revista O Panorama.

1839: Nomeado diretor das Bibliotecas Reais da Ajuda e das Necessidades.

1840: Deputado, mas abandona o parlamento no ano seguinte e dedica-se ao trabalho literário e histórico.

1846: A História de Portugal suscita o desagrado do clero, cuja intervenção na política nacional o autor, embora crente, desaprovava.

1851: Após o golpe de Estado que derrubou Costa Cabral, Herculano desenvolve intensa atividade política.

1860-65: A sua colaboração na redação do código civil português suscita polémica pela sua defesa do casamento civil a par do religioso.

1866: Retira-se para a sua quinta em Vale de Lobos, onde se dedicou à agricultura. Interveio ainda em questões nacionais, como a proibição das Conferências do Casino, e reuniu em volume alguns dos seus textos polémicos.

Como escritor, a formação de Herculano é plenamente romântica, marcada pelas culturas francesa e inglesa, com que contactara diretamente durante o exílio, e pela alemã que desde cedo conhecia. Da sua obra são indissociáveis o contexto histórico da época e a sua posição na vida pública.

A sua poesia, de cariz meditativo, reflete por vezes sobre os horrores da guerra civil, a par de outros temas, como a morte, a liberdade humana ou Deus.

Como romancista, introduziu em Portugal o romance histórico, sob a influência de Sir Walter Scott e Victor Hugo, localizando as suas obras sobretudo na Idade Média, objeto privilegiado da sua investigação histórica e, segundo os preceitos do Romantismo, origem e fundamento da identidade nacional. Foi colaborador de inúmeros jornais, tendo alguns dos seus romances saído em fascículos na imprensa, como era habitual na época.

Defende como historiador os ideais do liberalismo, afastou-se da conceção da história feita por reis e heróis, preocupando-se antes em analisar o papel das coletividades e das instituições na evolução do país. O seu sentido crítico, apoiado na investigação documental, levou-o, por exemplo, a refutar o milagre de Ourique, reacendendo a sua polémica com o clero.

Como jornalista, criticou o funcionamento das instituições, bateu-se por reformas no ensino, na agricultura e na literatura. Defendeu o municipalismo, que via como a solução político-administrativa mais adequada ao país e aos seus ideais.

Page 2: Alexandre Herculano

Bibliografia Obras poéticas:

A Voz do Profeta, 1836; A Harpa do Crente, 1838; Poesias, 1850. Obras de ficção:

Eurico, o Presbítero, 1844; O Monge de Cister, 1848; Lendas e narrativas, 1851; O Bobo, 1878; O Pároco da Aldeia, 1844.

Obras de história: História de Portugal, 1846; História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, 1854.

Ensaios e textos de polémica: Eu e o Clero, 1850; Solemnia Verba, 1850; Opúsculos, 1873; e Estudos Sobre o Casamento Civil, 1866.

Obra epistolar: Cartas, dois volumes, 1911-1914; Cartas Inéditas de Alexandre Herculano, 1944 e Cartas de Vale de Lobos, três volumes, 1980- 1981.

Algumas obras sobre A. Herculano: Beirante, Cândido 1977. A Ideologia de Herculano. Santarém: Junta Distrital. Carvalhão, Joaquim Barradas de 21971. As Ideias Políticas e Sociais de Herculano.

Lisboa: Seara Nova. Durigan, J. A. 1983. Alexandre Herculano. São Paulo. Herculano e a sua Obra. Porto: Instituto Cultural do Porto 1979. Lopes, Óscar 1984. "Reflexões sobre Herculano como polemista", in Álbum de Família.

Ensaios sobre Autores Portugueses do Século XIX, Lisboa: Caminho: 27-52. ------ / Saraiva, António José 171996. "Alexandre Herculano", in História da Literatura

Portuguesa, Porto: Porto Editora, 705-726. Medina, João 1977. Herculano e a Geração de 70. Lisboa. Moura, Vasco Graça 1978. Herculano Poeta. Porto: Fund. Antunes de Almeida. Saraiva, António José 1971. Herculano Desconhecido (1851-1853). Lisboa: Europa-

América. ------ 1977. Herculano e o Liberalismo em Portugal. Lisboa: Bertrand. ------ 1995. "Herculano e propriedade literária", in id.: Para a História da Cultura em

Portugal, vol. II, 75-80. Serrão, J. Veríssimo 1977. Herculano e a Consciência do Liberalismo em Portugal.

Lisboa. Simões, João Gaspar 1965. Alexandre Herculano. Lisboa: Presença.