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MARCO ZERO Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano I • Número 6 • Curitiba, setembro de 2010 Competição com os shoppings Como os comerciantes do centro fazem para competir com os shopping centers. Página 5 “Sempre gostei de esportes” Conheça a história da repórter esportiva Janaína Castilho, da Rede Paranaense de Comunicação (RPC) e do Globo Esporte local. Página 3 A vovó das estações-tubo Você sabia que a estação-tubo da praça Carlos Gomes é a mais antiga de Curitiba? Página 4 COMÉRCIO PERFIL TRÁFICO Cracolândia de Curitiba PÁGINAS 6 E 7 Alexandre Gasparini

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Page 1: Alexandre Gasparini COMÉRCIO TRÁFICO Competição … · lismo esportivo do Paraná. Mulher com cara de menina, doce, jeito sin-cero, informações precisas, voz bem colocada, de

Curitiba,setembro de 2010 MARCO ZERO

MARCO ZEROJornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano I • Número 6 • Curitiba, setembro de 2010

Competiçãocom os shoppings

Como os comerciantes do centro fazem para competir com os shopping centers.

Página 5

“Sempre gostei deesportes”

Conheça a história da repórter esportiva Janaína Castilho, da Rede Paranaense de Comunicação (RPC) e do Globo Esporte local.

Página 3

A vovó das estações-tuboVocê sabia que a estação-tubo da praça Carlos Gomes é a mais antiga de Curitiba?

Página 4

COMÉRCIO

PERFIL

TRÁFICO

Cracolândia de Curitiba

PÁGINAS 6 E 7

Alexandre Gasparini

Page 2: Alexandre Gasparini COMÉRCIO TRÁFICO Competição … · lismo esportivo do Paraná. Mulher com cara de menina, doce, jeito sin-cero, informações precisas, voz bem colocada, de

MARCO ZERO Curitiba, setembro de 20102

EDITORIAL

Aos leitores Esta edição do jornal Marco Zero traz como reportagem especial a matéria “Cracolândia de Curitiba”, uma importante averiguação de fatos relacionados ao tráfico de drogas na região central de Curitiba, nas imediações do Largo da Ordem, palco de inúmeras cenas de violência documentadas nos últimos dias em diversos meios de comunicação. Na seção perfil, a repórter Janaína Castilho, da RPC, narra sua paixão pela profissão de jornalista. Como destaque, esta edição traz ainda uma análise a respeito da batalha do comércio da região central de Curitiba contra os impérios do consumo, em outras palavras, os shopping centers. No caderno Cultura, está retratada a rotina dos hare krishnas, que se reúnem todos os dias no Largo da Ordem, e, na seção Trilhas do Tempo, o relógio das flores tem sua rica história relembrada. O periódico ainda destaca uma descontraída e agradável conversa com o livreiro mais famoso de Curitiba, Eleotério Burrego.

Expediente

“Acho desagradável o cheiro de urina presente no centro da cidade, especialmente quando próximo a pontos turísticos. O mau cheiro in-terfere na limpeza e conservação do centro. Em patrimônios públicos como o acervo Tiradentes, o cheiro é insuportável, tem que desviar do lu-gar para não sentir o cheiro”.Denise Cristina, 27 anos,estudante de Pedagogia

“A limpeza da capital, sobretudo no centro, está regular, mas não dou nota dez. Necessita de vistoria nos bueiros e melhorar a questão do saneamento. Está regular, mas precisa melhorar”.Marco Antonio , 45 anos,trabalha no centro

“As praças estão sujas, as ruas mal conservadas. Dessa forma, existe muita poluição. Não há muita boa coisa a dizer não”.Alessandro Araldi, 28 anos,estudante

“A situação da conservação e lim-peza do centro está boa. O alto número de garis trabalhando tem ajudado muito”.Elizete, 31 anos,empregada doméstica

“Acho que o centro está bem con-servado, com bastante garis tra-balhando. Não tenho nada a rec-lamar em questão da limpeza e coleta do lixo”.Viviane , 27 ano,assistente administrativa

“A limpeza pública é um trabalho de bastante dedicação e qualidade. A ci-dade está limpa e conservada”.Ivo Glacy , 50 anos, gari

Os desafios do trânsito curitibanoAdriano Lohmann

Há muito tempo vem sendo tarefa difícil transitar pelas ruas da capital paranaense, principal-mente na região central. Carros, ônibus e motos disputam cen-tímetro a centímetro os espaços nas vias públicas da cidade.

Dependendo do horário, che-ga a ser uma verdadeira missão, sem exageros, deparar-se com essa visão caótica, pois, além da superpopulação de veículos, os corajosos que se arriscam nesse território de som e fúria devem munir-se de muita paciência, mas muita mesmo, porque o pior não é o congestionamento, mas a falta de respeito e de educação dos es-tressados. É um verdadeiro festi-val de buzinas, gritos e ofensas.

E não há previsão de me-lhoras nos próximos anos. Segundo da-dos do Detran, entre 2007 e 2010, a frota de veículos aumen-tou cerca de 20%, saltando de 966 mil para quase 1,2 mil-hão de novos carros despejados nas ruas da capital, tornando-a a mais motorizada do Brasil.

Dessa forma, faz-se neces-sário buscar novas alternativas para enfrentar esse panorama. O transporte coletivo seria uma opção atraente, já que Curitiba há muito tempo se destaca com um sistema inovador e pela qua-lidade dos veículos utilizados na cidade, porém, de acordo com informações do Portal do Con-trole Social, coordenado pelo Tribunal de Contas do Paraná, o investimento no setor foi apro-ximadamente 87% menor que no sistema viário.

Se para a reforma de ruas, pa-vimentação e melhorias para flui-dez no trânsito foram injetados R$

307,00 milhões, o valor destinado ao sistema coletivo de transporte foi de apenas R$ 164 milhões. Pouco para uma cidade muitas vezes premiada nesse setor.

Ainda assim, Curitiba conti-nua sendo exemplo nesse tipo de transporte, como é o caso da Lin-ha Verde Sul, muito criticada, por sinal, e o ligeirão na Av. Marechal Floriano, que aumentou a veloci-dade na ligação entre o bairro Bo-queirão e a região central.

Outra saída seria o incentivo ao uso das bicicletas, principal-mente a curta distância, opção econômica e saudável em época de conscientização ecológica, mas essa alternativa tão sedutora acaba esbarrando em vários em-pecilhos. A nítida falta de ciclo-

vias, a falta de res-peito (mais uma vez) dos motoristas pos-sessivos que acham que a rua é deles e até problemas com assal-tos, já que essa forma de transporte deixa

seu usuário muito vulnerável.Há os que aguardam com an-

siedade o já tão comentado metrô de Curitiba, com 22 km de exten-são, que ligaria os terminais dos bairros Santa Cândida e CIC Sul, passando pelo centro, no Passeio Público e na Praça Manoel Eu-frásio. Opção interessante, mas a longo prazo, já que a previsão é para 2014.

Fato é que a questão do trânsi-to em Curitiba já foi amplamente discutida, alternativas foram apre-sentadas, como rodízio e cobrança de pedágio na região central, entre outros. Mas no final das contas o que conta realmente é o elemento humano, a consciência do quanto cada um pode contribuir para o benefício de todos.

O que você acha da conservação e limpezado centro da cidade?

Gabriel Sestrem

ARTIGO

O jornal Marco Zero é umapublicação feita pelos alunos doCurso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

Coordenador do Cursode Comunicação Social:Gustavo Lopes

Professores Responsáveis:Roberto NicolatoTomás Barreiros

Diagramação:André Halmata (6º período) eHenrique Rigo (7º período)Facinter: Rua do Rosário,147CEP 80010-110 - Curitiba-PRE-mail: [email protected] Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

O incentivo ao uso de bicicletas

seria uma alternativa ao congestionamento

do trânsito na cidade

ERRATA - por falha na diagramação, a edição anteri-or, de julho-agosto de 2010, sai identificada como a de número 4, mas na verdade foi a edição de número 5.

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Curitiba,setembro de 2010 MARCO ZEROPERFIL

Gilherme Pereira

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Charme feminino nos esportes A repórter da RPC Janaína Castilhos fala sobre o seu dia a dia na cobertura fora e dentro dos estádios

O estado do Paraná viu surgir nos últimos tempos Janaína Castilho como uma das grandes novidades na TV esportiva. Ela já atua há certo tempo, mas depois dela não apareceu ninguém do seu porte no telejorna-lismo esportivo do Paraná. Mulher com cara de menina, doce, jeito sin-cero, informações precisas, voz bem colocada, de postura controlada, não fica gesticulando muito. Janaína não faz um carnaval com a notícia, ape-nas informa. Tem um comportamen-to de quem não se deslumbra com a tela, informação precisa, prosódia bacana, voz bem colocada (com um defeitinho nos jotas e gês, por cau-sa da língua que recua, mas isso lhe confere mais um toque de charme) e corpo controlado.

Janaína é formada pela Uni-versidade Estadual de Ponta Grossa. Começou a trabalhar em Curitiba na TV Independência, como repórter do extinto Tempo de Jogo. Contra-tada pela TV Paranaense, a jornalis-ta estreou na edição local do Globo Esporte, onde hoje também é apre-sentadora. Faz as coberturas dos ti-mes paranaenses nas transmissões da Globo e do canal PFC em dias de jo-gos transmitidos para todo o Brasil. É uma das âncoras da Revista RPC, nas noites de domingo, ao lado do jornalista Odilon Araújo.

A jornalista concedeu entrevis-ta ao jornal Marco Zero, na qual fala sobre seu dia a dia, dá sua opinião sobre a Copa do Mundo de 2014 e comenta casos como o de Eloá Pi-mental e Isabela Nardoni, entre ou-tros assuntos.

Jornal Marco Zero - Como foi sua escolha pela profissão?Janaína Castilho - Cheia de dúvidas, como para muita gente! Fiz vestibu-lar para Pedagogia e para Jornalismo. Passei nos dois e comecei Pedagogia. Apesar de gostar muito da área do en-sino, não me identifiquei com o curso e parei. Parti para o Jornalismo e me senti mais à vontade. Sempre gostei de escrever, então, o que me fez se-guir por essa escolha foi justamente a possibilidade de escrever em jornal, revista. A princípio, minha visão era esta: o impresso.

Ser jornalista é uma paixão para você?

É sim. É o motorzinho que me move todo dia. É a vontade de ir em busca de uma nova história.

Por que escolheu atuar no jornalis-mo esportivo?

Não foi bem uma escolha. Como disse no começo, eu me ima-ginava escrevendo em impresso, ti-nha um carinho especial por revis-tas, por causa do formato e do estilo de texto. Mas ainda na universida-de comecei a trabalhar em TV, por curiosidade. Gostava, é claro, mas fui gostando mais. Acho que TV en-canta quem vê em casa e mais ain-da quem participa de cada etapa da produção. É uma história com tudo a que tem direito: cor, som, movi-mento... Fiquei por mais dois anos trabalhando em TVs como ajudante, “faz tudo”, até me formar. Quando me formei, voltei a Curitiba, e mi-nha primeira oportunidade foi justa-mente em televisão, na RIC. Cobria a editoria geral. Alguns meses mais tarde, estreou um programa esporti-vo no mesmo canal, e achei que era legal tentar. Sempre gostei de espor-tes! Deu certo, foi ali que comecei no jornalismo esportivo e não sai mais, hoje na RPC. Sabe aquilo que falei sobre ir em busca de uma nova história? No esporte, você pode ir além, a linguagem é diferente.

Se não estivesse na TV, em que ou-

tro meio de comunicação gostaria de trabalhar?

Revista!

Como é seu dia a dia profissional na televisão?

No jornalismo, você não tem muito horário, porque as notícias surgem o tempo todo. No esporte, não é diferente: às vezes os times treinam à tarde, outro dia pela ma-nhã. No fim de semana, tem jogos, competições, eventos e trabalho para a gente! Mas é legal, é uma ro-tina, como qualquer trabalho, e é a rotina que escolhi.

Ao chegar em casa, depois do expe-diente, você consegue se desligar do trabalho?

Não, dificilmente. Mas ten-to, continuo tentando. Pode não ser ruim, depende do que você pensa. Se forem boas idéias, por que não? Exercita a mente e me parece saudá-vel quando isso não interfere de for-ma negativa na relação com as pes-soas que vivem com você.

Qual sua análise sobre o caso da in-vasão do campo no Couto Pereira?

Estava de folga naquele dia, as-sisti pela televisão. No dia seguinte, fui até lá fazer matéria ao vivo sobre como ficou tudo. E é muito ruim uma situação como essa, para o clube, para a torcida verdadeira, para a cidade, para o futebol paranaense. Acho que nem tem muito o que falar.

Como você vê a vinda da Copa de Mundo para o Brasil?

Muito bom. Quem não quer vi-ver essa festa? Claro que a partir daí entramos em muitas discussões sobre investimentos. Investimento público, principalmente. Quando os nomes do nosso país, da nossa cidade e dos es-tádios escolhidos têm a possibilidade de aparecer em todo canto, é o maior marketing! Atrai a atenção do mundo inteiro. Tudo parece fácil, e especia-listas viram políticos, prometem a melhor infraestrutura, fazem projetos maravilhosos. Mas já começamos a ver as falhas. Nesse caso, não dá para deixar para a próxima gestão, é pre-ciso dar aquele jeitinho brasileiro em quatro anos apenas.

Como vê a queda da obrigatorieda-de do diploma para o exercício da profissão da atividade jornalística?

Acho que é preciso o diploma. É preciso ter formação, estar envol-vido nas discussões sobre o que re-presenta e como é essa profissão. É tão importante quanto à de um cirur-gião cardíaco. Não dá para sair por aí operando a imagem dos outros. É até complicado defender isso com a tecnologia que existe hoje. Todos fa-lam, opinam e divulgam o que pen-sam. Isso é, sim, muito bom, mas acho que o jornalista, o cara que põe o rosto dele ali, que assina a reporta-gem, é formador de opinião. O pú-blico se informa por meio dele e, na maioria das vezes, acredita nele.

O que você pensa sobre a atuação de jornalistas em casos, como o da menina Eloá Pimentel ou o caso de Isabela Nardoni?

Exige coerência, sensibilidade, ética e mais um pouco. Como saber até onde ir? Tudo vira notícia a cada minuto, e das piores. Envolve muita dor, principalmente quando se trata de crimes contra crianças. O fato por si só já é sensacionalista; na minha vi-são, o trabalho jornalístico não pode ser ainda mais.

Como você define a jornalis-ta Janaína Castillho?

R: Uma aprendiz da vida. On-tem sabia um pouquinho, hoje um pouquinho mais, e lá no fim ainda vai ser muito pouco perto do que há para se descobrir.

Janaína Castilhos: “A tevê encanta quem assiste e quem participa de cada etapa da produção.

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MARCO ZERO Curitiba, setembro de 20104

TRILHAS DO TEMPO

No ritmo das horas

Normalmente, quem atravessa a Praça Garibaldi dificilmente deixa de notar a presen-ça do Relógio das Flores, que, como o próprio nome diz, não exibe apenas o tempo, mas um show de cores proporcionado pelas muitas flores que adornam seu mostrador.

Ainda que se esteja a caminho do trabalho, apressado, lançando apenas aquela olhadela rápida para conferir se ainda há tempo, ou se é necessário apressar o passo a fim de não se atrasar, é impossível não se encantar com a beleza do relógio.

Funcionando desde as dez da manhã de 15 de julho de 1972, quando foi doado pela firma M. Rosemann Joalheiros à cidade de Curitiba, o Relógio das Flores tem cerca de 8 metros de diâmetro. Era movido a partir de um relógio-co-mando instalado na Igreja do Rosário por impul-sos eletrônicos, ou, tecnicamente falando, emissão vibrátil de quartzo, tecnologia que proporcionava maior precisão e produzia uma diferença máxima de apenas 30 segundos por ano. Os ponteiros são feitos em fibra de vidro. Desde 1978, as flores que o enfeitam são trocadas a cada três meses, de acordo com a floração de cada estação do ano.

Projetado para ser o maior e mais perfeito do mundo na época de sua inauguração, con-corria em tamanho com os relógios de idên-tico estilo de Ontário, no Canadá, sendo 80 centímetros maior que aquele, e de Genebra, na Suiça sendo 1,20m maior que o da capital mundial da relojoaria.

Há 38 anos, o Relógio das Flores do Largo da Ordem, no centro histórico da capital, vem marcando a vida dos curitibanos

José Rogério Barbosa

O Relógio das Flores foi doado por uma empresa à Prefeitura de Curitiba

A estação-tubo da Praça Carlos Gomes, junto com a linha Boqueirão, completa 18 anos de atividade em 2010. Após a criação dos ônibus biarticulados, o ponto de parada é o mais antigo da capital paranaense.

Responsável por uma revolução nos meios de transporte e visto como modelo para outras cidades, o sistema de condução de passageiros teve sua primeira linha operando em dezembro de 1992. Com o trecho que liga as regiões Norte-Sul, a rota Boqueirão criou seus primeiros tubos no início dos anos 90. Na época, administrada pela empresa Nossa Senhora do Carmo, os primeiros veículos tinham a cor cinza. Hoje, a linha é administrada por cinco empresas diferentes.

Segundo a funcionária da estação-tubo Carlos Gomes Luiza Montrean, de 48 anos, são mais de duas mil pessoas que se integram nos chamados vermelhões: “Trabalho aqui no turno da manhã. Começo às 5h15. Até terminar meu turno, já passaram mais de mil pes-soas na catraca, e ainda têm outros dois turnos. Acho que passam de dois mil”.

Mas a revolução no transporte urbano de Curitiba não parou. Prestes a completar 18 anos, a rota disponibi-lizou a linha Ligeirão Boqueirão, que faz o mesmo trajeto, mas com menor número de paradas, para maior rapidez até ao destino. Mesmo com as inovações, passageiros ainda têm motivos de críticas. Alguns afirmam que a de-mora no intervalo entre a partida dos ônibus não os deixa tão eficazes: “Ontem, por pouco, perdi um ligeirão por causa de um minuto. O outro passou dez minutos de-pois. Juntando com mais os quinze minutos que leva pra chegar até ao meu destino, dá o tempo de pegar o biar-ticulado, que para em todos os tubos. Fica elas por elas”, afirma o vendedor José Cláudio Dornelas, de 36 anos.

Mas não são todos que pensam dessa forma. “Se nos programarmos para pegar o ligeirão no momento certo, a agilidade faz com que passemos menos tempo dentro dos ônibus”, comenta aq psicóloga Francielle Antunes, de 29 anos. Ela geralmente pega o coletivo em horário de pico, à tarde, no centro da cidade, e mesmo assim garante que chega em casa mais cedo e menos cansada, pela rapidez no trajeto: “Às vezes vou até em pé, pois o ônibus fica lotado, mas ainda sim prefiro em-barcar, pois chego bem rápido em casa”, salienta.

De acordo com o agente da Urbs (empresa que ger-encia o transporte urbano em Curitiba) Eugênio Fla-vio Pacheco, a praça concentra um grande número de passageiros que se deslocam para os quatro cantos da cidade, tanto para a região Sul, com os ônibus das esta-ções-tubo, quanto para outros bairros, tomando o co-letivo normal do outro lado da praça. Ele explica que o local é um ponto estratégico da cidade e, por isso, ideal para os biarticulados: “A Praça Carlos Gomes está no meio da cidade, no centro de Curitiba. Milhares de pes-soas descem e sobem nos ônibus aqui todo dia. É por isso que foi escolhido para receber a primeira estação tubo. Passam pessoas de todos os bairros no local”.

Dentro da casa de máquinas, há um reser-vatório de água com capacidade para mil litros que é utilizado para a irrigação do seu canteiro de flores. O sistema opera através de fotocé-lulas externas, que, diariamente, ao amanhecer, quando as luzes da rua se apagam, acionam a bomba elétrica.

Em 2000, após ter permanecido parado por três meses devido a depredações e vandalismos, chegando a ter seus ponteiros utilizados como gangorra, o relógio passou por restauração e teve seus ponteiros e mecanismos trocados.

Após 38 anos em meio a diversos ataques, seja de vândalos, seja do descaso oficial, seja do próprio tempo que ele marca, o relógio tem uma história tão rica quanto a de muitos outro smonumento importantes da cidade. Se para os apressados passantes a caminho do trabalho ele apenas cumpre estritamente o objetivo de informar a hora, não é assim para aqueles que se sentam nas bancos da praça à sua frente. “Acho muito bonito, mas penso que a ilumina-ção poderia ser melhorada no período noturno. Ou poderiam colocar ponteiros fluorescentes para facilitar a leitura das horas”, diz Ricardo Aparecido da Silva, frequentador do local.

Assim, exatamente como diz uma das pla-cas que permanecem ao seu lado, o Relógio das Flores continua marcando a vida daqueles que “... Dedicam o seu tempo, o seu esforço e a sua inteligência em favor de uma cidade melhor, de um país melhor, de um mundo melhor...”

Praça Carlos Gomes tem a estação-tubo mais antiga de Curitiba

José

Rog

ério

Hamilton Zambiancki

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Curitiba,setembro de 2010 MARCO ZERO

Contra o império do consumoComerciantes da região central de Curitiba lutam para competir com o potente comércio dos shopping centers

Gabriel Sestrem

Comércio de vestuário e calçados é maioria absoluta na região central de Curitiba.

Ale

xsan

dro

Rib

eiro

O centro de Curitiba não passa ileso pelo processo de dec-adência enfrentado pelas áreas cen-trais das grandes cidades. Quem paga o preço são os comerciantes da região que, muitas vezes, vêem seus estabelecimentos serem tro-cados pelos grandes impérios do consumo popularmente conheci-dos como shopping centers. Quem conheceu a região central da capital paranaense nos anos 80 traz recordações de um local elegante e seguro, com um bom número de moradores e um comércio atraente liderado pelas pequenas empresas. Entretanto, não é mais essa a realidade cu-ritibana nos primeiros anos do novo século. Construções deca-dentes, crescimento da violência, má conservação das calçadas e dificuldade de estacionamento são alguns dos fatores que têm aborrecido moradores e turistas da região central de Curitiba.

O que permanece, porém, é o gigantesco número de consu-midores que, entre o centro da ci-dade e os shopping centers, lotam pequenas empresas e grandes re-des de comércio em busca de bons preços para serviços e produtos da região. A recepcionista Maryel-len Pereira Dutra, de 26 anos, faz parte de um grande número de cu-ritibanos que apreciam o comér-cio do centro da cidade. Maryel-len, que mora em Pinhais, é atraída pelos pontos fortes do comércio da região: proximidade de vários outros comércios, variedade de produtos, constantes promoções e liquidações e preços baixos. “Pre-firo comprar no centro. Encontro diversidade de marcas e produtos e também encontro vários itens no mesmo lugar. Além do que, pelo fato de a concorrência ser muito grande, os preços também tendem a diminuir”. Incluída em outro grupo, que opta pela compra nos

grandes centros comerciais, a publicitária Louriane Regly, de 21 anos, aprecia a comodidade e a segurança encontradas nos shopping centers. Segundo ela, esses são pontos fundamentais na migração de muitos consu-midores do centro da cidade para os shoppings. “As lojas são mais selecionadas, e o ambi-ente é mais seguro. Não existem aglomerações ou empurra-em-purra causados pelas megaliq-uidações do comércio central”, ressalta. Algo que tem preocupado comerciantes e moradores do cen-tro e consequent-emente afastado consumidores é a segurança precária. Dos 18.582 estabeleci-mentos ativos na região, segundo o último levantamento socio-econômico da Companhia de De-senvolvimento de Curitiba, 36% já tiveram seus estabelecimentos visitados por assaltantes. Além dos assaltos, o trá-fico de drogas e o vandalismo lideram o ranking dos problemas em torno da segurança na região.

Comparativo de produtos das mesmas marcasProduto Centro Shopping

Hora em Lan House R$ 3,00 R$3,50Camiseta simples R$ 19,90 R$ 29,90Bota feminina montaria R$ 99,00 R$ 129,90Camiseta Oficial Futebol R$ 139,00 R$ 169,00Tênis esportivo R$ 399,00 R$ 399,00Câmera Digital 10.2MP R$ 499,00 R$ 549,00Videogame PS3 R$ 1.245,00

Vantagens e desvantagensShopping Center Centro

+ Segurança + Promoções+ Lojas selecionadas + Preço baixo+ Estruturas modernas + Variedade de lojas+ Atendimento - Aglomerações- Preços elevados - Segurança precária- Baixa variedade de lojas

“No centro, encontro diversidade de marcas e produtos mais baratos”

Maryellen Pereira,recepcionista

O centro apresenta dois universos opostos: durante o horário com-ercial, de maior movimento, um índice baixo de violência; porém, após as 18h e nos finais de sem-ana e feriados, a região torna-se um local perigoso. Segundo pesquisa realiza-da em 2009 pelo Centro Vivo, organização da Associação Co-mercial do Paraná, os produtos mais procurados na região cen-tral de Curitiba são vestuário (14%) e calçados (11%), segui-

dos dos serviços de alimentação e lojas de elet-r o - e l e t r ô n i c o (ambos 6%). A estatística é con-firmada por Eli

Monteiro, gerente de uma loja de calçados localizada na rua XV de Novembro. Segundo ela, as lojas de calçados e vestuário estão em crescimento no centro da cidade, e o preço baixo, se comparado aos shopping cen-ters, potencializa as oportuni-dades. Mesmo assim, 26% dos consumidores não encontram os produtos ou serviços que desejam no centro.

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MARCO ZERO Curitiba, setembro de 20106

DROGAS

Se você trabalha, estuda ou transita pelo centro da cidade diariamente,

já deve ter visto alguma cena de tráfico ou consumo de drogas. O lugar mais crítico é a região do Largo da Ordem, onde algumas ruas são mais usadas pe-los traficantes e consumidores princi-palmente de crack.

Durante a produção desta matéria, a reportagem do Marco Zero acompan-hou por cinco dias, no período entre 18h e 22h, o movimento do tráfico e consumo de drogas em algumas ruas na região do Largo da Ordem.

Foi surpreendente a facilidade de se obterem os dados e imagens para esta matéria. Tudo acontece sem disfarce e sem grandes preocupações por parte dos indivíduos que fazem parte da “rede do crack” no centro de Curiti-ba. Depois de dias de observação, foi possível classificar cada rua de acordo com o consumo e venda de crack, pro-curando explicar por que essa região está constantemente nas páginas de noticías policiais dos principais jornais de Curitiba.

Travessa Nestor de Castro(fundos da Catedral)

Das cinco ruas observadas, esta é onde o tráfico ocorre em grande es-cala, como em uma feira-livre. A rua é quase toda cercada por pontos de ônibus e tem muitas lojas e lancho-netes. Entre os pontos de ônibus e as lojas, forma-se um corredor que nos horários de pico do final do dia recebe um grande fluxo de pedestres. Muitos são estudantes, já que existem algu-mas faculdades e cursos noturnos na região, e também pessoas que tomam ônibus nesses pontos, voltando do trabalho para casa. Os traficantes são quase todos jovens, com aparência en-tre 15 e 25 anos, sempre bem arruma-dos, com roupas chamativas e quase sempre de touca ou boné. Andam in-sistentemente de um ponto a outro da rua, olhando constantemente para os lados. Costumam ficar nas portas das lanchonetes e lojas que ficam abertas até mais tarde.

O código para identificar um pos-sível comprador da droga é uma troca de olhares mais demorada e um cum-primento. Um repórter do Marco Zero passava pelo local em torno das 19h30, olhou fixamente para um dos jovens encostado na porta de uma lanchonete

e foi logo abordado: “Vai da boa aí?”É raro encontrar algum policial ou

viatura no local. Durante os cinco dias de observação, no período entre 19 e 22 horas, aconteceram apenas cer-ca de duas abordagens policiais por noite. Os policiais chegam, abordam algumas pessoas, revistam e vão emb-ora. Durante esses dias, em nenhuma oportunidade houve presença fixa da polícia na região, apenas algumas via-turas passando. Quando alguma via-tura aparece, os jovens saem andando rapidamente, usan-do ruas próximas como rota de fuga, ou se disfarçam entre as pessoas nas filas dos ôni-bus. Assim que os policiais passam, eles tiram ou colocam as blusas e tou-cas, provavelmente com o intuito de se disfarçarem depois de terem sido observados pelos policiais que pas-saram.

Rua do Rosário A Rua do Rosário é usada constante-

mente como rota de fuga, tanto em

direção à Praça Tiradentes como em direção ao Largo da Ordem.

Na esquina com a Travessa Nestor de Castro, ocorre a maioria das ne-gociações entre traficantes e usuários. É lá também onde policiais com mo-tos mais abordam suspeitos, por ter-em maior mobilidade e chegarem de direções diferentes, surpreendendo os traficantes. Nesse local, onde fica uma faculdade, traficantes convivem com muitos estudantes e fazem negócio sem se importar com a observação das

pessoas que pas-sam.

Trincheira sobre a Rua Dr. Muricy

A trincheira é o ponto de reunião entre os traficantes.

Serve também como local de esconderi-jo das drogas.

De um lado da trincheira, há dois grandes prédios residenciais, cujos jar-dins são usados constantemente como esconderijo das drogas. Não é difícil observar indivíduos vasculhando es-ses pequenos jardins em busca de suas drogas ou tentando escondê-las.

Quando o movimento de compra di-minui, em torno das 20h, alguns trafi-cantes se reúnem próximos aos jardins. Escondem as pedras ali e ficam por perto, tomando conta e conversando à porta de um dos edifícios, como se fossem moradores ou esperassem al-guém do prédio. Assim que um vicia-do se aproxima, vão até o esconderijo, tiram a droga e entregam ao viciado, que segue para uma rua próxima para consumi-la.

Em cinco dias, houve duas aborda-gens policiais nesse local. Os policiais nada acharam com os jovens. Sabendo dos esconderijos, os policiais procu-raram, mas, curiosamente, não acharam nada. Foram embora, e os traficantes continuaram ali, tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.

Rua Augusto StelfeldO trecho da saída do túnel da trinchei-

ra sobre a Rua Dr. Muricy até a esquina com a Rua Clotário Portugal é local de intenso consumo de crack. É muito mal iluminado, e muitos pedestres evi-tam passar por ali, o que colabora para que o local seja usado para o consumo de crack. Não é difícil observar a mo-vimentação dos usuários, que compram as pedras nas ruas citadas e seguem em direção à Rua Augusto Stelfeld para consumi-las. Pode-se até observar, de longe, pequenas fagulhas de isqueiros sendo acendidos. Minutos depois, vol-tam eufóricos. Tudo acontece como uma peça de teatro a céu aberto para quem quiser assistir.

EsconderijosO mais curioso é que em quase todas

as abordagens os policiais não encon-tram nada, provavelmente pela enorme “criatividade” dos traficantes em es-conder as pedras de crack. Durante as observações, a reportagem identi-ficou alguns dos locais usados pelos traficantes e usuários para esconder a droga: bueiros, canos de esgoto, muros, árvores, sacos de lixo, entre as pedras da calçada, nas partes íntimas e principal-mente na boca.

É comum ver jovens andando sem rumo olhando para baixo e pegando objetos do chão com a esperança de ser uma pedra de crack, e outros colocando e tirando coisas da boca, como se es-tivessem comendo algo.

Estas artimanhas são características dos usuários e vendedores de crack e dificultam o trabalho da polícia.

Alexandre Gasparini

Pedestres são obrigados a conviver com usuários e traficantes nas ruas do centro de Curitiba

O código para identificar um possível comprador da droga é uma troca de olhares mais demorada e um

cumprimento.

Cracolândia de Curitiba

A falta de policiamento e a pouca luminosidade do centro da cidade à noite colaboram paraa ação de traficantes e usuários de drogas

Alexandre Gasparini

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Curitiba,setembro de 2010 MARCO ZERO 7

Uma rua mal iluminada, como muitas em outros lugares do centro, mas com uma particularidade: é gran-de e muito movimentada. Centenas de pessoas passam por ali todos os dias, à espera de seus ônibus, a caminho da faculdade ou do cursinho, para acessar uma loja ou apenas de passagem. Ape-sar da importância e do movimento, a

rua parece abandonada. Abandonada pelas autoridades e de costas para o mais importante monumento reli-gioso da cidade. Essa é a realidade na Avenida Barrão do Serro Azul. Não é difícil observar um carro da polícia parado ali, revistando rapazes encostados na parede, com as mãos para cima, as pernas entreabertas e expressões que tentam afirmar não terem feito nada de errado.

Minutos antes, eles estavam a an-dar de uma ponta à outra daquela rua. Outros meninos passam. Eles se olham e conver-sam um pouco, não muito, não intimamente. Um deles olha para os lados constante-mente, coloca a mão na boca, tirando algo, até que eles apertam as mãos e cada um anda para um lado diferente.

Há pessoas paradas esperando seus ônibus para irem para casa depois de um dia de trabalho. Elas olham, parecem com medo, disfarçam, prote-gem suas bolsas e sacolas, mas nada podem fazer. Há outras que entram na panificadora, na lanchonete ou em outra loja qualquer buscando refúgio até a chegada de sua condução. Essa rua comercial é movimentada e já está sendo conhecida como a “Cracolân-dia de Curitiba”.

O carrossel das drogas continua a girar feliz,

e grandioso para uns. Mas amedrontador, infeliz e repugnante para outro.

Passageirosda violênciaPara os passantes, fica a insegurança. Para os traficantes, o lucro e a invisibilidade. Eles se misturam às pessoas e somem durante as batidas policiais.

Henrique RigoO menino anda de um lado para

o outro e cumprimenta várias pessoas. Se ele tivesse em mãos alguns panfle-tos, não seria entranho pensar que es-tivesse trabalhando ou buscando votos para seu candidato a deputado. Mas ele realmente parece ter muita dor nos dentes, pois mexe muito na boca. Ele anda com vários amigos eufóricos. Fica sozinho e depois encontra outro colega. De longe, parece ter uns 16 ou 17 anos, no máximo. Suas roupas são

bonitas e chamativas, quase como um código para reconhecimento, inclusi-ve a blusa que ele tira e põe quando um carro de polícia passa pela rua. O pesquisador Marcelo Ribeiro de Araújo, em 2001, acompanhou 131 dependentes dessa “amizade” da rua escura que estavam internados em clínicas de reabilitação O resultado: 60% morreram assassinados, 10% morreram de overdose, e 26,1% em de-corrência da Aids.

Outro gru-po vem andando. São quatro ra-pazes eufóricos, ziguezagueando e cantando com latas de refrige-rante nas mãos. Parecem gostar de refrigerante,

pois se sentam no chão, nas proximi-dades da rua escura, onde “usam suas latas e cachimbos”. De acordo com a pesquisadora da Brasil Escola Pa-trícia Lopes, as “latas e cachimbos” causam dependência, prejudicam a memória, atrapalham a vida sexu-al, emagrecem, causam desnutrição. Seu conteúdo é produzido a partir da pasta-base da cocaína. Depois, eles se levantam, dançam um pouco, fa-zem manobras na frente dos carros. A história se repete constantemente, principalmente à noite.

Como quem não quer nada, eles

entram em estabelecimentos nas pro-ximidades, em busca de alguém para trocar roupas, eletroeletrônicos ou qualquer outro objeto que tenha va-lor. Em um caso específico um rapaz ofereceu seu relógio e celular, mas fo-ram recusados. Ele tirou sua jaqueta de couro e acompanhou outros dois rapazes que pareciam ziguezaguear pela rua. Depois disso, saiu para um lado e os outros dois para o outro, algo normal nesse tipo de comércio. Ele estava estranhamente feliz, sem jaqueta, tão alegre que nem parecia sentir o frio de 10 graus.

Certo dia, nessa mesma rua escu-ra, dois estudantes, que preferem não se identificar por medo de represálias, faziam um trabalho. Com câmeras em-prestadas, fotografavam a rua. Eis que alguns eufóricos chegaram e deram voz de assalto. Cercaram os dois, di-zendo estar armados e ameaçando que, se não tivessem o que desejavam , iriam “pipocar todo mundo”. Sem conseguir o que queriam, foram embora. Os es-

tudantes, apesar da coragem em não acreditar nas ameaças, poderiam não ter contado essa história.

Outro carro de polícia vem e rea-liza o que chamam de “batida”. A rua se acalma, o movimento diminui e os protagonistas da história simplesmen-te desaparecem. Parece ser o final da história. Alguns minutos se passam, e eles retornam. O carrossel das drogas continua a girar feliz, lucrativo e gran-dioso para uns, mas amedrontador, infeliz e repugnante para outros.

Segundo o delegado-adjunto da divisão de polícia especializada, Alme-ri Kochinski, o uso e o tráfico de dro-gas estão ligados a homicídios, furtos, espancamentos e assaltos. E o maior vilão, como desencadeador de violên-cia, é o crack. O delegado afirma: “Vi-ciados em crack estão envolvidos em 80% a 90% dos homicídios ocorridos na grande Curitiba”.

Poucas e ineficientes opções de retorno à vida social são oferecidas a esses meninos.

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MARCO ZERO Curitiba, setembro de 20108

Uma vida entre os livrosEliaquim Junior

Foi num lugar cercado de livros que Eleotério Burrego, o mais con-hecido livreiro de Curitiba, recebeu a reportagem do Marco Zero para uma conversa descontraída sobre cul-tura, educação, Kafka e, claro, livros. Eleotério – nome de origem grega – trabalha há 35 anos como livreiro e, embora tenha demorado a aceitar isso, hoje se sente muito orgulhoso de sua profissão.

Foi na cidade de Promissão, inte-rior de São Paulo, onde tudo começou. Com os pais incentivando a leitura, o ga-roto Eleotério tinha uma grande paixão por gibis e costumava ler os livros de sua irmã. Como morava numa cidade do interior, não havia muitos títulos di-sponíveis, e sua inclinação à leitura viria a se tornar mais intensa depois que che-gou numa certa cidade grande, Curitiba. “Meu primeiro emprego foi na Livraria do Chaim, quando eu tinha 18 anos”, conta o livreiro, que decidiu abdicar de uma carreira acadêmica para se dedicar em tempo integral aos livros.

São PauloEm 2008, o homem que atuou

por mais de 20 anos na Livraria do Chaim recebeu uma proposta de tra-balho da Martins Fontes – livraria e editora – e seguiu rumo à grande São Paulo. A falta de oportunidades na capital paranaense também foi um dos fatores que o influenciaram na sua de-cisão. “Fiquei um ano e dois meses em São Paulo. Foi uma ótima experiência, agreguei muito conhecimento na área da literatura”, declara. Mas por que ele voltou? Eleotério responde: “To-dos os meus amigos e minha família estão aqui. Eu não estava ganhando o suficiente para levar minha família para viver em São Paulo. Se eu tivesse 18 anos, ficaria por lá. Existe um campo vasto de conhecimento, de cultura e educação naquela cidade. Mas não ten-ho mais tempo para aventuras”, revela o livreiro. Ele conta ainda que ficou encantado com a capital paulista, e co-menta que “ São Paulo não é o caos e o paraíso das balas perdidas, como todos pensam”. E critica: “ São Paulo é belís-sima, o problema é que os meios de comunicação somente mostram o lado negativo da cidade. Violência existe em qualquer lugar”.

Questionado sobre a situação da

leitura no Brasil, Eleotério diz que a questão não é o brasileiro que não gos-ta de ler, mas se trata de um problema cultural e monetário, por estarmos na periferia da economia mundial. “Hoje em dia, com o avanço na educação, e o discurso de que ela é necessária, há au-mento do consumo de livros, isso está mudando”, avalia o vendedor que ainda agrega que a falta de dinheiro já deixou de ser um problema para adquirir livros, porque agora já existem livros de bolso bem mais baratos.

A metamorfoseUma pessoa que passou quase toda

a sua vida entre os livros deve ter cente-nas de ídolos literários. Perguntar a um livreiro qual o seu autor e obra preferidaos acaba se tornando algo previ-sível, mas inevitável. Eleotério admite ser um anti best-seller. Ele conta que não conseg-ue ler livros que estão na mídia e prefere esperar a moda pas-sar. O livreiro revela que tem uma obra preferida, descoberta recentemente. “Não faz muito tempo, adotei um au-tor, e apenas um livro desse autor”. Ele se refere ao escritor tchedo Franz Kafka e a uma de suas obras mais conhecidas, A metamorfose.

Eleotério possui 13 traduções do livro, já leu A Metamorfose dez vezes e pretende lê-lo muito mais. “Faço uma leitura comparativa das traduções. Esse

é meu hobby, minha paixão”, revela o paulista, que ainda deseja encontrar mais traduções do livro. Se ele contin-uar assim, brevemente se tornará um especialista na obra de Kafka.

A livraria do EleotérioQuando questionado sobre os

autores paranaenses que mais admira, o vendedor diz que, por muitos deles serem seus amigos, tem um certo receio em citar nomes, pois sempre haverá al-guém que ele vai esquecer e depois será repreendido – no bom sentido – pela pessoa não-citada. Mesmo assim, ele menciona alguns nomes da literatura paranaense, como Cristovão Tezza, Ro-

berto Gomes e Dalton Trevisan. “São meus amigos. Quando eu tinha a minha livraria, eles a frequentavam”, relembra o homem que já teve a sua própria “casa de livros”, de 1998 a 2003, que se chamava simplesmente

Livraria do Eleotério. Falando em comércio de livros,

outro ponto importante a ressaltar é a afirmação do vendedor de que as livrarias do mundo contemporâneo já não são tão boas quanto antigamente. “Elas estão desaparecendo, porque não possuem diversidade de livros. Só ven-dem best-sellers, livros que estão na mí-dia. Elas estão perdendo para a inter-net, para as livrarias virtuais, onde há maior variedade de obras disponíveis e

Eleotério Burrego, livreiro há mais de três décadas, é um profundo conhecedor do mundo literário

Eleotério trabalha há 35 anos como livreiro

mais acessíveis”, completa o especial-ista em livros, que recomenda para os estudantes o site Estante Virtual como uma das ferramentas mais completas de obras disponíveis para compra.

“Não contem com o fim dos liv-ros”. Essa frase de Umberto Eco foi citada pelo vendedor para responder à pergunta sobre o possível desapareci-mento dos livros. Tomando empresta-da a ideia de Eco, ele continua: “A roda foi inventada. Ela pode ser enfeitada, mas ela vai ser sempre a roda. Assim é o livro, um instrumento que não tem como mudar. Depois de Gutenberg, ele foi aperfeiçoado e continuará a ser enfeitado, mas nunca vai morrer”, diz Burrego, que se justifica afirmando que o livro sempre vai ser essencial na educação. “O conteúdo que os profes-sores transmitem aos alunos está nos livros. Os estudantes, quando precisam se aprofundar em algum tema, pro-curam nos livros. O livro é indispen-sável”, pontifica.

Jogando o livro foraAtualmente, Eleotério trabalha

num sebo – o Sebo Líder – localizado na Rua do Rosário, no centro de Cu-ritiba. Declara que foi muito difícil para ele trabalhar nesse tipo de comércio, no qual os livros não chegam em caix-as lacradas. “Foi um choque para mim. Depois de tanto tempo trabalhando com livros novos, agora estou no meio de livros usados”, diz ele, contando e se surpreendendo com os casos de pessoas que aparecem lá dizendo que iam jogar um livro no lixo, mas que de repente se lembram de que poderiam vendê-lo num sebo.

“Tenho amigos que nunca virão aqui, porque, quando eles iam à minha livraria, pegavam os livros que esta-vam lá no fundo da caixa, o livro mais limpo e intacto”, diz o vendedor, abis-mado com a diversidade de compor-tamento e cultura no ramo literário de Curitiba.

Ter hábito de leitura, uma boa bagagem cultural e ler ao menos a orelha de um livro são requisitos fundamentais para se tornar um bom livreiro. Essas são dicas de alguém que passou 35 anos trabalhando bem perto dos livros, algo de que Eleoterio Burrego não deseja se separar tão cedo. “Estar entre os livros” é a maior ambição do livreiro – e, quem sabe, abrir outra livraria. “O sonho não morreu”, conclui.

“Cristovão Tezza, Roberto Gomes e Dalton

Trevisan são meus amigos. Quando eu tinha

a minha livraria, eles a frequentavam”

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Waléria Pereira

Cabe no BolsoComo os grandes sábios

CULTURA

Quem passa pelo Largo da Or-dem, na rua Duque de Caxias, pode notar os devotos da Iskom (Socie-dade Internacional para a Consciên-cia de Krishna), mais conhecidos como Hare Krishnas. Luiz Carlos dos Santos, 33 anos, é adepto da doutrina há 16 anos e conta como é a rotina de um devoto. Às 3h da manhã, os adeptos acordam e re-alizam vários programas matinais. Durante a noite, acontece o Goura Aratick, cerimônia de gala na qual eles oferecem a Krishna (Deus), água, incenso e lamparina.

Santos, batizado como Bhaga-van conta como surgiu a filosofia Hare Krishna e quais princípios seguem: “Historicamente, a nossa escola existe há mais de cinco mil anos. Seguimos quatro princípios básicos de vida: não intoxicação, não sexo ilícito, não jogos de azar e não comer alimentos impuros (carne)”.

Os devotos referem-se a Deus como Krishna, que significa o todo atrativo, ou o que tem to-das as qualidades. Eles acreditam que pelo serviço devocional pos-sam enxergar Krishna face a face. “Só quem faz austeridades neste caminho pode compreender isso, como os grandes sábios do passa-do e o mais recente, que é o nosso querido mestre Prabhupada Swa-mi, e que mostrou na prática como realizar isso”, afirma.

Santos conta que o nome Hare Krishna é um apelido carinhoso devido ao maha mantra que eles estão sempre cantando. Ele explica o seu significado: “Ó meu adorado senhor, por muitos nascimentos eu estou neste mundo, agora por favor tenha piedade desta pobre alma que se esforça para voltar a prestar-te serviço e livra-me do ciclo de nasci-mentos e mortes”.

Santos diz que eles são lacto-vegetarianos, pois consomem la-

ticínios, como leite, iogurte etc. “Antes de consumirmos os alimen-tos, oferecemos a Krishna, para que ele os purifique. Isso é um ato para não desfrutarmos dos nossos sentidos sozinhos. Quando tenta-mos desfrutar sozinhos, sofremos com o karma”.

Os hare krishnas se mantém com doações e venda de livros. São um movimento sem fins lu-crativos e desenvolvem alguns tra-

Luis Carlos Santos, batizado como Bhagavan, é Hare Krishna há 16 anos

balhos para ajudar a comunidade. Distribuem alimentos, dão aulas de música, artes e filosofia. “Fazemos o trabalho mais precioso para a co-munidade e tentamos levar para as pessoas a consciência de Krishna, que é a verdadeira fortuna espiri-tual”, explica.

Os devotos chamam atenção pelas roupas que vestem e pelo corte de cabelo. Santos explica o porquê disso: “Usamos a roupa típica sem costuras, porque segui-mos uma escola, e o cabelinho atrás é chamado de shikha. Isso difere os personalistas dos imper-sonalistas, ou os que acreditam em Deus dos que não acreditam”.

O cantar do maha mantra é diário, por isso os devotos carre-gam um saquinho que serve para acomodar um colar de contas para meditação, chamada de japa mala (mala signifa colar, e japa, can-tar baixinho). Cantam 16 voltas diárias de japa mala, mais ou me-nos 2 horas, para acalmar a mente agitada.

“O cantar de Hare Krishna é o cantar indicado para esta era. Ele é chamado de Maha Mantra (Maha quer dizer grande e Mantra liberação da mente)”, finaliza.

Comida boa com preço acessível no centro da cidade

A cidade de Curitiba tem se tornado um pólo gastronômico com grande diversidade de pratos e sabores por todo lado. O centro de Curitiba é um dos lugares onde há diversidade gastronômica com ótimas opções para aquele lanchinho rápido ou mesmo para um super almoço. No coração do centro históri-co, o Largo da Ordem, a Casa Lilás é um espaço aconchegante que reúne sa-bores e arte em um só lugar. Além de oferecer diversas opções gastronômi-cas, a casa ainda tem uma loja e um cantinho da leitura e oferece cursos e oficinas de desenho e pintura e objetos de decoração. Vale a pena conhecer e mergulhar nessa arte. Ao descer a Praça Tiradentes, passando pela catedral, é possível ob-servar a recém-inaugurada lanchonete Dois Corações, uma das lojas mais fa-mosas do centro da cidade. que serve coxinhas, lasanha, empadão, bolos, tortas e ainda almoço. Os preços vari-am, mas o sabor é inconfundível. Na rua XV, a tradicional Confeitaria das Famílias oferece um espaço amplo para tomar um café acompanhado de doces, pães de quei-jos, folhados e outras delícias com um sabor de colônia que se confunde com a casa da vovó. Para quem quer comer muito bem e ainda tomar aquela cervejinha com os amigos, o lugar é o BarBaran, na rua Augusto Stelfeld, coladinho no Sesc da Esquina. Bar tradicional da sociedade ucraniana Subras, ab-erto de terça a sábado, tem o melhor pão com bolinho e o melhor pão com bife e queijo da cidade. Nas terças e quintas-feiras, a música ao vivo faz a festa da galera. E há também a comi-da típica ucraniana e o atendimento de primeira. Não faltam opções de coisas boas no centro de Curitiba. A feirinha que acontece no Largo da Ordem to-dos os domingos tem coisas de primei-ra para se degustar. A feira ao lado da catedral tem tapioca feita por um ba-iano de verdade e a barraca de pastel chega a ter filas no final da feira.

Salgados, doces e massas, em ambientes diversos, são opções interessantes para odia a dia no centro de Curitiba

Saiba como é a rotina dos Hare Krishnas que se reúnemtodos os dias no Largo da Ordem, no centro de Curitiba

Os encontros reúnem também pessoas que não são devotos seguidores de Krishna

Elaine Nunes

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MARCO ZERO Curitiba, setembro de 201010

Ansiedade, isolamento e comprometimento do relacionamento familiar são os principais sintomas.

COMPORTAMENTO

Sandro de Souza Junior

Viciados em redes sociais

balhos, no entanto, relata que sofre muito, pois não consegue se concentrar exclusivamente na pesquisa. Quando está na internet, sempre está conectado também a alguma rede social ou comu-nicador, como o Messenger.

As escolas e universidades do Brasil promovem fortemente a in-clusão digital, pois boa parte das insti-tuições de ensino público é equipada com laboratórios de informática. A questão agora é saber se alunos e pro-fessores estão preparados para essa modernização.

A pedagoga Inês Bianchini, do Colégio Estadual São José, localizado na Lapa-PR, diz que a internet já está muito presente na sala de aula. “Muitos dos materiais passados aos alunos pe-los professores são elaborados com total ajuda da internet”, conta. Quanto à questão da adequação da tecnolo-gia, isso também vem acontecendo no Colégio São José, onde todas as salas são equipadas com TVs com entradas USB, que permitem que os professores levem conteúdo retirado da internet para a sala de aula. “Essa é uma fer-ramenta de grande auxílio nas aulas”, completa a pedagoga.

A cada dia que passa, é maior o tempo que crianças, adolescentes e adultos passam jogando em fren-te ao computador. Psicólogos ale-mães da Charité University Hospi-tal Berlin apresentaram estudos que mostram que a dependência de jogos virtuais tem sintomas seme-lhantes às causadas pelo vício em bebidas e drogas como a maconha. São sintomas o isola-mento, mudança de comportamento, ansie-dade e até comprometi-mento do relacionamento familiar.

Nos Estados Unidos, apro-ximadamente 10% dos jovens são viciados em jogos. Segundo pesqui-sas da Harris Interactive, isso traz consequências para a vida pessoal, como dificuldades de integração social e problemas escolares.

O designer Alex Bueno, de 24 anos, tem como hobby administrar e atualizar um site de notícias sobre jogos eletrônicos. Ele não se con-sidera um viciado em internet, mas um entusiasta, pois a cada dia des-cobre coisas novas e interessantes. Ele diz que, além de seu site, possui contas em diversas redes sociais, como Twitter, Facebook e Hyves – rede social da Holanda –, em que conversa com seus amigos virtu-ais e reais. Segundo ele, os jogos não prejudicam o aprendizado na escola se a pessoa souber dosar, ou seja, deve haver um tempo limite para o entretenimento que não di-minua o tempo dedicado aos deve-res escolares.

Bueno conta admite que fica muito tempo na frente do compu-tador, porém, não se afasta da fa-mília e dos amigos por causa disso, não se sente um excluído, nem um nerd. Ele diz que já fez tudo que um

jovem tem que fazer: ficar na rua o dia inteiro, brincar, machucar-se, ter cicatrizes. “Jovem que não tem cicatriz não teve infância”, defende. Bueno acredita que os jogos eletrô-nicos não influenciam a violência, o que acontece somente se a pessoa não tiver nenhum tipo de educação. “Não é só porque um jogador de futebol mata uma mulher que vou sair matando também. É um exa-gero pensar desse jeito, porque, se

fosse assim, a televisão deveria ser proibida”, argumenta.

O estudante Ro-drigo Soldera Afonso, de 21 anos, passa em média seis horas na fren-te do computador. Ele conta que já foi mais viciado em jogos ele-trônicos, pois ficava até 12 horas jogando. Mas novas atividades co-meçaram a tomar mais seu tempo. Além de jogar, Afonso lê notícias na internet e se utiliza das redes so-ciais, como Twitter e Facebook. Ro-drigo acredita que os responsáveis devem moderar o tempo dos filhos na internet e nos jogos, que, para ele, podem ajudar no aprendizado, auxiliando o estudante a ter raciocí-

nio rápido e aprender a trabalhar em grupo.

Ele também acre-dita que as pessoas nor-mais não são influen-ciadas por uma coisa

irreal, porém, se elas têm algum distúrbio mental ou problemas pessoais, o risco é grande. O es-tudante afirma as horas que gasta no computador não prejudicam seus relacionamentos. Rodrigo diz que não abre mão de compromis-sos com amigos e família por isso. Afonso é contra a censura aos jo-gos. O estudante acha que quem deve permitir ou não que um filho faça algo específico são os pais. Somente eles sabem o que preju-dica ou não seus filhos, alega.

Alessandra Andrade

O Brasil é um dos países que mais usa a internet, porém, esse meio pode-ria ser melhor aproveitado. Para muitos brasileiros, quando se fala em internet, a primeira coisa que vem à cabeça são as redes sociais (Orkut, Twitter, Face-book). E os estudos?

Para parte dos jovens do país, já é bem comum o uso da internet para realizar trabalhos escolares. A geração de hoje dificilmente irá frequentar bib-liotecas para realizar pesquisas de tra-balhos escolares, como era comum há alguns anos. O estudante de Publici-dade e Propaganda da PUCPR Rodri-go Horning, de 19 anos, afirma: “Eu me recordo com certa saudade dos tempos em que ia a bibliotecas para fazer trabalhos escolares, mas prefiro a comodidade de realizar pesquisas sem precisar sair do meu quarto”.

A comodidade e a facilidade da internet são mesmo impressionantes, porém, podem atrapalhar em alguns pontos. O estudante de Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) João Henrique Pinheiro diz usar muito a internet para realizar tra-

A internet na vida estudantil

Um estudo realizado pelo Retrevo, um site de vendas que foca em consumi-dores eletrônicos, diz que 48% dos entre-vistados afirmam que atualizam suas redes sociais assim que acordam ou pouco antes de dormir. Outras pesquisas mostram que muitos usuários atualizam suas contas no Twitter ou no Facebook antes mesmo de sairem da cama. Ainda há os que confes-sam ser viciados em redes sociais, como crianças, jovens e adultos que não largam suas máquinas sem um bom motivo.

Vinicius Cesar (foto), de 12 anos, ad-mite ser um “viciado”. As redes que ele mais usa são o Orkut e o Habbo. Ele confessa

que muitas vezes perde o dia todo man-dando recados, postando fotos e brincando no Habbo Hotel. Cintia Almeida, de 34 anos, mãe do garoto, diz que controla e tem que impor limites ao filho: “Se deixar, ele acaba ficando na frente do computador o dia inteiro e deixa de fazer as tarefas da escola”.

Taiara Braun, de 21 anos, é viciada em Orkut e deixa recados para seus ami-gos praticamente o dia todo, posta fotos e vídeos. Ela acredita que a rede só trouxe benefícios, por morar em Curitiba, longe dos pais, que vivem em Santa Catarina. Além do Orkut, ela também usa o Skype como meio de comunicação com a família, afirmando que assimeconomiza nos gas-tos com telefone.

Luana de Oliveira

Nos Estados Unidos, 10% dos jovens já são

viciados em jogos

Muitos jovens, no entanto, não veem problemas

com os jogos

Jogos eletrônicospodem causarriscos à saúde

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Curitiba,setembro de 2010 MARCO ZERO

Vinicius Camilo

Após entrar no táxi, ele diz ao motorista: “De volta para o pop por favor”. Sim! Ed Motta está de volta ao pop, soul, funk e afins, depois de incursões pela música instrumen-tal com Aystelum (2005) e Chapter 9 (2008), este último gravado todo em inglês. O multi-instrumentista volta com seu mais novo trabalho, Piquenique, que tem uma sonori-dade agradável aos ouvidos dos fãs do pop de qualidade.

Casado há 18 anos com a quadrinista Edna Lopes, Ed a con-vidou para ser sua parceira neste álbum, e, pelo que se pode ouvir, a parceria deu muito certo, pois quem escuta o disco tem a ligeira impressão de estar no divertido mundo dos quadrinhos. “Carência no frio” é a música mais bela do CD, ideal para um casal de protag-onistas de folhetim das 21h. A can-ção empolga, levando o ouvinte a aguardar uma evolução e o soar de orquestra sinfônica, mas é frus-trada pelos exatos quatro minutos e oito segundos, tempo que dura a música, deixando o ouvinte com gostinho de quero mais.

A música “Piquenique”, que intitula o álbum, tem a sonoridade de músicas contemporâneas e faz alusão aos hits gravados por Mau-ricio Manieri no final dos anos 90. Segue a mesma linha do hit “Es-paço na Van”: contrabaixo bem marcado, guitarra “funkeada” e sintetizadores em demasia.

A voz leve que divide os vocais com Ed é da cantora Marya Bravo, famosa nos anos 70 por dar voz ao single “Cremogema”. Não con-hece? Procure no “Aurélio digital” o YouTube, que vale a pena.

De terno branco, sapato de pelica e chapéu panamá, “Turma da Pilantragem” é a faixa que dá uma navalhada no álbum. A música é bem dançante, ao estilo malandro do saudoso Wilson Simonal, mestre no estilo. Maria Rita é a inocente

Chapeuzinho em meio aos lobos pilantras e divide essa canção com Ed. “Sei que eles estão errados. Eu passo meses no estúdio trabalhan-do para que o álbum fique perfeito, então, não tem como sair um CD ruim”, afirma o cantor quando in-dagado sobre a crítica. O décimo trabalho de sua carreira contém 12 faixas, das quais 11 foram escritas por Ed Motta e sua esposa. Apenas “Nefertiti” não leva sua assinatu-ra. A música é linda, sendo per-ceptível a influência dos trabalhos de Ed para o cinema. A canção foi escrita por Rita Lee, que recebeu a música do cantor pela internet e escreveu a letra, como normal-mente são feitas todas as músicas de seus álbuns

Assinam a obra os produtores Silveira e Herb Powes Jr., famoso produtor de diversos artistas, den-tre eles o lendário pai do hip-hop, Afrika Bambataa.

“Piquenique” é apetitoso, o tipo de álbum para levar a um pas-seio sabático vespertino com mui-tas guloseimas, acompanhado por amigos que gostem de conversar, principalmente sobre boa música.

O álbum “Poptical”, de 2008, é o que ainda reverbera nos ouvi-dos dos apreciadores da música de qualidade, mas “Piquenique” é um algodão doce colorido e di-vertido que reflete a alma soul de um artista que não se importa em gastar muito tempo para apresen-tar um excelente álbum a uma pla-téia exigente que ele mesmo aju-dou a formar.

RESENHA11

De volta ao planeta pop

ESTANTE PARANAENSEEliaquim Júnior

Geração Leminski (2010)Solange LeminskiPara quem gosta da obra do famoso po-eta Paulo Leminski e do estilo literário leminskiano, Geração Leminski faz uma homenagem ao escritor paranaense. So-lange Leminski, prima do poeta, reuniu nesta obra produções literárias escritas pela família. Tem poemas da tia e do pai do famoso Leminski, do próprio Paulo, da filha Estrela Leminski e, claro, de So-lange, que lançou o livro em agosto para homenagear o escritor, que faria 66 anos no dia 24 do mês de lançamento. A obra reúne poemas diferenciados que podem agradar a todos os gostos, e tem fotos do famoso autor e poemas inéditos de sua filha Estrela.

O Mestre e o Herói (2006)Domingos PellegriniO escritor londrinense Domingos Pellegri-ni é conhecido pelas obras que tratam da região Norte do Paraná e por seus livros infanto-juvenis. A sugestão aqui apresen-tada é a sua mais recente obra para esse público específico. Pellegrini define O Mestre e o Herói como um romance “para quem quer crescer por dentro”. O livro conta a história de um menino mimado e irritante que embarca numa viagem acom-panhado de um misterioso “mestre”, um homem sábio, mas de poucas palavras. O garoto fica longe da televisão e do conforto de sua casa. Aos poucos, vai descobrindo a vida num sentido mais profundo e desve-lando seus próprios segredos, aprende a ouvir as pessoas, percebe suas limitações e potencialidades. No fim, o menino vai se tornando um herói e descobre no mestre um grande amigo.

Sujeito Oculto (2004)Manoel Carlos Karam Manoel Carlos Karam nasceu em Santa Catarina, mas viveu grande parte de sua vida em Curitiba. Ele morreu em 2007, aos 60 anos, ainda pouco conhecido do grande público. Em 2004, lançou o romance Sujeito Oculto, seu último livro. Nes-ta obra de apenas 144 páginas, o escritor e jor-nalista fala da violência e sobre as pessoas que a tem como um modo de vida. O personagem do livro conta o dia a dia de sua profissão: matador de aluguel. E fala sobre suas manias, alegrias e tristezas. Sujeito Oculto tem como tema principal a violência e mostra que, quanto mais ela é sufo-cante, torna-se cada vez mais banal.

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O multi-instrumentista Ed Motta lança o agradável “Piquenique”, álbum mais pop de sua carreira,

Ed Motta: “De volta para o pop, por favor”

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MARCO ZERO Curitiba, setembro de 201012

ENSAIO FOTOGRÁFICO

“O centro do problema”

Texto e fotos deAlexandre Gasparini

À noite, o centro de Curitiba é entregue à criminalidade. As autoridades parecem ter desistido da guerra contra o tráfico do crack. Enquanto isso, estudantes e trabalhadores são obrigados a ficar lado a lado com traficantes e usuários, criando seus próprios códigos de convivência.