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ALESSANDRA RODRIGUES DA PAZ ARARIPE VALDERI PEREZ CASTILHO Jornalismo: Profissão Revista PIRACICABA 2006

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ALESSANDRA RODRIGUES DA PAZ ARARIPE VALDERI PEREZ CASTILHO

Jornalismo: Profissão Revista

PIRACICABA 2006

ALESSANDRA RODRIGUES DA PAZ ARARIPE VALDERI PEREZ CASTILHO

Jornalismo: Profissão Revista

Monografia apresentada como

requisito parcial para obtenção do grau em

Bacharel em Comunicação Social –

Habilitação em Jornalismo na Universidade

Metodista de Piracicaba, com a orientação

do Prof. Dr. Dennis de Oliveira.

PIRACICABA 2006

AGRADECIMENTOS

Muito obrigado aos nossos pais: Rosa Maria Damião Rodrigues da Paz e

José Carlos Rodrigues da Paz (Alessandra), e Armida Maria Perez Castilho e

Araripe Castilho Alonso (Araripe), por nos ajudarem a concluir mais este sonho.

Obrigado a nossos grandes amigos e integrantes do grupo: Geórgia Dal Ri, Paola

Garcia Ribeiro e Tábata Dal Corso.

Agradecemos também a todas as pessoas que, de forma direta ou

indireta, de dentro ou de fora da universidade, nos incentivaram durante os quatro

árduos e caros anos de estudos.

Agradecemos aos entrevistados que se dispuseram a colaborar para a

elaboração deste trabalho e aos professores pelo imenso estímulo para a realização

desta monografia.

Os autores desta monografia também se agradecem entre si pela

amizade, pela colaboração e compreensão mútuas.

“O Jornalismo é talvez a única profissão em que somos

testados diariamente, a cada instante. O jornalista tem por

obrigação ser inteligente durante pelo menos o seu horário

profissional”.

Lago Burnett

(ex-subsecretário de Redação do Jornal do Brasil e cronista)

RESUMO

A monografia traz a discussão da formação universitária de Jornalismo

em relação às necessidades do mercado de trabalho, uma reflexão sobre a

responsabilidade das instituições de ensino superior e dos próprios alunos de

jornalismo sobre “qualidade” da imprensa.

Partiu-se da idéia de que para um conteúdo publicado, quando mal

escrito, mal apurado, anti-ético ou ferido por qualquer outro mal, cabe parte da

responsabilidade aos agentes formadores dos profissionais e aos próprios

aspirantes a jornalistas, e não somente a interesses econômicos, políticos, pessoais,

entre outros.

Muitas críticas se seguem à mídia, mas o chamado “4º poder” é formado

por homens e mulheres que possuem um histórico de experiências e acúmulo (ou

não) de conhecimentos. O jornalismo não é feito apenas de páginas impressas,

imagens em movimento e tecnologia. Por isso, ao invés de uma crítica ao jornalismo,

propôs-se refletir sobre a “construção” do jornalista.

Palavras-chaves: 1. Jornalismo, 2. Formação, 3. Mercado, 4. Exigências, 5. Ensino.

ABSTRACT

This study presents a discussion about the university formation regarding

the needs of the job market. It also considers higher education institutions and the

Journalism students’ responsibilities toward the quality of the Brazilian press.

Starting from an unethical, poorly written or misleading article, part of the

responsibility is related to the institutions that form those professionals and to the

journalists themselves. The responsibility is not only linked to economic, political,

personal and other interests.

A great deal of criticism is made to the media. However, the media,

commonly called “the 4th power”, is formed by people who have different

experiences and who accumulate (or not) knowledge. Journalism is not made only of

print pages, images in movement or technology. Because of this, instead of making

criticism to Journalism, the main purpose of this study is to reflect about the

“formation” of the journalist.

Key words: 1. Journalism, 2. Formation, 3. Job Market, 4. Requirements, 5. Education.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...........................................................................................................05

CAPÍTULO I - Os princípios elementares para o jornalismo ...............................08 1. Ética (Indivíduo e Sociedade) ...............................................................................08

1.1.1. Ética e atividade jornalística..........................................................................09

1.1.2. Ética no jornalismo, do individual ao coletivo................................................09

1.1.3. Ética, jornalismo e mercado ..........................................................................11

1.1.4. Ética e qualidade ...........................................................................................13

1.2. Elementos do jornalismo ..................................................................................16

1.2.1. A função do jornalismo..................................................................................16

1.2.2. A responsabilidade do jornalista ...................................................................17

CAPÍTULO II – Os capitais humano e social na construção do jornalista.........20 2. Ensino e jornalismo................................................................................................20

2.1. Capital Humano................................................................................................22

2.2. Capital Social....................................................................................................24

2.3. Críticas..............................................................................................................26

CAPÍTULO III – Dilemas para o ensino de jornalismo..........................................28 3. A responsabilidade da universidade ......................................................................28

3.1. Críticas ao ensino de jornalismo ......................................................................30

3.2. A responsabilidade do aluno ............................................................................37

3.3. Perspectivas para o ensino ..............................................................................39

CAPÍTULO IV – Curso Abril: uma “solução” pós-universidade..........................46 4. Editora Abril ............................................................................................................46

4.1. Jornalismo em Revista ....................................................................................47

4.1.1. Cultura de massa e segmento .....................................................................47

4.1.2. Segmentação ................................................................................................49

4.1.3. Segmentação da segmentação.....................................................................50

4.1.4. Segmentação de massa................................................................................51

4.1.5. A revista no Brasil..........................................................................................52

4.1.6. Diferencial do jornalista de revista ................................................................54

4.2. O Curso Abril de Jornalismo ............................................................................55

4.2.1. Para que serve ..............................................................................................57

4.2.2. A Universidade e o Curso Abril .....................................................................58

4.2.3. A revista no Brasil..........................................................................................60

4.2.4. Programação .................................................................................................63

4.2.5. Críticas ao Curso Abril...................................................................................67

Considerações Finais ..............................................................................................68 Bibliografia................................................................................................................72 Apêndices .................................................................................................................75 Anexos.....................................................................................................................131

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INTRODUÇÃO

"Os críticos acadêmicos buscam nos jornais mitos e metáforas, sem

perceber que eles não são criados ali, mas em centros de poder, entre os quais

avulta a própria academia" (LAGE, 2004: 176). Somente esta frase do professor da

Universidade de Santa Catarina, Nilson Lage, já serviria como justificativa ou, pelo

menos, como inspiração para o tema desta monografia.

É possível, no entanto, ir além. Este trabalho de conclusão para o curso

de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) compila algumas

opiniões acerca da qualificação dos profissionais recém-formados (como os que

produziram esta monografia) que chegam ou pretendem chegar ao mercado de

trabalho. Ou seja, tenta provocar uma reflexão sobre a responsabilidade das

instituições de ensino superior e dos próprios alunos de jornalismo sobre “qualidade”

da imprensa.

Para tanto, partiu-se do pressuposto de que para um conteúdo publicado,

quando mal escrito, mal apurado, anti-ético ou ferido por qualquer outro mal, cabe

parte da responsabilidade a interesses diversos (econômicos, políticos, pessoais),

mas a responsabilidade deve recair também, em alguns casos, aos responsáveis

pela (in)formação dos profissionais e aos próprios aspirantes a jornalistas que,

queira ou não, também deve responder por seu desenvolvimento.

Este trabalho não tem a pretensão de desqualificar nenhuma das partes

confrontadas (empresas e universidades), é flagrante que são necessidades

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distintas e até certo ponto legítimas. O estudo pretende esclarecer essa dicotomia

para proporcionar melhor entendimento dos alunos de jornalismo sobre sua

formação e as exigências da profissão. Ao abordar a formação do jornalista para

tratar o jornalismo, busca-se humanizar as analises sobre os meios de comunicação.

Muitas críticas se seguem à mídia de uma forma geral, mas vale lembrar

que o chamado 4º poder é formado por homens e mulheres, não apenas de páginas

impressas e tecnologia. Por isso, ao invés de uma crítica ao jornalismo, nos

propomos a entender e explicar a “construção” do jornalista. Não se ousou entrar em

uma discussão de métodos pedagógicos. Mas tomou-se como fundamento os

conceitos de capital humano e capital social para guiar o raciocínio entorno de quais

são os tipos de conhecimento necessários para o profissional.

O primeiro capítulo coloca a questão ética como ponto de partida e fio

condutor do debate que se apresenta, já que é pretendido também, reforçar que o

conhecimento não deve ser visto como artigo de luxo, nem a busca pelo saber como

um “hábito chato”, mas sim algo que pode contribuir para um desempenho de

perspectivas universalistas, tecnicamente eficaz, socialmente preocupado, de

conteúdo correto e, portanto, ético do jornalista.

Ainda no capítulo inicial, estão descritas as funções do jornalismo e as

responsabilidades que elas demandam do profissional. A partir delas, o capítulo

seguinte, sobre os conceitos de capital humano e capital social, pontua a

necessidade de acúmulo de conhecimentos diversos que lhes permita desempenhar

o trabalho de forma tecnicamente competente, ou seja, sem prejuízos de

informação, mas também de maneira ética.

O capital humano e o capital social são apresentados com base num

estudo do economista e professor universitário Valdemir Pires. Sem entrar no mérito

pedagógico, a utilização destes conceitos visa a apontar, em linhas gerais, alguns

pontos da formação (ou da má formação) do jornalista que podem resultar em má

qualidade no exercício da profissão.

Estes pontos críticos são propriamente apresentados no capítulo III, que

reúne as opiniões de profissionais e também teóricos do jornalismo, assim como os

pontos de vista contrários, da Associação Brasileira das Escolas de Comunicação

Social (Abecom).

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Além das críticas às instituições de ensino superior, são questionadas

também as responsabilidades individuais de alunos e professores. Assim como são

mencionadas as diferentes perspectivas e alternativas para o aprimoramento do

ensino de jornalismo. Entre elas, o Protocolo de Bolonha, e um novo modelo de

grade, em estudo na Universidade de São Paulo (USP), que se baseia nos preceitos

da “taxionomia de objetivos educacionais”.

Por fim, no capítulo IV é abordado o Curso Abril de Jornalismo, do grupo

empresarial Abril, como um exemplo das alternativas que as empresas lançam mão

para “adequar” os recém-formados às exigências do mercado.

Vale ressaltar que esta monografia não tem a pretensão de esgotar o

assunto, mas apenas expor ao debate outros fatores influencia na qualidade das

informações veiculadas pelos meios de comunicação. Os problemas éticos, técnicos

e de conteúdo da imprensa não provêm apenas das pressões mercadológicas,

governamentais ou do senso comum. As instituições de ensino superior também são

parte deste cenário que envolve o jornalismo, o jornalista. Portanto, suas

responsabilidades também devem ser alvo de questionamento constante.

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CAPÍTULO I

OS PRINCÍPIOS ELEMENTARES PARA O JORNALISTA

1. Ética (Indivíduo e Sociedade)

Na etimologia do termo, conforme conceitua Eugênio Bucci em seu livro

Sobre Ética e Imprensa, “ética” provem de “éthos”, do grego, e refere-se

basicamente aos costumes. Mas costumes relacionados a quê? Para explicar, Bucci

cita a professora de filosofia da Universidade de São Paulo (USP), Marilena Chauí,

que fundamenta o comportamento ético em dois aspectos: o individual e o social. De

acordo com Marilena:

Embora ta ethé e mores signifiquem o mesmo, isto é, costumes e modos de agir de uma sociedade, ethos, no singular, é o caráter ou temperamento individual que deve ser educado para os valores da sociedade e ta ethiké é uma parte da filosofia que se dedica às coisas referentes ao caráter e à conduta dos indivíduos. (cit. in BUCCI, 2000: 15)

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1.1.1. Ética e atividade jornalística

Refletir sobre a ética em uma atividade é, além de um tormento pessoal, um exercício de afastamento de uma prática imediata, de complexificação da moral profissional e de inscrição da profissão na contemporaneidade, com as previsíveis complicações de tal tentativa. (Karam, 1997: 36)

Não é à toa que um capítulo sobre ética inicia este trabalho de conclusão

de curso (TCC) que visa a proporcionar entendimento sobre a formação dos

jornalistas. O assunto mostra-se obrigatório quando se toma como base avaliação

apresentada na obra Jornalismo, Ética e Qualidade, do professor titular da

Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, Carlos Alberto Di Franco.

Segundo ele, o “prestígio” – entenda-se a credibilidade – da imprensa depende

essencialmente de uma conduta mais ética, o que inclui investimentos em recursos

humanos e controle de qualidade dos produtos jornalísticos. “O jornalismo moderno,

mais do que qualquer outra atividade humana, reclama atualização, treinamento,

formação permanente.” (DI FRANCO, 1995: 16)

A reflexão sobre o tema não se faz necessária somente para o

fortalecimento das empresas de comunicação. O debate que busca melhorar a

conduta dos meios de comunicação e seus profissionais tem como principal

beneficiado o consumidor das informações produzidas pelos órgãos de imprensa. É

o que afirma Bucci, ao tratar da importância do debate sobre ética na atividade.

“Essa discussão só tem um interessado: o cidadão. Ninguém mais. É para ele que a

imprensa deve existir – e só para ele. Às vezes parece que todos nos esquecemos

disso” (BUCCI, 2000: 32)

1.1.2. Ética no jornalismo, do individual ao coletivo

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Após entender que o comportamento ético pode ser considerado a partir

de duas “faces”: individual e coletivo, e enfatizada a relevância de se abordar o tema

na atividade jornalística, é possível destacar algumas interpretações sobre o

assunto. O jornalista Cláudio Abramo (1923-1987), no livro A Regra do Jogo,

defende que a ética do jornalista tem de ser a mesma que a de qualquer outro

cidadão, independente da profissão em que milita.

Não existe uma ética específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão. (...) O cidadão não pode trair a palavra dada, não pode abusar da confiança do outro, não pode mentir. No jornalismo, o limite entre o profissional como cidadão e como trabalhador é o mesmo que existe em qualquer outra profissão. É preciso ter opinião para poder fazer opções e olhar o mundo da maneira que escolhemos. Se nos eximimos disso, perderemos o senso crítico para julgar qualquer outra coisa. (ABRAMO, 1988: 109)

Para Abramo, as condutas éticas se dão também conforme a

“consciência” do jornalista sobre seus deveres como cidadão, o que depende da

visão que esse profissional tem da sociedade e o que julga ser melhor para ela.

Abramo exemplifica:

Caso ele [o jornalista] saiba de algo que põe em perigo a pátria, que põe em perigo o povo brasileiro, o dever de cidadão deve se refletir na profissão. O limite do jornalista é esse, ou seja, o limite do cidadão. Se um médico souber que estão preparando um golpe de Estado, ele tem a obrigação de contar, se for contra. Se for a favor, ele não tem obrigação. (ABRAMO, 1988: 109)

Já Francisco José Castilhos Karam, professor do curso de Jornalismo da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), considera que Abramo analisa a

conduta do jornalista frente a fatos, empresas, colegas de trabalho, e diante também

de situações que envolvem o Estado, a democracia e a opressão, o que seria

“insuficiente” (KARAM, 1997: 41). Segundo o acadêmico, essa abordagem não leva

11

em conta a complexidade da sociedade, o que é determinante para a construção de

uma concepção do que pode ou não ser ético.

Em Jornalismo, Ética e Liberdade, Karam destaca:

(...) só é possível constituí-la [uma ética jornalística], em bases reais, se levarmos em conta a necessidade de que, na particularidade do jornalismo, o que se desdobra é a própria complexidade crescente da humanidade, que carrega consigo não apenas atos, fatos, versões e opiniões, mas igualmente os valores embutidos na carga moral em que se configuram diariamente. (KARAM, 1997: 42)

A “complexidade” à que se refere o autor, inclui também o apelo

mercadológico e suas conseqüentes pressões, questões que trataremos a seguir.

1.1.3. Ética, jornalismo e mercado

Ainda no tocante às questões individuais e sociais do debate sobre a ética

na imprensa, o autor Eugênio Bucci, por meio de uma contraposição entre

individualidade e coletividade, faz uma análise sobre quais interesses devem nortear

a atividade jornalística em meio às leis do mercado. Para tanto, Bucci recorda parte

das idéias do economista e filosofo do século 18, Adam Smith: “pelas buscas de seu

próprio interesse, ele [o homem] com freqüência promove o da sociedade mais

eficazmente do que quando de fato tenciona promovê-lo” (SMITH cit. in BUCCI,

2000: 26). O autor de Sobre Ética e Imprensa recorre às críticas do economista

Eduardo Giannetti ao pensamento de Smith. Giannetti parte do princípio de que é

possível e existe uma ética baseada na coletividade. Prova disso é o êxito das

nações como projetos coletivos (BUCCI, 2000: 27). “O mesmo se pode dizer do

jornalismo. Se ele for simplesmente governado pela ambição de seus praticantes – e

de seus empresários –, pode se degenerar na negação da promessa liberal que traz

de berço.” (BUCCI, 2000)

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Abramo defendia, nos idos da década de 1980, suas posições éticas

sempre com uma tendência a individualizar a conduta, mesmo quando o assunto

envolvia o relacionamento e os limites a serem estabelecidos entre empresa e

profissional. Para ele, “evidentemente, a empresa tem a sua ética, que é a dos

donos”. Entende-se, portanto, que o jornalista irá trabalhar conforme a norma

estipulada pelo proprietário do meio de comunicação. Diante desta condição,

Abramo compara:

É como um médico que atende um paciente. Esse médico pode ser fascista e o paciente comunista, mas ele deve atender do mesmo jeito. E vice-versa. Assim, o totalitário fascista não pode propor no jornal o fim da democracia nem entrevistar alguém e pedir: “O senhor não pode dizer uma palavrinha contra a democracia?”; da mesma forma que o revolucionário de esquerda não pode propor o fim da propriedade privada dos meios de produção. (ABRAMO, 1988: 110)

Sob o prisma da coletividade, Karam também pondera sobre as

conseqüências éticas que concepções ideológicas estremadas podem trazer para a

atividade dos meios de comunicação e sua função social.

Se, de um lado, há nítidas implicações morais e éticas no jornalismo vinculado ao mercado capitalista (onde a informação, apesar de ter momentos e espaços de profundo interesse público, não supera os interesses empresariais, mercadológicos e comerciais), de outro, o jornalismo subsumido à ‘verdade’ do Estado, como propõem alguns teóricos do ex-‘socialismo real’, anula o movimento da realidade e o indivíduo que o integra. (KARAM, 1997: 47 e 48)

Por ambas abordagens, é possível perceber a necessidade de equilíbrio

entre os interesses. Nesse aspecto, as considerações de Bucci (2000), se

apresentam mais atualizadas, já que não se atêm a realidades fascistas, comunistas

ou real-socialistas, mas aos sistemas democráticos que predominam no mundo

Ocidental. Além de sugerirem um entendimento de mercado como algo integrado a

sociedade livre e moderna, as considerações de Bucci alinham-se às “raízes

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ideológicas do jornalismo”. Assim, Bucci aponta quais seriam os parâmetros para a

atividade jornalística liberal vinculada ao mercado:

São estes, os direitos [à informação e à liberdade de expressão], que devem ser chamados a fornecer as bases para o exercício de uma imprensa que, embora tenha também um lugar no mercado e seja também uma realidade econômica, estabeleça sua meta mais alta na construção da democracia e no aperfeiçoamento dos direitos humanos. Os valores democráticos – que, por definição, são públicos e não privados – são a mais fecunda inspiração, a mais elementar e a mais básica, do jornalismo. Devem ser também seu fundamento contemporâneo e seu projeto de futuro. (BUCCI, 2000: 27 e 28)

Desta forma, a responsabilidade pela qualidade da produção jornalística

deve ser atribuída não apenas aos jornalistas, mas também aos veículos de

imprensa. “Se uma empresa de comunicação não se submete na prática às

exigências de busca da verdade e do equilíbrio, o esforço de diálogo vira

proselitismo vazio. E inútil. No máximo, um colóquio de etiqueta [do jornalista].”

(BUCCI, 2000: 31). A responsabilidade também se estende às empresas no que diz

respeito aos vínculos estabelecidos com a fonte, o público e os poderes econômicos,

políticos ou estatais (BUCCI, 2000: 33).

1.1.4. Ética e qualidade

(...) ética é igual à qualidade da informação. Uma informação bem apurada, por meios lícitos, com boas fontes, checada, confrontada, analisada, bem escrita, enfim, de qualidade, tende a ser fruto de um processo que respeitou parâmetros éticos. (SORIA cit. in SCALZO, 2004: 79)

Marília Scalzo, ex-coordenadora do Curso Abril de Jornalismo, destaca no

livro Jornalismo de Revista que, “ética e técnica caminham juntas” (2004). A autora

contesta a suposição de que princípios éticos, quando seguidos à risca, possam

14

limitar a atividade prática, do dia-a-dia, dos jornalistas. Scalzo, ao citar o jornalista e

professor da Universidade de Navarra, Carlos Soria, argumenta que tais princípios,

aliados à técnica, só podem elevar a qualidade da informação que se propõe

transmitir. Assim, “o bom jornalismo é sempre tecnicamente bem feito – e o

jornalismo tecnicamente bem feito tende a ser um jornalismo necessariamente ético”

(SCALZO, 2004).

Bucci (2000) trata da qualificação técnica do jornalista como elemento

determinante para a sobrevivência do profissional no mercado e até para a definição

de seu “preço”, uma vez que “o jornalista vive de vender seu trabalho intelectual”.

Semelhante a Scalzo (2004), Eugênio Bucci, também vê a técnica como requisito

fundamental para o desenvolvimento de um jornalismo ético e faz uma série de

afirmações para explicar como isso ocorre e quais as possíveis conseqüências

éticas provenientes da deficiência técnica:

Se ele [o jornalista] escreve mal, leva padecimento ao seu leitor, além de promover injustiça involuntária pela falta de familiaridade com a palavra. (...) Os efeitos da inabilidade são impiedosos. (...) Saber o português é uma obrigação ética do jornalista. Quem tropeça no vernáculo mente sem querer. (...) Jornalista que mente, assim como o jornalista plagiário, é tecnicamente imprestável: não há como usá-lo na imprensa. (BUCCI, 2000: 77)

Vale reforçar que tal concepção sobre a qualidade técnica da conduta dos

jornalistas não isenta do debate a conduta das empresas de comunicação. Aqui,

esta monografia não pretende enumerar estratégias empresariais, mas sim reforçar

a necessidade de iniciativas que ofereçam condições para que o exercício ético da

atividade jornalística. A resolução desta questão, de acordo com Di Franco (1995),

depende, também dos recursos humanos. “É preciso investir pesado nas redações

(no talento dos profissionais e na sua formação permanente)”. (DI FRANCO, 1995:

16).

No texto Ética no jornalismo? Invoque-se a qualidade, o professor da

Universidade Pompeo Fabri, de Barcelona, Salvador Alsius, descreve o jornalismo

em quatro princípios: da veracidade, da justiça, da liberdade e da responsabilidade.

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Em primeiro lugar, o princípio da veracidade, que se subdivide em rigor informativo (precisão e exatidão, escolha, citação e confiabilidade das fontes, contextualização e aprofundamento da informação, difamação); neutralidade valorativa (separação entre informação e opinião, seleção de notícias, critérios de inclusão e formas de apresentação); procedimentos discursivos (obtenção de material como imagens e gravações, titulação e estruturas textuais, seleção e ordenação de imagem e som, gêneros informativos, elementos espúrios, gráficos e música); recreações e enredos (elementos de ficção e encenação, realimentação com a presença de fontes); procedimentos equivocados para a obtenção da informação (anonimato e disfarces, câmaras ocultas e gravações clandestinas); plágio. Em segundo lugar, trataria do princípio de justiça, que se subdivide em imparcialidade (inclusão de diferentes pontos de vista, direito de resposta, quotas políticas), tratamento de grupos sociais desfavorecidos, presunção de inocência. O princípio de liberdade seria o terceiro ponto, subdividido em: condicionamentos externos (controle do poder político, controles comerciais e outras formas de controle); relações com as fontes (coleta de informações, condições impostas, direito das fontes, segredo profissional) e conflito de interesses (interesse empresarial e interesses particulares dos jornalistas). Finalmente, o quarto item do Thesaurus deontológico abordaria o princípio de responsabilidade, que se ramifica em: primazia da vida e da segurança das pessoas (prioridade à ajuda humanitária, segurança nacional, cobertura do terrorismo); privacidade (invasão da intimidade, proteção aos menores, direito à própria imagem) e matérias de sensibilidade social especial (contrárias ao incentivo à violência e outras condutas anti-sociais). (ALSIUS, 2003. Conferência proferida no Congresso da Intercom 2003 - (Texto retirado do site: http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/especial5_e.htm, acesso em: 19 de outubro de 2006).

16

1.2. ELEMENTOS DO JORNALISMO

1.2.1 A função do jornalismo

O espírito de todas essas concepções sobre ética (descritas no capítulo

anterior) pode ser encontrado de forma resumida nas nove afirmações que

conduzem o livro Os Elementos do Jornalismo: O que os jornalistas devem saber e o

público exigir (2004), escrito pelo chairman do Comitê dos Jornalistas Preocupados,

Bill Kovach, em parceria com o diretor do Projeto Excelência no Jornalismo, Tom

Rosenstiel.

As afirmações são:

1. A primeira obrigação do jornalismo é com a verdade.

2. Sua primeira lealdade é com os cidadãos.

3. Sua essência é a disciplina da checagem.

4. Seus praticantes devem manter independência de quem estão cobrindo.

5. Deve funcionar como um monitor independente do poder.

6. Deve apresentar um fórum para a crítica pública e o compromisso.

7. Deve lutar para transformar o fato significante em interessante e relevante.

8. Deve manter as notícias compreensíveis e equilibradas.

9. Seus praticantes devem ter liberdade para exercer sua consciência pessoal.

Cada uma de todas estas afirmativas demanda uma série de habilidades

que o profissional de jornalismo deve aprender ou desenvolver. Como veremos no

decorrer deste trabalho, a atividade exige recursos humanos que vão além da

capacidade técnica, com a língua, ou com os novos instrumentos de trabalho,

apesar de depender muito deles. Exige também conhecimento de mundo, noções de

democracia e cidadania, além de percepções sobre a dinâmica do poder econômico

diante dos meios de comunicação.

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Como apontado em Os Elementos do Jornalismo, são três as principais

forças atuais que cobram dos profissionais da comunicação essas habilidades:

A primeira é a natureza da nova tecnologia. A Internet começou a dissociar o jornalismo da geografia e por tabela da comunidade como conhecemos no sentido político ou cívico. (...) A segunda grande mudança é a globalização. À medida que as companhias, especialmente as de comunicação, se tornam corporações sem fronteiras, a noção de cidadania e comunidade tradicional fica obsoleta no sentido comercial. (...) A globalização muda o conteúdo produzido por essas empresas. (KOVACH, 2004: 52).

O terceiro fator indicado por Kovach (2004) e que “impulsiona” o que ele

chamou de “jornalismo de mercado” é o fenômeno da conglomeração, “novas redes

de notícias, empresas que mantêm veículos em diferentes comunidades”. Frente a

toda essa amplitude (e plenitude) que devem atingir os jornalistas, é que os cursos

de Jornalismo acabam tendo que enfrentar diversos dilemas (capítulo III).

As “novidades” que a evolução da sociedade apresenta, não modificam a

função essencial do jornalismo, que não está aí apenas para satisfazer com notícias

e produtos informativos a fome do novo mundo: “A principal finalidade do jornalismo

é fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se

autogovernarem” (KOVACH, 2004: 31).

1.2.2. A responsabilidade do jornalista

Assim como o jornalismo tem de se reconfigurar de acordo com a

evolução da sociedade, sem ceder ou recuar no exercício de sua função social

essencial, o profissional também tem de estar apto a exercer a atividade de forma

responsável. E sua responsabilidade vai muito além do compromisso que o jornalista

tem com seu patrão, com suas convicções ideológicas, e, muitas vezes, vai além

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dos seus interesses. Isso é fruto de um reconhecimento público de que a sociedade

tem direito à informação.

O jornalista Washington Novaes, no livro A quem pertence a informação?

(1989), coloca uma pergunta que ele mesmo responde com o objetivo de provar de

onde vem a responsabilidade e qual é a dimensão disso. “Por que é que quando um

jornalista procura uma pessoa e lhe pede informações a respeito de um fato essa

pessoa responde?” (NOVAES, 1989: 43 – 44).

Segundo o raciocínio do autor, isso acontece “porque as pessoas –

embora possam até não se dizer isso, não ter consciência disso – reconhecem o

direito da sociedade à informação. Na resposta, ainda que imperfeita, parcial ou até

mentirosa, está implícito o reconhecimento do direito da sociedade à informação.

Está o reconhecimento de que o direito à informação é um bem social, pertencente à

sociedade” (NOVAES, 1989: 44). Talvez Novaes não precisasse fazer tal afirmação

baseado em suposições. Bastaria recorrer à Constituição da República Federativa

do Brasil.

Na Lei Fundamental brasileira (que em seu preâmbulo destina-se “a

assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o

bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de

uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos”), o inciso XIV do Art. 5º, o

mesmo que dá ao jornalista um dos seus direitos mais fundamentais - o “sigilo da

fonte” -, também apresenta ao profissional seu dever primordial: “é assegurado a

todos o acesso à informação” (CF, art. 5º, inc. XIV).

No que tange o desempenho dos jornalistas no cumprimento desse dever,

diante da função essencial do jornalismo e das novas dinâmicas política, econômica,

cívica, tecnológica e moral que emergem com os novos tempos, Novaes destaca o

seguinte: “É extremamente pesado e difícil o papel do profissional da comunicação

nos dias de hoje. Porque na verdade é uma luta contra poderes imensos, em

benefício do cidadão comum, simples e pequeno como deveria ser o jornalista, de

mãos vazias” (NOVAES, 1989: 55). O posicionamento do autor, porém, não

representa uma visão pessimista.

Segundo Novaes, “(...) Somos pequenos, mas teremos a alma forte.

Porque sabemos que ao nosso lado está o maior dos poderes: o desejo da

19

sociedade.” Para o autor, então, o jornalismo “é uma profissão que se exerce por

delegação da sociedade, a quem pertence a informação, o direito à informação.”

(NOVAES, 1989: 45)

Estas responsabilidades impõem aos que querem ser jornalistas e aos

que querem formar esses profissionais, a busca e o oferecimento constante do

conhecimento, o que será tratado no próximo capítulo sob os conceitos de capital

humano e capital social. Uma característica a qual se deve o acúmulo de todo know-

how necessário aos jornalistas, no entanto, vai um pouco além do reconhecimento

da função social desse comunicador. Abrange também a maneira como esse papel é

desempenhado. “Por isso é tão penosa a liberdade de imprensa com

responsabilidade”, destaca Novaes em seu livro. Para ele, “se trata de decidir, a

cada momento, em cada notícia, se estamos sendo fiéis à realidade (e não às

nossas crenças, aos nossos desejos, às nossas simpatias, às nossas convicções,

aos nossos temores, aos nossos desamores).” (1989: 63)

O jornalista e professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina,

Nilson Lage, reforça as palavras de Novaes ao advertir que: “Transmitir informações,

interpretá-las sem comprometer-se, preservando, ao mesmo tempo, os valores e

crenças individuais, é um exercício de uso da terceira pessoa que envolve

treinamento e competência crítica.” (LAGE, 2004: 179)

Nilson Lage também é doutor em Lingüística, mestre em Comunicação e

bacharel em Letras.

20

CAPÍTULO II

OS CAPITAIS HUMANO E SOCIAL NA CONSTRUÇÃO DO JORNALISTA

2. Ensino e o jornalismo

Conforme observado no capítulo anterior, a função do jornalismo e as

responsabilidades do jornalista, conseqüentemente, exigem destes comunicadores

um acúmulo de conhecimentos diversos que lhes permita desempenhar o trabalho

de forma tecnicamente competente, ou seja, sem prejuízos de informação, mas

também de maneira ética.

Tudo isso em benefício da sociedade, que é quem delega tais funções e

responsabilidades à profissão (NOVAES, 1989).

Dificilmente se encontram opiniões contrárias à de que o “conhecer” é

condição sine qua non para a realização, com qualidade, de diferentes tarefas. E

essa não é uma noção recente. Para reforçá-la, o economista e educador da

Universidade Estadual Paulista (Unesp), Valdemir Pires, cita, em Economia da

Educação (2005), o livro Tratado de economia política, escrito em 1803 pelo francês

Jean Baptista Say.

21

Desde o operário que molda a madeira ou a argila até o ministro de Estado que, com um golpe de pena, define tudo o que se refere à agricultura, aos haras, às minas e ao comércio, cada indivíduo executará melhor seu ofício se conhecer melhor a natureza das coisas, se for instruído. (SAY, cit in PIRES, 2005: 42)

Pires também destaca o conteúdo de um relatório sobre a Instrução

Pública da Província de São Paulo, elaborado em 1878, segundo o qual, “(...) o culto

da inteligência é mais do que uma necessidade, é quase a vida do cidadão e do

Estado; e o espírito não pode deixar de reconhecer como um dever do país o de

proporcionar a todos, os meios de obter a maior soma de habilitações, em ordem a

que sejam bem cumpridas aquelas obrigações e melhor aproveitado o serviço”. (Cit

in PIRES, 2005: 18 e 19).

Aqui, vale reafirmar que este trabalho não tem, e nem poderia ter, a

pretensão de adentrar em um debate pedagógico, no sentido de “como” o jornalismo

deve ou não ser ensinado nas escolas de comunicação. O objetivo é apenas a

apontar, em linhas gerais, conforme se apresentará adiante, alguns pontos da

formação do jornalista que podem resultar em má qualidade do exercício da

profissão e, por conseqüência, em prejuízos à informação, ao cidadão, à sociedade.

Também não caberia a este trabalho enumerar ou defender quais

“matérias” deveriam constar no currículo das escolas de comunicação. Isso por um

motivo lógico. É que, principalmente nas áreas técnicas, com o desenvolvimento

cada vez mais acelerado das tecnologias, seria ineficaz tratar estas questões com

soluções fechadas. Portanto, não se fará neste capítulo uma defesa de cunho

metodológico.

Com base nos conceitos de “capital humano” e “capital social”

(freqüentemente utilizados para o entendimento ou desenvolvimento de políticas

educacionais), se pretende identificar, também em linhas gerais, os tipos de

conhecimento que contribuiriam para a melhor formação dos jornalistas nos dias

atuais, seja ele com formação acadêmica ou autodidata. Esta segunda, que pode

ser considerada simplesmente no âmbito da formação continuada, mas também é

22

uma possibilidade - ainda que remota - no caso da suspensão da obrigatoriedade do

diploma para jornalismo no Brasil.

2.1. Capital humano

[A educação] é um fim em si mesma: o homem nasce para conhecer, descobrir, desvendar, explorar, explicar; (...) quanto mais educado seja o indivíduo, mais se humaniza e se ampliam as potencialidades da própria espécie, na medida em que os indivíduos podem “transmitir” não só os seus “estoques” de conhecimento adquiridos, como também suas percepções e avaliações e avaliações do passado, do futuro, das dificuldades, das potencialidades, do ser e do dever ser das coisas. (PIRES, 2005: 32)

Capital humano é aquele que se mede pelo acúmulo de saberes técnicos

e culturais do indivíduo, além de suas noções e disposição ética para a realização

de dados trabalhos. Alicerçado em parâmetros sugeridos pelo especialista em

gestão do conhecimento Thomas Davenport (1999), Pires define:

(...) capital humano compreende capacidade (entendida como conhecimento, habilidade e talento), comportamento (definido como “forma observáveis de agir que contribuem para a realização de uma tarefa”) e empenho (“aplicação consistente de recursos mentais e físicos para determinado fim”). (2005: 82)

Conforme a abordagem apresentada, os profissionais com este perfil,

segundo Pires, são a “nova moda ou onda no campo da gestão de recursos ou de

pessoas, como preferem alguns”. Mas, já neste ponto, o autor revela uma questão

que sobrevoa todas as discussões educacionais em qualquer área, para qualquer

curso: “Em que medida é possível produzir estes ingredientes no sistema de

educação formal?” (PIRES, 2005: 82).

23

Não seria diferente para o ensino do jornalismo. Se analisado pelo viés da

evolução tecnológica – talvez o assunto que mais tenha demandado reflexões sobre

os currículos dos cursos e até a alteração deles em alguns casos, como o exemplo

da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), que em 2007 inaugura nova

grade –, são freqüentes as observações referentes às profundas mudanças diretas e

“colaterais” geradas na prática do jornalismo.

Em A quem pertence a informação?, Washington Novaes ressalta: “O

mundo se transforma em alta velocidade. Uma nova revolução na comunicação está

começando, tão importante e radical quanto a que representou a invenção da

tipografia, da palavra impressa.” (NOVAES, 1989: 53). E qual seria essa grande

“revolução” e o impacto no trabalho jornalístico? O autor completa:

A informatização dos meios de comunicação (...) não é mais algo que se possa ou não desejar. Ela já chegou para o bem e para o mal. E não se trata apenas de uma inovação técnica. (...) trata-se de novas formas de percepção do tempo e espaço. Tudo vai mudar no mundo em função dessas novas formas. Cabe então, a nós, profissionais da comunicação, cuidar para que essas novas formas venham para servir à sociedade, e não para submetê-la ainda mais aos desígnios dos poderosos do dia. (NOVAES, 1989: 54)

Pela definição de Novaes, é possível identificar no mínimo dois aspectos

impactados pela evolução da tecnologia. Um, mais direta, está relacionado à técnica,

que diz respeito ao domínio das sempre inovadas ferramentas da informática. Já a

outra diz respeito ao que Novaes chamou de “novas formas de percepção de tempo

e espaço”. Segundo reforça a publicação “A produtividade da escola improdutiva”,

do mestre em Educação pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), Gaudêncio

Frigotto, “o progresso técnico não só gera novos empregos, mas exige uma

qualificação cada vez mais apurada.” (FRIGOTTO cit in PIRES, 2005: 16).

Por estas perspectivas, o oferecimento dos conhecimentos práticos e

teóricos que resultem no acúmulo de capital humano é – ou pelo menos deveria ser

– uma preocupação das escolas de Jornalismo, uma vez que estas estão inseridas

neste mesmo mundo que se transforma rapidamente. No entanto, não cabe apenas

24

às instituições de ensino esta responsabilidade. O capital humano pode, e deve, de

acordo com Pires, ser buscado constantemente pelos profissionais e paralelamente

pelos estudantes.

Um problema identificado aqui pelo autor é o da “mercantilização”. Ou

seja, às mesmas evoluções econômico-financeiras que tanto interferem na atuação

do jornalista, como foi descrito em capítulos anteriores, também trazem implicações

ao acesso ao capital humano, tanto no que diz respeito às universidades, como no

tocante à busca individual do conhecimento.

O “enfoque neoliberal”, como entende o Pires, determina que “a lógica do

mercado deve presidir mais e mais as decisões e ações dos indivíduos, na busca da

satisfação de suas necessidades. Conforme Silva Jr. E Sguissardi (1999), nesse

processo, as políticas sociais (entre elas a de educação) são transformadas em

políticas econômicas” (2005: 17).

2.2. Capital social

Já o capital social é representado pela consciência daquilo que é comum

a todo cidadão. Regras reconhecidas e legitimadas pela sociedade e pelas

instituições. Em outras palavras, é a noção que o profissional precisa ter de que é

parte de um todo, de um corpo social, que possui instituições, costumes e tradições

reguladoras que provêm de contextos históricos e conjunturais.

Esta também não é uma concepção recente. De forma geral, ela é fruto,

na interpretação de Pires, do pensamento republicano do final do século XIX, nos

Estados Unidos. À época vigorava a intenção de se formar mão-de-obra qualificada

para promover o desenvolvimento econômico. Mas, havia também a necessidade de

“formação e transmissão de valores éticos, morais, civilizatórios, que teriam o pendor

de criar uma noção de pertencimento e de dependência mútua entre os indivíduos

que, assim, poderiam obter melhor desempenho coletivo, ao terem condições de

delinear objetivos comuns e esforços concatenados para atingi-los”. (PIRES, 2005:

18).

25

Numa definição mais “atualizada”, do Banco Mundial,

(...) o capital social se refere às instituições, relações e normas que configuram a qualidade e a quantidade das interações sociais de uma sociedade. Numerosos estudos demonstram que a coesão social é um fator crítico para que as sociedades prosperem economicamente e para que o desenvolvimento seja sustentável. O capital social não é somente a soma das instituições que configuram uma sociedade, mas sim a matéria que as mantêm juntas. (BANCO MUNDIAL, 2002 cit. in PIRES, 2005: 86).

Transferindo para o Jornalismo e acrescentando-se à essa noção de

“pertencimento” a “obrigação” crítica que o jornalista deve exercer sobre instituições,

tradições, e o corpo social como um todo, é possível encontrar em Nilson Lage

(2004), no livro A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística,

alguns questionamentos cujas respostas ultrapassam os limites da simples

informação técnica e estão relacionadas, direta ou indiretamente, ao acúmulo de

conhecimentos que se entende por capital social.

“Até que ponto a prática do jornalismo fere direitos individuais e o direito das instituições de resguardarem seu prestígio e seus segredos? Até que ponto devem os jornalistas de nossos países se concentrar na cobertura dos atos e feitos oficiais, quando sabemos que nossos governos, nas atuais circunstâncias, são meros títeres de poderes maiores, sejam políticos ou econômicos? De que forma revelar a realidade de nossos países sem banalizar e folclorizar a miséria? Como tornar atraente para o público em geral a informação macroeconômica e de ciência e tecnologia, que são o que há de mais nobre no jornalismo contemporâneo? (...) Como gerir com eficiência pequenas, médias e grandes unidades produtoras de informação em ambientes altamente competitivos? Quais os recursos legais para enfrentar o recrudescimento da censura e das formas veladas de controle da informação pelo Estado e pelas instituições do poder financeiro?” (LAGE, 2004: 178)

Embora Lage não utilize o termo “capital social” em seu livro, os

questionamentos acima apresentados revelam preocupações com o funcionamento

26

das instituições e também a necessidade de uma convivência harmoniosa do

jornalismo com a sociedade, seja no universo governamental ou privado, coletivo ou

individual, moral ou legal.

Assim, fica claro que o acúmulo de capital social deve integrar a formação

dos profissionais do jornalismo. Porém, após enumerar estas questões, Lage refere-

se a elas como “problemas concretos”, uma vez que representam uma “intensa

demanda” ainda pouco equacionada pelos jornalistas. O autor atribui isso a

deficiências na formação. Ele acrescenta: “Se nos dispomos a enfrentá-los e a

engajar nesse processo as instituições universitárias, precisamos de uma nova

abordagem do jornalismo, de uma visão crítica com relação aos preceitos com que

tradicionalmente a academia vê o nosso ofício.” (LAGE, 2004: 179)

2.3. Críticas

Principalmente com relação ao capital humano, existem diversas

abordagens negativas sobre seu papel na formação profissional. O professor Pires

trata de algumas delas em seu livro, A Economia da Educação, identificando-as

como “críticas ideológicas”, muitas vezes, baseadas em concepções marxistas. Ele

destaca trecho de “A produtividade da escola improdutiva”, de Frigotto (1984): “[O

capital humano] traduz e, ao mesmo tempo, constitui-se em apologia da concepção

burguesa de homem, de sociedade, e das relações que os homens estabelecem

para gerar sua existência no modo de produção capitalista.” (FRIGOTTO cit. in

PIRES, 2005: 97).

Frigotto acusa também certa tendência da escola, que, segundo ele:

(...) cumpre uma função mediadora no processo de acumulação capitalista, mediante sua ineficiência, sua desqualificação. Ou seja, sua improdutividade, dentro das relações capitalistas de produção, torna-se produtiva. Na medida em que a escola é desqualificada para a classe dominada, para os filhos dos trabalhadores, ela cumpre, ao mesmo tempo, uma dupla função na reprodução das relações capitalistas de produção: justifica a situação explorados e,

27

ao impedir o acesso ao saber elaborado, limita a classe de trabalhadores na sua luta contra o capitalismo. (FRIGOTTO cit. in PIRES, 2005: 97)

Durante a pesquisa para esta monografia, identificou-se que o mercado

exige dos novos jornalistas qualidades e habilitações que podem ser apontadas

como acúmulo dos capitais humano e social. O Curso Abril de Jornalismo, um

treinamento para jovens jornalistas desenvolvido pela Editora Abril, aparece neste

trabalho como uma “alternativa” que a empresa encontra para selecionar e “adestrar”

os recém-formados à sua rotina e realidade. No capítulo IV, destinado à analise do

Curso Abril, também apresenta uma visão da academia sobre a atividade e mostra

que as críticas a esse tipo de treinamento acabam sendo, de certa forma,

coincidentes com aquelas feitas por Frigotto (1984) e descritas no estudo de Pires

(2005).

28

CAPÍTULO III

DILEMAS PARA O ENSINO DE JORNALISMO

3. A responsabilidade da universidade

Visto que a prática do jornalismo, como de outras profissões, está

condicionada às evoluções tecnológicas e que, de acordo com o conceito de capital

humano, o bom desempenho do profissional está ligado também à sua desenvoltura

técnica, o que inclui não apenas a manipulação de ferramentas modernas, mas

todas as outras habilidades referentes ao exercício da profissão (teorias da

comunicação, entendimento do idioma nacional e, de forma geral, o aprimoramento

cultural, com conhecimentos elementares sobre, por exemplo, as formas de

organização política, econômica e social do próprio país, no mínimo).

Considerando também que o acúmulo de capital social também é

determinante para que a função do jornalismo seja desempenhada de forma mais

equilibrada e ética, diante dos diversos agentes institucionais que sustentam a

sociedade (Estado, mercado, as leis, a Igreja e até a própria imprensa), justifica-se

que a busca e o oferecimento destes dois tipos de conhecimentos (dos capitais

29

humano e social) sejam exigidos para formação (institucional e continuada) do

profissional.

Teoricamente, a exigência está posta, como ressalta Valdemir Pires:

“É comum os documentos de política educacional (...) versarem sobre a capacitação para o trabalho e para a vida em sociedade, para a profissão e para a cidadania, para a competência e para a ética, dando indícios de que se preocupam simultaneamente com o acúmulo de capital humano e de capital social. O mesmo acontece com muitos documentos de estabelecimentos de ensino, principalmente políticas pedagógicas deparam com a necessidade de articular currículos que precisam comportar disciplinas técnicas e humanística.” (PIRES, 2005: 90)

A necessidade de articular conhecimentos técnicos e humanísticos para a

formação do jornalista pode ser identificada na Portaria número 123 do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), de 28 de julho de 2006,

publicada em 2 de agosto de 2006 no Diário Oficial da União (DOU). O texto (íntegra

em Anexos) trata das competências avaliadas pelo Exame Nacional de Desempenho

dos Estudantes (Enade) e define no Artigo 6º:

A prova do ENADE 2006, no componente especifico da área Comunicação Social, avaliará se o estudante desenvolveu, no processo de formação, as seguintes habilidades acadêmicas e competências profissionais: I. Competências profissionais e Habilidades Gerais: a. compreender criticamente e analisar conceitos e teorias da área; b. analisar criticamente a realidade a partir dos conceitos e teorias da área; c. demonstrar atitudes e responsabilidades inerentes ao contexto ético- político da profissão; d. dominar as linguagens usadas nos processos de comunicação, nos aspectos da criação, da produção, da interpretação e da técnica; e. experimentar e inovar no uso das linguagens; f. refletir criticamente sobre as praticas profissionais na área da Comunicação; g. dominar o idioma nacional para escrita e interpretação de textos gerais e especializados na área. II. Competências e habilidades especificas em Jornalismo: a. registrar fatos jornalísticos, apurando, interpretando, editando e transformando-os em noticias e reportagens; b. interpretar, explicar e contextualizar informações; c. investigar informações, produzir textos e mensagens jornalísticas com clareza e correção e edita-los em

30

espaço e período de tempo limitado; d. formular pautas e planejar coberturas jornalísticas; e. formular questões e conduzir entrevistas; f. relacionar-se com fontes de informação de qualquer natureza; g. trabalhar em equipe com profissionais da área; h. compreender e saber sistematizar e organizar os processos de produção jornalística; i. desenvolver, planejar, propor, executar e avaliar projetos na área de comunicação jornalística; j. avaliar criticamente produtos, praticas e empreendimentos jornalísticos; k. compreender os processos envolvidos na recepção de mensagens jornalísticas e seus impactos sobre os diversos setores da sociedade; l. buscar a verdade jornalística, com postura ética e compromisso com a cidadania; m. dominar a língua nacional e as estruturas narrativas e expositivas aplicáveis às mensagens jornalísticas, abrangendo-se leitura, compreensão, interpretação e redação; n. dominar a linguagem jornalística apropriada aos diferentes meios e modalidades tecnológicas de comunicação. (Portaria INEP n. 123 de 28 de julho de 2006 – Publicada no DOU de 2 de agosto de 2006, Seção 1, pág. 24)

3.1. Críticas ao ensino de jornalismo

Apesar do acúmulo de capital humano e capital social contribuir para a

prática do Jornalismo, não são poucas as críticas feitas à academia no tocante aos

conhecimentos ditos “fundamentais”, segundo o mercado de trabalho. Os problemas

apontados por profissionais das redações incluem desde deficiências técnicas até o

despreparo para o entendimento das relações sociais e a distância que, em geral, os

professores mantém da prática nas redações. A academia se defende. E nem os

estudantes são poupados.

Sobre estes problemas, a pesquisa para esta monografia incluiu

entrevistas com Fred Melo Paiva, editor do Caderno Aliás, do jornal O Estado de S.

Paulo; Edward Pimenta, editor do Curso Abril de Jornalismo; o jornalista freelancer e

professor universitário Cláudio Tognolli; e o chefe do departamento de Jornalismo da

Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP) e presidente da Associação Brasileira

de Escolas de Comunicação Social, José Coelho Sobrinho. As entrevistas foram

realizadas nos dias 19 e 26 de setembro de 2006 e a íntegra das declarações pode

ser consultada no Apêndice deste trabalho.

Ao criticarem ou defenderem determinados aspectos do ensino de

Jornalismo, os profissionais e acadêmicos consultados revelaram diferentes

31

inquietações. Todos, no entanto, afirmaram que grande parte das universidades não

cumpre plenamente seu papel na formação do jornalista.

Edward Pimenta, da empresa Abril, comenta: “Toda generalização é

perigosa, então, evitaria fazer esse tipo de generalização [sobre as universidades],

porque se nós oferecemos um curso é para aprimorar talentos que já existem”.

Mesmo assim ele acrescenta: “No meu modo de ver, na maioria das instituições,

você não tem realmente um ensino de qualidade”.

“Não dá para dizer realmente que cumpre pelo nível geral das pessoas

que chegam no mercado”, aponta Fred Melo Paiva. Segundo ele:

“As pessoas escrevem errado, as pessoas não sabem pôr vírgula, trocam ‘ç’ por ‘ss’. É básico! O problema das pessoas novas que chegam, não é que elas tenham uma concepção tal de jornalismo que faz com que ela seja uma cabeça que não pensou muito sobre isso ou aquilo, ou então que o problema dela é que ela faz um lead que, ou não informa nada, ou é aquele lead padrão. A pessoa nunca sai daquilo, nunca experimenta uma coisa nova. (...) O problema é que as pessoas não sabem escrever e não têm cultura nenhuma. Porque a faculdade não te deu isso.” (PAIVA, entrevista: 19/09/2006)

O Curso Abril de Jornalismo recebe a cada processo seletivo anual mais

de 2 mil textos de recém-formados. Edward Pimenta comenta que “é muito grave a

situação em que se encontra o texto”. “Você considera que a correção gramatical é

uma coisa absolutamente essencial, o domínio da língua, que isso é um ponto que

você não abre mão, ao mesmo tempo você detecta uma porção de problemas”.

Pimenta acrescenta: “Você vê problemas muito sérios envolvendo a estrutura

textual, erros de gramática e principalmente a falta de clareza na argumentação”.

Nilson Lage (2004), em A reportagem: teoria e técnica de entrevista e

pesquisa jornalística, faz um apêndice no qual discute a formação universitária. O

autor reprova a abordagem que, em geral, a academia faz no campo dos “estudos

de linguagem”, com o argumento de que essa abordagem compromete os

programas de ensino.

32

A teoria lingüística, atenta aos aspectos técnicos mas não aos políticos, deixou de considerar relevante a existência de línguas de cultura nacionais, optando por igualar dialetos e idioletos numa suposta democracia da palavra. Em decorrência, é cada vez mais difícil encontrar professores capazes de ensinar a língua-padrão, normalizando as formas de dizer em países extensos e de cultura diversificada como o Brasil. (LAGE, 2004: 173)

Lage, no entanto, vai mais longe ao tratar desta questão, ponderando que

o texto deficiente é também resultado, muitas vezes, de um histórico anterior à

faculdade, mas que passa por ela também e, logo, interfere no desempenho da

função do jornalista.

A língua nacional já não é praticamente ensinada no primeiro e segundo graus, onde a substituem, em geral, por supostos exercícios de criatividade. Mesmo na Universidade este ensino está se tornando raro. No entanto, jornalistas escrevem na língua-padrão – e a inadequação dos jovens profissionais para a produção de textos é a maior queixa de editores e empresas. (LAGE, 2004: 173)

O editor do Curso Abril de Jornalismo pondera: “Eu não acho que é um

problema só do jornalismo. Eu acho que os médicos também têm esse problema, os

advogados também têm esse problema”. Porém, ao jornalista, a incorreção do texto

não significa apenas prejuízo estético. Uma redação ruim, seja por erros de

ortografia ou estrutura equivocada, pode interferir na compreensão do público, omitir

a raiz do problema e distorcer a notícia.

Exemplos de como essas falhas podem ocorrer são encontradas em

diversas gramáticas ou manuais de redação e estilho dos jornais e revistas. No livro

Para Escrever Bem, de Maria Elena Ortega Ortiz Assumpção e Maria Otilia Bocchini (2002), encontra-se uma explicação que foge um pouco das orientações geralmente

apresentadas, mas mostra como um detalhe aparentemente estilístico pode

esconder um desvio na essência da informação.

33

“O funcionamento da grande maioria das instituições de amparo aos menores do Brasil é precário”. Será que o sujeito é mesmo essa expressão destacada [sublinhada]? Estamos falando do funcionamento ou das instituições de amparo aos menores? Veja o que acontece quando se coloca instituições na posição de sujeito: “A grande maioria das instituições de amparo aos menores funciona precariamente no Brasil”. O que parecia ser o sujeito (o funcionamento) transformou-se num verbo de ação (funciona). Restaram apenas dois “de”. Nesse exemplo, a fileirinha de “de”, seguida de verbo de ligação, é uma ferramenta para construir um eufemismo sintático. Esse eufemismo escamoteia o sujeito (e a gravidade do problema). (ASSUMPÇÃO e BOCCHUNI, 2002: 41)

O presidente da Abecom e diretor de Jornalismo da ECA, José Coelho

Sobrinho, defende a seguinte tese: “Isso [ensino da Língua Portuguesa] não é uma

responsabilidade da universidade. Isso é uma responsabilidade do Ensino Médio. De

acordo com Coelho às vezes, são vícios da pessoa. ”Depois que você começou a

fazer a digitação, que é tudo muito rápido, mesmo que conheça o Português, comete

essas gafes”, acrescenta.

Na opinião de Coelho,

Eles [do mercado] exageram naquilo que pedem. Não estou dizendo que os alunos saem [da universidade] com um texto argumentativo precioso, nada disso. Mas quando eles fazem essa colocação [de que os recém-formados escrevem mal] talvez eles estejam se referindo àqueles que não foram escolhidos e não àqueles que foram. E é evidente que se você forma 10 mil pessoas por ano em escolas muitos desniveladas, algumas escolas dão condições e outras não. (COELHO, entrevista 26/10/2006)

Quando se tenta entender as exigências do mercado e a formação

superior, independente da área de conhecimento, percebe-se que o movimento da

sociedade, causado pelas diferentes forças que influenciam o mundo (evoluções

tecnológicas, econômicas, políticas, entre outras) acabam sempre resultando ou

agravando a “incompatibilidade” entre o que se ensina nas universidades e o que se

34

espera nas empresas. Para Santos (1996), um dos motivos deste processo está na

dificuldade que a academia tem em acompanhar as mudanças.

A duração do ciclo de formação universitária de um dado perfil profissional é cada vez maior que a do ciclo de consumo produtivo deste. Esta descoincidência é agravada pela rigidez institucional da universidade e pela conseqüência dificuldade de captar atempadamente os sinais do mercado de trabalho e agir em conformidade. (SANTOS cit. in PIRES, 2005: 81)

O mesmo autor acrescenta:

Por outro lado, e em aparente contradição com isto, a mutação constante dos perfis profissionais tem vindo a recuperar o valor da educação geral e mesmo da formação cultural de tipo humanista. (...) Verifica-se, assim, um certo regresso ao generalismo, ainda que agora concebido, não como saber universalista e desinteressado próprio das elites, mas antes como formação não-profissional para um desempenho pluriprofissionalizado.” (SANTOS cit. in PIRES, 2005: 81)

No jornalismo, de acordo com Fred Melo Paiva, a universidade também

não cumpre seu papel na formação do profissional no seguinte sentido: “Ela dá um

certo conhecimento geral. Agora, a pessoa cai e vai trabalhar no Caderno 2 (O

Estado de S. Paulo) ou na Ilustrada (Folha de S. Paulo), ela não sabe nada de

História da Arte, ela não aprendeu isso. Economia, ela não aprendeu, pode ser que

tenha uma visão, mas muito superficial. A faculdade não dá e nem estimula”, critica.

Eu acho que você deveria ter um ano de técnica: o lead existe para isso ou para aquilo. Depois, se você tem interesse em Economia, você vai estudar para aplicar isso; se você tem interesse em Cultura, você vai estudar isso, você vai estudar História da Arte. Agora, do jeito que é feito, você fica aprendendo aquelas técnicas e um certo conhecimento geral. Acaba caindo naquilo de você [o aluno] finge que está fazendo uma faculdade realmente séria, que você precisa

35

se dedicar. Você finge que faz isso, o professor finge que te dá aula. (PAIVA, entrevista 19/10/2006)

O jornalista e professor universitário Claudio Tognolli é incisivo ao falar

sobre a conduta dos professores no ensino de técnicas do jornalismo:

A maioria é um bando de criminoso, porque eles ficam culpando o aluno, fala que o aluno não escreve bem. Ficam com essa ditadura do lead, mistificando uma coisa tão banal quanto escrever um texto informativo. Isso é muito banal. O cara (sic) fica seis meses repetindo o que é um lead. Então, mas não se ensina o aluno a desenvolver um texto, que não seja esse informativo, que todo mundo sai da faculdade escrevendo igual. (TOGNOLLI, entrevista 26/10/2006)

Tognolli acredita que o jornalista tem de ser “um generalista e um

especialista” ou que, pelo menos, “saiba aonde ir atrás, o que ele vai botar em

xeque, um cara que trate de valores, um cara que não seja só jornalista para

aparecer na tela da Globo ou ganhar convite de graça para o show do Chico

Buarque, que é o que mais tem”.

O papel da universidade de Jornalismo, para Tognolli, é “preparar o cara

(sic) para o mercado, porque você está construindo um cidadão, que está dando

nexo, hierarquia e importância ao que ele está apurando”. E mais:

O papel da universidade [é] tentar mostrar para ele (estudante) que hoje, a Internet é um grande inconsciente coletivo, está tudo lá. (...) Já que está tudo lá todo mundo vai saber fazer? Não! Só quem tem cultura, e leu, e raciocinou, e foi treinado sabe montar um cenário, pôr em perspectiva. Ensinar o aluno a explicar tudo que está na primeira página do jornal em perspectiva e depois ensinar ele montar um cenário. (TOGNOLLI, entrevista 26/10/2006)

Para Nilson Lage, há ainda tendências ideológicas dentro da academia

que também interferem na formação do jornalista, já que, segundo ele, essas

36

correntes de pensamento agem de forma desequilibrada e atrapalham a percepção

de mundo dos alunos.

Conforme Lage, desde a formação escolar e ao longo da vida, os

jornalistas “são assaltados por ideólogos de diferentes cores – revolucionários,

reacionários, guerreiros, pacifistas, homossexuais, ecologistas e místicos –, todos

pretendendo convencê-los a aceitar versões sem crítica e a fraudar os fatos em

nome de grandes ou pequenos objetivos” (LAGE, 2004: 171).

O autor ainda reforça que:

Esse assalto às escolas de jornalismo e aos meios em que circulam os jovens jornalistas tornou-se insuportável. Antropólogos insistentes, sociólogos apaixonados, psicólogos confusos somam-se às estruturas de propaganda do Estado e do poder econômico para despejar sobre estudantes e repórteres as fantasias de suas frustrações e de seus conhecimentos transformados em matéria de doutrina. (LAGE, 2004: 171)

Eugênio Bucci (2000), para quem “a universidade não existe para

entregar ao mercado profissionais treinados”, conclui seu livro Sobre Ética e

Imprensa com algumas “propostas que não são conselhos”, e sustenta uma versão

contrária.

As empresas de comunicação não apenas adotam cursos para os iniciantes com o objetivo de familiarizá-los com as técnicas próprias de seu ramo de atividade, mas também complementam a formação dos novatos que ingressam no ofício. É nas redações que a profissão é de fato aprendida. A universidade, por mais que tenha em vista o mercado de trabalho, tem sua vocação mais funda no cultivo da reflexão – e da reflexão independente do mercado. (...) Sua [da universidade] melhor contribuição está em formar profissionais não tecnicamente prontos, mas críticos, capazes de pensar por si mesmos (o que Cláudio Abramo chamava de “autonomia conceitual”). (BUCCI, 2000: 204)

37

Bucci considera que “o melhor” que a universidade tem a oferecer para os

jornalistas em formação “é o convívio com as ciências humanas aplicadas aos temas

da imprensa”. O autor vê com normalidade o fato de que “a formação se completa

nas empresas, nas redações e no mercado”.

Como responsável pelo curso de Jornalismo da USP e presidente da

Abecom, José Coelho Sobrinho esclarece que a função da universidade é preparar o

estudante com educação suficiente para que possa se adaptar no mercado de

trabalho, independente do veículo ou empresa. Mas as inquietações do mercado

encontram paralelo também na argumentação de Coelho.

Ele explica que foram feitas “algumas avaliações para o Ministério da

Educação e verificou-se que alguns professores não são aderentes à área”. Ou seja,

nas palavras de Coelho: “Não adianta você colocar um professor de Português para

ensinar redação jornalística que são coisas diferentes. Então, algumas pessoas não

estavam aptas e outras estavam preocupadas em fazer do curso algo meramente

técnico”.

Coelho defende que existem escolas que conseguem fazer um trabalho

mais eficiente e atender tanto as exigências do mercado sem prejuízos aos

princípios da universidade. No entanto, ele informa um dado preocupante: “Se

fizermos pela média, nós vamos verificar que o número de escolas que formam

pessoas aptas para o mercado é pequeno: talvez uns 30%”. Segundo Coelho

existem mais de 300 escolas de Jornalismo no Brasil.

3.2. A responsabilidade do aluno

Seria incorrer em erro produzir uma avaliação generalizante sobre a má

qualidade do ensino de Jornalismo. Existem instituições de ensino competentes.

Tanto que o próprio mercado acaba “preferindo” recém-formados nas universidades

chamadas “tradicionais”. Há dados sobre esta afirmação no Capítulo IV deste

trabalho. A aplicação individual do estudante também está associada à qualidade de

sua formação e possibilidades de inclusão no mercado de trabalho.

38

Levantamento da Franceschini Consultoria, publicado na revista Ensino

Superior, de Maio de 2006, mostra que o renome da faculdade é determinante para

a contratação em 44% das empresas (independente do setor). Por outro lado, a

mesma pesquisa aponta que o “perfil dos candidatos” é relevante para 89% dos

contratantes.

Se a universidade tem suas responsabilidades na boa e na má formação

do jornalista, e por isso mesmo enfrenta dilemas como os apontados anteriormente,

aqueles que almejam ser bons profissionais também devem assumir parcela de

compromisso para obtenção e acúmulo de conhecimentos. Uma sugestão freqüente

entre os profissionais de imprensa é que o futuro jornalista amplie sua “bagagem

cultural” por meio de leituras além da exigida pela faculdade (esta monografia

apresenta em Anexos uma lista de obras da literatura e publicações específicas

indicadas por jornalistas).

No que diz respeito ainda ao “perfil”, que está relacionado tanto ao

período universitário quanto à formação continuada ou autodidata, Fred Melo Paiva

reconhece que atentou para suas responsabilidades de estudante somente após a

faculdade e por orientação dos profissionais com quem conviveu. “Eu tive uma

relação com a faculdade que, eu te confesso que não foi a mais séria do mundo. Eu

estava ali ‘freqüentando’ a faculdade. Não foram anos tão sérios de estudos.

Poderiam ter sido um pouco mais, e eu até hoje, me arrependo um pouco”, diz ele, e

continua: “Eu acho que eu não aproveitei o que a faculdade me deu também”.

(entrevista em 19/10/2006)

Edward Pimenta, do Curso Abril de Jornalismo, analisa: “Eu acho que é

um problema da própria conjuntura da educação superior do Brasil”.

Já Claudio Tognolli,

Eu falei mal de professor e jornalista, agora vou falar mal de aluno. Tem um monte de vagabundo. Um monte. Às vezes chega a 80%, 70% dos alunos em geral. Os caras (sic) não querem nada com nada. Eles não lêem, não torra uma aula por semana pra fazer uma pesquisa no Google para ver alguma coisa de interessante. Entrega os trabalhos na última hora, feito de qualquer jeito, copia tudo da Internet. (...) Quando vai fazer TCC, tem um que tem tesão pelo TCC, no geral, ou dois, e o resto fica atrás se escudando. Não se mexe, no fim-de-semana, freqüenta seu próprio mundo, vai no

39

mesmo bar, a gente vive em casulos de proteção (fim-de-semana com a família, com os amigos, na praia, no bar); ele não pensa em ir para um mundo diferente. Aí, ele quer ser um super repórter. Ele não lê, ele só lê o que a faculdade pediu. Ele passou quatro anos sem comprar um livro, sem fichar um livro de vontade própria. Ele só fez o que a faculdade pediu. Ele transfere para faculdade isso. Como é que é então, os maiores jornalistas do Brasil não têm diploma. E aí, como é que fica? Quero dizer: não pode ter essa transferência. Se a faculdade não pode transmitir para o mercado essa culpa, o aluno não pode transferir para faculdade. Eu acho que é um jogo de transferência, um põe a culpa no outro. (TOGNOLLIentrevista em 26/10/2006).

3.3. Perspectivas para o ensino

Diante deste quadro, chegamos por fim, à formulação de nosso problema: como formar jornalistas, nas circunstâncias atuais? (LAGE, 2004: 180)

Eduardo Meditsch, professor da Universidade Federal de Santa Catarina

(UFSC) e Doutor em Jornalismo, discutiu no 9º Encontro do Fórum Nacional de

Professores de Jornalismo realizada em abril deste ano o tema: “Novas e velhas

tendências: os dilemas do ensino de jornalismo na sociedade da informação”.

Meditsch observou que uma pesquisa realizada em 1996, com o título The

Winds of Change, Challenges Confronting Journalism Education, executada pela

Universidade de Connecticut, concluiu:

“Os ventos da mudança [no ensino do jornalismo] são fortes”, e de que há dúvidas se eles vem para o bem ou para o mal: A principal tendência é a transformação dos cursos de jornalismo em comunicação, e a diminuição das disciplinas de jornalismo dentro delas; Jornalistas e professores estão confusos sobre o que será a profissão no futuro; Pressupostos de que o jornalismo é uma atividade intelectual e de que o jornalismo é fundamental para a democracia já não são consensuais. (Texto retirado do site: http://www.fenaj.org.br/arquivos/fnpj2006_texto_meditsch.doc, acesso em: 21 de novembro de 2006).

40

Ainda conforme Meditsch, a pesquisa aponta para uma divisão entre a visão

acadêmica e a profissional e, a conclusão geral do estudo é de que o ensino do

jornalismo está vulnerável por vários fatores. Entre eles: à tomada do seu espaço

pela ciência da Comunicação; a seu próprio fracasso para justificar e defender o

campo; a sua dificuldade para emplacar na vida acadêmica; a seu complexo de

inferioridade enquanto atividade intelectual; ao descaso das organizações

jornalísticas.

Meditsch expôs que o estudo do Winds of Change deixa algumas

recomendações para as escolas de jornalismo:

• Criar uma cultura jornalística;

• Entender e usar as novas tecnologias sem perder o foco jornalístico;

• Afirmar o jornalismo como atividade intelectual e os jornalistas como

educadores;

• Reconhecer os melhores jornalistas como presença necessária na

comunidade acadêmica;

• Motivar professores para pesquisas, escrever e publicar sobre jornalismo;

• Desenvolver escolas de pensamento e prática;

• Criar programas de pós-graduação focados no jornalismo;

• Educar estudantes para pensar criticamente;

• Preparar estudantes para serem profissionais de vanguarda;

• Mudar os critérios de certificação.

Diante dos problemas já apontados no início deste capítulo, tanto no

ensino quanto da responsabilidade dos alunos, algumas escolas de Jornalismo já

discutem possibilidades de mudanças na grade curricular. Há também vistas sobre o

Protocolo de Bolonha.

O coordenador do curso de Jornalismo da ECA, José Coelho Sobrinho,

explicou que o curso de jornalismo da Universidade de São Paulo (USP) está sendo

discutida a possibilidade de se fazer uma reorganização curricular (modelo da grade

curricular proposta em Anexos desta monografia, na página 147). Ele diz que:

41

“(..) é importante que as escolas vejam que durante o tempo em que o aluno está dentro do espaço da universidade que ele é o aprendiz. E como aprendiz ele deve estar sujeito a determinados preceitos educacionais (...). Aqui na ECA, por exemplo, a gente discute a possibilidade de nós fazermos uma reorganização curricular dentro dos preceitos da taxionomia de objetivos educacionais, onde você classifica as disciplinas de acordo com uma sistematização do aprendizado e uma sistematização do conhecimento. Algumas disciplinas são então da área de conhecimento, outras, áreas de compreensão, outras, áreas de aplicação, análise, síntese e avaliação”. (COELHO, entrevista 26/10/2006).

Coelho considera importante que as disciplinas não sejam divididas, pelo

professores, entre teóricas e práticas. Para ele, “a chamada prática na verdade é o

espaço interdisciplinar para você fazer com que haja o cruzamento dos

conhecimentos obtidos tanto em disciplinas técnicas como também em disciplinas da

área de teoria”.

Outro fator também de relevância para Coelho é que as escolas de

comunicação poderiam estimular mais os alunos. Ele se pergunta: “Estimular de que

forma?” E responde: “Com disciplinas. Se você faz uma disciplina de jornalismo

comparado é um estímulo – vamos ver como foi feita a cobertura de uma eleição

com o Lula no Estado de S. Paulo e na Folha de S. Paulo, qual a mudança, a

diferença entre elas? Isso é importante.”

Coelho lembra que centros universitários europeus assinaram um

documento chamado Protocolo de Bolonha. Trata-se de uma alternativa, que

começou a ser implantada em 1988 e tem previsão para ser finalizada em 2007, que

visa a reduzir a graduação para apenas três anos, podendo chegar a quatro, seis ou

oito semestres. Segundo o professor da USP, quem começa a fazer essa graduação

já adquire o direito de fazer o mestrado e o doutorado. O mestrado em dois anos e o

doutorado em mais três anos.

Para Coelho,

[O Protocolo de Bolonha] é muito interessante porque eles trabalham com um conceito de habilidades e competências. E uma coisa mais importante ainda, eles querem fazer com que o ensino seja feito por etapas, por metas. Então um conjunto de professores

42

e um conjunto de alunos vão executar uma determinada tarefa que eles com antecedência se contrataram. Então é um ensino feito por metas e que vai haver um contrato de aprendizado. Esse contrato leva muito em consideração uma máxima de Carl Rogers que é o “ensino centrado no estudante”; ele era um psiquiatra, então era o “ensino centrado no cliente”, mas ele pegou toda a experiência dele e passou para a educação, ficando “ensino centrado no estudante”, que é mais ou menos o que as universidades da União Européia estão pretendendo ou estão achando que vão conseguir com a implantação desse Protocolo de Bolonha.” (COELHO, entrevista: 26/10/06).

Apesar de tudo, das críticas às escolas de jornalismo e da falta de

interesse de alguns alunos, torna-se difícil concentrar todas as relevâncias e

assuntos a serem discutidos numa única graduação. Além disso, o mercado espera

do recém-formado alguém que saiba mexer em softwares e programas que, muitas

vezes, não são apresentados nas universidades. O curso de Jornalismo, por se

tratar de uma habilitação em Comunicação é muito amplo. E Coelho critica:

“Eles [do mercado] estão exigindo que a universidade se transforme numa escola técnica. Outros querem que o aluno tenha feito leitura de um conjunto de livros que eu não sei se eles são tão importantes. Me recordo que um ex-aluno nosso, num evento de Jornalismo no Rio de Janeiro, eu era chefe do departamento na época, em 1987, ele me cobrou o seguinte, falou: “Quando eu fui pra Alemanha, numa escola de Jornalismo eu aprendi tudo sobre bolsas de valores. Por que a ECA não ensina?” Porque a nossa área é muito extensa, nossa área é muito grande, não dá pra você abarcar tudo aquilo que você necessita”. (COELHO, entrevista: 26/10/06).

Para o professor Nilson Lage, a tendência do profissional de comunicação é

de que os estudos devam se estender por toda a vida. Para ele “a responsabilidade

envolvida no tráfego de informações, a sofisticação tecnológica e a relevância do

direito dos cidadãos à informação indicam a necessidade de estudos demorados

para a prática do jornalismo – estudos que, como acontece com as demais

profissões de nível superior, deverão estender-se por toda a vida.” Com este mesmo

argumento Lage defende a formação universitária.

43

Poderia tornar-se uma convergência, também, que o ensino do jornalismo

fosse ministrado por uma parcela maior de profissionais que já tenham atuado nas

redações, que possuam conhecimento dessa área para repassar aos alunos. Lage

sustenta que:

(...) uma orientação nova nas escolas, que devem voltar-se para a realidade dos jornalistas como categoria e da atividade como empreendimento. Isso implica, naturalmente, o distanciamento dos estudos de comunicação, tais como vêm sendo habitualmente praticados, porque neles não há lugar para o jornalismo como concebemos. (...) Cursos de jornalismo devem ser coordenados por jornalistas competentes e ministrados dominantemente por jornalistas atentos à realidade da profissão. Isso hoje é possível. (...) é adequada a porcentagem de 50%, em cursos de quatro anos, prevista na legislação brasileira para as disciplinas técnicas. O jornalista é (...) a pessoa que escreve e edita informação em diferentes meios, e a competência é algo fundamental para que se possa exercer a profissão com dignidade. (LAGE, 2004: 180 e 182)

E acrescenta,

[O curso] deve incluir uma porcentagem não superior a 10% do total – ou um quinto das disciplinas não-técnicas – com a exposição das teorias da informação e da comunicação, com ênfase para os estudos teóricos de inferência, que incluem o binômio lógica/reconhecimento de padrões. Nos 40% restantes, é essencial prover informação ampla, honesta e equânime sobre os fatos e as idéias de nosso tempo, criando as bases de um aprendizado que se estenderá ao longo do exercício profissional e por toda a vida do jornalismo (LAGE, 2004: 182 - 183)

As possibilidades para a evolução do ensino – sendo isto encarado como

uma busca da melhoria da qualidade do jornalismo – são inúmeras, como descritas

acima e, mesmo assim, não se esgotam. Talvez ainda reste, no final, um problema

que já se encontra entre as críticas dos profissionais: a distância que os docentes de

jornalismo mantém da prática.

44

“Nas redações, você tem jornalistas falando mal de professor de

jornalismo, e na faculdade, você tem professor de jornalismo falando mal da Folha,

do Estado, da Veja”, exemplifica Claudio Tognolli. Na percepção de Fred Melo Paiva,

isso pode representar um problema para a formação do profissional.

Claro que tem várias exceções, mas você [o aluno] está aprendendo justamente com quem não se colocou no mercado ou por um motivo que decidiu não exercer realmente a profissão. Até porque é difícil fazer as duas coisas ao mesmo tempo. O trabalho no jornalismo é muito intenso, é muito trabalhoso, são muitas horas de trabalho. Então eu acredito que isso de alguma forma também [o] impossibilita. Agora, [na universidade] não tem essa relação com quem trabalha, com quem está na ativa. (PAIVA: entrevista, 19/10/06)

Este assunto foi abordado pela jornalista e professora na Faculdade de

Comunicação da UnB, Zélia Leal Adghirni, em artigo publicado pelo site

Observatório da Imprensa no dia 27 de julho de 2006, com o título O ensino de

jornalismo por jornalistas. O texto de Zélia acrescenta um outro “porém” à questão:

quando o profissional experiente no mercado encontra as portas fechadas na

universidade.

Ela explica com o seguinte raciocínio:

Suponhamos que este jornalista, que conquistou prestígio e notoriedade ao longo de anos de exercício profissional, muitas vezes arriscando a própria vida, um dia vai se sentir cansado. E talvez pense que, em vez de se aposentar ou abrir um restaurante, poderia partilhar sua experiência com alunos de jornalismo. Mas as portas das faculdades públicas estarão barradas para ele. Sem título acadêmico [de mestre ou doutor, exigido pelo Ministério da Educação, o MEC], não poderá disputar uma vaga de professor. Em compensação, uma pessoa graduada em jornalismo, com pós-graduação em qualquer área afim da comunicação, poderá lecionar num curso de jornalismo, mesmo que nunca tenha pisado numa redação de jornal ou numa ilha de edição, se a disciplina for considerada teórica. (ADGHIRNI, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=391JDB010, acesso em 28 de outubro de 2006)

45

A jornalista acredita que, em breve, as universidades não terão mais

jornalistas como professores, somente teóricos de comunicação. Ela concorda com

Fred Melo Paiva ao entender este quadro como um problema:

É lógico que precisamos de teoria, precisamos formar profissionais capazes de refletir e de produzir sentidos. Mas esta dicotomia entre teoria e prática, entre laboratório (prática) e sala de aula (expositiva) cria verdadeiras aberrações. Disciplinas teóricas sem embasamento prático e disciplinas práticas sem embasamento teórico não formam profissionais, apenas deformam o que é já deficiente no ensino superior brasileiro. (ADGHIRNI, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=391JDB010, acesso em 28 de outubro de 2006)

Ela apresenta uma sugestão que talvez demandasse outro estudo

somente sobre uma reflexão do que se poderia chamar A responsabilidade das

empresas na formação dos jornalistas. Zélia cita a criação dos “cursinhos de

treinamento com recém-formados escolhidos a dedo em testes super seletivos”

(2006) como uma mostra da insatisfação das empresas com a formação dos

jornalistas. Mas questiona: “Por que em vez de desconfiar e negar o ensino de

jornalismo, as empresas, através da ANJ [Associação Nacional de Jornais], não

investem nas universidades ajudando na formação de profissionais gabaritados?”

Segundo Zélia, uma possibilidade de iniciar este “diálogo” seria adotar as

experiências européia e norte-americana.

As escolas de jornalismo (que não são faculdades de comunicação) em vez de dividir, somam as competências de acadêmicos e profissionais. Os alunos recebem uma formação teórica e abrangente em ciências sociais e humanas mas, paralelamente, têm oficinas intensivas de treinamento com profissionais renomados da mídia impressa e audiovisual, na condição honrosa de professores visitantes reconhecidos e remunerados pelas universidades. (ADGHIRNI, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp? cod=391JDB010, acesso em 28 de outubro de 2006)

46

47

CAPÍTULO IV

CURSO ABRIL: UMA “SOLUÇÃO” PÓS-UNIVERSIDADE

4. Editora Abril

Fundada em 1950, a Editora Abril está entre os maiores grupos de

comunicação da América Latina. Proprietária de sete das dez revistas mais lidas no

Brasil, incluindo a Veja, a quarta maior revista de informação do mundo, a Editora

emprega cerca de 6.500 pessoas: 780 jornalistas. Além de revistas, a Abril também

é proprietária das editoras de livros Ática e Scipione (livros escolares), das

emissoras de televisão TVA (por assinatura) e MTV.

De acordo com o relatório administrativo divulgado pela Editora Abril, sua

missão está “empenhada em contribuir para a difusão de informação, cultura e

entretenimento, para o progresso da educação, a melhoria da qualidade de vida, o

desenvolvimento da livre iniciativa e o fortalecimento das instituições democráticas

do país” (EDITORA ABRIL: http://www.abril.com.br/br/conhecendo/conteudo_

43365.shtml, acesso em 10 de novembro de 2005). Essa “missão”, publicada pela

primeira vez em maio de 1980, mostra que, pelo menos documentalmente, a

48

empresa está alinhada ao que se entende como funções do jornalismo, como

identificado no primeiro capítulo desta monografia.

4.2. JORNALISMO EM REVISTA

4.2.1. Cultura de massa e segmento

Antes de elucidar sobre jornalismo de revista e sua história, falaremos de

algumas características relacionadas a ele. O termo “cultura de massa” surgiu no

século XIX, sobretudo nos Estados Unidos e Europa, a partir de reflexões sobre a

transição da sociedade antiga, tipicamente rural, para uma sociedade moderna, com

o deslocamento da população em direção às cidades. É o que explica Giovandro

Marcus Ferreira no livro Teorias da Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências:

“a concentração populacional nos espaços, caracterizados pela urbanização e

industrialização, leva inevitavelmente a pensar na massificação”. (FERREIRA, 2001:

101)

Na avaliação de Muniz Sodré, outro teórico comunicação, a explosão da

urbanização estimulou a instauração de um sistema moderno de comunicação. “O

moderno fenômeno da cultura de massa só se tornou possível com o

desenvolvimento do sistema de comunicação por media, ou seja, com o progresso e

a multiplicação vertiginosa dos veículos de massa – o jornal, a revista, o filme, o

disco, o rádio, a televisão”. (SODRÉ, 1988: 13).

Uma das críticas feitas a partir diante destes quadros é com relação à

possibilidade a desintegração social que eles gerariam. De acordo com Ferreira, as

distorções da sociedade moderna são alimentadas pela própria cultura de massa, o

que resulta em um circulo vicioso: “Declínio dos grupos primários (famílias, grupos

de vizinhos, associações esportivas...), burocratização crescente, igualdade e

insegurança; por fim, uma ontologia acerca do homem-massa e da cultura que o

influencia é também formada por ele, a cultura de massa.” (FERREIRA, 2001: 105)

49

O sociólogo francês, Gustavo Le Bon, foi um dos primeiros a refletir sobre

o conceito de massa e deixar nítido os preconceitos que circundam a sua época.

Baseado nas concepções de Le Bom, Ferreira faz a seguinte avaliação sobre “a

massa”:

A multidão é uma identidade onde os indivíduos estão submetidos a uma alma coletiva, pois ela tem sua própria natureza. A multidão é feminina, impulsiva, móvel, dominada por uma mentalidade ‘mágica’. Ela é influenciável, seduzida por sentimentos simples e exagerados, tem a moral degradada e é intolerante e autoritária. (FERREIRA, 2001: 106)

Para compreender de fato o conceito “cultura de massa”, Muniz Sodré

julga necessário resgatar o termo cultura separadamente. Segundo o autor de A

comunicação do grotesco: um ensaio sobre a cultura de massa no Brasil, “a cultura é

uma estrutura biface – código e atualizações (...) que possibilita a dialética

código/existência (através da troca de informações entre os dois níveis), a análise do

real e a criação” (SODRÉ, 1988: 13 e 14). Sendo assim, a cultura muda de acordo

com as transformações históricas.

Para Sodré, o problema que circunda o termo “cultura de massa” é que o

mesmo ganha sentido oposto à “cultura superior ou elevada”, pertencente à elite.

Segundo o autor, esta oposição, teoricamente, é falsa, “porque o código da cultura

de massa (também estético-cognitivo) é ontologicamente o mesmo da cultura

elevada, apenas adaptado para o consumo de todas as classes sociais (um público

amplo, disperso e heterogêneo)”. (SODRÉ, 1988: 16).

Na prática, porém, o código se apresenta de outra forma quando se quer

atingir um público de massa:

O código que rege a produção das mensagens de massa tem de se tornar mais pobre para aumentar o índice de percepção por parte dos receptores. E isto implica, com freqüência, num empobrecimento da mensagem em relação à original (da cultura elevada). (SODRÉ, 1988: 16)

50

Sodré ressalta que a cultura de massa nada mais é que uma extensão da

cultura tradicional, moldada a uma sociedade capitalista, com caráter industrial: uma

cultura que se vende.

4.2.2. Segmentação

O primeiro fenômeno de vendas de revistas no Brasil foi a revista

Cruzeiro, criada em 1928 pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand. Extinta

na década de 70, era uma revista que abordava assuntos diversos e se destinava a

toda família brasileira. A pesquisadora e professora Maria Celeste Mira descreve que

“O Cruzeiro trazia um pouco de tudo e se dirigia a todos, homens e mulheres; jovens

ou não, longe da preocupação hoje obrigatória de descobrir as preferências de cada

um, seus gostos, expectativas ou estilos de vida”. (MIRA: 2001, 13).

As primeiras revistas que surgiram no Brasil tratavam sempre de

variedades. Todas elas com informações gerais e entretenimento. Dessa forma,

destinavam-se a um grupo muito grande, ou seja, de todas as idades, sexos, e

perfis. Mas a procura por um público mais específico levou as revistas criarem títulos

cada vez mais diversificados para, assim, atender aos mais diferentes tipos de

público. “O novo fenômeno, a segmentação, veio sublinhar outros recortes da

sociedade. A família, o homem e o adolescente, por exemplo, ganharam títulos

específicos”. (A REVISTA NO BRASIL, 22)

Muitas revistas ainda tratam de assuntos gerais, como a revista Veja –

que é hoje a mais vendida no país. Para uma revista ser considerada como

segmentada, de acordo com MIRA, são aquelas “cujas tiragens são inferiores a 100

mil”. (MIRA: 2001, 11).

51

4.2.3. Segmentação da segmentação

A busca pela proximidade com um determinado grupo, “tribo” ou pessoa,

levou muitas revistas a sofrerem mutações e divisões em outros títulos cada vez

mais específicos e segmentados.

Muniz Sodré, em A Comunicação do Grotesco – introdução à cultura de

massa brasileira afirma que no Brasil até o início da década de 70 apenas quatro

grupos de segmentação prevaleciam no país: informação geral e entretenimento,

informação e análise de notícias, revistas femininas ou dedicadas a problemas da

família e revistas de conhecimentos gerais.

Já a pesquisadora Mira divide a segmentação em:

O primeiro vai dede a “imitação do estrangeiro” no século XIX até a globalização propriamente dita. O segundo vai da “revista da família” à (pseudo ou verdadeira) “revista personalizada”. Quanto a esse último (o eixo da segmentação), três discussões teóricas se entrelaçam: gênero, geração e classe social. Contudo, por ser muito importante no meio revista, a questão do gênero atravessou quase todo o trabalho, exceto em Realidade e Veja. (MIRA: 2001, 9).

De acordo com Scalzo a segmentação se divide em:

Os tipos de segmentação mais comuns são os por gênero (masculino e feminino), por idade (infantil, adulta, adolescente), geográfica (cidade ou região) e por tema (cinema, esportes, ciência...). Dentro dessas grandes correntes, é possível existir o que já nos referimos como “segmentação da segmentação”. (SCALZO: 2003, 49)

Segundo Nascimento, em seu estudo sobre Jornalismo em Revistas no

Brasil: um estudo das construções discursivas em Veja e Manchete, ela se baseia no

Instituto Verificador de Circulação (IVC) e considera a segmentação em:

52

Considera-se hoje no Brasil, pelo menos 20 gêneros na classificação dos principais títulos em circulação: interesse geral/ informação/ atualidades, interesse geral/ ciência, interesse geral/ leitura, interesse geral/ negócios, interesse geral/ turismo, feminina/ comportamento/ beleza, feminina/jovem, feminina/ moda/ trabalhos manuais, feminina/ puericultura, feminina/ culinária, feminina/saúde, masculina, esporte/automobilismo, arquitetura; decoração, astrologia, cinema/ música/ TV, construção, infanto-juvenil/ games, informáticas, outros. (NASCIMENTO, 2002: 18)

4.2.4. Segmentação de massa

A revista é o meio de comunicação que mais pode se segmentar. Pode-se

tomar como exemplo o cinema, a televisão, a grande maioria dos jornais impressos

que, por exigirem investimentos mais elevados, tendem a se direcionar para grandes

públicos. Um aluno do curso de História se interessa por revistas deste tema, não

precisa comprar uma revista de “Química” para encontrar artigos de seu interesse.

Basta comprar uma revista que tenha como tema “História”.

A jornalista Marília Scalzo aponta que “Os jornais descobriram, por

exemplo, que precisavam falar para os jovens – e trataram de criar suplementos

específicos para esse tipo de público. No entanto, para ler o suplemento dedicado

especialmente a ele, o jovem precisa comprar o jornal inteiro”. (SCALZO, 2003: 14).

É por esse motivo que a revista, segmentada, acaba sendo vantajosa. Por meio da

segmentação das revistas, tornou-se possível uma proximidade com o leitor.

Um outro motivo que torna a revista um meio de comunicação mais

próxima do leitor é sua durabilidade. O papel usado na impressão da revista é

distinta dos jornais, portanto o leitor, por muitas vezes, acaba guardando ou até

colecionando alguns tipos de revistas. Ao contrário do jornal que precisa ser dobrado

ou amassado, a revista também tem a facilidade de ser transportada facilmente para

qualquer lugar, devido o tamanho ideal para isso.

“Revistas têm vida mais longa, descobriram no papel couchê um elixir da

juventude, que lhes dá mais alguns dias ou semanas de vida – seja naquela cesta

53

de palha ao lado do sofá da casa ou na mesa de centro da sala de espera do

médico.” (HENRIQUE, 2003: 134).

Além da durabilidade física, ou seja, do papel a revista tem a

característica de trazer informações mais aprofundadas que dão maior “durabilidade”

às notícias. Eduard Pimenta, editor do Curso Abril de Jornalismo diz que

“normalmente a revista é uma publicação em que o sujeito não lê tão

telegraficamente como lê a Internet e o jornal, simplesmente pra se informar. Ele vai

atrás de algo um pouco mais refletido e portanto ele leva para o sofá, pra cama e ele

fica mais tempo com a revista. Tem uma relação afetiva com a revista” (PIMENTA).

4.2.5. A revista no Brasil

O termo “revista” foi usado pela primeira vez em 1704 por Daniel Defoe

quando lançou em Londres a A Weekly Review of the Affairs of France. A primeira

revista que surgiu no Brasil foi chamada de As Variedades em 1812, mas durou

apenas dois números. Em 1928, nasceu no Rio de Janeiro a Revista Semanária dos

Trabalhos Legislativos da Câmara dos Senhores Deputados.

As primeiras revistas brasileiras sempre tratavam de assuntos gerais e, as

“notícias” tardavam para serem publicadas. Não havia grandes preocupações com o

conteúdo em si. “O grito de D. Pedro às margens do Rio Ipiranga demorou treze dias

para ecoar as páginas do jornal O Espelho, do Rio de Janeiro.” (A REVISTA NO

BRASIL: 2000, 18).

Em 1932, quando se iniciou a era Vargas, e com eleição de uma Miss

Universo brasileira, as revistas começaram a produzir reportagens sobre fatos mais

relevantes. “O jornalista deixou o fundo da redação, ganhou a rua (...). Esporte,

política, artes e espetáculos, consumo, modos de vida – nenhum meandro da

realidade brasileira deixou de desde então freqüentado pelo olhar atento das

publicações, muitas das quais pagaram preço alto por essa intromissão” (A

REVISTA NO BRASIL: 2000, 22).

54

A reportagem só se tornou consagrada quando o empresário Assis

Chateaubriand criou, em 1928, a revista O Cruzeiro. Entre os anos de 1930 e 1950,

a revista se tornou o veículo mais importante do país. Em 1952 surge a concorrente

Manchete fundada por Adolpho Bloch e, no ano de 1966, as duas revistas

dominavam as bancas. Com isso, a Editora Abril lançou a revista Realidade.

Realidade se tratava de uma revista mensal que tinha o slogan:

Revista mensal ‘dos homens e das mulheres inteligentes que querem saber mais a respeito de tudo’, como anunciou seu fundador, Victor Civita, Realidade somou ousadia dos temas, investigação aprofundada, texto elaborado e ensaios fotográficos antológicos. Ofereceu ao leitor um padrão de reportagem até então desconhecidas no país. (A REVISTA NO BRASIL: 2000, 57)

Realidade alcançou tiragens de até 500 mil exemplares, mas foi extinta

quando tornou-se comercialmente inviável. Em 1960 a Editora Abril lança a revista

Quatro Rodas dedicada ao leitor motorizado. Logo em seguida vieram: Placar

(esporte), Exame (Economia e Negócios); revistas femininas tais como: Claudia (em

1961), Marie Clair (da Editora Globo). Em 1968, foi lançada a revista Veja da Editora

Abril.

Lançada poucas semanas antes que o AI –5 inaugurasse a fase mais violenta da censura à imprensa, Veja teve o seu trabalho dificultado pelo regime militar até meados dos anos de 1970. Edições foram mutiladas ou apreendidas. A política sempre esteve entre as suas prioridades, mas a revista celebrizou-se também pelas reportagens de interesse geral. (A REVISTA NO BRASIL: 2000, 60).

No ano 2000, Veja se tornou a quarta maior revista semanal de notícias

de todo o mundo com picos de tiragem de até 1,7 milhão de exemplares semanais.

Em 1998, a Editora Globo criou a Época chegou a quase 700 mil exemplares.

De acordo com Nascimento, define-se revista como “uma publicação

periódica de formato e temática variados que se difere do jornal pelo tratamento

55

visual (melhor qualidade de papel e de impressão, além de maior liberdade na

diagramação e utilização de cores) e pelo tratamento textual”. (NASCIMENTO: 2002,

18)

4.2.6 Diferencial do jornalista de revista

O jornalismo de revista torna-se distinto dos outros meios de comunicação

por trazer informações que já foram noticiadas ou pelo jornal diário, ou pela

televisão. O desafio da revista é a de trazer informações mais aprofundadas. O leitor

de revista procura nas matérias por informações mais intensas e completas, que

traga um diferencial do que já foi noticiado.

Para Marília Scalzo, o jornalista que vai trabalhar numa revista deve

seguir os mesmos princípios que regem o jornalismo em geral. Para ela “não importa

se trabalha em jornal, em meio eletrônico ou em revistas, contanto que ele seja um

bom jornalista”. E completa:

Os princípios básicos do jornalismo são iguais para qualquer tipo de veículo: o esforço para apurar os fatos corretamente, o compromisso com a verdade, ouvir todos os lados que envolvem uma questão, mostrar diversos pontos de vista na tentativa de elucidar histórias, o respeito aos princípios éticos, a busca constante da qualidade de informação, o bom texto. Qualquer que seja o jornalismo que se vá fazer, esse é o dever básico – seja em televisão, rádio, Internet, jornal ou revista. (SCALZO: 2003, 54).

Um grande diferencial do texto da revista dos demais meios de

comunicação é que o leitor dele é específico. O jornalista que trabalha em revista

precisa, de acordo com Scalzo, imaginar-se como um prestador de serviços, alguém

que dá informações corretas, e não um ideólogo ou um defensor de causas e

bandeiras. “Na maior parte do tempo, o jornalista de revista estará preocupado muito

mais em prestar um serviço do que em apresentar um furo de reportagem”

56

(SCALZO, 2003: 55). O importante, segundo ela, é não confundir um texto de revista

com texto opinativo.

O texto de revista é diferente do texto do jornal, da Internet e de outros

meios de comunicação já que nele contém, ou deve conter, informações exclusivas

e bem apuradas. Scalzo diz que o texto de revista precisa ter um tempero a mais.

“Diferente do leitor de jornal, o de revistas espera, além de receber a informação,

recebê-la de forma prazerosa. Ele quer a informação correta, simples e clara”. E

resume: “bom texto é o que deixa o leitor feliz, além de suprir suas necessidades de

informação, cultura e entretenimento”.

O jornalista Edward Pimenta explica:

O texto de revista, como se aprende tecnicamente na faculdade, ao invés de você ter a velha fórmula da pirâmide invertida em que o grosso das informações está no lead e depois aquilo vai diminuindo, o texto de revista precisa ser um texto que você vá contando a história, dosando as informações pra que o sujeito siga na história até o fim. (PIMENTA: 2006)

4.3. O Curso Abril de Jornalismo

O Curso Abril de Jornalismo é um programa de treinamento oferecido pela

empresa a jovens recém-formados em Jornalismo de todo o país. Por meio de um

texto sobre o tema Quem sou eu e porque escolhi o jornalismo como profissão?,

profissionais da Abril selecionam cerca de 60 jovens jornalistas, dentre

aproximadamente 2.500 que se inscrevem.

Os recém-formados escolhidos participam, durante quatro semanas, de

workshops, palestras ministradas por profissionais da Abril, produzem material

jornalístico para revistas, sites, televisão e celulares (A programação completa do

curso está na página 64 desta monografia). No final do curso, os alunos fecham uma

revista chamada Plug, uma publicação anual com as principais idéias e melhores

práticas desenvolvidas durante o treinamento. A Plug é impressa e distribuída para

57

as universidades de comunicação, aos principais órgãos do país e aos profissionais

da Editora Abril.

De acordo com o editor Edward Pimenta Júnior, o Curso Abril de

Jornalismo é:

Um curso de trabalho muito intenso; as pessoas viram a madrugada pra poder cumprir as suas missões, fazem grandes amigos, vivem a atmosfera e o jeito Abril de produzir conteúdo para revistas, celulares, Internet etc. Isso faz do Curso Abril, além de ser um curso de treinamento em jornalismo intensivo, pioneiro na história do jornalismo brasileiro, faz dele também um modelo de treinamento que busca todo ano a excelência na sua qualidade. (...) Esse período de um mês e meio é muito importante pra que eles consigam ter a dimensão do grau de qualidade que nós precisamos nas nossas publicações. Falamos aqui sobre design de revistas, sobre web design, sobre redação e estilo, sobre ética, sobre marketing, sobre as mais diversas disciplinas que estão ou deveriam estar consolidadas na formação do jornalista. (PIMENTA, entrevista: 19/09/2006).

Em mais de 24 anos, o curso já treinou 1.328 profissionais. A primeira

edição ocorreu em março de 1968 quando formou-se a equipe da então recém-

fundada revista Veja. De 1.800 candidatos, 100 foram escolhidos. Depois disso, o

curso só retornou em 1984 por iniciativa de Alberto Dines.

Dentre os selecionados para o curso, os paulistas são a maioria: cerca de

28%, seguidos pelos cariocas. O Sul do país representa, geralmente, o segundo

maior grupo regional e, depois, a região Nordeste.

Dos estudantes de 2005, 64% tinham entre 21 e 23 anos e 57% eram

mulheres; 9% deles eram recém-formados na Pontifícia Universidade Católica (PUC)

do Paraná; 7% da Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP); 7% da Universidade

de Brasília (UnB); 7% da PUC do Rio de Janeiro; 5% da Universidade do Estado de

Minas Gerais (UEMG); 3% da Universidade Estadual Paulista (Unesp); 3% da

Faculdade Cásper Líbero; 3% PUC do Rio Grande do Sul; 3% do Senac; 3% do

Centro Universitário Vila Velha (UVV); 3% da Universidade Federal da Bahia

(UFBA); 3% da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS); e os 39%

58

participantes restantes pertencem a cerca de 300 outras faculdades de jornalismo e

587 escolas de comunicação espalhadas pelo Brasil.

Esses números demonstram uma grande aceitação de estudantes

oriundos de escolas “renomadas”, mas não representam uma particularidade da

Editora Abril. Em geral, 44% das empresas contratantes preferem recém-formados

de universidades “tradicionais”, conforme os dados de uma pesquisa realizada pela

Franceschini Consultoria, publicados pela Revista Ensino Superior (Edição de Maio

de 2006, pág 18).

Segundo Pimenta, todos os anos, cerca de 20 a 40% dos participantes do

curso são contratados pela Editora Abril. Em 2004, 8 foram contratados, 8 fazem

freelance e 4 participam do Programa de Trainee editorial.

4.3.1. Para que serve

O Curso Abril de Jornalismo, assim como outros cursos de treinamento

como o Foca do jornal O Estado de S. Paulo, visa a preparar o recém-formado para

as necessidades da empresa, no caso da editora Abril, para o mercado de revistas:

um tipo de mídia que tem suas inúmeras particularidades (já descritas neste

capítulo). Mas seria essa a função da universidade?

Conforme Pimenta: “O motivo pelo qual nós investimos tanta energia e

esforço no Curso Abril de Jornalismo se justifica pelo fato, justamente, de que nem

todas as universidades conseguem formar profissionais completos para o mercado”.

Segundo ele, a Abril oferece o curso para aprimorar talentos que já existem.

O jornalista Fred Melo Paiva, do jornal O Estado de S. Paulo, editor do

Caderno Aliás, passou pelo curso em 1996. Paiva era recém-formado pela PUC de

Belo Horizonte e, após o término do curso, foi contratado para trabalhar na revista

Playboy.

Em entrevista realizada no dia 19 de novembro de 2006, ao grupo

responsável por este trabalho, Paiva disse que, por meio do Curso Abril, ele teve

várias vantagens na vida profissional. “Em grande medida eu acredito que ele tenha

59

sido tão importante para mim pelo fato de eu ter feito realmente mal a faculdade”.

(PAIVA, entrevista: 19/09/2006).

4.3.2. A Universidade e o Curso Abril

Para a vida profissional de um recém-formado, ser selecionado para

participar de um curso como o da Editora Abril, como o Foca (do Estadão), ou o da

Folha, é importante por se tratar de uma preparação para as exigências do mercado

de trabalho e adaptações às necessidades de grandes empresas, além de ser, em

alguns casos, uma porta de entrada para essas companhias. Isso porque, a grande

maioria dos recém-formados se sente despreparada para a vida profissional.

O Curso Abril de Jornalismo, de acordo com os pessoas que já

participaram do programada, oferece conteúdos que a universidade não trabalha,

preparando-as, assim, para o mercado de trabalho.

Uma das vantagens do Curso Abril para o jornalista Fred Melo Paiva é

que “o recém-formado tem contatos com vários jornalistas importantes da editora e

que os cursos de Jornalismo, em geral, não têm. A faculdade de jornalismo também

é muito distante disso, da realidade” (PAIVA).

Ao contrário da universidade, no Curso Abril os alunos têm, além dos

contatos, atividades como a prática diária da produção de textos, edição de textos,

de vivência com essas e outras áreas do jornalismo, que são consideradas

relevantes pelos ex-alunos do curso que hoje estão no mercado de trabalho. Para

Paiva, foi como um “intensivão”.

Você chega lá no primeiro dia, a partir dos textos que você mandou, eles já decidem pra qual redação você vai. Você vai ficar metade do seu dia trabalhando naquela redação e um pedaço do seu dia você produz uma parte de uma revista. O grupo todo que foi selecionado pro Curso Abril, aquelas várias pessoas nas várias redações vão fazer uma revistinha [A Plug] no final do curso. Então você chega lá, você não conhece ninguém e depois de um mês você produz uma revista. É um curso muito intenso. (...) Tinha uma carga horária muito puxada, você tinha palestras de manhã, enfim, você

60

trabalhava de 7 da manhã às 11 da noite. Na verdade o Curso Abril é para você aprender na prática. (PAIVA, entrevista: 19/09/2006).

Esse “intensivão”, de acordo Paiva, contribuiu para a discussão da parte

prática, o que, segundo ele, não se vê muito durante a faculdade. O Diretor de

Redação da revista Simples e da Agência Wide Publishing, Douglas Vieria, também

participou do curso em 2005. Apesar de graduado em Jornalismo dez anos após

Fred Melo Paiva e em outra universidade (Metodista de São Paulo), Vieira apresenta

opinião semelhante à de Paiva ao dizer que durante o Curso Abril foi possível ter

contato com outras áreas do Jornalismo, as quais ele não viu na faculdade.

A gente tem a parte de produção de texto, edição de texto, mas a parte prática, de vivência de outras áreas do jornalismo é mais fraca na faculdade. Falta uma vivência mais ampla. A gente vive só a parte de redator, de jornalista, de repórter e não todo o funcionamento, a parte gráfica, o contato com a parte de design, fotografia, pensar a matéria, a revista como um todo, que isso é a vivência que a gente tem presentes no Curso Abril e em outros cursos como da Folha, do Estado. Eu acho que essa é principal contribuição, ter uma vivência exata do que é e como será no mercado e não propriamente só produzir textos. (...) Na faculdade você faz muitas vezes as matérias, você mesmo faz o layout, mas é uma coisa separada da outra, é muito segmentada. Você escreve, joga um layout “tosco” e faz as fotos, mas sem discutir como as coisas dialogam entre si. (VIEIRA, entrevista: 19/09/2006).

Vieira pondera que o curso não foi indispensável na sua vida. “Acontece

que eu iria demorar mais tempo pra chegar em outro estágio se eu tivesse saído da

faculdade e me jogado direto no mercado de trabalho. Não é indispensável, mas é

muito importante”.

Pelas declarações de Fred Melo Paiva e Douglas Vieira ao compararem o

aprendizado obtido na universidade e o acumulado com o Curso Abril, percebe-se

uma certa ‘reverência’ ao fato de terem tido acesso, na empresa, a conhecimentos e

oportunidades que se encaixam nos conceitos de capital humano, pois resultam em

habilidades técnicas ou vivências capazes de incrementar o exercício prático do

61

jornalismo (e já está fundamentado nesta monografia como a qualidade envolve

também questões éticas).

Traduzindo: o Curso Abril, talvez mais do que “adaptar” os jovens

profissionais às necessidades “mercadológicas”, acaba complementando pontos

que, na avaliação dos entrevistados, são deficientes na academia – independente se

o assunto é jornalismo de revista, ou, simplesmente, jornalismo.

E quanto ao capital social, a Abril fica devendo neste sentido?

Aparentemente não. Apesar de Paiva e Vieira terem feito pouca (ou quase

nenhuma) referência a conhecimentos que se enquadram a esse conceito, pelo

cronograma do Curso Abril de 2006 (ver em tabela adiante), se pode identificar

atividades que se encaixam como capital social, como as palestras sobre o

funcionamento do mercado da mídia nacional e global, a ética jornalística

propriamente, “Sociedade Multirracial” e “Raízes da Corrupção”. Todas esses

conteúdos remetem aos valores do capital social: entendimento de dinâmicas

sociais, institucionais, de grupos, tradições, mercado.

4.3.3. Programação do Curso Abril de Jornalismo

Conforme o Editor do Curso Abril Edward Pimenta Júnior, que já foi aluno

do programa, o curso é dividido em módulos. Um dos módulos é quando o aluno

passa a saber mais sobre como funciona a empresa Abril, quantas unidades de

negócios ela tem, quais são os números, quantas pessoas trabalham, é passada

uma visão geral do que é a empresa. De acordo com Pimenta no próximo módulo

são tratadas as questões mais técnicas:

Em segundo lugar, passamos as questões mais técnicas, falamos sobre redação e estilo principalmente, fazemos normalmente duas ou três mesas de redação e estilo e chamamos grandes jornalistas da casa para debater cada um na sua especialidade, falamos sobre fotografia, falamos sobre design e todas as suas especificidades, sobre cores, sobre tipologia, sobre tudo aquilo que engloba o design para fotografia. Ultimamente temos falado muito sobre as novas

62

tendências e convergência digital. Fora tudo isso, temos as visitas na redação, que são jornalistas daqui da Abril e de fora; muita gente que trabalha aqui em São Paulo, no estado, em outras companhias, nós trazemos para a redação Plug para que eles possam dar uma palavra e fazer um bate-papo com os alunos. Isso tudo é bastante enriquecedor. (PIMENTA, entrevista: 19/09/2006).

A programação do Curso Abril de Jornalismo a seguir foi oferecida ao 23º

grupo, que ocorreu de 23 de janeiro a 22 de fevereiro de 2006. O programa é

desenvolvido pelo Núcleo de Desenvolvimento de Pessoas da Vice-Presidência de

Recursos Humanos da Editoria Abril. De acordo com a publicação da programação,

o Curso Abril está divido em 5 módulos:

1) A empresa História, Princípios, Valores e Processos: Como a empresa tornou-se

referência em produção editorial no país e no exterior; publicações que fizeram e

ainda fazem parte desta história.

As pessoas: Perfil social do Grupo Abril e os grandes profissionais que já

passaram pela empresa.

Os produtos: A atuação da Abril em multiplataformas: conteúdo editorial

em impresso, web, wireless e vídeo.

2) O mercado Segmentação: Para sobreviver, é preciso segmentar. Cada vez mais as

revistas dialogam com grupos mais específicos.

Marketing, Jornalismo e Ética: Produção editorial de primeira e títulos

atraentes nas bancas. Todo jornalista tem um pouco de marketeiro?

Mídia no Brasil e no mundo: A realidade dos grandes conglomerados

nacionais e mundiais. Como o bolo da mídia está repartindo entre as empresas mais

importantes do setor.

3) Específico Edição em Revista: Thomaz Souto Corrêa (Membro do Conselho de

Administração, VP do Conselho Editorial e Consultor para Revistas do Grupo Abril).

63

Texto: Redação, Reportagem e Estilo: João Gabriel de Lima (Repórter

Especial de Veja).

Design e Fotografia: Edição de Design, Integração Arte e Texto.

TV e Novas Mídias: Televisão, Wireless, Internet e Roteiro.

Planejamento Editorial: Metodologia e aplicação.

Direto e Comunicação: Dicas para jornalistas evitarem problemas com

ações judiciais.

4) Cultura Brasileira “Uma sociedade multirracial”.

“Raízes da Corrupção”.

“O papel de Drummond na literatura”.

“Como nos vemos e como somos vistos”.

Coordenação: Alzira Lobo (Livre-docente em História Social pela USP e

Diretora de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade de São Marcos).

5) Especiais Visitas à Redação Plug.

Diálogos Culturais do Meio-dia Especial.

Especial Saúde.

64

4.3.4. Programação

1ª Semana 23/1 – 2ª Feira 24/1 – 3ª feira 25/1 – 4ª Feira 26/1 – 5ª Feira 27/1 – 6ª Feira

9h Novos Negócios e Internet Abril Leila Lória (Superintendente da TVA e Diretora geral de distribuição eletrônica do Grupo Abril). Andrés Bruzzone (Diretor Superintendente de mídia digital).

10h Recepção dos alunos Hamilton Santos (Diretor do Curso Abril de Jornalismo).

9h30 Pessoas da Abril – Quem somos. Marcio Ogliara (Vice-Presidente de Recursos Humanos e Desenvolvimento Organizacional do Grupo Abril). José Roberto Guzzo (Membro do Conselho Editorial da Abril).

9h30 Redação

11h Direito para Jornalistas Ana Rita de Souza Dutra (Advogada do Grupo Abril).

9h30 Mercado de Mídia no Brasil e no Mundo Wagner Barreira (Diretor de redação da Diretoria Secretaria Editorial) Matias Molina (Diretor de Análise de informação internacional da CDN – Companhia Internacional de Notícias)

13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 14h30 Apresentação das Editorias 17h Lanche com os orientados na Redação Curso Abril (9º andar). Convidado Especial: Maurizio Mauro (Presidente Executivo do Grupo Abril).

Redação

Redação Redação

19h A arte de fazer revistas Edson Rossi Diretor de Redação da Contigo!

19 h Segmentação e Concorrência Adriano Silva (Diretor do Núcleo Jovem)

14h Carlos Drummond de Andrade e a Função da Poesia Álvaro Cardoso Gomes (Professor, crítico literário e escritor. Pró-Reitor de Graduação da Universidade São Marcos. Foi professor de literatura Portuguesa na USP e lecionou literatura brasileira na Universidade de Berkeley, Califórnia. Recebeu o Prêmio Nestlé (1982) pelo romance “O sonho da terra”).

65

2ª Semana 30/1 – 2ª Feira 31/1 – 3ª feira 1/2 – 4ª Feira 2/2 – 5ª Feira 3/1 – 6ª Feira

9h30 Produção de conteúdo e planejamento editorial para Internet Fabiana Zanni (Redatora chefe de Internet da Diretora Geral de Interesses)

9h30 Reportagem Alexandre Oltramari (Repórter de Veja)

9h30 Planejamento Editorial (Papel) Bia Mendes (Supervisora de Projetos Editoriais)

11h Produção de conteúdo e planejamento editorial para plataformas Wireless Fernando Carril (Editorial da abril Sem Fio)

9h30 Como nasce e como morre um programa de TV Zico Góes (Diretor de Programação da MTV Brasil)

9h Workshop de Roteiro Marília de Toledo (Dramaturgia e roteirista)

13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço Redação Redação Redação

Redação 14h30

Recepção da Cultura Brasileira no Exterior José Teixeira Coelho Neto (Professor titular de Política Cultural e coordenador do Observatório de Política Cultural da USP.

19h Edição em Revista Thomaz Souto Corrêa (Membro do Conselho de Administração, VP do Conselho Editorial e Consultor para Revistas do Grupo Abril)

19h Edição em Revista Thomaz Souto Corrêa (Membro do Conselho de Adm, VP do Conselho Editorial e Consultor p/ Revistas do Grupo Abril)

19h Edição em Revista Thomaz Souto Corrêa (Membro do Conselho de Administração, VP do Conselho Editorial e Consultor para Revistas do Grupo Abril)

19h Edição em Revista Thomaz Souto Corrêa (Membro do Conselho de Administração, VP do Conselho Editorial e Consultor para Revistas do Grupo Abril)

19h Edição em Revista Thomaz Souto Corrêa (Membro do Conselho de Administração, VP do Conselho Editorial e Consultor para Revistas do Grupo Abril)

66

3ª Semana 6/2 – 2ª Feira 7/2 – 3ª feira 8/2 – 4ª Feira 9/2 – 5ª Feira 10/2 – 6ª Feira

9h Cores Cacau Tyla (Diretora de Arte de Recreio

9h30 Fotojornalismo Paulo Vitale (Editor de fotografia de Veja)

9h Integração arte e texto Alceu Nunes (Diretor de arte de Superinteressante)Rafael Kenski (Repórter de Superinteressante)

10h30 Fotografia e Edição de Moda Neds Gonçalves e convidado (Diretor de arte de Elle)

9h30 Captação e Edição de Imagem em Vídeo Valter Pascoto e convidado (Diretor de Engenharia da MTV)

10h Workshop Infografia Luiz Iria (Editoria de infografia de Superinteressante)

9h30 Gramática Bia Mendes (Supervisora de Projetos Editoriais) 10h

Tipografia Crystian Cruz (Diretor de Arte Infocorpoarte)

13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço Redação Redação

Redação

19h Como fotografar para revistas Marco de Bari (Fotógrafo de Quatro Rodas) Ricardo Corrêa (Fotógrafo, ex-redator-chefe do pool de fotografia da UN Alto Consumo e autor de “O penta também é seu (2002)”).

19h30 A Arte de Fazer Capas Carlos Grassetti (Diretor de arte da Diretoria secretaria editorial) Alceu Nunes (Diretor de arte de Superinteressante)Carlos Néri (Diretor de arte de Veja)

19h Marketing e Jornalismo Laurentino Gomes (Diretor Superinteressante da UN Casa/ Semanais/ Celebridades)

Redação 14h30 As raízes da Corrupção Política no Brasil Laima Mesgravis (Professora livre docente em história pela USP e docente da Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado em Educação, Administração e Comunicação da Universidade São Marcos)

67

4ª Semana 13/2 – 2ª Feira 14/2 – 3ª feira 15/2 – 4ª Feira 16/2 – 5ª Feira 17/2 – 6ª Feira

9h Jornalismo Cultural em Bravo! Helena Bagnoli (Diretora do Núcleo Cultura) Jornalismo Cultural em Veja Carlos Graieb (Editor executivo de Veja)

9h Redação e Estilo João Gabriel de Lima (Repórter especial de Veja)

9h Redação

9h Redação

9h Redação

13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço 19h Redação e Estilo João Gabriel de Lima (Repórter especial de Veja)

19h A arte da entrevista Thaís Oyama (Editora de Veja)

14h30 O Negro no Brasil: questão racial não social Hélio Santos (Doutor em administração pela USP e professor da Universidade São Marcos-SP e Faculdade Visconde de Cairu-BA. Ativista negro, é autor da obra “A busca de um caminho para o Brasil. A trilha do círculo vicioso (2001)”.)

5ª Semana

20/2 – 2ª Feira 21/2 – 3ª feira 22/2 – 4ª Feira 9h Redação

9h Redação

9h Redação

13h Almoço 13h Almoço 13h Almoço Redação 19h30

Apresentação dos Trabalhos Encerramento com Roberto Civita (Presidente do Grupo Abril)

68

4.3.5. Críticas ao Curso Abril

Para muitos recém-formados, o Curso Abril de Jornalismo, vêm como

uma chance para se adaptar ao mercado. Já para o professor José Coelho

Sobrinho, cursos desse tipo, não oferecem muito mais do que uma universidade

poderia oferecer. Para ele, “O Curso Abril como o curso do Estado de S. Paulo,

como a preparação da Folha de S. Paulo (..) é um curso de adestramento”.

Para Coelho, esses cursos têm a mera função de adestrar porque: “É a

mesma coisa, você vai trabalhar numa empresa e a empresa fala: ´olha, nós

trabalhamos dessa forma`”. Justamente porque esses cursos cobram o acúmulo de

capital humano e capital social, a crítica de Coelho se aproxima das de Frigotto aos

capitais.

Como já explanado no 2º capítulo, Frigotto defende que o acúmulo

desses conhecimentos “traduz e, ao mesmo tempo, constitui-se em apologia da

concepção burguesa de homem, de sociedade, e das relações que os homens

estabelecem para gerar sua existência no modo de produção capitalista.”

(FRIGOTTO cit. in PIRES, 2005: 97).

O editor do curso Abril, Edward Pimenta, sai em defesa da empresa e

dessa necessidade de acumular capitais humano e social.

“A maior parte das críticas é de cunho ideológico, pelo menos o que eu posso perceber nas críticas que recebemos. Nós temos um convênio com a ECA/USP há muitos anos, estamos em contato com os alunos da USP, e como todos alunos da graduação eles são muito combativos, o que é absolutamente natural e esperado. Mas até hoje não tivemos nenhum tipo de problema com isso, sempre dialogamos muito bem. Estou dizendo tudo isso só pra colocar a minha impressão: eu acho que as críticas que são feitas à Abril são normalmente de cunho ideológico e num País democrático, essas críticas são construtivas, são muito bem-vindas. Nós não achamos que quem nos critica é mais ou menos inteligente do que nós. Nós apenas tentamos fazer o nosso trabalho da melhor maneira possível. Não temos nenhum problema com essas críticas e nem essas críticas têm tido um impacto significativo nos nossos negócios, nas nossas publicações”. (PIMENTA, entrevista: 19/09/2006).

69

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não foi por acaso que iniciamos este trabalho com um capítulo sobre

ética. E não é por acaso que ele será encerrado com o mesmo assunto. Como já

destacado, com as palavras do jornalista Carlos Alberto Di Franco, a conduta ética é

o que dá credibilidade e sustentação a qualquer meio de comunicação em uma

sociedade democrática. O mesmo se pode dizer do profissional de jornalismo, tanto

que Eugênio Bucci entende que o comportamento ético é o que determina a

“qualidade” do jornalista e até seu “valor no mercado”.

E como ser ético em um contexto em que estão exacerbados os mais

distintos interesses de sociedade moderna, como é o ambiente jornalístico? Como a

atividade cumpre sua função social? Como o jornalista corresponde às suas

responsabilidades diante da missão (não no sentido religioso) que a comunidade

delega ao jornalismo? Teoricamente, parece fácil responder a essas perguntas. É

até óbvio concluir que é preciso acumular valores éticos.

Isso é tão óbvio que pouco se fala no assunto. Ao não se falar mais nisto,

ou pior, ao se falar somente o óbvio, corre-se o risco de esquecer o principal: o

“como”. Como acumular estes valores éticos? Quais são eles? Diante destas

questões, consideramos o processo de aprendizado dos profissionais como ponto

extremamente relevante para a construção de um jornalismo eticamente eficaz.

O tema “diploma” não foi abordado nesta monografia porque seus autores

acreditam que o debate sobre a formação (formal ou não) traria mais resultados

positivos ao ofício e, conseqüentemente, mais benefícios à sociedade do que a

simples obtenção de um documento, o que, se analisado mais friamente não passa

de um rito burocrático.

A discussão sobre a qualidade de ensino existe, mas não tem a mesma

força corporativa que alavanca as campanhas em favor do “canudo”. Ao que tudo

indica e pelo que se pôde perceber durante a pesquisa para este texto, no geral, as

próprias universidades se incumbem de dizer o que devem ensinar, sem dialogar

com o mercado de trabalho. Aos meios de comunicação resta selecionar os menos

ruins que se formam e criticar a qualidade do ensino. No máximo, alguns veículos

70

criam programas de treinamento para moldar os recém-formados às necessidades

da empresa, como é o caso do Curso Abril de Jornalismo, que foi analisado no

decorrer desta monografia.

Neste cenário, concluímos, quem mais perde é a sociedade que sofre do

mal de ser informada por profissionais mal formados. E esta afirmação pessimista

baseia-se no fato de que a quantidade de cursos cresceu no Brasil cerca de 72%

entre as instituições privadas e 28% entre as públicas; existem 368 faculdades de

Jornalismo no país e, conforme o presidente da Associação Brasileira de Escolas de

Comunicação (Abecom), José Coelho Sobrinho, “o número de escolas que formam

bem as pessoas para o mercado, aptas para assumir o mercado, são poucas. Talvez

uns 30%”.

Talvez seja até “otimista” o cálculo do presidente da Abecom e mesmo

assim, se estiver correto, ao pé da letra, quer dizer que 258 universidades

espalhadas pelo Brasil formam pessoas despreparadas para exercer a profissão.

Tudo isso justifica a opção por compilar nestas páginas as inúmeras

críticas feitas à universidade. Mas não foi cometido aqui o deslize de simplesmente

desqualificar as instituições. Percebeu-se pelas entrevistas e pela literatura

consultada que a “culpa” da má qualidade da formação dos jornalistas também é

dividida com a má qualidade da educação em geral e da falta de acesso à cultura.

Ou seja, uma imprensa problemática também é o reflexo de uma

sociedade com problemas. Por outro lado, também consideramos que a academia

tem, ainda assim, a responsabilidade de saber atuar nessa conjuntura e formar

jornalistas mais éticos (no sentido mais amplo que os conceitos de capital humano e

capital social emprestam à palavra).

É por isso que, para ser ético em jornalismo, concordamos com a tese

apresentada no primeiro capítulo de que, além de valores civilizatórios e morais, é

preciso ser competente, já que a incorreção em jornalismo também consiste em um

problema ético. O domínio técnico facilita ao profissional apurar bem as informações,

entendê-las e transmiti-las à sociedade de forma correta. Ou seja, diante das

pressões do dead line, da concorrência pelo “furo” e outras, a condição técnica pode

representar resultados mais corretos – éticos – ao conteúdo veiculado.

71

É claro que somente a técnica não garante a qualidade da conduta do

jornalista. Este precisa de conhecimentos concretos acerca do funcionamento das

instituições e até das tradições e costumes que configuram a sociedade. Aqui

retornamos à importância dos valores civilizatórios, por exemplo. O profissional

necessita entender toda a anatomia do corpo social, e entender também que ele

próprio faz parte deste corpo.

Os conceitos de capital humano e capital social se encaixam a estes pré-

supostos. Justamente porque capital humano é aquele que se mede pelo acúmulo

de saberes técnicos e culturais do indivíduo, além de suas noções e disposição ética

para a realização de dados trabalhos. Compreende capacidade, comportamento e

empenho.

De forma complementar, o capital social é a consciência do que é comum

a todo cidadão. Regras reconhecidas e legitimadas pela sociedade e pelas

instituições. É também a noção de existem costumes e tradições reguladoras que

provêm de contextos históricos e conjunturais.

Estas são as “habilidades” que o jornalista necessita, segundo os próprios

profissionais e acadêmicos consultados. São elas que permitem a ele se adaptar às

diferentes realidades, em empresas, momentos e exigências diferentes. O acúmulo

dos capitais humano e social é que capacita o profissional para a reunião dos dados

de realidade e a organização deles em perspectivas, de forma hierarquizada,

autônoma e eficiente dentro de cada contexto. Foi essa a necessidade lembrada

pelo professor e jornalista, Claudio Tognolli, e pelo presidente da Abecom, José

Coelho Sobrinho, no capítulo III, que trata das “responsabilidades da universidade”.

Quanto à crítica freqüente de que professores de jornalismo, muitas

vezes, não participam do dia-a-dia das redações. Concordamos que a teoria é

relevante para a formação dos profissionais, mas também concordamos com as

alternativas sugeridas por Zélia Leal Adghirni. Para ela, já que a exigência de

mestrados e doutorados no Brasil pode bloquear a possibilidade de que jornalistas

com décadas de experiência sigam carreira acadêmica, é preciso que se amplie o

diálogo entre instituições de ensino superior e empresas de comunicação. Para que

os estudantes possam ter contato mais direto com a realidade que poderão

encontrar ao saírem da universidade.

72

Certamente é difícil para a rigidez institucional da academia acompanhar

as exigências do mercado dinâmico, conectado diretamente às evoluções da

sociedade. Mas entendemos que é necessária a busca por alternativas, seja dentro

ou fora do campus, como também entendemos que é necessário intensificar e

diversificar o ensino e o aprendizado dos conhecimentos referentes ao capital social.

Por fim, ressaltamos que a academia tem apresentado esforços, ainda

que isolados e graduais, para se adaptar. Provas disso são as diferentes

perspectivas apresentadas para o ensino de jornalismo, como o Protocolo de

Bolonha (a partir de habilidades e competências, em etapas e experiências

intercursos) e a elaboração de novas grades curriculares, com destaque para o

modelo proposto (ainda não implantado) na USP, que se baseia em conceitos da

taxionomia, em que as disciplinas são classificadas de acordo com a sistematização

do aprendizado, ou seja, as matérias são apresentadas separadamente,

primeiramente as da área de conhecimento, outras das áreas de compreensão,

outras de aplicação e assim sucessivamente.

Com isso, entende-se que a academia não deve agir apenas como uma

espécie de ombudsman da sociedade. É sim papel dela observar os problemas da

imprensa, até “fiscalizar” (não no sentido repressivo) a conduta dos meios de

comunicação. Mas sem esquecer sua parcela de “culpa” neste processo e sem

ignorar a necessidade de se redimir, de criticar-se constantemente para ajudar de

forma efetiva na construção de um jornalismo sempre melhor, mais útil para a

sociedade, mais ético. Sim, os cursos “pós-universidade” promovidos pelas

empresas complementam a formação. No entanto a grande maioria dos recém-

formados não tem a oportunidade de participar desses treinamentos. Não tem

acesso a esse “complemento” à formação.

73

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75

http://www.fenaj.org.br/arquivos/fnpj2006_texto_meditsch.doc, acesso em: 21 de

novembro de 2006).

75

APÊNDICES

ENTREVISTAS

1. Fred Melo Paiva ....................................................................................................76 2. Douglas Viera .......................................................................................................90 3. Edward Pimenta Júnior .......................................................................................95 4. José Coelho Sobrinho .......................................................................................107 5. Cláudio Tognolli .................................................................................................123

76

Fred Melo Paiva Jornalista do Estado de S. Paulo

Editor do Caderno Aliás

Ex- Aluno do Curso Abril de Jornalismo

Entrevista realizada em São Paulo no prédio do jornal O Estado de S. Paulo no dia

19 de setembro de 2006.

Eu me formei pela PUC de Belo Horizonte e fui fazer o Curso Abril no começo e

1996. Na verdade, eu nem sabia da existência do curso. É impressionante esses

acasos completos da vida. Eu me lembro que eu estava passando, e eu naquela

época namorava uma menina da faculdade, e ela estava me esperando pra ir

embora e ela estava no corredor vendo um cartaz e na hora que eu apareci, ela

falou: Estava aqui te esperando, olha só esse cartaz... Era o cartaz do Curso Abril,

nunca tinha ouvido falar disso, eu nem levei muito a sério, não sei... Eu tive uma

relação com a faculdade que, eu te confesso que não foi a mais séria do mundo. Sei

lá, eu tava ali [risos], tava ali freqüentando a faculdade. Eu freqüentei a faculdade de

uma forma que não foi muito mais do que eu ter freqüentado a faculdade. Não foram

anos tão sérios de estudos. Poderiam ter sido um pouco mais, e eu até hoje, me

arrependo um pouco.

A minha vinda aqui pra São Paulo, a minha vinda pro Curso Abril em 96, teve um

pouco desse imponderável, uma certa atitude um pouco inconseqüente ali naquela

fase de faculdade. Então eu namorava uma menina e ela tava um dia me esperando

no corredor de uma aula que tinha que terminar ali e tal, e quando eu cheguei, ela

tava de bobeira olhando pra um cartaz que era do Curso Abril e falou “ah, olha isso

aqui”... um curso, tipo um caça talentos e eu então resolvi mandar uns textos, até me

lembro que nem isso eu levei muito a sério, porque eu mandei esses textos no último

dia, ainda liguei pra saber se já tinha passado o prazo, se não ia dar mais tempo, e

ela falou “não, o que vale é o carimbo do correio [risos]”. Enfim, daí eu mandei os

77

textos e fui selecionado pra fazer o curso, fiz o curso e daí eu me mudei pra SP meio

sem ter me decidido inclusive se eu queria ou não me mudar.

Vim trabalhar na Playboy depois do curso, terminou o curso, eles me chamaram pra

ficar. Da Playboy eu fui pra Veja e daí eu fui ficando e aqui estou [como editor do

Caderno Aliás do jornal O Estado de S. Paulo].

Qual é a importância do Curso Abril pra sua formação?

Eu acho que o curso pra mim ele teve vários benefícios e eu acho que em grande

medida eu acredito que ele tenha sido tão importante pra mim pelo fato de eu ter

feito realmente mau a faculdade. Em primeiro lugar, o curso me ofereceu um contato

com gente muito boa do mercado, que o curso de Jornalismo, em geral, não traz.

Você tem por exemplo num curso de Direito, os melhores caras do Direito, as

melhores pessoas em exercício: juízes, juristas e tudo mais... eles são professores,

e isso é importante pra eles, existe um certo glamour, status profissional pra quem

leciona. Isso acontece em diversos cursos, e com o jornalismo não. Quer dizer,

acontece muitas vezes de você está, claro que tem várias exceções, mas você está

aprendendo justamente com quem não se colocou no mercado ou por um motivo

que decidiu não exercer realmente a profissão. Até porque é difícil fazer as duas

coisas ao mesmo tempo. O trabalho no jornalismo é muito intenso, é muito

trabalhoso, são muitas horas de trabalho. Então eu acredito que isso de alguma

forma também impossibilita. Agora, não tem essa relação com quem trabalha, com

quem está na ativa com a universidade. Então, quando eu cheguei aqui e isso fica

ainda mais agravado pelo fato de eu ter estudado em BH, quer dizer, o jornalismo é

muito concentrado, o legal dele está aqui em SP. Então, isso ficava ainda pior lá

[BH]; as pessoas que estão na universidade lá são as pessoas que de repente não

estão trabalhando com jornalismo lá. Então isso ainda piora as coisas. Então, isso

no Curso Abril foi a primeira coisa que me impressionou. Eu tinha lá, o melhor do

Jornalismo brasileiro, ou pelo menos um pedaço do bom jornalismo brasileiro estava

lá, e era uma época em que a Abril concentrava muita gente boa, sempre tinha dois

ou três numa redação que eram grandes figuras do jornalismo. Tinha redação que

tinha vários, como era na da Playboy. Quando eu tava na Playboy trabalhava o

78

Ricardo Sette, o Humberto Werneck, o Irlando Berão, Guilherme Cunha Pinto, era

uma turma muito boa. Então esse foi meu primeiro impacto, você ter aquele contato

com pessoas muito interessantes do Jornalismo e depois você ter contato realmente

com o jornalismo como ele é feito. A faculdade de jornalismo também é muito

distante disso, da realidade lá. Eu, por exemplo, tinha aprendido um ano antes a

trabalhar com lauda de jornal. Foi a única vez que eu tive contato com isso na minha

vida, com aquele papelzão... nem lembro mais direito como era, mas eu tive contato

com aquele papelzão do jornal, quer dizer, isso não existia mais, naquela época já

não existia, e era em 1995, já tinha computador.

O que você aprendeu no curso que deveria ter sido discutido na universidade?

O Curso Abril dura um mês, é um “intensivão”. Você chega lá no primeiro dia, a partir

dos textos que você mandou, eles já decidem pra qual redação você vai e você fica

metade do seu dia trabalhando naquela redação e um pedaço do seu dia você

produz uma parte de uma revista que em conjunto, o grupo todo que foi selecionado

pro Curso Abril, aquelas várias pessoas nas várias redações vão fazer uma

revistinha no final do curso. Então você chega lá, você não conhece ninguém e

depois de um mês você produz uma revista. É um curso muito intenso, pelo menos

antes era, tinha uma carga horária muito puxada, você tinha palestras de manhã,

enfim, você trabalhava de 7 da manhã às 11 da noite.

Eu acho também que eu não aproveitei o que a faculdade me deu também. Eu tenho

uma culpa no cartório, mas eu acho que em um mês, eu não sei e eu posso dizer

que eu aprendi em um mês mais do que eu aprendi em quatro anos, mas foi muito

intenso e muito interessante, porque você tinha durante um mês pelo menos uma

palestra por dia de um grande jornalista. Ia lá por exemplo, o diretor da Veja pra ficar

falando durante 3 horas e respondendo as perguntas que você quisesse fazer. Quer

dizer, em um mês, você tinha 30 disso. Eu não tive 30 disso na minha faculdade em

4 anos. Só falando de palestras... Eu não entendo, eu acho que a universidade

poderia pelo menos levar gente pra falar, tudo bem se tem essa distância, que aí eu

acho que a gente vai acabar caindo na questão da obrigatoriedade do diploma, é

uma coisa. Agora, isso podia ser incrementado com gente que vai lá falar, visitas

79

que você faça aos lugares, eu acho uma basmaceira, eu acho a faculdade de

jornalismo uma coisa estática e paralisada.

Eu me arrependo de não ter aproveitado um pouco mais os cursos que me davam

uma noção geral das coisas. Eu devia ter aproveitado um pouco mais o meu curso

de semiótica. Agora, eu acho que a parte técnica, eu não sei se eu perdi muita coisa

do que eu aprendi ou deixei de aprender no caso. Eu acho muito distante da

realidade e acho pouco preparado o pessoal que tava lá pra me ensinar. Eu estou

falando o meu caso em particular, mas ele deve ser... sei lá, afinal era uma PUC de

BH, quer dizer tava de bom tamanho. Minas Gerais tem uma super tradição de

jornalismo, embora feito aqui (SP), mas tem uma tradição de jornalismo, de

literatura, de texto... e eu não acho que eu tenha aprendido nada disso lá.

Você diz que “culpa que você tem no cartório”. Vendo a realidade da universidade e do mercado de trabalho, o que você teria feito, mesmo que por fora, enquanto estava na faculdade? Teria lido mais por exemplo?

Quando eu falo que tenho um pouco de culpa no cartório, é que eu acho que

acontece o seguinte, é a minha experiência, eu só posso falar dela. O que eu acho

que acontece é que tem primeiro, a faculdade de jornalismo, de comunicação, tem

um clima de muita liberdade, é muito solto, não tem uma rigidez, tem essa tradição

quase hippie de se fazer curso. A moçada não tem freqüência, toma cerveja nas

festas dentro da própria faculdade, toca um violão. Na minha faculdade, as pessoas

fumavam maconha sempre dentro da faculdade, tinha uma sala pra isso, que não

era usada pra nada. Enfim, você pega esse clima e junta a isso o fato de ser uma

faculdade, eu acho que você poderia aprender as técnicas daquilo muito

rapidamente. E na verdade o eu e forma como um bom jornalista são outras coisas

que não estão lá. Eu acho que você deveria ter um ano de técnica (o lead existe pra

isso ou pra aquilo), e depois se você tem interesse em economia, você vai estudar

economia pra aplicar isso; se você tem interesse em cultura, você vai estudar isso,

você vai estudar história a arte... Agora do jeito que é feito: você fica aprendendo

aquelas técnicas e um certo conhecimento geral é uma coisa que acaba caindo

naquilo de que você finge que está ali fazendo uma faculdade realmente séria, que

80

você precisa se dedicar... você finge que faz isso, o professor finge que te dá aula.

Nessa fase da vida, você tem 22 anos de idade, 23, 19, 20, você não está tão

preocupado, você acabou de cumprir uma grande tarefa, o segundo grau, finalizar

os estudos, fazer um vestibular, pô, você está cansado, né?! Você saiu daquele

terremoto e você passou, você foi aprovado, então você dá uma relaxada e aí você

encontra um ambiente onde tudo é tranqüilo... sabe, então é tudo muito propício pra

você fingir que você estuda e o professor fingir que te ensina alguma coisa.

Eu passei 4 anos falando de futebol, tomando cerveja... eu me arrependo, me

arrependo mesmo! Agora, eu não sei, algumas pessoas pode ser que tenham

aproveitado um pouco melhor, mas eu acho que está errado. Eu acho que uma das

coisas que contribui pra esse aspecto do curso de jornalismo é a obrigatoriedade do

diploma. Essa discussão é muito acirrada no jornalismo, dá pra presumir que deve

ser porque é possível fazer sem o diploma; até porque antes da ditadura só se fazia

sem diploma. Então, dá pra fazer sem diploma, né? Se não fosse obrigatório, eu

acho que os cursos de jornalismo não morreriam, eles teriam que ser melhores, eles

teriam que te dar alguma coisa pra que você falasse “eu vou fazer esse curso”,

porque senão ele iria deixar de existir. Eu acho que quem briga pela obrigatoriedade

do diploma... é uma briga corporativista, é coisa de sindicato de jornalismo, que é

outra coisa também que eu acho uma bobagem... quer dizer, sindicato tem que

existir, briga aí pelo nosso salário e tudo mais. Mas eu acho que é corporativista,

porque poxa, é claro que o economista entende de economia e se ele souber

escrever, ele pode aprender, se ele for um leitor de jornal, ele começa a entender

como aquilo ali é feito, ele pode fazer também. Agora acho que deveria existir uma

escola forte, porque aí você discute outras coisas, você tem uma discussão sobre

ética, que é legal, uma discussão sobre as técnicas, um conhecimento melhor, mas

não 4 anos discutindo isso sem se aprofundar exatamente em nada, sem que as

pessoas sejam preparadas pra te ensinar. As boas pessoas estão no mercado, por

isso que todo mundo diz que você vai fazer faculdade na hora que você vai

trabalhar.

Então você acredita que a universidade não cumpre o seu papel? Porque se o diploma é obrigatório, pressupõe-se que o aluno vai sair preparado, o que não

81

acontece, tanto que surgiram cursos como o da Abril para preparar melhor esse aluno recém-formado para o mercado de trabalho...

Eu acho que não cumpre mesmo, e uma das razões de não cumprir é a

obrigatoriedade do diploma. Isso garante que as faculdades vão ter córum, que você

vai fazer um vestibular pra jornalismo se você quiser ser jornalista. Então isso só

pode tornar o curso pior. Eu acho que o curso cumpre uma função de oferecer

oportunidades de você ter um pouco mais de conhecimentos gerais, de você

aprender razoavelmente a técnica do jornalismo; acho que cumpre essas funções.

Mas não dá pra dizer realmente eu cumpre pelo nível das pessoas que chegam no

mercado. Mesmo as pessoas que chegam no Curso Abril de Jornalismo, eles fazem

uma seleção. É um caça talentos de faculdades, eles fazem uma seleçãozinha legal,

é super bem feito. Mas quando essas pessoas chegam na redação, mesmo vindo

dessa peneira e tudo mais, aí é que eles vão aprender, aí é que ele vai ter contato

com alguém que realmente está trabalhando com aquilo na comissão de frente.

Então na sua opinião é fundamental que exista um curso como o da Abril, já que o aluno não está preparado pra ir direito pra uma redação?

Olha eu não sei, se não existisse o Curso Abril, você também iria aprender, na

verdade o Curso Abril é você aprender na prática. Pode ser que o Curso Abril um dia

deixe de existir. O que eu acho que vai sempre continuar existindo enquanto tiver

essa história a obrigatoriedade do diploma é você formar as pessoas no exercício

mesmo da profissão. É o que não acontece com um engenheiro (o cara não vai

construir um prédio, o prédio cai, mas tudo bem, ele vai aprender, aí vai, faz outro).

No jornalismo é assim, a pessoa vem, você fica, dá uma notinha pra pessoa fazer,

enfim, você forma a pessoa. E no geral, e aí eu falo por experiência própria, apesar

de eu ter aproveitado muito mau a faculdade, eu sempre escrevi muito bem, e isso é

de casa. Eu tinha isso, meu pai é publicitário, escritor. Então eu acho que eu sai de

casa e vim trabalhar na Abril, passei pela faculdade, sei lá o que aconteceu lá [risos].

Falei de futebol, me diverti um pouco. Burro! Poderia saber um pouquinho mais de

semiótica. Eu gostava de economia, porque eu tinha um grande professor de

economia, mas foram conhecimentos que eu tive que se eu não tivesse feito a

82

faculdade eu acho que teriam ou dado na mesma ou talvez eu tivesse feito coisas

mais interessantes do que tomar cerveja no C.A. (o que hoje eu acho chato); deveria

ter viajado por exemplo.

Você não acha que esses problemas da imprensa pronta não decorrem da má formação acadêmica?

Eu acho que em partes sim. Eu acho que se a formação fosse melhor, você teria

uma empresa melhor. Agora, o que eu vejo é uma coisa totalmente separada da

outra. As pessoas chegam aqui e quando elas começam a trabalhar, me parece que

é aí que elas vão receber realmente o treinamento necessário para o exercício

dessa profissão. Trazem umas noções, são pessoas com algum conhecimento geral

mais interessante. A faculdade não é de todo desnecessária, mas eu acho que aqui

ela recebe seu treinamento fundamental. Eu acho que a imprensa acaba pagando

por essa formação. Aqui no Estado e na Abril eu tive pouco contato com o pessoal

que acabava de chegar, até porque eles têm uns níveis de seleção, como o curso

Abril. De qualquer jeito, quando a pessoa é colocada ali na redação, ela já foi

recebida pela empresa de alguma maneira e já foi de alguma forma trabalhada. Eu

tive contato maior com gente realmente muito nova, que tinha acabado de sair da

faculdade ou que estava ainda na faculdade no período em que eu trabalhei na Trip

e o que eu percebia no geral eram pessoas que estavam simplesmente passando

pela faculdade, muitas vezes eu tinha dificuldade de entender porque aquelas

pessoas tinham escolhido fazer aquilo e eu acho que isso é um defeito que eu não

sei como solucionar, porque eu por exemplo, fiz primeiro publicidade, aí eu não

passei, aí eu fui fazer um curso de um ano de desenho industrial, e aí eu fiz

jornalismo. Se você olhar essas coisas, elas são aparentemente, por exemplo, a

publicidade tem algum parentesco com o jornalismo, mas eu acho que isso é

aparente, na verdade eu acho que é absolutamente contrária uma coisa da outra.

Hoje eu olho e falo “Porque eu fiz isso?”, imagina se eu tivesse passado. Então, eu

acho que a gente é muito novo na hora que a gente toma essa decisão.

Antigamente, as coisas aconteciam mais cedo; eu acho que a gente está vivendo

mais. Hoje em dia se você casa com 35 anos é normal. Meu pai casou com 20 e

minha mãe com 19 e era normal pra eles; hoje é quase um absurdo. Então quer

83

dizer, você tem 18 anos de idade, você, pô, eu tenho um filho de 14 anos e quando

eu penso que de repente daqui 4 anos ele vai ter que escolher o que vai ser vida

dele, porque muitas vezes você escolhe, vai fazer e aquilo determina o caminho.

Então, é um pouco assustador. A chance de você realmente errar completamente é

muita. Então eu sentia isso bastante do pessoal que chegava lá. Às vezes eu

realmente não entendia, porque eram pessoas eu não estavam afim de ler nada,

que não estavam afim de escrever, que escreviam tudo errado. Porque eu sinto isso

muito comigo; eu talvez tenha feito um caminho que eu não precisei da faculdade,

que eu de alguma forma quase que pulei a faculdade, mas por um outro lado, eu

gosto muito do que eu faço, eu gosto muito de escrever, eu gosto muito de falar de

jornalismo, de relacionamentos com jornalistas. É claro que isso te forma, se você

gosta daquilo, você lê aquilo e você fica ligado naquilo. É como você gostar de

música; se você gosta de MPB, você começa a se ligar e querer saber mais sobre

Caetano, quem foram os tropicalistas. E eu acho que assim é com tudo; se você

gosta de futebol de arquitetura.

Então muitas vezes o que eu via eram pessoas totalmente desinteressadas, não

estavam afim daquilo. Por um outro lado, eu acho que a escola tinha um atrativo de

ser essa coisa meio relax. Isso colabora muito pra pessoa gostar daquele clima de

liberdade que é gostoso, mas... ao mesmo tempo a escola não te exige. Sabe, eu

acho que se você for um engenheiro, se você não gostar daquilo, você vai embora,

porque no primeiro ano você tem logo de cara cálculos, matemática. Se você for

médico, você vai passar dez anos estudando e você não pode mais parar de

estudar, que as coisas se renovam. Então, ou você gosta daquilo, ou você vai

desistir. O fato é que a faculdade de jornalismo nunca coloca essa questão: será que

eu desisto... e aí você vai levando aquela coisa fácil e tranqüila. Aí na hora que você

cai na redação, você vai ver se você gosta... e você fica tentando, tentando... Eu

acho lamentável. Olha, tem gente que eu conheço, que trabalhou comigo na Trip,

que está hoje aí no mercado, há dez anos trabalhando, com 30 anos de idade, e até

hoje separava sujeito do predicado e nunca tinha atinado pra gramática daquilo. As

pessoas escrevem errado; as pessoas não sabem pôr vírgula, trocam ç por ss, é

básico. O problema das pessoas novas que chegam, não é que elas tenham uma

concepção tal de jornalismo que faz com que ela seja uma cabeça que não pensou

muito sobre isso ou aquilo, ou então que o problema dela é que ela faz um lead que

84

ou não informa nada ou é aquele lead padrão, a pessoa nunca sai daquilo, nunca

experimenta uma coisa nova. Se o problema fosse esse, estava bom, o problema é

que as pessoas não sabem escrever e não têm cultura nenhuma. Porque a

faculdade não te deu isso. Ela dá um certo conhecimento geral, agora, a pessoa cai

e vai trabalhar no Caderno 2 ou na Ilustrada, ela não sabe nada de história da arte,

ela não aprendeu isso. Economia, ela não aprendeu, pode ser que tenha uma visão,

mas muito superficial. A faculdade não dá e nem estimula.

Quando eu cheguei na Playboy, o Humberto Werneck chegou e falou assim: “eu vou

te dar um livro por semana; uma indicação, isso aqui e porque você deve ler isso”.

Literatura. E isso ele fez comigo durante um ano. Isso aí não tem preço, eu acho.

Faculdade de jornalismo não faz isso. Todo mundo te fala: “você precisa ler”. Então

porque que a faculdade que você pagou, não alguém que faça isso. Vai lá, pede pro

Humberto Werneck a listinha de um ano e entrega para os alunos que quiserem. É

uma coisa que não precisa de dinheiro, precisa só ter vontade, desejar fazer coisas

legais para os alunos. Mas, pó, não deseja, vai daquele jeito mesmo, está lindo, está

bom do jeito que está. E vai jogando gente no mercado e quando as pessoas

chegam é isso. Quando o cara estuda direito, ele pode não ter cultura literária, ele

pode não entender de história da arte, mas ele entende de direito, ele sabe a história

do direito, ele conhece uma coisa. Quando o cara sai de uma faculdade de

economia, ele conhece uma coisa. E quando um cara sai de uma faculdade de

jornalismo, ele conhece de generalidades, às vezes nada, às vezes absolutamente

nada, porque mesmo das generalidades a escola não obriga ele a saber. Pelo

contrário, a escola é totalmente “free” e todo mundo pode fazer o que quiser. É legal

isso, é uma coisa bacana, só que eu não sei se funciona quando a gente tem 20

anos de idade, sendo que 22 anos de idade hoje em dia talvez corresponda a 17 de

30 anos atrás.

Com relação ao Curso Abril de Jornalismo, você tem alguma crítica a fazer ao “jeito Abril” de fazer jornalismo?

O que aconteceu com a Abril que eu acho que é uma pena é que a Abril abriu mão

de muita gente boa. Eu não tenho crítica a fazer sobre o Curso Abril que eu fiz e não

85

tenho crítica a fazer do período que eu passei na Abril, apesar de ser uma

“empresona”, uma firma, e quanto a isso a gente pode ter várias críticas. Hoje eu

estou aqui também e é uma firma né? Então aí já podemos criticar as firmas né? E

isso foi um dos motivos de um dia eu ir trabalhar na Trip, que era no fundo do quintal

de uma casa e eu ia trabalhar de bermuda e boné. Eu achava aquilo excelente, a

gente podia fazer o mesmo jornalismo, legal, tinha dinheiro pra fazer, tinha tudo. E

isso numa certa época da minha vida me encantou muito. Então eu tenho essa

crítica de firma, é uma coisa que você tem que entrar com seu crachá, às vezes

você não tem absolutamente nada pra fazer, mas você tem que ficar até às sete da

noite, porque se “eu for embora às quatro vai ficar chato...” E isso é burro né?

Porque se eu fosse embora ás quatro eu ia de repente assistir a um filme e ia ter

uma idéia... porque a gente vive de idéia. O jornalismo vive em grande parte de

idéias; vive de notícias, mas vive de idéias, de como você trata a notícia, do que é

uma notícia.

Eu acho que o jornalismo ainda vive muito nesse esquemão de firma, que não

deveria ser. Eu acho que as pessoas deveriam estar mais soltas, circulando. Os

jornalistas ainda estão muito apegados a esse tratamento de funcionário de firma.

Então eu tenho essa crítica a Abril que é a mesma que eu poderia ter com o

Estadão.

Eu acho que a Abril teve um movimento que eu acho uma pena de um certo

esvaziamento das redações. Todas as pessoas que estavam na Playboy há dez

anos não estão mais. Eu não conheço mais ninguém quase lá. E teve uma mudança

de rumo que aconteceu em muitas das redações que foi uma certa supremacia dos

administradores de empresas, dos consultores. Antes, as empresas jornalísticas

eram administradas por pessoas do jornalismo, ligadas diretamente à notícia. E

quando isso passou a não ser pensado mais do ponto de vista da notícia, do

jornalista, ele passou a ser pensado como um produto, apenas e cada vez mais.

Então, teve uma certa etapa, por exemplo, isso vem acontecendo há mais um

menos uns dez, sete anos, que é o lance do serviço, a revista tinha que prestar um

serviço. Então, a reportagem foi perdendo espaço e você tinha que por exemplo

ensinar o homem como se passa a gola de uma camisa. Então, algumas páginas da

revista passaram a ser uma espécie de um guia, uma coisa que você possa usar

86

efetivamente, seja uma receita de alguma coisa numa revista feminina, por exemplo.

Então, isso fez com que a reportagem perdesse seu espaço, os grandes repórteres

perdessem seu espaço, o jornalista perdesse o espaço para um outro tipo de coisa

que não é exatamente jornalismo né. Junto com essa história do serviço, veio a onda

das celebridades, uma supremacia imensa daquilo. Então, isso tudo são espaços

meio de para jornalismo, quer dizer, é um jornalismo, mas não aquele pra qual a

gente se formou e quis fazer. E a Abril capitaneou de certa forma esse processo. A

Veja, que era recheada de muita gente boa e uma revista muito relevante do ponto

de vista jornalístico, mudou de público. As pessoas desgostaram; perdeu um pouco

a importância. A Playboy, onde eu trabalhei, isso é muito claro. Ela era uma revista

incrível. Tinha aquela fórmula mágica de você ter a mulher e do lado você tinha que

ter uma coisa muito boa pra justificar o fato de a revista estar no seu criado mudo,

eram as matérias do Werneck, por exemplo. Isso era feito desse jeito e de repente

isso foi esvaziado, não tinha mais importância; eles queriam era dar um monte de

serviço e tirar mais a roupa das mulheres. E isso fez a revista ser pior; eu acho que a

Veja ficou pior. Não tinha tanta capa de televisão; a televisão não tinha tanta

importância; ela ganha importância com o lance das celebridades. O jornalismo

sofreu muito com isso e muito capitaneado pela Abril. Se você for ver a Realidade,

ela não tem nada de serviço e nada de celebridades.

A Veja tem um jornalismo opinativo. Aí você vê novamente a distância entre a

faculdade e a realidade das coisas: não existe essa imparcialidade no jornalismo e

ela é mais explícita nos lugares. A Veja tem uma opinião e isso faz parte da fórmula

dela. Quer dizer, ela precisa te dar uma opinião pra você abrir a semana e poder

sentar com alguém, discutir e ter opinião. Então, ela realmente confere opiniões de

determinados assuntos que podem não ser seu.

Na maioria das vezes, você lê aquilo que está alinhado com o seu pensamento. A

Veja acaba formado determinado grupo de leitores alinhado com aquele

pensamento. Isso realmente acontece lá e às vezes os jornalistas se assustam,

porque está incutindo ali um pensamento que não é o seu de repórter. É uma

redação muito hierarquizada, e você não perde o controle sobre aquilo que você

originalmente escreveu, tanto em matéria de formato de textos, quanto dessa

opinião, que não é uma opinião do repórter ou de uma pessoa especifica. É uma

87

opinião da Veja, que não sei de onde vem [risos]. Ela vem de esferas muito

superiores. Mas ela tem um pensamento e isso é muito claro. O motivo pelo qual eu

saí de lá tem mais a ver com essa situação hierarquizada e de alguma forma muito

opressora que eu não me encaixava. Não consegui me dar bem com isso e preferi

sair.

Você fala da universidade enquanto um espaço de muita liberdade, enquanto você fala também dessa coisa rígida do jornal como firma. Você acha que teria que inverter isso?

Eu não acho que teria que inverter isso não. Eu não posso falar mal dessa liberdade

da faculdade. Apesar de a gente estar envelhecendo cada vez mais tarde, eu acho

que quando você chega numa faculdade, você deve ter uma responsabilidade sua

com aquilo. Eu não consigo condenar isso. Eu acho que o problema é quando você

junta isso com uma faculdade que o que ela pode te ensinar não vai ser tão útil pra

você. Aí é uma fórmula perfeita pra você não fazer nada né, nem você, nem seu

professor, nem a Instituição. Não tem uma pressão do mercado pra que uma seja

melhor que a outra.

Se você não tem a obrigatoriedade do diploma, as escolas vão ter que se mexer,

vão ter que formar gente melhor. Eu acho que não vai ser sendo mais rígida, embora

eu ache que deveria ser um “grauzinho” a mais. Eu fazia prova em casa, não tinha

freqüência, não se exigia realmente nada. Então eu não sei se isso funciona pra um

estudante. Eu acho que deveria ter algum nível de avaliação até pra você sentir se

determinadas pessoas podem progredir ou se elas devem voltar e refazer. Eu acho

que isso ta dentro de um cronograma de qualidade que vai servir de peneira pra

depois ver quem é que vai ser jogado ali no mercado.

Então eu não consigo condenar a questão da liberdade que você tem na escola,

mas eu acho que é um prato cheio quando você junta isso a uma coisa que de certa

forma não tem uma utilidade decisiva na sua vida. É das poucas faculdades que

você pode fazer absolutamente nada e ser um bom profissional ou pelo menos ter

um emprego. Eu sou um exemplo, pelo menos eu tenho um emprego, e um emprego

88

bom. Trabalhei na Playboy, na Veja, na Trip e agora no Estadão e passei no Curso

Abril. Não fiz nada. Mas eu tive uma coisa em casa.

Eu tenho certeza que as discussões de lead, um pouco do que é notícia poderiam

ter sido feitas em seis meses, em um ano. O perfeito pra mim seria que metade ou

menos desses quatro anos tivesse sido uma coisa técnica. E aí não só técnica,

alguém de jornalismo tivesse contado um pouco da história, o que foi a tentativa de

se fazer a república que o Mino Carta fez, o que foi o Jornal da Tarde dos anos 70,

que me contasse o que foi Pasquim, o que eles inovaram, que me contasse o que foi

jornalismo literário. Eu não tive nada disso, ninguém me falou sobre isso. Isso é o

que desperta amor à profissão. Ou você vai ficar delirando com a história do Mino

Carta, do Jornal da Tarde dos anos 70, ou você não vai ficar delirando, você vai

sacar que você não gosta daquilo. Eu acho que as pessoas estudam o jornalismo

sem ter nem condições de saber se gostam ou não de jornalismo. Não te

apresentaram a história daquilo, não te levaram pra falar um grande jornalista. Como

você vai saber se você gosta ou não?

Você junta a liberdade com uma coisa um pouco inútil. Ao mesmo tempo pra

sociedade, pra sua família, você está na faculdade. Então você é aceito, você ganha

um carro, a faculdade é um ambiente legal, cheio de mulher, cheio de gente legal,

festas, então você vive aqueles 4 anos assim.

A crítica em relação à firma, eu acho que é uma crítica utópica. Eu acho que um dia

talvez vá ser assim, mas eu acho que deveria ser, um pouco contra o jornalismo.

Você fica fechado várias horas do dia numa redação. Eu acho que você deveria vir

aqui quando fosse estritamente necessário: quando você precisar escrever e usar o

telefone; se reunir com as pessoas pra ter idéias. Fora isso, você não tem o que

fazer aqui. Então fica um monte de gente em frente do computador, usando msn,

orkut até às sete da noite, que é a hora de embora... enfim, como tem em toda firma.

Mas você vê, a Apple não tem isso. Eu não sei o que viraria o mundo se todo mundo

fizesse isso. Provavelmente aqui no Brasil, ia virar uma “zona”, com a produtividade

das empresas caindo a zero, porque aqui no País é tudo uma avacalhação

completa, que já é uma avacalhação da base. Então, não sei o que iria acontecer.

Talvez o cara saísse daqui e fosse pra um boteco tomar uma cerveja e jogar sinuca.

89

Aí é melhor ele ficar aqui. Mas na Apple o cara vai trabalhar de bermuda, chinelo e

faz o seu horário. Mas eu acho isso muito interessante particularmente no

jornalismo, porque sempre que você sai da redação, no meio do dia, pra fazer

qualquer coisa, no mínimo, você vê o mundo de tarde e o mundo acontece à tarde

também. Você assiste TV à tarde, você fica impressionado. Esse universo é de uma

ignorância, de uma burrice, e você, como um jornalista, é interessante você ver

aquilo, fazer suas criticas e talvez isso te dê alguma idéia. São coisas que você pode

fazer; são visões que você tem do mundo. Você olhar os shoppings de tarde, o que

fazem aquelas pessoas à tarde andando no shopping, olhar um pouco os

vagabundos da cidade.

Eu sou editor do caderno, eu tenho um horário, embora ele seja maleável, eu posso

sair, ninguém me impede, mas eu sinto que eu preciso ta ali, e eu só saio daqui

quando eu vou fazer matéria. Então eu acho que isso não é legal.

90

Douglas Viera Diretor de Redação da Revista Simples e da Agência Wide Publishing

Ex-aluno do Curso Abril de Jornalismo

Entrevista realizada em São Paulo no pátio do escritório onde funciona a Editora

Wide e a Revista Simples no dia 19 de setembro de 2006.

Como o Curso Abril contribuiu para a sua formação?

O curso Abril contribuiu para a discussão da parte prática, o que não tem muito

durante faculdade. A gente tem a parte de produção de texto, edição de texto, mas

a parte prática, de vivência de outras áreas do jornalismo é mais fraca na faculdade.

Falta uma vivência mais ampla. A gente vive só a parte de redator, de jornalista, de

repórter e não todo o funcionamento, a parte gráfica, o contato com a parte de

design, fotografia, pensar a matéria revista como um todo, que isso é a vivência que

a gente tem presentes no Curso Abril e em outros cursos como curso da Folha,

curso do Estado. Eu acho que essa é principal contribuição, ter uma vivência exata

do que é e como será no mercado e não propriamente só produzir textos. Você

chegou lá através de um texto, mas você chega lá e cada um tem uma função mais

dentro de outros aspectos, e tem algo que você tem que correr atrás de produção,

correr atrás de tudo, não ficar só preocupado em entregar a sua matéria no prazo.

Eu acho que esse é o principal, a dinâmica completa do trabalho do jornalista e não

acho que é extremamente necessário que você esteja totalmente despreparado

quando você sai a faculdade, mas eu acho bacana quem consegue e acrescenta

muito. Preparado você não sai da faculdade mesmo, de nenhuma forma, e nem sai

do curso de jornalismo preparado. Você vai se polir. O curso foi bom porque lá eu

cometi vários erros, os quais não cometi depois, mas cometi outros e vou continuar

cometendo...até ir aprendendo com cada um deles, mas o curso é bom porque a

hora que você pode ir, vai ter um compromisso de entregar um produto pronto ou

que seja uma reportagem para uma revista específica ou um produto novo a ser

91

desenvolvido desde o projeto editorial, projeto gráfico. Você pode errar, tem

cobranças como se fosse uma redação, mas no final é só para aprender mesmo.

Você teria um exemplo do que você aprendeu no curso que na sua opinião já deveria ter sido discutido na faculdade?

Acho que é o que eu te falei, o jornalismo de forma mais ampla, não só a parte de

redator. Lá é a vivência completa, desde a parte de edição. Porque eles separam em

editorias que nada mais são do que grupos formados por designers, jornalistas e

fotógrafos. Todo grupo tem essa estrutura e você tem que pensar em tudo sem

auxílio de alguém. Você tem sim a supervisão e orientação de outros jornalistas ou

editores, mas você tem que o tempo inteiro pensar na matéria como um todo ou na

revista como um todo, você tem que se preocupar com a edição, como isso vai ficar,

no diálogo com a foto, diálogo com a imagem, é um processo de integrar arte e

texto, você não se preocupa só com a parte de texto, você se preocupa com o que

você tem que fornecer de informação para o cara que vai fazer as fotos, depois

pensar como isso vai funcionar na imagem, seu texto interagindo com aquilo, é uma

oportunidade que você tem para pensar numa coisa ampla. Na faculdade você faz

muitas vezes as matérias, você mesmo layout, mas é uma coisa separada da outra,

é muito segmentada. Você escreve, joga um layout “tosco” e faz as fotos, mas sem

discutir como as coisas dialogam entre si. Até o meu trabalho de conclusão foi isso,

uma proposta de revista em que o texto e a arte trabalhassem integrados. Mas isso

na faculdade eu senti falta. E nesses cursos, especificamente no da Abril que é de

revista, normalmente você tem que pensar desde o começo já levando em

consideração arte, texto e foto, diferente de um jornal o qual você tem uma

preocupação menor com isso, as coisa vêm separadas, junta e assim vai. Isso eu

acho que é o que tem de mais importante, que a gente aprende lá, porque você tem

durante um mês uma convivência extrema com fotógrafos e designers, todos os

dias, o dia inteiro, você vira noites naquilo, é uma loucura, mas é diferente da

faculdade onde você só tem contato com outros jornalistas.

Você considera que foi indispensável então esse curso para você?

92

No que se desenvolveu minha curta carreira, foi, mas assim, não quer dizer que

quem não passou por lá não vai chegar num patamar elevado, assim como não quer

dizer que quem passou por lá vai se dar melhor, mas é uma convivência que eu

acho importante. É importante a pessoa sair da faculdade e pensar em entrar em

qualquer um desses cursos, da Abril, da Folha, do Estado, ou outros, por sair da

faculdade e ter a oportunidade de antes e cair no mercado e “apanhar” lá, você

“apanha” um mês mas sendo apenas um curso, no qual você pode errar. Aí é bom

porque você vai cometer um monte de erros e você vai sair de lá pra cometer outros

erros, não repetir aqueles.

Você não acha que isso deveria acontecer na faculdade?

Deveria. Por exemplo, você pega um curso de design gráfico se tiver, é que nem

todas as faculdades têm todos os cursos ligados a comunicação, mas deveria ter um

contato maior entre o pessoal de design com o pessoal de texto, com o pessoal de

foto, pra você ter essa vivência antes de chegar no mercado e se não é possível ter

através dos cursos, que tenha através das aulas. Por exemplo, numa aula de

fotografia, criar uma vivência real de um dia-a-dia de redação e não só a vivência de

quem vai produzir e entregar um texto num tempo curto. Vai ser curto em qualquer

lugar que você trabalhe, mas não é só a parte do texto, porque na faculdade você

passa quatro anos estudando pra ser um repórter, mas você chega aqui e você não

é isso, você tem que estar preocupado com todo resto.

Mas ao sair da universidade você se sentia preparado pra uma redação?

Não. Mas assim, o curso não é indispensável. Acontece que eu iria demorar mais

tempo pra chegar em outro estágio se eu tivesse saído da faculdade e me jogado

direto no mercado de trabalho. Não é indispensável, mas é muito importante. Você

vai ter uma vivência diferente se você passar por um curso desse e vai evoluir mais

rápido. É um intensivo de vida real, não é um intensivo de cursinho, por exemplo. No

Curso Abril você trabalha como se fosse uma redação normal, como se você fosse

93

um funcionário da Abril e isso você passa 4 anos na faculdade sem ter, porque por

mais que seja uma revista da faculdade, é uma exigência menor, você tem

avaliação, é diferente o critério. Lá você está sendo cobrado como profissional.

Os que estão lá já são os melhores. O por que do curso então?

Na verdade eu não concordo muito que quem está lá já é melhor, porque o critério

de avaliação é subjetivo. Eu leio um texto e adoro e outra pessoa pode não gostar.

Eu passei por um critério subjetivo que é a leitura de um texto e depois a avaliação

por currículo. A avaliação por currículo é um pouco mais objetiva. A avaliação por

qualidade de texto é algo que vai muito de cada um. Talvez se outros editores da

Abril tivessem lido meu texto eu poderia não ter entrado. É bem subjetivo, um

critério pessoal, então eu não concordo que exatamente todos que estão lá são

melhores, e nem piores. Outras pessoas também poderiam ter entrado. Falta, na

verdade, na faculdade, uma orientação para isso. As faculdades muitas vezes não

têm a iniciativa de divulgar inscrições para cursos, explicar, investir. Mas só discordo

que necessariamente quem chegou lá é melhor, na verdade são pessoas que se

esforçaram ali, conseguiram passar pelo critério avaliativo, porque tem uma

entrevista bem parecida com uma de emprego, depois da entrega dos textos, mas

assim, é bem subjetivo. São pessoas capazes com certeza, mas não significa que

sejam melhores que as que não entraram.

Você já havia trabalhado com jornalismo?

Já. Já tinha trabalhado em assessoria de imprensa, que a maioria das pessoas

fazem, e também em outras revistas, mas nada comparado com o que eu vivi lá, que

era bem mais forte e intenso. Um “freela” você entrega e acabou.

Você tem alguma crítica a fazer ao Curso Abril?

94

Acho que o critério de seleção teria que ser repensado, talvez. O texto que eu tive

que escrever era sobre eu mesmo. Isso me parece mais universitário do que para

entrar num curso profissionalizante. Acho que poderia ser algo mais específico, te

dar um tema, te dar algo pra você fazer uma reportagem. Não que tenha que excluir

o outro texto, pode ser os dois, mas acho que teria que ter um critério mais objetivo

do que simplesmente a leitura da sua autobiografia. Como te falei, eles gostaram do

meu texto autobiográfico, mas poderiam não ter gostado. Agora se fosse algo mais

objetivo, completo como uma reportagem, veriam se a pessoa cumpriu com tal

expectativa, tal objetivo na matéria, seria um pouco mais justo. Acho que essa é uma

crítica válida e relação ao critério de seleção.

95

Edward Pimenta Júnior Jornalista da Editora Abril

Editor do Curso Abril de Jornalismo

Entrevista realizada em São Paulo no prédio da Editora Abril no dia 19 de setembro

de 2006.

Um pouco da história do Curso Abril...

O Curso Abril de Jornalismo está na 24ª edição, mas ele tem uma história bastante

interessante que remonta o surgimento da revista Veja. Em 1968, quando foi

formada a primeira redação da revista Veja, foi feito um concurso que chamou 1000

jovens jornalistas. Desse total foram selecionados aqueles então que seriam a

primeira redação da revista Veja. Esse concurso, uma espécie de certame, inspirou

muito tempo depois um grande jornalista da história, Roberto Civita, em 1984, a

retomar essa idéia juntamente de alguns professores de universidades da cidade e

do estado de São Paulo e então formalizou aquela que seria a primeira turma do

Curso Abril de Jornalismo.

Naquela época os professores indicavam aqueles que eram os melhores alunos, e o

curso tinha duração de um mês e treinava basicamente jornalistas de texto. E assim

foi até a chegada da jornalista Marilia Scalzo, já na década de 90, que introduziu

uma mudança significativa no curso. A gente passou a selecionar também designers

e fotógrafos. Uma casa revisteira como a Abril não faria mais sentido chamar só

gente de texto na medida em que a arte e a fotografia são conjugadas com o texto

de uma maneira inseparável. É mais ou menos nesse formato que o curso caminha

até hoje, mais recentemente há dois anos, o curso passou a ter um enfoque também

na produção de conteúdos para multiplataformas (internet, celular e outras

plataformas que não só a revista), e esse é o status atual do curso.

96

O curso teve no ano passado 2.700 inscrições via internet. Desse total, nós

escolhemos uma turma de 60 pessoas. Quer dizer, o curso é tão concorrido quanto

alguns dos vestibulares mais concorridos do País. Eles vêm de todas as partes do

Brasil e isso é importante porque os nossos títulos são vendidos em todas as bancas

do Brasil, motivo pelo qual essa diversidade cultural e de formação do profissional

acaba refletindo no produto final. Nós queremos de fato que os nossos produtos

tenham a cara do Brasil todo.

É um curso que dura um mês, um mês e uma semana às vezes. É feito todo aqui em

São Paulo. Quando os alunos chegam, eles recebem uma missão, que devem

cumprir durante um mês. Quase sempre são missões editoriais em multiplataforma.

Ao longo desse um mês, eles também assistem a palestras, workshops, que são

ministradas pelos próprios profissionais da Abril. São os nossos profissionais,

aqueles que fazem as revistas que também são professores. Alguns professores

convidados também são chamados a ministrar suas aulas. É um curso de trabalho

muito intenso; as pessoas viram a madrugada pra poder cumprir as suas missões,

fazem grandes amigos, vivem a atmosfera e o jeito Abril de produzir conteúdo para

revistas, celulares, internet etc. Isso faz do Curso Abril, além de ser um curso de

treinamento em jornalismo intensivo, pioneiro na história do jornalismo brasileiro, faz

dele também um modelo de treinamento que busca todo ano a excelência na sua

qualidade.

O motivo pelo qual nós investimos tanta energia e esforço no Curso Abril de

Jornalismo se justifica pelo fato justamente de que nem todas as universidades

conseguem formar profissionais completos para o mercado. O ambiente acadêmico

é bastante importante na formação do jornalista e nós como uma empresa legalista

só contratamos jornalistas diplomados, porque assim a lei requer. No entanto,

observamos um déficit entre a média do aluno que sai e vai para o mercado e

aquele profissional que nós queremos ter aqui, mesmo entre aqueles que são

selecionados nessa grande batelada de 2.500.

Esse período de um mês e meio é muito importante pra que eles consigam ter a

dimensão do grau de qualidade que nós precisamos nas nossas publicações.

Falamos aqui sobre design de revistas, sobre web design, sobre redação e estilo,

97

sobre ética, sobre marketing, sobre as mais diversas disciplinas que estão ou

deveriam estar consolidadas na formação do jornalista.

No ano passado, 40% dos alunos do curso foram absorvidos pela Abril, quer seja

como treinees, como contratados ou como freelas. E muitos dos que não ficaram

aqui acabaram indo pro mercado e se colocando em outras empresas do mercado.

O curso é uma porta para o recém-formado entrar na Editora Abril?

Com certeza. Não só pelo curso Abril, como também pelos programas de

treinamento do Estado de S. Paulo, da Folha de S. Paulo entre outros programas

muito concorridos e isso acrescenta bastante no currículo, não só em termos de

experiência como até um determinado prestígio. É verdade que o aluno que passa

pelo Curso Abril aqui dentro é visto com muito bons olhos, porque já teve ali um

treinamento, um banho institucional, que muitas vezes aquele que entra por uma

outra porta, que é igualmente legitima, não teve.

Então o Curso Abril não é a única porta pra trabalhar na editora Abril, mas com

certeza é uma porta bastante e cada vez mais prestigiada.

Como é feito o processo de seleção dos candidatos para o Curso Abril de Jornalismo?

O processo de seleção todo começa na internet. O site recebe o currículo e um texto

que varia o número de caracteres pra cada uma das modalidades (texto, design,

fotografia, multimeios e Radio e TV). As pessoas fazem o upload pelo site do seu

currículo e do texto e também dos arquivos digitais de fotografia. No caso de rádio e

TV e multimeios, mandam pelo correio em formato DVD ou mini DV.

Terminado o prazo das inscrições, no caso esse ano 28 de setembro, nós

começamos o processo interno de seleção que envolve mais ou menos 200

profissionais aqui dentro. Esses profissionais recebem lotes de 10 a 15 inscrições

98

que são avaliados de A a C, e apenas aqueles que recebem notas A ou A+ é que

são chamados para a segunda fase, que é uma fase de entrevista.

A fase de entrevista é feita aqui em SP e em algumas capitais do País, dependendo

da demanda. Se tiver mais gente no Nordeste do que no Sul, se tiver mais gente em

Brasília, fazemos em Brasília e não fazemos em Salvador por exemplo. É o próprio

Hamilton dos Santos, diretor do curso, quem faz pessoalmente as entrevistas fora de

SP. Aqui em SP, nós chamamos alguns diretores de redação, diretores das

principais revistas daqui e eles entrevistam em dois dias de 10 a 15 candidatos cada

um.

Vale dizer que dessa primeira batelada de 2.500, que neste ano esperamos chegar

a mais de 3.000 inscrições, ficam cerca de 200 candidatos pra fase de entrevista. A

decisão e a lista final é feita pelo Hamilton dos Santos, tendo como base a avaliação

feita pelos profissionais da casa. E nós publicamos em dezembro então aqueles que

vão compor a turma do curso.

Quando começa todo o curso já tem um processo muito grande de trabalho desde

quando nós colocamos no ar, até a divulgação (anuncio na revista Veja, comercial

na MTV). Faz parte da estratégia de divulgação do curso uma ampliação do mailing

da revista Plug, que é a revista produzida durante o curso pelos alunos, no meio

universitário, para os alunos, coordenadores, professores de jornalismo etc. Então

há muito trabalho já sendo feito quando o curso começa. A parte de produção do

material que vocês recebem logo no primeiro dia é pensada alguns meses antes. A

Wânia Cappeli (produtora do curso) que já está no curso há anos é uma pessoa que

cuida disso com muito profissionalismo.

Qual é o perfil de candidato que vocês priorizam?

O que eu acho que é fundamental é um bom texto, no caso do jornalista de texto;

um texto que seja claro, conciso, sem erro de grafia e boa articulação de idéias. Isso

é o mínimo que você espera de um texto. No caso dos designers, você espera que

ele tenha um domínio da linguagem bom, que traga bons exemplos de trabalhos e

99

também o texto dele é analisado, é claro que com outros critérios, porque afinal de

contas ele está concorrendo em uma outra categoria. E pra fotografia funciona da

mesma forma, domínio técnico, domínio de linguagem, um domínio conceitual, e

quem analisa isso são os diretores de arte da casa, os fotógrafos; são profissionais

gabaritados.

De uma maneira geral, tanto designers quanto jornalistas quanto qualquer candidato

que venha até nós, o que nós buscamos são pessoas que tenham uma boa

formação cultural, que tenham uma boa vivência, pessoas que tiveram boas

experiências de vida, que conheçam lugares, conheçam culturas, conheçam

pessoas, que falem idiomas, que estejam interessadas, que sejam jovens, porque na

verdade, esse é um curso de atração de jovens talentos. Então nós queremos

pessoas realmente jovens, com idéias. Não queremos um sujeito que esteja

extremamente preparado do ponto de vista técnico, não queremos um jornalista

veterano. Queremos justamente um cara que tenha toda energia, que tenha uma

grande vontade de aprender e que obviamente fale inglês e que tenha conhecido

pessoas e lugares interessantes; que tenha aspirações bacanas, e é basicamente

isso que você acaba vendo nas entrevistas. Você acaba selecionando por aí.

No processo de seleção para o Curso Abril, quais os principais problemas apresentados pelos recém-formados?

Eu acho que tem algumas coisas que se repetem. É muito grave a situação em que

se encontra o texto. Se você considera que a correção gramatical é uma coisa

absolutamente essencial, o domínio da língua, que isso é um ponto que você não

abre mão, ao mesmo tempo você tem uma porção de problemas, você detecta uma

porção de problemas no volume de inscrições que vêm. Nós sabemos que tem

14.000 pessoas sendo jogadas no mercado hoje na área de jornalismo. Se apenas

3.000 desses 14.000 se inscrevem para o curso, ora, você intui que essas são

pessoas que estão antenadas e que estão buscando uma melhor colocação, ou

estão buscando logo de cara um diferencial na carreira. Mesmo entre esses você vê

problemas muito sérios envolvendo a estrutura textual, erros de gramática e

principalmente a falta de clareza na argumentação.

100

O título da nossa dissertação para os alunos de texto é Quem sou e porque escolhi

o jornalismo como profissão. É um tema complicado e é justamente por isso que nós

escolhemos esse tema. Ele requer do candidato um distanciamento pra falar dele

mesmo e ao mesmo tempo argumentar sobre a profissão. O tema propõe um grau

de complexidade real, e muitos textos realmente se perdem no meio do caminho,

justamente porque ele não sabe se ele fala mais dele ou se ele fala mais sobre o

mercado de trabalho etc. Os textos selecionados são os mais criativos, são aqueles

que abandonam aquele formato trivial do texto dissertativo e lançam mão de alguns

elementos de criatividade, às vezes até com um pouco humor. Então as saídas

criativas ultimamente são as que mais prosperam.

Com base no processo seletivo do Curso Abril, que recebe alunos recém-formados de todo Brasil, é possível pontuar falhas no ensino do jornalismo em geral? Quais são essas falhas?

Eu acho que não é um problema dos alunos só do curso de jornalismo. Eu acho que

é um problema muito maior. As pessoas hoje quando vão pra universidade, às vezes

pagam a universidade com muita dificuldade, e não tem da universidade aquilo que

deveriam ter. Eu acho que é um problema da própria conjuntura da educação

superior do Brasil. Então eu não acho que é um problema só do jornalismo. Eu acho

que os médicos também têm esse problema, os advogados também têm esse

problema.

Durante o Curso Abril, como são trabalhados assuntos como ética, interesses financeiros, imparcialidade?

Com palestras dos jornalistas. O próprio presidente da Abril, o Roberto Civita,

sempre tem uma fala no curso, ou no começo ou no final do curso. E a fala dele é

sempre uma fala que atenta para o fato de que a Abril e os seus funcionários e os

seus jornalistas não podem deixar a chama desse bom jornalismo, que vem sendo

praticado há mais de 55 anos, apagar, por qualquer que seja a pressão, por

101

qualquer que seja a situação atual. Então essa é sempre a fala do presidente e em

diversos momentos do curso nós chamamos pessoas pra falar sobre questões

ligadas à ética, não só ética jornalística, mas ética de uma maneira geral, porque eu

não acho que exista uma ética jornalística. Ética ou você tem ou não.

É surpreendente como as pessoas, muitas vezes, que saem das universidades e

que na universidade têm uma visão da empresa, quando chegam aqui dentro e

travam contato com os profissionais passam a ter uma visão muito mais próxima do

que é o real, do que acontece aqui dentro.

Nós somos uma empresa hoje que tem 49 títulos, centenas de especiais, um canal

de televisão aberta segmentado que é a MTV, temos a TVA, temos a revista Veja,

que é a maior revista em circulação na América Latina, a 4ª maior do mundo e que,

por ser uma revista semanal de informação, é uma revista polêmica e tem amantes e

detratores. E quando chegam aqui, os alunos travam contatos com os repórteres da

Veja, com os repórteres da Superinteressante e têm a oportunidade de discutir e de

levantar quaisquer que forem as questões, relativas a essa ou aquela publicação.

Então é um espaço absolutamente democrático, onde as pessoas ficam realmente

muito à vontade para falar sobre o que quiserem durante o curso. É um debate

franco com os profissionais e é surpreendente a maneira como os alunos passam a

compreender melhor como funciona a empresa, quais são os critérios.

No curso vocês chegam a tratar o relacionamento entre a redação e o departamento comercial? Qual é a recomendação?

Aqui a história da Igreja e Estado é uma lei absolutamente intocável. O que se

publica como material editorial, é material editorial, e o que é propaganda, é

propaganda. Não há nenhum tipo de concessão nesse sentido. É um orgulho

trabalhar na Abril por isso, e isso não é fácil conseguir, não é uma coisa que se

conquista de um dia para outro. Para que se possa trabalhar dessa forma, com

independência, você precisa ter nos seus leitores, nas vendas em assinaturas, na

venda de publicidades, o grosso, 100% a sua subsistência. Se você depende de

102

governo ou de interesses de grupos X ou Y você perde a sua credibilidade e daí

então o seu material editorial e o seu material publicitário tende a se confundir.

E aqui na Abril essa velha norma da Igreja e do Estado é intocável. Nós buscamos a

excelência sempre e achamos que é esse material excelente que nos mantém vivos,

que nos mantém sendo a empresa responsável pelas 7 revistas mais lidas entre as

10 mais no Brasil, entre outros números importantes. Esse é o diferencial.

O conteúdo programático do Curso Abril aborda quais “matérias”? Qual ou quais assuntos são prioridade?

Nós normalmente dividimos em módulos, embora eles nem sempre apareçam para

os alunos dessa forma, mas nós temos um módulo em que você passa a saber mais

sobre como funciona a empresa, quantas unidades de negócios ela tem, quais são

os números, quantas pessoas trabalham aqui, enfim uma visão geral do que é a

empresa. Em segundo lugar, passamos as questões mais técnicas, falamos sobre

Redação e Estilo principalmente, fazemos normalmente duas ou três mesas de

redação e estilo e chamamos grandes jornalistas da casa para debater cada um na

sua especialidade, falamos sobre fotografia, falamos sobre design e todas as suas

especificidades, sobre cores, sobre tipologia, sobre tudo aquilo que engloba o design

para fotografia. Ultimamente temos falado muito sobre as novas tendências e

convergência digital. Fora tudo isso, temos as visitas na redação, que são jornalistas

daqui da Abril e de fora; muita gente que trabalha aqui em SP, no estado, em outras

companhias, nós trazemos para a redação Plug pra que eles possam dar uma

palavra e fazer um bate-papo com os alunos. Isso tudo é bastante enriquecedor.

O jornalismo de revista acaba sendo diferenciado por diversas características (periodicidade, profundidade e até estilo). Qual é o diferencial que o profissional que pretende trabalhar nesse segmento precisa ter? E como isso é tratado no Curso Abril?

103

Eu acho que você nunca vai ser um jornalista total, você sempre vai ter algumas

preferências e vai ter algumas áreas de atuação. Mas eu acho que é fundamental

todo jornalista ter uma experiência num jornal diário, ter alguma experiência com

telejornalismo, não necessariamente na frente das câmeras, mas dentro do escrito

pra rádio e TV. E no caso de revista, é claro que tem um respiração de fato diferente.

O texto de revista, como se aprende tecnicamente na faculdade, ao invés de você

ter a velha fórmula da pirâmide invertida em que o grosso das informações está no

lead e depois aquilo vai diminuindo, o texto de revista precisa ser um texto que você

vá contando a história, dosando as informações pra que o sujeito siga na história até

o fim. Normalmente a revista é uma publicação em que o sujeito não lê tão

telegraficamente como lê a internet e o jornal, simplesmente pra se informar. Ele vai

atrás de algo um pouco mais refletido e portanto ele leva para o sofá, pra cama e ele

fica mais tempo com a revista. Tem uma relação afetiva com a revista. Alguns dos

nossos títulos, as missões, que todos eles têm um planejamento editorial, e o

planejamento editorial de algumas revistas é assim: “Essa revista é amiga da mulher

da classe C, por exemplo.” É tão grande essa relação de afetividade com a

publicação revista que isso está expresso nas próprias missões. E aí as pessoas

aprendem a escrever pra revista e abandonam aquela obrigação de dar um texto

que é cheio de informação no lead, e só. Aliás há uma tendência cada vez maior de

você inverter completamente ou até você subverter essa “norma” do jornalismo da

pirâmide invertida. Cada vez mais as pessoas se sentem informadas pelas fotos que

vêem, pelas legendas, às vezes uma bela legenda diz muito mais do que uma

página inteira de texto. Quer dizer, essas coisas vão mudando dinamicamente.

Quando vocês mencionam o “jeito Abril de fazer revistas”, isso inclui um “jeito Abril” de fazer jornalismo? Como isso é apresentado dentro do Curso Abril de Jornalismo?

Nós não nos pretendemos mais éticos ou mais inteligentes do que ninguém, até

porque esse não é o espírito da Abril. O que posso dizer é que eu já trabalhei em

outros lugares e nós temos aqui na Abril um ambiente muito bom, muito gostoso de

trabalho. É um ambiente criativo, com pessoas muito criativas e é isso que eu acho

que talvez se reflita no jeito Abril de fazer revista ou fazer conteúdos para

104

multiplataforma. Eu acho que o bom jornalismo é feito aqui como é feito nas

melhores casas do mundo inteiro. Nós nunca dissemos, não nos pretendemos mais

éticos ou melhores a priori do que ninguém. O diferencial está justamente nas

pessoas que fazem aquilo.

Por quê surgiu a iniciativa de criar uma versão “pocket” do Curso Abril dentro das universidades?

A Semana Plug de Jornalismo, que é a versão pocket do Curso Abril, leva o nome

da revista que é feita ao final do curso. A idéia é a seguinte: como nem todo mundo

pode fazer o Curso Abril, nós queremos levar um pouco do Curso Abril para as

pessoas que não virão. Essa já é a idéia da revista, desde dois anos. Há dois anos,

a revista deixou de ser uma compilação dos trabalhos produzidos pelos alunos e

passou a ser uma discussão autônoma que discute o curso, as principais idéias do

curso. Então é uma revista que reflete sobre Jornalismo e Mídia, na medida em que

ela traduz o conteúdo do próprio curso de jornalismo. E a Semana Plug é mais ou

menos a mesma coisa, é a Plug em versão evento. A idéia é, além de levar um

pouco o gostinho do Curso Abril pra todos os lugares, é também divulgar o curso.

Nós achamos que nunca é demais divulgar o curso. Apesar de ter 24 anos, existe

muita gente que não conhece o Curso Abril, assim como não sabe dos outros cursos

que são oferecidos no mercado. Então queremos popularizar o curso e fazer dele

uma marca cada vez mais importante.

Qual é a sua opinião sobre a obrigatoriedade do diploma para jornalistas?

A Abril é uma empresa legalista e nós contratamos jornalistas diplomados. Essa é

uma posição da empresa, que desde sempre nós adotamos, e mesmo antes de toda

essa questão da obrigatoriedade do diploma, lutamos para inclusive regularizar a

situação dos funcionários aqui.

A minha opinião pessoal, apesar de ter sido professor de jornalismo em São José do

Rio Preto, de ser jornalista graduado, com MTb, é de que a maneira como acontece

105

em diversos países do mundo como EUA e alguns países da Europa, o sujeito que

tem um bom texto e é capaz de contar uma boa história, um sujeito que seja

responsável poderia ter o direito de trabalhar como jornalista. Eu sou um democrata

nato e acho que essa história de você proibir as pessoas de exercer uma coisa tão

visceral que é no caso escrever é uma violência. Mas enfim, como a empresa, estou

alinhado e acho que a lei tem que ser cumprida.

Pela sua experiência no processo de seleção, é possível afirmar que, em geral, as universidades têm formado maus jornalistas?

Eu acho que toda generalização é perigosa. O Curso Abril é uma das mais

importantes portas de entrada para a Abril. No entanto, muita gente vem por outras

portas e vem com seu diploma de algumas excelentes instituições, que temos aí no

País. Você tem excelentes faculdades. Basta pegar a relação dos alunos que

passam no Curso Abril, tem algumas que são campeãs em aprovados. No caso do

Rio Grande do Sul, você tem muitos designers. No Rio de Janeiro, você tem ótimos

apuradores. Então, dentro de um retrospecto, você percebe que tem universidades

formando gente boa. Então eu evitaria fazer esse tipo de generalização, porque se

nós oferecemos um curso é para aprimorar esses talentos que já existem, e além do

mais existem pessoas que entram por outras portas que não o Curso Abril. Agora,

no meu modo de ver, na maioria das instituições, você não tem realmente um ensino

de qualidade.

Há uma crítica entre os acadêmicos de que a linguagem de revista se aproxima muito da linguagem publicitária. O que você tem a dizer sobre isso? E quais são as críticas mais freqüentes que chegam à editora? A linguagem publicitária normalmente é uma linguagem rápida, telegráfica, que quer

te convencer a comprar alguma coisa ou idéia. Eu não consigo identificar essa

linguagem nos textos jornalísticos da Abril. A maior parte das críticas é de cunho

ideológico, pelo menos o que eu posso perceber nas críticas que recebemos. Nós

temos um convênio com a ECA/USP há muitos anos, estamos em contato com os

106

alunos da USP, e como todos alunos da graduação eles são muito combativos, o

que é absolutamente natural e esperado. Mas até hoje não tivemos nenhum tipo de

problema com isso, sempre dialogamos muito bem. Estou dizendo tudo isso só pra

colocar a minha impressão: eu acho que as críticas que são feitas à Abril são

normalmente de cunho ideológico e num País democrático, essas críticas são

construtivas, são muito bem-vindas. Nós não achamos que quem nos critica é mais

ou menos inteligente do que nós. Nós apenas tentamos fazer o nosso trabalho da

melhor maneira possível. Não temos nenhum problema com essas críticas e nem

essas críticas têm tido um impacto significativo nos nossos negócios, nas nossas

publicações.

107

José Coelho Sobrinho

Chefe do Departamento de Jornalismo da ECA-USP

Presidente da Abecom (Associação Brasileira de Escolas de Comunicação Social)

Entrevista realizada em São Paulo no dia 26 de setembro de 2006 na Escola de

Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).

Qual é o papel da universidade da formação do jornalista?

Eu acho que o primeiro papel nosso de escola de comunicação é formar o cidadão.

Primeiro formar o cidadão sabendo que ele tem que ser uma pessoa ética, uma

pessoa responsável, uma pessoa que respeite os seus iguais e também os seus

diferentes. E a partir daí nós começamos a formatar o jornalista. E a formatação

desse jornalista é fazer com que ele não se esqueça de que antes de ele ser

jornalista ele é cidadão. E a partir daí você começa a trabalhar com a ética, com o

respeito às fontes e aos entrevistados. Eu acredito que a parte técnica não é a parte

maior da formação do jornalista. A parte maior é você chegar e dar a ele

instrumentos pra que ele possa compreender a sociedade, compreender o mundo

em que ele vive. Porque se ele conseguir compreender e ele conseguir fazer com

que essa compreensão chegue até os telespectadores, aos jornais ou revistas de

uma forma compreensível ele já está fazendo um bom trabalho, ele já está

cumprindo o papel que a sociedade lhe deu pra que seja o responsável por esse

direito fundamental das pessoas que é de ter uma informação e poder dar uma

opinião.

A relação universidade/empresa deveria ser mais próxima ou cada uma tem uma função especifica e distinta?

Eu acho que cada uma tem uma função totalmente distinta. Eu acho que a

universidade tem um compromisso com a sociedade. Então é ela formar a pessoa.

108

Agora depois essa pessoa deve estar preparada pra assumir o seu papel dentro da

empresa. Agora, isso não é a universidade quem dá. A universidade pode dar

instrumentos pra que a pessoa possa se adaptar tanto na Folha quanto no Estado.

Como seria possível melhorar a formação do jornalista?

Eu acho que nós não conseguimos cumprir o nosso papel na formação do jornalista,

porque algumas escolas ou são essencialmente técnicas ou são essencialmente

teóricas e isso é muito ruim. Eu acho que nós devemos fazer um balanço entre

essas duas coisas. E é muito interessante o seguinte, as pessoas também pegam as

disciplinas e transformar as transformam em prática ou teórica. Não é isso. Em

jornalismo nós não trabalhamos com essa distinção. Quando você faz um jornal

laboratório, ele não serve apenas pra você aprender técnica, é pra você aplicar os

conceitos teóricos que você também teve. Vamos supor que você faça um jornal em

uma comunidade, em uma favela. Você tem que entender o que é aquela

comunidade antes de ir pra lá, o que é morar numa favela, qual o perfil do publico,

como ele se expressa, como você pode se expressar com esse público, quais os

interesses de pauta que eles têm, porque a pauta não é feita pra nós jornalistas,

mas sim feita para o público e assim por diante. São coisas bem distintas que nós

dentro da universidade temos que entregar para o aluno.

Então os professores não devem entender que existe uma divisão das disciplinas

entre teoria e prática. A chamada prática na verdade é o espaço interdisciplinar de

você fazer com que haja o cruzamento dos conhecimentos obtidos tanto em

disciplinas técnicas como também em disciplinas da área de teoria.

Pelo que a gente já conversou com o pessoal da área, eles têm críticas nos dois sentidos. Uma que a parte técnica poderia ser ensinada em nos máximo seis meses, porque não é nenhum bicho de sete cabeças, segundo os entrevistados. Por outro lado, a questão teórica e se ensinar a pensar também, há opiniões de que a universidade como ela é hoje, no geral, ela não estimula

109

isso. Dentro desse equilíbrio, como é que tem que haver esse estimulo à formação humana, de ética, e também dessa parte prática?

As pessoas que fazem comentários sobre a universidade não são educadores.

Então, o que elas cobram da universidade é aquilo que não é possível a

universidade entregar. A universidade nunca vai entregar um profissional montado,

fechado. Ela não vai poder entregar para sociedade ou para a empresa uma pessoa

que saiba trabalhar no Estado de S. Paulo, por exemplo. Porque o padrão que eles

exigem é um padrão diferente do da Folha, é um padrão diferente da editora Abril, é

um padrão diferente da editora Globo. Quer dizer, cada um tem as suas

características, e a universidade não está para formar profissionais pra cada uma

dessas características. A universidade está para formar pessoas que possam

entender a sociedade e que chegando numa empresa tenham condições de se

adaptar às características dessa empresa. Então é claro que nós nunca vamos

chegar e entregar um profissional formado pra empresa. É importante que a

empresa entenda isso. Veja bem como as coisas são. Tem uma empresa muito

grande no País que ela diz assim: “adestramos focas”. O quê que é adestramento?

Adestramento é você fazer com que as pessoas respondam, ou então fazer com que

o animal responda a uma pergunta, a um estímulo que você faça, mas só aquele

estímulo. Quer dizer, é adestramento, é mesmo te colocar dentro de um quadro. Não

é essa a função da universidade. A função da universidade é preparar pessoas para

que elas possam ter uma educação continuada, que você possa se adaptar no

trabalho tanto a Folha quanto o Estado, quanto a editora Globo, a editora Abril e

assim por diante. Então nunca nós vamos dar.

Mas existem algumas coisas que a universidade pode fazer que eu acho que

também nós não fazemos, então a culpa vai ser nossa de universidade. Nós

organizamos as nossas estruturas curriculares de uma forma não-pedagógica.

Organizamos algumas vezes de uma forma muito administrativa e menos ligadas ao

processo de aprendizado, ao processo de ensino-aprendizado. Então é importante

que as escolas vejam que durante o tempo em que o aluno está dentro do espaço

da universidade que ele é o aprendiz. E como aprendiz ele deve estar sujeito a

determinados preceitos educacionais. Aqui na ECA, por exemplo, a gente discute a

possibilidade de nós fazermos uma reorganização curricular dentro dos preceitos da

110

taxonomia de objetivos educacionais, onde você classifica as disciplinas de acordo

com uma sistematização do aprendizado e uma sistematização do conhecimento.

Algumas disciplinas são então da área de conhecimento, outras, áreas de

compreensão, outras, áreas de aplicação, análise, síntese e avaliação. Então

quando você chega na avaliação, o que vocês estão fazendo agora é o trabalho de

conclusão de curso. Vocês já devem ter um conjunto de conceitos e vocês devem

ter um conjunto de ferramentas que lhes permitam fazer isso. Então isso é aquilo

que a universidade às vezes fica devendo.

Na Europa, estão agora tentando fazer uma mudança interessante pra dar uma

vivência ao aluno e até fazer com que as universidades sejam um instrumento da

União Européia. Eles assinaram o Protocolo de Bolonha que começou em 1988 com

a previsão de em 2007 começar a ser implantado. E esse protocolo faz o seguinte: a

graduação, que eles chamam de bacharelado vai ser reduzida pra três anos,

podendo chegar a quatro também, seis semestres ou oito semestres. E quem

começa a fazer essa graduação já adquire o direito de fazer o mestrado e o

doutorado. Mestrado dois anos, mais o doutorado, três anos além do mestrado. E é

muito interessante porque eles trabalham com um conceito de habilidades e

competências. E uma coisa mais importante ainda, eles querem fazer com que o

ensino seja feito por etapas, por metas. Então um conjunto de professores e um

conjunto de alunos vão executar uma determinada tarefa que eles com antecedência

se contrataram. Então é um ensino feito por metas e que vai haver um contrato de

aprendizado. Esse contrato leva muito em consideração uma máxima de Carl

Rogers que é o “ensino centrado no estudante”; ele era um psiquiatra, então era o

“ensino centrado no cliente”, mas ele pegou toda a experiência dele e passou para a

educação, ficando “ensino centrado no estudante”, que é mais ou menos o que as

universidades da União Européia estão pretendendo ou estão achando que vão

conseguir com a implantação desse Protocolo de Bolonha.

Mas atualmente no Brasil, Porque mesmo essa função da universidade, que não é entregar o profissional adestrado pronto para a empresa, mas entregar aquele que saiba se virar no meio, nem essa função a universidade, de uma forma geral não está cumprindo?

111

Eu acho que algumas escolas realmente não estão preparadas para fazer isso.

Algumas escolas estão preocupadas em fazer com que o aluno não seja

inadimplente e que então ele se forme logo para pagar e conseguir o seu diploma.

Agora, um outro conjunto bastante grande de escolas não faz isso. São escolas

sérias que vão exigir, permitir que o aluno consiga fazer um aprendizado dentro

daquilo que é necessário tanto para o mercado quanto para a própria sociedade.

Agora uma coisa que eu sempre vejo é que uma boa parte dos profissionais

reclama, mas o aluno que entra sobe muito rapidamente, e porque? Porque ele tem

alguma competência né?!

Nós tivemos aqui na Contra-Semana do Jornalismo alguns profissionais dizendo o

seguinte: “olha eu só contrato pra estágio ou só contrato profissionais que saibam

tais e tais programas”. Quer dizer, eles estão exigindo que a universidade se

transforme numa escola técnica. Outros querem que o aluno tenha feito leitura de

um conjunto de livros que eu não sei se eles são tão importantes. Me recordo que

um ex-aluno nosso, num evento de jornalismo no Rio de Janeiro, eu era chefe do

departamento na época, em 1987, ele me cobrou o seguinte, falou: “poxa, quando

eu fui pra Alemanha, numa escola de Jornalismo eu aprendi tudo sobre bolsas de

valores e porque a ECA não ensina?” Porque a nossa área é muito extensa, nossa

área é muito grande, não dá pra você abarcar tudo aquilo que você necessita. Então

veja bem, você pode chegar no mercado e não estar preparado para responder aos

estímulos que aquela pessoa que está te contratando está fazendo naquele

momento. Mas você deve estar preparado pra poder se adaptar àquilo que ele

exige, precisa, claro que sempre tendo por trás de tudo isso um compromisso ético

bastante elevado.

Nós temos atualmente mais de 300 escolas de jornalismo no País; 587 escolas de

comunicação. Claro que não saem bem formados. Nós fizemos algumas avaliações

para o Ministério da Educação, verificação de escola, tanto pra reconhecimento de

curso quanto para poder funcionar, e a gente verificou que alguns professores não

são aderentes à área. Não adianta você colocar um professor de português pra

ensinar redação jornalística que são coisas diferentes. Então algumas pessoas não

estavam aptas pra área, outras estavam preocupadas em fazer do curso de

112

jornalismo um curso meramente técnico e é evidente que escolas desse tipo não vão

oferecer ao mercado pessoas com a possibilidade de assumirem espaço no

mercado. Só que existem escolas também que conseguem fazer um trabalho um

pouco mais organizado. Então, eu acredito que existem escolas e escolas; existem

alunos e alunos. São coisas bastante díspares, não dá pra você fazer um perfil único

de todas as escolas no País. Agora, se nós fizermos pela média nós vamos verificar

que o número de escolas que formam bem as pessoas para o mercado, aptas para

assumir o mercado, são poucas. Talvez uns 30%. Não só publicas, nós temos

escolas particulares de altíssimo nível. Por exemplo, as escolas particulares têm

muito mais condições técnicas do que as publicas – há algumas exceções. Eu fui

numa escola particular do Rio Grande do Sul que tem 32 ilhas de edição pra classes

de 30 pessoas. Quer dizer, jamais alguém vai ficar sem ilha de edição porque

alguma coisa quebrou. São pessoas que têm mais de 20 câmeras pra poderem sair

e fazer a captação. Agora, às vezes essa riqueza também não significa muito. Não

adianta você ter um belo carro e não ter um bom motorista.

Nenhuma escola vai conseguir acompanhar exatamente a técnica que uma empresa

tem a obrigação de acompanhar. Não adianta você ter ótimas câmeras se você não

tem o conceito de enquadramento por exemplo, se você não tem idéia de luz, de

cor, nem de contraste. Então isso não significa nada. Às vezes você ter um

equipamento com menos recursos ele vai permitir que o aluno crie muito mais, e o

aluno de comunicação tem que ser um aluno criativo. Principalmente porque os fatos

não esperam você parar, reunir pra decidir o que fazer; você tem que tomar uma

iniciativa rápida.

Além da criatividade, o mercado pede também é um repertório, uma formação cultural pra que essa criatividade possa aflorar com qualidade também. Essa formação cultural que eles pedem de certa forma até cosmopolita, o que é difícil ter a mesma formação cultural aqui em SP, no coração do País, e no interior da Bahia ou até no interior do estado de São Paulo, como Piracicaba. O senhor vê algum problema nisso? E como a universidade pode contribuir para isso?

113

Eu acho que a universidade tem a responsabilidade de tudo e não tem a

responsabilidade de nada ao mesmo tempo. Quando as pessoas pedem que você

tenha um repertório, que você tenha muita leitura...

Quando eu comecei a fazer o Jornal do Campus que eu edito, eu perguntei pra

classe: “quantas pessoas lêem um jornal todos os dias?” Três levantaram a mão de

trinta. Aí perguntei, talvez as pessoas leiam mais de um, então “quantos lêem dois

jornais?” Ninguém. Então como você pode fazer jornal sem leitura de jornal?

Agora eu não sei se a sociedade ou se vai ser cobrado de um aluno de uma escola

de comunicação se ele leu O Caçador de Pipas por exemplo, que está em primeiro

lugar em vendas. É importante que ele saiba, mas não sei se isso daí pode decidir a

vida dele. Talvez, o que decida a vida dele é ele ser uma pessoa ao mesmo tempo

criativa e crítica. E uma pessoa critica é uma pessoa que lê jornal, revista, é uma

pessoa que está atenta à audiência de rádio, de TV. Agora vendo tudo aquilo com

espírito critico. Eu acho que é isso que as escolas de comunicação podem estimular

no aluno. Estimular de que forma? Com disciplinas. Se você faz uma disciplina de

jornalismo comparado é um estímulo – vamos ver como foi feita a cobertura de uma

eleição com o Lula no Estado de S. Paulo e na Folha de S. Paulo, qual a mudança,

a diferença entre elas? Isso é importante. Eu acho que não adianta você chegar e

falar: “a pessoa tem que ter visto tantos filmes”. Tem um professor aqui que no

primeiro dia de aula ele passa uma listagem, colocando nome de filmes com os

autores, o presidente da república de não sei onde, do Chile, se é homem se é

mulher, depois vem “olha que absurdo isso...” Não é isso! Não são coisas de

algibeira que a gente tem que formar na escola. A gente tem que fazer com que as

pessoas saiam daqui com prontidão crítica. E você com prontidão critica e tendo

interesse claro que você vai conseguir fazer as leituras, ver tudo com olhos críticos.

Então eu acho que nenhuma no mínimo universidade vai dar, e se aparece um

cristão desse dentro de uma empresa ele é figura única, ele pode ser o dono da

sandália mesmo.

Qual a sua opinião sobre o Curso Abril de Jornalismo?

114

O Curso Abril como o curso do Estado de S. Paulo, como a preparação da Folha de

S. Paulo (com quem temos bastante ligação), como outros cursos que existem feitos

pelas empresas, isso daí olha, é um curso de adestramento. É a mesma coisa, você

vai trabalhar numa empresa e a empresa fala: “olha, nós trabalhamos dessa forma”.

Então, o Curso Abril é pra isso. Eu acho que ele não oferece muito mais do que uma

universidade poderia oferecer. No caso da revista, é muito mais uma preparação

para determinada revista, editora. Então é importante, mas eu acho que ele não

substitui aquilo que a universidade pode oferecer sem um compromisso com a

própria empresa. Levando principalmente em consideração que o compromisso da

universidade é com a sociedade e não simplesmente formar pessoas para

empresas.

Ainda bem que não é. Toda vez que a pessoa vai fazer a análise da capa da Veja,

ela está fazendo a análise da capa da Veja dentro dos padrões da Veja, dentro dos

padrões que o editor da Veja pediu. Então é muito mais fácil você trabalhar numa

revista em que está tudo formatado, ou dentro de um jornal onde está tudo

formatado, do que num local que não tem.

Aqui nós temos um jornal que tem 26 anos. É um jornal que tem um público certo,

que são as 70 mil pessoas da cidade universitária. Esse jornal ele tem um projeto

editorial, que está assentado em cima de três pilares. Primeiro, defesa intransigente

da democracia. Então tudo aquilo que é contra a democracia a gente já sabe, isso é

matéria de primeira página. Segundo, defesa intransigente do patrimônio da

universidade, mesma coisa. O professor, o aluno, o funcionário, sempre que

estiverem ameaçados, pra gente isso aí é matéria também de primeira página. O

terceiro pilar é o ensino público e gratuito do nosso ponto de vista aqui, que é muito

mais uma defesa interna. Toda vez que exista também alguma ameaça em relação à

cobrança de alguma taxa na universidade também é matéria de primeira página.

Veja que aí nós já temos um projeto editorial, que já nos permite ter uma relação

como o nosso público e com o nosso veículo de uma forma diferente. Isso quer dizer

que nós não fazemos um jornal a cada edição; cada edição é continuação de um

projeto que vem vindo há 26 anos. Temos também um projeto gráfico, que é definido

dentro dos limites que nós temos com a gráfica que está imprimindo nosso jornal. Só

115

para vocês terem uma idéia, o Jornal do Campus, a partir desta semana, está sendo

impresso em Curitiba. Olha imagine bem se você pode chegar e fazer alguma coisa

em relação a isso. Mas nós mantemos uma personalidade gráfica. O grupo de

pessoas que vão fazer o jornal já sabe exatamente qual é o projeto gráfico dele

também. Então quando ele entra, ele dá continuidade, ele não vai fazer um outro

veículo. Eu não permito que a minha relação com as pessoas que vão fazer o jornal

seja uma relação professor/aluno. Pra mim, a relação é de profissional. Eu quero ser

tratado como profissional da minha área e vou tratar todas as pessoas que estão

fazendo o jornal como profissionais. Significa que não admito erro! Por isso que

também tirei o nome Laboratório de Jornal e chama Jornal do Campus. As pessoas

que fazem o jornal têm um compromisso com o público dele. Nós temos um projeto

editorial que tem que ser refletido nas páginas do jornal. Então já temos também

uma relação de pautas. A pauta nasce a cada 15 dias.

O aluno tem que ser criativo. E é isso aí que dentro da escola a gente pode fornecer

ao aluno. Eu tenho certeza que o aluno que passou pelo Jornal do Campus terá

condições de se adaptar seja à Folha seja ao Estado. E depois o mais importante do

jornal: a avaliação. Não é fazer o jornal só com texto. Eu não vou permitir que saia

uma matéria com erros de apuração e com erros éticos. Isso nunca! Mas eu não

posso também retirar a criatividade do meu aluno, falando que ele não colocou o

lead de determinada forma, se deu ênfase ao “Quem” e não ao “Quando”. Não, ele

tem que criar; de repente não interessa a ele fazer o lead. Então vamos ver como vai

ser a expressão dele, só que essa vai ser uma expressão que eu não vou permitir

que tenha erros de apuração e de edição. Erros de português até ocorrem, mas

como eu faço uma leitura antes, eu procuro apontar o erro, mas nunca vou dar a

solução. Vou pedir que ele vá ao dicionário de regência por exemplo, pra saber qual

a regência correta. Mas sem mexer no estilo dele, porque senão todo mundo vai sair

igual daqui.

A gente faz uma reunião para avaliação do jornal. Na avaliação, a gente vai

novamente falar de todos os textos, da propriedade dos títulos, da propriedade da

linha fina. Mas não sou eu dizendo como deveria ser; nós estamos discutindo. Da

impropriedade das argumentações, da fotografia, que ela não ficou no segmento

áureo, do corte, que foi mal feito, da legenda que ficou redundante, do tamanho da

116

matéria, que às vezes não merece tanto texto, ou ao contrário. Nós não fazemos

editorial, só trabalhamos com matérias do gênero relato. Claro que nós temos que

ter uma base teórica por trás. Eu acho que fazendo dessa forma nós estamos

permitindo que a pessoa chegando lá no mercado consiga ter um entendimento do

que é aquele produto.

Com relação aos erros “primários” de texto encontrados em textos de alunos e profissionais de jornalismo, como o senhor vê isso, e como a universidade pode contribuir com isso, ou também não é uma responsabilidade dela...

Não, eu acho que isso não é uma responsabilidade da universidade. Isso é uma

responsabilidade do Ensino Médio. E depois outra coisa, às vezes as pessoas fazem

um cavalo de batalha onde não existe. Isso aí às vezes são vícios da pessoa.

Depois que você começou a fazer a digitação, que é tudo muito rápido, mesmo que

conhece português, às vezes comete essas gafes, porque também a correção é

mais rápida, e às vezes você esquece de apagar uma vírgula por exemplo.

Quando uma pessoa sai da escola ela deve ter feito uma prática de texto não muito

intensa. Quando ele escrevia informalmente suas mensagens, era outra coisa. Agora

não, agora ele está escrevendo dentro de algumas características dele próprio e que

ele cruzou com as características da linguagem jornalística. Então eu acho que eles

cobram, eles exageram naquilo que pedem. Agora, não estou dizendo que os alunos

saem daqui com um texto argumentativo precioso, nada disso. Mas quando eles

fazem essa colocação talvez eles estejam se referindo àqueles que não foram

escolhidos e não àqueles que foram. E é evidente que se você forma 10 mil pessoas

por ano em escolas muitos desniveladas, algumas escolas dão condições e outras

não.

Mas a universidade não tem que resolver esse problema? Porque se ela aprova esse profissional com texto ruim da base, ela não está transferindo uma responsabilidade para o mercado que antes foi dela?

117

É, pode ser até uma boa discussão isso daí. Eu acho que o professor ele tem a

obrigação de apontar as deficiências de construção de frases do aluno. Então que o

aluno procure. Acho que não custa nada a pessoa ter sempre um manual de

gramática para você consultar. Eu desafio você pegar qualquer jornal e ver se o

demonstrativo “esse” e “este” está bem usado. Ninguém usa. Quer dizer, você

encontra muitos erros por parte de pessoas que são extremamente famosas do

mercado, mas é assim mesmo. Agora não é por isso que...

Claro, a escola, dentro do possível, deve melhorar o nível do aluno também na área

de português, mas quanto à aprovar ou não, será que é aquilo mesmo que precisa?

Quantas pessoas vão trabalhar só com texto? Então eu vejo isso com algum

cuidado. Eu acho que faz muito parte também do perfil do aluno, do profissional. De

você não ter vergonha de vez em quando pegar o dicionário e olhar como escreve

exceção, de repente dá um branco mesmo. Claro que a escola tem uma

responsabilidade, o professor tem uma responsabilidade de ficar apontando essas

coisas. Não é aquele professor que chega, o aluno faz a apuração, entrega pra ele a

matéria, depois ele vai risca tudo sem dar a menor explicação, sem dar a menor

satisfação ao aluno. Mas eu acho que existe um exagero muito grande de quem

contrata. Eu me recordo que uma vez nós fizemos um convênio com uma editora,

com uma emissora de televisão, e a pessoa da emissora reclamava que ninguém lia,

que “onde já se viu! A pessoa não leu tal texto!”. Não é isso, talvez você tenha que

reconhecer que você pode gostar de um determinado tipo de texto, ela gosta de

outro e eu gosto de outro. Então, não é porque eu não li o livro que você leu que

você vai dizer “pô, esse cara é um ignorante!”. Eu acho que todas as coisas têm que

ser relativizadas dentro do contexto. Não estou dizendo que as escolas são

excelentes em relação a isso. Agora, eu estou dividindo a responsabilidade com o

aluno, com o professor e também com quem está contratando.

Enquanto ao diploma, qual é a sua opinião?

Não quero falar nem como professor, nem como presidente da Abecom [Associação

Brasileira de Escolas de Comunicação Social], e nem como jornalista; eu quero falar

como leitor.

118

Nós nunca tivemos uma democracia tão “grande” de liberdade de opinião e de

informação como nós temos agora. Digo entre aspas, porque nem todos têm acesso

à internet. Então você pode fazer um blog, você pode escrever alguma coisa no

Comunique-se, você vai e escreve no Observatório de Imprensa, eu estou falando

pra vocês e de repente isso daqui pode passar no YouTube, e assim por diante.

Tem mil coisas que podem ser feitas. Então eu acho que possibilidades de você

democratizar a informação e a comunicação e a opinião são bastante grandes. Só

que agora aumenta cada vez mais o problema dessa informação. Qual é a origem

dela? Quem está por trás dessa informação? Não adianta você chegar e ter um

conjunto enorme de informações e você não saber qual é exatamente aquela que

merece crédito. Por isso que eu acho que um jornalista é o que vai dar pra notícia o

valor agregado à informação. Porque o jornalista tem por trás de tudo isso um

comprometimento ético muito forte. Porque se ele perder a credibilidade dele como

jornalista, ele está perdendo a profissão dele, colocando em risco a profissão. Agora

quem não é jornalista não; ele não está trabalhando na área, se eu falar alguma

besteira não vai acontecer nada, porque eu não dependo da minha profissão de

jornalista pra viver.

Nós tivemos um curso que foi dado com a Editora Globo e tivemos candidatos do

Brasil todo, inclusive o Porta Nova foi contratado através desse curso. E nós

levamos para fazer a palestra para esses 30 jornalistas todos formados um professor

nosso que mais entende dessa área de sistemas integrados de comunicação, o

professor João Antonio Zuffo e ele disse o seguinte pra gente: “Cada vez mais a

técnica vai perder o interesse por parte da sociedade, porque as coisas serão tão

interativas que qualquer pessoa vai poder chegar e fazer a edição de qualquer

coisa”. Aí ele mostrou pra gente qual a previsão que eles têm do que vai ser em

2030. Então ele dá o exemplo de uma menina que atende o telefone e aparece no

monitor a avó que diz que vai visitá-los. Ela resolve fazer um bolo de chocolate que a

vovó gosta. A criança aperta o botão e aparece o menu, ela vai e procura “bolo de

chocolate”, aperta o botão que vai dar a receita, aperta outro botão, e a máquina

consulta a dispensa e a geladeira pra ver se tem os ingredientes pra fazer o bolo. E

tem, aí aperta o botão... Quer dizer, vai apertando os botões até chegar o bolo

pronto, porque o próprio forno já está com o tempo marcado. E aí chega a avó, e

evidentemente acaba tudo no final feliz com todo mundo comendo um bolo de

119

chocolate gostoso. Mas o professor fala: “precisa de alguém que coloque a receita

aqui dentro, porque essa receita não tem nenhuma máquina que faça, e essa receita

vai ser colocada pelos comunicadores, pelos jornalistas”. E, é evidente que você só

vai usar uma receita de um bom bolo quando essa receita for dada por uma boa

pessoa de culinária, um jornalista.

Então, é que cada vez mais é importante o diploma, justamente porque você adquire

o carimbo de profissional de jornalismo, que deve ter, ou pelo menos a chance é

muito maior, um comprometimento ético que a escola deve ter dado. É por isso

também que eu sou favorável, não sou PT, mas sou favorável ao Conselho Nacional

dos Jornalistas, porque não é pra você punir o jornalista, mas eu até fiz um artigo,

deveria ser “Conselho Nacional de Jornalismo”, que é pra você dizer o que não é

jornalismo e o que é jornalismo. Quer dizer que o que não é jornalismo não significa

que não merece crédito, mas ele não tem o comprometimento ético que tem aquele

que é jornalista.

Eu acho que cada vez mais o nosso diploma vai ser importante não pra dizer que

você é uma pessoa que escreve bem, mas desde que você tenha esse

comprometimento. E eu acho que a escola que não mostrar pra você que o seu

comprometimento é com a sociedade, com a cidadania, é claro que essa escola não

está formando jornalistas, então ela não merece esse título de ser uma escola de

jornalismo.

Mas uma pessoa não pode escrever bem e ter esse comprometimento sem ter o diploma?

Não, eu acho que pode. Eu não estou dizendo que não pode. O Joelmir Bet não é

formado em jornalismo e quem vai dizer que ele não tem esse compromisso. Agora

todo mundo diz que ele tem, porque ele assumiu um compromisso de ser jornalista.

Nós tivemos também jornalistas como o jornalista que editava A Carta que não tinha

nada a ver com jornalismo. Mas se você tiver uma escola e se você tiver jornalistas

comprometidos com isso é muito melhor do que você não ter nada.

120

As pessoas falam que nos Estados Unidos não é necessário diploma pra trabalhar.

Verdade, não é necessário. Na revista Time, 90% das pessoas eram formadas em

jornalismo, mesmo não sendo necessário. Grande parte entra tendo feito História ou

Letras, mas voltou pra universidade pra aprender essa parte cultural maior. Quer

dizer, lá eles reconhecem a importância do curso de Jornalismo, não para adestrar a

pessoa.

Eu me lembro aqui uma vez que fizeram uma greve contra mim, quando eu era

chefe do departamento. Falaram que eu estava querendo transformar o curso em

elitista, porque eu pedi pra ficar dois anos sem vestibular à noite, porque à noite não

funcionava o curso. E eu achava que não adiantava ter dois cursos diferentes, de

manhã com uma formação e de noite, não tinha ninguém, não tinha funcionário, não

tinha laboratório, então aqui era um curso de giz. Bem mas foi importante, porque

com toda essa pressão o reitor precisou dar dinheiro pra funcionar à noite... Depois

eu continuei sendo elitista (risos), mas o curso voltou a ser noturno. Existem cursos

e cursos. Esse curso da noite realmente não formava ninguém, mas dava o diploma

dentro daquelas condições. Existem escolas que dão. Quer dizer, se eu não posso

dar um laboratório, mas o aluno não tem culpa, a culpa é da escola, então eu faço

sem laboratório. E nós formamos boas pessoas mesmo sem ter laboratório, mas é

que as pessoas vieram bem formadas de fora.

O diploma de jornalismo é importante. Nesse período (1987) que houve a greve eu

fui primeira página da Folha de S. Paulo, só que não posso me aparecer dessa

forma, porque a pessoa que veio fazer a cobertura mesmo tecnicamente não era

boa, formada em Ciências Sociais pela USP. Fez a apuração errada, colocou meu

nome errado, falou de uma reunião do Conselho que não existiu. São pequenos

detalhes que eu tenho certeza que qualquer escola oferece, mas que uma pessoa

leiga não sabe. Quer dizer, falta de precisão, falta de coesão e falta de clareza. E

também uma apuração muito mal feita e uma depuração pior ainda. Então

tecnicamente como jornalista foi mal. Como cidadã foi pior ainda, porque ele

informou todo mundo errado. Depois fez uma pauta ruim, porque ela não procurou

saber o que estava realmente ocorrendo aqui dentro, apesar de a Folha estar a meu

favor.

121

Eu acho que você ficar quatro anos na universidade fazendo estudos de jornalismo é

importante. Agora, é claro, e aí vem a Associação Brasileira dos Escolas de

Comunicação, eu acho que isso aí é o que nós da associação estamos devendo: de

fazer com que as escolas sejam providas de recursos materiais e de aprimoramento

dos professores para que a gente tenha bons profissionais.

Toda vez que a gente trabalha dessa forma a gente está fazendo um corte, do que

está acontecendo atualmente. Agora vamos procurar na história como era o

jornalismo antes da regulamentação da profissão, antes da obrigatoriedade do

diploma. Por exemplo, eu sou um assessor de imprensa da Prefeitura de São Paulo.

Uma emissora de SP, a CBN, por exemplo, quer colocar um setorista na Prefeitura,

qual é o mais fácil? Contratar o assessor de imprensa da prefeitura, porque vai ficar

mais barato pra mim. E contratava. O assessor de imprensa entrava várias vezes no

ar dando noticias da prefeitura, que notícias? Notícias de interesse da prefeitura.

Onde está a cidadania desse cidadão? Nós tínhamos pessoas, por exemplo, que

trabalhavam no Detran [Departamento Estadual de Trânsito], que eram setoristas do

Detran, era uma beleza, você estava com multa, telefonava e eles tiravam a multa.

Era um jornalista pedindo pra um colega jornalista, que era setorista no Detran.

Então, a profissão era exatamente isso, era um bico antes do diploma. As pessoas

esquecem disso. A nossa profissão era uma loucura. Tínhamos gente que era

profissional simplesmente porque ele tinha entrada livre no teatro, era só apresentar

a carteirinha de jornalista. Nunca nós tivemos tantos articulistas de gourmet como

nós tínhamos na época. E a pessoa se dava o direito de aproveitar dessa grife de

ser jornalista. E muitas dessas pessoas que nos condenam hoje porque existe

diploma também se aproveitaram disso. Andar de avião era uma baba! Em 74, eu

estava dando um curso em São Luis do Maranhão e foi o presidente da época, o

Geisel foi pra lá e foram vários jornalistas. O jornalista que me desalojou o currículo

dele era: “sobrinho do Luis Gustavo”, vocês nem sabem quem é Luis Gustavo né?!

Foi aquele cara que fez Pra frente Brasil, salve a seleção. Então ele tinha entrado no

jornalismo só porque o Luis Gustavo tinha apresentado. Esse era o jornalista, o perfil

do jornalista. Então, o diploma veio pelo menos sanar essa vergonha que era a

nossa profissão, que na verdade era um bico e não uma profissão. As pessoas eram

empregadas e escreviam coisas a favor da empresa que trabalhavam. Existiam

pessoas românticas, claro que existia, mas isso era uma exceção. Hoje é exceção

122

pessoas muito ruins. Então se a gente for querer chegar ao ponto mais baixo, mais

asteiro, da necessidade do diploma, isso aí é um deles, que é esse fato histórico,

que ninguém gosta que fale disso.

Nós podemos ter muitos defeitos, mas não temos o defeito da venalidade e o

jornalista era venal. [Ele conta um exemplo do carro Gol] Quando a escola te dá uma

fundamentação ética, você jamais vai aceitar isso. Porque o empresário tem jornal?

Não é pra colocar notícia. Ele tem o jornal porque a propaganda faz com que ele

venda o produto dele. Por isso que o compromisso do jornalista que está

escrevendo num jornal, que já está sendo pago pela sociedade, que já pagou o

espaço (seja através de assinatura ou compra nas bancas), é o de dar as

informações que ele necessita, agendar a vida dele. Agora tudo isso precisa de

alguém com caráter e compromisso com a cidadania. Então por isso que cada vez

mais eu veja o jornalista como importante; ele não é um mero comunicador, uma

pessoa que só vai colocando a informação. Ele é uma pessoa que vai sim colocar a

informação, mas que tenha conteúdo, conteúdo ético principalmente.

123

Cláudio Tognolli Professor da ECA/USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São

Paulo).

Entrevista realizada em São Paulo no dia 26 de setembro de 2006 na casa do

jornalista.

Eu comecei no jornalismo de uma maneira bem estranha, porque eu venho de uma

família de pilotos de avião, de psicanalistas e de músicos. Eu estudo música desde

moleque e aí eu ia fazer um curso técnico pra ser piloto de avião e no meio desse

curso eu resolvi que não tinha nada a ver com aquilo. Ai eu falei, quero ser jornalista.

Aí na época meus pais acharam, isso na década de 70, o único colégio que oferecia

um colegial técnico de jornalismo na zona leste, na Penha. Era um curso de redator

auxiliar. Aí eu fiz um curso técnico de redator auxiliar em jornalismo.

Aí eu queria entrar na ECA, não só por ser de graça, é óbvio, mas porque naquela

época, os ícones da música brasileira todos eles estudavam na ECA, era o centro do

movimento musical e meu negócio era música. Aí, eu prestei vestibular, entrei na

ECA, e no período de ECA eu fui um péssimo aluno prático e um ótimo aluno

teórico, sempre gostei muito de ler, mas em quatro anos fiz uma única reportagem.

Naquele tempo de ECA, eu passei pensando em música o tempo todo; tocava numa

banda que chamava Pif Paf, sai dela pra fazer estágio na Veja e ela estourou depois

de oito meses, é o RPM. Depois dessa, eu pensei “nunca mais vou ter outra chance

igual essa do RPM”.

Aí eu comecei a fazer estágio. Fui bater na porta da TV Globo pedir estágio. Naquela

época tinha um repórter de polícia, um obscuro repórter de polícia, que era a pessoa

mais cordial da Globo chamado Caco Barcelos e eu fiquei estagiário dele. Depois

fiquei amigão dele, fiz a primeira pesquisa do Rota 66 etc, depois ele fez prefácio de

livro meu. Aí eu fiz o Curso Abril e lá eu peguei o primeiro lugar e eu escolhi pro

Departamento de Documentação, porque o Ddoc me dava um dia pra poder estudar.

124

E eu fui e já emendei um mestrado em psicanálise. Aí saiu uma matéria bem grande

no Jornal do Brasil sobre um trabalho que eu tinha, que era uma adaptação de

chavões de linguagem da música que eu sempre fiz pra chavões da linguagem. Aí o

JB, na época o melhor jornal do País, fez uma capa sobre esse meu trabalho. Aí o

Hélio Gaspari me chamou e falou: “escuta, você vai parar de falar mal da Veja e vai

trabalhar na Veja”. E eu fiquei na Veja um bom tempo. Na verdade eu fiquei 4 anos

como pesquisador do Hélio Gaspari no Ddoc e um ano como repórter da Veja. A

Veja nem tinha computador; você fazia as redações na máquina de escrever. Era um

trabalho dolorido, chato, que eu perdia todas as noites ali e eu falei “preciso sair

desse lugar, isso aqui está me matando”. Eu ficava as madrugadas escrevendo. Eu

tive uma matéria censurada, que ameaçaram a minha família, eu fiquei muito

desgostoso com a revista, a matéria nunca foi publicada.

Aí eu ví um anúncio na Folha de S. Paulo, que dizia: tem que falar três idiomas, ter

mestrado, era pra fazer polícia. Eu mandei meu currículo e fui chamado. Eu me dei

muito bem na Folha. Aí um ano depois eu virei correspondente e fui pra Miami

inaugurar uma bolsa oficialmente. Depois eu voltei para o Brasil e fiquei repórter

especial da Folha; eu viajava muito para o exterior, era uma vida bem interessante.

Aí, a minha primeira ex-mulher me falou: “ou eu ou a Folha”. Aí eu tive um convite

pra ser repórter da CBN, era um dinheiro muito maior que a Folha me pagava e

mais, me deixariam ter outro emprego. Aí eu chutei a Folha e fui pra CBN, aí que

comecei a ganhar dinheiro. Eu fui pra CBN, e ao mesmo tempo para o Jornal da

Tarde e ao mesmo tempo dar aula. Eu estou falando aqui de 1994. A CBN, o Jornal

da Tarde me deixavam solto, eu comecei a ter três empregos, depois foi

aumentando, e eu cheguei a ter oito empregos. O que serve para o trabalho de

vocês o que eu estou falando? Serve o seguinte:

O Einstein tinha uma frase chamada “Ir Zeit”, que é o tempo de cada um. Às vezes,

o tempo que você está na faculdade não é o tempo em que você vai maturar como

profissional de imprensa. Eu fui um péssimo aluno na faculdade, fiz uma reportagem

mal feita e de repente virei repórter investigativo, virei correspondente, cobri guerra,

ganhei todos os prêmios (Jabuti, Esso, Prêmio Folha). Não tenho nenhum problema

com a profissão e se eu parar pra pensar onde está a pessoa que fazia ECA, essa

125

pessoa morreu, não existe mais; eu não me reconheço. Aí eu falo “como isso

apareceu na minha vida?”.

Eu acho que o estudante de jornalismo que vai para o mercado ele trás uns atributos

dentro dele que ele não sabe o que são atributos. Por exemplo, eu venho de uma

família de classe média-alta, de periferia brava. Quer dizer, eu convivia com a família

que tinha razoavelmente dinheiro para os padrões daquele lugar, ao mesmo tempo

eu morava perto de gente miserável. Ou seja, eu nunca tive problema de ir em

favela, falar com todo tipo de pessoa, e para o meu espanto eu descobri que em

redações tem gente que não gosta de ir em favela, de falar com gente humilde, de

falar com delegado; só gosta de falar com gente igual a ela. E eu descobri que eu

tinha esse atributo de me misturar com todo mundo. Quer dizer, com tudo que eu

estudei (eu fiz mestrado em psicanálise, doutorado em biotecnologia) e eu ganho a

vida com reportagem investigativa, sendo que nunca eu quis ser repórter

investigativo.

Agora pra falar pra quem está estudando. A primeira coisa que o estudante tem que

fazer é não levar professor a sério. O que é um jornalista? Eu posso falar isso,

porque eu sou jornalista e professor de jornalismo, então eu vou estar criticando a

eu mesmo. O jornalista é um cara que não tem talento pra nada, ele não é um

grande músico, eu não sou um grande músico apesar de estudado tanto, ele não é

um grande artista, ele não é um grande escritor, ele não é nada. O jornalista não é

nada, ele vai conversar com as pessoas que são algo. E o que é o professor de

jornalismo? É o que não conseguiu nem ser isso. O jornalista não entende de nada,

e o professor de jornalismo é o cara de vai dar aula sobre uma matéria que não

entende de nada. Essa é a crítica. Nós temos nas faculdades aquilo que eu chamo

vasos chineses; não são jornalistas, muitas vezes não são acadêmicos, não tem

mestrado, não tem doutorado, não publicam. O que esses caras ensinam para os

alunos? Eles assassinam o aluno, cobre o aluno de culpa, fala que o aluno não sabe

escrever, quando escrever é como um exercício físico, é treinar. Eu catei essa

semana alunos meus do quarto ano e perguntei: “Quantas vezes em quatro anos

você pegaram um livro de crônicas, viram aquele estilo e tentaram exercitar isso no

bairro de vocês? Quantas vezes vocês foram fazer uma reportagem sem que fosse

pedido?” Ninguém fez. E como é que você quer reclamar. As pessoas extrojetam a

126

coisa. Coisas que dependem delas, elas põem a culpa na faculdade e no professor.

Só que os maiores jornalistas do Brasil não têm diploma de jornalismo. Isso é muito

engraçado.

Essa é uma profissão caótica. Com toda essa deformação que é o jornalista,

advogados etc, políticos vêm pedir pra quem escrever discurso? Pra jornalista.

Porque? Porque esses caras aprendem a ter uma cultura geral e pôr os fatos em

perspectiva. Eles sabem ver o mundo em perspectiva. O cara às vezes é um grande

advogado, um grande político, mas ele não sabe pôr em perspectiva a prática dele e

ele pede para um jornalista. E quem é o jornalista pra quem ele pede? O cara que

tem cultura, o cara que estudou, o cara que mistura prática e teoria.

Geralmente você tem uma justaposição. Nas redações, você tem jornalistas falando

mal de professor de jornalismo, e na faculdade, você tem professor de jornalismo

falando mal da Folha, do Estado, da Veja. Eu jurei pra eu mesmo que eu manteria

um pé em cada lugar, um pé na academia e um pé nas redações e assim tem sido.

Eu estudo pra caramba, eu cultivo as minhas fontes, eu me meto com bandido, eu

faço tudo isso. O jeito que eu encontrei de ser é misturar prática e teoria. Agora, há

professores de jornalismo que são autênticos criminosos. A maioria é um bando de

criminoso, porque eles ficam culpando o aluno, fala que o aluno não escreve bem.

Ficam com essa ditadura do lead, mistificando uma coisa tão banal quanto escrever

um texto informativo. Isso é muito banal. O cara fica seis meses repetindo o que é

um lead. Então, mas não se ensina o aluno a desenvolver um texto, que não seja

esse informativo, que todo mundo sai da faculdade escrevendo igual.

O mercado costuma a contemplar primeiro, o aluno que já vem falando um idioma. E

quando eu digo falar um idioma, não é terminar a faculdade, vender o carro, ir pra

Inglaterra e ficar seis meses, morando com um bando de brasileiro e volta aqui sem

falar português, porque mora com gente que lava prato em restaurante,

desaprendeu, e sem falar inglês, porque não falou inglês. Então aprende falar um

idioma, um bem e de preferência inglês. Mas aprender mesmo. Segundo, ter uma

cultura geral e uma cultura específica lado a lado. Tentar se especializar em algo,

mas ao mesmo tempo ser generalista. Três, ser um grande espírito de porco, botar

tudo no Google, ver um filme, anotar, cruzar informação. Esse cara que eu quero na

127

minha. Quando se perguntou no curso Estado há seis anos qual o nome do primeiro

cachorro que foi pra lua e só passou no curso Estado quem respondeu que foi a

cadela Laika, os professores falam: “olha que decadência a grande mídia

perguntando isso”. É claro que você pergunta isso. Você quer um espírito de porco.

Eu quero lá na redação um caçador de borboleta. O cara que sabe isso, sabe um

monte de coisa. Exemplo do repórter que cobriu um assalto (arma glock). Então é

esse tipo de espírito que você quer, uma pessoa pró-ativa, curiosa, fuçadora,

irrequieta, que “busca pêlo em ovo”. É isso que eu quero na redação, é essa pessoa

que vai diferenciar o meu produto.

Qual é o papel da universidade? Ela cumpre de fato esse papel?

Ela poderia cumprir o papel colocando professores mais qualificados. Gente que

passou por redação. Agora também não pode colocar um cara de redação que fica

metendo o pau na academia; você tem que ponderar as coisas. Um cara que tenha

cultura e prática lado a lado.

Eu vou contar uma coisa: eu tive um professor que um dia ele chegou pra mim e

falou assim: “você nunca vai ser jornalista, você não sabe escrever”. Ainda bem que

ele já morreu. E aí um amigo meu, que depois acabou virando diretor da revista

Época, falou assim: “meu, sabe porque esse cara falou que você não sabe

escrever? Porque você anda com tal aluno, que era minha melhor amiga acabou se

tornando minha primeira ex-mulher. Ele é louco, ele dá no pé dela, ele fica com

inveja de você e desconta no seu texto”. Eu falei: “imagina se eu professor da USP

vai fazer isso!” Aí um dia esse cara canetou um texto meu, acabou comigo. Eu

guardei o texto, depois de um mês eu levei o texto canetado e ele falou: “continua

muito ruim”. Aí eu cresci e falei: “espera aí meu, foi você que canetou está aqui”.

Jornalismo dá trabalho, é você pedir coisa pra todo mundo o tempo todo, é você não

se encastelar em você mesmo. Professor de jornalismo fica falando o tempo todo.

Ele fala e todo mundo ouve. Aí ele dá a nota, ele detém tudo. Aí ele vira articulista e

começa a escrever artigo sobre o mundo. Aí ele começa a gostar de ouvir a própria

voz na sala de aula e começa a gostar do que ele próprio lê; ele fica todo auto-

128

referente. E ele deixa de fazer uma coisa chamada reportagem que é depender dos

outros o tempo todo. Eu não sou melhor que ninguém, eu sou professor de

Jornalismo, mas tem uma coisa, eu quero ser repórter. Eu acordo todo dia e vou

atrás de notícia. Eu peço, eu imploro notícia e é assim que tem que ser. Essa auto-

referencia acaba desestimulando o aluno, distribuindo culpa o tempo todo. É difícil

você ver professor que esteja ali pra fazer o aluno acontecer.

O papel da universidade é preparar o jornalista pra ser um generalista e um

específico. É tentar mostrar pra ele que hoje, a internet é um grande inconsciente

coletivo, está tudo lá. Já que está tudo lá, todo mundo vai saber fazer? Não, só

quem tem cultura e leu e raciocinou e foi treinado pra isso sabe montar um cenário,

põe em perspectiva. Ensinar o aluno explicar tudo que está na primeira página do

jornal em perspectiva e depois ensinar ele montar um cenário. Usar a cultura de uma

maneira não só pra aumentar, é a cultura que liberta a gente, encaminha a nossa

mente com relação ao infinito (muito bonito isso). Mas para o jornalista, eu quero um

jornalista que ajude a modificar a sociedade, que saiba aonde ir atrás, o que ele vai

botar em xeque, um cara que trate de valores, um cara que não seja só jornalista pra

aparecer na tela da Globo ou ganhar convite de graça para o show do Chico

Buarque, que é o que mais tem. Preparar o cara para o mercado, porque você está

construindo um cidadão, que está dando nexo, hierarquia e importância ao que ele

está apurando.

Geralmente as faculdades quando preparam o aluno para o mercado no geral às

vezes tiram o valor. O cara faz bons textos só que não tem valor aquilo. A gente não

está vendendo sapatos ou camisas; a gente está vendendo valores. Por outro lado

você tem ótimos professores valorativos, ensinam escola de Frankfurt, filosofia ect.,

aí ficam metendo a boca que redação não presta. Então a junção disso eu acho que

seria o melhor.

Eu quero que a universidade além de ensinar as práticas, dê valor a essas práticas,

criar um cidadão, e pra botar esse cara numa grande mídia devolvendo pra

sociedade valores que ele aprendeu na universidade. Não adianta criticar a mídia

fora da mídia; qual o valor disso? O legal é tentar modificar o sistema trabalhando no

129

sistema não fora do sistema, disso já está cheio. As faculdades o que mais tem são

professores criticando o sistema.

Jornalista de redação que tem preguiça de ler, fala mal de professores doutores e

professores doutores que têm preguiça de “torrar a sola”, porque jornalismo é torrar

sola, falando mal da mídia. Eu acho que tinha que acabar esse tipo de prática

nesses jornais.

Curso Abril, críticas?

Nenhuma. Esses cursos botam o aluno no mercado. Eu entrei no mercado pelo

Curso Abril. Esses cursos profissionalizam, ensinam o cara a encontrar o caminho

dele, dão chance de ele ver – às vezes o cara faz o curso Abril, o curso Globo,

Folha, Estado e fala “não é isso que eu quero”; às vezes ele faz e fala “era isso que

eu sempre quis e nunca soube”. O cara entra em contato com a prática. Eu dou o

maior apóio pra esses cursos! Tudo bem, eles vão querer pessoas que se

enquadrem nas suas perspectivas de um profissional, mas a gente não faz

faculdade pra ser um profissional?

Tem uma perversidade com relação ao jornalismo que é: às vezes você até admite

uma pessoa que não tenha boa formação, mas você admite no intuitivo, porque você

vê que a pessoa gosta de história ou gosta de mexer com ser humano, a gente vai

dar uma trabalhada, uma melhorada na cultura dele, melhorar o texto... Na verdade

o que a gente quer no jornalismo, e as empresas pegam é um grande curioso, uma

pessoa que se mexa.

Eu acho que o problema está no aluno. Eu falei mal de professor e jornalista, agora

vou falar mal de aluno. Tem um monte de vagabundo, um monte, às vezes chega a

80%, 70% dos alunos em geral, os caras não querem nada com nada. Eles não

lêem, não torra uma aula por semana pra fazer uma pesquisa no Google pra ver

alguma coisa de interessante. Entregam os trabalhos na última hora feitos de

qualquer jeito, copia tudo da internet. Quando vai fazer TCC, tem um que tem tesão

pelo TCC, no geral, ou dois, e o resto fica atrás se escudando. Não se mexe, no fim-

130

de-semana, freqüenta seu próprio mundo, vai no mesmo bar, a gente vive em

casulos de proteção (fim-de-semana com a família, com os amigos, na praia, no

bar); ele não pensa em ir para um mundo diferente. Aí ele quer ser um super

repórter. Ele não lê, ele só lê o que a faculdade pediu. Ele passou 4 anos sem

comprar um livro, sem fichar um livro de vontade própria. Ele só fez o que a

faculdade pediu. Ele transfere pra faculdade isso. Como que é então, os maiores

jornalistas do Brasil não têm diploma, e aí, como é que fica? Quer dizer, não pode

ter essa transferência se a faculdade não pode transmitir para o mercado essa

culpa, o aluno não pode transferir pra faculdade. O lance é: se vira nos 30! Eu acho

que é um jogo de transferência, um põe a culpa no outro.

Em relação ao diploma, qual é a sua opinião?

O legal do diploma é que você freqüenta uma faculdade, uma universidade, um

núcleo. Você convive com pessoas de interesses comuns. Acaba conhecendo

professores legais; tem professor que quer te pôr no mercado, tem professor que vai

te abrir porta. Você vai começar a viver o mundo do jornalismo. A faculdade vai te

dar isso.

Por outro lado... eu sou contrário ao diploma de jornalismo. Agora, tem uma questão:

político, advogado etc, quando vai escrever discurso, pede pra jornalista.

Eu acho que se o cara quer fazer faculdade de jornalismo deve fazer, mas avançar,

fazer pós etc, abrir a cabeça. Porque o que é jornalismo? É pegar a notícia dar um

nexo e mandar pra frente. Outros avançam um pouco mais, ele já tenta dotar de

valor o que ele está apurando. Aí entra a cultura nisso. A faculdade é um bom

caminho pra isso. Agora se o diploma vai te tornar um melhor jornalista, não!

131

ANEXOS

1. Portaria do Enade...............................................................................................132 2. Recomendações de Livros................................................................................138 3. Novo Modelo da grande curricular do curso de Jornalismo da ECA/USP ..146

132

Portaria do ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) Exigências do Ensino – Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo

Portaria INEP n. 123 de 28 de julho de 2006

Publicada no DOU de 2 de agosto de 2006, Seção 1, pág. 24

O Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira - INEP, no uso de suas atribuições, tendo em vista a Lei n. 10.861, de 14 de

abril de 2004; a Portaria Ministerial 2.051, de 9 de julho de 2004; a Portaria

Ministerial n. 603, de 7 de marco de 2006 (em sua atual redação); e considerando as

definições estabelecidas pela Comissão Assessora de Avaliação da Área de

Comunicação Social, nomeada pela Portaria INEP n. 83, de 29 de junho de 2006 e

pela Comissão Assessora de Avaliação da Formação Geral do ENADE, nomeada

pela Portaria INEP n. 86, de 29 de junho de 2006, resolve:

Art. 1o O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), parte

integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), tem

como objetivo geral avaliar o desempenho dos estudantes em relação aos

conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares, as habilidades e

competências para a atualização permanente e aos conhecimentos sobre a

realidade brasileira, mundial e sobre outras áreas do conhecimento.

Art. 2. A prova do ENADE 2006, com duração total de 4 (quatro) horas, terra um

componente de avaliação da formação geral comum aos cursos de todas as áreas e

um componente especifico para a área de Comunicação Social.

Art. 3. No componente de avaliação da formação geral serra investigada a formação

de um profissional ético, competente e comprometido com a sociedade em que vive.

õ 1. No componente de avaliação da formação geral, serão consideradas, entre

outras, as habilidades do estudante para analisar, sintetizar, criticar, deduzir,

construir hipóteses, estabelecer relações, fazer comparações, detectar contradições,

decidir, organizar, trabalhar em equipe e administrar conflitos.

133

õ 2. O componente de avaliação da formação geral do ENADE 2006 terra 10 (dez)

questões, discursivas e de múltipla escolha, que abordarão situações- problema,

estudos de caso, simulações e interpretação de textos, imagens, gráficos e tabelas.

õ 3. As questões discursivas investigarão, alem do conteúdo especifico, aspectos

como a clareza, a coerência, a coesão, as estratégias argumentativas, a utilização

de vocabulário adequado e a correção gramatical do texto.

õ 4. Na avaliação da formação geral deverão ser contemplados temas como: sociodiversidade: multiculturalismo e inclusão; exclusão e minorias; biodiversidade;

ecologia; novos mapas sócio e geopoliticos; globalização; arte e filosofia; estética;

políticas publicas: educação, habitação, saúde e segurança; redes sociais e

responsabilidade: setor publico, privado, terceiro setor; relações interpessoais

(respeitar, cuidar, considerar e conviver); vida urbana e rural; inclusão/exclusão

digital; cidadania; Ética; direitos humanos; violência; terrorismo, avanços

tecnológicos, relações de trabalho.

Art. 4o O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE 2006), no

componente especifico da área de Comunicação Social, terá por objetivos:

I - Contribuir para: a. o aperfeiçoamento continuo do ensino oferecido, por meio da

verificação de competências, habilidades e domínio de conhecimentos necessários

para o exercício das profissões e da cidadania; b. a construção de uma serie

histórica de avaliações, visando um diagnostico do ensino da área, para analisar

processos de ensino aprendizagem e suas relações com fatores socioeconomicos e

culturais; c. a identificação de necessidades, demandas e problemas do processo de

formação na área comunicacional, considerando-se as exigências sociais,

econômicas, políticas, d. culturais e éticas, assim como os princípios expressos nas

diretrizes curriculares para os cursos de Comunicação Social, conforme parecer

CNE/CES n.. 492 (de 3 de abril de 2001), parecer CNE/CES n.. 1.363 (de 12 de

dezembro de 2001) e resolução CNE/CES n. 16 (de 13 de marco de 2002).

II. Oferecer subsídios para: a. a formulação de políticas publicas para a melhoria do

ensino dos cursos de Comunicação Social e suas respectivas habilitações; b. o

134

acompanhamento, por parte da sociedade, dos perfis dos profissionais formados

pelos cursos;

c. a discussão do papel social dos profissionais formados da área de Comunicação

Social;

d. o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem no âmbito dos cursos de

graduação de Comunicação Social;

e. a auto-avaliação dos estudantes dos cursos de graduação de Comunicação

Social.

III. Estimular as instituições de educação superior a promoverem: a. a formulação de

políticas e programas para a progressiva melhoria da qualidade da educação nos

cursos de graduação da Comunicação Social; b. a utilização das informações para

avaliar e aprimorar seus projetos político-pedagógicos, visando a melhoria da

qualidade da formação do egresso dos cursos de graduação de Comunicação

Social; c. o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem e do ambiente

acadêmico dos cursos de graduação de Comunicação Social, adequando a

formação dos seus egressos as necessidades da sociedade brasileira.

IV. Avaliar: a. o desempenho dos estudantes com relação aos conteúdos

programáticos previstos nas diretrizes curriculares; b. o desenvolvimento de

competências e habilidades necessárias ao aprofundamento da formação geral e

profissional; c. o nível de atualização dos estudantes com relação a realidade

brasileira e mundial.

Art. 5o A prova do ENADE 2006, no componente especifico da área de

Comunicação Social, tomara como referencia o perfil do egresso expresso nas

Diretrizes Curriculares Nacionais em duas dimensões: um componente geral e seis

específicos para atender as diferentes habilitações.

I. Componente Geral: a. capacidade de criação, produção, distribuição, recepção, e

analise critica referentes as mídias, as praticas profissionais e sociais relacionadas

com estas, e a suas inserções culturais, políticas e econômicas; b. habilidade em

refletir a variedade e mutabilidade de demandas sociais e profissionais na área,

adequando-se a complexidade e velocidade do mundo contemporâneo; c. visão

135

integradora e horizontalizada - genérica e ao mesmo tempo especializada de seu

campo de trabalho possibilitando o entendimento da dinâmica das diversas

modalidades comunicacionais e das suas relações com os processos sociais que as

originam e que destas decorrem. d. utilizar criticamente o instrumental teórico-prático

oferecido em seu curso, sendo portanto competente para posicionar-se de um ponto

de vista ético-político sobre o exercício do poder na comunicação, sobre os

constrangimentos a que a comunicação pode ser submetida, sobre as repercussões

sociais que enseja e ainda sobre as necessidades da sociedade contemporânea em

relação a comunicação social.

II. Especifico para habilitação em Jornalismo: a. pela produção de informações

relacionadas a fatos, circunstancias e contextos do momento presente; b. pelo

exercício da objetividade na apuração, interpretação, registro e divulgação dos fatos

sociais; c. pelo exercício da tradução e disseminação de informações de modo a

qualificar o senso comum; d. pelo exercício de relações com outras áreas sociais,

culturais e econômicas com as quais o jornalismo faz interface. III. Especifico para

habilitação em Relações Publicas: a. pela administração do relacionamento das

organizações com seus diversos públicos, tanto externos como internos; b. pela

elaboração de diagnósticos, prognósticos, estratégias e políticas voltadas para o

aperfeiçoamento das relações entre instituições, grupos humanos organizados,

setores de atividades publicas ou privadas, e a sociedade em geral; c. pelo exercício

de interlocução entre as funções típicas de relações publicas e as demais funções

profissionais ou empresariais existentes na área da Comunicação.

Art. 6o A prova do ENADE 2006, no componente especifico da área Comunicação

Social, avaliara se o estudante desenvolveu, no processo de formação, as seguintes

habilidades acadêmicas e competências profissionais:

I. Competências profissionais e Habilidades Gerais: a. compreender criticamente e

analisar conceitos e teorias da área; b. analisar criticamente a realidade a partir dos

conceitos e teorias da área; c. demonstrar atitudes e responsabilidades inerentes ao

contexto ético- político da profissão; d. dominar as linguagens usadas nos processos

de comunicação, nos aspectos da criação, da produção, da interpretação e da

técnica; e. experimentar e inovar no uso das linguagens; f. refletir criticamente sobre

136

as praticas profissionais na área da Comunicação; g. dominar o idioma nacional para

escrita e interpretação de textos gerais e especializados na área.

II. Competências e habilidades especificas em Jornalismo: a. registrar fatos

jornalísticos, apurando, interpretando, editando e transformando-os em noticias e

reportagens; b. interpretar, explicar e contextualizar informações; c. investigar

informações, produzir textos e mensagens jornalísticas com clareza e correção e

edita-los em espaço e período de tempo limitado; d. formular pautas e planejar

coberturas jornalísticas; e. formular questões e conduzir entrevistas; f. relacionar-se

com fontes de informação de qualquer natureza; g. trabalhar em equipe com

profissionais da área; h. compreender e saber sistematizar e organizar os processos

de produção jornalística; i. desenvolver, planejar, propor, executar e avaliar projetos

na área de comunicação jornalística; j. avaliar criticamente produtos, praticas e

empreendimentos jornalísticos; k. compreender os processos envolvidos na

recepção de mensagens jornalísticas e seus impactos sobre os diversos setores da

sociedade; l. buscar a verdade jornalística, com postura ética e compromisso com a

cidadania; m. dominar a língua nacional e as estruturas narrativas e expositivas

aplicáveis às mensagens jornalísticas, abrangendo-se leitura, compreensão,

interpretação e redação; n. dominar a linguagem jornalística apropriada aos

diferentes meios e modalidades tecnológicas de comunicação;

Art. 7o A prova do ENADE 2006 da área de Comunicação Social, considerando as

especificidades de cada habilitação previstas nas Diretrizes Curriculares, tomara

como referencial os conteúdos descritos a seguir: a. Historia da Comunicação b.

Teorias da Comunicação c. Tecnologias em Comunicação d. Linguagem e

Expressão em Som e Imagem e. Teorias da Imagem f. Políticas de Comunicação g.

Sistemas de Comunicação h. Produtos Midiáticos i. Gêneros Discursivos j. Ética

Profissional k. Deontologia em Comunicação l. Estética na Comunicação m.

Sociologia da Comunicação n. Mercado Midiático o. Critica de Mídia p. Legislação

em Comunicação q. Processos de Criação em Comunicação r. Linguagem Gráfica e

Visual s. Planejamento e Gestão em Comunicação t. Formação da Opinião Publica

u. Técnicas de Pesquisa v. Pesquisa em Comunicação w. Segmentação e

Demandas Sociais em Mídia Art. 8. A prova do ENADE 2006, no componente

especifico da área de Comunicação Social, terá 30 (trinta) questões, sendo 6 (seis)

137

discursivas e 24 (vinte e quatro) de múltipla escolha, envolvendo situações-problema

e estudos de caso, de acordo com os conteúdos definidos no Art. 7. desta Portaria.

Art. 9. A Comissão Assessora de Avaliação da área de Comunicação Social e a

Comissão de Avaliação da Formação Geral do ENADE subsidiarão a banca de

elaboração com informações adicionais sobre a prova. Art. 10 Esta portaria entra em

vigor na data de sua publicação.

DILVO RISTOFF PRESIDENTE SUBSTITUTO

138

RECOMENDAÇÕES DE LIVROS JORNALISMO:

A economia das trocas lingüísticas Pierre Bourdieu

Dicionário do Brasileiro de Bolso Teixeira Coelho

Curso Prático de Redação Walmes Nogueira Galvão

Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar

Othon M. Garcia

Linguagem, escrita e poder Maurizzio Gnerre

O aprendizado da leitura Mary A. Kato No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística Mary A. Kato

Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura Angela Kleiman

Dramática da língua portuguesa: tradição gramatical, mídia e exclusão social Marcos Bagno

Formação de redatores para a produção de textos acessíveis a leitores pouco eficientes Tese de doutorado ECA-SP, 1994 – Maria Otília Bocchini

A Língua de Eulália Marcos Bagno

WAGNER BARREIRA (diretor de redação da Diretoria Secretaria Editorial da Abril)

recomenda:

Massa Crítica Massa e Poder Elias Cannetti (Cia das Letras).

Três décadas de pesquisa do prêmio Nobel de literatura sobre o comportamento

humano.

Discurso da Servidão Voluntária Etienne de la Boétie (Ed. Brasiliense).

Uma obra-prima sobre a liberdade individual do maior amigo de Montaigne.

Paidéia, A Formação do Homem Grego Werner Jaeger, Martins (Fontes /

Editora da Universidade de Brasília)

Um estudo profundo sobre como os gregos legaram ao Ocidente seu ideal de

humanidade com base na educação.

Onde Encontrar a Sabedoria Harold Bloom (Objetiva)

139

Um mergulho no cânone literário que nos ajuda a encontrar o caminho da sabedoria.

Endurance, A lendária expedição de Shackleton à Antártida Caroline

Alexander

Como sacrificar seus ideais em nome do bem comum. Shackleton comandou e

salvou um grupo de exploradores numa das maiores aventuras do século XX.

Jornalismo e Internet O Jornalista e o Assassino Janet Malcolm (Companhia das Letras)

Um estudo clássico sobre a ética jornalística e uma frase terrível: "Qualquer

jornalista (...) sabe que o que faz é moralmente indefensável".

Os Elementos do Jornalismo Bill Kovack e Tom Rosenstiel(Geração Editorial)

"A primeira obrigação do jornalismo é com a verdade" e mais oito elementos que daí

decorrem.

Grandes Reportagens A Mulher do Próximo Gay Talese (Cia das Letras)

Uma ótima pauta de um tema que anda nas nuvens: o sexo na sociedade

americana.

O Reino e o Poder Gay Talese (Cia das Letras)

Primor de reportagem sobre os bastidores e a história do maior jornal do mundo.

Fama e Anonimato Gay Talese (Cia das Letras)

Textos deliciosos para revistas. Atenção ao perfil do redator do Obituário do NYT.

A Sangue Frio Truman Capote (Cia das Letras)

A criação de um novo gênero, com base num texto de fina elegância.

No Ar Rarefeito de Jon Krakauer (Cia das Letras)

O que todo bom repórter espera na vida: estar no centro de uma grande história.

New Journalism Tom Wolfe (Anagrama)

Coletânea de textos do new journalism (em espanhol).

Literatura Poesia Completa Fernando Pessoa (Editora Nova Aguilar)

Para estar no mundo, qualquer que seja o heterônimo.

Poesia e Prosa de Carlos Drummond de Andrade (Editora Nova Aguilar)

140

As pedras, José, sempre estão pelo caminho.

Poesia Completa João Cabral de Mello Neto (Editora Nova Aguilar)

A poesia que brota do gesto de "catar feijão".

Las Mil y Una Noches anônimo, Ediciones 29 (Madri e Barcelona)

Como permanecer vivo contando histórias.

Obras Completas Jorge Luis Borges (Editorial Emecê), Buenos Aires

Erudição em forma de bons contos e histórias.

ADRIANO SILVA (jornalista Editora Abril) recomenda: On Writing Stephen King

The Spooky Art Norman Mailer

O Anjo Pornográfico Ruy Castro

Chatô, o Rei do Brasil Fernando Moraes

Jornal Nacional Memória Globo.

Minha Razão de Viver Samuel Wainer.

Radical Chique e o Novo Jornalismo Tom Wolfe.

EDSON ROSSI (jornalista da Editora Abril) recomenda:

A Regra do Jogo Abramo, Cláudio

Cozinha Confidencial* Bourdain, Anthony (* Descobri com este livro que a

melhor definição de uma redação é a cozinha de um restaurante).

Ética no Jornalismo Goodwin, H.Eugene

Futebol ao Sol e à Sombra Galeano, Eduardo

Manual de Redação e Estilo O Estado de S. Paulo - Martins, Eduardo

Minha Razão de Viver Wainer, Samuel

No Coração do Mar Philbrick, Nathaniel

Notícias de um Seqüestro Márquez, Gabriel García

O Queijo e os Vermes Ginzburg, Carlo

O Reino e o Poder Talese, Gay

Os Eleitos Wolfe, Tom

Os Verdadeiros Pensadores de Nosso Tempo Sorman, Guy

Relato de um Náufrago Márquez, Gabriel García

141

Norman Rockwell 332 Magazine Covers editado por Finch, Christopher

CARLOS MARANHÃO (jornalista da Editora Abril) recomenda:

A História Secreta do Plano Cruzado Ricardo A. Setti

A Imprensa e o Caos na Ortografia Marcos de Castro

A Língua Envergonhada Lago Burnett

A Prática da Reportagem Ricardo Kotscho

Aos Olhos da Multidão Gay Talese

Chatô-O Rei do Brasil Fernando Morais

De Jornal em Jornal Lago Burnett

Estado de S. Paulo - Manual de Redação e Estilo organizado por Eduardo

Martins

Globo - Manual de Redação e Estilo organizado por Luiz Garcia

Notícias do Planalto Mário Sérgio Conti

O Jornalista e o Assassino Janete Malcom

O Reino e o Poder - Uma História do The New York Times Gay Talese

Todos os Homens do Presidente Carl Bernstein e Bob Woodward

THAYS OYAMA (jornalista da revista Veja) recomenda: Dom Casmurro Machado de Assis Memórias Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis Memorial de Ayres Machado de Assis Os Sertões Euclides da Cunha

Crime e Castigo Dostoievski

Declínio e Queda do Império Romano Gibbon

A História da Arte Gombrich

A Interpretação dos Sonhos Freud

Casa Grande e Senzala Gilberto Freyre

O Reino e o Poder Gay Talese

O Jornalista e o Assassino Janet Malcolm

Notícias do Planalto Mário Sérgio Conti

142

RICARDO LOMBARDI (jornalista) recomenda:

Idea: A evolução do conceito de belo Erwin Panofsky

30 anos do The New York Review of Books - A primeira Antologia com textos

de Robert Lowell, Gore Vidal, Hannah Arendt, Robert Hughes, entre outros.

Da Alvorada à decadência - A história da cultura ocidental de 1500 aos nossos dias Jacques Barzun

The Trust - The Private and powerful family behind The New York Times

Susan E. Tift e Alex S. Jones (Little, Brown)

Walden ou A vida nos bosques Henry David Thoreau

Os Sertões Euclides da Cunha

A vida como performance - O melhor das telas e dos palcos do século XX por um mestre da frase e da observação Kenneth Tynan

O Afeto que se encerra Paulo Francis

Hamlet William Shakespeare

Obras Completas de Machado de Assis (3 Volumes)

Itinerário de Pasárgada Manuel Bandeira

O Mal-estar na Civilização Sigmund Freud

OUTROS LIVROS:

A Montanha Mágica Thomas Mann

Sonata da Última Cidade Renato Modernell

Arte Moderna Giulio Carlo Argan

A Montanha da Alma Gao Xingjian O Nome da Rosa Umberto Eco

O Amante Marguerite Duras

História do Cerco de Lisboa José Saramago

O Grande Gatsby F. Scott Fitzgerald

A Linha de Sombra Joseph Conrad

O Caso Morel Rubem Fonseca

Trópico de Câncer Henry Miller Rumo ao Farol Virginia Woolf

O Velho e o Mar Ernest Hemingway

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A Consciência de Zeno Italo Svevo

Angústia Graciliano Ramos

A Revolução dos Bichos George Orwell

Pantaleón e as Visitadoras Mario Vargas Llosa

Sidarta Hermann Hesse

O Processo Franz Kafka

Morte em Veneza Thomas Mann

O Senhor das Moscas William Golding

Nosso Homem em Havana Graham Greene

As Cidades Invisíveis Italo Calvino

Dublinenses James Joyce

A Mulher Desiludida Simone de Beauvoir

Memórias de Adriano Marguerite Yourcenar

No Caminho de Swann Marcel Proust

Breve Romance de Sonho Arthur Schnitzler

O Jovem Törless Robert Musil

O Fio da Navalha W. Somerset Maugham

Sargento Getúlio João Ubaldo Ribeiro

Quase Memória Carlos Heitor Cony

Riso no Escuro Valdimir Nabokov

Macunaíma Mário de Andrade

O Poderoso Chefão Mario Puzzo

A sangue Frio Truman Capote

Viver para Contar GG Márquez

Notícias de um seqüestro GG Márquez

Ensaio sobre a Cegueira Saramago

Ensaio sobre a Lucidez Saramago

Mercadores da Noite Ivan Sant´ana

Minhas histórias dos outros Zuenir Ventura

O Dossiê Iscariotes Marcos Losekann

O Mundo é plano Thomas L. Friedman

O caçador de Pipas Hosseini, Khaled Casa Grande e Sensala Gilberto Freyre (Sociologia)

História da Prostituição Guido Fonseca

144

Manual do Idiota Latino Americano

O Tempo e o Vento I e II Erico Veríssimo (Literatura)

Suave é a Noite F. Scott Fitzgerald (Literatura)

O Ciclo das Águas Moacyr Scliar

Coração das Trevas Joseph Conrad (esse livro inspirou Apocalypse Now, um

clássico do cinema)

Os Jornalistas Balzac

Ilusões Perdidas Balzac

Fahrenheit 451 Ray Bradbury

Crime e Castigo Dostoievski

POESIA:

A arte da Poesia Ezra Pound

ABC da literatura Ezra Pound

Eliot

Arnout Daniel

Guido Cavalcanti

Shakespeare

Para aprender a escrever (toda a obra de: os grandes estilistas da língua

portuguesa):

Machado de Assis,

Eça de Queiroz,

Érico Veríssimo,

Luis Fernando Veríssimo,

Nelson Rodrigues,

Rubem Braga,

Ana Miranda,

Ruy Castro,

Fernando Morais,

Millôr Fernandes,

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Carlos Drummond de Andrade,

Manoel de Barros,

Hilda Hist,

Rubem Alves,

Paulo Leminski, entre outros.

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