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1 MUDANÇAS RECENTES NA OCUPAÇÃO SUCROALCOOLEIRA EM DECORRÊNCIA DA MECANIZAÇÃO DO CORTE DE CANA-DE-AÇÚCAR NO ESTADO DE SÃO PAULO 1 José Giacomo Baccarin José Jorge Gebara Janaína Gagliardi Bara Resumo: No presente século tem-se observado expressivo crescimento da produção sucroalcooleira no Estado de São Paulo. Também se constatou, especialmente pós 2006, intensificação da substituição do corte manual de cana queimada pelo corte mecanizado de cana sem queimar, fato vinculado à estratégia empresarial de se valorizar o etanol como combustível renovável e pouco agressivo ao meio ambiente. O objetivo do artigo é analisar os efeitos dessa mudança tecnológica, acompanhada da expansão da produção setorial, na evolução do número e na sazonalidade de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados ocupados por empresas sucroalcooleiras em São Paulo, vis a vis os demais tipos de ocupação sucroalcooleiras. Além dos dados de área de cana-de-açúcar, obtidos junto ao Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, e de produção de cana-de-açúcar, açúcar e álcool, da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), usaram-se informações de ocupação formal contidas nas edições da Relação Anual de Informações Sociais e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego, do Governo Federal do Brasil. Os resultados indicam que, apesar do crescimento da produção setorial, o nível de ocupação das empresas sucroalcooleiras, praticamente, se manteve entre 2007 e 2010. Enquanto decrescia, expressivamente, o número de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados, em que se encontram os cortadores de cana, aumentava, um pouco menos, o número das Outras Ocupações Sucroalcooleiras, em que a qualificação profissional é maior. Houve aumento considerável do número de Trabalhadores na Mecanização Agrícola, embora em menor número absoluto do que a queda dos Trabalhadores Canavieiros não Qualificados. A sazonalidade de ocupação dos Trabalhadores 1 Capítulo do livro: LEMOS, E. G. M. & STRADIOTTO, N. R. (Orgs.). Bioenergia: desenvolvimento, pesquisa e inovação. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. P. 835-854.

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MUDANÇAS RECENTES NA OCUPAÇÃO SUCROALCOOLEIRA EM DECORRÊNCIA DA MECANIZAÇÃO DO CORTE DECANA-DE-AÇÚCAR NO ESTADO DE SÃO PAULO1

José Giacomo BaccarinJosé Jorge Gebara

Janaína Gagliardi Bara

Resumo:No presente século tem-se observado expressivo crescimento da produção sucroalcooleira no Estado de São Paulo. Também se constatou, especialmente pós 2006, intensificação da substituição do corte manual de cana queimada pelo corte mecanizado de cana sem queimar, fato vinculado à estratégia empresarial de se valorizar o etanol como combustível renovável e pouco agressivo ao meio ambiente. O objetivo do artigo é analisar os efeitos dessa mudança tecnológica, acompanhada da expansão da produção setorial, na evolução do número e na sazonalidade de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados ocupados por empresas sucroalcooleiras em São Paulo, vis a vis os demais tipos de ocupação sucroalcooleiras. Além dos dados de área de cana-de-açúcar, obtidos junto ao Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, e de produção de cana-de-açúcar, açúcar e álcool, da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), usaram-se informações de ocupação formal contidas nas edições da Relação Anual de Informações Sociais e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego, do Governo Federal do Brasil. Os resultados indicam que, apesar do crescimento da produção setorial, o nível de ocupação das empresas sucroalcooleiras, praticamente, se manteve entre 2007 e 2010. Enquanto decrescia, expressivamente, o número de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados, em que se encontram os cortadores de cana, aumentava, um pouco menos, o número das Outras Ocupações Sucroalcooleiras, em que a qualificação profissional é maior. Houve aumento considerável do número de Trabalhadores na Mecanização Agrícola, embora em menor número absoluto do que a queda dos Trabalhadores Canavieiros não Qualificados. A sazonalidade de ocupação dos Trabalhadores Canavieiros não Qualificados diminuiu, de 2007 para 2010, embora continuasse muito alta. Supõe-se que as atuais mudanças na composição da ocupação estão estimulando ações de qualificação profissional das empresas sucroalcooleiras e do poder público.

Palavras chaves: Cana-de-açúcar, Colheita de Cana-de-açúcar, Empresas Sucroalcooleiras, Ocupação Sucroalcooleira, Estado de São Paulo.

Abstract:In this century it has observed an expressive growth in the sugar-ethanol production in the São Paulo State. It has also evidenced, especially after 2006, a burned sugarcane manual harvesting intensification change from the unburned sugarcane mechanized harvesting, fact linked to the business strategy of appreciate ethanol as renewable and non-aggressive to the environment fuel This article aims analyze this technologic change effects, followed by the sectorial production expansion, in the number and seasonality evolution of the Unqualified Sugar-ethanol Sector Workers in 1 Capítulo do livro: LEMOS, E. G. M. & STRADIOTTO, N. R. (Orgs.). Bioenergia: desenvolvimento, pesquisa e inovação. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. P. 835-854.

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São Paulo State sugar-ethanol companies, vis-à-vis other sorts of sugar-ethanol occupation. Besides the sugar-ethanol land data obtained from the Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (National Institute of Spatial Research), and the sugarcane, sugar and ethanol production data from Companhia Nacional de Abastecimento-CONAB (National Company of Supply), formal occupation information from the Brazilian Government Employment’s edition (Relação Anual de Informações Sociais e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego, do Governo Federal do Brasil). Results indicated that besides the sectorial production has grown, the sugar-ethanol company’s occupation has been basically the same from 2007 to 2010. While the Unqualified Sugar-ethanol Sector Workers were expressively smaller, where the sugarcane workers were, the workers from the Other Sugar-ethanol Sector Occupations had a slightly increased, where the professional qualification is higher. There was an important increasing in the Agricultural Mechanization Workers, although in a smaller absolute number than the Unqualified Sugar-ethanol Sector Workers reduction. The occupational seasonality of the Unqualified Sugar-ethanol Sector Workers decreased from 2007 to 2010, being too high, though. It is assumed that the current changes in the occupation composition are stimulating the sugar-ethanol companies and governmental qualification actions.

Keywords: Sugarcane, Sugarcane harvesting, Sugar Mills, Sugar and Alcohol Occupation, São Paulo State.

1. INTRODUÇÃOPode-se discutir a forma como ocorre o corte da cana-de-açúcar, tanto do

ponto de vista mais restrito, da gestão empresarial, quanto de perspectiva mais ampla, envolvendo temas como a geração de postos de trabalho, as relações sociais entre empresários e trabalhadores e a preservação ambiental. A princípio, têm-se quatro possibilidades para aquela operação: corte manual de cana sem queimar, corte manual de cana queimada, corte mecânico de cana queimada e corte mecânico de cana sem queimar.

Na metade da década de 1960, no Estado de São Paulo, o corte da cana-de-açúcar era feito, na quase totalidade, de maneira manual sem a queima prévia de sua palha. Na atualidade, o corte mecânico de cana sem queimar é predominante nos canaviais paulistas, tendo se verificado aceleração de seu uso pós 2006. Também ocorreram modificações tecnológicas no plantio da cana-de-açúcar.

Ao mesmo tempo tem se verificado grande expansão da área plantada e da produção de cana-de-açúcar no Estado. Assim, informações do Projeto CANASAT indicam que o total cultivado com cana-de-açúcar em São Paulo passou de 3.002.676 hectares (ha), em 2003/04, para 5.303.342 ha, em 2010/11, crescimento de 76,6% (INPE, 2011).

A expansão canavieira tende a afetar positivamente a geração de emprego ou ocupação canavieira, enquanto a mudança tecnológica, especialmente no corte de cana, tende a diminuir a necessidade de trabalhadores canavieiros não qualificados, mais especificamente dos cortadores de cana.

O objetivo do presente trabalho é analisar os efeitos das mudanças tecnológicas, com destaque para o corte de cana, na evolução do número de trabalhadores canavieiros não qualificados ocupados por empresas sucroalcooleiras no Estado de São Paulo, vis a vis os demais tipos de ocupação dessas empresas, no período compreendido entre 2007 e 2010. Especificamente, pretende-se:

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a) Comparar a ocupação entre diferentes empresas sucroalcooleiras;b) Estimar o número de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados;c) Analisar mudanças na sazonalidade de ocupação dos Trabalhadores

Canavieiros não Qualificados;d) Estimar o número de pessoas ocupadas em atividades industriais,

administrativas e de apoio e não sucroalcooleiras das empresas sucroalcooleiras;e) Comparar a evolução de diferentes categorias de ocupação com a

evolução da área de cana-de-açúcar e da produção setorial.Além da Introdução, o capítulo está organizado em quatro seções. A segunda

aborda as mudanças tecnológicas que ocorreram no cultivo, mais enfaticamente no corte da cana-de-açúcar em São Paulo, entre as décadas de 1960 e 2010, procurando captar suas motivações administrativas e sociais e consequências ambientais e sociais. A terceira refere-se à metodologia, com descrição das fontes e da forma como se trataram os dados de produção e ocupação sucroalcooleiras. A quarta é dedicada à interpretação dos resultados. Por fim, há uma seção de considerações finais.

2. MUDANÇAS TECNOLÓGICAS NO CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCARCostuma-se dividir a colheita da cana em três operações, o corte

propriamente dito, o carregamento da cana cortada em veículos e seu transporte, em uma ou duas etapas, para o processamento industrial nas usinas e destilarias.

Até o final da década de 1960, as operações de corte e carregamento eram feitas manualmente. Havia trabalhadores que, com o uso do podão, se dedicavam ao corte da cana crua (sem queima prévia de sua palha) em um eito composto por três a cinco ruas da cultura. O produto cortado era depositado em leira contínua ou em feixes na rua central do eito. Outro grupo de trabalhadores carregava às costas a cana cortada, muitas vezes subia uma escada e a depositava nas carrocerias de caminhões ou em carretas de tratores para seu transporte até as agroindústrias sucroalcooleiras.

No final da década de 1960, o carregamento da cana cortada passou a ser feito mecanicamente, através de guinchos acoplados a tratores. Também aumentou a capacidade de carga dos caminhões transportadores. Diante disso, tornou-se necessário ou aumentar o número de cortadores de cana por frente de trabalho ou elevar a quantidade de cana que cada um cortava diariamente.

Essa segunda opção acabou predominando, com a adoção da prática de se queimar a palha da cana-de-açúcar horas antes de seu corte. Segundo relatos de empresários e trabalhadores, estima-se que com isso a quantidade de toneladas de cana cortada diariamente por trabalhador, no mínimo, dobrou ou, mesmo, triplicou. Além disso, a queimada do canavial afugentava animais peçonhentos e diminuía o número de ferimentos, inclusive nos olhos dos trabalhadores, causados pela palha da cana.

Portanto, a queimada proporcionou ganho significativo na produtividade do cortador de cana, o que certamente mais do que compensava seus custos empresariais. Outro expediente usado desde então até a atualidade, para aumento da produtividade, é o pagamento do corte manual proporcionalmente à quantidade de cana cortada.

A adoção da queimada dos canaviais trouxe evidentes prejuízos ambientais, poluindo o ar e contribuindo para a destruição da fauna e flora nativas, não sendo raro o fogo dos canaviais, acidentalmente ou não, atingir áreas de vegetação natural. Como a área com cana-de-açúcar era bem menor que na atualidade e a

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mobilização social na defesa do meio ambiente era menos expressiva, por muitos anos a reação contra a queimada dos canaviais não ganhou grande expressão.

O corte manual de cana queimada se generalizou entre o final da década de 1960 e o início da década de 1980, no Estado de São Paulo, assim como se consolidou o chamado sistema de cana de cinco ruas, correspondente à largura do eito de trabalho do cortador.

Na primeira metade da década de 1980 constatava-se grande contingente de trabalhadores rurais canavieiros no Estado de São Paulo, como decorrência da expansão da produção de cana-de-açúcar, associada aos incentivos do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), de 1975. Isso estimulou, inclusive, o aumento do número de migrantes sazonais2, originados do norte de Minas Gerais e de alguns estados do Nordeste, no corte de cana.

Por volta de 1983, vários empresários sucroalcooleiros tentaram implantar modificações no sistema de corte manual de cana. Visando reduzir custos com maquinário agrícola e obter cana cortada com menos terra impregnada, garantindo melhor rendimento industrial, procuraram elevar a largura do eito de trabalho de cinco para sete ruas, ou seja, de 6,0 para 9,0 metros, bem como aumentaram as exigências quanto à deposição da cana em montes na rua central (GEBARA & BACCARIN, 1984). Em face ao maior esforço físico que o novo sistema de sete ruas impunha, a reação dos trabalhadores foi imediata e generalizada, com registro de várias greves e mobilizações sociais, como a Revolta ocorrida no município de Guariba (SP), em 1984, que paralisou totalmente o corte de cana na região.

Os empresários tiveram que voltar atrás, mantendo o sistema de cinco ruas e, daí em diante, as negociações anuais feitas em torno dos salários e demais condições de trabalho, pelo menos por alguns anos, foram mais favoráveis aos canavieiros (ALVES, 1991). A contratação dos trabalhadores, antes feita de maneira indireta, por empreiteiros, tendeu a ser substituída pela contratação direta pelas empresas sucroalcooleiras; o transporte dos trabalhadores, feito antes em caminhões, passou a ser feito por ônibus; os empresários, com o tempo, passaram a fornecer equipamentos de proteção individual contra acidentes de trabalho.

À época, alguns empresários chegaram a expressar a intenção de adotarem amplamente a colheita mecanizada de cana-de-açúcar, até como uma forma de pressão nas negociações trabalhistas. Como se verá logo adiante, tal intenção não se efetivou, de forma ampla, pelo menos até o final da década de 1990.

No campo ambiental, a partir do final da década de 1980, acentuaram-se as mobilizações sociais e as ações do Ministério Público procurando impedir a prática das queimadas. Nessa direção, foram editadas novas normas públicas, federal e paulista, estipulando a eliminação gradativa da queima dos canaviais. Em São Paulo, após várias tentativas de normatização mais rígidas, editou-se a Lei 11.242, de 19/09/2002 que estabelece que a extinção da queima dos canaviais deva ocorrer até 2031, em áreas não mecanizáveis (declividade acima de 12%), e até 2021, em áreas mecanizáveis (declividade abaixo de 12%). Por sua vez, o Decreto Federal n. 2.661, de 8/7/1998, trata apenas das áreas mecanizáveis e estabelece o ano de 2018, como prazo para extinção completa da queima dos canaviais (PAES, 2007).

2 A maioria dos migrantes era constituída por pequenos agricultores na sua região de origem, sendo que aí suas atividades laborais eram menores justamente no período coincidente com a safra de cana-de-açúcar em São Paulo, possibilitando o fenômeno da migração sazonal. Ou seja, na entressafra de cana os trabalhadores permaneciam em suas regiões de origem, plantando pequenas áreas de lavouras temporárias, e na safra se dirigiam aos canaviais paulistas para o trabalho de corte (ZOCOLLER, BACCARIN & GEBARA, 1984).

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O prazo relativamente longo estabelecido na legislação para o fim da queima dos canaviais guardava correspondência com o debate social que se desenvolvia em torno do assunto, no final da década de 1990. Do lado dos defensores da queimada, o argumento mais usado era que apenas com tal prática se garantia a colheita manual de cana e a manutenção de milhares de empregos rurais. Se a cana tivesse que ser colhida sem queimar, necessariamente, teriam que ser usadas colhedoras mecânicas, cada uma substituindo de 80 a 100 cortadores, provocando grande dispensa destes.

Este argumento era verdadeiro apenas parcialmente. Primeiro, por que a cana sem queimar ou crua pode ser cortada manualmente, embora, como já visto, em ritmo muito menor que a cana queimada e, provavelmente, com oposição dos trabalhadores que, há muitos anos, vinham colhendo cana queimada. O mais importante, contudo, é que muitas vezes se praticava a queimada da cana (agredindo o meio ambiente) e se colhia mecanicamente (provocando desemprego), posto que várias colhedoras, da época, apresentavam dificuldades de operarem com o excesso característico de palha da cana-de-açúcar.

Estimativas apresentadas por Paes (2007) apontam que a área colhida com colhedoras no Estado de São Paulo era de apenas 18% da área total com cana, em 1997. Em termos da gestão empresarial, pode-se especular que este nível baixo de mecanização estava associado às dificuldades financeiras e de investimento de grande parte das empresas sucroalcooleiras na década de 1990, a custos ainda relativamente mais baixos da colheita manual, a falta de adaptação dos canaviais (especialmente, o comprimento dos talhões de cana) e das cultivares para emprego mais eficiente das colhedoras mecânicas, bem como ao insuficiente desenvolvimento tecnológico dessas máquinas.

É importante reter outro dado levantado por Paes (2007) para 1997. Neste ano, da área colhida com colhedora, em 79% usava-se a queima prévia dos canaviais e apenas em 21% colhia-se cana crua.

A partir dessas informações e supondo que o corte manual de cana sem queimar era residual, pode se estabelecer que, em 1997, o sistema de corte manual de cana queimada representava 82%, o corte mecânico de cana queimada, 14%, e o corte mecânico de cana sem queimar representava tão somente 4% da área colhida de cana-de-açúcar, em São Paulo. Ou seja, continuava amplamente predominante o corte manual de cana queimada e o pouco de mecanização que se adotava tinha efeito muito reduzido na diminuição dos problemas ambientais associados à queimada.

Na década inicial do Século XXI registraram-se vários acontecimentos favoráveis no mercado de álcool e de açúcar, estimulando o crescimento da produção sucroalcooleira (BACARIN, ALVES & GOMES, 2008). A capitalização das empresas aumentou, com obtenção de consideráveis financiamentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), via mercado de capitais e com a entrada de novos grupos no setor, muitos internacionais. Também, a exportação do álcool combustível tornou-se efetiva, trazendo novas exigências quanto à certificação de conformidade técnica e ambiental do produto.

Nesse período constatou-se que as mudanças tecnológicas no cultivo da cana-de-açúcar se aceleraram. Em 2006, a área de cana colhida mecanicamente em São Paulo se elevara para 40%, sendo que deste total 27% continuavam empregando a queimada prévia e 73% já não usavam a prática (PAES, 2007). Ou seja, o corte manual de cana queimada continuava predominando, com participação de 60%, embora de forma bem menos expressiva que em 1997. Por outro lado, o

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corte mecânico de cana queimada caíra para 11% e o corte mecânico de cana sem queimar se elevara para 29% do total da área colhida com cana em São Paulo.

Dados de imagem de satélite obtidos pelo Projeto CANASAT e trabalhados por Aguiar, Rudorff & Silva (2010) indicam que, na safra 2006/07, 34,2% da área colhida com cana em São Paulo não utilizaram a queima prévia, valor próximo ao obtido a partir dos dados de Paes (2007).

Entre 2006 e 2007, aparentemente, ocorreu modificação na atitude e no discurso empresarial quanto à adoção da colheita mecânica. Antes, procurava-se justificar o alto nível de área de cana queimada associando-o à manutenção da ocupação dos cortadores de cana. A partir daí, passou-se a destacar a necessidade de se adotarem práticas preservacionistas, revelando a intenção de se acelerar ainda mais a adoção da corte mecânico de cana sem queimar. Neste momento, em torno de 25% da produção brasileira de álcool combustível já eram destinados à exportação.

Um fato que comprova essa mudança de atitude e discurso é a assinatura, em 2007, do Protocolo Agroambiental entre a UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar) e as Secretarias Estaduais do Meio Ambiente e da Agricultura e Abastecimento, prevendo-se a antecipação do final das queimadas da cana-de-açúcar em São Paulo para 2014, em áreas mecanizáveis, e para 2017, em áreas não mecanizáveis. Embora a adesão ao Protocolo fosse (e continua sendo) voluntária, sua edição deixava clara a opção, pelo menos das lideranças dos empresários paulistas, em extinguir, o quanto antes, as queimadas (FREDO et al, 2008).

A aceleração da adoção da colheita mecânica é, indiretamente, comprovada pelo estudo de Aguiar, Rudorff & Silva (2010). Se em 2006/07 a área colhida com cana sem queimar em São Paulo atingira 34,2% do total colhido, em 2007/08 este valor passou para 46,6%, em 2008/09 para 49,1%, alcançando 55,7%, em 2009/103. Ou seja, neste último ano a área colhida sem queima prévia do canavial tornou-se levemente majoritária.

Supondo-se que a substituição do corte mecânico de cana queimada por corte mecânico de cana crua, entre 2006 e 2009, tenha se mantido no ritmo constatado por Paes (2007) entre 1997 e 2006, pode-se estimar, a partir dos dados de Aguiar, Rudorff e Silva (2010), que em 2009, 61,7% da área colhida com cana em São Paulo usaram colheita mecânica, sendo 6,0% precedidos da queima dos canaviais.

O efeito negativo da incorporação mais acelerada da colheita mecânica sobre o número de trabalhadores canavieiros vem sendo reforçado pelo acréscimo da produtividade média do cortador de cana, verificado desde o final da década de 1980. Assim, dados coletados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo mostram que, em 1989, o trabalhador canavieiro cortava, em média, 6,09 toneladas de cana por dia em São Paulo. Este valor passou para 7,00 toneladas, em 1995, 7,69 toneladas, em 2000, até alcançar, em 2009, 8,79 toneladas (IEA, 2008, 2009). Ou seja, em um prazo de 20 anos, a produtividade média do canavieiro no corte de cana, em São Paulo, aumentou em 44,3%.

3 Estudo desenvolvido por Ramos (2007) aponta para a intensificação do uso de colhedoras, sendo que, em 2003, foram vendidas no Brasil 40 dessas máquinas, saltando para 254, em 2006, e prevendo-se que seriam comercializadas entre 950 e 1000 unidades, em 2010. O autor estima que 80% da área de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil serão colhidos mecanicamente, em 2015.

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Além da colheita, realizada entre os meses de abril e novembro nas condições paulistas, outra operação agrícola em que se observam modificações tecnológicas importantes é o plantio de cana-de-açúcar, realizado, normalmente, nos quatro primeiros meses do ano (BACCARIN & GEBARA, 2010). Neste caso já se constata a substituição do plantio manual pelo plantio mecânico em algumas empresas. Também aumentou o número de cortes de um mesmo canavial, de uma média de três, comum na década de 1970, para uma média superior a seis, atualmente. Ou seja, em uma mesma área de cana-de-açúcar, o plantio tende a se repetir, nos dias atuais, a cada sete anos ou mais, contra os quatro anos da década de 1970, reduzindo a necessidade de trabalhadores por área de cana-de-açúcar.

3 - METODOLOGIAOs dados da área de cana-de-açúcar no estado de São Paulo foram obtidos

do Projeto CANASAT do INPE. Os da produção de cana-de-açúcar, de açúcar e álcool foram obtidos de publicações da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

Já a fonte de informações sobre ocupação foram os arquivos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) do Governo Federal do Brasil, que registram informações sobre ocupação formal (com carteira de trabalho assinada) prestadas pelas próprias empresas empregadoras. É importante ressaltar que nas condições prevalecentes no estado de São Paulo, Moraes (2004) estimava que a ocupação formal representava, aproximadamente, 90% da ocupação sucroalcooleira. Como de lá para cá a formalidade de trabalho tendeu a aumentar no Brasil como um todo, entende-se que algo semelhante deve ter acontecido no setor aqui analisado, aumentando ainda mais a já alta representatividade dos dados analisados nesse trabalho.

As empresas enviam dois tipos de relatório ao MTE, um com dados de ocupação em 31 de dezembro de cada ano, chamado de Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). O outro são relatórios que registram, para cada mês do ano, a movimentação (admissão e demissão) das pessoas ocupadas, chamado de Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). A partir das informações da RAIS de um ano qualquer, pode-se obter uma estimativa do número de pessoas ocupadas em determinado mês do ano seguinte, agregando-se o número de admissões e demissões registrado até então pelo CAGED.

Para as empresas sucroalcooleiras é necessário que não se atenha apenas aos dados registrados na RAIS, cujas informações coincidem com a entressafra do setor, quando as agroindústrias não estão mais processando a cana-de-açúcar e as atividades agrícolas são menores. É imprescindível que também se usem os dados do CAGED, que permitem obter informações dos meses da safra sucroalcooleira, cujo ápice ocorre entre maio e julho de cada ano.

Em um primeiro momento, fez-se uma análise da ocupação de acordo com o tipo de empresa. Consideraram-se como empresas sucroalcooleiras aquelas classificadas na RAIS e no CAGED nos seguintes grupos: Cultivo da Cana-de-açúcar, Fabricação do Açúcar em Bruto, Fabricação do Açúcar Refinado e Fabricação de Álcool.

É preciso observar que essa classificação se estabelece de acordo com atividade principal da empresa, sendo que uma empresa classificada, por exemplo, como de Cultivo da Cana-de-açúcar, pode se dedicar também a outras atividades agropecuárias ou mesmo não agropecuárias. Outra observação é que no Brasil há

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grande integração vertical nas agroindústrias sucroalcooleiras (produtoras de açúcar e álcool) que produzem, diretamente, grande parte de sua matéria prima, a cana-de-açúcar4. Dessa forma pressupõe-se que o número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas nas empresas dedicadas à fabricação do açúcar em bruto, do açúcar refinado ou do álcool seja significativo, embora menos importante que no caso das empresas dedicadas ao Cultivo de Cana-de-açúcar.

A análise dos resultados foi feita comparando-se o ocorrido isoladamente em empresas do Cultivo de Cana-de-açúcar com o acontecido no conjunto dos outros três tipos de empresas sucroalcooleiras, que será chamado de Agroindústrias Sucroalcooleiras. As empresas do primeiro tipo são de menor tamanho médio, sendo que 6.258 delas apareceram registradas na RAIS 2009. Já as Agroindústrias Sucroalcooleiras são, na média, de maior porte, com 258 registros na RAIS 2009 (MTE, 2011).

Em um segundo momento, analisou-se a evolução das diferentes categorias profissionais registradas nas empresas sucroalcooleiras. Para tanto, considerou-se o nível de classificação Família Ocupacional, conforme a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)5. Foi constatada a existência de 380 Famílias Ocupacionais nas empresas sucroalcooleiras.

De acordo com a experiência acumulada pelos autores deste trabalho, essas famílias foram organizadas nos seguintes grupos: Pessoas Ocupadas na Agricultura, Pessoas Ocupadas na Indústria (usinas ou destilarias), Pessoas Ocupadas em Atividades Administrativas e de Apoio (escritórios, manutenção etc.) e Pessoas Ocupadas em Atividades não Sucroalcooleiras.

A seguir subdividiu-se o grupo Pessoas Ocupadas na Agricultura em três subgrupos: Trabalhadores Canavieiros não Qualificados, Trabalhadores da Mecanização Agrícola e Outras Pessoas Ocupadas na Agricultura. O primeiro subgrupo resulta da soma de três Famílias Ocupacionais, quais sejam Trabalhadores Agropecuários em Geral, Trabalhadores de Apoio à Agricultura e Trabalhadores Agrícolas na Cultura de Gramíneas e entende-se que aí estão incluídos os trabalhadores que se dedicam às atividades que não exigem maior qualificação profissional, como o plantio e o corte de cana-de-açúcar. O segundo subgrupo constitui uma Família Ocupacional específica da CBO e o terceiro resulta da soma das demais famílias ocupacionais observadas na lavoura canavieira.

Em algumas análises só se consideraram dois grupos de pessoas ocupadas nas empresas sucroalcooleiras, o dos Trabalhadores Canavieiros não Qualificados e o conjunto dos demais tipos de ocupação, que foi denominado de Outras Ocupações Sucroalcooleiras.

Para os Trabalhadores Canavieiros não Qualificados, além da variação de seu número entre os anos considerados, fez-se uma análise de sua variação entre os meses do ano, procurando captar eventuais mudanças na sazonalidade de emprego.

4 Na safra 2007/08, constatou-se que nas agroindústrias sucroalcooleiras do Centro-Sul, onde se encontra São Paulo, 65,4% da cana-de-açúcar moída eram provenientes de canaviais das próprias usinas ou destilarias e apenas 34,6% provinham de fornecedores independentes (CONAB, 2008).5 A CBO foi instituída pela Portaria Ministerial no. 397, em 2002, e tem por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho, para fins classificatórios junto a registros administrativos e domiciliares. Ela classifica as ocupações em quatro grupos. O Grande Grupo Ocupacional constitui o nível mais agregado da classificação. O Subgrupo Ocupacional Principal busca melhorar o equilíbrio hierárquico entre o número de grandes grupos e subgrupos. O Subgrupo Ocupacional indica o domínio dos campos profissionais de Famílias Ocupacionais agregadas. E a Família Ocupacional contempla 596 grupos de base, que agrupam situações de emprego ou ocupações similares (MTE, 2009).

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Por fim, comparou-se a evolução do número das diferentes categorias de ocupação com a evolução da área de cana-de-açúcar e com a produção de cana-de-açúcar, açúcar e álcool.

A opção de se considerar para a análise apenas o período posterior a 2007 se justifica por duas razões. Houve mudança na metodologia da RAIS do CAGED em 2006, dificultando a comparação dos anos mais recentes com os anteriores a 2006. Entende-se também que em 2007 os empresários sucroalcooleiros explicitam claramente a intenção de generalizar, em poucos anos, o corte mecânico de cana sem queimar, dando maior intensidade à modernização tecnológica da lavoura canavieira.

4 – RESULTADOS4.1 – Ocupação por Tipo de Empresa

Fica evidenciada na Tabela 1 queda de 19% na média anual de pessoas ocupadas em empresas do Cultivo da Cana-de-açúcar de 2007 a 2010. O número médio de pessoas ocupadas nas chamadas Agroindústrias Sucroalcooleiras cresceu 15% no período todo, embora tenha ficado praticamente estagnado entre 2008 e 2009, muito provavelmente devido à crise econômica deste último ano. Para o conjunto de Empresas Sucroalcooleiras houve pequena diminuição no número médio de pessoas ocupadas, de 316.121, em 2007, para 310.413, em 2010, ou 2% a menos.Tabela 1 – Número Médio de Pessoas Ocupadas em Diferentes Empresas Sucroalcooleiras, Estado de São Paulo, 2007 a 2010

Tipo de Empresa Item 2007 2008 2009 2010

Cultivo da Cana-de-açúcar Valor 156.682 147.891 137.575 126.378Índice 100 94 88 81

Agroindústria Sucroalcooleira

Valor 159.439 172.803 173.640 184.035Índice 100 108 109 115

Empresas Sucroalcooleiras Valor 316.121 320.694 311.215 310.413Índice 100 101 98 98

Fonte: MTE (2011).A queda da ocupação nas empresas do Cultivo da Cana-de-açúcar, enquanto

crescia a ocupação nas Agroindústrias Sucroalcooleiras, a princípio, poderia decorrer de diminuição do número das empresas do primeiro grupo em relação ao segundo grupo. Contudo, isso, de fato, não ocorreu, sendo que o número de empresas do Cultivo de Cana-de-açúcar aumentou de 6.010, em dezembro de 2007, para 6.258, em dezembro de 2009. Com as Agroindústrias Sucroalcooleiras aconteceu o contrário, uma diminuição no período considerado, de 268 para 258 empresas (MTE, 2011), apontando para a intensificação da concentração econômica setorial (BACCARIN, GEBARA & ROSADA, 2009).

Outra provável explicação, que se confirma nas análises posteriores, é que, como nas empresas do Cultivo da Cana-de-açúcar a importância das ocupações agrícolas é maior que nas Agroindústrias Sucroalcooleiras, é justamente nas empresas de primeiro grupo que se refletem com maior força as atuais mudanças tecnológicas na colheita da cana-de-açúcar, resultando na dispensa de trabalhadores rurais.

4.2 – Ocupação por Categorias ProfissionaisAs atividades sucroalcooleiras têm forte sazonalidade ao longo do ano. Há um

período de safra, em que ocorre a colheita da cana-de-açúcar e seu concomitante

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processamento industrial, que, nas condições paulistas, tende a se estender entre os meses de abril e novembro, com ápice entre maio e julho. Já a entressafra, em que ocorrem atividades como o plantio da cana-de-açúcar e a manutenção de máquinas e equipamentos industriais, dura de dezembro de determinado ano a março do ano seguinte. O final de dezembro costuma registrar o menor nível de ocupação sucroalcooleira. Dada essa característica as análises a seguir consideram a situação do mês de junho e a do mês de dezembro6.

Observa-se, na Tabela 2, que o número total de pessoas ocupadas em empresas sucroalcooleiras no período de safra apresentou uma pequena queda, de 4%, entre 2007 e 2010.Tabela 2 – Pessoas Ocupadas em Junho em Empresas Sucroalcooleiras, de Acordo com Grupos e Subgrupos, Estado de São Paulo, 2007 a 2010

Grupos e Subgrupos Item 2007 2008 2009 20101 - Pessoas Ocupadas naAgricultura

Valor 246.616 242.423 220.209 207.674Índice 100 98 89 84

Trabalhadores Canavieirosnão Qualificados

Valor 212.966 205.495 182.735 165.807Índice 100 96 86 78

Trabalhadores da Mecanização Agrícola

Valor 26.289 28.946 30.036 34.103Índice 100 110 114 130

Outras Pessoas Ocupadasna Agricultura

Valor 7.361 7.982 7.438 7.764Índice 100 108 101 105

2 – Pessoas Ocupadasna Indústria

Valor 32.938 33.263 34.586 35.984Índice 100 101 105 109

3 – Pessoas em AtividadesAdministrativas e de Apoio

Valor 76.348 82.907 85.174 93.775Índice 100 109 112 123

4 – Pessoas em Atividadesnão Sucroalcooleiras

Valor 5.970 7.566 8.684 9.053Índice 100 127 145 152

5 - Total Valor 361.872 366.159 348.653 346.486Índice 100 101 96 96

Fonte: MTE (2011).Entre os grupos, o das Pessoas Ocupadas em Atividades não

Sucroalcooleiras cresceu 52%, embora represente menos que 3% da ocupação das empresas sucroalcooleiras. O grupo Pessoas Ocupadas em Atividades Administrativas e de Apoio teve expressivo crescimento, de 23%, bem maior que o do grupo de Pessoas Ocupadas na Indústria, de 9%.

Por sua vez, o número de Pessoas Ocupadas na Agricultura registrou uma queda de 16%, entre junho de 2007 e junho de 2010. Isso se deveu à redução do número de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados, de 22%, e reflete o avanço da colheita mecânica nos canaviais paulistas. Outro reflexo dessa mudança tecnológica é o crescimento expressivo, de 30%, dos Trabalhadores na Mecanização Agrícola, entre 2007 e 2010.

Há uma mudança evidente na composição da ocupação sucroalcooleira no período da safra em São Paulo. Em 2007, as Pessoas Ocupadas na Agricultura representavam 68,2% do total de pessoas ocupadas em empresas sucroalcooleiras no Estado, valor que caiu para 59,9%, em 2010. No caso dos Trabalhadores

6 Para o conjunto das ocupações sucroalcooleiras, o mês de junho foi o que registrou o maior número de pessoas ocupadas nos anos de 2007, 2008, 2010, enquanto em 2009, isso ocorreu em maio. Já o mês de dezembro registrou o menor número de ocupação também em 2007, 2008 e 2010, sendo que em 2009 o número de pessoas ocupadas em janeiro e fevereiro foi menor que o de dezembro.

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Agrícolas não Qualificados, esses números são, respectivamente, de 58,9% e 47,9%.

A Tabela 3 permite observar que na entressafra o número de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados sofreu uma alteração bem menos significativa, ou seja, uma queda de apenas 4%, entre 2007 e 2010. Ao mesmo tempo, houve expansão significativa no número dos Trabalhadores da Mecanização Agrícola, bem como das Pessoas Ocupadas na Indústria e das Pessoas Ocupadas em Atividades Administrativas e de Apoio, de forma que o total de ocupação sucroalcooleira na entressafra expandiu-se em 11%, entre 2007 e 2010.Tabela 3 – Pessoas Ocupadas, Dezembro, em Empresas Sucroalcooleiras, de Acordo com Grupos e Subgrupos, Estado de São Paulo, 2007 a 2010

Grupos e Subgrupos Item 2007 2008 2009 20101 - Pessoas Ocupadas naAgricultura

Valor 120.867 123.411 127.060 123.288Índice 100 102 105 102

Trabalhadores Canavieirosnão Qualificados

Valor 92.133 92.144 93.002 88.618Índice 100 100 101 96

Trabalhadores da Mecanização Agrícola

Valor 22.184 24.526 27.087 28.254Índice 100 111 122 127

Outras Pessoas Ocupadasna Agricultura

Valor 6.550 6.741 6.971 6.416Índice 100 103 106 98

2 – Pessoas Ocupadasna Indústria

Valor 24.190 27.650 29.404 28.869Índice 100 114 122 119

3 – Pessoas em AtividadesAdministrativas e de Apoio

Valor 66.565 74.002 79.979 81.669Índice 100 111 120 123

4 – Pessoas em Atividadesnão Sucroalcooleiras

Valor 4.115 4.243 5.048 6.638Índice 100 103 123 161

5 - Total Valor 215.737 229.360 241.491 240.464Índice 100 106 112 111

Fonte: MTE (2011).Pode-se estabelecer que as mudanças tecnológicas na lavoura canavieira na

entressafra, especialmente na operação do plantio da cana-de-açúcar, têm resultado em efeitos negativos menos fortes sobre o nível de ocupação do que aqueles que ocorreram na safra.

Tanto na safra como na entressafra a ocupação na lavoura canavieira, especificamente a que não exige maior qualificação, revelou um desempenho bem abaixo dos outros tipos de ocupação, seja na indústria, seja nos escritórios. Isso pode dar uma falsa impressão que haja atraso tecnológico nesses dois setores quando comparados com a agricultura. Muito provavelmente, o que de fato ocorreu é que na indústria e nos escritórios as mudanças tecnológicas e administrativas foram muito contundentes e ocorreram já na década de 1990, tendo se verificado automatização e informatização de várias etapas do processo produtivo, bem como terceirização de atividades típicas de serviços. Já na agricultura as mudanças tecnológicas se acentuaram no presente século, especialmente pós 2006. 4.2.1 – Sazonalidade de Ocupação dos Trabalhadores Canavieiros não Qualificados

A Tabela 4 evidencia a queda no número médio de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados ao longo dos quatro anos de análise. Em termos absolutos essa diminuição atingiu 37.734 trabalhadores. Considerando-se o Estado como um todo o número é pouco expressivo diante do total de pessoas ocupadas

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em São Paulo. Contudo, tal situação pode apresentar repercussão social mais forte de maneira localizada, em municípios em que a ocupação sucroalcooleira representa grande parte da sua ocupação total. Também pode estar influenciando no fluxo de migração sazonal para os canaviais paulistas.Tabela 4 – Número de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados, mês a mês, de 2007 a 2010, Estado de São Paulo

Mês 2007 2008 2009 2010Número Índice Número Índice Número Índice Número Índice

Janeiro 121.183 132 107.202 116 95.233 102 95.116 107Fev. 147.704 160 133.831 145 105.931 114 110.278 124Março 165.461 180 152.807 166 143.142 154 142.949 161Abril 194.655 211 195.870 213 178.593 192 162.205 183Maio 213.753 232 206.723 224 185.718 200 166.408 188Junho 212.966 231 205.495 223 182.735 196 165.807 187Julho 207.111 225 200.672 218 177.824 191 163.272 184Agosto 205.150 223 195.828 213 174.575 188 160.055 181Set. 203.919 221 192.324 209 173.115 186 156.094 176Out. 198.658 216 189.571 206 171.678 185 148.630 168Nov. 175.630 191 179.094 194 168.439 181 126.082 142Dez. 92.133 100 92.144 100 93.002 100 88.618 100Média 178.194 170.963 154.165 140.460Fonte: MTE (2011).

Também fica evidenciada a diminuição da sazonalidade de ocupação dos Trabalhadores Canavieiros não Qualificados, entre 2007 e 2010. Assim, no mês de maio (o de maior ocupação) de 2007 o número desses trabalhadores superava em 132% o seu número em dezembro (o de menor ocupação) do mesmo ano. Ano a ano foi se observando redução nessa relação, até se atingir 88%, em 2010. Embora em queda, a sazonalidade se mantém ainda muito alta.

O número de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados praticamente permaneceu constante nos meses de dezembro de 2007, 2008 e 2009 e apresentou pequena queda de 4% em 2010, em comparação a 2007. Já entre maio de 2007 e maio de 2010, a diminuição do número desses trabalhadores foi de 22%. Portanto, pode-se estabelecer que a diminuição da sua sazonalidade de ocupação se deveu à redução da quantidade de emprego disponível na safra canavieira, em face ao avanço do corte mecânico de cana-de-açúcar.

4.3 – Indicadores de Ocupação e de Produção SucroalcooleiraOs indicadores da Tabela 5 mostram que, entre 2007 e 2010, a produção do

álcool cresceu 16%, do açúcar e da cana-de-açúcar 21% e da área cultivada com cana-de-açúcar cresceu 25% no Estado de São Paulo.Tabela 5 – Indicadores de Ocupação e Produção Sucroalcooleira, Estado de São Paulo, 2007 a 2010

Grupos e Subgrupos Item 2007 2008 2009 2010Área Cultivada(1.000 ha)*

Valor 4.249,9 4.873,9 5.242,5 5.303,3Índice 100 115 123 125

Produção de cana(1.000 t)

Valor 297.135,7 345.465,4 362.664,7 359.235,5Índice 100 116 122 121

Produção de açúcar(1.000 t)

Valor 19.428,6 20.186,7 20.815,8 23.572,8Índice 100 104 107 121

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Produção de álcool(milhão l)

Valor 13.351,3 16.897,8 14.918,5 15.489,2Índice 100 127 112 116

Trab. Canavieiros não Qualificados (média anual)

Valor 178.194 170.963 154.165 140.460Índice 100 96 87 79

Outras OcupaçõesSucroalc. (média anual)

Valor 137.928 149.731 157.052 169.953Índice 100 109 114 123

Total Ocupação Sucroalc. (média anual)

Valor 316.121 320.694 311.215 310.413Índice 100 101 98 98

Fonte: CONAB (2011), INPE (2011), MTE (2011).* Inclui áreas em que o canavial está sendo reformado.

Ao mesmo tempo, a ocupação total sucroalcooleira apresentou pequeno decréscimo de 2%, não acompanhando o crescimento da produção setorial. Contudo, nota-se que, isoladamente, a categoria Outras Ocupações Sucroalcooleiras apresentou crescimento semelhante ao da produção sucroalcooleira. Enquanto isso, o número médio dos Trabalhadores Canavieiros não Qualificados decrescia em 21%, entre 2007 e 2010.

5. CONSIDERAÇÕES FINAISNo período de análise, de 2007 a 2010, as mudanças tecnológicas no cultivo

da cana-de-açúcar apresentaram maior alcance e consequências quanto ao nível de ocupação do que aquelas ocorridas em outras etapas do processo produtivo sucroalcooleiro, nos escritórios e na transformação industrial.

Especificamente, houve aceleração da introdução do corte mecânico de cana sem queimar, que, em 2010, já predominava nos canaviais paulistas, substituindo o corte manual de cana queimada, que se mostrava amplamente majoritário no final dos anos 1990.

Muito provavelmente, o corte de cana mecânico já apresenta custos de produção relativos menores (ou, no mínimo, semelhantes) que o corte manual e os canaviais e cultivares de cana usadas no Estado de São Paulo estão mais adaptados à colheita mecanizada.

O fato de se substituir o corte manual de cana queimada por corte mecânico de cana sem queimar e não pelo corte mecânico de cana queimada indica que as questões ambientais estão sendo levadas em conta nas tomadas de decisão dos empresários sucroalcooleiros. Mais do que a existência de uma legislação específica sobre a queimada dos canaviais, tal procedimento está relacionado com a estratégia empresarial de se firmar uma imagem, em âmbito mundial, de que o setor produz um combustível que, além de renovável, agrediria pouco o meio ambiente.

Em termos dos postos de trabalho, as recentes mudanças tecnológicas têm feito com que, apesar do significativo crescimento da produção de açúcar, álcool e cana-de-açúcar, o nível de ocupação nas empresas sucroalcooleiras em São Paulo tenha se apresentado praticamente estagnado entre 2007 e 2010.

Mais especificamente, enquanto crescia o nível das Outras Ocupações Sucroalcooleiras decrescia, em valor semelhante, o número de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados, em que estão incluídos os cortadores de cana.

Nas ocupações agrícolas, a diminuição relativa do número de Trabalhadores Canavieiros não Qualificados foi menos intensa que o aumento do número de Trabalhadores na Mecanização Agrícola. Contudo, em termos absolutos, aquela queda se revelou bem mais significativa que esse aumento.

Está ocorrendo uma evidente e acelerada alteração na composição da ocupação sucroalcooleira, com diminuição da importância daquelas ocupações que

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exigem menor grau de qualificação profissional em favor das com maior qualificação. A partir disso, supõe-se que tanto as empresas como o poder público estejam desenvolvendo ações em favor da requalificação profissional de egressos do corte manual de cana.

A sazonalidade de ocupação dos Trabalhadores Canavieiros não Qualificados apresentou uma diminuição no período analisado. Entretanto, ela continua muito alta, sendo que o número desses trabalhadores contratados, em maio de 2010, suplantou em 88% o seu número em dezembro do mesmo ano.

A partir dos resultados e análises aqui apresentadas, sugerem-se alguns aprofundamentos ou detalhamentos e derivações para futuras pesquisas.

Quanto ao primeiro ponto, seria interessante checar junto aos Departamentos de Recursos Humanos de empresas sucroalcooleiras se os grupos e subgrupos das Famílias Ocupacionais aqui considerados estão bem delimitados. Também, sugere-se que se faça cruzamento entre o tipo de empresa sucroalcooleira e seus respectivos grupos e subgrupos ocupacionais.

Dentro do segundo grupo de sugestões, está a de se desagregar a análise para o nível municipal, verificando prováveis diferenças e repercussões locais das atuais mudanças na ocupação sucroalcooleira. Outra linha de pesquisa seria a de se analisar os efeitos qualitativos e quantitativos da diminuição dos Trabalhadores Canavieiros não Qualificados na migração sazonal para a colheita de cana. Também, sugere-se procurar explicações para o grande crescimento observado nas ocupações administrativas e de apoio nas empresas sucroalcooleiras. Bem como, propõe-se que se verifique a existência de programas de requalificação e recolocação profissional, sob encargo dos empresários ou do poder público, que atendam especificamente os Trabalhadores Canavieiros não Qualificados.

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