alegações finais de fábio corrêa

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Página 1 de 72 Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da 13ª VARA CRIMINAL FEDERAL da Seção Judiciária do Paraná Juiz Federal: - O senhor conheceu o Senhor Fábio Correa? Interrogado: - Conheci. Juiz Federal: - O senhor entregou dinheiro para ele ou solicitou que outros entregassem dinheiro para ele? Interrogado: - Não, que eu me lembre não. Na verdade, quem tinha o relacionamento e que estava envolvido nesse esquema era o Senhor Pedro Correa, o Senhor Fábio não participava disso. (Interrogatório de Alberto Youssef) Ref.: Ação Penal n.º 5023135-31.2015.4.04.7000/PR FÁBIO CORRÊA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO, devidamente qualificado nos autos da ação penal que lhe move a Justiça Pública Federal por esse juízo, vem, por seus advogados legalmente constituídos, apresentar, na forma do art. 403, §3º do Código de Processo Penal, ALEGAÇÕES FINAIS, em forma de memorial, nos termos a seguir aduzidos:

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Page 1: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da 13ª VARA CRIMINAL

FEDERAL da Seção Judiciária do Paraná

Juiz Federal: - O senhor conheceu o Senhor Fábio Correa?

Interrogado: - Conheci.

Juiz Federal: - O senhor entregou dinheiro para ele ou

solicitou que outros entregassem dinheiro para ele?

Interrogado: - Não, que eu me lembre não. Na verdade,

quem tinha o relacionamento e que estava envolvido nesse

esquema era o Senhor Pedro Correa, o Senhor Fábio não

participava disso.

(Interrogatório de Alberto Youssef)

Ref.: Ação Penal n.º 5023135-31.2015.4.04.7000/PR

FÁBIO CORRÊA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO, devidamente

qualificado nos autos da ação penal que lhe move a Justiça Pública

Federal por esse juízo, vem, por seus advogados legalmente

constituídos, apresentar, na forma do art. 403, §3º do Código de

Processo Penal, ALEGAÇÕES FINAIS, em forma de memorial, nos

termos a seguir aduzidos:

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I. INTRODUÇÃO

FÁBIO CORRÊA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO (“FÁBIO

CORRÊA”) foi acusado pelo Ministério Público Federal de suposta

prática de lavagem de dinheiro, em concurso material, por trinta e três

vezes (Lei 9.613/98, art. 1.º, §4º, c/c art. 69 do CP).

Segundo a denúncia, teria ele comparecido por cerca de trinta e

três vezes, entre agosto de 2010 e outubro de 2012, ao escritório de

ALBERTO YOUSSEF localizado em São Paulo, e recebido de seu

funcionário RAFAEL ÂNGULO, em todas as ocasiões, na condição de

intermediário de PEDRO CORRÊA, valores supostamente provenientes

de delitos perpetrados em detrimento da PETROBRAS.1

Ainda de acordo com a acusação, ratificada nas alegações finais

ministeriais (evento 390), esses valores constituiriam pagamento de

propina relacionada a contratos celebrados entre empreiteiras

cartelizadas e a PETROBRAS (Cf. Tabela A), e entre aquelas e outras

empresas de fachada controladas por YOUSSEF (Cf. Tabela B).

1 Fl. 61 da denúncia.

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Para o Ministério Público Federal,2 três seriam as “provas” do

alegado crime de lavagem perpetrado por FÁBIO CORRÊA:

(i) o depoimento prestado por RAFAEL ÂNGULO na fase de

inquérito, no qual teria declarado a entrega de valores ao Defendente,

bem como afirmado que “FÁBIO CORRÊA apresentava contas para

pagamentos e listas de pessoas físicas e jurídicas para que fossem creditados

valores, aí incluída a conta corrente do próprio FÁBIO CORRÊA e da

empresa do cunhado LAUDO DALLA COSTA, a DALLA COSTA

CONSULTORIA LTDA”.

(ii) existência de “planilhas de movimentos” (controle de caixa)

utilizadas pelo mesmo RAFAEL ÂNGULO nas quais constaria o

registro de repasses realizados a FÁBIO CORRÊA e PEDRO

CORRÊA;

(iii) registros de entradas do Defendente no escritório de

ALBERTO YOUSSEF.

Em sua defesa (evento 69), FÁBIO CORRÊA negou, como nega, a

acusação.

2 Fls. 36/37; 61/62 da denúncia.

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Em síntese, sustentou, como ora sustenta, que jamais aderiu,

auxiliou ou foi conivente com a prática de qualquer crime, muito

menos o de lavagem de dinheiro atribuído pelo MPF a partir de

especulações e graves distorções da realidade.

Neste sentido, repudiou, como ora repudia, a descabida alegação

de que houvesse recebido (por várias vezes) de ALBERTO YOUSSEF,

RAFAEL ÂNGULO ou de quem quer que seja, dinheiro que soubesse

relacionado a pagamento de propina a PEDRO CORRÊA em função de

um esquema delitivo perpetrado contra a PETROBRAS.

Enfatizou, quanto ao ponto, não apenas desconhecer a existência

do alegado esquema criminoso como, e principalmente, que o valor por

ele recebido, numa única oportunidade, a pedido de seu pai PEDRO

CORRÊA, tivesse origem ilícita.

Na oportunidade, questionou o fato da denúncia acusá-lo a

partir de uma clara e repudiável responsabilização objetiva.

Diante desses fatos, propugnou pela rejeição da denúncia, nos

termos do art. 395, I e III do CPP, com pedido alternativo de absolvição

sumária em virtude da atipicidade subjetiva e objetiva do fato

imputado (CPP, art. 397, III).

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Não obstante, a inicial foi recebida por esse douto juízo (evento

79), deflagrando-se a persecução.

Iniciado processo e ultimada a instrução, verificou-se, contudo,

a total improcedência da imputação.

II. DAS TESES DE DEFESA

Conforme demonstrará a defesa:

(a) o MPF não comprovou o envolvimento de FÁBIO CORRÊA

no alegado esquema criminoso;

(b) quanto ao suposto crime de lavagem, além de inexistir prova

de que o Defendente tenha recebido dinheiro nas trinta e três vezes que

compareceu ao escritório de ALBERTO YOUSSEF, o próprio YOUSSEF, a

exemplo da testemunha PAULO ROBERTO COSTA e do corréu PEDRO

CORRÊA, inocentou por completo FÁBIO CORRÊA, afirmando que o

mesmo nada tem a ver com o esquema criminoso apurado;

Page 6: Alegações finais de Fábio Corrêa

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(c) o MPF não fez prova do nexo material e temporal entre os

contratos consignados nas Tabelas A e B da denúncia e os repasses de

dinheiro a PEDRO CORRÊA através de FÁBIO CORRÊA, o que é

imprescindível para efeito de configuração do delito de lavagem;

(d) Além da falta de provas, os fatos revelam-se atípicos:

d.1) por ausência de dolo e culpa, seja em relação à existência dos

crimes antecedentes (corrupção, formação de cartel e fraude à

licitação), seja em relação ao alegado crime de lavagem no que tange à

vontade livre e consciente de ocultar e dissimular valores provenientes

de delitos perpetrados contra a PETROBRAS;

d.2) o fato narrado na denúncia, ratificada em alegações finais,

configuraria, no limite, exaurimento de crime de corrupção passiva, do

qual não participou o Defendente, sendo, portanto, impunível em

relação a ele, conforme posição adotada pelo Plenário do STF ao julgar

Embargos Infringentes na AP 470/MG.

d.3) os delitos de formação de cartel e fraude à licitação, que a

acusação afirma constituírem crimes antecedentes à lavagem, não

figuravam, ao tempo de sua consumação e do próprio ato de lavagem,

no rol taxativo descrito na antiga redação do art. 1.º da Lei 9.613/98,

vigente à época dos fatos apontados.

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Por essa razão, incabível falar-se em crime de lavagem de

dinheiro à luz da Lei 12.683/12, sob pena de violação ao princípio da

irretroatividade da lei penal (CF, art. 5.º, XL; CP, art. 1º);

d.4) a conduta descrita pela acusação – ato de receber quantias em

espécie – não se amolda, objetiva e ontologicamente, às ações de ocultar

ou dissimular previstas no tipo de lavagem de dinheiro.

Diante desse contexto, requer-se seja julgada improcedente a

pretensão condenatória deduzida pelo MPF para absolver o

Defendente com fundamento no art. 386, II, III, V e VII do Código de

Processo Penal. Senão vejamos.

III. DA ABSOLVIÇÃO

1. Rememorando os Fatos

Embora os fatos objeto da presente demanda estejam

aparentemente bem delineados, não é demasiado rememorá-los a fim

de evitar julgamento extra, infra ou citra petita, tudo em obséquio ao

princípio da correlação entre acusação e sentença.

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Com efeito, sustenta a denúncia que ao menos a partir de 2004 –

e no âmbito de um suposto esquema criminoso engendrado por

empresas cartelizadas, agentes públicos e partidos políticos – teriam

sido cometidos diversos crimes contra a ordem econômica (formação

de cartel), administração pública (corrupção ativa e passiva) e lavagem

de dinheiro em detrimento da Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRAS.

Nesse contexto, agentes públicos do alto escalão da PETROBRAS,

previamente ajustados com membros de partidos políticos, teriam

solicitado, recebido e aceitado promessa de vantagem indevida para

colaborarem e facilitarem, através de procedimentos licitatórios

fraudulentos, a contratação de empreiteiras para execução das maiores

obras contratadas pela PETROBRAS entre os anos de 2004 e 2014.

Por sua vez, os principais executivos dessas empresas são

acusados de oferecer, prometer e efetivamente pagar “propina” a agentes

públicos e membros de partidos políticos. Para tanto, valendo-se de

terceiros – denominados “operadores” ou “doleiros”– para o repasse

da vantagem indevida, seja através da entrega de dinheiro em espécie,

seja por meio de operações bancárias no Brasil e no exterior.

No caso da Diretoria de Abastecimento, ocupada a partir de maio

de 2004 por PAULO ROBERTO COSTA, o valor da “propina” paga pelas

empresas cartelizadas corresponderia a cerca de 1% (um por cento) dos

contratos firmados.

Page 9: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Este percentual seria alegadamente distribuído entre membros

do Partido Progressista (PP), o próprio PAULO ROBERTO COSTA e,

ainda, os operadores do esquema.3

De acordo com a Tabela A constante da denúncia,4 cerca de 34

contratos, 123 aditivos e 4 transações extrajudiciais teriam sido

celebrados entre 30/03/2007 e 30/03/2012 pelas empresas cartelizadas e

a PETROBRAS (vinculados à Diretoria de Abastecimento), totalizando

pouco mais de R$ 35 bilhões de reais.

Desse total, segundo especula a acusação, cerca de R$ 350

milhões (1%) teriam sido destinados ao pagamento de “propina”5 aos

partícipes do esquema.

Ainda em conformidade com a denúncia oferecida, ratificada em

alegações finais, esses repasses seriam periódicos e ocorreriam à

medida em que os pagamentos dos contratos e respectivos aditivos

eram efetivados em benefício das empresas contratadas.

3 Fls. 9/10 da denúncia.

4 Fls. 18/22 da denúncia.

5 Fls. 9/10 da denúncia.

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O primeiro desses pagamentos, consoante revela a mesma Tabela

A, ocorreu em 30/03/2007 (ENGEVIX)6 e, o último, em 30/03/2012

(MENDES JÚNIOR).7 Já em relação aos contratos indicados na Tabela B,

os pagamentos teriam ocorrido no período de 2008 a 2014, a partir de

24 contratos e emissão de 55 notas fiscais frias.

Nesse contexto, PEDRO CORRÊA, ex-deputado federal e pai do

ora Defendente, é apontado pelo Ministério Público Federal como um

dos supostos beneficiários do pretenso esquema criminoso, sendo a ele

atribuída a prática, dentre outros, de corrupção passiva em conjunto com

PAULO ROBERTO COSTA e ALBERTO YOUSSEF (CP, art. 317 – Cap. II,

da denúncia).

No ponto, sustenta a acusação ser PEDRO CORRÊA beneficiário

de repasses mensais de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais)8 promovidos

por ALBERTO YOUSSEF através: (a) da entrega de valores em espécie

ao próprio PEDRO CORRÊA e a terceiros; (b) depósitos efetuados em

contas correntes (de PEDRO CORRÊA e de terceiros).9

6 Processo n. 0800.0030725.07.2, Inicial, equivalente a R$ 224.989.477,13 (Fl. 19 da denúncia).

7 Processo n.º 0802.0045377.08.2, Aditivo 10, equivalente a R$ 107.273.036,38 (Fl. 21 da denúncia).

8 Fl. 30 da denúncia.

9 Fl. 31 da denúncia.

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Ainda em relação a PEDRO CORRÊA, é acusado de lavagem de

capitais10 ao receber parte da vantagem indevida por meio dos citados

contratos simulados firmados entre as construtoras investigadas e

empresas controladas por ALBERTO YOUSSEF (MO Consultoria,

Empreiteira Rigidez, RCI Software e GFD Investimentos) – Cf. Tabela B,

da denúncia.

Segundo o MPF, a celebração desses contratos fictícios “tinha o

intuito de viabilizar o repasse de recursos para PEDRO CORRÊA, integrante

do PARTIDO PROGRESSITA e PAULO ROBERTO COSTA com o

distanciamento do dinheiro de sua origem ilícita”.11

É nesse contexto que se inserem as infundadas e indemonstradas

acusações contra a FÁBIO CORRÊA, é dizer, no sentido de que teria

recebido valores provenientes destes contratos com o fim de ocultar e

dissimular a respectiva origem ilícita.

Não obstante, com o encerramento da instrução criminal,

verificou-se justamente aquilo que a defesa já sustentava quando do

oferecimento de sua resposta escrita: a engenhosa, porém demasiado

forçada, acusação de lavagem não tem a menor procedência. Vejamos.

10 Cf. Item III.B, “Primeiro conjunto de atos de lavagem”.

11 Fl. 55 da denúncia.

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2. A Falta de Provas. Ausência de provas quanto à existência do fato (33

crimes de lavagem). Inexistência, ainda, de provas de ter o réu concorrido

dolosamente para uma infração penal. Absolvição que se impõe (CPP, art. 386,

II, V e VII)

Conforme restou cabalmente demonstrado, sobretudo a partir da

prova oral produzida em juízo e à luz do contraditório, FÁBIO

CORRÊA, de fato, não teve qualquer envolvimento, direto ou indireto,

doloso ou culposo, nos episódios narrados na denúncia.

Por mais que o Ministério Público Federal haja se empenhado em

demonstrar o contrário, valendo-se para tanto de afirmações vazias e

retóricas, não produziu provas seguras que permitissem, longe de

qualquer dúvida razoável, condenar FÁBIO CORRÊA pela prática de

lavagem de dinheiro, sobretudo à vista dos fatos e dos argumentos que

dão sustentação a tão descabida, data vênia, acusação.

De saída, verificou-se que FÁBIO CORRÊA não teve qualquer

participação naquilo que a acusação chamou de “manobras políticas”,12

engendradas por membros do Partido Progressista para obter a

indicação de PAULO ROBERTO COSTA à Diretoria de Abastecimento

da PETROBRAS. Rigorosamente nenhuma.

12 Fls. 5; 8 da denúncia.

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Do mesmo modo, nenhuma prova foi produzida nos autos que

pudesse vincular o Defendente, formal ou materialmente, aos atos de

corrupção (ativa e passiva), à formação de cartel ou fraude à licitação,

o mesmo sucedendo em relação aos personagens, centrais ou

periféricos, envolvidos no alegado esquema criminoso.

Seja na fase de inquérito, seja na fase judicial, não se observou o

menor indício de que FÁBIO CORRÊA tenha participado de alguma das

dezenas de reuniões13 realizadas entre membros de partidos políticos e os

representantes das empresas corruptoras, ou entre executivos destas e

altos funcionários da PETROBRAS, nas quais teriam sido discutidos,

acertados e definidos “percentuais de propina a serem pagos em razão dos

contratos celebrados na Diretoria de Abastecimento”.

Mais do que isso, não há qualquer evidência de que FÁBIO

CORRÊA tenha mantido contatos, de caráter particular ou profissional,

no período descrito na denúncia (de 2004 a 2014) ou fora dele, com

quaisquer dos agentes integrantes do núcleo político,14 econômico,15

administrativo16 ou financeiro17.

13 Fl. 22 da denúncia.

14 Formado principalmente por parlamentares e ex-parlamentares (Fl. 52 da denúncia).

15 Formado pelas empreiteiras cartelizadas contratadas pela Petrobras (Fl. 52 da denúncia).

16 Formado pelos funcionários de alto escalão da Petrobras (Fls. 52/53 da denúncia).

17 Formado pelos “operadores” responsáveis pelo repasse de dinheiro aos integrantes dos

núcleos político e administrativo (Fl. 53 da denúncia).

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Definitivamente, não há ligações telefônicas, mensagens de

celular nem e-mails interceptados ou posteriormente descobertos que

associem o Defendente de algum modo aos fatos e aos personagens da

Operação Lava Jato.

Nesse mesmo contexto, também não foram produzidas

quaisquer provas que ligassem FÁBIO CORRÊA, objetiva ou

subjetivamente, formal ou materialmente, aos contratos celebrados

entre a PETROBRAS e as empreiteiras (Tabela A, da denúncia), e entre

construtoras e as empresas de fachada operadas por ALBERTO

YOUSSEF (Tabela B). Muito menos entre as empreiteiras e PAULO

ROBERTO COSTA após a saída deste da Diretoria de Abastecimento.

A questão, de fato, assume especial relevo quanto à acusação de

lavagem de dinheiro que recai sobre FÁBIO CORRÊA. Isto porque,

sustenta o MPF que os valores supostamente recebidos pelo

Defendente no escritório de ALBERTO YOUSSEF teriam relação próxima

aos contratos simulados celebrados entre as construtoras18 e as

empresas operadas por ALBERTO YOUSSEF19, e remota no tocante aos

contratos firmados entre as empreiteiras e a PETROBRAS.

18 ENGEVIX ENGENHARIA S/A, GALVÃO ENGENHARIA S/A, CONSTRUTORA

CAMARGO CORREA S/A, UTC ENGENHARIA, CONSTRUTORA OAS LTDA e MENDES JÚNIOR

TRADING E ENGENHARIA S/A.

19 MO CONSULTORIA, EMPREITEIRA RIGIDEZ, GFD INVESTIMENTOS, RCI SOFTWARE.

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Mais precisamente, afirma o parquet que os contratos celebrados

entre as empreiteiras cartelizadas e empresas controladas por YOUSSEF

(Tabela B) seriam fictícios e teriam como finalidade “distanciar o dinheiro

de sua origem ilícita, antes do repasse da propina para PAULO ROBERTO

COSTA e agentes políticos do PARTIDO PROGRESSISTA, entre eles,

PEDRO CORRÊA (...)”.20

No que se refere a FÁBIO CORRÊA, ele é justamente acusado de

“ultimar o processo de branqueamento” desses valores21 através do

recebimento de quantias em espécie no escritório de YOUSSEF.

Essa acusação, no entanto, caiu por terra a partir do momento em

que o MPF deixou de produzir provas que associassem o Defendente

aos contratos (Tabelas A e B), quer no sentido material (de eventual

auxílio), quer no plano moral, no sentido de ao menos ter conhecimento

quanto à sua existência.

Nada, rigorosamente nada foi comprovado a esse respeito,

notadamente para o fim de demonstrar o dolo da conduta do

Defendente (conforme será melhor exposto adiante).

20 Fl. 61 da denúncia.

21 Fl. 61 da denúncia.

Page 16: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Há mais.

O Ministério Público Federal também não demonstrou, sequer, o

nexo material e temporal entre os valores que afirma terem sido recebidos

por FÁBIO CORRÊA e a sua origem entre os 34 contratos, 123 aditivos e

4 transações extrajudiciais (Tabela A) ou os 21 contratos e 55 notas fiscais

frias (Tabela B).

Longe disso, limita-se o parquet a sustentar uma imputação

global, genérica, que não individualiza os fatos e prejudica sobremodo

o exercício do contraditório pelo acusado.

E não é preciso ir muito além para constatar que a falta de

individualização desses fatos, e em especial do nexo temporal e

material, não permite identificar a relação econômica entre os valores

pagos nos respectivos contratos e o percentual que a acusação afirma

ter sido repassado aos membros do Partido Progressista, notadamente

a PEDRO CORRÊA.

Não há, neste sentido, a necessária construção do fluxo

econômico, isto é, das etapas percorridas pelos valores de origem ilícita

até o destino final.

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Por fim, seja ao oferecer a denúncia, seja ao apresentar suas

alegações finais, o parquet federal não comprovou, longe de qualquer

dúvida razoável, tenha FÁBIO CORRÊA: (i) Recebido valores por trinta

e três vezes, como sustenta a acusação; (ii) Agido com dolo (direto ou

eventual).

Somente esses fatos, com efeito, seriam suficientes a autorizar e,

antes, impor, a absolvição do Defendente com fulcro no art. 386, II, V e

VII do Código de Processo Penal.

Seja como for, a improcedência da acusação também resulta da

análise de provas que atestam a inocência do Defendente.

3. Da Verdade sobre os Fatos. Versão da defesa confirmada pela prova

testemunhal produzida em juízo. Existência de provas indubitáveis de que

o Defendente não participou do esquema delitivo. Absolvição que se impõe

(CPP, art. 386, IV).

Conforme a defesa teve oportunidade de enfatizar, desde o

início, FÁBIO CORRÊA jamais participou ou integrou qualquer

esquema criminoso (como, de plano, reconheceu esse douto Juízo ao

rejeitar a denúncia quanto ao ponto).

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Tampouco seria verdadeiro, como veio a demonstrar a prova

produzida ao longo da instrução, que tivesse agido “de modo consciente,

voluntário e reiterado, com unidade de desígnios” para ocultar ou

dissimular valores provenientes ou não da alegada empresa criminosa.

Isso jamais ocorreu e, como já ressaltado, não foi minimamente

demonstrado pelo Ministério Público Federal.

Neste sentido, reitera o Defendente que não tinha conhecimento

e nem motivo razoável para suspeitar que o valor por ele recebido,

numa única vez, no escritório de ALBERTO YOUSSEF, a pedido de seu

pai PEDRO CORRÊA, tivesse alguma relação com pagamento de

propina, especialmente oriunda de contratos (fraudulentos) celebrados

entre empreiteiras cartelizadas e a PETROBRAS, ou a prática de

qualquer infração penal.

Ou seja, não agiu com má-fé, seja no sentido de ocultar ou

dissimular a origem de valores.

A maior prova de sua inocência, com efeito, vem justamente do

depoimento prestado por um dos principais – senão o principal –

colaboradores da Operação Lava Jato: ALBERTO YOUSSEF!

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Como se sabe, as informações prestadas por ALBERTO

YOUSSEF em diversos termos de colaboração premiada serviram de

elemento indiciário para o ajuizamento de dezenas de denúncias pelo

MPF, a maior parte delas recebidas por esse douto juízo.

Em seu depoimento judicial (evento 380), corroborado pelo

testemunho de PAULO ROBERTO COSTA e pelo interrogatório de

PEDRO CORRÊA, ALBERTO YOUSSEF foi taxativo ao afirmar a

inocência de FÁBIO CORRÊA, declarando enfaticamente que o mesmo

não tinha como nunca teve qualquer envolvimento no esquema

criminoso.

Ou, como disse com suas próprias palavras, ele “não participava

disso”.22

É o que afirmou, textualmente, ao ser questionado por esse douto

juízo se em algum momento entregou ou determinou a entrega de

dinheiro a FÁBIO CORRÊA:

Juiz Federal: - O senhor conheceu o Senhor Fábio Correa?

Interrogado: - Conheci.

22 Esse depoimento, aliás, corrobora todos os outros prestados por ALBERTO YOUSSEF nos

vários inquéritos policiais/ações instaurados em seu desfavor. Em todas as vezes que cita pagamento

de propina a membros do Partido Progressista ou, mais especialmente, a PEDRO CORRÊA, não há

menção ao nome de FÁBIO CORRÊA como beneficiário ou pessoa que tivesse alguma participação

no suposto esquema.

Page 20: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Juiz Federal: - O senhor entregou dinheiro para ele ou

solicitou que outros entregassem dinheiro para ele?

Interrogado:- Não, que eu me lembre não. Na verdade,

quem tinha o relacionamento e que estava envolvido nesse

esquema era o Senhor Pedro Correa, o Senhor Fábio não

participava disso.

Indagado sobre as idas de FÁBIO CORRÊA ao seu escritório,

ALBERTO teve oportunidade de esclarecer, com todas as letras, que o

Defendente apenas acompanhava o pai PEDRO CORRÊA, sem participar

das conversações (ao que se supõe, relativas a valores):

Juiz Federal: -Ele já foi ao seu escritório, o Senhor Fábio?

Interrogado: - Sim, ele ia sempre com o pai.

Juiz Federal: - E para tratar de que tipo de assunto?

Interrogado: - Olha, o pai sempre ia tratar de assuntos

referentes a valores e referente à campanha, ele só o

acompanhava.

Juiz Federal: - E ele ouvia, participava dessas conversações?

Interrogado: - Muitas vezes não.

Juiz Federal: - E o que ele ficava fazendo?

Interrogado: - Ficava sentado aguardando.

Em outra expressiva passagem de seu interrogatório, YOUSSEF

fez questão de frisar que das vezes em que chegou a travar algum tipo

de conversação com FÁBIO CORRÊA nunca o fez em relação a “nada

referente a dinheiro, esse tipo de coisa”:

Page 21: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Juiz Federal:- Umas perguntas adicionais do Juízo aqui.

Essas visitas que o Senhor Fábio fez ao seu escritório, o senhor

chegou a conversar com ele alguma vez?

Interrogado:- Sempre conversei com o Fábio, mas não

nada referente a dinheiro, esse tipo de coisa.

Explicou, ainda, os motivos que levaram FÁBIO CORRÊA a

comparecer em cerca de trinta e três ocasiões ao seu escritório.

Sobre a questão, esclareceu ALBERTO YOUSSEF que, além de

simplesmente acompanhar PEDRO CORRÊA, em algumas outras

oportunidades o Defendente “estava em São Paulo e não tinha para onde

ir”, ou “muitas vezes ele ia para o escritório e ficava lá esperando alguém ou

alguma [coisa]”, ou, ainda, simplesmente aparecia durante o período em

que acompanhou a irmã na campanha em São Paulo:

Juiz Federal:- O senhor se recorda se o Senhor Fábio Correa

foi muitas vezes, poucas vezes lá nos seus escritórios?

Interrogado: - Olha, eu acredito que em 2010 ele esteve

mais vezes no meu escritório, por conta de que eu acho que ele

estava ajudando a irmã na campanha. E as outras vezes eu acho

que ele foi normal. Às vezes que ia com o pai a São Paulo, muitas

vezes ia no meu escritório.

Juiz Federal: - Ele foi também sem o pai no seu escritório?

Interrogado: - Acredito que deva ter ido.

Juiz Federal: - E quando ele ia sem o pai ele ia fazer o quê?

Interrogado: - Ah muitas vezes ele estava em São Paulo e

não tinha para onde ir, muitas vezes ele ia para o escritório e ficava

lá esperando alguém ou alguma...

Page 22: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Por fim, ALBERTO YOUSSEF teve oportunidade de prestar

esclarecimentos a propósito de uma possível dívida deixada por JOSÉ

JANENE em favor de PEDRO CORRÊA, oriunda da compra e venda de

animais.

Essa dívida, vale recordar, foi justamente a explicação dada

posteriormente por PEDRO CORRÊA ao Defendente para justificar o

recebimento do valor junto a RAFAEL ÂNGULO em uma das visitas que

o Defendente fez ao escritório de ALBERTO YOUSSEF.

Sobre o fato, informou ALBERTO YOUSSEF:

Juiz Federal:- O senhor sabe se o Senhor José Janene

tinha alguma coisa com o Senhor Pedro Correa, alguma

dívida, alguma coisa parecida?

Interrogado:- Olha, eles eram muito amigos, pode ser

que sim. Mas nunca o Senhor José me relatou nada a respeito

desses assuntos.

Juiz Federal: - Esses pagamentos então não tinham

nenhuma relação com eventuais negócios anteriores do Senhor

José Janene com o Senhor Pedro Correa, de venda de bens, coisa

parecida.

Interrogado: - Eu acredito que não.

Juiz Federal: - Acredita ou não, porque o senhor saberia ou

não saberia?

Interrogado: - Olha, a mim o Senhor José nunca relatou esse

tipo de situação.

Page 23: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 23 de 72

Como se vê, embora tenha declarado que JOSÉ JANENE jamais

tenha lhe informado a respeito dessa dívida, YOUSSEF não descartou a

possibilidade de sua existência, dado o grau de amizade existente entre

JANENE e PEDRO CORRÊA.

A esse contundente e avassalador depoimento, somam-se outros,

não menos relevantes, prestados por PEDRO CORRÊA e PAULO

ROBERTO COSTA, este último, vale frisar, na condição de testemunha

do MPF.

No caso de PEDRO CORRÊA, mesmo exercendo parcialmente o

direito de permanecer em silêncio, fez questão de esclarecer que o

Defendente, a exemplo de outros acusados neste processo, nada tem a

ver com os fatos, e que o mesmo apenas atendeu a um pedido seu

quando se dirigiu ao escritório de YOUSSEF e lá recebeu valor em

espécie:

Juiz Federal: - O senhor prefere falar ou o senhor prefere

ficar em silêncio?

Interrogado: - Eu preferia fazer só um esclarecimento

inicialmente e depois eu vou permanecer em silêncio.

Juiz Federal: - Certo. Então, qual esclarecimento que o

senhor quer fazer?

Interrogado: - Só dizer que realmente eu estou sendo acusado

com outras pessoas e eu quero dizer que essas outras pessoas não

têm nenhuma responsabilidade dos fatos, eu assumo a

responsabilidade de todos os fatos, dizer que meu filho, o réu Fábio

Correa de Oliveira Andrade Neto, a ré Aline Lemos Correa de

Page 24: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Oliveira Andrade, a ré Márcia Danzi Russo Correa e o réu Ivan

Vernon, eles faziam apenas, eles cumpriam as determinações

que eu mandava, eu era a pessoa que tratava dos assuntos, todos

os assuntos referentes às imputações que estão sendo feitas comigo

através do Paulo Roberto Costa e do Alberto Youssef.

Outro importante e elucidativo depoimento foi prestado por

PAULO ROBERTO COSTA (evento 191), seguramente um dos

personagens principais da Operação Lava Jato ao lado de ALBERTO

YOUSSEF.

Segundo esclareceu a testemunha em juízo, não possuía

qualquer tipo de aproximação ou contato com FÁBIO CORRÊA, a quem

disse conhecer apenas de eventos sociais. Foi ainda mais enfático ao

declarar, diante de questionamento da defesa, jamais ter mantido

qualquer tipo de conversa ou contato a respeito de questões

envolvendo a PETROBRAS.

Ora, de um lado, tem-se o depoimento de um significativo

colaborador e principal integrante do núcleo financeiro (YOUSSEF)

inocentando o Defendente.

De outro, o ex-funcionário da PETROBRAS, igualmente

colaborador e integrante do núcleo administrativo (PAULO ROBERTO

COSTA), negando, ainda que implicitamente, a participação de FÁBIO

CORRÊA no episódio.

Page 25: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Somando-se a todos eles, o depoimento de PEDRO CORRÊA,

justamente de quem partiu o pedido para que o Defendente recebesse

valores que supunha tratar-se do pagamento de uma dívida existente

entre seu pai e JOSÉ JANENE.

Em outras palavras, os três principais personagens deste

processo, dois deles colaboradores da justiça compromissados com o

dever de dizer a verdade, inocentam por completo o Defendente, ora

afirmando, categoricamente, que nenhum envolvimento possui nos

fatos apurados (como foi o caso de YOUSSEF e PEDRO CORRÊA), ora

não apontando qualquer fato que o vinculasse ao alegado esquema

criminoso (PAULO ROBERTO COSTA).

Inobstante isso, o MPF procura desacreditar, em suas alegações

finais, justamente o depoimento prestado por um dos seus principais

colaboradores: ALBERTO YOUSSEF. O mesmo, insista-se, cujas

informações baseiam o oferecimento de uma série de denúncias pelo

Ministério Público, inclusive a destes autos. Tudo a revelar, de forma

escancarada, uma flagrante incoerência do discurso acusatório.

No caso, o MPF tenta desqualificar o depoimento dessa

testemunha-chave, precisamente no ponto em que inocenta FÁBIO

CORRÊA. Alegando, para tanto, que suas declarações “conflitariam”

com aquelas prestadas por seu assessor/auxiliar RAFAEL ÂNGULO.

Page 26: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 26 de 72

Sem razão, data vênia.

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que a credibilidade de

RAFAEL ÂNGULO foi colocada em xeque pelo próprio Ministério

Público Federal ao reconhecer a existência de uma série de contradições

entre os depoimentos prestados na fase policial e judicial.

De acordo com o MPF:

“(...)

Em que pese o réu RAFAEL ANGULO LOPEZ,

ao ser interrogado judicialmente, afirmar que não fez

depósitos em contas de titularidade de PEDRO CORRÊA,

sua versão não está correta, uma vez que, além de divergir

com as declarações prestadas anteriormente 36 , conforme

relatado por YOUSSEF seria RAFAEL o responsável por

realizar os depósitos bancários não identificados.

(...)”

Em segundo lugar, necessário destacar que em relação aos

supostos repasses de dinheiro a FÁBIO CORRÊA que RAFAEL

ÂNGULO disse haver realizado, a versão não encontra respaldo em

qualquer outra prova dos autos.

Page 27: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Nem mesmo a Planilha apresentada é suficiente a corroborar

essa mera alegação, uma vez que o FÁBIO CORRÊA apenas aparece,

uma única vez, como receptor de R$ 35 mil, e nada mais.

Por isso mesmo, o que se tem, ao fim e ao cabo, é a palavra de

RAFAEL ÂNGULO, não confirmada por ALBERTO YOUSSEF, contra a

do ora Defendente. E nada mais.

A mesma fragilidade probatória é encontrada em relação à

declaração de ÂNGULO de que FÁBIO CORRÊA teria fornecido boletos

bancários diversos para pagamento e listas de nomes e contas correntes

para depósito.

Até hoje, porém, nenhum boleto bancário foi apresentado.

Nenhuma lista de nomes foi exibida. Tampouco há comprovação

material de que eventuais depósitos realizados por RAFAEL ÂNGULO

em contas correntes de terceiros tenham sido efetivamente indicadas

por FÁBIO CORRÊA.

Ao contrário, essa declaração é infirmada por ALBERTO

YOUSSEF, ao esclarecer que o responsável pelo fornecimento de contas

para depósito seria PEDRO CORRÊA.

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A despeito de tudo isso, não se pode ignorar que diversos outros

trechos do depoimento judicial prestado por RAFAEL ÂNGULO, longe

de incriminarem FÁBIO CORRÊA, ora infirmam a acusação de lavagem

sustentada pelo MPF, ora vão ao encontro da versão da defesa.

De um lado, RAFAEL ÂNGULO deixa claro que jamais entregou

dinheiro a FÁBIO CORRÊA nas vezes em que esteve em Recife. De

outro, esclarece que jamais efetivou qualquer depósito em benefício

dele.

Também foi bastante taxativo ao afirmar que jamais conversou a

respeito da natureza do dinheiro que disse ter entregue a FÁBIO

CORRÊA, afirmando ainda que jamais presenciou qualquer conversa a

respeito disso entre ele Defendente e ALBERTO YOUSSEF, entre ele e

PEDRO CORRÊA, ou com qualquer outra pessoa:

Juiz Federal:- Quando, por exemplo, o Senhor Pedro Correa

ia buscar esse dinheiro ou o Senhor Fábio Correa ia buscar esse

dinheiro lá no escritório, não havia alguma conversação a respeito

da natureza desse dinheiro, o que era esse dinheiro?

Interrogado:- Se havia era na sala do Senhor Alberto, que a

minha sala era separada e se eles conversassem de onde vinha ou

de que era ou porque, só entre eles.

Juiz Federal: - Nunca nenhum deles chegou: - “Olha, eu

vim pegar o dinheiro da venda do carro, um carro que eu vendi

para o Senhor Alberto Youssef”.

Interrogado: - Não.

(...)

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Juiz Federal:- Quando o senhor encontrava o Pedro

Correa nessas entregas ou o Senhor Fábio Correa ou mais

alguém, nunca teve alguma conversa a respeito do que eram

esses valores?

Interrogado:- Não, entre eles ou que eu presenciei não.

Em outro momento do interrogatório, e indagado se ele próprio

tinha conhecimento da “finalidade” ou “origem” do dinheiro que disse

haver repassado a FÁBIO CORRÊA, RAFAEL ÂNGULO respondeu

negativamente, ou seja, que não sabia explicar a origem nem finalidade

dos valores que disse ter entregue:

Defesa:- O senhor tem conhecimento de qual era a finalidade

desse dinheiro que o senhor disse que algumas vezes entregou a

Fábio no escritório em São Paulo? O senhor sabia qual era a

finalidade, esse dinheiro era destinado, era para Fábio, era para ser

entregue ao Senhor Pedro Correa? Era para custear as despesas em

relação aos negócios que o Senhor Pedro Correa tinha em Recife e

tem ainda no estado de Pernambuco? O senhor sabe dizer mais ou

menos ou o senhor não sabe...

Interrogado:- Eu sei que o Senhor Fábio Correa ele deixava

uma lista de terceiros para fracionar esses valores para

pagamentos, depósitos em nome de pessoas, de terceiros, não sei

exatamente para quê, para o próprio Senhor Fábio nunca depositei

nada, mas para a Dalla Costa depositei. E isso eu sei que eram

contas do pai dele ou dele, não sei.

Defesa:- Não sabe explicar a origem...

Interrogado:- Se é de um ou do outro não sei.

Defesa:- A finalidade.

Interrogado:- Não.

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Como então, eminente julgador, diante desses fatos, chegar à

conclusão de que FÁBIO CORRÊA sabia ou poderia saber da origem ilícita

do repasse, ou, mais especificamente, que o valor por ele recebido

tivesse alguma relação com crimes perpetrados em detrimento da

PETROBRAS, se o próprio autor do suposto repasse não tinha

conhecimento disso, e, mais do que isso, se o próprio responsável

direto – ALBERTO YOUSSEF – afirmou categoricamente que jamais

tratou desse assunto com o Defendente?

Não fosse o bastante, outra importante figura na trama da Lava

Jato, LEONARDO MEIRELLES, também não fez qualquer referência à

participação de FÁBIO CORRÊA nos episódios. Aliás, sequer chegou a

mencionar seu nome durante o depoimento prestado em juízo e na

presença do MPF, que nada indagou a esse respeito.

O mesmo ocorreu em relação às testemunhas RENASCI CAMBUI

(evento 231) e VERA LÚCIA NAPOLI (evento 231).

Já em relação às demais testemunhas arroladas pelo MPF, em

especial MEIRE BONFIM DA SILVA POZA e CARLOS ALBERTO

PEREIRA DA COSTA, Procurador e administrador da GFD, afirmaram

desconhecer a pessoa de FÁBIO CORRÊA.

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Por fim, no que se refere ao depoimento judicial prestado pelo

corréu IVAN VERNON, nada trouxe a respeito da imputação de

lavagem de dinheiro que recai sobre FÁBIO CORRÊA, seja para

beneficiá-lo ou incriminá-lo.

Presente esse contexto, não há como acolher a pretensão

condenatória deduzida pelo Ministério Público Federal.

Com efeito, não desconhece Vossa Excelência que o réu tem

direito a ser julgado e condenado com base em prova segura e

inequívoca, isto é, sem que exista margem a qualquer tipo de dúvida,

demonstrando, assim, “plena clareza com a qual a verdade aparece ao

espírito e determina sua adesão ou convicção inabalável”, como acentuava

BORGES DA ROSA (Processo penal brasileiro, 1942, v.4, p. 65).

Sabe, portanto, que para prolação de um decreto penal

condenatório, é indispensável prova robusta que dê certeza da

existência do delito e seu autor. A íntima convicção do julgador deve

sempre se apoiar em dados objetivos indiscutíveis, caso contrário,

transforma o princípio do livre convencimento em arbítrio (TJRS -

Apelação nº 70003156254, Rel. Des. Sylvio Baptista).

A condenação, portanto, exige a certeza e não basta, sequer, a

alta probabilidade, que é apenas um juízo de incerteza de nossa mente

em torno à existência de certa realidade.

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A certeza é aqui a conscientia dubitandi secura, de que falava VICO,

e não admite graus. Tem de fundar-se em dados objetivos indiscutíveis,

de caráter geral, que evidenciem o delito e a autoria (Sauer, Grundlagen

des Prozessrechts, 1929, 75), sob pena de conduzir tão somente à íntima

convicção, insuficiente.

A propósito, afirma SABATINI (Teoria delle Prove nel Diritto

Giudiziario Penale, 1911, II, p. 33), que "a íntima convicção, como

sentimento da certeza, sem o concurso de dados objetivos de justificação, não é

verdadeira e própria certeza, porque, faltando aqueles dados objetivos de

justificação, faltam em nosso espírito as forças que o induzem a ser certo. No

lugar da certeza, temos a simples crença".

O princípio do livre convencimento do juiz, como ensina

UMBERTO DEL POZZO ("Appunti preliminari per una teoria della

probabilità nel processo penale", no volume Studi Antolisei, I, 445),

“não pode conduzir à arbitrária substituição da acurada busca da certeza, em

termos objetivos e gerais, por uma apodítica afirmação de "convencimento",

como verdadeiramente ocorreu nos autos.

Por isso mesmo, nenhuma pena pode ser aplicada sem a mais

completa certeza da falta. A pena, disciplinar ou criminal, atinge a

dignidade, a honra e a estima da pessoa, ferindo-a gravemente no

plano moral, além de representar a perda de bens ou interesses

materiais.

Page 33: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Razão porque, como diz JEAN PATARIN ("La Théorie des

preuves en Droit Pénal", no volume, Quelques Aspects de l'Autonomie du

Droit Pénal, 1956, II) "la recherche d'ume certitude parfaite se révèle une

exigence particulièrement impérieuse du droit pénal".

Nesse sentido, não há qualquer discrepância entre os autores: a

dúvida nessa matéria, é sinônimo de ausência de prova (cf. Nelson

Hungria, Prova Penal, RF 138/338). Remo Pannain ("La certezza della

prova", in Scritti Giuridici in Onore di A. de Marsico, 1960, II, 267) afirma

que "ognun compreende che, per pronunziare un giudizio positivo, non basta

il dubbio in quale viene proclamato con l'insufficenza di prove". Isso porque,

se há dúvida, é porque a prova não está feita: "s'il subsiste un doute, c'est que

la preuve n'est pas falte" (Gorphe).

É o princípio que vigora no Direito anglo-americano, incluído

entre as regras do devido processo legal (due process of law). Não se pode

aplicar a pena sem que a prova exclua qualquer dúvida razoável (any

reasonable doubt). Aqui não basta estabelecer sequer uma alta

probabilidade (it is not suficient to establish a probability, even a strong one):

é necessário que o fato fique demonstrado de modo a conduzir à

certeza moral, que convença ao entendimento, satisfaça à razão e dirija

o raciocínio, sem qualquer possibilidade de dúvida (cf. Kenny's,

Outlines of Criminal Law, 1958, 480)" (Jurisprudência Criminal, vol. 2,

ed. José Bushatsky, 1979, pp. 806/808).

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Com efeito, o Defendente reitera aquilo que já afirmou em

resposta escrita: jamais participou ou se envolveu no esquema

denunciado pelo Ministério Público Federal.

Ainda faz questão de esclarecer que maioria das vezes em que

foi ao escritório de ALBERTO YOUSSEF o fez na condição de mero

acompanhante de PEDRO CORRÊA, como, aliás, foi confirmado pelo

próprio YOUSSEF. E, mesmo nestas oportunidades, jamais presenciou

ou ouviu qualquer coisa a respeito da existência de um esquema

criminoso contra a PETROBRAS. Ou, ainda, que valores eventualmente

recebidos por seu pai consistiriam em repasse de “propina”

relacionada ao citado esquema.

Para além de tudo isso, o Defendente reafirma que jamais

desconfiou que aqueles recursos pudessem ter qualquer relação com

pagamento de “propina”, tanto que compareceu pessoalmente ao

escritório – poderia fazê-lo através de terceiros se desejasse –

identificando-se em todas as vezes, deixando-se fotografar e registrar

suas frequências na portaria.

Com o devido e merecido respeito, difícil imaginar que alguém,

ciente e consciente de que praticava ou contribuía para um crime dessa

magnitude, se dispusesse a ir pessoalmente a um escritório de

“lavagem” – segundo afirma o MPF – e, mais do que isso, não hesitaria

em deixar vestígios dessas passagens.

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É algo, data vênia, que agride a inteligência cogitar.

À luz de todas essas considerações, impõe-se a absolvição do

Defendente com fundamento no art. 386, II, IV, V e VII do Código de

Processo Penal.

4. DA ATIPICIDADE

Embora a defesa esteja absolutamente convencida quanto à

absolvição por falta de provas, não poderia furtar-se ao dever de trazer

alguns questionamentos em torno da manifesta atipicidade do fato

imputado. Referimo-nos, no caso, à ausência de tipicidade por ausência

dos elementos subjetivo (dolo) e objetivo (verbos nucleares) do tipo.

Conforme demonstrará a defesa:

(a) O Defendente agiu em clara situação de erro de tipo escusável

(CP, art. 20);

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(b) a hipótese narrada na denúncia, ratificada em alegações

finais, corresponde, no limite, ao exaurimento de crime de corrupção já

consumado e do qual não participou o Defendente, sendo, portanto,

impunível (post factum impunível);

(c) os delitos de formação de cartel e fraude à licitação, que a

acusação afirma constituírem crimes antecedentes à lavagem, não

figuravam, ao tempo de sua consumação e do próprio ato de lavagem,

no rol taxativo descrito na antiga redação do art. 1.º da Lei 9.613/98,

vigente à época dos fatos apontados.

(d) a conduta imputada – ato de receber valores em espécie – por

si só e nas circunstâncias narradas, não corresponde, objetiva e

ontologicamente, a uma ação típica de ocultação ou dissimulação.

4.1. Do Erro de Tipo Escusável

Conforme a defesa teve oportunidade de destacar ao oferecer

resposta escrita à acusação (evento 69), FÁBIO CORRÊA, além de

desconhecer o alegado esquema criminosa, não sabia nem tinha

condições de saber nem desconfiar que o valor por ele recebido tivesse

origem em crimes perpetrados contra a PETROBRAS.

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Por essa razão, e tendo em vista que o MPF não fez prova em

sentido contrário, caso realmente venha a ser comprovado que o valor

recebido pelo Defendente possua alguma relação com o repasse de

dinheiro de origem ilícita, mesmo assim não há como imputar-lhe a

prática de lavagem de dinheiro uma vez configurada a hipótese de erro

de tipo escusável (CP, art. 20):

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo

legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime

culposo, se previsto em lei.

Como se sabe, o erro de tipo repercute diretamente no dolo,

impedindo sua constituição pela ausência de um de seus elementos

essenciais, que é o elemento cognitivo ou intelectivo. Elemento

cognitivo, este, que representa a ideia de que o agente, ao atuar

dolosamente, deve saber o que faz através da compreensão dos

elementos que caracterizam sua ação como uma ação típica, tais

como o sujeito, resultado, relação de causalidade, objeto material,

etc.

Na presente hipótese, esse erro incidiu, precisamente, sobre a

elementar do tipo “(...) valores provenientes, direta ou indiretamente, de

infração penal”.

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Por outro lado, estamos diante de um erro de tipo essencial uma

vez que, em decorrência de uma falsa percepção ou completa

ignorância da realidade, o Defendente acabou praticando, sem

consciência, uma ação típica prevista como crime (no caso, lavagem

de dinheiro).

Além de essencial, é inevitável na medida em que não é

possível falar em omissão da cautela ou diligência exigível nas

circunstâncias. A bem da verdade, consideradas as circunstâncias do

fato, qualquer pessoa no lugar do Defendente teria incidido no

mesmo erro.

A propósito, o próprio MPF chegou a reconhecer, ainda que

implicitamente, a falta de provas objetivas de que o Defendente haja,

de fato, atuado com dolo direto. Não obstante, em vez de reconhecer a

atipicidade do fato como consequência inafastável dessa premissa, o

órgão acusador buscou uma “solução alternativa”, de última hora, por

assim dizer.

Mudando completamente a sua estratégia e a própria tese

acusatória, passou a sustentar a possibilidade de condenação por dolo

eventual.

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Esqueceu-se o parquet, entretanto, que não lhe é dado alterar de

uma hora para outra, e ao sabor de suas conveniências, a tese

acusatória.

Ainda mais quando se trata de uma clara manobra para evitar

uma inafastável absolvição por falta de provas e atipicidade da conduta

inicialmente imputada.

Seja como for, a tese inovadora do MPF – já que sustentada

apenas em alegações finais, quando não lhe foi possível comprovar o

dolo direto – não merece prosperar ao ser confrontada no mérito.

A começar pelo fato de que se contrapõe à posição dominante

da doutrina e jurisprudência, que exigem o dolo direto para

configuração do crime de lavagem, isto é, a demonstração “que o agente

conhecia a procedência criminosa dos bens e agiu com consciência e vontade de

encobri-lo”.23

De fato, para essa corrente amplamente majoritária, a ação

constitutiva de branqueamento de capitais há de ser perpetrada com a

especial "finalidade de encobrir ou dissimular a utilização do patrimônio

23 Idem.

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ilícito resultante de um dos crimes anteriores".24 Finalidade, essa, que,

portanto, "deverá obrigatoriamente integrar o dolo ao nível do tipo

subjetivo".25

Nessa linha, aliás, estão a Convenção de Viena (art. 3, 1, b), de

Palermo (art. 6, 1) e a Directiva 2005/60/CE do Parlamento Europeu e

do Conselho (26.10.05) (art1, 2, a e b).

Todas elas indicando que apenas quem tem pleno conhecimento da

procedência ilícita dos bens pratica lavagem de dinheiro.

O mesmo se extrai no direito comparado, como no caso da

legislação lusitana sobre branqueamento de capitais (art. 2.º. 1).

Na doutrina brasileira, essa é a posição adotada, dentre tantos

outros, por PIERPAOLO BOTTINNI e ANDRÉ LUÍS CALLEGARI.

24 Cf. CALLEGARI, André Luis. Lavagem de dinheiro: aspectos penais da Lei nº 9.613/98, 2ª ed., Porto

Alegre: Livraria do Advogado Editora, p. 111.

25 Cf. MAIA; Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime), SP:

Malheiros, 1999, p. 95.

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Para CALLEGARI:26

“Essa posição [que admite o dolo eventual] não nos parece a

mais correta, já que não é possível o autor cometer o delito

apenas com a probabilidade de que estes provenham de um

dos crimes (...) é preciso que o autor conheça o caráter ilícito

de sua conduta e saiba que os bens possuem procedência

ilícita. (...) O dolo deve ser dirigido a esta conduta, ou seja, o

autor atua porque conhece a origem criminosa dos bens e

porque que lhes dar aparência de licitude”.

Não tem sido outra, com efeito, a orientação adotada nos

tribunais superiores.

Ao julgar o 16º Embargos Infringentes na AP 470/MG, o Plenário

da Suprema Corte reforçou a posição de que “A condenação pelo delito de

lavagem de dinheiro depende da comprovação de que o acusado tinha ciência

da origem ilícita dos valores”:

Ementa: Embargos infringentes na AP 470. Lavagem de

dinheiro. 1. Lavagem de valores oriundos de corrupção passiva

praticada pelo próprio agente: 1.1. O recebimento de propina

constitui o marco consumativo do delito de corrupção passiva, na

forma objetiva “receber”, sendo indiferente que seja praticada com

elemento de dissimulação. 1.2. A autolavagem pressupõe a prática

de atos de ocultação autônomos do produto do crime antecedente

26 Cf. Lavagem de dinheiro: Aspectos Penais da Lei nº 9.613/98. Porto Alegre: Livraria do advogado,

2ª ed., 2008. p.152-154.

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(já consumado), não verificados na hipótese. 1.3. Absolvição por

atipicidade da conduta. 2. Lavagem de dinheiro oriundo de crimes

contra a Administração Pública e o Sistema Financeiro Nacional.

2.1. A condenação pelo delito de lavagem de dinheiro depende

da comprovação de que o acusado tinha ciência da origem ilícita

dos valores. 2.2. Absolvição por falta de provas 3. Perda do objeto

quanto à impugnação da perda automática do mandato

parlamentar, tendo em vista a renúncia do embargante. 4.

Embargos parcialmente conhecidos e, nessa extensão, acolhidos

para absolver o embargante da imputação de lavagem de

dinheiro. (AP 470 EI-sextos/MG, rel. Min. Luiz Fux; Rel. p/

Acórdão: Min. Roberto Barroso, DJe 21/08/2014)

No mesmo sentido, tem sido a orientação adotada pelo Superior

Tribunal de Justiça que, em precedente específico, assentou: “O crime

de lavagem de dinheiro tipifica-se desde que o agente saiba que o montante

pecuniário auferido, por meio de dissimulação, é produto de crime antecedente”

(cf. STJ, HC 309.949/DF, Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe

09/03/2015.

E mesmo que se entendesse, na linha de minoritária corrente, que

o tipo de lavagem de capitais admitiria o dolo eventual, ainda assim

não haveria como reconhecê-lo na hipótese presente. Seja porque a

prova testemunhal, como visto, inocenta o Defendente quanto ao seu

envolvimento nos fatos, seja ainda porque a hipótese de erro de tipo

(escusável ou não) sempre elimina o dolo, seja ele direto ou indireto.

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De modo que, no particular, a absolvição se impõe, ex vi do art.

386, III do Código de Processo Penal.

4.2. Do Recebimento como Exaurimento do Crime de Corrupção

Se ainda assim Vossa Excelência não se convencer da plena

configuração do erro de tipo escusável, haverá de reconhecer,

entretanto, que o fato imputado ao Defendente não configura crime

nem é passível de punição. E isto por se tratar, caso verdadeiro fosse,

de mero exaurimento de crime de corrupção já consumado e no qual

não teve participação.

Explica-se.

Já se verificou, e aqui se reitera, que a imputação do crime de

lavagem de dinheiro a FÁBIO CORRÊA estaria remotamente

relacionada a contratos fraudulentos celebrados entre empreiteiras e a

PETROBRAS (Tabela A) e, proximamente, aos contratos alegadamente

simulados firmados entre as empresas cartelizadas e aquelas

controladas por ALBERTO YOUSSEF (Tabela B).

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É a própria denúncia quem afirma – e que aqui se considera

apenas para efeito de argumentação – que os repasses destinados ao

Partido Progressista e, em particular a PEDRO CORRÊA, eram

contrapartida (vantagem indevida) paga pelas empresas cartelizadas

em razão da atuação conivente de PAULO ROBERTO COSTA em

atendimento “aos interesses escusos” da agremiação partidária e das

próprias empreiteiras.

Nos exatos termos da denúncia,27

“Os integrantes do PARTIDO PROGRESSISTA, entre

eles, JOSÉ JANENE e PEDRO CORRÊA, comandando o

esquema de corrupção, discutiam, acertavam e definiam

com as empreiteiras cartelizadas os percentuais de propina

que seriam pagas em razão dos contratos celebrados na

Diretoria de Abastecimento”.

Por sua vez,

“as empresas cartelizadas participantes do ‘CLUBE’, já

previamente ajustadas com o PARTIDO PROGRESSISTA (PP),

firmaram com PAULO ROBERTO COSTA (também

previamente ajustado com o mesmo PARTIDO) e outros

funcionários da PETROBRAS, como RENATO DUQUE, um

compromisso com promessas mútuas que foram reiteradas e

confirmadas ao longo do tempo, de, respectivamente,

27 Fl. 12 da denúncia.

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oferecerem e aceitarem vantagens indevidas que variavam

entre 1% e 5% do valor integral de todos os contratos por elas

celebrados com a PETROBRAS, podendo ser superior a esse

percentual em caso de aditivos contratuais (...)”.28

Um pouco mais adiante, consigna a inicial acusatória:

“(...) especificamente para o denunciado PEDRO

CORRÊA, apurou-se que ALBERTO YOUSSEF

operacionalizava os pagamentos por meios diversos, a

saber: 1) entregas em dinheiro para o próprio

denunciado; 2) entrega de dinheiro para terceiros a

pedido do denunciado; 3) depósitos nas contas de

titularidade do denunciado PEDRO CORRÊA e para

terceiros por este indicados”.29

Partindo dessas premissas, é o próprio Ministério Público

Federal quem inclui expressamente o fato (pagamento e entrega de

dinheiro) no capítulo destinado à imputação de corrupção à PEDRO

CORRÊA.30

28 Fls. 12/13 da denúncia.

29 Fl. 31 da denúncia.

30 Cf. Cap. II. IMPUTAÇÕES DO CRIME DE CORRUPÇÃO, item II.B.3 – Entrega em dinheiro

para terceiros a pedido do denunciado).

Page 46: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 46 de 72

Em outras palavras, é a denúncia quem afirma, textualmente,

que PEDRO CORREA enviava emissários ao escritório de YOUSSEF (no

caso, MÁRCIA DANZI e FÁBIO CORRÊA) para receber valores

correspondentes ao pagamento de propina por crime de corrupção já

consumado na modalidade aceitar e solicitar, verbis:

“II.B.3 – Entregas em dinheiro para terceiros a

pedido do denunciado

Além do recebimento de vantagens indevidas

pessoalmente, PEDRO CORREA também recebia a

propina, no período compreendido entre 14 de maio de

2004 e 17 de março de 2014, por meio do

comparecimento de emissários ao escritórios de

ALBERTO YOUSSEF na cidade de São Paulo/SP, entre

eles, FABIO CORREA, MÁRCIA DANZI em valores

que giravam em torno de R$ 50.000,00 (cinquenta mil

reais) e R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) por

recebimento”.31 (g.n.)

Quando de suas alegações finais, o parquet reitera essas

acusações, afirmando, textualmente, que “no momento das operações de

lavagem, a corrupção passiva tal qual denunciada e demonstrada nos autos já

estava devidamente consumada pela aceitação da vantagem ilícita”.32

31 Fl. 36 da denúncia.

32 Fl. 39 das alegações finais.

Page 47: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 47 de 72

Ora, se o próprio MPF afirma (ainda que infundadamente) que o

recebimento de valores por FÁBIO CORRÊA constituía um dos meios

de pagamento de propina (vantagem indevida) a PEDRO CORRÊA em

razão de crime de corrupção já consumado, a hipótese corresponderia,

no limite, a exaurimento desse crime de corrupção e, não, um crime

autônomo de lavagem de capitais, sob pena de bis in idem.

Com efeito, há uma significativa e insuperável diferença entre o

recebimento capaz de configurar exaurimento do crime de corrupção e

aquele suficiente à caracterização de crime de lavagem (quando

associado a outras ações tendentes à ocultação e dissimulação).

Essa diferenciação, vale recordar, foi implementada pelo

Supremo Tribunal Federal quando do julgamento de Embargos

Infringentes na Ação Penal 470/MG opostos pelo ex-deputado federal

JOÃO PAULO CUNHA.

Como se sabe, o ex-parlamentar foi denunciado por lavagem de

dinheiro ao receber, através de sua esposa e mediante saque efetivado

em instituição financeira, R$ 50 mil provenientes de atos de corrupção

passiva.

Page 48: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 48 de 72

Mutatis mutandis, a mesma situação descrita na presente

denúncia, com a diferença de que em vez de saque em instituição

financeira o valor teria sido recebido em mãos no escritório de

ALBERTO YOUSSEF. E, em vez da esposa, tratar-se-ia do filho do agente

supostamente corrompido.

No referido julgamento, a maioria do Plenário reconheceu que, o

recebimento de dinheiro, naquelas circunstâncias, ainda que a forma

escolhida possa ser tida como escamoteada, corresponderia ao

exaurimento da corrupção já consumada, e não lavagem de capitais, o

que conduziu à absolvição do ex-parlamentar diante da configuração

de um post factum impunível (em relação e ele e, evidentemente, à

esposa).

Em voto emblemático, salientou o eminente Ministro TEORI

ZAVASCKI:

(...) À luz dessas premissas teóricas, tem-se que os fatos

narrados na denúncia – o recebimento de quantia pelo

denunciado por meio de terceira pessoa - não se adequam,

por si sós, à descrição da figura típica. Em primeiro lugar,

porque o mecanismo de utilização da própria esposa não

pode ser considerado como idôneo para qualificá-lo como

“ocultar”; e, ademais, ainda que assim não fosse, a ação

objetiva de "ocultar" reclama, para sua tipicidade, a

existência de um contexto capaz de evidenciar que o agente

realizou tal ação com a finalidade específica de emprestar

Page 49: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 49 de 72

aparência de licitude aos valores. Embora conste da

denúncia a descrição da ocorrência de crimes antecedentes

(contra o sistema financeiro nacional e a administração

pública), bem como a afirmação de que o embargante,

“consciente de que o dinheiro tinha como origem

organização criminosa voltada para a prática” desses crimes,

“almejando ocultar a origem, natureza e o real destinatário

do valor pago como propina, enviou sua esposa Márcia

Regina para sacar no caixa o valor de cinquenta mil reais em

espécie”, ela não descreve qualquer ação ou intenção do réu

tendente ao branqueamento dos valores recebidos. O que se

imputa, a rigor, é o recebimento dos valores referentes ao

crime de corrupção passiva, que, pela circunstância de ter

sido realizado por interposta pessoa, não pode produzir a

consequência de incorporar um crime autônomo, até

porque o recebimento indireto da vantagem indevida

integra o próprio tipo penal do art. 317 do Código Penal

(“solicitar ou receber (...) direta ou indiretamente (...)

vantagem indevida”).

(...)”. (g.n.)

Não foi outra a linha de raciocínio exposta no voto da eminente

Ministra ROSA WEBER:

“(...) Quem vivencia o ilícito procura a sombra e o

silêncio. O pagamento de propina não se faz perante

holofotes. Atividade das mais espúrias, aproveita todas as

formas de dissimulação para sua execução. Ninguém vai

receber dinheiro para corromper-se sem o cuidado de

resguardar-se.

Nessa ótica, assento que, na minha compreensão, e

pedindo vênia aos que entendem de modo diverso, a

Page 50: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 50 de 72

manipulação do dinheiro objeto da propina traduz,

dependendo da hipótese, (i) a própria consumação do crime

de corrupção ou (ii) o exaurimento deste mesmo crime.

(...)

Na corrupção passiva três são os núcleos: solicitar ou

receber vantagem indevida e, ainda, aceitar promessa de

vantagem indevida

Na corrupção ativa, apenas dois: oferecer ou prometer.

Na corrupção ativa ambos os núcleos importam o

reconhecimento do crime formal. Então, nesse delito, a

percepção da vantagem pelo corrompido constitui

exaurimento do delito.

Já na corrupção passiva, sob a forma solicitar, o crime é

formal; mas sob a forma receber – e aqui peço vênia, pela

primeira vez a me manifestar sobre o tema nesta Casa, para

não perfilhar a orientação jurisprudencial nela dominante -,

o crime é material. No primeiro núcleo, basta a solicitação

para realizar o tipo; no segundo, todavia, pressupõe-se o

efetivo recebimento da propina por não se esgotar, o tipo, na

mera aceitação de vantagem indevida.

Logo, em se tratando do núcleo solicitar, o efetivo

recebimento da propina constitui exaurimento do crime; no

caso do núcleo receber, a percepção da vantagem integra a

fase consumativa do delito.

(...)

Assentei que, na minha compreensão, pedindo vênia

aos entendimentos contrários, a manipulação do dinheiro

objeto da propina constitui ora meio de consumação, ora

meio de exaurimento da corrupção, a partir da distinção

entre crimes materiais e formais sob o ângulo do núcleo do

tipo (...). Logo, na hipótese solicitar – assim como nos dois

tipos da corrupção ativa -, o efetivo recebimento da propina

representa o exaurimento da corrupção passiva. Sob a

Page 51: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 51 de 72

forma receber, todavia, a percepção da vantagem está na fase

consumativa da corrupção passiva.

(...)

A meu juízo, contudo, presentes as peculiaridades dos

casos e a explicitação dos conceitos, na forma supra, inviável

considerar o crime de corrupção passiva como antecedente

do crime de lavagem ao feitio legal, inconfundível o

recebimento da vantagem indevida de forma maquiada, pelo

qual se consuma a corrupção passiva na modalidade receber,

com a ocultação e dissimulação ínsitas ao tipo do crime de

lavagem de dinheiro.

A mesma conclusão se impõe, ainda que sem a mesma

limpidez, considerada a corrupção passiva em todos os

seus núcleos como crime formal (consoante a

jurisprudência majoritária desta Casa). Nessa hipótese, o

recebimento dissimulado e mediante artifícios - como nem

se poderia imaginar diferente, pois quem vivencia o ilícito,

procura a sombra e o silêncio -, constitui exaurimento do

delito de corrupção passiva. (...)

Isso não significa que para a consumação do crime

antecedente e o início da lavagem se exija a posse física do

produto do delito por seu agente. O crime antecedente pode

se consumar com a mera disponibilidade sobre o produto do

crime, ainda que não física, pelo agente do delito, mas o ato

configurador da lavagem há de ser, a meu juízo, distinto e

posterior à disponibilidade sobre o produto do crime

antecedente.

No caso presente, concluo que o recebimento da

vantagem indevida por João Paulo Cunha e Henrique

Pizzolato, nas condições em que ocorreram os pagamentos –

com subterfúgios e dissimulação -, integra o tipo penal da

corrupção passiva e não pode, por esse motivo, em se

tratando do mesmo ato, compor o da lavagem de capitais.

(...)”. (g.n.)

Page 52: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 52 de 72

Cumpre salientar que além de absolver o ex-parlamentar a partir

da tese de exaurimento, o e. STF não reconheceu, em relação à sua

esposa, qualquer prática criminosa, seja a título de lavagem, seja de

auxílio em crime de corrupção.

Essas conclusões, que formaram maioria no plenário da Suprema

Corte, já com sua composição atual, aplicam-se exatamente à hipótese

presente.

No caso, aquilo que a denúncia afirma constituir ato de lavagem

(recebimento de quantias em espécie pagas a título de propina), a

jurisprudência do c. STF reconhece tratar-se de mero exaurimento do

crime de corrupção.

Com maior razão ainda, se o próprio MPF reconhece que no

momento do recebimento dos valores o crime de corrupção já havia se

consumado pela aceitação.

E justamente por essa razão, o fato não pode se enquadrar em

crime de lavagem. E muito menos ser punível a título de participação

em corrupção passiva (como melhor exposto adiante), já que o delito,

conforme afirma a própria acusação, já se havia consumado no

momento do recebimento.

Page 53: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 53 de 72

E de fato não haveria de ser diferente já que o crime de corrupção

é de ação múltipla e formal em relação aos núcleos do tipo aceitar e

solicitar. Por essa razão, a prática de uma dessas ações típicas já é

suficiente à consumação do delito, sendo o eventual recebimento,

nestas circunstâncias, mero desdobramento do processo delitivo.

Sem contar, ainda, que FÁBIO CORRÊA jamais foi acusado de

participar dos atos que culminaram na aceitação ou solicitação de

vantagem indevida. Tampouco possui qualquer envolvimento, como

já visto, nos atos de formalização dos contratos fraudulentos que

estariam na gênese dos crimes de corrupção.

Em suma, mostra-se totalmente improcedente e descabido o

pedido de condenação em relação a um possível crime de lavagem de

dinheiro.

4.2.1. Da Emendatio Libelli

Ciente e consciente de que o fato imputado a FÁBIO CORRÊA é

impunível, o MPF, mais uma vez, procura uma “solução alternativa”

que permita uma condenação a todo custo.

Page 54: Alegações finais de Fábio Corrêa

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No caso, requereu, pelo princípio da eventualidade, que “caso se

entenda, como pretendem fazer crer os réus, que suas condutas se referem à

consumação do crime de corrupção passiva, seria necessário aplicar o instituto

da emendatio libelli (artigo 384 do Código de Processo Penal), considerando

que a conduta por eles praticadas e descrita na inicial constituiu auxílio

material para a prática do delito tipificado no artigo 333, parágrafo único, de

pena mais elevada”.33

Sem razão, data vênia.

Por evidente, não é possível admitir que FÁBIO CORRÊA seja

excluído do crime de lavagem e passe a ser responsabilizado por

corrupção, como ousou cogitar o MPF.

Tampouco é verdadeiro que FÁBIO CORRÊA tenha reconhecido

que sua conduta se refira à “consumação de corrupção passiva” como

quis fazer crer o parquet. Tudo que disse a esse respeito foi apenas a

título de argumentação. E mesmo assim, deixou clara a tese de

exaurimento, embora em algumas passagens tenha feito alguma

referência à consumação diante dos próprios precedentes

jurisprudenciais que invocou e contêm menções desse gênero. E nada

mais.

33 Fl. 39 das alegações finais.

Page 55: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 55 de 72

Por outro lado, incabível falar-se em emendatio ou mutatio libelli

porque os elementos típicos da corrupção não estão descritos na

denúncia oferecida contra FÁBIO CORRÊA, além de não se tratar de

“prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não

contida na acusação”, como apenas afirma o MPF.

Em segundo lugar, caberia ao Ministério Público, na forma do

art. 384 do CPP, aditar formalmente a denúncia no prazo de cinco dias,

o que não ocorreu:

Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender

cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de

prova existente nos autos de elemento ou circunstância da

infração penal não contida na acusação, o Ministério Público

deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco)

dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo

em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o

aditamento, quando feito oralmente

Preclusa, portanto, encontra-se a matéria.

Em terceiro lugar, incabível falar-se em “auxílio material” em

crime de corrupção passiva quando o próprio órgão acusador, de

forma contraditória, afirma que no momento do recebimento de

valores por FÁBIO CORRÊA o crime de corrupção alegadamente

praticado por PEDRO CORRÊA já se havia consumado:

Page 56: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 56 de 72

“(...) no momento das operações de lavagem, a

corrupção passiva tal qual denunciada e demonstrada nos

autos já estava devidamente consumada pela aceitação da

vantagem ilícita”.34

Não fosse o bastante, para que fosse possível cogitar de auxílio

material em crime de corrupção passiva, seria necessária a

demonstração, pela acusação, de que FÁBIO CORRÊA efetivamente

soubesse da existência do alegado esquema criminoso, o que não se

ocorreu, conforme amplamente demonstrado.

Em quarto lugar, cabe reafirmar que o nome de FÁBIO CORRÊA

não é em qualquer instante mencionado nem vinculado, objetiva ou

subjetivamente, aos atos de ajuste e celebração dos contratos descritos

nas Tabelas A e B na denúncia.

Por essa razão, não há, nestas circunstâncias, como afirmar-se

que o recebimento desses valores constituiria “auxílio material” em

crime de corrupção diante da ausência de vínculo objetivo-subjetivo do

Defendente com os contratos antecedentes.

Logo, frente a essas razões, não há falar em emendatio libelli.

34 Fl. 39 das alegações finais.

Page 57: Alegações finais de Fábio Corrêa

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4.3. Da Atipicidade em razão da ausência dos elementos objetivos

do tipo de lavagem

Para além de todos os fatos e argumentos que evidenciam a

notória atipicidade do fato, cabem ainda algumas considerações em

torno da ausência dos elementos objetivos do tipo de lavagem.

No caso, revela-se atípico o fato, do ponto de vista dos elementos

objetivos, considerando:

(a) que os crimes antecedentes, apontados pela acusação, não

figuraram no rol então taxativo da Lei 9.613/98 vigente à época dos fatos;

(b) o ato de recebimento de valores, na forma narrada na denúncia,

não é compatível com as ações típicas de ocultação e dissimulação.

4.3.1. Dos Crimes Antecedentes

Nos termos da denúncia, teriam sido praticados “em detrimento

da PETROBRAS e da sociedade brasileira de um modo geral, de forma

sistemática, uma vasta série de crimes contra ordem econômica, de corrupção,

de fraude a licitações, contra o sistema financeiro nacional e lavagem de

dinheiro”.

Page 58: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 58 de 72

Todos eles, segundo a acusação, configurariam crimes

antecedentes da lavagem de capitais atribuída a FÁBIO CORRÊA e

outros acusados nos autos.

Já em alegações finais, o MPF exclui do universo dos delitos

antecedentes o alegado crime contra o sistema financeiro.

No que se refere ao crime de corrupção, viu-se, impossível

considerá-lo como crime antecedente, uma vez que o suposto

recebimento de valores teria configurado, nas circunstâncias narradas

pela própria acusação, exaurimento do tipo.

E melhor sorte não colhe em relação aos delitos de cartel e fraude

à licitação, “que possibilitaram a inserção do montante indevido nas

propostas contratadas pela estatal”.35

Com o devido respeito, a engenhoso raciocínio do parquet não se

sustenta.

35 Fl. 39 da denúncia.

Page 59: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 59 de 72

Primeiro, diante da garantia constitucional da irretroatividade da

lei penal (CF, art. 5.º, XL; CP, art. 1.º).

Com efeito, sabe-se que o rol antes taxativo do art. 1º da Lei

9.613/98 foi alterado e ampliado através da Lei 12.683, de 9 de julho de

2012, considerada, por isso mesmo, uma lex gravior. Irretroativa,

portanto (Cf. STJ, RHC 41.588/SP, Quinta Turma, rel. Min. Walter de

Almeida Guilherme, DJe 29/10/2014).

No caso dos autos, verifica-se que tanto os supostos crimes

antecedentes (cartel e fraude à licitação) quanto os próprios atos de

lavagem imputados a FÁBIO CORRÊA teriam ocorrido antes da entrada

em vigor da citada Lei 12.683/12.

Embora a denúncia não faça referência expressa a datas

(reforçando a alegação de inépcia), da própria narrativa e sequência

cronológica expostas é dado concluir que tanto o suposto crime de

formação de cartel quanto a alegada fraude à licitação estariam na

gênese dos fatos investigados na Operação Lava Jato, integrando as

primeiras etapas daquilo que o MPF denominou de “esquema

criminoso”.

Partindo do que expõe a denúncia, esta seria a sequência lógica

e cronológica dos fatos e crimes supostamente perpetrados:

Page 60: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 60 de 72

A reforçar a conclusão de que os crimes de formação de cartel e

a fraude à licitação se consumaram necessariamente antes da Lei

12.683/12, consta-se que o último dos contratos e aditivos indicados da

Tabela A foi formalizado em 30/03/2012.36

36 Fls. 18/22 da denúncia.

1) Corrupção ativa e passiva, formação de

cartel

2) Fraude à Licitação

3)Conclusão do processo licitatório

4) Início das obras e pagamento dos

contratos às empreiteiras (Tabela

A)

5) Lavagem de Dinheiro e

Exaurimento do crime de corrupção

ativa e passiva(Recebimento dos valores ao núcleo administrativo e

político através dos operadores)

6) Lavagem de Dinheiro

(Formalização de contratos simulados)

(Tabela B)

7) Lavagem de Dinheiro (Depósitos em contas bancárias e

entregas de dinheiro)

Page 61: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Portanto, não há qualquer dúvida de que a Lei 12.683/12 é

posterior à consumação dos crimes que a denúncia sustenta serem

antecedentes da lavagem supostamente perpetrada por FÁBIO

CORRÊA.

O mesmo se diga em relação aos contratos indicados na Tabela B.

Neste caso específico, embora alguns deles hajam sido

celebrados em momento posterior a julho de 2012, os crimes de cartel e

fraude à licitação já estavam consumados quando da entrada em vigor

da Lei 12.683/12, aplicando-se, pois, o mesmo raciocínio acima exposto.

E nem se diga que eventuais atos de ocultação ou dissimulação

possam ter ocorrido após a edição da Lei 12.683/12, tornando viável a

configuração do crime de lavagem.

É que o juízo de tipicidade desse delito, em particular à luz da

nova regra instituída pela Lei 12.683/12, está condicionado à

constatação objetiva de que tanto o crime antecedente quanto os

próprios atos de lavagem (ocultação e dissimulação) tenham ocorrido

na vigência da mesma Lei.

Page 62: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 62 de 72

Não há, em outras palavras, como concluir pela caracterização

da lavagem com base na Lei 12.683/12 se um dos elementos do tipo – o

crime antecedente – não se consumou durante sua vigência, pouco

importando para esse fim se os atos de ocultação ou dissimulação

ocorreram em momento posterior. Tanto mais porque o tipo é uno e

indivisível, não se podendo admitir que em relação a uma parte dos

elementos típicos incida a irretroatividade da lei e na outra não.

Do contrário, estar-se-ia criando uma terceira norma, o que não é

aceito nem pela doutrina, consoante posição adotada, dentre outros,

por CEREZO MIR, NÉLSON HUNGRIA, HELENO CLÁUDIO FRAGOSO,

FERNANDO CAPEZ e PAULO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR.

O mesmo se diga em relação à jurisprudência.37

De todo modo, mesmo considerando os atos de lavagem

atribuídos ao Defendente, também chegamos à idêntica conclusão

quanto à irretroatividade da Lei 12.683/12.

37 Cf. STF, HC 80.008/RJ, Primeira Turma, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 07.04.2000; STJ, Resp

598.079/RS, Quinta Turma, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 25.10.2004.

Page 63: Alegações finais de Fábio Corrêa

Página 63 de 72

Conforme sustenta o MPF, a lavagem de dinheiro praticada por

FÁBIO CORRÊA teria ocorrido através do recebimento de valores no

escritório de YOUSSEF, por trinta e três vezes.

Esses atos teriam supostamente ocorrido nos dias 26/08/2010,

30/08/2010, 03/09/2010, 10/09/2010, 17/09/2010, 21/09/2010, 22/09/2010

(três vezes neste dia), 03/02/2011, 17/02/2011 (três vezes neste dia),

18/02/2011, 24/02/2011 (duas vezes neste dia), 25/02/2011 (três vezes

neste dia), 28/02/2011, 01/03/2011 (três vezes neste dia), 26/05/2011,

30/05/2011, 30/07/2012 (duas vezes neste dia), 29/08/2012 (duas vezes

neste dia), 25/09/202, 26/09/2012, 28/09/2012, 02/10/2012, 03/10/2012.

Somente analisando as datas em si – abstraindo-se o fato de que

inexiste prova de que FÁBIO CORRÊA haja recebido valores em todas

as oportunidades – eliminaríamos, de plano, a possibilidade de

configuração de lavagem de dinheiro à luz da Lei 12.683/12 em relação

a nada menos do que vinte e cinco imputações (visitas ocorridas entre

26/08/2010 e 30/05/2011).

Restariam outras oito imputações de lavagem, cujos atos teriam

supostamente ocorrido após a vigência da Lei 12.683/12 (visitas

ocorridas entre 30/07/2012 e 03/10/2012)

Page 64: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Sucede, porém, que em relação a essas datas inexiste prova

segura de que FÁBIO CORRÊA tenha recebido valores nessas datas.

É bem verdade que RAFAEL ÂNGULO chegou a afirmar, em

juízo, ter realizado uma entrega de R$ 35 mil a FÁBIO CORRÊA no dia

28/09/2012.

Não obstante, essa declaração não tem valor probatório algum

uma vez que não foi devidamente confirmada por outros elementos

de prova. Nenhum.

Válido é ressaltar, outrossim, que nem o próprio Defendente se

recorda a data em que teria recebido, numa única ocasião, valores que

supunha tratar-se do pagamento de antiga dívida existente entre

PEDRO CORRÊA e JOSÉ JANENE.

De todo o exposto, uma vez que inexiste prova inequívoca e fora

de qualquer dúvida de que o Defendente haja de fato recebido algum

valor após a entrada em vigor da Lei 12.683/12, não há como reconhecer

a configuração de um crime de lavagem de dinheiro, sob pena de

violação ao princípio da legalidade penal.

Page 65: Alegações finais de Fábio Corrêa

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Não fosse tudo o bastante, também não poderiam os crimes de

formação e cartel e fraude à licitação figurar como crimes antecedentes

na medida em que o MPF não fez prova de que FÁBIO CORRÊA

soubesse de sua existência, o que também se exige para a tipificação do

delito de lavagem.

Ao contrário disso, verificou-se que nenhuma prova existe nos

autos associando FÁBIO CORRÊA aos crimes de cartel e muito menos

às fraudes de licitação, as quais, conforme afirma o próprio parquet,

eram arquitetadas diretamente entre os funcionários da PETROBRAS e

o executivos das empreiteiras, inexistindo qualquer possibilidade de

que o Defendente soubesse que recebia valores provenientes daqueles

delitos, algo indispensável à configuração do crime de lavagem.

4.3.2. Da ausência de correlação entre o ato de receber valores em

espécie e as ações típicas de ocultar e dissimular

Por fim, cumpre considerar que o fato imputado pela denúncia,

ratificada nas alegações finais, não revela, em si, ato de “ocultação” ou

“dissimulação”, vale dizer, qualquer manobra com a especial "finalidade

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de encobrir ou dissimular a utilização do patrimônio ilícito resultante de um

dos crimes anteriores"38.

Neste sentido, entende o MPF que FÁBIO CORRÊA ao

supostamente receber quantias em espécie no escritório de ALBERTO

YOUSSEF, entre agosto de 2010 e outubro de 2012, praticou lavagem de

capitais “ocultando” e “dissimulando” a respectiva “natureza, origem,

disposição, movimentação, localização e propriedade”, e, com isso,

“ultimando o processo de branqueamento dos valores”.

Não obstante, é certo que o ato de receber, por si só e nas

circunstâncias narradas, não corresponde, objetivamente, a uma ação

típica de ocultação ou dissimulação, muito menos no sentido exigido

para a configuração do tipo de lavagem.

O contrário só seria possível, com efeito, se essa ação houvesse

ao menos sido associada pela denúncia a outros comportamentos

eventualmente praticados por FÁBIO CORRÊA – antes, durante ou

depois do recebimento – tendentes a esconder, simular ou mascarar a

verdade sobre a natureza, origem, disposição, movimentação,

localização e propriedade daqueles valores, o que definitivamente não

ocorreu na espécie.

38 Cf. CALLEGARI, André Luis. Lavagem de dinheiro. Ob. cit., p. 111.

Page 67: Alegações finais de Fábio Corrêa

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De fato, afora o ato de receber, na condição de mero

intermediário, determinada quantia em espécie, em nenhum momento

a acusação descreve ou faz prova em relação a ações ocultativas e/ou

dissimulativas voltadas a “modificar o status do dinheiro de origem

criminal, isto é, dar-lhe aparência de legitimidade para que possa circular

livremente na economia legal”,39 como exige o tipo de lavagem.

Nada. Rigorosamente nada é dito ou provado a esse respeito.

Nem mesmo implicitamente.

E não é só.

Se é verdade, como enfatiza RAÚL CERVINI40, que o crime de

lavagem de dinheiro é na essência “un processo que se moviliza dentro de

los sistemas económicos”, ou, como define BLANCO CORDERO,41 é um

“processo em virtude do qual os bens de origem ilícita são integrados ao sistema

econômico legal com aparência de haverem sido obtidos de forma lícita”,

caberia ao MPF descrever e provar atos eventualmente praticados por

FÁBIO CORRÊA compatíveis e representativos desses processos.

39 Cf. PRADO, Luiz Regis. Delito de Lavagem de Capitais: Um estudo introdutório. In: Doutrinas

Essenciais. Ob. Cit., p. 1155.

40 Cf. Evolución de la legislación antilavado em el Uruguay. In: Doutrinas Essenciais. FRANCO,

Alberto Silva (org.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 1181.

41 Cf. CORDERO, Blanco. El delito de blaqueo de capitales. Navarra, Arazandi, 2002, pág. 93.

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Mais especificamente, no sentido de comprovar atos voltados a

produzir uma interação entre a economia legal e ilegal com o intuito de

conferir honorabilidade aos bens ou valores e afastar quaisquer

desconfianças que recaiam sobre a fonte ilícita dos recursos (cf. TRF4,

Proc. 5055075-44.2011.404.7100, Oitava Turma, rel. Des. Leandro

Paulsen, DJe 14/04/2015), algo indemonstrado pela acusação.

Ora, da forma como se apresenta a acusação cabe indagar: em

que medida a ação narrada – receber valores destinados a terceiro –

pode ser comparável a um conjunto complexo de operações, integrado

pelas etapas de conversão (placement), dissimulação (layering) e

integração (integracion) de bens de que fala a doutrina42? Onde se vê

algo comparável a uma “manobra” destinada a ocultar (encobrir) ou

dissimular (distanciar) a origem supostamente criminosa dos valores?

São questionamentos, data vênia, para os quais o MPF não trouxe

qualquer resposta minimamente convincente. Nem no momento de

oferecer a denúncia, nem no momento em que apresentou suas

alegações finais.

A questão, portanto, há de ser abordada à do princípio da

legalidade penal. Ou, mais precisamente, da taxatividade.

42 Cf. Lavagem de Dinheiro. 2.ed. São Paulo: Malheiros, 2007, pág. 53.

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Como princípio reitor do Estado Democrático de Direito, a

legalidade constitui a espinha dorsal dos sistemas jurídicos modernos.

Representa a expressão máxima de garantia dos direitos e liberdades

individuais (e coletivas). No dizer de NILO BATISTA,43 o princípio da

legalidade constitui “a chave mestra de qualquer sistema penal que se

pretenda racional e justo.”

No Direito brasileiro, é previsto no rol das garantias fundamentais

do cidadão, mais precisamente no art. 5.°, inc. XXXIX, da Constituição

Federal de 1988, e no art. 1.º do Código Penal: “Não há crime sem lei

anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”

No mesmo sentido, dispõe o art. 9.º, da Convenção Americana

sobre os Direitos Humanos (CADH – Pacto de São José da Costa Rica),

de 22 de novembro de 1969, da qual o Brasil é signatário, verbis:

“Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que, no momento em

que foram cometidos, não constituam delito, de acordo com o direito aplicável.

(...)”.

43 Cf. BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 8.ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002,

p. 65.

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Um de seus três postulados, como ensina LUIS LUISI,44 é a

taxatividade (nullum crimen nulla poena sine lege certa).

No plano legislativo, a taxatividade impõe que lei estabeleça, de

forma precisa e taxativa, as condutas tidas como delituosas e as

respectivas sanções penais. Sob essa óptica, é direcionada ao legislador,

impondo-lhe o dever de especificar de modo o mais detalhado possível

os elementos essenciais que compõem os comportamentos tidos como

criminosos, o mesmo ocorrendo em relação à definição das penas

aplicáveis. O objetivo, nesse caso, é evitar tipificações dúbias,

genéricas, que deixem margem à ampla e irrestrita discricionariedade

do Estado-juiz em prejuízo das pessoas (jurisdicionados).

No plano judicial, a taxatividade garante ao acusado o direito

não ser responsabilizado penalmente se a ação por ele praticada não se

enquadrar, perfeitamente, ou, melhor, taxativamente, na figura típica

imputada.

A taxatividade, por isso mesmo, há de ser considerada em

conjunto com outra importante garantia penal: a proibição da analogia

in malam partem.

44 Neste sentido: LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. 2.ed. Porto Alegre: Sergio

Antonio Fabris Editor, 2003, p. 17.

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É a partir dessas importantes premissas, com efeito, que se há de

se realizar o juízo de (a)tipicidade do fato imputado a FÁBIO

CORRÊA.

Presente esse contexto, mesmo abstraindo-se a questão referente

ao dolo da conduta, indemonstrado pela acusação em relação a FÁBIO

CORRÊA, verifica-se que o fato se apresenta atípico no plano da

adequação legal, impondo, em consequência, a improcedência do

pedido condenatório, ex vi do art. 386, III do CPP.

5. DA CONCLUSÃO

Com estas considerações, espera e confia FÁBIO CORRÊA

Defendente seja julgada IMPROCEDENTE a pretensão condenatória

deduzida pelo Ministério Público Federal, ABSOLVENDO-SE o

Defendente com fundamento nas hipóteses do art. 386, II, III, V e VII

do Código de Processo Penal.

É o que se pede.

De Recife para Curitiba, 25 de setembro de 2015.

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ADEILDO NUNES Advogado OAB/PE 8.914

PLÍNIO LEITE NUNES Advogado OAB/PE 23.668

CAROLINE DO R. B. SANTOS Advogada OAB/PE 32.753

CLARISSA DO REGO BARROS NUNES Advogada OAB/PE 38.823