albert camus - palavras

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Trechos dos mais profundos de Albert Camus

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  • Os flagelos, na verdade, so uma coisa comum, mas difcil acreditar quando se abatem

    sobre ns. Houve no mundo tantas pestes quanto guerras. E contudo, as pestes, como as

    guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas. (...) Quando estoura

    uma guerra, as pessoas dizem: No vai durar muito, seria idiota. E sem dvida uma

    guerra uma tolice, o que no a impede de durar. A tolice insiste sempre, e compreend-

    la-amos se no pensssemos sempre em ns. Nossos concidados, a esse respeito, eram

    como todo mundo: pensavam em si prprios. Em outras palavras, eram humanistas: no

    acreditavam nos flagelos. O flagelo no est altura do homem; diz-se ento que o flagelo

    irreal, que um sonho mau que vai passar. Mas nem sempre ele passa e, de sonho mau

    em sonho mau, so os homens que passam e os humanistas em primeiro lugar, pois no

    tomaram as suas precaues. Nossos concidados no eram mais culpados que os outros.

    Apenas se esqueciam se ser modestos e pensavam que tudo ainda era possvel para eles,

    o que pressupunha que os flagelos eram impossveis. Continuavam a fazer negcios,

    preparavam viagens e tinham opinies. Como poderiam ter pensado na peste que suprime

    o futuro, os deslocamentos e as discusses? Julgavam-se livres e nunca algum ser livre

    enquanto houver flagelos.

    Albert Camus - em A Peste.

    "Haver uma fbula, uma loucura, um vcio que no possua um nome, um

    emblema, uma mscara grega?" (O Homem Revoltado)