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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL APROVADA NOTA: 8,5 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL KELYDA OLIVEIRA DA SILVA FERMINO [email protected] ORIENTADOR: PROF. DR. ILSO FERNANDES DO CARMO ALTA FLORESTA/2014

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL

APROVADA NOTA: 8,5

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

KELYDA OLIVEIRA DA SILVA FERMINO

[email protected]

ORIENTADOR: PROF. DR. ILSO FERNANDES DO CARMO

ALTA FLORESTA/2014

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

KELYDA OLIVEIRA DA SILVA FERMINO

ORIENTADOR: PROF. DR. ILSO FERNANDES DO CARMO

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do Título de Especialização em Neurociência e Aprendizagem, Psicopedagogia e Educação Infantil.”

ALTA FLORESTA/2014

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RESUMO

O presente artigo tem como objetivo abordar a importância das atividades

lúdicas no processo de ensino e aprendizagem da criança, a construção do saber e

também analisar o significado das atividades lúdicas na Educação Infantil. O estudo

tem como tema “educação infantil: a importância do lúdico no processo de ensino

aprendizagem”, e trata-se de uma pesquisa qualitativa e exploratória. A mesma foi

realizada através das bibliografias referentes ao tema para que se pudesse

fundamentá-lo com teóricos da área. Também foram realizadas entrevistas não

estruturadas com professores que atuam na área da educação infantil da Escola

Municipal Paulo Pires Pereira, localizada no município de Alta Floresta/MT. O brincar

e o brinquedo assumem definitivamente seu papel perante os Centros de Educação

Infantil, haja vista que o conhecimento significativo se efetiva nos momentos lúdicos,

onde a criança brincando representa situações da vida real e assimila os conceitos e

regras do mundo adulto. Os principais autores que serviram como referências

teóricas para a pesquisa foram: VILELA (2011), BROUGÈRE (2004) e ROSA (2010).

As conclusões reforçam que as atividades lúdicas revestem-se de extrema

relevância ao processo de ensino aprendizagem nas instituições infantis, e apontam

que o professor da atualidade possuiu um legado de teorias que contribuem na ação

docente.

Palavras Chaves: Lúdico; Educação Infantil; Criança.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 04

1.0 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 06

1.1 A IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................. 07

1.2 AS CONTRIBUIÇÕES DO PROFESSOR ...................................................................... 11

2.0 PAPEL DO EDUCADOR NA EDUCAÇÃO LÚDICA ............................................ 13

2.1 LUDICIDADE E O EDUCADOR ..................................................................................... 15

2.2 CRITÉRIOS PARA ESCOLHA DE BRINQUEDOS ....................................................... 19

3.0 METODOLOGIA.........................................................................................................23

3.1 ANÁLISE E RESULTADOS DOS DADOS ..................................................................... 24

CONSIDERA ÇÕES FINAIS ......................................................................................... 30

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 32

ANEXO ...................................................................................................................... 32

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INTRODUÇÃO

Sabe-se que o lúdico como atividade educativa tem o intuito de enfatizar o

desenvolvimento integral da criança educando-as prazerosamente. Sendo assim,

através da ludicidade a criança internaliza toda e qualquer informação apresentada.

No entanto, é de suma importância a interação do professor com a criança em uma

mediação dialética, onde ambos ensinam e aprendem, pois são sujeitos ativos do

processo ensino aprendizagem. O presente estudo teve como objetivo verificar e

ressaltar influência do lúdico na educação infantil, buscando embasamento em

bibliografias relacionadas ao tema, para compreender de maneira significativa como

a criança aprende através da ludicidade, como as práticas lúdicas influenciam no

processo de ensino/aprendizagem, bem como em seu desenvolvimento global.

A opção por esse tema advém de muitas leituras a respeito, e

consequentemente da convicção de que a atividade lúdica é uma fonte

importantíssima de aprendizagem na primeira infância, cujos momentos,

oportunizem a criança a exercer o direito de ser criança, ou seja, o direito de brincar,

contribuindo assim, para uma série de fatores importantes ao seu desenvolvimento

físico, emocional, cognitivo, linguístico e social.

Sabe-se que os estímulos surgem de atividades que favorecem o trabalhado

com os diversos tipos de materiais pedagógicos, principalmente que as crianças

tenham a autonomia de manipulá-los a favor da sua própria aprendizagem. As

regras que conduzem essas atividades não só treinam as crianças para uma

aceitação das normas da família, da escola, da sociedade, como também servem

para estabelecer um equilíbrio, um controle de principio da realidade que deve

predominar na vida adulta.

O jogo para a criança é o exercício, a preparação para a vida adulta. A criança aprende brincando, é o exercício que faz desenvolver suas potencialidades. E as mais variadas metodologias podem ser ineficazes se não forem adequadas ao modo aprender da criança, por isso é importante que o educador, ao utilizar um jogo, tenha definidos objetivos a alcançar, pois enquanto a criança esta simplesmente brincando, incorpora valores conceitos e conteúdos. (LOPES, 2001, p.36-37).

Segundo LOPES (2001), focalizar as relações entre jogo e aprendizagem

não é uma ideia nova na história da educação. Porém, hoje em dia é mais aceita e

divulgada a compreensão de aprendizagem como apropriação, num processo

dinâmico de investigação sobre os objetos de conhecimento que, tornados próprios

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pelo aprendiz, fazem sentido para sua vida, para seu ser no mundo, à semelhança

do que sucede na atividade lúdica.

Neste trabalho destacarei a importância das atividades lúdicas na educação

infantil e discorrerei sobre a importância do lúdico no processo de

ensino/aprendizagem, abordando as contribuições do professor na concepção de

alguns teóricos sobre o tema escolhido, fazendo primeiramente uma revisão da

literatura, realizando também a análise de resultados e dados metodologia,

abordando o papel do educador que é o facilitador das brincadeiras, sendo

necessário mesclar momentos onde orienta e dirige o processo, com outros

momentos onde as crianças são responsáveis pelas suas próprias brincadeiras

finalizando com alguns cuidados com os brinquedos e brincadeiras.

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1.0 REVISÃO DA LITERATURA

Para falar sobre a importância das atividades lúdicas na Educação Infantil, é

necessário que antes se fale a respeito de cultura infantil, onde alguns componentes

são extremamente relevantes ao processo de construção do saber e

desenvolvimento infantil, como os brinquedos e as brincadeiras presentes na ação

lúdica. Assim, o brinquedo é um objeto com característica específica de ser suporte

da brincadeira. O brinquedo é um pretexto para brincar. E o brincar é uma

necessidade da criança na sua transição para a cultura.

Portanto, é importante ressaltar que a criança se posiciona no mundo como

um ser brincante. Nesse sentido, segundo PIMENTEL (2008), através das

brincadeiras a criança constrói pontes entre o concreto e o real, entre o objeto e a

representação, entre a experiência e a imaginação, entre o aparecido e o escondido.

Além disso, o lúdico tanto pode ser uma criação do adulto, quanto da criança.

1.1 A IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para cuidar e educar, na Educação Infantil é preciso estar comprometido

com o outro, ser solidário com suas necessidades, confiando em suas capacidades.

Disso depende a construção de um vínculo entre o educador e o educando. Nesse

sentido a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394, de (1996,

art. 29º), diz que: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como

finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus

aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família

e da comunidade”.

VYGOTSKI (2000ª, p. 122), descreve que a criança, em seu processo de

desenvolvimento cultural, em princípio, possui estruturas primitivas, elementares,

determinadas pelas particularidades biológicas de sua psique. O processo de

desenvolvimento, de transformação, de adaptação da criança é assinalado por

estágios de desenvolvimento cultural, nos quais a criança vai adquirindo habilidade

propicia para continuar se desenvolvendo e interagindo com o meio e a ludicidade é

inerente a este processo.

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Segundo KISHIMOTO (1999), o jogo vincula-se ao sonho, à imaginação, ao

pensamento e ao símbolo. É uma proposta para a educação de crianças e

educadores de crianças, com base nos jogos e brincadeiras e nas linguagens

artísticas. Percebe-se que a concepção de KISHIMOTO sobre o homem como ser

simbólico, se constrói coletivamente e cuja capacidade de pensar está ligada à

capacidade de sonhar, imaginar e brincar com a realidade é fundamental propor

uma nova “pedagogia da criança”. O autor vê o jogar como gênese da “metáfora”

humana ou, talvez aquilo que nos torna realmente humano.

ROSA (2010), nos descreve que brincar é um comportamento e não deve

ser entendido apenas como uma resposta a um estímulo, mas como uma relação

estabelecida com um contexto social, implicado dentro de um sistema cultural. A

autora salienta que ao comportar-se, a criança está alterando o contexto e a si

mesma. Nessa atual concepção de Educação Infantil o brincar se constitui como um

instrumento primordial para o desenvolvimento da aprendizagem da criança. Neste

sentido BANDEIRA (2006), descreve:

Na brincadeira com as coisas do mundo, com os objetos da cultura, com as pessoas, a criança faz a passagem do brincar inato ao filhote, para o lúdico, o jogo, faz de conta, o imaginário, o simbólico. Por meio do jogo, do faz de conta, a criança cria, recria. Vive situações imaginárias em que atende certas necessidades e vontades, fora do instituído. Mediante o brincar, pode conservar coisas e pessoas perto de si, pode simbolizar, pode significar e ressignificar para si, em outro propósito que não seja do jogo pelo jogo (p.12).

A educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo,

brincadeira e diversão superficial, se bem aplicada e compreendida ela poderá

construir para a melhoria do ensino/aprendizagem da criança.

[...] A educação lúdica é uma ação inerente na criança e aparece sempre como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutação constante com o pensamento coletivo. [...] (ALMEIDA, 1995, p. 11).

Como afirma ALMEIDA (1995), a educação lúdica é uma ação inerente na

criança e no adulto, aparece sempre como uma forma transacional em direção ao

conhecimento. Dessa forma, a metodologia da Educação Infantil tem como

obrigação, proporcionar às crianças a compreensão dos símbolos e das relações

sociais de sua cultura. O que pode ser feito de forma prazerosa através dos

brinquedos, brincadeiras e jogos que possibilitam o contato com regras,

estabelecendo limites entre o eu e o outro, contribuindo assim, com a assimilação de

conceitos que se refletirá nas ações e atitudes por toda a sua vida.

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O lúdico trabalhado numa perspectiva pedagógica pode ser um instrumento

de suma importância na aprendizagem, no desenvolvimento, cognitivo, afetivo e

social na vida da criança.

Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de relevância para desenvolvê-la. (KISHIMOTO, 1999, p. 36).

Para SZYMANSKI (2006), ao trabalhar com o lúdico partindo de ações

pedagógicas que valorizam jogos, brinquedos, histórias infantis, música e poesia,

para que as crianças desenvolvam a representação simbólica, são fundamentais no

processo de aprendizagem. As histórias, músicas e poesias infantis trazem um

grande leque de possibilidades para utilizar o lúdico em sala de aula, onde as

crianças poderão interpretar, dançar, declamar, mostrando suas habilidades que

ainda não foram detectada pelo professor em uma aula “normal”, criando novas

possibilidades de conhecimentos pertinentes para o aprendizado da criança.

A bibliografia disponível destaca a importância de obter novos

conhecimentos a respeito de jogos e brincadeiras para desenvolver trabalhos

pedagógicos na educação infantil. Com eles é possível ensinar através do lúdico

para que os alunos obtenham um conhecimento significativo a partir do que já

trazem em sua bagagem cultural.

As vivências, relações interpessoais e o brincar são alguns dos principais

responsáveis pelo cognitivo da criança, desenvolvem a imaginação, a criatividade, a

linguagem oral (especialmente na Educação Infantil), a integração com o grupo,

desenvolve a autonomia, diminui o egocentrismo (passa a dividir objetos, brinquedos

e espaço). Percebe-se através da literatura a importância do brincar nessa fase,

para um melhor desenvolvimento do imaginário, da criatividade, e da autonomia da

criança. A brincadeira facilita a aprendizagem da leitura e escrita e o

desenvolvimento do vocabulário, pois ambos implicam na assimilação da realidade

através de processos simbólicos.

Antigamente, os jogos e as brincadeiras eram considerados um passatempo

para as crianças, as brincadeiras eram feitas sem ter qualquer significado

pedagógico, os brinquedos que existiam destinavam-se apenas para distrair.

Segundo KISHIMOTO (1993), foi em meados de década de 1930 que os

jogos educativos começaram a ser inseridos nas instituições infantis. Muito mais

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difícil do que ampliar o acesso à escola, processo no qual o Brasil alcançou

inegáveis avanços no que diz respeito à educação infantil, é promover a

conscientização dos educadores no que diz respeito à importância da ludicidade no

processo de ensino aprendizagem na educação infantil.

Para CUNHA (1994), o brincar é uma característica primordial na vida das

crianças. Segundo a autora o brincar para a criança é importante:

Porque é bom, é gostoso e dá felicidade, e ser feliz é estar mais predisposto a

ser bondoso, a amar o próximo e a partilhar fraternalmente;

Porque é brincando que a criança se desenvolve, exercitando suas

potencialidades;

Porque, brincando, a criança aprende com toda riqueza do aprender fazendo,

espontaneamente, sem pressão ou medo de errar, mas com prazer pela

aquisição do conhecimento;

Porque, brincando, a criança desenvolve a sociabilidade, faz amigos e aprende a

conviver respeitando o direito dos outros e as normas estabelecidas pelo grupo;

Porque, brincando, aprende a participar das atividades, gratuitamente, pelo

prazer de brincar, sem visar recompensa ou temer castigo, mas adquirindo o

hábito de estar ocupada, fazendo alguma coisa inteligente e criativa;

Porque, brincando, prepara-se para o futuro, experimentando o mundo ao seu

redor dentro dos limites que a sua condição atual permite;

Porque, brincando, a criança está nutrindo sua vida interior, descobrindo sua

vocação e buscando um sentido para sua vida. (CUNHA, 1994)

Sendo assim fica claro que o brincar para a criança não é uma questão

apenas de pura diversão, mas também de educação, socialização que inclui

aprender a ouvir opiniões diferentes e a contra-argumentar, estabelecendo

comparações objetivas entre várias maneiras de se compreender um mesmo fato,

pouco a pouco vai contribuir para tornar a criança apta a um intercambio, real com

os outros, favorecendo a troca de experiências, por estar baseada na cooperação e

na reciprocidade , desenvolvendo a construção e pleno desenvolvimento de suas

potencialidades.

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1.2 AS CONTRIBUIÇÕES DO PROFESSOR

Segundo SEVERINO (1991), ao entender a educação como um processo

historicamente produzido e o papel do educador como agente desse processo, que

não se limita a informar, mas ajudar as pessoas a encontrarem sua própria

identidade de forma a contribuir positivamente na sociedade e que a ludicidade tem

sido enfocada como uma alternativa para a formação do ser humano, pensamos que

os cursos de formação deverão se adaptar a esta nova realidade. Uma das formas

de repensar os cursos de formação é introduzir na base de sua estrutura curricular

um novo pilar: a formação lúdica que é uma atividade espontânea nas crianças,

porém isso não significa que o professor não necessite ter uma intervenção ativa

sobre ela, inclusive, uma atitude de observação que lhe permitirá maior

conhecimento sobre as crianças com que trabalha, com isso o educador precisa

estar atento às limitações e potencialidades de seus alunos para selecionar e deixar

à disposição materiais adequados, este deve ser suficiente tanto quanto à

quantidade, como pela diversidade, pelo interesse que despertam pelo material de

que são feitos, lembrando sempre da importância de respeitar e propiciar elementos

que se favoreçam a criatividade das crianças.

Conforme os PCN's, "por meio dos jogos as crianças não apenas vivenciam

situações que se repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e a pensar por

analogia (jogos simbólicos): os significados das coisas passam a ser imaginados por

elas". (BRASIL, 2001, p. 48). O uso da atividade lúdica, deve servir como

instrumento para que haja o ensino-aprendizagem e o desenvolvimento infantil,

dando oportunidade para que a criança possa descobrir vivenciar, modificar e recriar

novas regras. Ao planejar uma atividade lúdica deve-se propiciar diversão e prazer,

ensinar a cada criança algo que complete o seu “pequeno mundinho”, o seu saber,

seu conhecimento prévio aquele que cada criança traz consigo de berço é dando

valor a estes conceitos que será possível realizar um trabalho maravilhoso em sala

de aula.

Alguns cuidados devem ser tomados ao se tratar da ludicidade na educação

infantil, como definir bem os objetivos, escolher jogos e brincadeiras adequados a

cada momento educativo, verificar o tempo de duração das atividades escolhidas,

para que a criança tenha tempo de explorar e interagir com os coleguinhas durante a

atividade promovendo a estruturação do conhecimento. BROUGÈRE (2004), faz a

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seguinte afirmação:

O brinquedo parece afastado da reprodução do mundo real constantemente evocado por ele. É um universo espelhado que, longe de reproduzir, produz, por modificação, transformações imaginárias. A criança não se encontra diante de uma reprodução fiel do mundo real, mas sim de uma imagem cultural que lhe é particularmente destinada. Antes mesmo da manipulação lúdica, descobrimos objetos culturais e sociais portadores de significações. Portanto, manipular brinquedos remete, entre outras coisas, a manipular significações culturais originadas numa determinada sociedade (p. 43).

BROUGÈRE (2004), salienta que o brinquedo é um suporte para o

desenvolvimento infantil, sua principal função é a brincadeira, e as regras da

brincadeira que delineiam a capacidade de a criança entender e cumprir regras no

meio social. Neste mesmo sentido MOREIRA & CANDAU (2003),nos descreve que

as brincadeiras de construção são consideradas de grande importância, a

experiência sensorial estimula a criatividade, desenvolve habilidade da criança,

fazendo relação com faz de conta, evoluem em complexidade conforme o

desenvolvimento da criança, que se percebe observando a fala e a ação da criança.

As crianças, devem sentir-se capazes de exercitar o que foi proposto. Para

tanto, o professor deve compreender a importância de desenvolver atividades

lúdicas que conduzem ao desenvolvimento total da criança, respeitando e

valorizando cada descoberta que a criança venha a fazer em sua vida escolar e

também o que a criança já traz consigo como bagagem. O que é importante

salientar é que se deve atribuir a cada criança o papel de sujeito ativo na construção

de formas aprendizagem.

Segundo MOREIRA & CANDAU (2003), que alguns cuidados devem ser

tomados ao se tratar da ludicidade na educação infantil, como definir bem os

objetivos, escolher jogos e brincadeiras adequados a cada momento educativo,

verificar o tempo de duração das atividades escolhidas, para que a criança tenha

tempo de explorar e interagir com os coleguinhas durante a atividade promovendo a

estruturação do conhecimento.

SANTOS (1999), nos relata que do ponto de vista da criatividade, tanto o

brincar como o ato criativo estão centrados na busca do “eu”. É no brincar que se

pode ser criativo, e é no criar que se brinca com as imagens e signos fazendo uso

do próprio potencial da criança e tornando a aprendizagem significativa. O autor

reforça que do ponto de vista pedagógico, o brincar tem-se relevado como uma

estratégia pedagógica poderosa para a criança aprender.

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2.0 PAPEL DO EDUCADOR NA EDUCAÇÃO LÚDICA

Segundo REGO (1994), Para se ter dentro de instituições infantis o

desenvolvimento de atividades lúdicas educativas, é de fundamental importância

garantir a formação do professor e condições de atuação. Somente assim será

possível o resgate do espaço de brincar da criança no dia-a-dia da escola.

A formação do Educador Infantil, ganha em qualidade se, em sua

sustentação, estiverem presentes três pilares:

I. Formação teórica

II. Formação pedagógica

III. Formação lúdica

A decisão de se permitir envolver no mundo mágico infantil seria o primeiro

passo que o professor deveria dar. Explorar o universo infantil exige do educador

conhecimento teórico, prático, capacidade de observação, amor e vontade de ser

parceiro da criança neste processo. Nós professores podemos através das

experiências lúdicas infantis obtermos informações importantes no brincar

espontâneo ou no brincar orientado.

Segundo REGO (1994), autora da obra citada, o papel do educador é o

seguinte:

O educador tem como papel ser um facilitador das brincadeiras, sendo necessário

mesclar momentos onde orienta e dirige o processo, com outros momentos onde as

crianças são responsáveis pelas suas próprias brincadeiras.

É papel do educador observar e coletar informações sobre as brincadeiras das

crianças para enriquecê-las em futuras oportunidades.

Sempre que possível o educador deve participar das brincadeiras e aproveitar para

questionar com as crianças sobre as mesmas.

É importante organizar e estruturar o espaço de forma a estimular na criança a

necessidade de brincar, também visando facilitar a escolha das brincadeiras.

Nos jogos de regras o professor não precisa estimular os valores competitivos, e

sim tentar desenvolver atitudes cooperativas entre as crianças. Que o mais

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importante no brincar é participar das brincadeiras e dos jogos.

Devemos respeitar o direito da criança participar ou não de um jogo. Neste caso o

professor tem que criar uma situação diferente de participação dela nas atividades

como: auxiliar com materiais, fazer observações, emitir opiniões etc.

Em uma situação de jogo ou brincadeira é importante que o educador explique de

forma clara e objetiva as regras às crianças. E se for necessário pode mudá-las ou

adaptá-las de acordo com as faixas etárias.

Estimular nas crianças a socialização do espaço lúdico e dos brinquedos, criando

assim o hábito de cooperação, conservação e manutenção dos jogos e brinquedos.

Exemplos: "quem brincou guarda"; "no final da brincadeira todos ajudam a guardar

os materiais" etc.

Estimular a imaginação infantil, para isso o professor deve oferecer materiais dos

mais simples aos mais complexos, podendo estes brinquedos ou jogos serem

estruturados (fabricados) ou serem brinquedos e jogos confeccionados com material

reciclado (material descartado como lixo), por exemplo: pedaço de madeira; papel;

folha seca; tampa de garrafa; latas secas e limpas; garrafa plástica; pedaço de pano

etc. Todo e qualquer material cria para a criança uma possibilidade de fantasiar e

brincar.

É interessante que o professor providencie para que as crianças tenham espaço

para brincar (área livre), e que possam mexer no mobiliário, montar casinhas, fazer

cabanas, tendas de circo etc.

O professor deve dar o tempo necessário às crianças para que as brincadeiras

apareçam, se desenvolvam e se encerrem.

Ser aquele que coordena sua ação a ação da criança, pelo conhecimento e ligação

com as emoções desta.

RIZZO (1996), em seu livro "Jogos Inteligentes" analisa com muita

propriedade alguns aspectos necessários para que um bom educador possa realizar

sua atividade com crianças pequenas. Para a autora o educador:

Deve ser um líder democrático, que propicia, coordena e mantém um clima de

liberdade para a ação do aluno, limitado apenas pelos direitos naturais dos outros.

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Deve atuar em sintonia com a criança para estabelecer a necessária cooperação

mútua.

Precisa ter antes construído a sua autonomia intelectual e segurança afetiva.

Precisa aliar a teoria à prática e valorizar o conhecimento produzido a partir desta.

Deve jogar com as crianças e participar ativamente de suas brincadeiras, talvez

seja o caminho mais seguro para obter informações e conhecimentos sobre o

mundo infantil. (RIZZO, 1996, p.27 e 29)

Segundo o professor ALMEIDA (1987), a educação lúdica pode ter duas

consequências, dependendo de ser bem ou mal utilizada:

I. A educação lúdica pode ser uma arma na mão do professor despreparado, arma

capaz de mutilar, não só o verdadeiro sentido da proposta, mas servir de negação

do próprio ato de educar;

II. A educação lúdica pode ser para o professor competente um instrumento de

unificação, de libertação e de transformação das reais condições em que se

encontra o educando. É uma prática desafiadora, inovadora, possível de ser

aplicada.

2.1 LUDICIDADE E O EDUCADOR

A ludicidade é uma ferramenta muito importante para a formação das

crianças, pois é através dela que a criança desenvolve seu saber, seu conhecimento

e sua compreensão de mundo. Sendo o brinquedo a essência da infância o seu uso

permite a produção de conhecimento, principalmente na educação infantil. Quando

nos referimos à educação infantil sabemos que a ludicidade tem papel fundamental,

SANTOS (2007, p.12), afirma “a ludicidade é uma necessidade do ser humano em

qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão.” Muitos educadores

ainda não perceberam a real importância do “brincar”, o quanto esse aspecto facilita

o desenvolvimento pessoal, social e cultural. O educador precisa compreender a

criança, o homem, o currículo e a educação para que o seu ensinar venha a

contribuir positivamente na sociedade. Uma das formas de repensar a formação dos

educadores é introduzir nos cursos de formação uma base e uma estrutura

curricular: a formação lúdica. Essa formação levará o futuro educador a conhecer-se

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como pessoa, saber de suas limitações e possibilidades, para quando este estiver

atuando em sala de aula, saberá a importância do jogo e do brinquedo para a vida

da criança, do jovem e do adulto.

Quanto mais o educador vivenciar a ludicidade, maior será o seu

conhecimento e a chance de se tornar um profissional competente, trabalhando com

a criança de forma prazerosa estimulando a construção do conhecimento. A

formação lúdica fará com que o adulto viva, conviva e resgate o prazer e a alegria do

brincar, transpondo assim esta experiência para o campo da educação. Na formação

de profissionais da educação infantil deveriam está presentes disciplinas de caráter

lúdico, pois a formação do educador resultará em sua prática em sala de aula. Essas

disciplinas ajudarão na formação e preparação dos educadores para trabalharem

com crianças, assim: “o lúdico servirá de suporte na formação do educador, como

objetivo de contribuir na sua reflexão-ação-reflexão, buscando dialetizar teoria e

prática, portanto reconstruindo a práxis.” (SANTOS, 2007, p.41). A intervenção

intencional baseada na observação das brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes

material adequado, assim como um espaço estruturado para brincar, permite o

enriquecimento das competências imaginativas, criativas e organizacionais infantis.

Cabe ao professor organizar situações para que as brincadeiras ocorram de maneira

diversificada para propiciar às crianças a possibilidade de escolherem os temas,

papéis, objetos e companheiros com quem brincar ou os jogos de regras e de

construção, e assim elaborarem de forma pessoal e independente suas emoções,

sentimentos, conhecimentos e regras sociais. O educador é o mediador entre

conhecimento e saber da criança, um organizador do tempo e das atividades

propostas em sala. É a partir dessa mediação que a criança passa por seu processo

de construção do conhecimento, então este educador tem que ter competência

técnica para fazê-la. Além de desenvolver algumas capacidades, tais como atenção,

imitação, memória, imaginação entre outros aspectos relevantes.

Segundo KISHIMOTO (1997), o lúdico permite potencializar a exploração e a

construção de conhecimento por contar com a motivação interna, típica do lúdico.

Esta afirmação confirma a seriedade do uso dos jogos na escola, ideia reforçada

pelo pensamento de VYGOTSKY (1988), em que a ludicidade objetiva um espaço

para o sujeito brincar construindo, como forma de “reorganizar experiências”. Ou

seja, ambos declaram que é possível se construir conhecimento no ato da

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brincadeira remetendo-se às soluções das situações - problemas. Para Santos

(2001), a educação pela via da ludicidade é um novo sistema de aprender brincando

inspirado numa concepção de educação para além da instrução formal. Desta forma,

demonstra este projeto para educadores que é possível ensinar sem entediar, tendo

o jogo como possibilidade de construção do conhecimento independente da idade

cronológica do educando, motivando a aprender de forma prazerosa.

Segundo SANTOS (2001, p. 15), motivar então, passa a ser ‘seduzir’ o aluno

à desfrutar o prazer de jogar e brincar de forma a levá-lo à um aprendizado

desejado. Consideramos os jogos pedagógicos como elementos de

desenvolvimento e formação da criança, instrumentos fundamentais para

estimulação da criatividade, da socialização e, sobretudo, da aprendizagem. Assim,

o objetivo do trabalho pedagógico com a utilização de jogos é incitar a aprendizagem

com motivação, logo, deveremos ter como proposta de trabalho docente a utilização

de jogos infantis e, porque não chamá-los, também, de pedagógicos, pois tornar as

aulas dinâmicas é imprescindível para se alcançar resultados positivos na escola

com o intuito de desconstruir uma imagem não prazerosa da escola a qual tem se

perpetuado em nossa sociedade. Esclareceremos aqui que estamos empregando a

palavra “jogo” como estímulo ao crescimento, como uma astúcia em direção ao

desenvolvimento humano em sua amplitude referente às crianças, perpassando pelo

desenvolvimento intelectual, psico-motor, inter e intrapessoal. Contudo, através das

brincadeiras infantis é possível expressar o que afirma GARCIA (2000, p.12), “(...)

musicalizar a vida, poetizar a vida, sentir o cheiro da vida, saborear a vida, cantar e

dançar a vida”, sob o foco dos impulsos criadores, do prazer e, sobretudo do

aprender, em qualquer faixa etária. VYGOTSKY (1994), usa o termo ‘função mental’

para referir-se aos processos de pensamento, memória, percepção e atenção.

Coloca que o pensamento tem origem na motivação, no interesse, necessitando,

então, de impulso, afeto e emoção. Pensando na concepção sócio-histórica de

VYGOTSKY, percebo claramente em minha prática docente que o ensino na base

da interação, motivação, perpassa o aspecto da afetividade, estreitando os laços de

relacionamento entre educador-educando, proporcionando conquistas na

aprendizagem. Sendo assim, a relação educador-educando está muito além da troca

de conhecimentos e experiências, pois existe a possibilidade do educando

reconhecer suas potencialidades. Daí, a intervenção do educador de maneira

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positiva a fim de estimular seu educando a buscar a significação da aprendizagem,

estabelecendo ligação entre o processo de desenvolvimento do educando com o

ambiente sócio-cultural que está inserido, proporcionando superar os desafios que

estão no processo ensino-aprendizagem. Dessa relação depende uma interação que

está relacionada, segundo VYGOTSKY (1994), à zona de desenvolvimento proximal,

que , para o autor:

... é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação do adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (p. 112).

A ‘zona de desenvolvimento proximal’, segundo VYGOTSKY (1994), é a

ponte entre o nível de desenvolvimento real da criança, o que ela realiza sozinha, e

o nível de desenvolvimento potencial, o que a criança irá alcançar através de

estímulos na interação com o(s) outro(s), que interfere com outros indivíduos com

papel transformador, aquilo que a criança não fazia sozinha passa a fazer com

intermédio de outro, seja outra criança, um jovem ou um adulto. Portanto, a

intervenção do educador é essencial para a promoção do desenvolvimento do

indivíduo, pois age como um motor de novas conquistas para o indivíduo que está

no processo de mediação.

Como na escola o aprendizado é um resultado desejável, é o próprio objetivo do processo escolar, a intervenção é um processo pedagógico privilegiado. O professor tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. (OLIVEIRA,1997,p. 62).

Sendo assim, o papel do educador é fundamental no processo ensino-

aprendizagem cumprindo a função de mediador, favorecendo o educando a construir

o seu próprio conhecimento. “Mediação, em termos genéricos, é o processo de

intervenção de um elemento intermediário numa relação” (Idem, p. 26). Sob a

concepção de mediação de Vygotsky, podemos comentar que o processo estímulo-

resposta é substituído por um ato complexo, mediado, que introduz um elo a mais

nas relações organismo/meio. Pensando na relação que a motivação tem neste

processo de mediação de Vygotsky, citaremos NÉRI que afirma “a motivação é

processo, na medida em que depende da interação indivíduo-ambiente.” (1982, p.

205). Ou seja, refletindo sobre o ambiente escolar, a motivação é considerada um

processo que necessita ser tomado como peça fundamental com o intuito de

promover educandos motivados dentro das escolas, dispostos a aprender sob a

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perspectiva da mediação.

2.2 BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS

O que é um bom brinquedo para a criança?

- É o que atende as necessidades da criança. (CUNHA, 1994)

Para que os brinquedos atendam as reais necessidades dos sujeitos

envolvidos na ação lúdica é necessário que, segundo CUNHA (1994), os seguintes

fatores estejam presentes para que isso aconteça:

Interesse- O brinquedo mais lindo e sofisticado não tem valor algum se não der

prazer à criança, pois sua validade é o interesse da criança que irá determinar. Bom

brinquedo é o que convida a criança a brincar, é o que desafia seu pensamento, é o

que mobiliza sua percepção, é o que proporciona experiências e descobertas.

Adequação- O brinquedo deve ser adequado à criança, considerada como indivíduo

especial e diferenciado; deve atender à etapa de desenvolvimento em que a criança

se encontra e as suas necessidades emocionais, socioculturais, físicas ou

intelectuais.

Apelo à imaginação- O brinquedo deve estimular a criatividade. Quando é muito

dirigido e não oferece alternativas, passa a ser apenas uma tarefa a ser cumprida. É

aconselhável que haja sempre um convite a participação criativa. Entretanto, este

apelo deve estar à altura da criança. Os jogos muito abstratos não conseguirão

motivá-la, pois, para poder criar, ela precisa ter alguns pontos de referência.

Versatilidade- O brinquedo que pode ser utilizado de várias maneiras é um convite

a exploração e a inventividade. A criança pode brincar com algo que já conhece,

mas criando novas formas ou alcançando objetivos diferentes. É interessante que o

jogo possibilite à criança a obtenção de sucesso progressivo, para que, à medida

que ela vai conhecendo melhor os recursos que ele oferece, possa alcançar níveis

mais altos de realização. Um jogo bem versátil pode representar um constante

desafio às habilidades da criança.

Composição- As crianças gostam de saber como o brinquedo funciona ou como ele

é por dentro. Por esta razão, os jogos desmontáveis são mais interessantes. 0

pensamento lógico é bastante estimulado pelo manuseio dos jogos de montar, nos

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quais a criança tem oportunidade de compor e observar a seqüência necessária

para a montagem correta.

Cores e formas- As cores mais fortes e as formas mais simples atraem mais as

crianças pequenas. Mas as maiores preferem cores naturais e formas mais

sofisticadas. De qualquer maneira, a variedade no colorido, na forma e na textura irá

contribuir para a estimulação sensorial da criança, enriquecendo sua experiência.

O tamanho- Deve ser compatível com a motricidade da criança. Um bebê não pode

brincar com peças pequenas pois poderá levá-las a boca, engolir ou engasgar-se

com elas. Também não terá coordenação motora suficiente para manipular peças

miúdas. Brinquedos grandes e pesados podem machucar a criança ao caírem no

chão.

Durabilidade- Os brinquedos muito frágeis causam frustração não somente por se

quebrarem facilmente, mas também porque não dão à criança o tempo suficiente

para que estabeleça uma boa relação com eles.

Segurança- Tintas tóxicas, pontas e arestas, peças que podem se soltar, tudo isto

deve ser observado num brinquedo, para evitar que a criança se machuque. Com os

bebês, o cuidado deve ser ainda maior, pois, levando tudo à boca, correm o risco de

engolir ou engasgar-se com uma pequena peça que se desprenda. Cuidado com os

sacos plásticos, porque podem provocar sufocação se levados à boca ou enfiados

na cabeça. É melhor evitá-los. Nem sempre será possível atender a todos estes pré-

requisitos para fazer uma escolha. Mas, pelo menos o primeiro e o último desta lista

serão indispensáveis considerar.

Segundo CUNHA (1994), esses são os fatores para o brinquedo atender a

necessidade da criança.

O referencial curricular nacional para a educação infantil (BRASIL, 1998),

que serve como guia para as creches e escolas de educação infantil, tendo

objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam

diretamente com crianças de zero a seis anos, contempla a importância do brincar

para a construção do conhecimento, nos dizendo que:

Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brincam. Por exemplo, para assumir um determinado papel numa brincadeira, a criança deve conhecer alguma de suas características. Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na família ou em outros ambientes, do relato de um colega ou de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema ou narradas em livros

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etc. A fonte de seus conhecimentos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmentados. É no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre as características do papel assumido, suas competências e as relações que possuem com outros papéis, tomando consciência disto e generalizando para outras situações. (BRASIL, 1998), (p. 27).

Jogos, com regras determinadas, não permitem que a criança se expresse e

repense, requer apenas a repetição de atitudes condicionadas.

Segundo KISHIMOTO, citado por SANTOS (1999, p. 24), "... um dos

objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que

possa manipulá-los." Desta forma, o brinquedo é visto como a representação das

experiências, da realidade que a criança faz parte.

Além disso, o brinquedo também pode ser visto como fruto da imaginação. É

através dele que a criança pode representar o mundo imaginário que ela criou.

Essa questão imaginária pode variar de acordo com a idade. Aos 3 anos,

situações segundo SANTOS (1999), a imaginação é carregada de animismo, dos 5

aos 6 anos a criança inclui nesse processo imaginativo elementos da realidade e na

fase adulta passa a utilizar elementos culturais.

Independente de cultura, raça, credo ou classe social, toda a criança brinca.

Todos os seus atos estão ligados à brincadeira.

As diferenças da brincadeira de criança, segundo SANTOS (1999), referem-

se aos conteúdos e materiais utilizados, pois serão escolhidos de acordo com a

referência sociocultural da criança.

As brincadeiras que são oferecidas à criança devem estar de acordo com a

zona de desenvolvimento em que ela se encontra. Existem brincadeiras que devem

ser estimuladas e outras que exigem um desenvolvimento diferente. Desta forma,

podemos perceber a importância de o professor conhecer a teoria de Vygotsky.

LINS (1999, p. 41), diz que:

Partimos da hipótese de que pela brincadeira a criança realiza atividades essenciais para o seu desenvolvimento e que por meio deste brincar ela alcança as formas superiores mentais ao mesmo tempo que se torna participante efetiva de seu meio sócio-cultural.

Vygotsky, citado por LINS (1999), classifica o brincar em algumas fases:

No decorrer da primeira fase, a criança começa a se distanciar do seu

primeiro meio social que é representado pela mãe e começa a falar, andar e se

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mover em volta. Nesta fase, o ambiente a alcança por meio do adulto. Este período

estende-se até os 7 anos.

A segunda fase é caracterizada pela imitação. A criança copia os modelos

dos adultos.

A terceira fase é marcada pelas convenções que surgem de regras e ações

associadas a estas regras. Para o desenvolvimento da criança este é um grande

avanço. Esta fase exige um grau maior de socialização, para que surjam novas

soluções.

A brincadeira é insubstituível, desde a primeira fase, para a aquisição de

habilidades e hábitos sociais. A criança cria uma situação imaginária no brinquedo.

Desta forma, o brinquedo proporciona a criação por parte da criança, e também é

fruto da sua imaginação.

Uma das características principais do brinquedo é a motivação que ele

proporciona para a criação do mundo imaginário vital para o desenvolvimento global

do ser humano. É a partir do brinquedo que a criança aprende a agir.

VYGOSTSKY (1989) afirma que:

É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança ... É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos (p. 109).

Durante muito tempo, o aluno foi um agente passivo e o professor um

transmissor de conteúdos. O alto índice de fracasso e evasão na educação fez com

que se reavaliasse essa realidade e comprovasse que deveria ser revertido esse

quadro. Não seria mais o aluno que deveria adaptar-se à escola, mas a escola que

deveria se adaptar à realidade da qual este aluno faz parte, às características e

cultura que ele traz para a escola.

Hoje, aprendemos que a construção do conhecimento deve partir sempre do

aluno. Dessa forma, o aluno passou a ser um desafio ao professor e ao contexto

escolar, de um modo geral.

ANTUNES, citado por SANTOS (2000, p. 37) nos diz que:

Seu interesse passou a ser a força que comanda o processo da aprendizagem, suas experiências e descobertas o motor de seu progresso e o professor um gerador de situações estimuladoras e eficazes. É nesse

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contexto que o jogo ganha espaço, como a ferramenta ideal de aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno, desenvolve níveis diferentes de sua experiência pessoal e social, ajuda-o a construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva ao professor a condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.

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3.0 METODOLOGIA

No que diz respeito à metodologia foi utilizada para a realização deste

trabalho, optei pela pesquisa qualitativa e exploratória, foi realizada pesquisa em

livros, revistas e livros virtuais pela internet e também entrevistas não estruturadas

com professores que atuam na área da educação infantil da Escola Municipal Paulo

Pires Pereira, localizada no município de Alta Floresta/MT.

Para realização das entrevistas não estruturadas solicitei a permissão da

direção geral da instituição de ensino para a realização da mesma. MARCONI

(2003, p.269), afirma que a metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e

interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do

comportamento humano, fornece análise mais detalhada sobre as investigações,

hábitos, atitudes, tendências de comportamento, etc. Sendo assim, pode-se partir do

princípio de que a pesquisa qualitativa é aquela que trabalha predominantemente

com dados qualitativos, isto é, a informação coletada pelo pesquisador não é

expressa em números, ou então os números e as conclusões neles baseadas

representam um papel menor na análise.

3.1 ANÁLISE E RESULTADOS DOS DADOS

Para ampliar as reflexões a respeito do tema ludicidade utilizei como

metodologia de trabalho entrevistas com educadores, aqui identificados por letras

iniciais de seus nomes, analisando os dados da pesquisa por meio de uma

abordagem qualitativa, pois procurei interpretá-los com o intuito de (re)conhecer o

espaço escolar e as práticas lúdicas e de prazer para os educandos. A abordagem

qualitativa não se apreende as quantidades, pois ao invés de se apreender em

estatísticas e regras, tem o caráter investigativo trabalhando com descrições,

comparações e interpretações, pressupondo o compromisso investigativo ao

expressar os fenômenos sociais.

As entrevistas envolviam perguntas norteadoras de uma conversa sobre o

assunto. Em minha prática docente, percebi que o lúdico no contexto escolar é

facilitador de aprendizagem, porque além dos educandos ficarem mais interessados

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a aprender, eles se socializam com os colegas e o educador, superam desafios,

divertem-se, enfim, desenvolvem os aspectos físicos, intelectuais e sociais. E esta

visão proporcionada por minha atuação profissional instigou-me a pesquisar sobre o

assunto, dando voz à educadores para saber qual a relação que eles fazem entre

jogo e aprendizagem.

As perguntas do questionário que serviram de base para as entrevistas que

tinham como objetivo compreender o sentido do uso de brincadeiras, brinquedos ou

jogos infantis em aulas. O grupo com nove educadores entrevistados é composto

apenas por mulheres, educadoras que possuem faixa etária entre 23 anos e 48 anos

de idade, tendo a maior parte mais de 5 anos de docência, formação em nível

superior na área de educação: Geografia, Pedagogia, Normal Superior, Pós

graduação em Psicopedagogia.

A maioria das entrevistadas expressou que em seu processo de formação a

temática ludicidade não foi bem trabalhada, com exceção de duas educadoras. Mas,

apesar de haver esta falta que tiveram em relação à temática em sua formação

docente, isto não as impediu de desenvolverem suas práticas pedagógicas com o

uso de jogos, brincadeiras e brinquedos, pois, acreditam na importância que há na

ludicidade para a aprendizagem. Neste sentido, a autora NHARY expressa a

seguinte opinião:

Na intenção de motivar o aluno, e julgando não estar desperdiçando os tempos de aula destinados aos conteúdos, o professor leva o aluno a aprender brincando, não levando em conta que a recíproca é verdadeira, ou seja, brincando e jogando também se aprende. (NHARY, 2006, p. 133).

Agora, observemos as respostas sobre a pergunta: No seu processo de

formação docente como foi abordada a temática ludicidade?

“Não foi dada à devida importância, coisa que descobri no dia-a-dia da sala

de aula”.(M F).

“Bastante abstrata!! Falava-se a respeito, mas, pouco praticávamos”. (A).

“Muito superficialmente”. (G).

“De forma vaga.” (S).

“Foi teoria, muito cru. Falavam em ludicidade, muita decoreba.” (A P).

“De forma bastante teórica”. (R).

“No período que me formei no ensino superior a ludicidade não era levada

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em consideração. Posteriormente, com outros cursos é que comecei a refletir sobre

o assunto e fui colocando em pratica e percebendo o seu valor para o aprendizado

do aluno”. (L J).

As respostas das educadoras a seguir demonstram um outro ponto de vista

em relação a sua formação no que tange a temática ludicidade.

“Foi abordada de forma lúdica, o docente nos levou a praticar o que

estávamos estudando”. (G S).

“No Curso Normal foi bem trabalhado, uso de fantoches, teatros,

lembranças enfeitadas pelos alunos, trabalhos manuais. A professora de estágio

exigia uso de jogos, brincadeiras no final da aula ao abordar o assunto novo”. (P).

Analisando as perguntas: Costuma usar brincadeiras, brinquedos ou jogos

infantis? No caso de resposta afirmativa, essa proposta faz parte do planejamento?

Todas as educadoras disseram que sim. Podemos, então, observar que fazendo

parte do programa escolar do professor a brincadeira possibilita ao educando

descobrir, criar, expressar, decidir, interagir, refletir, construir conhecimento, enfim

aprender, afinal, “o brincar é considerado importante, serve para aprender, para

extravasar, para refletir sobre o mundo, estimulando a criatividade e auxiliando no

desenvolvimento.”. (HARRES, e EINLOFT, 2001 p. 80, apud SANTOS, 2001, p 52).

As professoras, com esta intencionalidade descrita pelos autores citados, disseram

usar jogos no cotidiano de suas aulas. Além disso, o lúdico possibilita a troca de

saberes e a criação de espaços - tempos de conhecimento, permitindo que os

educadores busquem alternativas criativas de ações metodológicas em suas práxis

escolares, assim comenta NHARY (2006). Outros autores também reconhecem a

importância da característica lúdica dos jogos e brincadeiras.

... lúdico é uma categoria geral de todas as atividades que têm características de jogo, brinquedo e brincadeira. O jogo pressupõe uma regra, o brinquedo é o objeto manipulável e a brincadeira, nada mais que o ato de brincar com o brinquedo ou mesmo com o jogo. (MIRANDA, 2001, p.30).

Portanto, as educadoras não abrem mão do uso de jogos, brinquedos e

brincadeiras acreditando nas possibilidades de ensino que a ludicidade propõe.

E em relação à pergunta: Quais os resultados que você tem no que diz

respeito ao desenvolvimento dos educandos? As educadoras mencionaram que

melhora a aprendizagem dos educandos, a participação, o interesse as aulas. Além

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disso, os alunos gostam quando durante as aulas tem jogos, brincadeiras ou

brinquedos. As palavras de uma delas demonstra essa relação jogo e educação

“Interesse, participação e afinação nos conteúdos, além da socialização”. (M F)

Partilhamos, então, com NHARY (2006), a ideia de que as atividades

lúdicas, para além da socialização, promovem a formação humana em sua

complexidade, pois “a criança em contato com experimentações lúdicas cria

possibilidade de construir seus modos de pensar, agir, sentir o mundo.” (NHARY,

2006, p. 37). Para algumas das entrevistadas o jogo e a brincadeira são chaves de

motivação da aula, como podemos observar nos depoimentos abaixo.

“Maior interesse, mais participação, embora necessite de manejo, paciência

de nossa parte, o resultado é satisfatório”. (A)

“Durante o ano de 2008, a maioria da turma melhorou na disciplina onde

havia mais dificuldade - Matemática”. (G)

“Estimula o interesse dos alunos e os resultados são ótimos. Eles mostram-

se mais dispostos a aprender”. (S)

“Vejo que eles aprendem facilmente, se interessam mais.” (A P) Percebe-se

que ainda há insegurança dos docentes ao usar atividades lúdicas como parte das

aulas, como veremos a seguir, mas há, também, um reconhecimento do valor

pedagógico de tais atividades: “Eles gostam muito de jogar, mas ainda não criei

estratégias para usá-los constantemente em aula”. (R)

“Satisfatórios para uns, muito bom para outros”. (G S)

“Interesse, o rendimento vem sendo melhor também”. (P)

“Bons resultados porque são jogos voltados para os meus objetivos

pedagógicos”. (L J)

A fala desta educadora nos remete ao que BROUGÈRE (2004), afirma em

sua obra Brinquedo e cultura: “O educador pode, portanto, construir um ambiente

que estimule a brincadeira em função dos resultados desejados.” (p. 105). Ou seja, o

ato de brincar é um facilitador de desenvolvimento escolar dos educandos. O

educador quando dá espaço ao jogo em sua aula propicia a socialização do grupo e

“poderá obter ganhos por meio do investimento no caráter afetivo do lúdico que

conduz na sua prática pedagógica cotidiana.” (MIRANDA, 2001, p.66). Acredito que

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existam mais aspectos positivos que aspectos negativos ao desenvolver atividades

lúdicas em práticas educativas, o estudo aqui decorrente já demonstrou em vários

pontos resultados criativos e compromissados com o ensino. Considerando o

comentário da entrevistada L J a pergunta: Quais os aspectos positivos e negativos

do uso de jogos e brincadeiras em aula? Disse ela que só via aspectos positivos. “...

reforçar conhecimento de forma “leve” e “gostosa”. Isto quer dizer que o

conhecimento, o conteúdo a ser trabalhado, é algo “pesado” aos educandos,

fazendo ela menção à rigidez que há nos conteúdos, mas em contrapartida, os jogos

são “... a forma gostosa”, fazendo menção ao que já citamos nesta pesquisa sobre

o saber com sabor (MARCELLINO, 1989). As demais educadoras também veem

aspectos positivos no uso de jogos e brincadeiras em aula, inclusive, das nove

entrevistadas, cinco delas citaram a interação como aspecto positivo.

Voltando as falas dos entrevistados, percebemos que o conceito de

socialização que perpassa o jogo tem o caráter de participação para um convívio

com o outro, assim, o interesse do professor pela atividade não se limita à atividade

em si como ferramenta pedagógica, mas como possibilidade de estabelecer

relações entre os alunos promovendo uma participação mais efetiva nas aulas.

“Motiva os alunos a “estarem em dia” com os conteúdos e a se socializarem,

desenvolvendo a oralidade e a interpretação.” (M F). “Aprendizagem mais fácil,

respeito, concentração, interação social e responsabilidade.” (A P)

“Socialização, maior interesse e participação, assimilação do conteúdo”. (A)

“Só vejo aspectos positivos porque são de acordo com meus objetivos para a

evolução do processo de aprendizagem dos alunos. Um dos pontos positivos é

mudança na disciplina em sala, interação...” (L J)

“Desenvolve o raciocínio e a oralidade, além da socialização”. (G S)

Há necessidade de o educador oferecer condições para que os educandos

brinquem promovendo espaço e tempo para que a brincadeira aconteça, atendendo

as demandas educativas, construção de conhecimento. Ainda refletindo sobre a

pergunta sobre os aspectos positivos e negativos do uso de jogos e brincadeiras em

aula, houve educadoras que demonstram preocupação com a prática pedagógica.

“Precisa estar agregado aos conteúdos. Não dados aleatoriamente.” (S)

“Maior participação dos alunos na atividade. Melhor fixação do conteúdo”.

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(G) “Interesse e aprendizado melhor”. (P)

Percebe-se que esse é um dos riscos do uso do jogo quando o professor

não tem clareza de sua importância na formação e educação do aluno: colocar o

jogo à serviço do conteúdo da disciplina. Para BROUGÈRE (2004), isso é colocar

tarefa sobre tarefa, ou seja, é mascarar o jogo para o ensino de um conteúdo,

somente. Esse é o caráter reducionista, para grande parte de educadores, quando

se associa jogo e educação. Vamos nos deter agora na posição dos educandos

expressa na fala de uma educadora, “Os alunos gostam”. (R). Acreditando que este

gostar seja por conta do sabor que tenha as aulas com jogos e brincadeiras, o saber

associado ao sabor é uma das propostas apresentada por MARCELLINO (1989), e

também por Miranda. Assim, entendo que Pedagogia da animação é aquela que não

se limita a promover prazer, mas faz das atividades educativas um momento de

alegria, de desejo, de envolvimento, de sabor no ato de apreender um saber.

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CONSIDERAÇÕES F INAIS

O presente trabalho teve objetivo de ressaltar a importância dos brinquedos,

das brincadeiras na construção do conhecimento na Educação Infantil. A

metodologia aplicada foi à pesquisa bibliográfica, qualitativa exploratória onde foram

realizadas entrevistas professoras de educação infantil da Escola Municipal Paulo

Pires Pereira, localizada no município de Alta Floresta/MT. Saliento que as

educadoras não responderam nenhum questionário, apenas argumentaram de

forma empírica suas experiências com crianças e as atividades lúdicas.

O lúdico como atividades educativas têm o intuito de enfatizar o

desenvolvimento integral da criança educando-as prazerosamente e sem dúvida

exercem um papel importante na aprendizagem das crianças. Através de conversas

informais com alguns educadores, a grande maioria atesta que é possível reunir

dentro da mesma situação, o lúdico e o educar. Vários salientaram que é necessário

que as escolas sensibilizem no sentido de desmistificar o papel do lúdico, que não é

apenas um passatempo, mas sim uma ferramenta de grande valia na aprendizagem

em geral, inclusive de conteúdos, pois propõe problemas, cria situações, assume

condições na interação, responsável pelo desenvolvimento cognitivo, psicomotor e

afetivo da criança.

Conclui-se então que através da ludicidade a criança internaliza toda e

qualquer informação apresentada. No entanto, é de suma importância a interação do

professor com a criança em uma mediação dialética, onde ambos ensinam e

aprendem, pois são sujeitos ativos do processo ensino aprendizagem. Nessa

perspectiva, entende-se que os brinquedos e as brincadeiras são extremamente

relevantes para a construção do conhecimento infantil e tornam a atividade

pedagógica muito mais interessante e rica.

O desafio de educar através do lúdico não é uma tarefa fácil, porém

necessária, para tanto é preciso que o professor tenha conhecimento sobre as fases

do desenvolvimento da criança para planejar suas aulas com materiais propícios

para cada faixa etária. Sendo assim, se faz necessário buscar novas maneiras de

ensinar por meio do lúdico que conseguiremos uma educação de qualidade e que

realmente consiga ir ao encontro dos interesses e necessidades da criança. Cabe

ressaltar que uma atitude lúdica não é somente a somatória de atividades; é, antes

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de tudo, uma maneira de ser, de estar, de pensar e de encarar a escola, bem como

de relacionar-se com os alunos. É preciso saber entrar no mundo da criança, no seu

sonho, no seu jogo e, a partir daí, jogar com ela. Quanto mais espaço lúdico

proporcionarmos, mais alegre, espontânea, criativa, autônoma e afetiva a criança

será.

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REFERÊNCIAS

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Diagnóstico e intervenção psicopedagógica: reflexões sobre relatos de experiências. Cascavel: Edunioeste, 2006. VIGOTSKI, L. S. Obras Escogidas (Tomo III). Madri: Visor: 2000a (original publicado em 1984). VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, São Paulo: Martins Fontes, 1987. VIGOTSKY, L. S., LURIA, A. R. e LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 5. ed. São Paulo: Ícone, 1994. VILELA, Maria Cristiana da Silva. Estudos realizados sobre o brincar na educação infantil. Revista científica eletrônica de ciências sociais aplicadas da EDUVALE. Ano IV, Número 06, novembro de 2011 - Periodicidade Semestral-Disponível em: <http://www.eduvalesl.edu.br/site/edicao/edicao-54.pdf>. Acesso em 13 out. 2014.

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ANEXO

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Roteiro da entrevista a ser feita com docentes

Nome:

Formação/ano:

Instituição:

Idade:

1) Há quanto tempo leciona?

2) O que você utiliza para motivar as suas aulas?

3) Costuma usar brincadeiras, brinquedos ou jogos infantis? No caso de resposta

afirmativa, essa proposta faz parte do planejamento?

4) Quais os resultados que você tem no que diz respeito ao desenvolvimento dos

educandos?

5) Quais os aspectos positivos e negativos do uso de jogos e brincadeiras em aula?

6) No seu processo de formação docente como foi abordada a temática ludicidade?