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Pérola, Embaixadora da músicaA cultura angolana tem rosto e nome próprio.Descubra a mulher por detrás da diva que encanta o país.

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ECONOMIA & NEGCIOS MARCAS ID SOCIEDADE FOTOREPORTAGEM ARQUITETURA & CONSTRUO INOVAO & DESENVOLVIMENTO DESPORTO LIFE & STYLE CULTURA & LAZER PERSONALIDADESANO IV - SRIE II REVISTA N01 JANEIRO 2012 3,50 EUR 450 KWZ 5,00 USD ISSN 1647-3574

Frmulas de InvestimentoQuais as apostas portuguesas? Conhea os planos para o nosso pas

So jovens e apartidrios. O movimento juvenil em anlise nesta edio

Vero Africano

Life & Style12 meses, dezenas de sugestes. Viagens, moda, arte, gourmet, o lado bom da vida. Tentaes difceis de resistir

Embaixadora da msicaA cultura angolana tem rosto e nome prprio. Descubra a mulher por detrs da diva que encanta o pas.

PROLA,

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espAo Leitor A Angolain tem um novo espao inteiramente dedicado ao seu ativo mais valioso - os leitores. Com o objetivo de proporcionar um debate ativo e pedaggico, onde importante a participao de todos, decidiu criar uma rubrica que d liberdade s pessoas de exprimirem as suas opinies e contriburem para uma dinmica e incisiva troca de ideias. Assim, convida as pessoas a participar no frum da revista enviando comentrios, sugestes e opinies ou respondendo aos desafios que vo ser lanados ao longo das prximas edies. Esteja tambm atento s novidades que a cada nmero ir apresentar, pois poder ganhar prmios e desfrutar de fantsticas ofertas! Participe ainda nos passatempos que vai lanar nas redes sociais e mostre todo o seu valor nos concursos que sero anunciados. Se tem interesse por Fotografia ou Escrita inscreva-se j e habilite-se a ganhar fabulosas ofertas. Solte a sua criatividade e imaginao no novo Clube Angolain.

SUMRIO

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SOCIEDADE

Vero AfricAno

Os ecos da Primavera rabe comeam a sentir-se nas naes africanas. Num ano marcado pela queda de regimes histricos, nesta edio faz-se o balano dos ltimos acontecimentos e do papel do associativismo na criao de uma cidadania ativa

INOVAO & DESENVOLVIMENTO

pAs em rede

Envie as suas mensagens para o seguinte endereo:

At 2015 todas as provncias vo dispor de uma mediateca. O conceito baseia-se na criao de bibliotecas multimdia, em que o utilizador pode aceder informao a partir de diversos suportes. As primeiras cinco abrem ao pblico em Agosto

[email protected]

Esta revista escrita ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico

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20IN FOCO

noVA frmuLA de inVestimento Portugal o principal parceiro na diversificao da economia nacional. Porm, as perspetivas indicam uma inverso da tendncia. Numa anlise profunda do investimento na terra vermelha, a Angolain revela o novo paradigma da aposta lusa

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DESPORTO

misso cAn 2012

A seleo de futebol est qualificada para mais uma edio do CAN. Enquanto o vencedor no conhecido, descubra o perfil da equipa liderada por Lito Vidigal

CULTURA & LAZER

noVA poLticA cuLturALPERSONALIDADES

A diminuio das taxas alfandegrias a maior novidade da Poltica do Livro e da Cultura. Conhea o que muda com a nova lei

o ArtistA dA disporA

Hora Kota o 40 CD de Bonga, que se inspira na cidade de Luanda para dar voz s razes africanas

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INSIDE MUNDO ECONOMIA & NEGCIOS MARCAS ID UM DIA COM FOTOREPORTAGEM ARQUITETURA & CONSTRUO LIFE&STYLE

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EDITORIALSem fronteirasNo final o que importa so as pessoas, o ativo humano que vida!Os instantes que antecedem o ato de entrega tm sempre uma necessidade urgente que convence, mas as grandes decises da vida so ilegveis. Acontecem quando agir imperativo de estar prximo e arriscar tem a ver com confiana. Ensinam-nos a adiar. Mas porqu? Questionamos, quando para ns ser diferente, com todo o valor, todo o vigor, tomar as atitudes que ningum toma, com afago e convico. Angolain esse instante, aquele milsimo de segundo em que ler se torna unio para alm do tempo e do espao. Nesta II srie, somos vida! Experimentamos, vivemos, crescemos. A maturidade tentativa, dizem. Ns acreditamos. Ao chegarmos aqui, temos hoje uma segurana mais forte e uma maior capacidade de expresso. Talvez estejamos mais velhos, mas numa idade em que a inteligncia possui j a sua plena fora, conservamos a impetuosidade das impresses prpria da juventude. medida que conquistamos maturidade tornamonos mais jovens e isso que sucede nesta nova fase. A revista torna-se mundo. Tem alma esfrica. Muda para estar mais prxima, mas sobretudo para ganhar esse mesmo mundo atravs de uma internacionalizao que parte de Angola para chegar a mais leitores. Presente tambm em Portugal e Espanha, fruto de uma aposta estratgica - numa primeira fase no eixo Luanda-LisboaMadrid, surge agora com uma periodicidade mensal e a mesma abordagem positiva de sempre. Democrtica, inovadora e arrojada assume-se o pas do presente, indo ao encontro das suas gentes; nas provncias ou na Dispora elogia o bem, dando voz Sociedade. Tem novas apostas: aumentar a difuso de contedos a nvel online, com traduo da revista para ingls e espanhol na sua plataforma digital, e alcanar outros pases lusfonos. Trata de informao e anlise, mas tambm de estrias e sucesso, de coragem e determinao. Cresce em colaboradores porque acredita que no final o que importa so as pessoas, o ativo humano que vida! Assim, nesta primeira edio da II srie d as boas vindas a 2012 com uma entrevista especial diva Prola e um caderno de Life & Style, onde a evaso e o glamour marcam o ritmo da esperana e do progresso. A todos, a equipa Angolain deseja 12 meses de profunda entrega. Num ano especial para o pas, marcado pelas eleies, estaremos a seu lado para que juntos possamos partilhar o mundo! A Direo

www.comunicare.ptAngolARua Rainha Ginga, n 228 2 andar Mutamba Luanda TEL 923 416 175 / 923 602 924 PortugAl Parque Tecnolgico Inova.Gaia Avenida Manuel Violas, n 476 Sala 21 4410-136 So Flix da Marinha Vila Nova de Gaia TEL 00 351 222 431 902

www.revistaangolain.comDireo ExecutivaDaniel Mota

[email protected] Editorial Manuela Brtolo

[email protected] de research ANGOLA - Lisete Pote

[email protected]

PORTUGAL - Jorge Saboga

[email protected] Comercial Isabel Azevedo

[email protected] Editorial Patrcia Alves Tavares

[email protected] de Contedos Life & Style Manuel Gomes da Costa

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Produo Life & Style Nuno Lago redao Ana Soromenho | Francisco Moraes Sarmento Isabel Santos | Joo Oliveira Marina Cabral | Maria S | Rita Lcio Martins Raquel Pedrosa Marques Arte Bruno Tavares | Patrcia Ferreira

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Fotografia Manuel Gomes da Costa | Jordi Burch Shutterstock | Corbis Servios Administrativos e Agenda Patrcia Silva

[email protected] PubliCiDADE

Interpublishing Rua Sanches Coelho, n 03 10 andar 1600-201 Lisboa Tlf:. 00 351 217 937 205 impresso Peres-Soctip Indstrias Grficas S.A Distribuio Angola Africana Portugal Logista Espanha Expedio tiragem 10.000 exemplares

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especialto lan amen

ISSN 1647-3574 DEPSITO LEGAL N 297695/09 Interdita a reproduo, mesmo que parcial, de textos, fotografias e ilustraes, sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais Esta revista utiliza papel produzido e impresso por empresa certificada segundo a norma ISO 9001:2000 (Certificao do Sistema de Gesto da Qualidade)

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Que a vossa voz seja a da liberdade! H espritos que nasceram para serem livres e que a liberdade lhes constitui imperativo suficiente para que arrisquem a paz e bordejem o prprio medo. Na verdade, confundem-se com a razo e a justia; a existncia para eles o meio que um Deus maior colocou ao seu dispor para serem a fora motriz que reconhece o caminho a seguir e que deliberadamente por ele marcham sem que esmoream perante obstculos ou ameaas. Na luta no interessa nem dificuldade, nem extenso. Esta a estria destas trs mulheres, que para a histria ficam como as primeiras trs a serem laureadas com o Nobel da Paz. Um marco assinalvel no progresso da humanidade. Uma homenagem esperana e doao de amor ao prximo.

MoSAiCo

Tawakkol Karman, 32 anos, jornalista iemenita, ativista na Primavera Arabe, Ellen Johnson Sirleaf, 73 anos, primeira mulher eleita democraticamente para chefe de Estado de uma nao africana, a Libria, e Leymah Gbowee, 39 anos, assistente social liberiana, guerreira da paz, contribuiu para colocar um ponto final na segunda guerra civil naquele pas.

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foto CORBIS

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Patrcia Alves Tavares

Quatro novas aerogares

Soyo (Zaire), Dundo (Lunda Norte), Saurino (Lunda Sul) e Luena (Moxico) vo passar a dispor de uma aerogare ainda este ano. O anncio da obra foi proferido pelo ministro dos Transportes, Augusto da Silva Toms, durante a aprovao da Proposta de Lei do Oramento Geral do Estado (OGE) para 2012. A construo dos quatro edifcios de apoio aos aeroportos faz parte de um programa mais abrangente, que visa criar infraestruturas idnticas em cada uma das 18 provncias. O Governo pretende implementar o plano de forma faseada, de acordo com a capacidade financeira, material e humana disponvel.

Mais desafiosBento Bento, o novo governador de Luanda, j fez o diagnstico dos problemas que assolam a provncia e particularmente a cidade de Luanda. O recm-empossado dirigente espera contar com a colaborao dos muncipes e explicou que os principais problemas da cidade esto relacionados com a energia eltrica, com o abastecimento da gua potvel e com o saneamento. Por outro lado, logo aps ter tomado posse, anunciou que a reorganizao do Governo Provincial e das Administraes Municipais a tarefa prioritria, pois pretende afin-las altura de Luanda para melhorarem a qualidade dos servios. O seu objetivo passa por implementar uma poltica de proximidade com os cidados. Em relao s construes anrquicas, Bento Bento referiu que contra as demolies, exceto quando so necessrias para retirar as populaes de zonas de perigo como as linhas de gua. Apelou igualmente para que todos respeitem as regras estabelecidas para a construo de casas e garantiu que vai continuar com o processo de loteamento de terrenos. Estes devem ser distribudos por quem precisa e tem capacidade para construir.

Apoio balnear

Vinte sete praias vo ganhar zonas de apoio balnear at Agosto. O projeto, que est a ser desenvolvido por um portugus, tem como parceiro o Ministrio do Interior de Angola e conta com o apoio de uma corporao de bombeiros lusa (das Caldas da Rainha). O programa ser gradualmente implementado nos prximos oito meses e abrange oito praias na regio de Luanda, cinco em Benguela, trs em Cabinda, trs no Zaire, trs no Kwanza Sul, trs no Namibe e duas no Bengo. De acordo com o autor do plano, Antnio Marques, o objetivo consiste em criar uma estratgia integrada de preveno e segurana nas praias, quer sejam de mar, de rio ou de guas internas. As zonas costeiras escolhidas sero dotadas de estruturas balneares modernas e eficazes, enquadradas por recursos humanos especializados e recursos materiais eficazes.

Galp investe at 2020

A empresa portuguesa Galp Energia vai investir mil milhes de euros em Angola at 2020. O investimento tem como objectivo alcanar os 35 mil barris de petrleo por dia, duplicando desta forma a produo que atualmente se situa nos 17 mil barris dirios. A maior fatia do capital ser aplicada nos blocos 14 e 14K. A petrolfera portuguesa est ainda a fazer prospeo em dois campos onde j foram encontradas reservas de crude.

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Algodo com maior produo de sempreA produo de algodo no Kwanza Sul alcanou as mil toneladas em 2011, a primeira em grande escala desde o perodo de paz. Os valores resultam do trabalho da empresa frica Semente, que participa no programa de relanamento da produo. O plano faz parte das medidas apresentadas pelo Ministrio da Agricultura e Desenvolvimento Rural para reativar a indstria txtil. O secretrio de Estado, Amaro Tati, apelou aposta na produo em grande escala, uma vez que o pas possui reas propcias para o cultivo do algodo.

Indstria mineira

O incremento de projetos de extrao de metais e de fosfatos est a contribuir para a diversificao da indstria mineira e para a reduo da dependncia relativamente aos diamantes. O ltimo relatrio Angola Mining Report, publicado pela Business Monitor International, revela que para minimizar o impacto de futuras flutuaes de preos, o pas est a avanar com medidas de diversificao da sua base mineira. A aposta tem recado em projetos relacionados com o cobre (caso da mina desativada do Mavoio), o ferro e o mangansio. O documento prev um crescimento mdio da produo entre 2011 e 2015 na ordem dos 6,8 por cento por ano. Nesse perodo, o setor dever valer 7,5 mil milhes de dlares. Os diamantes vo manter-se como o principal produto deste ramo. No entanto, existe um grande potencial para a produo de metais de base e ouro.

Banco Angolano de Investimentos

Produo petrolfera em recuperao

O Banco Africano de Investimentos mudou de nome. Desde Novembro do ano passado que se designa de Banco Angolano de Investimentos. A alterao visa evidenciar o papel de Luanda e evitar possveis conflitos de denominaes. Em comunicado, a instituio explicou que com a mudana pretende elevar o nome do pas, ser uma marca representativa dos valores de Angola e criar uma identidade de branding que identifique o banco como tendo o centro de deciso em Angola. Esta entidade bancria tem 895 agncias no pas e uma outra instituio financeira estrangeira com a mesma denominao detida pelos governos dos pases africanos. A alterao da designao no vai afetar a atuao da instituio.

As previses para a produo petrolfera para este ano indicam uma recuperao em relao a 2010 e 2011. Em 2012, o pas dever produzir 662,7 milhes de barris (1,842 milhes de barris diariamente), valor que ultrapassa a mdia de 2009, que se situou nos 1,809 milhes de barris por dia. A recuperao deve-se aos investimentos efetuados nos atuais campos e entrada em funcionamento de novos. J em relao aos preos, as estimativas so mais cautelosas, tendo por base uma projeo de receita baseada num preo mdio conservador que no comprometa a concretizao da despesa pblica fixada. O valor dever rondar os 77 dlares por barril.

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Patrcia Alves Tavares

Importaes da China aumentaramNovo aeroporto de Luanda Augusto Toms, ministro dos Transportes, divulgou que o novo aeroporto de Luanda ficar concludo dentro de 26 meses. A primeira fase poder ser inaugurada j em finais de agosto. Nessa altura, a torre de controlo, o edifcio da administrao aeronutica, o terminal VIP, a rea dos bombeiros, a zona de voos norte e o edifcio do terminal principal estaro totalmente operacionais. O aeroporto ter capacidade para receber o maior avio comercial do mundo, o Airbus A380, sendo dotado de duas pistas duplas.

Entre Janeiro e Setembro do ano passado, as exportaes chinesas para Angola aumentaram 34% (o equivalente a 1,95 mil milhes de dlares). J em relao s vendas dos produtos nacionais para Pequim sofreram uma diminuio de 0,29% (o que corresponde a 18,3 mil milhes de dlares), em relao ao perodo homlogo de 2010. O pas um dos maiores fornecedores da China, no setor petrolfero, e o seu maior parceiro comercial em frica.

Cinco novos centros comerciais

Cinco centros comerciais sero inaugurados no decorrer deste ano, em Luanda. A procura de diversos servios e o galopante crescimento econmico da metrpole conduziram criao de novos shoppings: Luanda Park, Luanda Shopping, Ginga Shopping, Centro Comercial Kinaxixi, SHopping Fortaleza, Muxima Plaza e Viana Park. A construo dos equipamentos resulta da reestruturao viria e da expanso do mercado imobilirio. De acordo com as perspectivas do setor para 2011/14, da autoria da multinacional americana Jones Lang LaSalle, o aparecimento dos empreendimentos devese implementao de novas polticas para a estabilidade scioeconmica e existncia de recursos naturais que favorecem os planos de reconstruo.

Eduardo dos Santos disponvel para se recandidatar

O nome do candidato do MPLA s eleies gerais s ser conhecido em Janeiro. Porm, Jos Eduardo dos Santos, atual presidente da Repblica, admitiu que estar sempre disponvel para cumprir qualquer misso. Durante a ltima visita do primeiro-ministro portugus, Pedro Passos Coelho, o responsvel esclareceu que um assunto que est a ser tratado internamente ao nvel das instncias partidrias.

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MunDoPatrcia Alves Tavares

Cabo Verde aposta em energia renovvelO Governo de Cabo Verde cumpriu a meta prevista de produo de 25% de energias renovveis no pas at 2012. O primeiro-ministro cabo-verdiano, Jos Maria Neves, afirmou mesmo que podero atingir os 30%. At 2020, o pas ter que estar preparado para produzir metade do seu consumo de energia a partir do sol e do vento. O objetivo consiste em que a ilha mais pequena, a Brava, seja abastecida unicamente com energias limpas. Jos Maria Neves referiu acreditar que a meta ser alcanada atravs dos investimentos que foram efetuados nos parques solares da ilha do Sal e Praia, com os parques elicos da Praia, So Vicente, Boavista e Santo Anto (investimento privado).

3 Ministras na Lbia

O novo governo de transio na Lbia ter 24 ministros, trs dos quais so mulheres. O ministrio da Defesa ser chefiado por Oussama Jouili, um antigo comandante das foras rebeldes em Zintan e o ministrio do Interior ficar a cargo de Faouzi Abdelal, da cidade de Misrata. O pas vai a sufrgio ainda este ano.

Portugueses criam carro inteligente

Agricultores cubanos sem intermedirios

Os agricultores cubanos vo poder vender diretamente os seus produtos a entidades tursticas. At agora o modelo obrigava todas as transaes de produtos agrcolas a passarem pelas empresas estatais. A medida foi aprovada pelo Governo de Ral Castro e visa a atualizao do modelo socialista. A lei entrou em vigor em dezembro do ano passado e ir simplificar a ligao entre o setor primrio e o consumidor final. mais um passo na autonomizao do pequeno comrcio, j que nos ltimos meses os cubanos passaram a poder abrir pequenos negcios como um restaurante ou um cabeleireiro.

A Universidade de Aveiro (UA), em Portugal, apresentou o prottipo do ATLASCAR, um Ford Escort que foi adaptado e anda sozinho. Inteligente, o carro tem ainda capacidade para detetar obstculos, mesmo quando as condies no so as melhores. O modelo nico em Portugal e est a ser desenvolvido h pouco mais de um ano, pelo departamento de Engenharia Mecnica da UA, no mbito do projeto Atlas. De acordo com Vtor Santos, da UA, o que distingue o nosso veculo de outros projetos como o da Google, alm do oramento, ser um automvel normal adaptado com um conjunto de tecnologias, que permitem que se conduza sozinho, em dadas circunstncias, ou com intervenientes. As marcas contactadas tm tido boa recetividade colaborao com o projeto. O ATLASCAR est a ser estudado em condies de visibilidade reduzida, como a noite ou com nevoeiro cerrado, para que possa ajudar os utilizadores a evitar situaes perigosas. O veculo j foi at capital do pas, mas com condutor para recolher dados de conduo em ambiente urbano.

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Brasileiros apostam no ouroQueda da Europa ir contagiar os EUA

Christine Lagarde, diretora-geral do FMI (Fundo Monetrio Internacional), avisou que deixar cair a Europa ter consequncias enormes nos Estados Unidos da Amrica (EUA). Em causa esto as fortes ligaes entre as instituies bancrias dos dois blocos. A responsvel recordou que 20% das exportaes americanas tm como destino a Europa e referiu que h uma forte ligao entre os bancos norte-americanos e europeus. Em entrevista televiso CBS, Lagarde comparou o trabalho do FMI ao dos bombeiros: chegamos e tentamos apagar o fogo, num trabalho que realizado com regras e fundos que so sempre devolvidos.

No Brasil, as empresas privadas pretendem investir 1,8 mil milhes de euros na extrao de ouro. A quantia ser aplicada nos prximos quatro anos e triplica os clculos anteriormente previstos, o que poder contribuir para a duplicao de produo deste minrio. Atualmente, o Brasil produz 62 toneladas por ano, sendo o dcimo pas produtor de ouro a nvel mundial. O Departamento Nacional de Produo Mineral concedeu 1270 autorizaes a empresas mineiras e est a analisar 1173 pedidos. O Brasil s utiliza 12% da sua capacidade de produo, que poderia chegar s 503 toneladas de ouro por ano.

Tailndia

20 anos de priso por SMS

Gases do efeito estufa em novo mximo

Um tailands foi condenado a 20 anos de cadeia, por um tribunal de Banguecoque, por ter enviado ao secretrio do primeiro-ministro vrios SMS considerados insultuosos para a monarquia. Ampon Tangnoppakul foi detido em Agosto de 2010. A famlia real tailandesa est protegida por uma das leis mais severas do mundo neste mbito.

Um relatrio publicado pela Organizao Meteorolgica Mundial, agncia da ONU, indica que a quantidade de gases do efeito estufa atingiu um novo recorde em 2010. O aumento foi to rpido que superou a mdia das ltimas dcadas. O dixido de carbono aumentou 39%, o metano 158% e o xido nitroso 20%.

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15% Menos infetados com SIDAO relatrio da ONU sobre a evoluo da SIDA aponta 2010 como o ano da viragem. No referido perodo, menos pessoas morreram da doena, graas ao maior acesso a tratamentos, e nmero de novas infees tambm sofreu um decrscimo. Em 2010, a doena matou 1,8 milhes de pessoas nos incios de 2000 morriam 2,2 milhes por ano e infetou 2,7 milhes em todo o mundo. Isto representa que houve uma diminuio de 15% face h dez anos e de 21% quando comparado com o pico do crescimento da SIDA, em 2007. No ano passado existiam cerca de 34 milhes de seropositivos no mundo.

15 milhes esquecidos

Londres prepara-se para Jogos Olmpicos

O exrcito do Mxico encontrou cerca de 15 milhes de dlares num carro, em Tijuana. A descoberta deuse quando as autoridades efetuavam uma operao na baixa da cidade, junto da fronteira com os EUA. Os militares acreditam que o dinheiro pertencia ao cartel de droga de Sinaloa. a terceira maior apreenso de dinheiro no Mxico.

A banca britnica tem apostado na proteo dos seus sistemas contra possveis ciber-ataques que podero ocorrer durante os Jogos Olmpicos Londres 2012. O sistema financeiro tem realizado simulaes para colocar prova a sua capacidade em defender-se de possveis ameaas. Trata-se de avaliar e melhorar a resistncia do setor de servios financeiros durante uma grande perturbao operacional, referiu imprensa um porta-voz da Autoridade dos Servios Financeiros (FSA) ingleses. Os resultados do primeiro grande teste, que simulou as consequncias de um ataque informtico contra os bancos britnicos, sero conhecidos no incio do ano.

Primeira cerveja base de mandioca Impala a primeira cerveja comercial do mundo feita base de mandioca. O produto foi lanado em Nampula, no norte de Moambique, local onde ser testada a sua comercializao, que no futuro dever estender-se ao resto do continente. A nova cerveja foi produzida pelas Cervejas de Moambique, detida pela SAB Miller e composta por 70% de mandioca, em vez de malte. Este produto produzido em excesso na nao moambicana e agora utilizado neste produto que mais barato que as cervejas mais acessveis de malte.

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Francisco Moraes Sarmento

Qual o destino do investimento portugus?

Um abrandamento do investimento portugus em Angola este ano o que esperam diversas fontes ligados ao setor, contrariando a tendncia dos ltimos anos. Portugal tem liderado o investimento privado no setor no petrolfero desde 2006, sendo um importante parceiro no apoio diversificao da economia. Nos ltimos anos, o investimento ultrapassou os 1,4 mil milhes de dlares, mais de 65% do investimento privado oriundo do Brasil, Estados Unidos e China, os outros parceiros estratgicos de Angola. Atualmente, existem mais de duas mil empresas lusas a operar na terra vermelha. Embora ainda no estejam disponveis dados sobre 2011, tanto a publicao da nova Lei de Bases do Investimento Privado (LBIP), como a situao da Agncia Nacional para o Investimento Privado (ANIP), tm prejudicado a realizao de projetos. Ao todo, cerca de duas centenas de intenes de investimento esto a aguardar decises da ANIP desde junho. Entretanto, foram nomeados novos rgos da ANIP, cuja presidncia do Conselho de Administrao foi atribuda a Maria Lusa Abrantes, personalidade considerada prxima do presidente da Repblica. A LBIP tida como o principal obstculo s iniciativas empresariais, pois s enquadra projetos superiores a um milho de euros. Circunstncia agravada quando h scios: cada um ter que investir aquele montante. Em causa est ainda

o repatriamento de capitais, um dos aspetos decisivos para quem pretende investir em Angola. A LBIP tem dois objetivos: dirigir os investimentos e encontrar parceiros para projetos estruturantes e estatais e proteger o mercado interno para os angolanos. Fontes contactadas pela Angolain sublinham que a verdadeira economia fica fora do alcance dos investidores estrangeiros, nomeadamente as pequenas e as mdias empresas, consideradas o motor da diversificao da economia, sendo este h anos um objetivo das autoridades angolanas. Por outro lado, os nveis de investimento exigidos afastam as empresas que baseiam as suas vantagens competitivas na gesto de conhecimento, como por exemplo as do setor das novas tecnologias ou formao. A questo ganha ainda mais pertinncia quando a expanso do empresariado luso em setores como a agricultura e a agro-indstria foi tema de conversa entre Jos Eduardo dos Santos, presidente da repblica de Angola, e Passos Coelho, primeiro-ministro portugus. Fontes ligadas aos meios empresariais de Luanda referem que a situao no dever sofrer alteraes durante 2012, ano de eleies, durante o qual a angolanizao tema para consumo interno. Apesar de alguns responsveis angolanos admitirem que se ter de tomar medidas corretivas caso se verifique que a lei no tem os efeitos desejados.

Outros observadores acreditam que a qualidade do investimento, que aparentemente um dos objetivos da LBIP, melhor evidenciada atravs do rcio entre capitais prprios e capitais alheios do que com o montante em causa. Este rcio, normalmente baixo em Angola, coloca em dvida a sustentabilidade dos projetos. Est a surgir uma nova gerao de empresrios que pretende ascender de forma rpida no domnio econmico e social. No obstante, os empresrios angolanos continuam a sentir muitas dificuldades em conceber e gerir projetos sustentveis. Analistas do BPI afirmam que a capacidade financeira das empresas e dos industriais insuficiente para aes de investimento, aliada falta de garantias para obteno de crdito junto do sistema bancrio.

Os empresrios lusos desenvolvem uma mudana de paradigma: o investimento comea a instalar-se em Angola com inteno de exportar para outros mercados

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plataforma naturalAngola encarada pelos investidores portugueses como uma plataforma natural no continente africano, permitindo definir estratgias regionais. O mercado da Comunidade para o Desenvolvimento da frica Austral (SADC) tem cerca de 240 milhes de consumidores e a Repblica Democrtica do Congo tem cerca de 70 milhes, nmeros que revelam o potencial de negcio e expanso para as empresas lusas. Por outro lado, existem diversas iniciativas visando a constituio de um mercado comum africano. Neste contexto, os empresrios lusos desenvolvem uma mudana de paradigma: o investimento comea a instalar-se em Angola com inteno de exportar para outros mercados. O caso da Refriango e da Visabeira so exemplos dessas intenes de internacionalizao a partir do territrio angolano. A exportao oriunda de Portugal que hoje tem uma importncia significativa, tende a diminuir. Angola a sexta maior economia de frica e a segunda maior potncia da frica Austral, tendo vindo a registar, nos ltimos anos, um crescimento econmico acentuado, bem acima da mdia mundial e a um ritmo superior generalidade das outras grandes economias africanas. De acordo com a Agncia de Investimento e Comrcio Externo de Portugal (AICEP Portugal Global), estima-se que esta tendncia venha a acentuar-se em 2012, resultado do aumento dos preos e da produo de petrleo e da expanso dos setores no petrolferos, bem como da dinamizao do investimento estruturante em curso. Tambm as Naes Unidas, num relatrio sobre o investimento mundial, considera que Angola o pas africano com maior potencial e o que mais investimento direto estrangeiro recebeu na regio em 2010 cerca de 9,9 mil milhes de dlares, muito acima da frica do Sul (1,5 mil milhes de dlares) e Congo (2,9 mil milhes de euros).

Para alm de Benguela, a AICEP prev abrir delegaes noutras provncias que esto a ganhar dimenso em termos de mercado: Hula, Huambo, Malange, Kwanza Sul e Cabinda

muito do portugus est a ser canalizado atravs daqueles pases. o caso da participao da portuguesa ZON na angolana ZAP, realizada atravs de uma empresa sediada na Holanda.

radiografiaO investimento privado em Angola cresceu cerca de 67,5% em 2010, atingindo 2,4 mil milhes de dlares, um salto face ao ano anterior, em que rondou 1,4 mil milhes. Quanto ao emprego, o investimento privado criou, entre 2008 e 2010, cerca de 86 mil postos de trabalho diretos, dos quais apenas 12.620 so estrangeiros. Por geografias, a provncia de Luanda lidera o destino do investimento (36,24% do total em 2010). Benguela surge em segundo (17,75%), seguida da provncia do Kwanza Sul (8,06%) e do Bengo (1,27%). Em 2010, Kuando Kubango e Moxico no captaram qualquer investimento privado, mas a situao pode mudar este ano. Por setores, a indstria transformadora absorveu 31,84% do investimento, enquanto o comrcio por grosso e retalho e a reparao automvel foram o destino de 20,71%. Seguem-se a construo (10,8%), transportes e comunicaes

(10,8%) e atividades imobilirias (7,16%). O setor primrio pouco interessou aos investidores: s 1,22% do investimento se dirigiu agricultura, produo animal e silvicultura. O Estado ainda o motor do setor, situao que vai perdurar durante alguns anos. A pesca absorveu 3,09% do investimento privado em 2010.

aposta na regionalizaoA expanso do investimento portugus nas provncias e na diversificao da economia angolana est na ordem do dia para os responsveis da Agncia de Investimento e Comrcio Externo de Portugal (AICEP Portugal global). Este ano, foi aberta uma delegao em Benguela, quese tornou um dos patrocinadores da Feira Internacional da provncia. No horizonte deste organismo esto outras provncias, que esto a ganhar dimenso em termos de mercado: Hula, Huambo, Malange, Kwanza Sul e Cabinda. Para Miguel Fontoura, diretor da AICEP, a diversificao de setores e regies uma realidade muito cimentada pelo interesse das empresas lusas. Neste sentido, promoveu doze misses empresariais a diversas regies de Angola.

Existem diversas iniciativas visando a constituio de um mercado comum africano

CaminhosA crise no abalou o investimento portugus em Angola. Mas os caminhos do dinheiro, agora, so outros. Os dados da ANIP mostram que a frica do Sul, Holanda, Ilhas Virgens Britnicas e Maurcias tm, desde 2006, vindo a apostar consistentemente em Angola. Segundo diversas fontes, o crescimento do investimento com origem na Holanda, assim como nos parasos fiscais, tem uma explicao: algum investimento angolano e

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in FoCo

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o CASSulA AngolAno

Relaes Bilaterais

Nada usual assim classificaram aNgolaiN a receNte visita de 24 horas do primeiro-miNistro portugus, pedro passos coelho, a aNgola. a expresso vale para todos os Nveis de eNteNdimeNto eNtre o goverNaNte luso e Jos eduardo dos saNtos, presideNte da repblica de aNgola.

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SAbiA quE

No dia 16 de Novembro, a TAAG, a companhia de bandeira angolana, teve um passageiro muito especial. Tratava-se do primeiroministro portugus, Pedro Passos Coelho, que optou por viajar numa aeronave daquela empresa. Uma mensagem com vrios sentidos: confiana num futuro conjunto e numa companhia que Portugal ajudou a sair do vermelho quanto a voos para o espao europeu. A TAAG sofreu uma profunda remodelao e os seus avies de ltima gerao (Boeing 777-200ER e 737-700) podem, desde Novembro ltimo, rumar sem restries para todo o espao europeu. Passou Coelho regresso a 17 de Novembro num voo da companhia portuguesa, TAP.

A agricultura e a agro-indstria est na primeira linha das prioridades, setores que tero linhas de crdito

no final do encontro. Afinal, tratava-se do mais velho e do cassula, como so designados familiarmente os mais novos. Para l da empatia - qumica que, segundo as nossas fontes, se registou entre os dois governantes, Jos Eduardo dos Santos considerou que o que acontecer a Portugal, acontece a Angola, mostrando que o entrosamento entre os dois povos a nvel institucional, econmico e cultural para durar e aprofundar. A estratgia angolana para as terras lusas passa pela aposta na economia e, principalmente, por participaes em empresas. Fora de questo est a compra de dvida portuguesa, pelos menos para j. No foi por acaso que nos dias seguintes visita de Passos Coelho, a Sonangol comeou a comprar em bolsa aces do Milleniumbcp. As mesmas fontes garantiram que a entrada direta de angolanos na GALP foi uma questo abordada. O cruzamento de capitais entre empresas dos dois pases uma estratgia que vai ser aprofundada e indica presenas nos dois sentidos de longo prazo. Passos Coelho teve oportunidade para sublinhar que o interesse portugus em Angola no resulta da atual crise e que as alteraes polticas em Portugal no prejudicaro o relacionamento com os angolanos. O primeiro-ministro portugus garantiu que Portugal no tem receio da angolanizao e aposta na economia real de Angola. Neste sentido, o governante considera que a presena portuguesa diferente da de outros pases e est de acordo com a viso das autoridades angolanas. A estratgia passa pelo desenvolvimento do investimento de PMEs em diversos setores e provncias do pas. A agricultura e a agro-indstria esto na primeira linha das prioridades, setores que tero linhas de crdito.

O cruzamento de capitais entre empresas dos dois pases uma estratgia que vai ser aprofundada e indica presenas nos dois sentidos de longo prazo

Um momento representativo do atual estado das relaes bilaterais foi a audincia privada entre os dois governantes que debelou as regras protocolares. O sinal mais evidente foi a demora do encontro, que ultrapassou em mais de uma hora o tempo previsto no programa para desespero dos assessores. A estas cir-

cunstncias no indiferente Passos Coelho ter vivido em Angola at adolescncia e, por essa via, compreender a afetividade que os angolanos pem em tudo o que fazem. Ao contrrio do habitual, Jos Eduardo dos Santos, mais descontrado e simptico, deu umas palmadinhas nas costas do primeiro-ministro portugus

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in FoCo

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da parCeria alianaO aprofundamento das relaes bilaterais encontrou, entretanto, um outro termo para o designar: aliana estratgica em vez de parceria estratgica. Trata-se de uma mudana de paradigma: depois de scios ou companheiros de viagem, Angola e Portugal firmam a mutua amizade e auxlio. Desde 2010 que os dois pases acentuaram o seu entendimento e a demonstrao disso so as visitas de governantes entre os dois pases: de Jos Eduardo dos Santos a Lisboa; de Cavaco Silva e Paulo Portas, ministro dos Negcios Estrangeiros a Luanda. Para alm de outros desenvolvimentos ao nvel da defesa, segurana e administrao, com deslocaes frequentes de responsveis lusos terra vermelha. Com os Estados Unidos, China e Brasil, Portugal tem sido um dos parceiros estratgicos dos angolanos. Uma expresso que tem implicado um dilogo constante e permanente entre os dois pases em matrias como a poltica externa, segurana, defesa, economia, comrcio externo e cultura. Esta cumplicidade considera as fidelidades regionais de cada pas e assenta na presena humana, empresarial, cultural e social que se regista em ambos os sentidos. Em junho passado, Francisco Ribeiro Telles, embaixador luso em Luanda, considerava que este aspeto nico e sem paralelo no perodo ps-independncia. O cunho poltico e institucional das relaes bilaterais foi acentuado com a visita de Passos Coelho, que passou a designar Angola como aliado estratgico. Uma aliana que ter como ponto alto no s a visita que o primeiro-ministro portugus far Angola aps as eleies de 2012, como a realizao da primeira Cimeira Portugal-Angola. Esta iniciativa que agora se programou uma velha ideia portuguesa que no tem sido possvel levar prtica: primeiro, dada a frequncia de contactos entre as autoridades dos dois pases, que de alguma forma retira necessidade ao referido encontro; depois, porque do ponto de vista institucional existia uma questo protocolar que agora ter desaparecido: do lado angolano, o presidente o che-

Portugal j est a ganhar com a internacionalizao de Angola

Um dos pontos altos previstos para 2012 ser a realizao da primeira Cimeira Portugal-Angola

fe de governo, enquanto do lado portugus, as funes so exercidas por dignitrios diferentes. De qualquer forma, a cimeira ser um dos instrumentos da aliana estratgica. Outra vertente, desenvolve-se ao nvel da poltica externa e da integrao internacional de Angola. Durante o ano passado, os entendimentos entre os dois pases, por exemplo ao nvel da interveno angolana na Guin, permitiram a Angola ser reconhecida nos fruns internacionais como lder regional. Se a presidncia da CPLP e da SADC no estranha a esta situao, tambm verdade que Portugal tem jogado o seu prestgio junto de diversas instncias para apoiar os esforos angolanos. Passos Coelho confessou que Portugal j est a ganhar com a internacionalizao de Angola. Passos Coelho no deixar de se deslocar s regies mais decisivas para as comunidades portuguesas, como no deixar de visitar os lugares e os homens que fazem parte da mem-

ria do governante portugus em Angola. Uma lembrana que mostrou um primeiro-ministro bem disposto nos contactos que manteve a diversos nveis em Luanda e que no o deixou partir, j noite, sem antes fazer passar a caravana pelo antigo Sanatrio de Luanda, onde viveu por algum tempo, quando o seu pai era diretor desta instituio.

A segunda visita ser mais demorada e passar por diversas provncias angolanas

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Momento decisivo para a consolidao da democraciaO fORTALECimENTO dAs RELAEs iNsTiTUCiONAis Um dOs AsPETOs qUE fRANCisCO RiBEiRO TELLEs, EmBAixAdOR dE PORTUGAL Em ANGOLA, dEsTACA NA hORA dA dEsPEdidA dA sUA missO NA TERRA vERmELhA. UmA ExPERiNCiA RiCA dO PONTO dE visTA PEssOAL E PROfissiONAL, CONfEssA O diPLOmA dURANTE A ENTREvisTA qUE CONCEdEU ANGOLAiN.A sua misso em Angola est a terminar. Que balano faz do atual momento das relaes entre Portugal e Angola? Creio que hoje justo afirmar que vivem um momento excelente, possivelmente sem paralelo na sua histria. Nunca como hoje foram os dois pases to prximos no plano poltico, institucional, econmico e empresarial. A lngua e a comunidade de afectos que partilhamos tm permitido uma aproximao e um conhecimento cada vez maiores entre os dois povos. Estou certo que as relaes tendero no futuro a intensificarem-se ainda mais. As relaes bilaterais tm conhecido um desenvolvimento importante nos ltimos tempos. Quais as evolues mais importantes observadas durante o seu mandato? Para alm de um incremento em todas as reas do relacionamento bilateral, sobretudo na esfera econmica e cultural, destaco o fortalecimento das relaes institucionais, consubstanciado na assinatura de importantes instrumentos, donde destaco o Acordo sobre Reconhecimento recproco de Ttulos de Conduo, o acordo sobre Promoo e Proteo Recproca de Investimentos e, mais recentemente, o Protocolo sobre Facilitao de Vistos. Tratam-se de matrias que tm a ver com o dia a dia das pessoas e das empresas. Por outro lado, a intensificao de deslocaes oficiais, de que assinalo as visitas de Estado do Presidente Eduardo dos Santos a Lisboa e do Presidente Cavaco Silva a Angola, bem como as visitas oficiais dos Primeiros-Ministros Jos Scrates e Passos Coelho a Luanda conferem s relaes uma consonncia poltica muito forte que no existia no passado. A questo dos vistos parece ter sido um dos momentos da sua misso. Pode comentar? O Protocolo sobre Facilitao de Vistos foi um momento bilateral importante porque correspondeu a uma necessidade h muito sentida pelas pessoas, empresas e governos dos dois pases. A convergncia das pessoas e das economias de Angola e Portugal uma tendncia espontnea que se encontrava dificultada. O

o tringulo Portugal, Angola e Brasil uma fora motriz para as suas economias

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o papel crescente de Angola , antes de tudo, consequncia da sua pacificao, crescimento e afirmao regionalprotocolo , por isso, mais do que um instrumento jurdico, uma aposta na importncia estratgica de facilitar as ligaes entre os dois pases, permitindo o seu desenvolvimento natural. Com a vinda de Passos Coelho houve uma alterao de terminologia: passou-se a falar de aliana estratgica em vez de parceria estratgica. Que significado atribui a esta alterao? Creio que, no essencial, falamos da mesma realidade: o de que Angola e Portugal assumiram, como prioridade estratgica e de longo prazo, o constante aprofundamento das suas relaes bilaterais. O primeiro-ministro qualificou ainda essa parceria como uma aliana que vai para alm do seu enquadramento bilateral e se potencia no contexto das oportunidades geoeconmicas que se abrem aos dois pases no Atlntico Sul e que inclui, naturalmente, o Brasil. Por outro lado, com economias cada vez mais interdependentes, o conceito de aliana parece ser uma designao mais apropriada para definir a sua atual profundidade. Outro dos aspetos que se notou foi o desenvolvimento da afirmao regional de Angola e o papel que Portugal teve nesse desenvolvimento. Gostaria que comentasse a liderana angolana da CPLP e da SADC. Creio que o papel crescente de Angola , antes de tudo, consequncia da sua pacificao, crescimento e afirmao regional. Portugal um parceiro natural de Angola no seu desenvolvimento. O facto de Luanda presidir simultaneamente CPLP e SADC ser um fator adicional de visibilidade para a diplomacia angolana. O tringulo Portugal, Angola, Brasil uma ideia sempre defendida. Qual a sua efetividade neste momento? Creio que nunca como hoje fez tanto sentido.

A cooperao econmica, empresarial e poltica na placa continental atlntica oferece aos trs pases, inseridos em espaos regionais totalmente diferentes, unidos pela lngua, cultura e afetos, vantagens comparativas e um potencial de crescimento muito interessante. Num momento em que nos confrontamos com os desafios da globalizao, o desenvolvimento de um quadro de dilogo com estas caractersticas poder ser uma mais-valia para os trs pases e uma fora motriz para as respectivas economias. No prximo ano realizam-se eleies. Que comentrio faz consolidao da democracia e da estabilidade poltica em Angola? Creio que o pas est a fazer o seu caminho enquanto jovem democracia. E a democracia no se constri num dia, em nenhum lugar. Para um pas como Angola, que h cerca de 10 anos estava destrudo pela guerra, existe inegavelmente um processo gradual de estabilizao e fortalecimento das suas instituies, em dilogo com os imperativos de reconstruo e desenvolvimento. Tal como sem democracia no h paz, to-pouco haver paz sem desenvolvimento. Neste contexto, as eleies de 2012 sero um momento decisivo para a consolidao da democracia angolana.

nunca como hoje Portugal e Angolaforam to prximos no plano poltico, institucional, econmico e empresarial

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Charneira entre a poltiCa e a eConomiaSimptico, cordato, discreto quanto baste e prudente, caractersticas que convm a um diplomata, so atributos que servem a Francisco Ribeiro Telles, que deles fez um modo de vida. Ao fim de cinco anos ao servio da diplomacia portuguesa em Angola, Ribeiro Telles pode orgulhar-se de ter sido durante o seu mandato que as relaes bilaterais asseguraram as condies necessrias para um entendimento fraterno e sem complexos entre os dois povos. Nem tudo foi fcil e basta lembrar algumas tenses que surgiram h meses devido s dificuldades colocadas pelas autoridades angolanas na atribuio de vistos, obstculos comuns a diversos pases parceiros de Angola. No obstante alguns acidentes de percurso, o entendimento entre os dois povos uma histria feliz e na memria ficar o mandato de Ribeiro Telles. Apesar de os contactos com as autoridades angolanas fazerem parte do dia-a-dia do embaixador, o diplomata prefere no particularizar qualquer momento: foram inmeros os acontecimentos marcantes nesta passagem de cinco anos por Angola. Confessa que difcil destacar algum em particular e remata: foi uma experincia muito rica do ponto de vista pessoal e profissional. No obstante, salienta que em Angola a poltica comanda tudo e para a perceber para alm de conhecer a histria e cultura angolana til e necessrio um convvio constante com os seus decisores, sejam eles governantes, deputados, empresrios ou figuras da cultura. Para alm destes contactos de rotina, os dias discorrem sempre iguais e diferentes ao embaixador. Nenhum dia tpico sublinha Ribeiro Telles. E justifica a sua posio com aspetos que marcam a atividade diplomtica desde sempre: representao, informao e negociao. Estas caractersticas no so vividas de forma igual e cinzenta: devem naturalmente ser adaptadas em funo dos tempos e novas exigncias e so to mais vastas e diversas quanto for a intensidade das relaes dos povos e dos Estados em causa, como o caso de Angola, afirma Ribeiro Telles. A leitura da imprensa portuguesa e angolana um momento dirio indispensvel. Para se conhecer a realidade de ambos os pases, afirma. Outra obrigao, desta vez semanal, a reunio com o pessoal diplomtico e tcnico da embaixada para definir agendas e coordenar as respectivas aes. Outra vertente importante da atividade do embaixador enquadra-se na chamada diplomacia econmica. necessrio tambm canalizar os ensinamentos do dilogo com as autoridades angolanas para o contacto permanente com os empresrios portugueses, refere. Trata-se de um posicionamento de charneira, como designa e que define como o fulcro do trabalho econmico de uma embaixada. Antecipar riscos e dificuldades, levar a cabo a prospeo de oportunidades para investimentos e exportaes, fazer e facilitar o entendimento entre decisores angolanos e empresrios portugueses so alguns dos objetivos desta forma de encarar a atividade diplomtica. E como se leva prtica esta diplomacia? No sentado a uma secretria que vamos saber o qu e quem move o mercado, quem dono, quem decide, quem pode estar aberto a parcerias, adverte Ri-

diPLOmACiA

Em Angola, a poltica comanda tudo e para a perceber para alm de conhecer a histria e cultura angolana til e necessrio um convvio constante com os seus decisores

beiro Telles. Todas estas informaes tanto podem ser obtidas num jantar restrito na residncia, como num tpico almoo angolana ou, ainda, durante um passeio de barco, sublinha. Outra atividade diplomtica em Angola o contacto com outras embaixadas, nomeadamente dos pases que tm interesses estratgicos no pas. Nesta perspetiva, existem reunies semanais dos meios diplomticos e, ao nvel das misses dos pases da Unio Europeia, os encontros so mensais. Um elemento til, como classifica Francisco Ribeiro Telles, esta partilha de comentrios e informaes. Atualmente, a Embaixada de Portugal em Angola uma das que regista mais eventos no mbito da diplomacia portuguesa e uma das mais requisitadas em Luanda.

no sentado a uma secretria que se sabe o qu e quem move o mercado28

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EConoMiA & nEgCioSPatrcia Alves Tavares

40 MilhES PArA A inDStriAa ecoNomia NacioNal aiNda est em fase de estruturao, mas No h ecoNomia de mercado sem empresrios e proprietrios privados e deseJamos que seJam os empresrios privados aNgolaNos, graNdes, mdios e pequeNos, que comecem a coNtrolar desde J a Nossa ecoNomia produtiva e de prestao de servios, medida que o estado for reduziNdo a a sua preseNa. JOS EDUARDO DOS SAnTOS, ESTADO DA nAO 2011

Em dezembro foram inauguradas seis fbricas na Zona Econmica Especial (ZEE), que se juntam s oito existentes. A medida faz parte do plano de industrializao, em curso desde 2009. As novas unidades vo criar mais de 529 postos de trabalho e resultam de um investimento de cerca de 40 milhes de dlares. Estas empresas vo, numa primeira fase, colmatar o dfice de emprego, j que os produtos criados na ZEE ainda no esto em circulao. A contratao est a cargo dos centros de formao e do Ministrio da Administrao Pblica, Emprego e Segurana Social. Em curso, encontra-se o desenvolvimento dos plos industriais de Futila (Cabinda), Soyo (Zaire), Catumbela (Benguela), Matala e Cassinga (Hula) e no permetro agro-industrial de Pungo a Dongo (Malanje). As ZEEs so apontadas como o modelo apropriado do ponto de vista institucional, administrativo e econmico para determinadas regies, com vista ao relanamento da economia real e do empresariado nacional. Espera-se assim que se crie um eixo regional de desenvolvimento sustentvel. Os empresrios encaram as zonas econmicas com otimismo e apenas lamentam que os moldes da ZEE Luanda/ Bengo no sejam aplicados noutras regies, que detm igual potencial

econmico. Jos Severino, presidente da Associao dos Industriais de Angola, disse recentemente que era pertinente seguir este modelo no Dondo ou Lucala, pois so zonas estratgicas para combater as assimetrias regionais e generalizar o acesso a infraestruturas bsicas como a energia e a gua. O representante dos industriais defende a implementao de uma ZEE nas duas localidades do Kwanza Norte devido sua proximidade s maiores barragens hidroeltricas do pas (Cambambe e Kapanda) e de provncias fulcrais como Malanje, Uge, Bi, Moxico ou Kwanza Sul. Jos Severino acha que assim seria possvel inverter o cenrio que hoje se verifica, em que as mercadorias industrializadas so movimentadas dos centros urbanos para o interior. Alis, uma ZEE no Lucala facilitaria o escoamento dos produtos da regio para as fbricas. O presidente da Associao Agropecuria Comercial e Industrial da Huila, Antnio Lemos, defende a criao de zonas econmicas nas principais regies comerciais, pelo que gostaria de ver o plano distribudo pelas provncias de Benguela, Hula e Huambo. Uma ZEE na Hula poderia apostar na agropecuria. Citaria a Jamba e a Matala, que teriam as condies para receber um nmero de fbricas razovel, acrescenta.

A nica zona econmica criada at ao momento abrange os municpios de Viana, Cacuaco, Icolo e Bengo, Dande, Ambriz e Namboangongo. Tem uma rea total de oito mil hectares e composta por dois plos um industrial e outro comercial -, um centro de tecnologia e outro de convenes. At ao final de 2011, empregava 2540 pessoas.

73 fbricas numa s regioEste projeto foi desenhado para um horizonte temporal que se estende at 2025 e impe que no perodo 2009-2013 sejam dinamizadas atividades cruciais para relanar a indstria e atingir a meta de reduo do valor das importaes e da excessiva dependncia de produtos externos. As Zonas Econmicas Exclusivas so a face mais visvel deste modelo, que definiu uma taxa de crescimento da indstria transformadora em 57,3% (em 2011) e que dever ser impulsionada at 2013. O plano indica a recuperao das estruturas produtivas e a criao de novas reas onde o pas tem vantagens competitivas. A ZEE Luanda/ Bengo, por exemplo, est preparada para receber 73 fbricas. Com a abertura de mais seis unidades, o espao passa a integrar 14 empresas. Os dados do ministrio da Indstria apontam para que em cinco anos seja possvel acabar com a importao de cimento (um dos sectores mais promissores).

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ficiadas atividades que desempenham o papel de fornecedor da indstria, tais como a construo civil ou as empresas financeiras. No mbito do processo de reindustrializao, as PDI tm em conta a instalao de indstrias prioritrias associadas agricultura, transformao de madeira, petroqumica e siderrgicas, respondendo s necessidades de construo civil. Recorde-se que o Governo se comprometeu a construir um milho de casas at ao final deste ano. Na primeira fase, est prevista a criao de PDIs junto ao litoral, nas provncias de Benguela, Cabinda, Luanda e Lubango. Angola dispe actualmente dos plos industriais de Viana, Luanda (o mais antigo e que concentra volta de 75% da capacidade industrial do pas), e o de Catumbela, Benguela (entre 2010 e Abril de 2011 ganhou 19 novas fbricas, entre elas a TV Cabo).

governo financiaJoaquim David, ministro da Indstria, lembrou numa entrevista RNA que o programa de industrializao tem aes em todas as provncias, que se encontram em fase de implementao, considerando que este o caminho para a integrao econmica. J o secretrio de Estado da Indstria, Kiala Gabriel, acrescentou num seminrio da especialidade que o programa em curso tem as parcerias pblico-privadas como aliadas para o seu desenvolvimento estratgico. Na conferncia do Investimento Parcerias de Infra-estruturas para o Desenvolvimento Africano, o responsvel realou que o Executivo pretende criar um Plo de Desenvolvimento Industrial em todas as provncias, contando para isso com a participao do setor privado. Atualmente, esto identificados 11 pontos para a implementao dos plos. Segundo o secretrio de Estado, as referidas reas tm a proteo do Governo para realizar o investimento e apontou o caso do Plo de Desenvolvimento Industrial de Viana, que conta com uma ZEE. A indstria transformadora uma prioridade. De acordo com o Programa do Setor da Indstria Transformadora para o perodo 2009-2013, o ministrio vai investir mais de oito mil milhes de dlares que visam relanar diferentes reas que compem o tecido produtivo nacional. O investimento estatal tem como objetivo a criao de emprego e rendimento, o apoio substituio das importaes e o fomento das exportaes. Nesse sentido, disponibiliza uma srie de incentivos (como isenes fiscais e aduaneiras) e mecanismos de apoio s atividades emergentes, bem como os plos industriais e a ZEE.

o Executivo aspira a que o pas seja reconhecido como a primeira opo na instalao de unidades de negcio at 2015sonangol adquire equipamentosA Sonangol Investimentos Industriais, subsidiria da estatal de petrleos Sonangol EP, responsvel pela aquisio dos equipamentos para montagem e funcionamento das indstrias. Bravo da Rosa, presidente do conselho executivo, referiu recentemente que a ZEE dar prioridade aos empresrios que consigam implementar altos nveis de produo e criar postos de trabalho, recorrendo ao valor acrescentado das matriasprimas nacionais. O objetivo da Sonangol passa por encontrar investidores interessados em instalar-se nas fbricas e dar incio produo das componentes em que so especialistas. A empresa quer estabelecer parcerias com empresrios nacionais e estrangeiros que dominem a indstria da construo, tintas, fibra tica, entre outros. O empresariado nacional tem prioridade, desde que tenha capacidade empreendedora e de gesto

comprovada, no tenha dvidas ao Estado, segurana social ou moras no sistema financeiro. O programa implica que os privados participem na gesto das unidades j lanadas.

plos industriais relanam economiaO projeto contempla a criao de plos de desenvolvimento industrial (PDI), zonas equipadas com infraestruturas bsicas industriais: gua, energia, telecomunicaes, acessos rodovirios e/ou ferrovirios, etc. H que acrescentar que as empresas que aderem aos PDI usufruem de vantagens, como vrios benefcios fiscais, subvenes a fundo perdido e preo bonificado do solo industrial. As indstrias ficam localizadas em reas geogrficas equipadas com as estruturas adequadas ao seu bom funcionamento, promovendo parmetros como a produtividade e competitividade industrial, a gesto integrada dos recursos e a criao de sinergias. Por outro lado, saem bene-

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MArCAS iDPatrcia Alves Tavares

hollywoodescaLuzes, Cmaras, Ao! Um jovem tenta a sua sorte num casino. De bebida na mo e com apenas uma ficha mostra ao rival de jogo que a sorte no uma inspirao momentnea e efmera. uma atitude! Este o ponto de partida para o primeiro spot da Martini, especificamente criado para o target angolano, numa produo que teve como palco um dos casinos mais sofisticados de Portugal, o de Tria. O ator e modelo Fredy Costa volta a ser o eleito, dissipando qualquer dvida de que o Martini Man angolano.Trinta segundos de pelcula o resultado de 14 horas de filmagens, que envolveram 72 pessoas, desde tcnicos e assistentes a figurantes. Lucky is na atittude o slogan da campanha publicitria. Costuma-se dizer que a comunicao a parte do marketing que se v. Contudo, a comunicao a parte do marketing que deliberadamente mostrada ao consumidor, seja atravs de um outdoor ou de um spot televisivo. Nesta edio, conhea parte daquilo que lhe escondido propositadamente.

Produo

Nos bastidoresA Angolain foi para l do que a audincia v. Fomos ver o que est por detrs de uma campanha, quem so os rostos escondidos pelas cmaras e tudo o que se passa depois do corta, numa apresentao exclusiva do making-of da campanha. Ciente dos desafios especficos de cada marca e conhecedora da importncia do seu posicionamento junto de cada mercado, indo de encontro s suas especificidades, a Martini desenvolveu uma campanha para Angola com o claim A bebida mais bonita do mundo. Transmitir os valores subjacentes a um produto carece no s de sorte, mas de uma grande estrutura, que alia ingredientes como trabalho, investimento e muita criatividade.

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A meta: posicionar a marca como a bebida eleita para as celebraes angolanas. O meio: Fredy Costa, que volta a ser escolhido para protagonista em funo da sua notoriedade no mercado de destino e do potencial de desejo que transmite e provoca. Por outro lado, a forma natural de dar continuidade narrativa da primeira publicidade. Na mais recente campanha, a Martini pegou no conceito umbrella de comunicao Luck is na atittude, que est a ser trabalhado internacionalmente em mltiplos interfaces, para lanar um filme concebido especificamente para Angola. A marca espera reforar os seus valores e assegurar uma linha de continuidade com a publicidade desenvolvida anteriormente e que obteve elevada notoriedade.

Criado o ambiente glamouroso e sofisticado, a escolha recai numa pequena intriga repleta de humor, sorte, azar e a bebida da marca sempre em grande destaque. O casino e o nmero 13 so a escolha natural para a dicotomia sorte/azar.

a timidez do GalA azfama grande. O storyboard est nas mos de toda a produo e a gravao de cada cena exige mxima concentrao. O corrupio das maquilhadoras constante, a mesa de jogo montada criteriosamente, cada dana e gesto so ensaiados afincadamente e os melhores planos so estudados milimetricamente. No fcil contar uma histria em 30 segundos. Em televiso, meio minuto de um spot de publicidade sinnimo de vrias horas de filmagem. A Angolain falou com o protagonista da trama e com os criativos do filme. Habituado a vestir a pele de Martini Man, Fredy Costa explica que na vida real uma pessoa bastante simples e humilde, um pouco reservado, amigo dos amigos e batalhador. E no apenas no spot que o 13 um elemento de sorte. O ator revela que a sua relao com o nmero muito boa. A minha mulher do dia 13 de Junho e o meu filho mais velho do dia 13 de Maio. No tenho como no ter uma boa relao com o nmero, enfatiza. Para Miguel Reis, diretor criativo e de arte, o maior desafio que teve foi o tempo. Montar um

PEssOAs ENvOLvidAs NA PROdUO dO sPOT sEGUNdOs A dURAO dO vidEOCLiP

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LUPAhORAs dE fiLmAGENs

Glamour e iNtriGaAps o xito da publicidade de 2010 que apresentou o produto Martini como A bebida mais bonita do mundo, a empresa associou-se novamente Shift Thinkers para produzir o primeiro spot Martini para o mercado angolano. A produo ficou a cargo da empresa portuguesa Miss Dolores. Procurando estabelecer uma simbiose entre os universos da marca e o ambiente cosmopolita da cidade mais cara do mundo, o filme tem como tnico a aposta no preto e branco.

projeto destes, com um tempo de filmagem louco de apenas 14 horas sem deixar escapar nada, foi um exerccio enorme s nossas capacidades e nveis de exigncia, disse. J para o representante da empresa em Angola, o que recorda melhor a experincia de encerrar a sala de jogo de Tria. Fechamos o casino e filmamos non-stop durante toda a noite. O cansao era imenso e foi giro ver algumas pessoas a lutarem contra o sono, recordou Mrcio Ferreira, da Bacardi Martini Brand Builder Angola. Sem divulgar valores da campanha, o responsvel adiantou que a marca cresce cerca de 40% em vol./ano e lder no seu segmento em Angola. Da a escolha de uma comunicao Taylor made. A nossa estratgia passa por adotar o conceito Martini Man ao mercado e da criar um embaixador da marca, finalizou. O spot exibido nos canais de televiso TPA 1 e 2. Paralelamente, a campanha divulgada na imprensa e em suportes de publicidade exterior.

anunciante Bacardi Martini nome anncio A sorte uma Atitude agncia Shift Thinkers Direo criativa Miguel Reis Direo De arte Miguel Reis Direo estratgica Sandra Pombo argumento Daniela Valdez copywriter Daniela Valdez Direo De projeto Cristina Gonalves

Ficha tcnica

Gesto Projeto Margarida Lacerda Produtora Miss Dolores Produtor executivo Carlos Amaral realizador Victor Castro diretor de FotoGraFia Manuel Muoz sonoPlastia Victor Castro Ps-Produo Bikini

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a nova gerao de

2011 ficou marcado na histria mundial como o ano da queda de ditaduras. A morte de Khadafi, dirigente lbio, faz o ltimo captulo da libertao da populao do regime ditatorial, num livro que est em aberto. O esprito da revolta popular tem acendido o rastilho em pases africanos. Inspirados nos ecos da primavera rabe, que mudou regimes que pareciam inabalveis, e nos ideais de Agostinho Neto, a juventude est determinada e deseja ter uma voz ativa nas decises polticas. O gosto pelo associativismo ganha adeptos, que adquirem nestes movimentos a conscincia dos problemas sociais e desenvolvem esprito cvico. esta, alis, a opinio de Adalberto Cawaia, da Juventude Ecolgica Angolana, que considera o associativismo indissocivel do crescimento da nao. A primeira razo tem a ver com a conjugao de esforos que se quer para a construo de uma sociedade democrtica e de direito. Para contribuir para este esforo todos so chamados e os jovens aprendem a democracia nas associaes. Elas funcionam como laboratrios de ensaio para a pluralidade de opinies, o trabalho comum, a organizao, o respeito, a liberdade e a responsabilidade. So a porta para a participao nos processos polticos e sociais atravs das atividades cvicas, diz, em entrevista Angolain. Cristiano Vivaldino dos Santos, do Conselho Provincial da Juventude no Cunene, referiu recentemente que o associativismo constitui uma ferramenta que consolida os conhecimentos acadmicos, cientficos e tcnicoprofissionais. Tal permite sair da delinquncia, das drogas, da prostituio, do consumo excessivo de lcool e do analfabetismo. Incentiva uma convivncia s com vista ao resgate dos valores morais, cvicos e patriticos. Adalberto Cawaia aponta outra mais-valia destes movimentos: criam oportunidades para um treino profissional atravs das vrias funes que vo exercendo nesses grupos. Embora sejam voluntrios, a dinmica das associaes exige uma profissionalizao cada vez maior para se poder ultrapassar os desafios. Os adultos de amanh defendem tal como Agostinho Neto a melhoria das condies sociais da populao. Sem medo de falar e de expressar a opinio, organizam manifestaes e apelam mudana de liderana. 32 anos muito, l-se nas T-shirts dos grupos que crescem a cada encontro.

Agostinho NetoSo apartidrios, no esto centralizados, no tm um lder ou sequer uma designao. Apenas se sabe que so jovens atentos poltica, sociedade e ao mundo que os rodeia. Ningum sabe contabilizar o nmero de vozes que discordam do regime de Jos Eduardo dos Santos, o lder africano que soma mais anos no poder. A nova gerao sabe que no vai mudar o mundo, mas acredita que pode mudar o seu pas.

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Com o aproximar das eleies presidenciais, marcadas para o terceiro trimestre deste ano, os protestos podem intensificar-se. Aquilo que comeou em maro do ano passado com um pequeno movimento de 17 manifestantes deu origem a um protesto anti-regime que organizado uma vez por ms. As novas tecnologias so aliadas dos jovens, que se organizam informalmente atravs de emails, apelos na rede social Facebook e distribuindo folhetos. No possvel quantificar quantos so: h quem fale em poucas centenas, outros dizem um milhar. Certo que a inquietao dos governantes visvel. O Presidente da Repblica acabou por se dirigir aos jovens no discurso do Estado da Nao 2011, considerando que a juventude nunca agiu margem do povo, do povo e trabalhou sempre para o povo. H hoje algumas incompreenses e mesmo equvocos que preciso esclarecer, alegou, em aluso s manifestaes populares. O setor competente do Executivo deve aprimorar as vias do dilogo social e ouvir, auscultar e discutir mais para que os assuntos sejam tratados em momentos e lugares certos e sejam encontradas e aplicadas solues consensuais, disse. O Chefe de Estado aproveitou o momento para lembrar que, em 2008, o processo eleitoral foi aberto, transparente e livre, frisando que o regime se baseia na vontade popular.

O rastilhO da primavera rabeA expresso refere-se ao movimento pela democratizao iniciado em 2011, no norte da frica e que conduziu queda dos regimes lbio, egpcio e tunisino. Ben Ali, h 23 anos no poder, viu-se obrigado a retirar, bem como Mubarak (h 30 anos no poder) e Khadafi, que foi morto aps a fuga para Sirte.

Um vero africano poder eclodir a qualquer momento, inspirado na primavera rabera rabe. Jay Naidoo afirmou no Brasil que os africanos esto cansados da corrupo e das condies em que vivem e que os lderes do continente sero responsabilizados cedo ou tarde. O dirigente referiu que os impostos sonegados por empresas na frica superam toda a ajuda que chega ao continente. As perdas chegam a 160 mil milhes de dlares anuais.

A auto-imolao de Mohamed Bouazizi, a 18 de dezembro de 2010, na Tunsia, como sinal de protesto contra a corrupo policial, desencadeou a revolta. No Imen, o Chefe de Estado Abdullah Saleh anunciou que no se recandidataria em 2013 (colocando um ponto final no mandato de 35 anos), o presidente do Sudo Omar alBashir garantiu que no concorre ao sufrgio de 2015 e o iraquiano Nouri al-Maliki afasta-se do cargo em 2014. Jos Eduardo dos Santos o atualmente o Chefe de Estado h mais anos no poder em frica.

institutO da Juventude ainda este anOO Conselho Nacional de Juventude h muito que defende a criao do Instituto Angolano da Juventude. Gonalves Muandumba, ministro da Juventude e Desportos, anunciou que a formalizao est para breve. O instituto ser um organismo tcnico, destinado a incentivar o associativismo. A aprovao da Lei da Juventude, para o cumprimento dos Direitos e Deveres previstos na Constituio, dever acontecer este ano.

Os jovens aprendem a democracia nas associaes. Elas funcionam como laboratrios de ensaio para a pluralidade de opiniesJ VO SEIS!Liberdade de expresso, gua, po, casa para todos e o fim da corrupo. So os valores que movem os manifestantes. A primavera rabe desencadeou a esperana e a coragem. Estamos a viver numa pobreza extrema. No conseguimos chamar democracia a Angola. Sentimos esses ventos dos que conseguiram e isso pode dar-nos um impulso, explicou Castro, estudante, a um jornal portugus. Tambm Jon Schubert, um suo que cresceu em Angola, sente que h algo a mudar, pois as pessoas falam com mais abertura e h cartazes com abaixo Jos Eduardo dos Santos, algo impensvel h um ano. No ano passado, os manifestantes saram s ruas por seis vezes. O presidente da Aliana Global para a Melhoria da Alimentao, o sul-africano Jay Naidoo, acredita mesmo que um vero africano poder eclodir a qualquer momento, inspirado na primave-

MAIOr COESOA unio e a participao social existem h muito tempo. No ano passado, o diretor da Juventude e Desportos no Bi, Carlos da Silva Ulombe, defendia a aproximao dos mais novos ao associativismo como forma de contriburem para o engrandecimento sociocultural das provncias e consolidao da paz. O Ministrio da Juventude e dos Desportos tem tido um importante papel na dinamizao e no apoio s atividades desenvolvidas. O Conselho Nacional de Juventude (CNJ) a principal plataforma das organizaes. Criado no incio da dcada de 90, alberga atualmente 35 associaes dos mais diversos mbitos e 18 conselhos provinciais. Implementado com o objetivo de formar uma juventude alerta e prudente na defesa da unidade da nao, o CNJ destina-se a incentivar o esprito de concertao dos ideais da juventude.

ativistas participativOsSegundo o Inqurito sobre o Bem-Estar da Populao, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estatstica, a idade mdia da populao de 15 anos. Com um ndice de envelhecimento de 0,05, assiste-se ao incio de uma nova era de cidados. A emergncia de uma classe mdia e o aumento da taxa de alfabetizao tm sido decisivos na formao dos jovens. Hoje so mais participativos, dominam as novas tecnologias, envolvem-se em associaes, estudam fora do pas e tm uma viso mais abrangente do mundo.JANEIRO 201235

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ANGOLANOS DE OUrOSo jovens adultos ou adolescentes, mas decidiram ter uma palavra a dizer na construo da sua nao. Espalhados pelas mltiplas associaes, os jovens mostram-se crescentemente interessados em participar em actividades extracurriculares. Deixaram a vida de estudante a tempo inteiro para repartir parte do seu tempo em atividades em prol dos outros. Seja nos movimentos estudantis, religiosos, desportivos, ambientais, polticos ou econmicos, o voluntariado ganha adeptos. Nesta edio, a Angolain apresenta um caso de sucesso e convida os leitores a entrarem no universo dos ambientalistas de palmo e meio.

Somos uma grande famliaFoi fundada h precisamente duas dcadas, em Luanda, com o intuito de sensibilizar a juventude para as causas ambientais. A Juventude Ecolgica Angolana entra na vida adulta e conta com mais de 2500 voluntrios. A JEA conta no currculo com a distino do PNUD com o Global 500 das Naes Unidas. Adalberto Cawaia d a cara por esta organizao no governamental e conta Angolain como se mantm vivo o associativismo, num pas que ainda tem muito para evoluir nesta matria.

de ter as ferramentas do know-how em termos de saber como as organizaes devem funcionar e conhecerem de forma profunda as matrias sobre as quais atuam.

qual a mdia de idades dos jovens voluntrios?Oscila entre os 14 e os 35 anos.

qual o perfil?So na maioria estudantes com interesse em desenvolvimento sustentvel. Isto abrange no s os jovens das reas de cincias da natureza como tambm aqueles que esto em reas econmicas, sociais e tcnicas. A maior parte frequenta o ensino mdio e universitrio. Porm, tambm trabalhamos com crianas e adolescentes, bem como profissionais e adultos que se interessam pela preservao e conservao ambiental.

que atividades costumam organizar?A JEA uma organizao juvenil ambiental, cujo objetivo principal a educao e a sensibilizao ambiental. Atravs dos meios formais e informais de educao, promove palestras, seminrios, workshops, encontros ao ar livre, programas de rdio e tv, conferncias, participa na elaborao de legislao, produz material bibliogrfico, organiza tertlias e concursos de conhecimentos. Desenvolvemos projetos ligados conservao e preservao do ambiente, bem como participamos em cimeiras e outros eventos internacionais.

Como analisa o atual panorama do associativismo?Ainda fraco. Embora existam muitas associaes juvenis, as mais expressivas so as das organizaes poltico-partidrias e as religiosas. Ambas tm agendas bem definidas, cuja atividade cvica propriamente dita secundria sua ao. As restantes carecem ainda de reforo institucional, quer em termos objetivos em matria de recursos financeiros e materiais para desenvolverem as suas atividades, quer a nvel da gesto das prprias organizaes, do planeamento e regularizao na sua democracia interna. Quanto ao reforo subjetivo refere-se a qualidade dos seus profissionais que precisam

A juventude mostra-se interessada em aderir JEA?Muito. Parece que a JEA simptica e somos constantemente abordados por muitas pessoas interessadas em participar nas nossas atividades e em tornar-se membros. Constitui-se uma grande famlia com laos que se estendem para a vida.

quantos jovens fazem parte da associao?Esto em todo o pas, mas com maior incidncia nas provncias de Cabinda, Benguela, KwanzaSul, Hula, Namibe, Huambo, Kuando-Kubango, Malange, Luanda e Lunda-Sul. Os dados que temos precisam de atualizao, pois so de 2005. Devemos ter volta de 2500 membros.

Como vosso dia-a-dia?Nos ltimos meses, estamos empenhados em definir uma agenda para a nossa Assembleia Geral, para renovao de mandatos, alterao de estatutos e novo plano estratgico para os prximos quatro anos.

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descentralizar O pOder

A diviso poltico-administrativa das provncias comeou em Julho do ano passado. A aplicao da medida representa o primeiro passo na descentralizao do poder, que ser implementada de forma gradual. O plano mais ambicioso est em curso em Luanda, que ficou reduzida a sete municpios, mas viu a sua dimenso territorial alargada. O objetivo simples: poder aplicar investimentos em reas que at ento pertenciam ao vizinho Bengo. A Angolain explica-lhe nesta edio o que muda com a nova distribuio e municpios e mostra-lhe a anlise dos especialistas.Foi h cerca de seis meses que a Assembleia Nacional aprovou em definitivo a alterao diviso poltico-administrativa das provncias de Luanda e Bengo. A organizao das provncias est a ser estudada e discutida h quase dois anos, altura em que o ministro da Administrao do Territrio, Bornito de Sousa, anunciou que estava para breve uma reformulao territorial da capital e a definio das fronteiras entre os municpios de Luanda e do Bengo. O responsvel apontou como maior benefcio a melhor distribuio espacial e rapidez dos servios, que passam a estar mais prximos do cidado. A introduo de uma nova diviso com efeitos diretos na gesto poltico-administrativa tornouse premente pelo facto do Executivo considerar que era a melhor soluo para resolver problemas, como o aumento do nmero de habitantes em Luanda, as dificuldades tcnicas a nvel administrativo, o valor do patrimnio pblico e das infraestruturas. Um ano depois a lei foi aprovada e, entre as mltiplas mudanas, a mais evidente respeita reduo do nmero de municpios nas regies de Luanda e Bengo. Com o novo regime, Luanda passa a ter sete municpios (antigamente eram nove) e alarga a sua fronteira a parte da provncia do Bengo, absorvendo Icolo Bengo e Kissama. Em causa est a execuo do plano de ordenamento do territrio, do planeamento da orla martima e do desenvolvimento do permetro Luanda/ Bengo.

balanO prOvisriOAinda cedo para tirar ilaes e fazer um balano dos resultados da nova diviso polticoadministrativa de Luanda e do Bengo. Contudo, este o primeiro sinal da descentralizao do poder e so vrios os especialistas que arriscam avaliar o desempenho do plano que est a ser implementado. A Angolain ouviu Fernando Pacheco, coordenador do Observatrio Econmico e Social (OPSA) e defensor da descentralizao. O responsvel

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acredita que uma mudana de diviso administrativa pontual, em que alguns municpios so extintos e outros passam de uma provncia para outra, pode no mudar nada. No seu entender, o mais urgente e que traria os resultados pretendidos seria a aposta na mudana das lgicas e dos mtodos e no reforo das capacidades locais. Sou a favor da descentralizao, frisa, reconhecendo que deve ser feita de forma gradual, tal como tem acontecido. Nesse aspeto, Fernando Pacheco elogia a atitude do Governo, mas alerta que so necessrios mtodos diferentes e uma distribuio diferente dos recursos. No rescaldo da reorganizao da provncia mais populosa do pas, o jurista Carlos Teixeira reconhece que a frmula aplicada a melhor para o desenvolvimento e assegura uma maior democratizao e democraticidade s decises que so proferidas pelas autoridades do poder local. Em entrevista agncia noticiosa Angop, reconhece que o processo o que melhor satisfaz as comunidades, embora esse fator no seja garantia de sucesso. A forma como ser aplicado , na sua opinio, decisivo. H um conjunto de valncias que tm que ser criadas para acompanhar a implementao das polticas de descentralizao. Desde logo, alerta, h que formar os agentes locais, que tero que estar aptos e cientes das suas novas atribuies. Caso no exista uma preparao adequada para as novas funes, poder aumentar a disparidade ao nvel do desenvolvimento entre as vrias localidades. O jurista acredita que, com a recente aprovao de certos instrumentos jurdicos, as entidades esto a ser gradualmente preparadas para o momento da descentralizao. Este ser o passo natural da atual desconcentrao administrativa. Nessa altura, o responsvel refere que as entidades locais vo ter a seu cargo algumas responsabilidades que atualmente esto circunscritas ao poder central.

ter atividade econmica e impostos que alimentem o OGE e os oramentos dos municpios. Fernando Pacheco pe o dedo na ferida e mostra preocupao semelhante. bom que os municpios tenham sido transformados em unidades oramentais, mas no posso concordar com uma distribuio de verbas que no tenha em conta pelo menos trs aspectos: a quantidade da populao, as necessidades concretas ou dificuldades e as distncias, refere, em entrevista Angolain. E exemplifica, dizendo que entregar a um municpio do Moxico o mesmo valor que ao municpio de Cambambe (Dondo) no faz qualquer sentido. A nica diferena est na verba atribuda, j que a maioria dos municpios receber 214 milhes de Kwanzas e os restantes (na maioria, as sedes de

denao de novos projetos de desenvolvimento urbano, nomeadamente a criao de uma malha de infraestruturas entre Luanda e Bengo. O Governo pretende assegurar a eficincia da organizao e do funcionamento das instituies e servios que esto instalados nestas regies. No caso de Icolo e Bengo, procedeu-se inclusive colocao de marcos no terreno para delimitar a provncia do Bengo daquela rea e foi proposto ao ministrio da Administrao do Territrio a entrega das infraestruturas administrativas do projeto da Quiminha, pois as reas agricultveis esto localizadas no territrio do Bengo.

benguela e hula

a nOva luanda

A capital do pas passa a ser composta pelos seguintes municpios: Luanda, Cazenga, Cacuaco, icolo Bengo, viana, Belas e Kissama. O Bengo passa a integrar os municpios de Ambriz, dande, Bula-Atumba, dembos, Nambuangongo e Pango-Aluqum.

OramentOs abaixOCarlos Teixeira mostrou-se preocupado com os resultados do processo. Os municpios reformulados podem no registar os nveis de desenvolvimento desejveis. Em declaraes Angop, disse que para arrecadar receitas para executar os programas locais fundamental recorrer a verbas que as comunidades sejam capazes de gerar, estando excluda a possibilidade de recorrer ao Oramento Geral do Estado (OGE). Na sua opinio, para criar riqueza o poder local ter que

provncia) tero direito a 277 milhes. Enquanto coordenador do OPSA, alerta para o facto do plano no considerar a capacidade de execuo, que muito diferente, nem os meios de execuo, pois a gesto exige o acesso Internet, ferramenta qual poucos municpios tm acesso.

nOvas fusesA integrao dos municpios do Icolo e Bengo e da Kissama na capital representa um grande passo para viabilizar o enquadramento e a coor-

Em agosto, foi a vez das provinciais de Benguela e Hula. A lei de alterao da estrutura da diviso poltico-administrativa aprovada pelo Parlamento prev a elevao das comunas de Catumbela (Benguela) e de Cacula (Hula) a municpios e a definio dos limites territoriais intra-municipais correspondentes. Assim, os municpios de Catumbela e Cacula ficam sedeados nas vilas que do o nome s atuais comunas. As razes de elevao das comunas da Catumbela, na provncia de Benguela e da Cacula, na provncia da Hula tm a ver, sobretudo, com a necessidade de levar para junto dos cidados a prestao dos servios. Devemos ter em conta que, por exemplo, a Cacula uma comuna atualmente do municpio do Lubango a mais de 100 quilmetros da cidade do Lubango. Na prtica, difcil gerir a partir da cidade do Lubango uma comuna to distante, explicou o ministro da Administrao do Territrio, Bornito de Sousa, durante a votao da proposta de lei. Em relao Catumbela tem a ver, fundamentalmente, com o seu nvel de desenvolvimento. uma localidade que se vai situar entre a cidade do Lobito e a cidade de Benguela, tem um conjunto de infraestruturas, equipamentos pblicos e sociais de grande relevo. Por proposta e consultadas as entidades representativas das populaes dessas duas localidades, achou-se correto propor a elevao de ambas a municpio, disse. A proposta foi iniciativa do Presidente da Repblica, Jos Eduardo dos Santos, e tem como objetivo a adequao das bases de gesto administrativa dos rgos locais aos desafios do crescimento socioeconmico, populacional e infraestrutural das provncias em causa. Eficincia e maior rapidez no funcionamento dos servios pblicos so os benefcios que o Governo espera alcanar a curto prazo.

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Canto para tocar a alma das pessoasA menina que danava e cantava no grupo do Colgio Concrdia, na Nambia, cresceu e deu lugar a uma artista completa, que em 2010 foi eleita Diva de Ano. Jandira Sassingui, mais conhecida por Prola, editou o primeiro lbum em 2004, mas tem um longo currculo. De revelao a intrprete da msica que abriu o CAN Orange Angola 2010, a cantora recordou Angolain o seu percurso e falou abertamente dos novos desafios. Com um terceiro CD para breve, Prola alerta para a necessidade de uma maior aposta na formao musical dos jovens e para uma cidadania mais participativa.

Quando que descobriu a sua veia artstica? de que forma sente que o dom para a msica veio transformar radicalmente o seu destino enquanto mulher e, particularmente, angolana? algo que senti muito cedo. Comecei a cantar quando era bastante pequena, quando tinha cerca de sete anos de idade. Mas a minha me afirma que despertei para a msica muito antes. Ela conta que tinha apenas dois aninhos e j cantava quando queria que me dessem alguma coisa. A msica algo que fao de corao, uma grande paixo de vida. Logicamente que no momento em que me transformei numa cantora profissional passei a ter

paixO de vida

responsabilidades acrescidas, pois a msica uma arte que tem um forte poder de influncia social. Certifico-me de que a minha msica seja uma fonte de inspirao positiva, espelhando sempre valores positivos para as mulheres e para a sociedade em geral. como a classifica? atualmente muito diferente da que fazia no incio da sua carreira? Quais os fatores que mais marcaram esta evoluo? Tenho um estilo bastante amplo. Gosto de explorar vrios gneros e canto de tudo um pouco. Acredito que isto est relacionado com a minha trajetria, desde a cidade do Huambo, onde nasci, at mu-

dana para Luanda. Vivi ainda durante muito tempo entre a Nambia e a frica do Sul e fui absorvendo a musicalidade de todos estes lugares. Costumo dizer que no sou uma cantora que se circunscreve a um estilo s. Gosto de cantar tudo aquilo que me toque a alma. O que que mais a influencia em termos musicais? Adoro espelhar a nossa sociedade nas minhas msicas. uma tendncia para a qual os meus produtores j esto sensibilizados. A vida ao nosso redor e a realidade do quotidiano da nossa sociedade so sem margem para dvidas a maior influncia artstica que eu tenho.

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a msica uma arte que tem um forte poder de influncia social

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certifico-me de que a minha msica espelhe valores positivos para as mulheres e para a sociedade em geralQue gnero de msica mais aprecia e onde vai beber a sua fonte de inspirao? Considero-me uma artista verstil e muito aberta s diferentes vertentes musicais que existem. Se reparar nas faixas musicais que compem a minha primeira obra discogrfica, o Meus Sentimentos, ir encontrar vrias e distintas tonalidades musicais. O mesmo acontece no lbum Cara e Coroa. Confesso que tenho uma apreciao particular pelo estilo Soul Music, pois tem a capacidade de deixar-me bastante relaxada. So bons exemplos disso as msicas cantadas pela nossa Sandra Cordeiro ou pela cantora brasileira Ftima Leo. Mas impossvel catalogar um estilo em particular que faa a minha preferncia. Sou muito universal no que concerne aos gostos musicais. hoje uma das embaixadoras da msica angolana no mundo. agrada-lhe este ttulo? O que representa para si? Fico feliz quando as pessoas se identificam com o meu trabalho. Afinal no canto s para mim prpria, canto para tocar a alma das pessoas que se identificam com as minhas letras. Se sou reconhecida como uma embaixadora da nossa cultura atravs da msica, essa designao faz de mim uma mulher muito feliz. Qual a sua maior aspirao neste momento em termos musicais? O que deseja fazer? Atualmente encontro-me numa fase de reestruturao profissional, em que estou a fazer uma anlise profunda do meu ser. Sinto que exijo mais de mim prpria, da minha voz e de todos os mecanismos que compem a cantora Prola. De momento tenho que dizer que a minha maior fonte de inspirao o meu eu. Estou a fazer uma anlise profunda a tudo aquilo que fiz no passado e a tentar melhorar o meu desempenho ao servio da msica.

dOm para a msica

peo-lhe que faa uma viagem no tempo. Qual a sua primeira memria a nvel musical? Que msicas e cantores influenciaram o seu crescimento? difcil recordar-me de algo concreto porque a msica sempre esteve presente, desde o incio da minha existncia. Lembro-me que quando era criana me deliciava com as msicas de grandes vozes como a Celine Dion, Mariah Carey ou a Ftima Leo. Em relao s nossas artistas nacionais, naquela poca ouvamos cantoras infantis como a Cllia Sambo e a Nila Borja. Alis, foi nessa altura que comecei a pensar seriamente na msica e a sonhar que um dia poderia ser eu a subir a um palco e a soltar a voz para o pblico.

Que papel tiveram os seus pais na construo da sua carreira? Os meus pais tiveram um papel fundamental na construo da minha carreira. O meu pai era msico e a minha me cantava no coro da igreja. Pelo seu percurso foram uma forte influncia para mim. Foram eles que comearam a dizer-me que tinha um dom para a msica e que sempre apoiaram a minha carreira musical. como explica esta paixo? no seu entender, para a msica preciso ter dom ou o resultado sustentado por muito esforo e trabalho? Na verdade, considero que o dom sem esforo e sem trabalho no vale de nada. Existem pes-

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soas que realmente nascem com esse dom, que acaba por ser vantajoso. Porm, se no for acompanhado de esforo e dedicao, o dom acaba por no servir de nada. Temos que pegar na ddiva que Deus nos d e cultiv-la. H que trabalh-la para que cresa e se transforme em algo lindo e til sociedade. Temo