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Page 1: Agrupamento Vertical de Escolas D. Dinis – Quarteira

Agrupamento Vertical de Escolas D. Dinis – Quarteira

Escola dos 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico D. Dinis (escola sede)

Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico/Jardim de Infância D.ª Francisca de Aragão

Exma. Sra. Ministra da Educação

Com conhecimento a:

Presidência da RepúblicaAssembleia da RepúblicaGoverno da RepúblicaProcuradoria-Geral da RepúblicaTribunal ConstitucionalGrupos ParlamentaresDirecção Regional de Educação do AlgarveConselho Geral Transitório do AgrupamentoComissão Executiva Instaladora do AgrupamentoConselho Pedagógico do AgrupamentoPlataforma SindicalÓrgãos de Comunicação Social

Suspensão da Aplicação do Modelo de Avaliação de Desempenho Docente, legislado pelo

Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro

Considerações prévias

Os professores presentes neste plenário exercem os direitos constitucionalmente previstos nos

Artigos: 37.º - Liberdade de Expressão e de Informação; 21.º - Direito de Resistência; e 45.º - Direito

de Reunião e de Manifestação, consagrados na Constituição da República Portuguesa; exercem ainda

o direito previsto no Decreto-Lei 15/2007, de 19 de Janeiro, que regulamenta o Estatuto da Carreira

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Docente, nomeadamente na alínea a) do n.º 2 do artigo 5º, direito de participação; e ainda os deveres

previstos nas alíneas a) e b) do n.º 2 do artigo 10.º, do mesmo Decreto-Lei, e redigem o seguinte

texto, que, depois de analisado por todos os presentes, será submetido a aprovação, por voto secreto.

Os professores presentes neste plenário sublinham que não os move qualquer intenção contra

pessoas ou órgãos do Agrupamento, pelo contrário, é no profundo respeito por todas as pessoas,

incluindo os alunos e as famílias, e por todos os órgãos executivos ou pedagógicos do Agrupamento

que hoje reflectem e decidem.

Introdução

Os tempos que se vivem presentemente nas escolas públicas, segunda casa de milhares de

cidadãos do nosso país, são tempos de descontentamento generalizado, de instabilidade, de

desconforto. São tempos que se multiplicam em momentos que de angústia e podem chegar a atingir

contornos de desespero e de perda total de controlo.

Os motivos que têm alargado de forma irreversível essa espiral de sentimentos, de emoções e

de reacções são sobejamente conhecidos. Cremos que não só estamos longe da bonança desejada por

todos e para todos, mas sentimos, antes, que se avizinham, inevitavelmente, momentos ainda, e cada

vez mais, difíceis de suportar, conflitos ainda, e cada vez mais, difíceis de enfrentar e de resolver.

E ao vivermos, não sem sofrimento, estes tempos, enquanto professores, continuamos, com

muito sacrifício, a ser profissionais responsáveis, evitando transmitir aos nossos alunos as

preocupações e os assombros que sentimos, e cumprindo junto deles os nossos deveres supremos de

ensinar, de orientar, de acompanhar.

Continuamos a ser, igualmente, cidadãos cumpridores dos nossos deveres gerais e, nesse

sentido, somos cidadãos esclarecidos quanto à necessidade e à obrigatoriedade de respeitar a Lei do

nosso País.

Somos ainda cidadãos que analisam contextos, que conhecem o que a História ao longo do

tempo se encarregou de escrever, que reflectem, que questionam, que dificilmente aceitam aquilo

que pressentem na sua consciência como errado. Somos ainda cidadãos capazes de discernir aquilo

que é justo ou injusto.

Somos, porém, cidadãos divididos, neste momento infeliz, entre o impulso de cidadania que

nos impele a cumprir a Lei e o apelo da voz da nossa própria consciência que nos leva a desejar a

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Justiça, no seu sentido mais lato e universal, que congrega em si mesmo outros conceitos de elevado

e inquestionável valor: a universalidade, a igualdade, a equidade, a responsabilidade, a boa fé.

Acreditamos que a Justiça é um valor supremo, um bem universal, uma garantia superior.

Acreditamos que é a Lei que deve servir a Justiça, traduzindo-a num texto compreensível por todos,

para que todos lhe possam aceder. Acreditamos que, sendo a Lei redigida e estabelecida por homens

e mulheres como nós, que erramos todos os dias das nossas vidas, a Lei não pode ser perfeita, porque

é produto da imperfeita mão humana.

Todos os dias, pois, nos é dada a oportunidade de a revermos, de a mudarmos, ainda que não

seja possível apagar os efeitos por ela já produzidos. Todos os dias temos a oportunidade e o dever

de corrigirmos o que consideramos que afinal não estava de acordo com a Justiça pretendida. É

assim que, todos os dias, são revogados, um após outro, centenas de textos que há algum tempo atrás

se nos afiguravam como perfeitos. Ao assumirmos esta condição de legisladores imperfeitos,

estamos a desejar continuamente a aproximação ao valor supremo da Justiça. E assim se processa a

construção das sociedades, salvaguardadas as naturais e evidentes diferenças culturais e outras. E

assim se processa a própria evolução intelectual do ser humano.

Ao sublinharmos de forma indelével neste papel e nas nossas vidas estas convicções, e ao

trabalharmos diariamente para que as gerações futuras as conheçam, as entendam, que livremente

delas se apropriem e que ainda as aperfeiçoem, à luz das necessidades e das exigências dos tempos

futuros, consideramos inaceitável que nos sujeitemos passivamente a um conjunto de princípios e de

procedimentos nos quais não somos capazes de reconhecer, na maior parte dos seus aspectos, a

Justiça, cujo valor defendemos.

Motivos que levam este corpo docente a decidir pela suspensão do processo de avaliação

de desempenho

É com base nas convicções atrás apresentadas, e é com plena consciência de que o dever de

qualquer cidadão é respeitar e cumprir a Lei do seu País, que hoje, humilde, consciente e

dignamente, nos manifestamos, com veemência, contra a aplicação do modelo de avaliação dos

Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, regulamentado pelo

Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, que consideramos subjectivo, injusto,

extremamente burocrático e inexequível em tempo útil e real, tendo já, em moção lavrada a 5 de

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Novembro de 2008, aliado àqueles de muitas Escolas do País o nosso pedido de suspensão do

modelo de avaliação vigente, fundamentado com várias razões que consideramos válidas, ao qual foi

dada resposta negativa da parte do Ministério da Educação, uma das altas entidades a quem o pedido

foi dirigido.

Consideramos, pois, que:

1. O modelo da avaliação de desempenho previsto no Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de

10 de Janeiro, se revela inexequível, por ser inviável aplicá-lo segundo critérios de rigor, de

imparcialidade e de Justiça exigidos pelos Professores deste Agrupamento.

2. O modelo de avaliação de desempenho em vigor pauta-se pela subjectividade dos seus

parâmetros e portanto será passível de ser questionado, inclusive através do recurso aos Tribunais.

3.O modelo de avaliação de desempenho carece, no nosso entender, de uma testagem prévia,

que lhe confira validade e legitimidade. Um procedimento desse tipo é condição essencial para

credibilizar qualquer instrumento de avaliação, com vista a que o mesmo possa vir a ser reformulado

e melhorado, antes de vir a ser aplicado ao universo de Escolas, conforme é exigido pelo Ministério

da Educação.

4. O Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, não tem em conta a complexidade

da profissão docente, cuja actividade é sobremaneira abrangente e esgotante, no trabalho diário com

os alunos, não deixando, de forma alguma, espaço e tempo para que o professor ainda venha a

dedicar um número incalculável de horas ao preenchimento de um exagerado conjunto de grelhas

que visam, na maior parte dos casos, apresentar valores numéricos e percentuais sobre realidades

inquantificáveis. O exacerbado dispêndio de tempo virá, certamente, colocar em risco o exercício

dos direitos consagrados nas alíneas b) e d) do n.º 1 do artigo 59.º - Direitos dos trabalhadores,

consagrados na Constituição da República Portuguesa, respectivamente, o direito à organização do

trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal e a

permitir a conciliação da actividade profissional com a vida familiar, e o direito ao repouso e aos

lazeres, a um limite máximo da jornada de trabalho e ao descanso semanal dos trabalhadores.

5. A impraticabilidade deste modelo e a sua falta de clareza levaram já o próprio Ministério

da Educação a não respeitar o quadro regulamentar por si criado, pois, para sua conveniência, já

introduziu várias simplificações de forma a aligeirar procedimentos, no ano lectivo transacto, tendo

decidido optar, no presente ano lectivo, muito recentemente, por mais alterações e alegadas

simplificações. Se, por um lado, tais decisões fomentam, inevitavelmente, a diversidade e falta de

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uniformização de escola para escola, embora a carreira seja a mesma para todos (Recomendação nº 2

do Conselho Científico para a Avaliação dos Professores), por outro lado, o próprio Ministério da

Educação assumiu, com essas directivas, que há alternativas ao modelo vigente.

6. A definição de muitos dos parâmetros de avaliação, pelo seu grau de subjectividade,

ressente-se de um problema estrutural – não existem quadros de referência em função dos quais seja

possível promover a objectividade da avaliação do desempenho, levando a uma aplicação não

uniforme de escola para escola, ferindo preceitos constitucionais e normas do Código do

Procedimento Administrativo (CPA) que obrigam à existência de equidade no tratamento e avaliação

dos cidadãos, incorrendo-se na inobservância desse princípio.

7. Os critérios que nortearam o primeiro Concurso de Acesso a Professor Titular, critérios

esses que foram objecto de reparo do Senhor Provedor de Justiça, ao qual o Ministério da Educação

não deu qualquer seguimento, geraram uma divisão entre “professores titulares” e “professores”,

valorizando-se apenas a ocupação de cargos nos últimos sete anos, independentemente de qualquer

avaliação da sua competência pedagógica, científica ou técnica e certificação da mesma. Neste

sistema ficaram de fora muitos professores com currículos altamente qualificados, com anos de

trabalho dedicado ao serviço da educação e com investimento na sua formação pessoal, gerando nas

escolas graves injustiças.

8. Muitos avaliadores não possuem formação ou experiência em supervisão que lhes permita

a avaliação dos seus pares. Tal foi reconhecido pelo próprio Ministério da Educação, que garantiu

que seria dada formação adequada aos avaliadores. Contudo, tal formação tem vindo a ter lugar só

muito recentemente e, para além de não abranger uma parte significativa dos avaliadores, é

insuficiente e extemporânea, dado que teve início, em grande parte, já depois do arranque do novo

ano escolar.

9. Não existe legitimidade no exercício das funções de avaliadores por professores titulares

com competências delegadas, por não ter sido cumprido o preceito legal previsto no n.º 2 do artigo

37.º do Código de Procedimento Administrativo, que faz depender esse exercício de publicação em

Diário da República.

10. O modelo de avaliação de desempenho vigente impõe quotas para a atribuição das

menções de Muito Bom e de Excelente, o que desvirtua por completo a possibilidade de os docentes

verem reconhecidos os seus efectivos méritos, conhecimentos, capacidades e competências.

11. É indefensável e lesivo dos direitos de qualquer trabalhador, neste caso, do docente, que

haja penalização pelo exercício de direitos constitucionalmente protegidos, como a

maternidade/paternidade, a doença, a participação em eventos de reconhecida relevância social ou

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académica, o cumprimento de obrigações legais e o nojo, para obtenção das classificações de Muito

Bom ou de Excelente.

12. A fixação de quotas estipuladas diferentemente, tendo por referência os resultados

obtidos na avaliação externa, concita dúvidas, mormente no que se refere à sua compatibilidade com

os princípios que fundamentam o sistema. Assim, uma escola mais bem classificada terá direito a

uma quota maior de Muito Bom e Excelente para os seus professores, diferindo de uma escola com

pior classificação. Tal acontece independentemente do esforço, do empenho, da qualidade do

trabalho dos professores que aí exerçam funções. Assim, a possibilidade da obtenção de uma

classificação por parte do professor fica dependente da escola em que tenha sido colocado, e não do

seu próprio mérito. Logo, poderá considerar-se que esta disposição fere o disposto no artigo 59.º da

Constituição da República Portuguesa, que consagra os direitos dos trabalhadores, pois, ao

estabelecerem-se quotas diferentes de escola para escola, o mesmo nível de qualidade pode vir a ter

diferentes oportunidades de ser reconhecida oficialmente, criando-se, assim a discriminação que fere

o disposto no artigo invocado. Ou seja, a prévia condicionalidade determinada pela fixação de quotas

diferenciadas para as várias escolas impede que o resultado salarial seja determinado,

exclusivamente, e como deveria decorrer, da avaliação do docente, pela qualidade do exercício

responsável da profissão.

13. O modelo de avaliação de desempenho não assegura critérios de rigor, de imparcialidade

ou de justiça estabelecidos no Artigo 6.º do Código de Procedimento Administrativo, violando as

garantias de imparcialidade previstas no disposto nas alíneas a), b) e c) do Artigo 44.º. Aí se

determina que constitui impedimento para qualquer titular de órgão ou agente da Administração

Pública intervir em procedimento administrativo ou em acto/contrato de direito público ou privado

da Administração Pública quando nele tenha interesse.

14. O Decreto Regulamentar 2/2008, de 10 de Janeiro, que regula o novo sistema de

avaliação do pessoal docente, no n.º 2 do artigo 6.º refere que “Os instrumentos de registo (…) são

elaborados e aprovados pelo Conselho Pedagógico (…), tendo em conta as recomendações que

forem formuladas pelo Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP)”. Este órgão

tem como atribuições, segundo o Decreto Regulamentar n.º 4/2008, de 5 de Fevereiro: alínea a) do

Artigo 3.º: fundamentar decisões e procedimentos em matéria de avaliação de desempenho do

pessoal docente; alínea b) do mesmo artigo: promover a adequada aplicação e utilização do sistema

de avaliação de desempenho do pessoal docente. Nesse sentido, as recomendações emanadas pelo

Conselho Científico para a Avaliação de Professores apontam, de forma clara e inequívoca, para a

não aceitação de que o progresso dos resultados escolares dos alunos seja objecto de aferição

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quantitativa, designadamente na Recomendação n.º2, de Julho de 2008, ponto 4.6 - “No caso

particular da aplicação do processo de avaliação de desempenho ao ano escolar de 2008/09, o

progresso dos resultados escolares dos alunos não seja objecto de aferição quantitativa (…)”.

Por sua vez, o Artigo 51.º do Código de Procedimento Administrativo estabelece no n.º 2 que

a omissão do dever de comunicação constitui falta grave para efeitos disciplinares. Assim, os

professores são obrigados pela lei a declararem-se impedidos de participar nos Conselhos de Turma

de avaliação, uma vez que vão decidir sobre matéria (avaliação dos alunos) relativamente à qual têm

interesse, dado que são intervenientes e parte interessada nos resultados da avaliação dos seus

alunos.

15. Decorrente do exposto no ponto anterior, ocorreria uma violação do Despacho Normativo

nº 1/2005, o qual estipula, nas alíneas a) e b) do artigo 31.º, que a “decisão quanto à avaliação final

do aluno é da competência do professor titular da turma em articulação com o conselho de docentes,

no 1.º ciclo; nos 2.º e 3.º ciclos e ensino secundário, da competência do conselho de turma sob

proposta do(s) professor(es) de cada disciplina/área curricular não disciplinar”.

16. O que o Decreto Regulamentar 2/2008, de 10 de Janeiro, define pode, inevitavelmente,

condicionar a completa isenção e imparcialidade que assiste o professor no momento da avaliação

dos seus alunos, uma vez que dos resultados escolares dos alunos, traduzidos na avaliação sumativa

de final do ano lectivo, são extraídos dados que serão incluídos na avaliação do docente, o que

desvirtua o carácter imparcial e justo da avaliação, incorrendo-se num evidente conflito de

interesses, conforme já explicitado.

17. Não é aceitável que se estabeleça qualquer paralelo entre a avaliação interna e a avaliação

externa, sendo este critério apenas aplicável às disciplinas em que os alunos realizam provas ou

exames a nível nacional, havendo, por isso, uma evidente violação do Princípio de Igualdade

consagrado no Artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa.

18. A aplicação do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, implica um

incalculável acréscimo de trabalho, muitas vezes exclusivamente burocrático, para todos os

docentes, acréscimo ainda mais acentuado para os professores avaliadores, sem que isso corresponda

a um mínimo de benefício real para a comunidade educativa, sobretudo para os alunos, antes pelo

contrário, pois existe um forte e inegável risco de serem relegadas para segundo plano as actividades

prioritárias de qualquer professor: preparar as aulas, dar as aulas, apoiar os seus alunos, avaliar os

seus alunos e participar activamente na vida da sua Escola.

Cremos que, nesta perspectiva, poderá ficar em risco o exercício do direito constitucional

previsto no artigo 59.º - Direitos dos trabalhadores, que determina, voltamos a sublinhar: o direito à

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organização do trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização

pessoal e a permitir a conciliação da actividade profissional com a vida familiar, e o direito ao

repouso e aos lazeres, a um limite máximo da jornada de trabalho e ao descanso semanal dos

trabalhadores.

19. Não nos é possível reconhecer na complexidade do modelo de avaliação vigente uma

mais valia para a melhoria da qualidade da Escola Pública que temos e que defendemos.

20. As alterações recentemente propostas pelo Ministério da Educação foram decididas,

segundo nos parece, sob pressão generalizada sobre a tutela e em tempo que se nos afigura como

insuficiente para a necessária reflexão e decisão. Uma vez mais, a postura do Ministério da

Educação, validada desta vez por uma decisão tomada em Conselho de Ministros reunido

extraordinariamente para o efeito, vem demonstrar claramente que existem inegáveis insuficiências

no modelo vigente de avaliação de desempenho dos docentes, que o mesmo apresenta uma estrutura

altamente burocratizada, daí a necessidade de se procederem a simplificações, e que o recurso aos

resultados escolares dos alunos é critério duvidoso, daí a sua exclusão do processo, neste momento,

mas que no futuro será retomado, do referido critério. As simplificações do modelo são, neste

sentido, inaceitáveis, pois os procedimentos a seguir são praticamente os mesmos, senão com

acréscimo de tomada de novas decisões quanto a novos rumos a seguir, tal como é inaceitável e

desrespeitoso que o Ministério da Educação atribua às Escolas a culpa pela morosidade e

complexidade da aplicação do modelo de avaliação legislado, uma vez que da simples consulta do

Despacho n.º 16872/2008, e dos respectivos dezasseis anexos, facilmente, e sem margem para

dúvidas, se conclui a impraticabilidade deste modelo de avaliação, em tempo útil e real.

Consideramos, pois, ter chegado o momento de tomarmos uma posição firme e coerente com

todos os princípios e valores que defendemos e de assumirmos, claramente, a livre vontade de

suspendermos, neste Agrupamento de Escolas o processo de avaliação de desempenho docente

legislado pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, por tempo indeterminado, no que

se refere a todos e quaisquer procedimentos conducentes à aplicação do modelo de avaliação de

desempenho docente em vigor, predispondo-nos a aguardar com humildade e com coragem, uma

reflexão mais aprofundada e uma decisão fundamentada por parte das entidades competentes,

nomeadamente, do Ministério da Educação, e dos órgãos de soberania do nosso País,

designadamente, Presidente da República, Assembleia da República e Governo, sobre esta questão

que atinge, presentemente, toda a comunidade educativa e, no fundo, todos os cidadãos de Portugal.

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Após demorada discussão e reflexão, os professores do corpo docente do Agrupamento

Vertical de Escola D. Dinis – Quarteira, reunido, em plenário, na Escola do Ensino Básico dos 2.º e

3.º D. Dinis, escola sede do Agrupamento, votaram a proposta de suspensão da aplicação do modelo

de avaliação de desempenho dos professores dos Ensinos Básico e Secundário. A votação decorreu

através de voto secreto, com os seguintes resultados:

- Total de professores do corpo docente do Agrupamento: 112 (cento e doze);

- Total de votantes: 104 (cento e quatro), 92,8 % do corpo docente;

- Total de votos a favor: 97 (noventa e sete), 93,3 % dos votantes;

- Total de votos contra: 3 (três), 2,8 % dos votantes;

- Total de votos em branco: 2 (dois); 1,9 % dos votantes;

- Total de votos nulos: 2 (dois), 1,9 % dos votantes.

Como cidadãos responsáveis e conscientes dos seus direitos e deveres, sublinhamos que é

com respeito e em consciência que protelamos, voluntariamente, por tempo indeterminado, o

cumprimento do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, acreditando, intimamente, que

desta forma estamos a sustentar a luta pelo valor supremo da Justiça, um dos pilares universais da

vida humana em sociedade, que queremos transmitir à geração actual e às gerações futuras.

Acreditamos que é sendo coerentes com o sentido de Justiça que dela somos merecedores.

Quarteira, 25 de Novembro de 2008

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