agrotÓxicos na produÇÃo de hortifrÚti: um estudo em … · professora do programa de mestrado...
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Pelotas - RS, 06 a 08 de julho de 2016
SBSP - Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção
AGROTÓXICOS NA PRODUÇÃO DE HORTIFRÚTI: UM ESTUDO EM UMA
PROPRIEDADE DA AGRICULTURA FAMILIAR
PESTICIDES IN HORTIFRUTI PRODUCTION: A STUDY ON A FARMING
FAMILY PROPERTY
André Socoloski
Acadêmico do Curso de Ciências Contábeis
Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT Campus de Tangará da Serra MT
Cleci Grzebieluckas
Professora do Programa de Mestrado em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola –
PPGASP
Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT Campus de Tangará da Serra MT.
Andréia Rezende da Costa Nascimento
Mestranda do Programa em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola – PPGASP
Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT Campus de Tangará da Serra MT.
Josiane Silva Costa dos Santos
Mestranda do Programa em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola – PPGASP
Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT Campus de Tangará da Serra MT.
Thiago Vargas Maldonado
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Contabilidade da Universidade Federal
do Paraná (PPGCONT-UFPR)
Grupo 2. Segurança alimentar e agricultura familiar
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Resumo
O objetivo do estudo foi descrever como é realizado o uso e aplicação dos agrotóxicos na
produção de hortifrúti em uma propriedade da agricultura familiar em Tangará da Serra - MT.
A pesquisa foi realizada em 2015 e usou como instrumentos de coleta roteiro estruturado,
observação direta e entrevistas com a família. Foram levantados cultivares e os agroquímicos
utilizados na propriedade, bem como aspectos socioeconômico da família e ambiental da
propriedade. Identificou-se que há uso de agrotóxico em todas as culturas, sendo o tomate a
que exige uma maior variedade e quantidade, no entanto não usados equipamentos de
proteção individual (EPIs). A família possui cultura predominante agrícola e tem como base
econômica o cultivo de alface e tomate. No tocante as questões ambientais verificou-se que a
propriedade encontra-se em dia que a Legislação Ambiental.
Palavras-chave: Risco. Contaminação. Embalagem. Meio Ambiente
Abstract
The aim of the study was to describe how it is done the use and application of pesticides in
grocery production in a property of the family farm in Tangara da Serra - MT . The survey
was conducted in 2015 and used as structured script collection instruments , direct
observation and interviews with family . cultivars and agrochemicals were used raised on the
property , as well as socio-economic aspects of family and environmental property . It was
identified that there is use of pesticides in all cultures , and tomato that requires a greater
variety and quantity, however not used personal protective equipment ( PPE ) . The family
has agricultural predominant culture and its economic base growing lettuce and tomato.
Regarding environmental issues it found that the property is on the day that the
Environmental Legislation .
Key words: Risk. Contamination. Packing. Environment.
1. Introdução
O crescimento populacional de forma exponencial evidenciado no ultimo século,
passando de dois bilhões de pessoas em 1922 (ALVES, 2007) para próximo de 7,3 bilhões em
2015 (COUNTRYMETERS, 2015) provocou o aumento na demanda por mais alimentos.
Essa demanda, aliada à degradação ambiental e o monocultivo resultaram no surgimento de
diversas pragas nas lavouras, exigindo assim melhorias das técnicas de produção, e fabricação
de agrotóxicos (CASSIANO; MELO, 2014).
Tais pragas interferem na vida das pessoas há milhares de anos, existindo registros na
Bíblia, que insetos e fungos devastaram plantações. Naquela época, as pragas eram
consideradas castigo dos deuses em razão do comportamento do homem, que sempre buscou
maneiras de combate-las usando de rituais religiosos. No entanto, nem sempre os resultados
eram satisfatórios surgindo a necessidade de desenvolver novos mecanismos de produção
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desencadeando a criação dos agrotóxicos, um dos grandes avanços da agricultura, resultando
assim no aumento da produção de alimentos (BRAIBANTE; ZAPPE, 2012).
Estas substâncias são utilizadas, especialmente nos sistemas de monocultura em
grandes extensões e também em pequenas propriedades com cultivos diversificados. Os
agroquímicos também são usados na saúde pública para a eliminação e controle de vetores
transmissores de enfermidades endêmicas como doença de chagas, malária, dengue entre
outros (DOMINGUES, 2004).
O Brasil é líder mundial na utilização de agrotóxicos consumindo mais de 1 milhão de
toneladas ano, uma média de 5,2 Kg por habitante (MILHORANCE, 2015; RADIO EBC,
2015). Mato Grosso lidera o ranking nacional no uso de insumos químicos atingindo média de
113 mil toneladas ano, isso se deve a produção de grandes monoculturas de exportação como
a soja, o milho e o algodão (HOLLAND, 2012).
A agricultura familiar é responsável por produzir aproximadamente 80% dos
alimentos consumidos no mundo (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A
ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA – FAO, 2014), no Brasil, aproximadamente 70% do
alimento consumido é oriundo da agricultura familiar (MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA, 2016). Segundo Melo e Vilela (2007) no Brasil
60% da produção de hortaliças advém de propriedades de exploração familiar com menos de
10 hectares, maximizando tanto o uso do espaço quanto do tempo.
A participação das hortaliças nas venda de agrotóxicos no Brasil representa entre 3 a 5%
no volume total (ALMEIDA; CARNEIRO; VILELA, 2009), neste contexto o objetivo do estudo
é descrever como é realizado o uso e aplicação dos agrotóxicos na produção de hortifrúti em
uma propriedade da agricultura familiar em Tangará da Serra - MT. Justifica-se a pesquisa em
razão de que na maioria das vezes não há um detalhamento dos tipos e quantidades de
produtos químicos utilizados na produção de hortifrúti das propriedades familiares. Embora
existam estudos que tratam do uso desses em hortaliças (ALMEIDA; CARNEIRO; VILELA,
2009; SOUZA et al, 2012; RIZZATO et al, 2015) no Estado de Mato Grosso estes ainda são
incipientes.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Histórico, definição e classificação dos agrotóxicos
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A produção de agrotóxicos foi pensada incialmente para ser uma arma química, na
Primeira Guerra Mundial, porém, utilizada somente na Segunda Guerra Mundial. Após o fim
dos conflitos os químicos das forças armadas voltaram à produção dos agrotóxicos para a
agricultura, pois concluíram que, se são letais para humanos, provavelmente seriam para os
insetos (LISBOA; SENA; DUTRA, 2007; BRAIBANTE; ZAPPE, 2012). A partir de então
com a revolução verde (1950) deu-se o inicio ao amplo uso de agrotóxicos e fertilizantes
químicos, uma nova era tecnológica que iria modificar as bases de produção agrícola mundial,
principalmente nos países em desenvolvimento os quais tinham a responsabilidade de acabar
com a fome do mundo (PERES; MOREIRA, 2003).
No Brasil, a utilização de agrotóxicos teve origem entre as décadas de 60 e 70, quando
no campo iniciava um progressivo processo de automação das lavouras, juntamente com o
programa de maquinário e utilização de produtos agroquímicos. Sua implementação foi
estimulada pelo Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), que vinculava a concessão de
empréstimos aos agricultores à fixação de um percentual a ser gasto com produtos químicos,
considerados, então, símbolo da modernidade no campo (MOURA, 2005).
De acordo com a Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989 agrotóxicos e afins são produtos
e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de
produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas. São utilizados nas
pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas
podendos ser em ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a
composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos
considerados nocivos. Esses produtos e agentes só poderão ser produzidos, exportados,
importados, comercializados e utilizados, se previamente registrados em órgão federal, de
acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde,
do meio ambiente e da agricultura. (BRASIL, 1989);
Os agrotóxicos possuem duas classificações: a toxicológica e o potencial de
periculosidade ambiental. A toxicológica é definida pela Agencia Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), que classifica os agrotóxicos em quatro classes Classe I: Extremamente
Tóxico; Classe II: Altamente Tóxico; Classe III: Medianamente Tóxico; e Classe IV: Pouco
Tóxico (ANVISA, 2009). Ainda existem produtos que não recebem classificação
toxicológica, por apresentarem características teratogênicas, carcinogênicas e mutagênicas, ou
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causarem distúrbios hormonais, pois o registro desses é proibido (BRASIL, 1989; ANVISA,
2009).
Já o potencial de periculosidade ambiental é realizado pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Baseia-se nos parâmetros de
bioacumulação, persistência, transporte, toxicidade a diversos organismos, potencial
mutagênico, teratogênico e carcinogênico. São classificados em: Classe I: Produto Altamente
Perigoso; Classe II: Produto Muito Perigoso; Classe III: Produto Perigoso; e Classe IV:
Produto Pouco Perigoso (IBAMA, 1996).
De acordo com Yamashita (2008) os agrotóxicos e afins são classificados de acordo
com sua função: Inseticidas: controlam insetos; Fungicidas: destroem ou inibem fungos;
Herbicidas: combatem plantas invasoras; Desfolhantes: eliminam folhas indesejadas;
Fumigantes? combatem bactérias do solo; Raticidas: combatem ratos e outros roedores;
Moluscocidas: combatem moluscos; Nematicidas: combatem nematoides; Acaricidas:
utilizados no combate a ácaros. Os grupos químicos das principais classes são apresentados
no quadro 1.
Quadro 1 - Classificação química das principais classes de pesticidas
Classe Grupos Químicos
Inseticidas
Organoclorados
Organofosforados
Carbamatos
Piretróides (sintético)
Fungicidas
Ditiocarbamatos
Organoestânicos
Dicarboximidas
Herbicidas
Glicina substituída
Derivados do ácido fenóxiacético
Dinitrofenóis
Pentaclorofenol
Fonte: Rodrigues (2012)
As classificações químicas apresentadas no quadro 1 são as principais classes usadas
no mundo, sendo que o herbicida é o mais utilizado no Brasil, representando cerca de 50% do
total anual (JARDIM; ANDRADE; QUEIROZ, 2009).
2.2. Risco da utilização dos agrotóxicos
Os agrotóxicos representam risco químico potencial aos seres humanos e a todo bioma
em geral (MOURA, 2005). Além dos perigos aos seres humanos, nos aspectos ocupacionais,
alimentares e de saúde pública, sabe-se que a utilização no ambiente pode provocar efeitos
indesejáveis, tendo como consequência mudanças no funcionamento do ecossistema afetado
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(SPADOTTO, 2006). Segundo Soares e Porto (2007) ao decidir sobre o uso de agrotóxicos,
devem ser calculados o custo benefício, devendo ser considerado como custo, não somente o
privado com a aquisição do produto e aplicação, mas as externalidades causadas por esses
tanto para humanos quanto para o meio ambiente (Figura 1), e os benefícios são os ganhos de
produtividades obtidos, e a perda de produtos pós colheita evitada.
Figura 1 - Externalidades do uso dos agrotóxicos
Fonte: Soares e Porto (2007)
O aumento do uso de agrotóxicos representam um risco para o ser humano, uma vez
que podem ser encontrados nos alimentos, seja diretamente, como resultado da aplicação na
produção, transporte ou armazenamento, ou indiretamente como no caso de animais de corte
alimentado com ração vegetal contaminada, provocando diversas doenças pois, alguns
produtos químicos possuem componentes que podem atuar como “disruptores endócrinos”
(MOURA, 2005).
Os trabalhadores rurais são os que mais correm o risco de contaminação pelo uso
exagerado dos agrotóxicos, uma vez que, preparam as caldas, fazem a aplicação, limpam os
maquinários que são utilizados na pulverização bem como a colheita das culturas. Esse risco
depende da exposição e fatores como: a toxicidade do produto em humanos; as condições da
exposição e os níveis de exposição ocupacional (DOMINGUES et al, 2004).
Os sintomas de intoxicação podem ser diferentes em cada pessoa de acordo com o tipo
de produto e exposição que sofreu (Quadro 2).
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Quadro 2 – Principais sintomas de intoxicação por agrotóxicos
Irritação ou nervosismo Ansiedade e angustia Fala com frases desconexas
Tremores no corpo Indisposição Fraqueza
Mal-estar Dor de cabeça Tonturas
Alterações visuais Vômitos Cólicas abdominais
Respiração difícil Dores no peito e falta de ar Vertigens
Convulsões Desmaios Náuseas
Perda de consciência e até coma Queimaduras e alterações na pele Salivação e sudorese aumentadas
Dores pelo corpo inteiro, em
especial nos braços, pernas e
peito
Irritação de nariz, garganta e olhos,
provocando tosse e lágrimas
Urina alterada seja na quantidade
ou na cor
Fonte: Lisboa, Sena e Dutra (2007)
A intoxicação por agrotóxico pode ser classificada em três tipos: aguda, subaguda e
crônica. Aguda é aquela que os sintomas surgem rapidamente, pouco tempo após a exposição
excessiva a produtos extremamente ou altamente tóxicos, os sintomas são nítidos e objetivos e
podem ocorrer de forma leve, moderada ou grave. A subaguda é aquela que os sintomas
surgem mais lento, por exposição moderada ou leve a produtos altamente tóxicos ou
medianamente tóxicos, os sintomas são subjetivos e vagos. A crônica é aquela que se
caracteriza por um surgimento mais tardio dos sintomas, meses ou anos, por exposição
pequena ou moderada a produtos tóxicos ou a múltiplos produtos, podendo causar danos
irreversíveis, como paralisias e neoplasias (DOMINGUES et al, 2004).
Se usado corretamente os agrotóxicos causam pouco impacto, mas, se utilizado de
forma indiscriminada põe em risco tanto o meio ambiente como também as pessoas que
entram em contato com esses produtos, pois traços de resíduos de pesticidas presentes no
solo, água, ar e alimentos podem ser perigosos à saúde (CASSAL et al, 2014). Porém a
contaminação por agrotóxicos pode afetar o meio ambiente de forma indireta, aumentando a
resistência de pragas ou eliminando indesejáveis predadores naturais de certos micro-
organismos (VEIGA; SILVA; VEIGA, 2005), uma vez que certas substancias como, por
exemplo, o Aldrin e o DDT levam respectivamente 6 e 30 anos para desaparecer 95% no meio
ambiente (DOMINGUES et al, (2004).
3. METODOLOGIA
3.1. Caracterizarão da pesquisa e instrumentos de coleta
A pesquisa é de natureza descritiva com abordagem quali-quantitativa e usou como
estratégia de pesquisa o estudo de caso. As pesquisas descritivas buscam investigar, analisar,
registrar e classificar os fatos ou fenômenos sem a interferência do pesquisador
(RICHARDSON et al, (2012). A abordagem quantitativa busca quantificar dados e
normalmente envolve análise estatística, já a qualitativa visa coletar informações das
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opiniões, costumes, hábitos e anseios dos entrevistados, pode ser utilizada para explicar as
descobertas feitas pela pesquisa quantitativa (MALHOTA, 2010). O estudo de caso é uma
investigação empírica que analisa um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da
vida real (YIN, 2005). Portanto, acredita-se que a pesquisa se enquadra nos parâmetros
descritos acima.
Os instrumentos de coleta foram roteiro estruturado, observação direta e entrevistas
com a família composta por 5 membros, o casal e três filhos adultos. Com base nesses
instrumentos foram levantados aspectos socioeconômico da família e ambiental da
propriedade bem como os cultivares e agroquímicos utilizados.
3.2. Área de estudo
O estudo foi realizado em uma propriedade familiar no município de Tangará da Serra
MT localizada a 4,5 Km do centro da cidade. Possui 6.05 hectares, se dedica ao cultivo de
frutas e hortaliças e a mão de obra é estritamente familiar. A identificação das cultivares
produzidas, os produtos agroquímicos utilizados, a quantidade e frequência de aplicação em
cada cultura foi com base em entrevista e observação direta. Já a identificação do grupo
químico e as classificações dos agrotóxicos usados na propriedade utilizou-se dos rótulos e ou
bulas fornecidas pelo produtor.
Também foi indagado se conhecem a legislação no que se refere ao uso do agrotóxico,
destino dado às embalagens e se sabem dos riscos que esses produtos causam tanto ao ser
humano quando ao meio ambiente.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Aspectos sociais, econômicos e ambientais da propriedade
Os proprietários possuem respectivamente 61 e 55 anos de idade, aposentados, ambos
ensino primário. Migraram do Estado do Paraná (PR) para Tangará da Serra (MT) na década
de 70 e em 80 se conheceram e constituíram família, composta por três mulheres e dois
homens. Três (dois homens e uma mulher) possuem ensino superior e vivem com os pais,
somente um deles cursou o Ensino Superior em Universidade Pública, os demais por meio de
Financiamento Estudantil (FIES) e Programa Universidade para Todos (PROUNI). O trabalho
no campo é realizado pelo proprietário e dois filhos enquanto os afazeres domésticos ficam a
cargo da esposa e filhas.
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Parte da propriedade (50%) foi recebida de herança e a outra adquirida através de
permuta, dando continuidade a sucessão familiar de pai para filho. O investimento na
propriedade é realizado com recursos próprios, nunca buscaram fontes externas de
financiamento. A família possui uma casa de alvenaria de 140m2 e, três veículos uma Parati
ano 1994, uma S10 ano 2001, que são usados para entrega da produção, e uma Honda Biz ano
2008/2009. O faturamento médio mensal da família, excluídos os custos de produção, é cerca
de 7,5 salários mínimos.
A infraestrutura de produção consta com um sistema de irrigação por aspersor e
gotejamento, três estufas para o cultivo de tomate com cerca de 350m2 cada, e uma de 12m2
para a produção de mudas, e demais equipamentos manuais (bomba costal ferramentas
manual em geral). O único serviço contratado é hora máquina para preparar o solo.
Até 2003 a família trabalhava com a cafeicultura e outras culturas temporárias como o
milho e arroz. A partir de então, começaram a trabalhar com a hortifruticultura, deixando as
demais atividades de lado, pois verificaram maior lucratividade, em razão da facilidade em
comercializar parte dos produtos diretamente para os consumidores uma vez que apenas cerca
de 150 metros separa a propriedade do bairro mais próximo. Segundo o proprietário essa
proximidade possui pontos positivos e negativos: o positivo é a venda direta e o negativo é a
presença de vândalos que furtam alguns produtos. Além da comercialização direta (in situ)
também é feita a comercialização no atacado por meio de pedidos e ano varejo duas vezes por
semana.
A propriedade possui Cadastro Ambiental Rural (CAR), área de preservação
permanente (APP) e Reserva Legal (RL), ambas 30m à margem do córrego Palmital que
abastece o sistema de irrigação.
4.2. Aspectos agroquímicos da propriedade
Em termos de volume o mais usado é o herbicida (13 litros/ano), representando mais
de 50% dos produtos químicos utilizados na propriedade (Quadros 3 e 4).
Quadro 3 - Herbicidas utilizados na propriedade e suas classificações
Nome
Comercial
Ingrediente
Ativo
Grupo
Químico
Classificação
Quanto a
Ação
Classificação
Toxicológica
Classificação
Ambiental
Quantidade
Usada por
ano
Gramocil Paraquate,
Diurom
Ureia +
bipiridilio
Herbicida não
seletivo de
ação não sistêmica
Classe I –
Extremamente Tóxico
Classe II –
Muito Perigoso
7 litros
Roundup Glifosato Glicina Herbicida não Classe II – Classe III - 5 litros
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substituída seletivo de
ação sistêmica
Altamente
Tóxico
Perigoso
Targa 50
EC
Quizalofope-
p-metílico
ácido
ariloxifenoxipro-
piônico
Herbicida
graminicida
seletivo
Classe I –
Extremamente
Tóxico
Classe II –
Muito
Perigoso
1 litros
Total de herbicidas 13 litros
Fonte: Dados da pesquisa
No tocante à variedade o inseticida é o mais usual (Quadro 4). Dado semelhante foi
encontrado no estudo de Marques, Neves e Ventura (2010) Londrina - PR, que na produção
de hortaliças, os inseticidas predominaram. Segundo o produtor, essas variedades são
necessárias pelo fato de alguns insetos criarem resistência a um produto, sendo indispensável
outra variedade coadjuvante no controle das pragas.
Quadro 4 - Agrotóxicos utilizados na propriedade e suas classificações
Nome
Comercial
Ingrediente
Ativo
Grupo
Químico
Classificação
Quanto a
Ação
Classificação
Toxicológica
Classificação
Ambiental
Quantidade
Usada por
ano
Assist Óleo Mineral Hidrocarbonetos
Alifáticos
Inseticida e
acaricida de
contato, e
adjuvante
Classe IV –
Pouco tóxico
Classe IV –
Pouco
perigoso
4 litros
Belt Flubendiamida Diamida do
ácido ftálico
Inseticida de
contato
Classe III –
Medianamente
tóxico
Classe III -
Perigoso 0,25 litros
Evidence Imidacloprido Neonicotinoides Inseticida
sistêmico
Classe IV –
Pouco tóxico
Classe III -
Perigoso 1 Kg
Cobre
Atar BR
Óxido
Cuproso Inorgânico
Fungicida e
Bactericida
de Contato
Classe IV –
Pouco Tóxico
Classe III -
Perigoso 2 Kg
Iharaguen-s
Polioxietileno alquifenol éter
Não contém na Bula
Espalhante Adesivo
Classe II –
Altamente Tóxico
Classe IV –
Pouco perigoso
1 litros
Manzate
WG Mancozebe Alquilenobis
Fungicida
Protetor
Classe I –
Extremamente
Tóxico
Classe II –
Muito
Perigoso
2 Kg
Pirate Clorfenapir Análogo de
pirazol
Inseticida e
Acaricida de
contato
Classe III –
Medianamente
tóxico
Classe II –
Muito
Perigoso
1 litros
Fonte: Dados da pesquisa
Verifica-se (Quadro 5) que as culturas com maior uso de agrotóxicos são abóbora,
brócolis, couve-flor, repolho, pepino, tomate e vagem. Segundo o agricultor, essas culturas
sofrem um forte ataque de insetos sendo necessária a aplicação preventiva, que é realizada
uma vez por semana. Informa também que, o herbicida Targa 50 EC é utilizado somente
quando existe uma forte invasão de capim.
Quadro 5 - Agrotóxicos utilizados nas culturas e frequência de uso
Cultura Agrotóxicos Aplicados Frequência de Aplicação
Abacaxi Gramocil 1 vez por ano
Abobora Targa 50 EC 1 vez no ciclo produtivo
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Assist; Manzate WG; Evidence 1 vez por semana
Alface Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Almeirão Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Banana Gramocil 1 vez no ano
Berinjela Pirate Quando verificar ataque de insetos
Beterraba Pirate Quando verificar ataque de insetos
Brócolis Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Assist; Belt; Pirate; Manzate WG 1 vez por semana
Cenoura Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Couve Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Assist; Belt; pirate Quando verificar ataque de insetos
Couve-flor Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Assist; Belt; Pirate 1 vez por semana
Jiló Assist; Pirate Quando verificar ataque de insetos
Mandioca Gramocil; Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Milho
Verde Gramocil 1 vez no ciclo se houver necessidade
Pepino Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Assist; Belt; Pirate; Manzate WG 1 vez por semana
Pimenta Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Assist; Manzate WG Quando verificar necessidade
Pimentão Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Assist; Manzate WG Quando verificar necessidade
Quiabo Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Repolho Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Assist; Belt; Pirate 1 vez por semana
Rúcula Targa 50 EC; 1 vez no ciclo se houver necessidade
Tomate
Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Assist; Belt; Evidence; Cobre Atar BR;
Manzate WG; Pirate 1 vez por semana
Vagem Targa 50 EC 1 vez no ciclo se houver necessidade
Assist; Manzate WG; Pirate 1 vez por semana
Fonte: Dados da pesquisa
O tomate é a cultura que tem uma maior variedade de agrotóxicos usado na
propriedade, que são aplicados uma vez por semana, menos que a relatada por Carvalho
(2014) no qual os produtores fazem em média duas a três aplicações por semana de acordo
com as condições climáticas. As culturas que tem uma menor utilização são o abacaxi, a
banana e a mandioca, que usa somente o herbicida Gramocil, com apenas uma aplicação por
ano, sendo que essas culturas não têm nenhum contato direto com o pesticida, pois o
herbicida usado é do tipo contato, ou seja, mata as plantas que tiverem contato com o mesmo.
O responsável pela aplicação de agrotóxicos relata que nunca fez uso equipamento de
proteção individual (EPI), no entanto, não há casos intoxicação na família. A justificativa pelo
não uso é o calor e o desconforto, mas declara ser cauteloso ao aplicar os pesticidas em
relação a posição do vento para não ser atingido diretamente pela calda, e não caminhar nos
locais que foi aplicado por um determinado período. Motivo semelhante do não uso dos EPIs
foi encontrado no estudo de Marques, Neves e Ventura (2010), os quais identificaram que
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30% dos entrevistados não utilizavam EPIs, e dos que disseram usar, 75% não faziam o uso
do equipamento completo. Por outro lado Souza et al, (2012) em Santa Inês – MA,
verificaram que 67% dos produtores não faziam uso de nenhum tipo de equipamento de
proteção.
No que se refere às embalagens dos agrotóxicos, o agricultor não recebe nenhuma
orientação sobre o descarte correto no momento da compra do produto, mas diz saber da
obrigatoriedade da logística reversa, porém não a faz, o destino final dado é queima. Em
Boqueirão – PB, Nogueira e Dantas (2013) identificaram que 62,5% dos agricultores
pesquisados não descartavam as embalagens adequadamente, em Santa Inês – MA, Souza et
al. (2012), verificaram que 50% dos produtores descartavam as embalagens junto ao lixo
comum e os demais próximo a plantação.
Quanto ao receituário agronômico, o agricultor relata que não possui orientação
técnica para a aquisição dos produtos, pois a mesma se dá por meio de vendedores de insumos
e ou outros produtores, corroborando, portanto, com Souza et al. (2012) que também
verificaram ausência de orientações especializadas no uso de agrotóxicos. Já na aplicação o
agricultor recebe orientação através do filho, técnico em mecanização agrícola.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo permitiu identificar que há uso de agrotóxico em todas as culturas, sendo o
tomate a que exige uma maior variedade e quantidade, no entanto não são usados
equipamentos de proteção individual (EPIs). A família possui cultura predominante agrícola
e tem como base econômica o cultivo de alface e tomate. No tocante as questões ambientais
verificou-se que a propriedade encontra-se em dia que a Legislação Ambiental.
Apesar de haver preocupação com o meio ambiente e com a saúde dos consumidores,
o produtor corre risco de contaminação, por não ter orientação de pessoal qualificado, e
principalmente pelo não uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) no momento do
manuseio dos produtos químicos. Portanto, sugere-se que façam o uso de EPIs para evitar
problemas de saúde pela exposição direta como o uso dos agrotóxicos.
Recomenta que sejam feitos trabalhos semelhantes em outras propriedades da
agricultura familiar, tanto no município tangaraense quanto em outros a fim de confrontar os
resultados aqui obtidos. Sugere-se também que seja feita uma analise química dos produtos, a
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fim de verificar o índice de contaminação dos produtos pelos agrotóxicos utilizados bem
como estimar o risco destes à saúde humana.
REFERÊNCIAS
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