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Programa de Ps-Graduao em Agroecolcogia da Universidade Estadual do Maranho

Programa CT&I EM APOIO A AGRICULTURA FAMILIAR

INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAO PARA A AGRICULTURA

ENTRE O TRPICO MIDO E SEMI-RIDO MARANHENSE

Coordenao e Organizao

Prof Emanoel Gomes de Moura

dos autores 1 edio:2004 Direitos reservados desta edio: Curso de Mestrado em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranho UEMA Capa: Joo Reis Salgado Costa Sobrinho

Agroambientes de transio: entre o trpico mido e o s emi-rido. / organizado por Emanoel Gomes de Moura. So Lus: UEMA, 2002. 1. Agroambientes Trpico. I. Ttulo.

PREFCIOO baixo estoque de conhecimento o maior obstculo para o desenvolvimento. Ele aprofunda o fosso entre ricos e pobres. No Estado do Maranho o conhecimento, alm de raro, est sob o domnio de poucos e no sistematizado, o que no permite que seja publicado e difundido. Esta distoro amplia a pobreza e a desigualdade, tornando incuas mesmo as polticas bem intencionadas e implementadas com recursos abundantes. Neste contexto, relevante o papel de tcnicos e pesquisadores que, driblando todas as dificuldades na rea de produo e difuso do conhecimento, concentram esforos e buscam parecerias para disseminar informaes da maior importncia para a compreenso das causas bsicas da pobreza rural maranhense e ainda se aventuram em indicar caminhos tcnicos seguros para a superao dos obstculos e melhoria das condies de vida da populao rural envolvida nas atividades de agricultura, extrativismo, pesca artesanal, criao de pequenos animais e outras, integrantes da chamada produo familiar rural. A presente publicao, composta de oito trabalhos, passeia sobre o territrio maranhense a partir de seus agroambientes e vegetao; indica alternativas para a agricultura de corte e queima e recuperao de reas degradadas; apresenta informaes especficas sobre o solos da regio da baixada, ecossistema frgil de grande potencial; estuda atividades complementares agricultura, como a meliponicultura e, finalmente, aborda temas como manejo de pragas e o potencial de aproveitamento das frutas nativas, como elemento complementar do fantstico arranjo produtivo - teia concebida e traada pelo bravos e criativos produtores familiares do Maranho, para continuar sobrevivendo mesmo em um cenrio de polticas pblicas que os ignoram como elementos potenciais para construo de um novo padro de desenvolvimento, pautado no fortalecimento da democracia, na ampliao da cidadania e na busca da sustentabilidade. O Instituto Interamericano de Cooperao para a Agricultura IICA, atravs da Coordenao-Geral de Projetos do Maranho, sente-se honrado em poder contribuir para que o conhecimento dos ilustres pesquisadores possa ser desconcentrado e avance para todos os rinces do Estado do Maranho.

Josemar Sousa LimaCoordenador de Projeto IICA/Maranho

APRESENTAODetermine que algo pode e deve ser feito, e ento voc achar o caminho para faz-lo. Abraham Lincoln

A melhor maneira de prever o futuro cri-lo. O futuro que comeou nos primrdios da dcada de 90, prxima passada, chega, hoje, com este livro, mais uma vez considerando as inmeras vitrias, ao pice de sua realizao. H dez anos, muitos dos que aqui se fazem presentes como autores e outros que hoje j trilham novos caminhos, ns, que vislumbrvamos os destinos da Universidade Estadual do Maranho UEMA, no somente como o relevante lugar do ensino mais tambm da produo do conhecimento, nos permitimos sonhar com um programa de psgraduao. Prevamos um futuro novo materializado por um Curso de Mestrado em Agroecologia. certo, que ainda circunspeto a um desejo expresso de uma nova Agronomia, impulsionado pelos visveis sinais de exausto do modelo de agricultura vigente certo que tambm plenamente justificado pelo honroso cargo que pessoalmente exercia de Coordenador da Unidade de Estudos de Agronomia, representante deveras dos anseios dos ilustres professores daquele Curso. Ainda bem que breve foi a nossa dimenso inicial, pois, sob os auspcios da interdisciplinaridade, logo percebemos o alcance e a importncia do projeto para muitas outras reas do conhecimento. Interdisciplinaridade que por fim veio a constituir o pilar de sustentao do Programa de Ps-Graduao em Agroecologia da UEMA. A principal meta da agroecologia a resoluo dos problemas da

sustentabilidade. No entanto, Miguel Altiere (expoente pesquisador de sistemas agroecolgicos de produo), ressalta que no basta abordar apenas os aspectos tecnolgicos sem considerar as questes econmicas e sociais. Considerando os aspectos: ecolgico, tecnolgico e socioeconmico, a agroecologia, ao contrrio do que aparenta, no uma disciplina nova, mas um novo campo de estudos, que busca combinar as contribuies de diversas disciplinas: Agronomia, Sociologia Rural, Ecologia e Antropologia. Desta forma, o termo agroecologia deixa de ser compreendido como uma disciplina cientfica que estuda os agroecossistemas, ou seja, as relaes ecolgicas que ocorrem em um sistema agrcola, para tornar-se mais uma

prtica agrcola propriamente dita, ou ainda um guarda-chuva conceitual que permite abrigar vrias tendncias alternativas. A agroecologia, cincia que enfoca o estudo da agricultura desde uma perspectiva ecolgica, tem surgido como um novo marco do desenvolvimento agrcola. mais sensvel s complexidades do setor do que o modelo convencional, porque inclui entre os seus objetivos e critrios, alm da maior produtividade agrcola, aspectos como a sustentabilidade, segurana alimentar, estabilidade biolgica e conservao de recursos. Portanto, considera, alm das matrias primas utilizadas no processo produtivo, a sua natureza renovvel ou no, bem como a sua disponibilidade para garantir a reproduo sucessiva de um determinado produto. Alm disso, proporciona um sistema adequado para analisar e compreender os mltiplos fatores que influenciam as pequenas propriedades, ao tempo em que permite metodologias que possibilitam o desenvolvimento de tcnicas adaptadas realidade dos pequenos proprietrios rurais. As tecnologias e os projetos propostos pela agroecologia requerem alto nvel de participao popular e so culturalmente compatveis, porque no questionam a lgica dos pequenos produtores rurais. As tecnologias agroecolgicas so elaboradas a partir do conhecimento tradicional, sem prescindir do conhecimento cientfico moderno. As tcnicas so ecologicamente sadias, uma vez que no pretendem transformar o ecossistema campons, seno apenas identificar aqueles elementos de manejo que, uma vez incorporados, elevem ao mximo a eficincia da unidade produtiva. Os enfoques agroecolgicos so economicamente viveis porque minimizam os custos de produo ao aumentar a eficincia dos recursos localmente disponveis. O maior objetivo a ser alcanado, portanto, a garantia de que os agroecossistemas sejam produtivos e sustentveis ao longo do tempo. A aplicao do enfoque agroecolgico caracteriza-se pela 1) formao de equipes multidisciplinares, com a finalidade de garantir a abordagem dos problemas da produo agrcola desde vrios pontos de vista, incluindo os aspectos sociais e culturais; 2) anlise global (holstica) do sistema agrcola, isto , analisa-se o sistema no seu conjunto, com o objetivo de entender a sua estrutura, as relaes funcionais, o impacto das prticas de manejo sobre os diferentes componentes e 3) execuo de experincias in loco, de longo prazo, isto , nas condies dos agricultores. A pesquisa in loco 1) permite identificar e aproveitar os conhecimentos adquiridos pelos agricultores ao longo do tempo; 2) possibilita testar

diferentes prticas de manejo numa diversidade de condies ambientais e scioeconmicas; 3) evita a seleo de tecnologias que se comportam bem sob condies ambientais controladas, mas que apresentam pobre desempenho nas condies reais e 4) evita rejeitar tecnologias que se comportam bem nas condies do agricultor, mas que apresentam pobre desempenho nas condies controladas das estaes experimentais. Finalmente, toda tecnologia gerada sob os critrios agroecolgicos deve ser acessvel a todos os agricultores, economicamente vivel, adaptvel s condies locais e, social e culturalmente, aceitvel pela comunidade. A agroecologia constitui um enfoque que afeta e agrupa vrios campos do conhecimento, entre eles os agronmicos, ecolgicos e sociais. De muita importncia tm sido tambm as contribuies da geografia e da antropologia, que tm ajudado a explicar a lgica das prticas agrcolas nas culturas tradicionais. Hoje continuamos a sonhar e temos perspectivas claras para nos

desenvolvermos e ganharmos as pelejas e os duros desafios que se levantam a nossa frente. Tudo se fez graas a muito empenho, a compromissos assumidos e cumpridos sem esmorecimento; a planejamentos, cujos objetivos e metas foram perseguidos com tenacidade; repetio, quotidiana e cansativa ou espaadamente peridica, de atividades que desenhassem, com traos cada vez mais ntidos, o perfil desejado para o nosso programa, que confirmasse nossa identidade e nossa diferena como universidade pblica do Estado do Maranho. Nesse sentido, o Programa de PsGraduao em Agroecologia assinala e tem um valor histrico; marca o crescimento quali-quantitativo da UEMA e, igualmente, confirma que h dez anos esse programa vem-se fazendo valer e tornando visvel a face academicamente original da Universidade. graa divina comear bem. Graa maior persistir na caminhada certa. Mas a graa das graas no desistir nunca. Dom Hlder Cmara

Prof. Jos Augusto Silva Oliveira So Lus, maro de 2004

NOTA DOS AUTORES O presente livro a representao simblica dos ideais, e da vontade dos professores do Programa de Ps-Graduao em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranho. Uma manifestao de f, deles, autores, na gerao do saber cientfico aplicado ao local, como condio mpar para o ensino de qualidade, capaz de contribuir para o desenvolvimento humano. Reconhecem, assim, os autores, que o conhecimento no pode ser utilizado apenas para atender as exigncias curriculares acadmicas, porquanto a falta de tecnologias apropriadas reflete a maioria das mazelas visveis no meio rural. Especificamente, compreendem que grande parte das prticas aplicadas em outras regies, por serem inadequadas s peculiaridades locais, tornam-se incuas como respostas ao atendimento das necessidades do Maranho. Justificam, portanto, este livro, como o primeiro de uma srie, em que os resultados de estudos, pesquisas e experincias de campo empreendidos ao longo do tempo so condensados e apresentados de forma simples e compreensvel, sem as formalidades de um texto cientfico, para servir a agricultores, tcnicos, estudantes e professores, enfim, a todos que se dedicam a entender e utilizar os recursos naturais do trpico mido em benefcio das famlias rurais, sem ferir os princpios da sustentabilidade ambiental e econmica. Ao revelarem, neste livro, o produto de vrios anos de empreendimento na construo do conhecimento, os autores desejam referenciar que, no incio de tudo, esteve o discernimento, a coragem e a viso de futuro do idealizador e realizador do Programa de Ps-Graduao em Agroecologia, Prof. Jos Augusto Silva Oliveira, que enfrentou o ceticismo de muitos durante tanto tempo, acreditando sempre que sem a competncia e a inteligncia no se pode construir uma grande Universidade. Reconhecem, tambm, que sem a confiana recebida dos financiadores, CNPq, BNB-ETENE, BASA e IICA, no seria possvel a realizao das pesquisas e a publicao deste livro.

SUMRIO

Apresentao _______________________________________________________ 4

Nota dos Autores ____________________________________________________ 7 AGROAMBIENTES DE TRANSIO AVALIADOS NUMA PERSPECTIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR Emanoel Gomes de Moura________________________________________ 9 A VEGETAO DA REGIO DE TRANSIO ENTRE A AMAZNIA E O NORDESTE, DIVERSIDADE E ESTRUTURA Francisca Helena Muniz _________________________________________ 44 O CULTIVO EM ALIAS COMO ALTERNATIVA PARA A PRODUO DE ALIMENTOS NA AGRICULTURA FAMILIAR DO TRPICO MIDO Altamiro Souza de Lima Ferraz Junior ______________________________ 61 LEGUMINOSAS ARBREAS COMO AGENTES DE RECUPERAO DE REAS DEGRADADAS Jorge Luiz de Oliveira Fortes et al. _________________________________ 89 ATRIBUTOS E ESPECIFICIDADES DE SOLOS DE BAIXADA NO TRPICO MIDO Alessandro Costa da Silva & Emanoel Gomes de Moura ______________ 118 MELIPONICULTURA: UMA ATIVIDADE ESSENCIAL PARA A ECONOMIA FAMILIAR DO TRPICO MIDO Jos Mauricio Dias Bezerra _____________________________________ 144 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS Raimunda Nonata Santos de Lemos et al. __________________________ 204 FRUTEIRAS NATIVAS - OCORRNCIA E POTENCIAL DE UTILIZAO NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MARANHO Jos Ribamar Gusmo Arajo e Moiss Rodrigues Martins_____________ 242

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AGROAMBIENTES DE TRANSIO AVALIADOS NUMA PERSPECTIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR Emanoel Gomes de Moura**Professor do Programa de Ps-graduao em Agroecologia da UEMA. E-mail: [email protected]

Introduo........................................................................................................................... 9 Aluvies Flvio-Marinhos .............................................................................................. 13 Formao Itapecuru........................................................................................................ 14 Formao Cod ............................................................................................................... 23 Formao Graja............................................................................................................. 27 Formao Mosquito ........................................................................................................ 30 Formao Sardinha......................................................................................................... 32 Formaes Pedra de Fogo e Motuca ........................................................................... 34 reas de Baixa Aptido Agrcola.................................................................................. 36 Agradecimentos............................................................................................................... 39 Referncias Bibliogrficas............................................................................................. 40

Introduo Na agricultura familiar os sistemas agrcolas so diversificados e complexos porque quase sempre incluem cultivos anuais, perenes e criao de animais. Infelizmente por motivos diversos, muitos desses sistemas esto localizados em ambientes ecologicamente vulnerveis. No Maranho, por exemplo, o Programa de Reforma Agrria, apesar de ter aumentado enormemente o nmero de agricultores proprietrios, no levou em conta a aptido dos solos para distribuio aos futuros assentados e grande parte deles hoje dona de reas com enormes problemas de uso. Alm disso, da prpria natureza da Produo Familiar que os agricultores familiares realizem sua vinculao com a terra considerando mais os critrios afetivos, do que os indicadores objetivos de qualidade. Por tudo isso, uma avaliao criteriosa e um manejo adequado dos solos e dos outros recursos naturais vital para a sustentabilidade destes sistemas e devem incorporar uma abordagem que enfatize a heterogeneidade das diversas condies em que vivem os agricultores familiares. Entre a Amaznia e o Nordeste e especificamente no Maranho, mais do que em qualquer outra parte, a escolha dos sistemas e das prticas agrcolas deve obrigatoriamente considerar as

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Emanoel Gomes de Moura

especificidades do ambiente local, porque o Estado detm caractersticas regionais peculiares, como:

i)

A grande variabilidade espacial da pluviosidade mdia da regio, resultante da posio geogrfica do Estado entre o Nordeste e a Amaznia;

ii)

As caractersticas dos solos que, em grande parte, derivam de rochas sedimentares e por isso, apresentam estrutura frgil, baixa capacidade de reteno de ctions e teores de outros nutrientes tambm baixos;

iii)

O rigor da insolao equatorial que acelera a decomposio e queima da matria orgnica do solo, que, no trpico, muito importante para neutralizar a acidez txica e manter a estrutura do solo por onde deve fluir o excesso de gua.

Todos estes fatores se interagem para produzir realidades totalmente peculiares e que no encontram correspondncia em outras regies do pas. De tal sorte que o recomendvel para os Latossolos Vermelho-Amarelos distrficos de Fortuna com uma precipitao de aproximadamente 1000mm anuais, definitivamente no se aplica aos Argissolos de m drenagem interna de Miranda do Norte, sob uma precipitao superior a 2000mm. Vale lembrar que separa essa enorme diferena uma distncia de apenas 290km. Outro resultado da atuao integrada destes fatores a alta susceptibilidade degradao que apresenta o ambiente da regio, como demonstram as centenas de milhares de ha de pastagens degradadas existentes no Maranho e as enormes reas de capoeira com predominncia absoluta da espcie Orbignya spp. (Ver maiores detalhes sobre este tema, no artigo da Dra Francisca Helena no captulo seguinte deste livro). Todos estes fenmenos, somados baixa qualidade das informaes disponveis, na regio, conduzem sempre os profissionais da Agroecologia a um grande desafio para a escolha do estratificador ambiental para a regio, que melhor descreva seus agroambientes. O estratificador mais adequado ser aquele que ao mesmo tempo permita o melhor detalhamento local com a maior abrangncia possvel. Neste trabalho, levando em conta os resultados de pesquisas conduzidas pelo grupo de solos do curso de Mestrado em Agroecologia e as experincias colhidas em trabalhos de consultoria

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Agroambientes de Transio Avaliados Numa Perspectiva da Agricultura Familiar

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realizados pelo autor, optou-se por considerar o levantamento geolgico conduzido pela Petrobrs, para o Estado do Maranho, como base para estratificao dos vrios ambientes da rea de transio. Evidentemente no se pretende que este texto se constitua em abordagem definitiva a respeito do tema, mas se espera que ele propicie o incio de uma nova etapa de discusso que conduza superao dos imensos desafios com os quais defronta a Agricultura Familiar da regio. A unidade fundamental da classificao da litosfera a Formao Geolgica que pode ser definida como um ou mais conjuntos de rochas que guardam estreita relao no tempo e no espao. A rigor, a Formao Geolgica o material com o qual o clima e o relevo combinam com os organismos para dar origem aos solos de uma dada regio. Uma vez que os dados de clima e relevo so de fcil apreenso pode-se, ento perceber a importncia de se conhecer a Formao Geolgica para predizer se a qualidade do solo lhe permite exercer suas principais funes no ambiente, ou seja: - dar suporte ao crescimento sustentvel das plantas e animais; - regular a diviso do fluxo da gua da chuva (em infiltrao, escorrimento ou evaporao); - atuar como filtro ambiental mantendo a qualidade da gua e do ar; - fornecer ambiente adequado para os organismos decompositores; Na figura 1 esto explicitadas as principais Formaes Geolgicas do Maranho, que sero objeto das discusses nos captulos seguintes.

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Figura 1. Mapa das Formaes Geolgicas do Maranho

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Aluvies Flvio-Marinhos Situados no Centro-Norte do Estado so constatados ao longo dos principais cursos dgua na regio que, partindo de Bacabal, segue em direo norte sendo limitada aproximadamente pelas sede dos municpios de Arari-Mono, AnajatubaMatinha, Bacabeira-Olinda Nova, So Lus-Peri-Mirim. Outras duas reas so constatadas ao longo das margens dos rios Pericum e Turiau, como se verifica na figura 2.

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Figura 2. Distribuio geogrfica dos Aluvies Fluvio-Marinhos.

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Os aluvies devem sua origem ruptura e alargamento dos vales da antiga rede hidrogrfica da regio aps regresses marinhas ocorridas no quaternrio antigo. Quando veio e se firmou a transgresso marinha que se seguiu ltima regresso, o mar penetrou profundamente nestes vales formando depsitos essencialmente de areia fina e silte, freqentemente finamente acamados. Aps o mximo da transgresso e durante a retirada do mar, formou-se, por decantao, os sedimentos argilosos quase planos e at ligeiramente cncavos, principalmente nas partes mais baixas, ( Browers, 1977). Ento, numa primeira diviso desta rea dos aluvies deve-se referir a esses dois grupos que embora muito heterogneos, permitem dizer que os depsitos arenosiltosos tendem a formar Cambissolos ou so Neossolos, enquanto as deposies de argila formam Vertissolos ou Gleissolos, segundo levantamento realizado em 30.000ha na regio de Arari, (Moura 1992). Para os agricultores da regio os depsitos de argila so denominados de teso em razo de seu comportamento expansivo, escorregadio e pegajoso, tpico de materiais ricos em argilas do tipo 2:1. Nestas reas do teso so freqentes as presenas de espaos com altos teores de sais, os quais geralmente podem ser identificados pela ocorrncia, em alta densidade, de um arbusto da famlia das malvceas, regionalmente denominado de algodo bravo. Deve ser ressaltado que no levantamento acima referido mais da metade da rea foi classificada como complexos ou associaes devido a enorme variabilidade espacial dos atributos diagnsticos dos solos dos aluvies. Nesta regio o ciclo das chuvas tem influncia marcante sobre os indicadores qumicos da qualidade do solo, com reflexos profundo em todos os agrossistemas ali existentes. A complexidade, resultante dos ciclos de seca e chuvas que se repetem nestas reas modificam a disponibilidade de nutrientes e aumentam a acidez do solo, como tratado com maiores detalhes no captulo sobre solos de baixada, neste livro. Do ponto de vista dos indicadores fsicos a combinao de silte e areia muito fina presentes nas reas menos argilosas, eleva a capacidade de armazenamento de gua disponvel dos solos para valores de at 50%, o que significa 200mm de gua disponvel na camada de 40cm. Para uma evapotranspirao mdia de 8mm/dia esse volume de gua daria para 25 dias de consumo at o limite do murchamento permanente (Moura 1992). Isto explica o fato de que as culturas da melancia e do feijo

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caupi semeadas no final do perodo chuvoso, nestes solos, pode ser produtiva recebendo pouqussimas chuvas durante seu ciclo. A ausncia de um conjunto de prticas que assegure o crescimento e a manuteno da qualidade dos solos cultivados um dos principais entraves ao desenvolvimento da agricultura nos aluvies, porque as experincias tentadas, quase sempre exitosas no incio, no se sustentam principalmente devido queda da produtividade causada pela diminuio da fertilidade do solo e infestao de ervas daninhas, o que tem impedido a regio de concretizar a esperana e a possibilidade de se tornar uma grande produtora de alimentos para toda a populao da baixada maranhense. Trabalho de Aguiar et al. (2003) mostrou que o mais importante indicador de fertilidade destes solos o seu teor de matria orgnica, porque de todos os indicadores qumicos foi o mais positivamente correlacionado com o crescimento da cultura do milho cuja sensibilidade normalmente aproveitada para estas avaliaes. Devido aos altos teores de Al e H+ txicos a presena de nveis satisfatrios de matria orgnica, nestes solos fundamental para que aqueles elementos sejam neutralizados por um fenmeno qumico denominado complexao. Como agravante, a neutralizao da sua acidez via calagem exige enormes quantidades de calcrio, como se verifica na figura 3. Para efeito de comparao, pode-se verificar que para elevar os valores de pH para 6,0 na Ilha de So Lus so necessrias, em mdia, 2t/ha de calcrio ( PRNT 100%), e 9t/ha em Arari.

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7,5

7

6,5

pH em CaCl2

6

5,5

5 Serrano Arari So Lus

4,5

4 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 t/ha de CaCO3

Figura 3. Comparao de respostas aplicao de calcrio de dois solos dos aluvies (Serrano e Arari) com um solo da Formao Itapecuru (So Lus). com 80%, 62% e 8% de argila, respectivamente. Adaptado de Gomes (1999), Sousa (1996).

Do ponto de vista de uma Agricultura familiar de baixa utilizao de insumos, pode no ser desejvel esta alternativa da calagem e o manejo adequado da matria orgnica surge como outra opo possvel. Dentro desta perspectiva, algumas providncias so absolutamente necessrias para o desenvolvimento e a

sustentabilidade da agricultura nestes solos: I. Evitar as operaes de preparo do solo que aceleram as perdas da matria orgnica por exposio aos rigores da insolao equatorial e utilizar o plantio direto na palha visando o acmulo e decomposio das restevas na superfcie do terreno; II. Evitar o cultivo sucessivo do arroz e adotar outras combinaes de sucesso/rotao que inclua, de preferncia espcies no gramneas, o que inclusive pode diminuir a infestao por ervas daninhas resistentes aos herbicidas utilizados para o arroz;

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III. Nas reas com menores teores de argila, passveis de correo com menor quantidade de calcrio, utilizar calcrio calctico (geralmente nestes solos os teores de Magnsio so muito altos como se v na tabela 1) para neutralizar a acidez potencial representada nas anlises pela soma (Al + H+) IV. Nas reas com altos teores de sais, se for usada irrigao, o dimensionamento dos projetos deve prever a drenagem do excesso de gua que precisa ser aplicado para a lavagem do perfil e para evitar o acmulo de sais na superfcie.

Evidentemente a adoo segura destas e de outras prticas que podero garantir o desenvolvimento e sustentabilidade de uma Agricultura Familiar nas reas dos aluvies no pode prescindir de um suporte tecnolgico que s poder ser oferecido por uma estrutura pblica de pesquisa capacitada para estudar

especificamente os intricados problemas daquelas nicas vrzeas que secam existentes no pas. O enorme desafio que significa esta tarefa deriva tambm do fato de que, apesar do enorme potencial produtivo de suas terras, esta regio ostenta um dos menores ndices de desenvolvimento humano do Brasil. Formao Itapecuru Esta Formao do Cretcio Superior e por ocupar quase 50% do Estado do Maranho, onde a mais importante do ponto de vista social e econmico, por causa de sua extenso e alta densidade demogrfica. Abrange as regies Centro-Norte e Centro-Oeste do Estado, com incio aproximado em Graja, limitada a oeste pelo rio Tocantins e a leste aproximadamente pelas sedes dos municpios de Barra do Corda, Cod, Chapadinha, Urbano Santos e Morros, como confirma a figura 3.

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Figura 3. Distribuio geogrfica da Formao Itapecuru.

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Constitui-se primordialmente de arenitos finos argilosos ou muito argilosos ricos em argila do grupo das caulinitas, s vezes intercalados por folhelhos. Apresenta uma morfologia tpica representada por colinas de topos arredondados, com baixas altitudes, ao redor de 30 a 60metros, freqentemente recobertos por cangas ferruginosas de dimenses variadas. Dadas as condies de alta umidade e temperatura mdias tambm altas na regio, estes sedimentos apresentam alto estado de intemperizao por meio da qual foram formados predominantemente Argissolos, Plintossolos e Latossolos Amarelos, constitudos principalmente de areia fina e silte com baixa capacidade de reteno de ctions, estrutura frgil e drenagem interna dificultada pela presena quase constante de camadas subjacentes de baixa condutividade hidrulica.

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Quadro 1. Caractersticas pedolgicas do perfil de um Argissolo da Formao Itapecuru.

Caractersticas MorfolgicasHorizonte A1 A2 AB BA BT BC Profundidade _____ cm _____ 0-20 20-33 33-51 51-77 77-111 132+ Cor Bruno-acizentada muito escura Bruna Bruno-amarelada Bruno-amarelada Bruno-amarelada Bruno-amarelada Textura Areno-franca Franco-arenosa Franco-arenosa Franco-arenosa Franco-argilo-siltosa Franco-argilo-siltosa

Caractersticas FsicasHorizonte Areia grossa A1 A2 AB BA BT BC 26 24 21 19 19 19 Granulometria Areia fina Silte Densidade Argila____

______________________________

56 54 51 50 47 44

% ___________________________________ 8 10 12 10 15 13 21 13 13 21 9 28

kg.m-3 ____ 1740 1691 1782 1680 1571 1754

Caractersticas QumicasHorizonte Ca Mg K S Al H+Al T P pH (CaCl2) 4,3 4,1 4,0 4,1 4,2 4,2 C V M

_________________

A1 A2 AB BA BT BC

2 3 4 3 4 4

3 2 5 2 4 5

mmolc.dm-3 ____________________ g.dm-3 1,2 13,2 3 33 49,2 7 0,5 5,5 4 36 45,5 3 0,5 9,5 7 41 57,5 1 0,4 5,4 7 41 53,4 0,5 8,5 5 24 37,5 1 0,5 9,5 4 24 37,5 1

________

1,2 0,3 0,3 0,3 0,2 0,1

%_______ 27 18,5 12 42,1 16 42,4 10 61,4 23 37,0 25 27,5

Estas caractersticas (algumas mostradas na Quadro 1) quando combinadas com um ndice pluviomtrico de mais de 2000mm durante a estao de crescimento das culturas (que ocorre em quase toda a rea da Formao) aumenta a importncia dos indicadores fsicos da qualidade do solo, como a capacidade de aerao e a compacidade do solo, colocando-os no mesmo nvel de importncia de indicadores qumicos, como a acidez e os teores de nutrientes. Sobre o efeito do clima, seria

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interessante ressaltar que para quase toda a rea desta Formao, culturas que no suportam o alagamento tero apenas os primeiros 30 dias do perodo chuvoso para serem semeados sobre o risco de seu florescimento coincidir com o mximo de chuva e haver o comprometimento da produtividade por causa do dficit de oxignio no solo causado pelo alagamento. Os agricultores que sobrevivem na regio contornam em parte as dificuldades de aerao e as deficincias de nutrientes dos solos por meio: i. De uma agricultura itinerante que no inclui a preocupao com a sustentabilidade no uso da terra, na expectativa de que haver sempre uma rea nova e descansada a ser ocupada; ii. Do plantio direto que mantm intacta a estrutura do solo sem quebra da continuidade dos poros, favorecendo a drenagem interna e diminuindo os perodos de alagamento e portanto, de deficincia de oxignio nas razes; iii. Do uso da cinza derivada da queima da vegetao natural, como corretivo da acidez e fonte de nutrientes. Quanto mais fogo, mais cinza, quanto mais cinza, melhor o ligume. Deriva da a expresso: Fulano mais ruim que ligume de acro.

O aumento da densidade demogrfica e do nmero de agricultores proprietrios oriundos dos programas de reforma agrria, nesta regio, defrontam os interessados em seu desenvolvimento com o maior e mais urgente desafio da agricultura do Maranho que a substituio do sistema de corte e queima por um modelo de uso do solo que leve em conta os princpios ambientais, econmicos e sociais que conduzem sustentabilidade. Sem a superao desse desafio no se poder falar em melhoria dos ndices de desenvolvimento humano desta imensa regio onde grande parte de sua populao rural e urbana est econmica, social e culturalmente ligada agricultura. Infelizmente as tentativas de introduo dos modelos convencionais de uso do solo, com culturas anuais, nesta rea, representadas pelos denominados campos agrcolas no se mostraram sustentveis nem por um perodo de trs anos e so hoje em grande parte considerados reas degradadas. Do ponto de vista ambiental as principais razes da insustentabilidade destes campos agrcolas so as seguintes:

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i.

O revolvimento do solo por meio de gradagens sucessivas quebra a frgil estrutura da camada revolvida que a partir da inicia um rpido processo de recompactao facilitado pelos seus elevados teores de areia fina e silte e pelo enorme impacto das torrenciais chuvas que se iniciam logo aps o preparo do solo;

ii.

A exposio do solo aos rigores da insolao equatorial acelera os processos de queima da j pouca matria orgnica existente, o que elimina a possibilidade de reestruturao e aumenta o efeito prejudicial da acidez;

iii.

A presena de uma camada de baixa permeabilidade nos horizontes inferiores diminui o fluxo vertical da gua, no dando vazo ao grande volume de chuva dos meses de maior precipitao, o que termina por saturar completamente as camadas superiores;

iv.

O processo de preparo quebra a continuidade dos poros e canais existentes no solo, por onde o excesso de gua flui livremente em condies naturais o que acaba por aumentar a possibilidade de alagamento da camada preparada. Esta razo dos agricultores afirmarem que a mandioca quando plantada em solo cortado no sigura.

No extremo nordeste desta Formao, j na rea de transio com a Formao Barreiras um grupo de agricultores, principalmente do sul do Brasil, tenta consolidar um plo de produo de gros enfrentando enormes dificuldades, mesmo com a adoo de tecnologias clssicas como correo do solo e plantio direto. Em trabalho, realizado nestas condies, Moura et al. (1995) concluram que os indicadores fsicos da fertilidade so mais limitantes que os qumicos para o crescimento das culturas susceptveis ao dficit de oxignio nas razes durante a estao das chuvas. Por esse motivo a cobertura morta mais eficiente que a calagem na promoo da produtividade do milho quando cultivado no perodo chuvoso

(Quadro 3).

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Quadro 3. Efeitos da calagem e da cobertura morta, sobre os parmetros de produo do milho em solos da Formao Itapecuru (adaptado de Moura 1995).

PARMETROS DE PRODUO No de espigas/parcela Peso mdio de espigas, g No de plantas estreis/parcela Peso de 100 gros, g Produo Biolgica, kg/ha ndice de Colheita, % Produtividade Econmica, kg/ha 10Cc 5Cc

TRATAMENTOS Sc 10C 5C S CV % 20,2a 20,7a 19,5a 89,9c 2,5b 19,5a 112,3b 3,0a 20,0a 99,6b 2,3b 26,3a 6.401b 46,9a 18,5a 79,5c 4,3a 10,6 11,6 74,9

134,0a 106,5b 1,7b 1,2b

26,2a 25,5ab 8.854a 7.203b 47,8a 48,7a

21,6b 24,9ab 6.121b 7.070b 46,6a 49,5a

20,7b 14,3 4.674c 13,7 47,8a 8,8

4.281a 3.510b

2.837c 3.501b 2.982bc

2.238c 13,6

* Mdias seguidas das mesmas letras no diferem entre si pelo teste de Tukey ao nvel de 5%. * 5C e 10C t/ha de cobertura e c calagem

Segundo Moura et al. (1995) este resultado se deve ao efeito da cobertura morta sobre a capacidade de aerao do solo coberto. Para aumentar a macro porosidade da camada arvel no sistema convencional os agricultores utilizam o preparo do solo, mas a estabilidade desta nova condio s ser mantida se for evitada a deteriorao da nova estrutura porosa, provocada pela recompactao, que ser to mais intensa quanto maior for o volume anual de chuva e mais frgil for a estrutura do solo, de acordo com Busscher et al. (2002). Fazendo uma comparao entre o preparo do solo e a cobertura morta, Albuquerque (1999) concluiu que nas condies da Formao Itapecuru a cobertura pode substituir o preparo aumentando a capacidade de aerao por meio da atividade da macro fauna protegida da insolao e das variaes da temperatura. Nas reas preparadas, quando descobertas a recompactao devolveu ao solo praticamente a mesma porosidade total do solo no preparado e descoberto com se verifica na Quadro 4

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Quadro 4. Indicadores fsicos; porosidade total (t), capacidade de aerao (Car) e capacidade de gua disponvel (Cad) em solo com (Cp) e sem preparo (Sp) sob trs nveis de cobertura morta. Adaptado de Albuquerque (1999). Cobertura kg.ha 8900 13400 No-mulch-1

Tratamentos / Indicadores fsicos t Cp t Sp Car Cp3

Car Sp-3

Cad Cp

Cad Sp

---------------------------------------------------- m .m -------------------------------------------------0.49 Aa* 0.49 Aa 0.44 Ab 0.45 Bb 0.48 Aa 0.43 Ab 0.14 Aab 0.16 Aa 0.11 Ab 0.09 Bb 0.14 Aa 0.11 Aab 0.17 Aa 0.13 Aa 0.13 Aa 0.10 Aa 0.15 Aa 0.10 Aa

* Mdias seguidas das mesmas letras (dentro de cada indicador fsico), maisculas na linha e minsculas nas colunas, no diferem estatisticamente entre si, pelo teste Tukey ao nvel de 5% de probabilidade.

Do ponto de vista dos indicadores qumicos a sustentabilidade do uso destes solos pode ser comprometida por sua baixa capacidade de reteno de ctions e por isso a aplicao de calcrio e potssio deve ser considerada em sistema de manejo que pretenda ser sustentvel. No entanto, em razo de seu baixo poder de tamponamento, como j visto na figura 3 a adio de calcrio nestes solos deve ser recomendada com parcimnia, levando em conta a possibilidade da elevao do pH para nveis nos quais a diminuio drstica da disponibilidade de micronutrientes metlicos, possa prejudicar culturas muito exigentes em zinco, como o caso do milho e do arroz. Trabalho realizado por Moura et al. (2002) mostrou que a adio de uma tonelada de calcrio por ano durante quatro anos foi benfica para a cultura do milho, apenas nos trs primeiros anos. A partir do quarto ano a elevao da saturao por base para valores muito altos, recomendados para a maioria dos outros solos, induziu a deficincia de zinco nas plantas, o que resultou na queda da produtividade.

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Quadro 4. Efeito da adubao potssica (K) e calagem (C) , sobre os parmetros de produo do milho. Adaptado de Moura et al. (2002). Produo Espigas, Mg ha Trat. I S** K C KC CV% 6.2 a* 5.9 a 5.7 a 6.3 a 20 II 6.6 b 6.8 b 6.9 b 8.1 a 6.6 III 4.7 a 5.0 a 3.9b 5.1 a 8.7 IV 3.3 a 3.9 a 2.8 b 3.7 a 16.4 I 5.4 a 5.1 a 4.9 a 5.5 a 20-1

Peso de gros, Mg ha Anos II 3.2 b 3.5 b 3.5 b 4.3 a 7.2 III

-1

Peso de 100 gros, g

IV

I

II

III

IV

2.9 a 2.7 ab 31.1 a 13.5 c 4.2 a 3.1b 3.2 a 2.3 b 30.7 a 14.8 b

26.9 a 23.1 a 27.0 a 26.0 a

30.3 a 16.9 ab 26.8 a 25.1 a 27.0 a 26.4 a 1.2 16.4

4.2 a 3.0 ab 30.6 a 18.6 a 8.4 16.4 7 7.1

*Mdias seguidas das mesmas letras no diferem entre si pelo teste de Tukey ao nvel de 5%. S**, sem calcrio e sem potssio.

Outra considerao digna de nota que, em virtude da grande extenso ocupada por esta Formao, so importantes algumas regies de transio principalmente na sua interseco com os denominados Campos nos municpios de Bacabeira, Anajatuba, Miranda do Norte e Arari. Nesta rea situada entre a Estrada de Ferro Carajs e os campos inundveis, os solos pela influencia dos Aluvies apresentam caractersticas diferenciadas com maiores percentagem de silte,

principalmente, mas tambm, quando mais perto do campo, teores de argila maiores que em outras reas da Formao Itapecuru. Por essa razo so solos de boa fertilidade e embora sujeitos a alagamentos temporrios, tm grande potencial para utilizao pelos agricultores familiares. Para utilizao desse potencial ter-se- que solucionar a questo legal da posse e uso da terra, principalmente quanto tradio local de se criar bovinos e sunos soltos em toda a margem do campo. Levando tudo isso em conta, o que se depreende que o desenvolvimento de uma Agricultura Familiar nos solos da Formao Itapecuru pressupe primordialmente a substituio do sistema de corte-queima, que os Bancos e outras Agncias denominam de Agricultura no Toco, mas alguns pesquisadores preferem chamar de Fertilizao pela Cinza. Alm disso, fatores no ambientais dificultam a atuao dos agentes preocupados com o desenvolvimento da Produo Familiar na regio entre eles podem ser citados:

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i)

A baixa capacidade de inverso de capital da maioria dos agricultores, acostumada ao sistema de derruba e queima, cuja eficincia agronmica indiscutvel, dificulta a introduo de sistemas alternativos;

ii)

O grande nmero de agricultores assentados em terras de baixa aptido agrcola, que foram adquiridas e distribudas por meio do Programa de Reforma Agrria, mesmo quando nestas reas o modelo de produo extensiva e patronal se mostrou invivel;

iii)

A ausncia de uma estrutura de oferta de tecnologias adequadas s condies especiais de solo e clima desta Formao.

Muito embora os escassos trabalhos de pesquisas j disponveis ainda no permitam escolher com segurana um modelo alternativo para uso do solo em toda a regio, a anlise das realidades aqui apresentadas permite afirmar com segurana que no ser utilizando os sistemas convencionais de preparo do solo do tipo arao e gradagem, combinados com calagem e adubao mineral, que se chegar a um sistema agrcola sustentvel nos solos originados desta Formao. Nas reas com precipitao mdia anual de mais de 2000mm anuais, e onde o contexto scioeconmico no permite avanar em modelos de uso do solo, sofisticados e onerosos, alternativas mais sustentveis e mais econmicas havero de ser introduzidas como a apresentada pelo Dr. Altamiro Ferraz, no captulo sobre cultivo em alias, deste livro.

Formao Cod Data do Cretceo e ocupa reas restritas e descontnuas s margens de alguns rios na regio central do Estado do Maranho. No rio Mearim, indo de Barra do Corda a Pedreiras abrangendo, entre outras, algumas reas dos municpios de So Jos dos Baslios, Joselndia,Tuntum, D. Pedro, Esperantinpolis e So Raimundo do Doca Bezerra. Na Bacia do rio Codozinho e de seus afluentes da margem esquerda, com incio em Senador Alexandre Costa, passando por Cod, indo, j pela Bacia do Itapecuru, at Timbiras. Nas margens dos rios Munim e Iguar nos municpios de Chapadinha, Vargem Grande e Nina Rodrigues. No alto Graja entre os municpios de Amarante, Stio Novo e Graja. Nas margens do Tocantins entre Joo Lisboa e

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Cidelndia. Ao sul do municpio de Poo de Pedra o autor visitou um assentamento do Programa Cdula da Terra localizado numa enorme plancie toda ela constituda por solos derivados desta Formao, mas que no est catalogada nos mapas. Na figura 4 se pode verificar as principais reas ocupadas pela formao Cod.

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Figura 4. Distribuio geogrfica da Formao Cod.

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Constitui-se de um conjunto de arenitos ricos em argila, siltitos, folhelhos e margas cinzas, arroxeadas, cremes e pretas. Calcrio e gipsita ocorrem com freqncia. Diferentemente de outras Formaes sedimentares do Estado, esta pode ser caracterizada como sedimentar lacustre, o que significa participao expressiva dos fenmenos de concentrao e precipitao de carbonatos nos processos de formao das rochas. Por essa razo, os solos originrios dessa formao possuem de mdia a alta fertilidade, com razoveis teores de fsforo, bons nveis de Ca e Mg e saturao por base alta, como se verifica no quadro 5. Algumas destes solos possuem nveis razoveis de argilas do tipo 2:1, o que os torna pegajosos quando midos e muito duros quando secos, o que significa que estreita a faixa de umidade em que se pode trabalhar nestas reas.Quadro 5. Resultados de anlise dos solos de trs reas representativas da Formao Cod. Anlise

Pppm

M.O.

pH

K

Ca

Mg

H+Al

SB

CTC

V % 85 71 68

-------%-------

------------------------meq/100 cm 3---------------------

Municpio

Tuntum Cod Pres. Dutra

8 7 12

1,8 3,4 4,2

5,0 4,5 4,0

0,53 0,15 0,49

3,7 2,9 3,6

0,9 0,9 1,0

0,9 1,6 2,4

5,1 4,0 5,1

6,0 5,6 7,5

Grande parte destas reas se situa em posio topogrfica onde no raro o excesso de gua se constitui no maior problema agronmico, principalmente logo aps o pico do perodo chuvoso. Nestas reas baixas, aps uma primeira grande chuva o agricultor se defronta com um dilema de difcil soluo: Se planto e a chuva no continua, perco o plantio; se no planto e continua chovendo, com o solo muito mido no posso entrar com a mquina e a, no planto mais. Como, ento, o perodo de tempo disponvel para o plantio escasso, dificilmente se conseguir viabilizar nesta regio o cultivo de grandes reas de maneira eficiente, o que torna a Produo Familiar mais adequada do que outras formas de explorao, nos solos dessa Formao.

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Muito embora estas terras, em funo de sua fertilidade, tenham enorme potencial para a produo sua transformao de promissoras a produtivas vai requerer:

i)

Um alto grau de organizao dos agricultores no sentido da antecipao das tarefas pr-semeadura, como a aquisio de insumos e preparo das mquinas, para que no seja perdido nenhum dos poucos dias disponveis para o plantio;

ii)

A conscincia de que nessas condies prefervel cuidar bem de uma rea menor, do que tentar expandir a rea de plantio para alm da capacidade administrativa e de estrutura da propriedade;

iii)

Uma estratgia eficiente para o controle de ervas daninhas, que encontram nestas reas condies excelentes para o crescimento e multiplicao.

iv)

Um esquema de rotao de culturas, com plantio direto, que possibilite a conservao e manuteno da fertilidade na camada arvel do solo.

Sem dvida as reas da Formao Cod se encontram entre as que podem dar uma grande contribuio para o desenvolvimento da Produo Familiar do Maranho, como demonstram as experincias na rea do extrativismo levadas a efeito na regio de Pedreiras. No que tange a produo agrcola propriamente dita, este xito estar condicionado aplicao dos conhecimentos atuais da agricultura, levando em conta a combinao das especificidades climticas com as caractersticas pedolgicas locais.

Formao Graja Ocupa uma faixa relativamente estreita e descontnua que vai do Tocantins ao meridiano 440 na regio central do Estado do Maranho. Abrange uma pequena parte dos municpios de Davinpolis, Montes Altos, Stio Novo, Graja e Fortuna, boa parte de Barra do Corda, Tuntum, Graa Aranha e Eugnio Barros, e a quase totalidade de So Domingos do Maranho, Santa Filomena e Governador Lus Rocha, como se v na figura 5.

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Figura 5. Distribuio geogrfica da Formao Graja.

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Datada do Cretceo inferior esta Formao composta essencialmente de arenitos finos com cores que variam de esbranquiados, cremes a avermelhados com predominncia dos primeiros. Devida difcil distino entre as Formaes Cod e Graja, muitos gelogos no as separam e tratam ambas como Formao Cod. Do ponto de vista dos solos resultantes, na rea da Formao Graja predominam aqueles de baixa mdia fertilidade, portanto menos aptos do que os derivados da Formao Cod. No municpio de Governador Lus Rocha recorrente a presena de Latossolos Amarelos cricos com teores muito baixos de nutrientes, entre So Domingos e Santa Filomena predominam os Latossolos Vermelhos Amarelos, de mdia fertilidade. Pequenas reas com boa fertilidade so raras, mas ocorrem, como nos arredores da sede de Fortuna e no povoado de Sabonete em So Domingos do Maranho, onde pequenas manchas de Latossolo Vermelho distrfico fazem o sucesso dos plantadores de milho de alta produtividade.

Figura 6. Cultura do milho em Latossolo Vermelho da Formao Graja, municpio de Fortuna, com a evidncia de seu alto grau de erodibilidade.

A mdia fertilidade dos solos destas reas tem permitido a muitos agricultores cultivarem com sucesso o abacaxi, o milho e o feijo caupi. Entretanto o que se observa que os bons resultados dos primeiros anos, nem sempre se confirmam nos anos seguintes como acontece com o abacaxi em So Domingos e com o milho em algumas reas de Fortuna. Estas e outras experincias mostram que a Produo Familiar pode

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ser implantada com sucesso nestas reas da formao Graja, desde que os nveis de Fsforo, Clcio e Magnsio dos solos, sejam elevados e mantidos em patamares compatveis com a sustentabilidade das produtividades esperadas. Estas

recomendaes so mais importantes para reas com predomnio dos Latossolos de cores mais claras, onde os teores de nutrientes so sempre mais baixos como se pode verificar no quadro 6Quadro 6. Resultados das anlises de trs solos da formao Graja, mostrando as diferenas entre os solos mais claros e mais vermelhos Anlise P ppm Municpio Fortuna (LVA)*S. Domingos(LV)

M.O.

pH

K

Ca

Mg

H+Al3

SB

CTC

V % 20 74 77

-------%------4.2 2,0 3,2 4,0 5,2 5,4

------------------------meq/100 cm --------------------0,1 0,25 0,6 0,5 2,3 3,2 0,2 0,6 1,0 3,3 1,1 1,2 0,8 3,2 4,2 4.1 4,3 5,4

3,0 12 29

Fortuna (LV)

*(LVA) Latossolo Vermelho Amarelo, (LV) Latossolo Vermelho

Alm disso, imprescindvel que sejam tomados todos os cuidados com o controle da eroso do solo, por causa de sua alta erodibilidade, resultante da predominncia dos teores de areia que apresentam, como se pode verificar na figura 6. Experincias iniciais com plantio direto tem sido exitosas, mas s tem sido possveis com o uso do arado de discos no primeiro ano, para a retirada da enorme quantidade de razes remanescentes das inmeras queimadas a que j foram submetidas aquelas reas mais aptas para culturas anuais. Formao Mosquito Data do Trissico e resulta do derramamento de larva vulcnica que quando resfriada na superfcie formou rochas baslticas e derivadas que aps a intemperizao formaram Latossolos Vermelho-Escuros e Nitossolos ambos eutrficos. Ocupa uma extenso praticamente contnua no sudoeste do Maranho abrangendo os Municpios de Lageado Novo, Campestre do Maranho, Porto Franco, So Joo do Paraso, Estreito, So Pedro dos Crentes, Stio Novo, Graja, Formosa da Serra Negra, Feira

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Nova do Maranho, Riacho, Nova Colinas e Fortaleza dos Nogueiras, como se observa na figura 7.

Figura 7. Distribuio geogrfica da formao Mosquito.

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Uma das maiores vantagens desta rea deriva do fato de que grande parte das tecnologias disponveis no Brasil, foi gerada em condies de clima e solo muito semelhantes e podem ser facilmente adaptadas ou imediatamente adotadas pelos agricultores. Infelizmente, parte desta rea, principalmente a de melhor topografia, j est destinada a culturas ou pecuria extensiva, mas se ao restante for aplicada uma poltica de valorizao da Produo Familiar, est ser sem dvida uma das regies de maior desenvolvimento social e econmico do Estado.

Formao Sardinha Esta Formao data do Cretceo, portanto mais recente que Formao Mosquito, tambm resulta de derramamento basltico em reas muito restritas, uma ao norte de Barra do Corda e outra no polgono formado pelas sedes dos municpios de Buriti Bravo, Colinas, Sucupira do Norte, Pastos Bons e Passagem Franca ( veja figura 8). Por causa do menor grau de intemperizao de suas rochas, grande parte dos solos dela derivados esto nas classes dos Chernossolos, Luvissolos e Cambissolos todos com excelentes teores de nutrientes e altas percentagens de argilas do tipo 2:1, como se verifica no quadro 8.

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Figura 8. Distribuio Geogrfica da Formao Sardinha.

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Quadro 8. Resultados das anlises dos solos de trs municpios abrangidos pela Formao Sardinha. Anlise Municpio

Pppm

M.O. 4.1 2.5 3.2

pH 5.2 6.0 5.9

K 0.4 0.7 0.8

Ca 4.5 7.5 6.4

Mg 1.1 2.5 1.7

H+Al3

SB 6.0 10.7 8.9

CTC 7.3 11.5 9.9

-------%-------

------------------------meq/100 cm ---------------------

V % 82 93 90

Colinas Pastos Bons Buriti Bravo

25 126 77

1.3 0.8 1.0

No municpio de Colinas no lugarejo denominado So Flix o autor prestou assistncia tcnica para alguns agricultores no que considera os solos mais frteis j vistos, onde produtividades de 8 toneladas por ha de milho depende mais da escolha de cultivar com potencial gentico suficiente, do que de outras prticas como calagem e fosfatagem exigidas para a maioria dos solos brasileiros. Nestas reas as maiores dificuldades dos agricultores esto associadas estreita faixa de umidade na qual os solos podem ser trabalhados, devido sua pegajosidade e ao controle das ervas daninhas, que nestas condies de alta disponibilidade de nutrientes, gua e energia, crescem com uma velocidade e com uma agressividade no comparveis a nenhuma outra condio de solo e clima. Embora esta Formao ocupe uma pequena rea, seu potencial para o desenvolvimento to grande que se plenamente utilizado se irradiar para toda a regio com reflexos positivos principalmente nos centros urbanos regionais como Colinas e So Joo dos Patos.

Formaes Pedra de Fogo e Motuca Estas Formaes datam do Permiano e esto cartografadas na regio sul do Estado, numa faixa contnua que se estende no sentido leste-oeste abrangendo os municpios de Carolina, Riacho, Balsas, Sambaba, Loreto, So Flix de Balsas, Tasso Fragoso e Benedito Leite. Ocorre ainda nas margens do rio Parnaba nos municpios de Timom, Caxias e Coelho Neto. As serras do Pimento, Belo Mato, Enxada, Medonho e Gado Bravo esto inseridas na Formao Pedra de Fogo. (Ver figura 9). A distino entre Pedra de Fogo e Motuca difcil at para os Gelogos experientes, pois ambas so constitudas por arenitos, siltitos e folhelhos arroxeados ou vermelhos tijolo.

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Figura 9. Distribuio geogrfica da Formao Pedra de Fogo e Mutuca.

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Os solos destas Formaes tm grande importncia econmica, pois neles est implantado o plo agrcola de Balsas. Do ponto de vista pedolgico so solos altamente intemperizados, boa parte pertencente classe dos Latossolos Vermelho-Amarelos distrficos, distrofrricos ou cricos, o que significa presena de teores de bases trocveis insatisfatrios. Na linguagem comum eles so denominados solos de chapada, por causa da topografia regular, mas no imaginrio regional esta designao tambm significa predominncia de vegetao tpica de campo-cerrado. Nesta regio ser muito difcil se estabelecer um sistema de produo familiar, por causa das grandes quantidades de nutrientes necessrias para que estes solos possam atingir nveis de fertilidade adequados. Nestas reas durante a estao de crescimento das culturas, no raro a ocorrncia de intervalos sem chuva chamados de veranicos, o que tem levado os agricultores e agentes financeiros a condenarem como inaptos solos com baixos teores de argila o que regionalmente pode no ser correto. Inmeros trabalhos como os de Franzmeier et al. (1960) e Salter & Willians (1965) mostram que nos solos siltosos so maiores as quantidades de gua disponvel, do que nos argilosos ou arenosos, o que significa que o mais correto, para esta regio, seria considerar os teores de silte e no de argila, como fator determinante do maior ou menor risco de estresse hdrico.

reas de Baixa Aptido Agrcola Infelizmente so extensas as reas no Maranho onde o uso intensivo do solo no pode ser recomendado, por causa de sua baixa capacidade de suportar cultivos anuais e que, portanto, no so adequados para instalao de projetos de Agricultura Familiar. Boa parte destes solos est situada na regio Nordeste do Estado, mas ocorre tambm reas expressivas na regio no sul, principalmente entre Carolina e Balsas., como se verifica na figura 10.

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Figura 10. Distribuio geogrfica das de baixa aptido agrcola.

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Em alguns destes locais acontece um extrativismo de frutos silvestres importante para a sobrevivncia das famlias locais, mas que poderia contribuir muito mais para aumentar a dignidade dos trabalhadores, se fosse organizado no sentido do melhor aproveitamento comercial dos produtos por meio do processamento de polpas, melhoria da embalagem, e rotulagem. Outra alternativa seria aproveitar a enorme diversidade vegetal destas reas com a criao de abelhas inclusive as silvestres, tema abordado pelo Dro Maurcio Bezerra no captulo sobre meliponicultura, deste livro.

Agradecimentos O autor agradece o Eng Agrnomo MSc Jucivan Ribeiro Lopes do Laboratrio de Geoprocessamento da UEMA por ter gentilmente cedido as imagens utilizadas neste texto.

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Agroambientes de Transio Avaliados Numa Perspectiva da Agricultura Familiar

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Referncias Bibliogrficas_______________________________________________ Aguiar, ACF; Moura, EG; Silva, AC. Interpretao dos indicadores qumicos em solos submetido a processos cclicos de oxi-reduo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIA DO SOLO, 29., 2003, Ribeiro Preto. Resumo expandido...Ribeiro Preto: Sociedade Brasileira de Cincia do Solo, 2003. CD-ROM. Alburquerque, JM. 1999. Nveis de preparo e de cobertura entre alias de guandu com milho, como alternativas de melhoramento da qualidade fsica e do uso intensivo de um Argisol da Formao Itapecuru-MA. Dissertao Mestrado em Agroecologia. So Lus, Maranho. 66 p. Brower, M. 1977. Caracterizao do meio morfo-pedolgico nas regies de Arari, Bacabal e Santa Quitria. Empresa Maranhense de Pesquisa Agropecuria. EMAPAIRAT. So Lus. 39p. Busscher, WJ; Bauer, PJ & Frederick, JR. 2002. Recompaction of a coastal loamy sand after deep tillage as a function of subsequent cumulative rainfall. Soil & Tillage Research, 68: 49-57. Franzmeier, DP; Whiteside, EP; Erickson, AE. 1960. Relationship of texture classes of fine earth to readily available water. 7th. International Congres of soil Science. Madison, Wiscosim. USDA. 354-363. Gomes ER de. 1999. Equilbrio de ctions em vertissolo hidromrfico sdico e o crescimento da cultura do milho (Zea mays L.). Dissertaso de mestrado. So Lus, Maranho. 82p. Moura, EG de. 1995. Atributos fsicos-hbridos e de fertilidade de um PVA distrfico da formao Itapecuru em So Lus, MA, que afetam o crescimento do milho (Zea mays L.). Thesis PhD. Botucatu, So Paulo. 82p. Moura, EG de. Aguiar, ACF das. Silva, AJF de. Furtado, MB. Mustonem, PJS. Evaluacin de la sostenibilidad de un cultivo en callejn bajo a un alfisol de la amazonia. Agroforesteria en las Amricas, no prelo. Moura, EG.; Vieira, S.R.; Carvalho, A. M Avaliao da capacidade de aerao e de gua disponvel dos solos de duas transees na baixada ocidental maranhense. R. bras.Ci. Solo, 16(1):7-18, 1992. Salter, PJ; Williams, JB. 1965 The influence of texture on the moisture characteristics of soil. II. Available water capacity and moisture release characteristics. Journal Soil Science, 16: 310-317. Sousa, I. S. Efeito da calagem em vertissolo da Baixada Maranhense. Monografia de Especializao. Campus Paulo VI. Universidade Estadual do Maranho. So Lus, 1996. 32p.

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A VEGETAO DA REGIO DE TRANSIO ENTRE A AMAZNIA E O NORDESTE, DIVERSIDADE E ESTRUTURA Francisca Helena Muniz**Prof. Dr.do Departamento de Qumica e Biologia da UEMA. E-mail: [email protected]

Introduo......................................................................................................................... 44 A Vegetao do Estado do Maranho ......................................................................... 46 Floresta Amaznica Maranhense ................................................................................. 49 A Floresta de Babau (Babaual) ................................................................................. 52 Cerrado Maranhense....................................................................................................... 53 A Vegetao e a Agricultura de Corte e Queima ....................................................... 55 Consideraes Finais ..................................................................................................... 58 Referncias Bibliogrficas............................................................................................. 59

Introduo O termo vegetao refere-se cobertura vegetal que reveste naturalmente qualquer superfcie, terrestre ou aqutica. Resulta do efeito dos condicionantes ecolgicos atuais, refletindo, assim, o ambiente natural. A cobertura vegetal no se apresenta uniformemente em toda a extenso - est sempre qualificada por padres diferenciveis - as formaes - sendo identificadas pela fisionomia, pela estrutura e pela composio florstica. Em termos essencialmente prticos, pode-se ainda afirmar que a vegetao ou comunidade vegetal uma unidade que ocupa uma determinada rea e que tem uma composio florstica e uma estrutura ou organizao caractersticas. possvel reconhecer, ainda, a fisionomia, o funcionamento, a dinmica, a distribuio e a evoluo, como atributos da comunidade vegetal (Cain & Castro, 1959). O conhecimento destes atributos imprescindvel para o aproveitamento e conservao dos recursos vegetais de uma regio. A composio florstica representa todas as espcies presentes na rea, sem distino ecolgica, enquanto que a estrutura refere-se disposio, arranjamento, ordem e relaes entre as partes que formam a comunidade, como os indivduos, independentemente da espcie a que pertencem, ou como as populaes, que reunem

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espcies diferentes. Assim, o padro espacial das espcies, ou seja, a distribuio horizontal dos indivduos de uma espcie dentro de uma comunidade vegetal, pode variar e os indivduos podem estar distribudos ao acaso, em intervalos regulares, ou em grupos, cujos fatores causais podem ser intrnsecos espcie (fatores reprodutivos e sociais), ou extrnsecos, como as condies do hbitat e a histria de perturbao da rea. A fisionomia refere-se aparncia geral externa e envolve caractersticas bvias da comunidade, como cor e luxurincia, rapidamente determinadas atravs de uma abordagem visual inicial. Um dos aspectos fundamentais da fisionomia decorre da forma biolgica dos vegetais presentes na comunidade. A forma biolgica definida como a forma que o corpo vegetativo da planta assume em harmonia com o ambiente, sob a qual ocorrem os fenmenos vitais, desde sua germinao (ou brotamento) at sua morte (Warming, 1908 apud Pavillard, 1935). Sob tal definio, a forma biolgica um efeito da seleo natural, representando a adaptao do corpo da planta como um todo s condies ambientais. O funcionamento envolve muitos aspectos, que vo desde o periodismo fenolgico at adaptaes complexas (estratgias adaptativas), que possibilitam a sobrevivncia das populaes de plantas sob as condies ambientais existentes. Assim, forma biolgica, deciduidade, durao da vida das plantas, so atributos que podem ser considerados tanto funcionais como fisionmicos, devido estreita associao entre fisionomia, funo e estrutura (Shimwell, 1971). Em geral, produtividade primria, ciclagem de nutrientes, espectro de polinizao e disperso, periodismo fenolgico, so encarados como atributos funcionais da comunidade (Daubenmire, 1968). Estreitamente relacionada fisionomia, estrutura e ao funcionamento da comunidade est a dinmica, que envolve diversos processos de sua organizao, como sucesso e regenerao, e as relaes biticas entre diferentes populaes (competio, mutualismo, predao, parasitismo, etc.). Os processos de dinmica so responsveis, em ltima instncia, tanto pela mudana da comunidade como pelo tempo maior ou menor de sua permanncia num determinado espao, ou ainda pela modificao do espao da comunidade. Tais processos manifestam-se atravs da extino local de populaes, imigrao de novas populaes para a comunidade,

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emigrao e colonizao de novas reas, flutuaes na abundncia relativa de populaes na comunidade, etc. (Crawley, 1986). Assim, os processos dinmicos da comunidade tambm esto estreitamente relacionados com a distribuio das comunidades no espao. Embora o indivduo, com gentipo caracterstico, seja encarado como o nvel em que a seleo natural ocorre, a evoluo processa-se dentro de comunidades, posto que indivduos e mesmo populaes raramente ocorrem isolados ou em povoamentos puros em condies naturais. O conhecimento desses atributos fundamental para a compreenso dos fenmenos relacionados comunidade vegetal, principalmente no que se refere regenerao natural, s flutuaes nas densidades das espcies devidas s interaes com o local, mortalidade dos indivduos e ao manejo bem sucedido dos ecossistemas. Ressalve-se que, para retornar ao seu estado original, ou aproximado, em complexidade, diversidade e estrutura, alm de contar com seu potencial regenerativo, a comunidade vegetal necessita de uma srie de outras condies ecolgicas, como a disponibilidade de nutrientes para a reconstruo da biomassa (Flster, 1994). Por sua vez, vale o alerta de que a depreciao da vegetao implica: a) na extino definitiva de espcies, principalmente aquelas consideradas raras; b) na perda de servios prestados pelo funcionamento da vegetao, como a depurao das guas e do ar, proteo do solo, equilbrio climtico, reciclagem da matria e regulao do fluxo energtico, informao educacional e cientfica e inspirao cultural e artstica, entre tantos outros; c) na perda de variedade de interesse econmico imediato. A Vegetao do Estado do Maranho A vegetao do estado do Maranho reflete os aspectos transicionais do clima e das condies edficas da regio de transio, dos quais resultaram variados ecossistemas, desde ambientes salinos com presena de manguezais, passando por campos inundveis, cerrados e babauais, at vegetao florestal de grande porte com caractersticas amaznicas. A Figura 1 mostra as reas de distribuio dos principais tipos de vegetao do estado.

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Figura 1. Mapa do estado do Maranho, com as reas de ocorrncia dos principais tipos de vegetao.

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Muitos destes ecossistemas foram alterados em vrios nveis de intensidade e no se percebe, em um futuro prximo, a possibilidade de se interromper as modificaes em curso. Primeiro porque a populao da regio no dispe de recursos financeiros e tecnolgicos para substituir as prticas responsveis pela degradao resultante da atividade dos agricultores. Segundo porque a atuao dos rgos de fiscalizao nem sempre consegue evitar a atuao de madeireiros ou carvoeiros que se sentem vontade para praticar a devastao no que ainda resta de vegetao primria no Estado. Quando se trata da classificao da vegetao, seja para fins cientficos ou mesmo para explorao, diferenas em biomassa so consideradas de grande importncia ecolgica, uma vez que esto diretamente associadas diversidade de habitats e conseqentemente biodiversidade. Alm disso, a exuberncia da comunidade florestal, representada pela pujana fisionmica da floresta, est mais relacionada biomassa e altura mdias do que diversidade florstica. Infelizmente, os modelos de classificao da vegetao disponveis atualmente no contemplam a diversidade de padres estruturais e estgios sucessionais associados degradao da cobertura vegetal original, tampouco definiram padres para determinao de sua importncia ecolgica relativa, principalmente em regies de alta variabilidade espacial da vegetao como o caso do Maranho. Tem-se que considerar, tambm, que formaes vegetais de mesma biomassa e padro de cobertura vegetal podem apresentar capacidades distintas de recuperao e resistncia ao mesmo impacto, em conseqncia, principalmente, da variao na fragilidade do seu habitat. No Maranho e em toda a regio de transio, pouco se conhece sobre a composio florstica e a estrutura das diferentes formaes vegetais do Estado, e de seus subtipos, os quais variam de acordo com a posio no relevo, a proximidade dos cursos dgua, o estrato analisado, a intensidade das alteraes que em alguns casos provoca a predominncia de algumas espcies, ou at mesmo possveis endemismos. Com a forte presso de desmatamento para fins agrcolas, pastoris e madeireiros, a cobertura vegetal original da regio sofreu, e sofre, forte explorao direta que alteraram a fisionomia, a estrutura e a diversidade das formaes florestais, e interferem com o seu funcionamento, comprometem os mecanismos de reteno e

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ciclagem de nutrientes, e representam uma ameaa ao equilbrio a longo prazo do ecossistema florestal. Outros resultados dramticos desses processos tm sido:

i.

A transformao da cobertura vegetal, que passa de formaes florestais para sistemas dominados pelo homem, com posterior formao de vegetao secundria (capoeira), aps o abandono de reas de cultivo e de pastagem;

ii.

O empobrecimento do ambiente, que alm de no resultar em progresso social sustentvel acabou por criar um ciclo vicioso onde o ambiente pobre, a populao carente e a presso sobre os recursos naturais muito forte.

Dos muitos ecossistemas da regio de transio os mais pressionados so a floresta mida e mais recentemente o cerrado. A primeira por causa da grande biomassa e alta diversidade e o segundo pela facilidade de desmatamento, boa topografia e qualidades do solo relativas a capacidade de respostas ao uso de corretivos e fertilizantes (Emanoel Gomes de Moura, com. pes.). Juntos, eles perfazem mais de 50 % da rea total do estado do Maranho e conseqentemente, apresentam os maiores problemas do ponto de vista de seu uso atual e futuro. Grande parte da floresta j cedeu lugar a vegetao secundria, principalmente devido agricultura de subsistncia, e o cerrado est sendo ocupado pela agricultura extensiva, pelo que necessrio que sejam destacados a estrutura, diversidade e uso desses ecossistemas. Floresta Amaznica Maranhense O estado do Maranho, representando o extremo oriental do domnio amaznico no pas, com ligaes com as Provncias Central e Atlntica, originalmente foi coberto por dois tipos principais e distintos de floresta: a floresta mida, tpica da Amaznia, e a floresta decdua ou caduciflia, em uma rea que, no incio da dcada de 50, correspondia a 150.850 km2, cerca de 46 % do Estado. Atualmente, a rea coberta por estes tipos florestais, encontra-se muito reduzida, restrita a pequenas manchas em regies praticamente isoladas ao noroeste e est seriamente ameaada.

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A diversidade de climas e solos compreendida pela floresta amaznica maranhense, alm da histria de uso dessas reas, se reflete na diversidade de vegetao, envolvendo matas de cips, nas reas mais midas, e matas secas, mais a leste e ao sul do limite de distribuio da floresta, as quais so matas mais abertas e com carter semidecidual, nas regies onde a pluviosidade menor, e apresentando uma densidade maior de palmeiras, como babau (Orbignya spp) e bacaba (Oenocarpus spp). Com relao estrutura e diversidade das formaes vegetais amaznicas, algumas comparaes gerais demonstram que, em um hectare, o nmero de rvores com DAP (dimetro a altura do peito) mnimo de 10 cm varia de 393 a 727, com mdia de 524,1, o nmero de famlias varia de 27 a 47, com mdia de 37, o nmero de gneros varia de 60 a 130 (mdia de 86) e o nmero de espcies de 75 a 196 (mdia de 128,3), o que caracteriza um grande nmero de espcies por unidade de rea, embora mais da metade delas esteja representada por populaes esparsas, onde a densidade geralmente muito baixa. Alm disso, em torno de 33 a 37 % das famlias botnicas esto representadas por uma nica espcie, e de 15 a 28 % das espcies so representadas por um nico indivduo. O fato de que existem poucas espcies abundantes (representadas por muitos indivduos) e muitas espcies raras (com poucos indivduos muito dispersos) (Pires & Koury, 1959), sem que se conheam, na maioria dos casos, as leis que regulam essa variabilidade, um carter generalizado da flora amaznica. A floresta amaznica maranhense, do ponto de vista estrutural, bastante semellhante floresta mida amaznica - a densidade mdia de rvores em torno de 570 indivduos por hectare, com 37 famlias e cerca de 100 espcies; cerca de 50 % das famlias botnicas esto representadas por uma nica espcie, e 20 a 30 % das espcies com um nico indivduo. Por outro lado, observa-se uma grande concentrao de indivduos em algumas poucas famlias e espcies que seriam dominantes, o que no comum numa floresta amaznica tpica, porm, a presena de muitas outras famlias e espcies pouco representadas evidencia a diversidade na rea. As famlias que se destacam em nmero de espcies e de indivduos so Leguminosae, Sapotaceae, Moraceae, Burseraceae, Sapindaceae, Euphorbiaceae, Apocynaceae, Annonaceae, Lecythidaceae, Rubiaceae, Lauraceae, Bignoniaceae,

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Meliaceae e Rutaceae. Espcies de grande porte, como Piranhea trifoliata (piranheira), Cenostigma tocantinum (caneleiro), Hymenaea courbaril (jatob), Spondias lutea (cajazinho), Copaifera reticulata (copaba), Hymenaea parvifolia (jatob-curuba), espcies com grande densidade de indivduos como Protium tenuifolium (amesclo), e espcies raras como Tabebuia impetiginosa (ip-roxo), Tabebuia serratifolia (ipamarelo), Parkia sp (faveira), Astronium gracile (muiracatiara), Eschweilera amazonica (juruparana), Apuleia leiocarpa (amarelo), Lecythis usitata (jarana), Didymopanax morototoni (morotot), entre muitas outras que respondem pela grande diversidade dessas reas. A retirada da vegetao florestal implica de imediato em uma simplificao do habitat, interferindo com os padres de raridade e abundncia das espcies. Por isso na floresta secundria, percebe-se claramente as alteraes na flora, na diversidade e na densidade relativa de algumas famlias e na biomassa. Famlias como LeguminosaeMimosoideae, Lauraceae, Burseraceae e Rubiaceae, tpicas de ambientes menos perturbados, apresentam diminuio do nmero de indivduos medida que a cobertura florestal diminui, enquanto aumentam os indivduos de outras tpicas de ambientes mais abertos como as Celastraceae, Melastomataceae, Arecaceae, Myrtaceae e

Cecropiaceae. Estas reas florestais perturbadas propiciam um espectro de condies ambientais muito variado, e essa heterogeneidade ambiental exerce um forte efeito seletivo, atestado pela ocorrncia de espcies exclusivas, ou pelo registro de um maior contingente populacional nestes ambientes (Nuez-Farfan & Dirzo, 1988). Alm disso, tem sido observado tambm que o nvel de explorao da floresta influencia o nmero de indivduos total e por classe de tamanho da regenerao natural, propiciando um aumento no nmero de indivduos, de gneros e de espcies pioneiras e secundrias, quanto maior for a reduo da densidade da floresta. Tambm o padro bsico de distribuio de tamanho das populaes modificado e deve ser considerado, na avaliao do status sucessional da floresta. Por exemplo, o padro de distribuio pode sugerir se uma espcie capaz, ou no, de reproduzir no sub-bosque da floresta, persistindo e possivelmente se tornando mais abundante.

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A Floresta de Babau (Babaual) As reas com floresta de babau (Orbignya spp) em grupamentos compactos so exemplos de vegetao secundria, resultante da ocupao e devastao da floresta estacional pereniflia aberta com babau que, por processos que incluem desde a retirada de rvores de valor econmico, at abertura de reas, utilizando o fogo, para empreendimentos agropecurios, possibilitou um aumento da densidade do babau, que se constitui na nica espcie dominante. No Maranho, essas florestas, que ocupam uma rea aproximada de 10 milhes de hectares, correspondem a grandes reas de vegetao degradada, com densidades de babau que variam desde 20 % at mais de 80 %, concentrando-se principalmente na regio centro norte, mas se estendendo tambm para as regies nordeste e sudeste do estado, onde os indivduos vo se tornando mais espaados. A dominncia quase absoluta de uma nica espcie, no caso o babau, um carter atpico das florestas em reas tropicais, e decorre de sua alta resistncia ao fogo, muito maior que das demais espcies da floresta, alm de sua grande capacidade de colonizar reas abertas. Isto acontece porque a maioria das espcies das florestas tropicais assegura sua regenerao atravs da manuteno de um banco de plntulas, e no de sementes, sendo, portanto, muito suscetveis ao fogo. O babau, por outro lado, apresenta um fruto tipo noz que atinge de 6 a 13 cm de comprimento, com um epicarpo lenhoso extremamente resistente, sobre o qual o fogo atua quebrando a dormncia de sua semente, favorecendo sua rpida germinao. As palmeiras jovens (pindobas) so extremamente agressivas e excelentes competidoras, ocupando todos os espaos e dificultando sobremaneira o desenvolvimento de outras espcies oportunistas (Figura 2).

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Figura 2. rea de vegetao secundria em Santa Rita mostrando a dominncia exclusiva de pindobas de babau.

A produo de cco de babau varia, no estado, principalmente em funo da densidade de palmeiras e da fertilidade do solo, sendo a regio do Mearim a que apresenta maior produo por palmeira. reas com alta densidade de palmeira e com solo de baixa fertilidade apresentam baixa produtividade tanto pela menor quantidade quanto pelo menor tamanho dos frutos. Das palmeiras nativas da regio, esta , sem dvida nenhuma, a de maior importncia econmica e social, envolvendo na extrao do cco e na comercializao de seus produtos, um grande contingente de famlias. No entanto, ainda no se conhece suficientemente a ecologia da espcie nem foram viabilizadas formas racionais para seu aproveitamento integral. Assim, na maioria dos casos, predomina ainda o processo primitivo de coleta e extrao das amndoas, onde a baixa remunerao propiciada pela atividade permite nica e to somente a sobrevivncia precria das famlias extratoras, refletindo na perpetuao de um padro de vida muito baixo. Cerrado Maranhense A rea de ocorrncia de cerrado na regio corresponde a aproximadamente 40% do territrio do Maranho, englobando vrias formas de vegetao com diferentes tipos estruturais, relacionados principalmente a um gradiente de biomassa, variando desde o

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campo sujo, campo cerrado, cerrado (strictu sensu), at o cerrado, para os quais a interao de fatores climticos, topogrficos e edficos, alm da presena do fogo, so considerados determinantes em sua ocorrncia. Os tipos estruturais de menores biomassas identificados no cerrado se enquadram nos chamados grupos de formaes campestres, apresentando um estrato contnuo de plantas herbceas revestindo o solo e um estrato descontnuo formado por arbustos e rvores. J, o tipo estrutural de maior biomassa, o cerrado, constitui as formaes florestais, cujo estrato contnuo formado por rvores de pequeno e mdio portes que atingem de 10 a 15 m de altura, e o descontnuo formado por plantas herbceas. A diversidade dos cerrados tida como uma das maiores, entre os ecossistemas brasileiros, destacando-se espcies de grande valor ecolgico e econmico, como barbatimo (Stryphnodendron barbatiman M.), gonalave (Astronium graveolens Jacq.), mangabeira (Hancornia speciosa Muell. Arg.), piqui (Caryocar brasiliensis Camb.), fava d'anta (Dimorphandra gardneriana L.), tamboril (Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong), candeia (Platymenia reticulata Benth.), sucupira (Bowdichia virgilioides HBK.), murici (Byrsonima crassifolia HBK.), pua (Mouriri pusa Gardn.), cagaita (Eugenia dysenterica DC.), pau terra (Qualea grandiflora Mart.), alm de muitas outras. A biomassa, medida pela rea basal total (em torno de 22 m2. ha-1) do componente arbreo bem inferior da floresta amaznica, mas a produo anual de serapilheira (que varia de cerca de 8,2 a 10,4 ton. ha-1.ano-1) comparvel quele ecossistema. O cerrado reveste extensas reas, indo desde a regio leste do Maranho, nos municpios de Barreirinhas, Urbano Santos, Chapadinha, Vargem Grande, at a regio sul, nos municpios de Balsas, Riacho, Carolina, ocupando relevo aplainado e chapadas. Grande parte da regio constitui rea tradicional de atividade de pecuria extensiva, cedendo espao rapidamente, principalmente no sul do estado, para a produo extensiva de gros. Embora a queima seja uma prtica de manejo muito utilizada nas pastagens nativas, como o caso do cerrado, para renovao e controle, o uso excessivo prejudica sua produtividade e persistncia, posto que elimina espcies de maior valor e

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modifica a composio botnica, porque as espcies respondem de maneira diferente ao fogo, sendo algumas mais e outras menos resistentes. A Vegetao e a Agricultura de Corte e Queima Nos ltimos anos os nveis de desmatamento nos trpicos tm aumentado assustadoramente contribuindo para o aumento nas concentraes atmosfricas de gases como CO2, N2O, dentre outros, o que provoca mudanas fsico-qumicas no planeta Terra. Estimativas recentes asseguram que a liberao de Carbono (C) dos trpicos por meio do desmatamento, varia entre 0,42 e 1,60 Pg1 C.ano-1, dos quais 0,1 a 0,3 Pg C.ano-1 so atribudos reduo de matria orgnica do solo (Detwiler & Hall, 1988). O desmatamento portanto a segunda maior fonte de C para a atmosfera perdendo apenas para a queima de combustveis fsseis (Veldkamp, 1993). Dados da FAO indicam que 45 % do total de desmatamento no mundo foi derivado da prtica da agricultura itinerante, que utiliza o fogo como prtica de preparo da rea para o plantio. Estimativas do Banco Mundial elevam essa proporo para 60 %, o que alcana a espantosa taxa de 10 milhes de hectares queimados por ano (Sanchez, 1996). Alm da emisso de gases traos, a queima apresenta perdas lquidas de nutrientes para a atmosfera. Dados sobre balano de nutrientes obtidos na regio leste do Estado do Par, mostram que a queima da biomassa de uma capoeira de 7 anos, sobre solo de baixa fertilidade pode transferir para a atmosfera cerca de 96 % do N, 47 % do P, 76 % do S , 30 % do Na, 48 % do K, 35 % do Ca e 40 % do Mg da massa vegetal. Esse trabalho concluiu que o perodo de sete anos de pousio no foi suficiente para compensar as perdas de K, Ca, Mg, N e S que ocorreram durante dois anos de cultivo (Holscher, 1997). Como a estrutura da vegetao e a biodiversidade so intrinsecamente relacionados, o desmatamento quase sempre leva a uma reduo da biodiversidade, resultado da transio de rea florestal, com muitas espcies de plantas e animais convivendo em equilbrio ecolgico dinmico, para rea agrcola, com reduzido nmero de espcies convivendo em desequilbrio. O conceito de pragas e doenas, por

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1 Petagrama (Pg) equivale a 10 g

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exemplo, decorrncia da atividade agrcola e s aplicvel em ecossistemas manejados pelo homem, nos quais, geralmente, a biodiversidade consideravelmente reduzida em relao aos sistemas naturais, perdendo o controle natural dos problemas fitossanitrios. Alm disso, a biodiversidade e a atividade biolgica esto estreita e diretamente relacionadas a funes e caractersticas essenciais para a manuteno da capacidade produtiva dos solos. Isto porque admite-se que sistemas ecolgicos mais diversificados tendem a apresentar maior estabilidade. Dados obtidos no Estado de Rondnia, mostram que a transformao da floresta amaznica em campo agrcola reduziu o nmero de espcies vegetais em 72 % (Fujisaka et al., 1998). A simplificao da biodiversidade nos campos agrcolas implica diretamente na substituio dos mecanismos naturais reguladores dos fluxos internos de energia e nutrientes atuantes nos ecossistemas, por mecanismos artificiais resultantes das intervenes humanas, por exemplo: o plantio, em substituio disperso de sementes; o uso de inseticidas, fungicidas e biocidas por controle natural de insetos, doenas e ervas daninhas; e o uso de fertilizantes em substituio a ciclagem de nutrientes. Essas substituies implicam na adoo de modelos agrcolas sem sustentabilidade (Matson et al., 1997; Altieri, 1999). O fogo, ao longo da histria do homem, foi sempre largamente utilizado como ferramenta de preparo e fertilizao da terra para o cultivo de produtos agrcolas, principalmente de subsistncia. Assim, o uso das queimadas , muitas vezes, o resultado da interao de variveis scio-econmicas e ambientais. Tambm so bem conhecidos os efeitos malficos das queimadas: de imediato, ocorre a fuga de nutrientes, principalmente os mais volteis, como N e S, cujas perdas podem representar at 88 % e 75 %, respectivamente, e, finalmente, a exposio do solo incidncia direta dos raios solares e das gotas de chuva, o que pode levar formao de crosta superficial e aumento da susceptibilidade aos processos erosivos. Os efeitos sobre a biomassa vegetal tambm so considerveis, representando perdas de at 87 % (Quadro 1).

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Quadro 1. Quantidade de Biomassa e teor de nutrientes da vegetao do cerrado, antes e aps a queima (Maluf, 1991).

Biomassa Tratamento Cerrado Cerrado queimado Perdas (%) (m2. ha-1) 39,269 5,307 33,962 (87 %) N 305,9 36,4 269,5 (88 %) S 15,6 4,0 11,6 (75 %)

Nutrientes (kg.ha-1) Ca 199,7 104,9 94,9 (48 %) Mg 61,2 34,7 26,5 (43 %) P 16,4 10,9 5,6 (34 %) K 55,5 38,6 16,9 (31 %)

A ocorrncia de queimadas altera profundamente a estrutura, a composio e a dinmica dos ecossistemas florestais. A retirada da vegetao provoca variaes na produo e na decomposio dos detritos orgnicos sobre o solo, em relao rea original. No que diz respeito produo de serapilheira em reas secundrias jovens, particularmente onde a vegetao foi totalmente retirada, a produo anual no ultrapassa 60 % da floresta primria adjacente (Luizo & Schubart, 1987; Dantas & Phillipson, 1989), embora alguns resultados indiquem que florestas de 6 a 14 anos j alcanam as taxas de produo de serapilheira das florestas maduras (Ewel, 1976; Golley et al., 1978; Muniz, 1998). Quando as perturbaes so menos severas, como no caso de extrao seletiva, e alguns tipos de extrativismo, a retirada de rvores do dossel e produtos da floresta, embora no destruam, alteram a estrutura e o funcionamento bsicos, e afetam particularmente a diversidade em espcies. No Maranho, os sistemas de agricultura de subsistncia caracterizam-se pela retirada da vegetao, uso do fogo como tcnica de limpeza e fertilizao do solo e utilizao de culturas alimentares de ciclo curto. Este sistema, denominado de corte e queima ou agricultura no toco, implica em