agricultura familiar no brasil

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38 REPORTAGEM | MICROPRODUTORES A agricultura familiar tem papel significativo na produção agrícola brasileira, mas os pequenos produtores enfrentam condições desiguais para crescer e comerciali- zar seus produtos de acordo com a região do País. Os agricultores do Sul, Sudeste e Centro-Oeste são mais capitalizados e têm acesso a técnicas e equipamentos moder- nos e facilidade para vender no varejo. Já os do Nordeste, especialmente do semiá- rido, enfrentam a pobreza e vivem as dificuldades da seca. “Tivemos uma boa safra [2012/2013] e vimos o aumento da renda dos agricultores familiares, mas temos uma diversidade. O Nordeste concentra a maior pobreza rural do País e enfrenta problemas grandes”, avalia o secretário da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Valter Bianchini. Francisco Graziano, um dos criadores do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) em 1996, também destaca o momento de prosperidade que vive uma par- te desses agricultores. Ele afirma que a tecnologia agrícola e as técnicas de sustentabilidade já chegaram a eles. “Os pequenos agricultores de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Espírito DESIGUALDADE AINDA É UM DESAFIO PARA PEQUENOS PRODUTORES DO PAÍS AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL Agricultura Familiar em Números 4,3 milhões de agricultores familiares 1 16 % da agricultura é não familiar 10 % do PIB vem da agricultura familiar 38 % do valor bruto da produção agropecuária vem da agricultura familiar 160 mil reais por ano é o limite máximo de renda bruta para ser considerado um agricultor familiar pelo governo 2 84 % dos estabelecimentos agrícolas são de agricultores familiares Fontes: 1. Censo Agropecuário do IBGE; 2. Ministério do Desenvolvimento Agrário; 3. Banco do Brasil Juliana Rocha

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Conteúdo publicado no Relatório de Sustentabilidade do Walmart de 2013

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Page 1: Agricultura familiar no Brasil

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REPORTAGEM | MICROPRODUTORES

A agricultura familiar tem papel significativo na produção agrícola brasileira, mas

os pequenos produtores enfrentam condições desiguais para crescer e comerciali-

zar seus produtos de acordo com a região do País. Os agricultores do Sul, Sudeste e

Centro-Oeste são mais capitalizados e têm acesso a técnicas e equipamentos moder-

nos e facilidade para vender no varejo. Já os do Nordeste, especialmente do semiá-

rido, enfrentam a pobreza e vivem as dificuldades da seca. “Tivemos uma boa safra

[2012/2013] e vimos o aumento da renda dos agricultores familiares, mas temos uma

diversidade. O Nordeste concentra a maior pobreza rural do País e enfrenta problemas

grandes”, avalia o secretário da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), Valter Bianchini.

Francisco Graziano, um dos criadores do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar (Pronaf) em 1996, também destaca o momento de prosperidade que vive uma par-

te desses agricultores. Ele afirma que a tecnologia agrícola e as técnicas de sustentabilidade

já chegaram a eles. “Os pequenos agricultores de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Espírito

DESIGUALDADE AINDA É UM DESAFIO PARA PEQUENOS

PRODUTORES DO PAÍS

AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL

Agricultura Familiar em Números4,3 milhões

de agricultores familiares1

16% da agricultura é não familiar

10%do PIB vem da agricultura familiar

38%do valor bruto da produção agropecuária vem da agricultura familiar

160 milreais por ano é o limite máximo de renda bruta para ser considerado um agricultor familiar pelo governo2

84% dos estabelecimentos agrícolas são de agricultores familiares

Fontes: 1. Censo Agropecuário do IBGE; 2. Ministério do Desenvolvimento Agrário; 3. Banco do Brasil

Juliana Rocha

Page 2: Agricultura familiar no Brasil

Relatório de Sustentabilidade 2013 39

Santo hoje são capitalizados. Não competem

com o agronegócio, fazem parte dele, exceto os

do semiárido do Nordeste.”

De acordo com o MDA, os dados mais atuali-

zados disponíveis do Censo Agropecuário de

2006, divulgados em 2009, mostram que exis-

tem 4,3 milhões de agricultores familiares no

Brasil, que representam 84% do total de pro-

dutores agrícolas no país. Já os agricultores

não familiares são apenas 16%. A Bahia tem o

maior número de agricultores familiares, com

15%, seguido de Minas Gerais, com 10%, em

terceiro vem o Rio Grande do Sul, com 8%, e

depois o Ceará, com 7,8%. São 4 os critérios

para determinar quem são eles: o 1º é ter ren-

da bruta de até R$ 160 mil por ano, por família,

limite que permite acesso ao Pronaf, às linhas

de crédito e aos programas de assistência téc-

nica e social, como o Programa de Aquisição

de Alimentos (PAA). Os outros 3 são empregar

apenas integrantes da família – ter uma pro-

dução pequena, sem funcionários contrata-

dos –, viver perto ou na propriedade rural e

ter uma área média de 50 hectares.

Algumas culturas são típicas da agricultura fa-

miliar no País, como a produção de hortaliças

e frutas e até a pecuária. Isso porque são ma-

nejos mais fáceis em pequenas propriedades,

e a qualidade está relacionada aos cuidados

do produtor no dia a dia. São esses agriculto-

res que produzem 87% da mandioca plantada

no Brasil, 70% do feijão, 46% do milho, 34% do

arroz e 21% do trigo. Na pecuária, eles concen-

tram 59% da criação de suínos, 50% de aves e

30% de bovinos. Eles também têm papel im-

portante na produção leiteira, sendo respon-

sáveis por 58% do leite produzido. Embora

representem 85% dos estabelecimentos rurais

do País, os pequenos agricultores têm partici-

pação bem menor quando o critério é a renda

gerada pela produção. Segundo o MDA, 38%

do valor bruto da produção agropecuária vem

da agricultura familiar, o equivalente a 10% do

Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

DESAFIOSApesar dos avanços na renda e nas condições

dos agricultores familiares, Bianchini admite

que existe um longo caminho a ser percorrido

para acabar com a pobreza rural. Ele calcula

que um terço dos pequenos produtores está

fortemente integrado ao mercado, com acesso

ao crédito e às técnicas, e mais um terço está

em um período de transição, com acesso aos

programas de assistência. Os agricultores res-

tantes – mais de um milhão de famílias – ain-

da estão na pobreza e precisam ser inseridos

no mercado do agronegócio. O secretário cita

os programas de assistência do governo para

ajudar esses agricultores. O Plano Safra da

Agricultura Familiar 2012/2013 liberou R$ 22,3

bilhões em recursos, incluindo linhas de cré-

dito do Pronaf, programas de assistência e o

PAA. Pelo Pronaf, o Banco do Brasil concedeu

R$ 24,2 bilhões em crédito aos pequenos agri-

cultores em 2012, um aumento de 20,7% em

comparação com 2011. Ao mesmo tempo, a

participação do setor privado e dos consumi-

dores para enfrentar os desafios da pobreza

rural é fundamental, diz Bianchini. A demanda

do varejo pelos produtos vindos da agricultu-

ra familiar ajuda a inseri-los no mercado, e os

consumidores podem ter participação nisso ao

exigir produtos com selos e certificados de pro-

dução da agricultura familiar.

Graziano ainda cita o papel do cooperativismo

na inserção dos pequenos produtores na ca-

deia do agronegócio, sobretudo para encon-

trar caminhos de comercializar a produção e

conceder crédito aos trabalhadores. É o que faz

a Cooxupé, cooperativa que representa 11.500

produtores de café do Sul de Minas Gerais, Cer-

rado Mineiro e parte de São Paulo, dos quais

80% são agricultores familiares. “Funciona bem

para o pequeno produtor porque, somando

toda a produção, dá um volume grande para

ser vendido”, lembra o diretor de marketing da

Cooxupé, Jorge Ribeiro Neto. A cooperativa tra-

balha no repasse de crédito do sistema finan-

ceiro para os cooperados e utiliza trocas como

forma de crédito – o produtor compra insumos

e paga com a produção após a colheita. Além

disso, oferece assistência técnica e capacitação

para que os pequenos agricultores tenham

uma produção mais sustentável. O governo

também prepara dois programas para ampliar

a assistência técnica aos produtores e a cons-

ciência ambiental, que deverão ser lançados

junto com o próximo Plano Safra.

24,2 bilhões de reais foram concedidos pelo BB, em 2012, em crédito do Pronaf3

50 hectares é o tamanho médio da propriedade de um agricultor familiar2

Do Total de Agricultores Familiares do Brasil

15% 10% 8%estão na Bahia

estão em Minas Gerais

estão no Rio Grande do Sul

20,7% foi o crescimento do volume de financiamento do Pronaf concedido pelo BB3