agricultura familiar, empoderamento, emacipação social e sustentabilidade por davi barbosa

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DAVI BARBOSA SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO BACHAREL EM SERVIÇO SOCIAL AGRICULTURA FAMILIAR: Emancipação social, Empoderamento e Sustentabilidade.

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TCC de conclusão do Bacharelado em Serviço Social de Barbosa, D.Uma abordagem critica sobre A agricultura familiar no Brasil

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ABNT - UNOPAR - Completo

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AGRADECIMENTOS Tutora e amiga Liliane Mendes Carneiro que introduziu o curso com seus incentivos e valiosas e contribuies enriquecedoras nos debates, um exemplo de luta e persistncia. amiga e tutora Carine Andrade Santana, por seu incansvel incentivo pela leitura de bons livros e sua preocupao pela boa formao acadmica. Obrigado minha flor de caju, um exemplo de tica a ser seguido. Tutora e amiga MaianneAos professores que contriburam...

BARBOSA, Davi. AGRICULTURA FAMILIAR: Emancipao social, empoderamento e sustentabilidade. 2014. Nmero total de folhas. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao em Servio Social) Centro de Cincias Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do Paran, Tucano - Bahia, 2014.

RESUMO

Este projeto fruto de uma extensa pesquisa bibliogrfica, e tem como tema de pesquisa a Agricultura Familiar no Brasil, Empoderamento, Emancipao, Sustentabilidade, Teleologia e Ontologia do homem do campo, Merenda escolar oriunda da Agricultura Familiar, Legislaes pertinentes, Relaes de gnero, Trabalho Infantil entre outros. Estabelecer a relao entre cada um dos pontos e propor o debate da ausncia de politicas sociais pblicas mais claras e efetivas para o homem do campo dentro de um quadro histrico que remonta a poca das Sesmarias Passando pelo grande xodo Rural. E chegando a crise estrutural no meio rural decorrente dos ajustes do modo de produo capitalista e da reordenao de foras que legitima a ideologia desenvolvimentista no Brasil. Que d origem as grandes favelas e consequentemente, o agravamento das expresses da questo social. O objetivo da pesquisa demonstrar o trabalho do assistente social no campo e as polticas voltadas para a agricultura familiar, bem como os benefcios destes para os pequenos produtores. Tem por objetivo incluso da agricultura familiar na melhoria da qualidade de vida, no empoderamento dos direitos bsicos e no incremento da divulgao desta poltica para o setor agropecurio. Quais aes Servio Social desenvolve para garantir populao rural, uma vida digna, com ampla viso de mundo atravs do fortalecimento das associaes de produtores, cooperativas, oficinas de capacitao e formas de tcnicas apropriadas produo de acordo com cada regio. Como possibilitar assim, a estabilidade financeira, prosperidade e a manuteno da famlia, famlia fora dos quadros de alienao social. O profissional de Servio Social utilizando-se de seu saber terico-metodolgico e tico-poltico ao alcanar o objetivo com a famlia agricultora, certamente tem sua identidade reafirmada pela prxis. Alcanar a emancipao das famlias um desafio constante posto ao assistente social que desenvolve suas atividades junto ao homem do campo.Palavras-chave: Servio Social. Agricultura Familiar. Emancipao. Sustentabilidade. Questo Social.

BARBOSA, Davi. LA AGRICULTURA FAMILIAR: Subttulo na lngua estrangeira. 2014. Nmero total de folhas. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao em nome do curso) Centro de Cincias Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do Paran, Cidade, 2014.

ABSTRACT

Deve ser feita a traduo do resumo para a lngua estrangeira.

Deixe um espao entre o abstract e as key-words.

Key-words: Servicio Social. Agricultura Familiar. Emancipacin. Sostenibilidad. Ediciones Sociales.LISTA DE FIGURAS

16Figura 1 Hierarquia das Necessidades Humanas

LISTA DE GRFICOS16Grfico 1 Faixa Etria

LISTA DE TABELAS17Tabela 1 Atitudes Perante os Direitos Civis

LISTA DE QUADROS17Quadro 1 Nveis do Trabalho Monogrfico

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASABNTAssociao Brasileira de Normas Tcnicas

UNOPARUniversidade Norte do Paran

SUMRIO131INTRODUO

152DESENVOLVIMENTO

172.1CONTEXTO HISTRICO DA AGRICULTURA FAMILIAR

182.1.1Lei das Sesmarias de 1375.

192.1.2xodo Rural, uma iluso capitalista.

242.1.3Legislao da Agricultura Familiar no Brasil.

252.22014, ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR.

252.3AGRICULTURA FAMILIAR NA MERENDA ESCOLAR

302.4ONTOLOGIA E TELEOLOGIA DO HOMEM DO CAMPO.

312.5A AGRICULTURA FAMILIAR E O EMPODERAMENTO

342.6AGRICULTURA FAMILIAR E A SUSTENTABILIDADE.

372.7AGRICULTURA FAMILIAR E AS RELAES DE GENERO.

402.8AGRICULTURA FAMILIAR E O TRABALHO INFANTIL.

402.9AGRICULTURA FAMILIAR E OS MOVIMENTOS SOCIAIS

412.10A AGRICULTURA FAMILIAR E A INDUSTRIALIZAO

482.11O SERVIO SOCIAL E A AGRICULTURA FAMILIAR

513CONCLUSO

52REFERNCIAS

57APNDICES

57APNDICE A Instrumento de pesquisa utilizado na coleta de dados

59ANEXOS

59ANEXO A Ttulo do anexo

1 INTRODUO

No ano internacional da agricultura familiar de 2014, este trabalho se prope retomar o debate sobre agricultura familiar no Brasil, como fonte de gerao de renda, emancipao social, empoderamento e sustentabilidade para o homem do campo, e para a sociedade como um todo. Pretende reabrir um antigo debate que remonta a 1995, e que na maioria dos municpios brasileiros est esquecido. Salienta-se que esta investigao foi realizada atravs de pesquisa de tipo exploratrio, com abordagem qualitativa, tendo como recurso metodolgico a fundamentao terica atravs de levantamento bibliogrfico. Os aportes para a investigao foram encontrados tanto no Servio Social, quanto nas Cincias Sociais, tendo sido consideradas como categorias de anlise: Agricultura familiar, sustentabilidade, empoderamento, Servio Social entre muitos outros considerados oportunos e essenciais para formulao da presente reflexo.

Ser usado como referencial terico os escritos da professora Marilda Villela Iamamoto, do professor Ricardo Abramovay, da Professora Maria de Nazareth Baudel Wanderley, da Professora Maria da Glria Gohn, da LDB, das cartilhas fornecidas pelo MDA (Ministrio do Desenvolvimento Agrrio), e outras leis pertinentes a Agricultura Familiar E Merenda Escolar entre outros escritores que for julgado necessrio e que sero apresentados nas referencias bibliogrficas deste artigo..Este artigo pretende abordar as questes da agricultura familiar e sua relao com o servio social, incluindo o homem do campo como ser politico de direito, autnomo, e capaz de prover sua sobrevivncia e a de outros enquanto ser ontolgico e teleolgico.A pesquisa bibliogrfica tem por meta conhecer os direitos do homem do campo e as polticas pblicas a elas relacionadas, no que trata da produo na agricultura familiar e sua aquisio pelo poder pblico para utilizao na merenda escolar entre outros. Quais so os caminhos para efetivar esta politica publica, e torn-la efetiva e ao alcance do seu principal usurio que o homem do campo.

Analisar o motivo do esquecimento do homem do campo desde a poca das Sesmarias, que posteriormente deu origem ao xodo rural, que levou a formao de grandes favelas, e como isso afetou o desenvolvimento econmico do pas, e quais os possveis meios para mudar o quadro histrico das politicas pblicas em relao ao agricultor e produtor familiar.

Abordar a questo do empoderamento do homem do campo enquanto ser social, politico e capaz de contribuir para a manuteno da sociedade, atravs dos movimentos sociais, conhecimentos de lei, direitos, e informaes pertinentes ao homem do campo como produtor. Argumentar sobre a aproximao do estado, na consolidao dos direitos do homem do campo. Direitos este negado pelo estado, atravs de uma robusta filosofia maquiavlica da politica do esquecimento, imposta pelo distanciamento das politicas pblica deste ator social.

Tratar da questo da sustentabilidade, na agricultura familiar enquanto explora a terra, os meios de manter e at melhor a natureza em seu entorno. Da explorao dos recursos vegetais de florestas e matas de forma controlada, garantindo o replantio sempre que necessrio. Preservao total de reas verdes no destinadas a explorao econmica. Das aes que visem o incentivo a produo e consumo de alimentos orgnicos, pois estes no agridem a natureza alm de serem benficos sade dos seres humanos; Do uso de fontes de energia limpas e renovveis (elica, geotrmica e hidrulica) para diminuir o consumo de combustveis fsseis. Esta ao, alm de preservar as reservas de recursos minerais, visa diminuir a poluio do ar. Da criao de atitudes pessoais e empresariais voltadas para a reciclagem de resduos slidos. Esta ao alm de gerar renda e diminuir a quantidade de lixo no solo, possibilita a diminuio da retirada de recursos minerais do solo. Do desenvolvimento da gesto sustentvel nas empresas para diminuir o desperdcio de matria-prima e desenvolvimento de produtos com baixo consumo de energia. Das atitudes voltadas para o consumo controlado de gua, evitando ao mximo o desperdcio. Da adoo de medidas que visem a no poluio dos recursos hdricos, assim como a despoluio.

Retomar o debate critico sobre a participao do Servio Social na afirmao da agricultura familiar enquanto direito do pequeno produtor rural.

2 DESENVOLVIMENTO

Para entender a urgncia e eminencia do desenvolvimento e aproveitamento da agricultura familiar brasileira, faz-se necessrio, uma analise do contexto histrico do setor agrcola brasileiro desde os tempos do Imprio. necessrio entender as Sesmarias, a escravido, o xodo rural, a seca nordestina, a reforma agrria e todas as politicas e legislaes voltadas para o homem do campo.

Homem do campo, este que foi esquecido por anos pelo Servio Social e pelas politicas pblicas. O caso to srio que aps sculos de abandono, agora existem politicas de compensao em torno do trabalhador campesino, que funcionam mais com um cala boca do que como fator de protagonismo e emancipao social.

Na tentativa de corrigir o erro das sesmarias, criou se a reforma agrria que por mais de meio sculo teve avanos mnimos e pouco significativos diante do imenso potencial de mo de obra e riqueza que os campos brasileiros tm a oferecer. Como disse Dowbor (1999): Patticos Construtores de muletas sociais [...], que criam sistemas burocratizados que precisam de mais capital para funcionar, do que o capital dele resultante.

A agricultura familiar comprovadamente por meio de pesquisas e visivelmente identificvel pela observao emprica, fator promotor de autossuficincia familiar, emancipao social, fonte de gerao de renda, sustentabilidade, empregabilidade, empoderamento, governana, protagonismo, associativismo, entre tantos outros adjetivos e termos tcnicos dela proveniente.

Entende-se por agricultura familiar o cultivo da terra realizado por pequenos proprietrios rurais, tendo como mo-de-obra essencialmente o ncleo familiar, em contraste com a agricultura patronal - que utiliza trabalhadores contratados, fixos ou temporrios, em propriedades mdias ou grandes.

Segundo o economista Ricardo Abramovay, da FEA-USP, tal oposio de natureza social - entre a agricultura que se apoia fundamentalmente na unidade entre gesto e trabalho de famlia e aquela em que se separam gesto e trabalho. De acordo com o economista, o modelo adotado pelo Brasil, o patronal, no foi o que prevaleceu em pases como os Estados Unidos, onde, historicamente, a ocupao do territrio baseou-se na unidade entre gesto e trabalho, e a agricultura baseou-se inteiramente na estrutura familiar. Abramovay ressalta que os pases que mais prosperaram na agricultura foram aqueles nos quais a atividade teve base familiar e no a patronal, enquanto que os pases que dissociaram gesto e trabalho tiveram como resultado social uma imensa desigualdade.

A professora Maria Nazareth Braudel Wanderley da UFPE argumenta que a noo de agricultura familiar deve ser entendida de forma genrica: como aquela em que a famlia, ao mesmo tempo em que proprietria dos meios de produo, assume o trabalho no estabelecimento produtivo (Wandeley, 1996, p.2). O carter familiar desse modelo de agricultura no um mero detalhe superficial e descritivo, mas o fato de uma estrutura produtiva associar famlia-produo-trabalho tem consequncias fundamentais para a forma como ela age econmica e socialmente. (id.). Sobre este tema da estratgia familiar como central, Wanderley argumenta de forma complementar, que mais do que a diferena quanto aos nveis de renda auferida, que apenas reconstri o perfil momentneo dos agricultores familiares, a diferenciao das estratgias familiares que est na origem da heterogeneidade das formas sociais concretas da agricultura familiar (Wanderley, 2009, p.15).

Ao contrrio do que defende Abramovay, Wanderley argumenta que o agricultor familiar no um personagem novo na sociedade contempornea (produto da ao do Estado) desvinculado do seu passado campons, mas, ao contrrio, os agricultores familiares seriam portadores de elementos de ruptura com o seu passado campons ao mesmo tempo em que mantm algumas continuidades. Nas palavras de Wanderley: os agricultores familiares so portadores de uma tradio (cujos fundamentos so dados pela centralidade da famlia, pelas formas de produzir e pelo modo de vida), mas devem adaptar-se s condies modernas de produzir e de viver em sociedade (Wanderley, 2003, p.47-48) uma vez que esto inseridos no mercado moderno e so influenciados pela sociedade englobante e pelo Estado.

Desde os idos mais remotos da humanidade, mesmo nas sociedades mais primitivas ou mesmo entre os animais, a busca pelo alvio da dor e pela cura das doenas sempre foi tentada.

Entretanto, a histria demonstra que a sociedade, ao adquirir algum grau de desenvolvimento, conhecendo melhor o organismo, suas enfermidades e tratamentos, trata de normatizar a formao dos mdicos e disciplinar o exerccio da Medicina. (SOUZA, 2001, p. 39).

2.1 CONTEXTO HISTRICO DA AGRICULTURA FAMILIAR

A contextualizao da agricultura familiar vai ao perodo neoltico, quando o homem deixou de ser nmade, coletor e caador, e passou a ter moradia fixa, desenvolveu hbitos sedentrios, passou cultivar o solo e produzir alimentos para o seus sustento. Em seguida passou a ser explorado pelo mais forte, e deixou de produzir para si mesmo, para produzir para outro em troca de algum bem, ou simplesmente para no morrer de fome. A agricultura familiar de subsistncia e anterior ao latifndio, e as grandes produes agrcolas. A falta de organizao dos produtores agrcola no perodo da revoluo industrial levou o filsofo e socialista alemo Karl Marx a sugerir a extino da atividade familiar agrcola, atravs de uma transio, que no considerava como classe social, mas apenas transitria, Pois o campesinato deixaria de existir. Uma vez que o produtor agrcola produzia seu bem de consumo e produzia para outros, ele estava fora das duas classes dominantes da poca, que era a burguesia e o proletariado. Entre eles estava o produtor familiar que poderia vir a ser proletrio, produzindo para outros, ou viria a ser burgus, explorando outros produtores menores. (SILVA, 1986).[...] se tomar-se ao p da letra as palavras de Marx, nestes trechos, tem-se que a penetrao do capital no campo implica, em primeira instncia, a dissoluo por toda a parte, no de algumas formas, mas das diversas formas de produo no tipicamente capitalistas, inclusive tipos intermedirios ou hbridos. Portanto, no deve restar pedra sobre pedra: qualquer forma de produo que se assemelhe camponesa deve inexoravelmente ser destruda pelo capital. (SILVA, 1986, p. 106).A atividade agrcola precede urbana, e desenvolveu variadas formas de enfrentamento das limitaes da terra e outros aspectos regionais pelo Brasil, resultando em um universo de possibilidades. Urge a necessidade de formao deste campo de trabalho para o Servio Social, por vrias razes, e pode-se destacar dentre elas, a territorialidade social. Neste aspecto, agricultura familiar uma politica pblica, o homem do campo um ser social, e ambos so para o Servio social um campo de trabalho ainda desconhecido e pouco explorado. Sendo a agricultura familiar uma politica pblica, cria automaticamente padres que precisam ser desmistificados e construdos com bases em projetos e leis. Sendo o home do campo um ser social, precisar ser includo, atravs do enfrentamento das expresses da questo social dele proveniente.

O que se deve levar em considerao, entretanto, que este segmento se reproduz de maneiras to diversas, que se faz necessrio uma anlise especfica em cada espao, situao e tempo, devido diversidade de estratgias que o agricultor conta para permanecer no campo. Alm disso, o referencial terico dos autores clssicos, que se dedicaram ao estudo da agricultura utilizado para a anlise, deve ser considerado sempre inserido em seu contexto histrico, considerando a especificidade espao-temporal em que as ideias e teorias foram desenvolvidas. FINATO e SALAMONI, (2008)

O contexto histrico da agricultura precisa ser conhecido dentro dos limites de cada regio. Se no Sul do Brasil a agricultura familiar encontra melhores meios de desenvolvimento devido alta taxa de pluviosidade, o nordeste enfrenta a seca. De modo que os produtores familiares do nordeste demandam de uma ateno maior por parte do estado, e ainda mais de cooperativismo e unidade entre eles para superar os obstculos postos pelas condies geodsicas.

A falta de investimento na agricultura familiar no nordeste do Brasil tem relao direta com o aumento das favelas e da pobreza nas grandes capitais. Pois uma vez que o agricultor no consegue produzir o suficiente para manter sua famlia, ele termina por abandonar sua terra natal e parte em busca novas oportunidades, sem capacitao, em um mundo hostil e fora do contexto de sua realidade. Um perito em plantaes e produtos agrcolas termina morando em uma favela, tendo seu potencial desperdiado e gerando mais desigualdades.2.1.1 Lei das Sesmarias de 1375.

Retomando o perodo histrico da agricultura familiar, as desigualdades sociais do homem do campo nos remetem aos tempos da Lei das Sesmarias de 1375. Quando a conquista do territrio brasileiro se efetivou a partir de 1530, o Estado portugus decidiu utilizar o sistema sesmarial no alm-mar, com algumas adaptaes. Onde uma pessoa era nomeada para ser o detentor das terras e consequentemente do capital, enquanto os demais se tornavam mo de obra barata, explorados e expropriados pelo imprio amparado pela lei, sob pena de morte caso discordasse de seus opressores.

Estas pessoas no sabiam trabalhar a no ser para seus patres, no tinham terra, estavam condicionadas ao soldo misero que lhe era pago por uma extensa e penosa jornada de trabalho.

A Lei de Sesmarias foi promulgada no Reinado de D. Fernando e posteriormente incorporada s Ordenaes de D. Afonso V. O Autor Gama Barros, em Histria da Administrao Pblica em Portugal afirma que a Lei de Sesmarias foi promulgada em cortes, porm no precisando o local e a data de sua promulgao. Afirma ainda ser posterior a 28 de maio de 1375, data da publicao da lei em Santarm.

Gama Barros, um dos maiores historiadores sobre as Sesmarias, retrata com volumosos documentos que havia exploraes de todo tipo por parte dos mandatrios das sesmarias, tornando o sistema, um novo tipo de escravido em liberdade. Divises de terras que chegavam a ter o tamanho de um pas, centradas nas mos de um nico homem, que passou a explorar o ndio, o negro, e at mesmo os colonizadores que havia trazido. Pode se concluir, que umas das principais razes das desigualdades sociais do Brasil tiveram inicio no perodo das Sesmarias, que desde sua fundao visou acumulao do capital e da posse de terras nas mos de poucos, tornando os demais apenas mo de obra explorada. BARROS (1945).2.1.2 xodo Rural, uma iluso capitalista.

O que o Servio Social tem feito at hoje para enfrentar os efeitos devastadores na questo social gerado pelo xodo rural? A histria do xodo rural brasileiro agravou a questo social nas periferias das grandes cidades, ocasionado a formao de grandes favelas onde a massa de desigualdades sociais dividida por uma rua ou beco. Esta crescente e preocupante ideologia de que uma vida melhor pode ser construda na cidade se deve ao fato que o campo foi esquecido pelo poder pblico, enquanto que a cidade sempre recebeu altos investimentos, criando assim a falsa iluso que a cidade trs riquezas e grandes possibilidades. O trabalhador rural foi to esquecido que nos dias atuais politicas de prioridade so oferecidas na tentativa de minorar erros de sculos inteiros. Logo aps o incio de sua colonizao, a economia brasileira era baseada no extrativismo e na monocultura. O primeiro ciclo foi o da cultura da cana de acar, iniciado em 1532; o plantio foi seguido de um grande desmatamento da rea de mata atlntica na regio nordeste, cujo clima extremamente varivel h milnios, ora com secas imensas, ora com grande ndice pluviomtrico. Em funo disso, o desmatamento s veio a aumentar as variaes climticas, agravando os fenmenos da chuva. ABRAMOVAY (1992) Conclumos assim, que o desmatamento tem origem na em parte na excluso do pequeno produtor que findou cedendo e passou a fazer parte desta mquina de degradao da terra, que so os latifndios que excluem os pequenos produtores, anulam e escravizam atravs de contratos, para colocar no lugar uma mquina capitalista de explorao em massa que ocupa grandes reas de terras sem se preocupar com a sustentabilidade. E como visam apenas o lucro, o capital, torna-se impossvel um controle ou uma reverso. (Neste caso, ficam as perguntas: Qual a diferena entre as grandes fbricas do capital e o latifndio? Qual a diferena entre o proletrio e o agricultor familiar explorado pelo latifndio?). J o homem do campo, produz para o sustento da famlia, e enquanto ser social, no visando apenas acumulao do capital, docente de uma prtica sustentvel quando aplicada.No ano de 1821, aps grande expanso, a cultura do caf responde por 18% do total das exportaes brasileiras, seguindo em ritmo acelerado por dez anos, quando, em 1831, atingia a marca de 50% de toda a produo agrcola do pas. O ciclo do caf segue seu rumo, em 1871 a colheita do produto atinge a cifra de cinco milhes de sacas. Enquanto isso, no Nordeste, em 1879, uma grande seca assola toda a regio. Com ela, morrem cerca de duzentas e vinte mil pessoas, de fome, de sede e de doenas trazidas pela misria e desnutrio. Praticamente todo o gado e toda a agricultura so extintos, forando um grande xodo rural, que chegou a provavelmente um milho de retirantes ao ano, portanto, naquela poca, a produo de cana de acar quase se extinguiu totalmente.

Outro fator responsvel pela migrao rural foi abolio da escravido em 1988 que deixou milhares de afrodescendentes sem terras, sem trabalho e sem lugar para morar, obrigando a fugir de um lugar para outro, acusados de vadiagem, perseguidos e maltratados, tornando se assim miserveis ainda piores que nos tempos de sua escravido. O xodo seguiu em direo ao Sul na dcada de 30; chegando a So Paulo; os nordestinos foram buscar trabalho nos cafezais, porm, no eram bem-vindos, pois, com a chegada dos imigrantes italianos e espanhis, muito mais robustos e saudveis, os fazendeiros preferiram os europeus aos nordestinos para o trabalho nos cafezais. Os nordestinos estavam extremamente desnutridos, doentes e miserveis, morriam s centenas, sem condies para o trabalho pesado, pois sua caminhada do Nordeste ao Sul, por milhares de quilmetros, foi feita em sua maioria a p, sem gua, sem comida e em condies sub-humanas, exaurindo suas foras.

O fluxo migratrio mudou de sentido, portanto o xodo da massa populacional foi se direcionando aos poucos para a regio amaznica, onde os retirantes se tornaram seringueiros, iniciando largo ciclo extrativista. Avanando cada vez mais em direo mata, em sentido Oeste, acabaram por invadir lenta, constante e gradualmente o territrio pertencente Bolvia, tomando posse da rea onde hoje se encontra o estado do Acre. Em 1880, Manaus torna-se lder mundial na exportao de borracha. Em 1904, so oitenta mil toneladas as exportaes do produto ao ano, j dois anos depois, em 1906, cai a exportao violentamente, gerando misria, fome e morte novamente, agora por doenas como a malria, a diarreia pelo consumo de gua infectada, entre outras enfermidades tropicais; comea o xodo rural naquela regio, e toda a zona de influncia, em direo ao Sul, agora avanando pela regio central. No Norte, a extrao do ltex ficou quase que completamente abandonada, Manaus se transforma em cidade fantasma.

Em 1957 comea a construo de Braslia, e novamente se inicia mais uma onda de xodos rurais de diversos pontos do Brasil, para o planalto central, desta vez, o fluxo se dirige das reas rurais de diversos pontos, sua partida no mais de uma nica macro regio, portanto, no s do Nordeste, e do Norte, vieram sulistas da regio do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran, alm de mineiros, paulistas e cariocas, em grande quantidade, dentre outros.

Com a industrializao na dcada de cinquenta, houve outra onda de migrao, desta vez da rea rural para as grandes cidades, de diversos pontos do Brasil. Novamente a regio Nordeste colabora com mais uma onda humana. As indstrias necessitavam de mo de obra especfica, os retirantes no tinham qualificao para o aproveitamento como operrios, iniciando uma acelerao da misria, da criminalidade, da prostituio e da promiscuidade nas periferias das grandes cidades, j inchadas pelo excesso populacional. O aproveitamento se deu muitas vezes em subempregos, nos servios domsticos e de construo civil, os trabalhadores migrantes se sujeitavam a condies de quase escravido, da a necessidade de implantao de um salrio mnimo que resultasse nas mnimas condies de sobrevivncia.

J na dcada de sessenta, logo aps o golpe militar de 1964, houve novamente um grande movimento de massa populacional devido propaganda institucional, que propalava o crescimento do Brasil, e a erradicao da pobreza. A partir dos grandes centros, com urbanizao acelerada e a construo civil, oferecendo oportunidades de emprego cada vez maiores mo de obra no especializada e analfabeta, os migrantes tiveram melhoras salariais e de condies de vida. Em funo desta melhora, comearam a mandar dinheiro para as regies de onde vieram, chamando a ateno dos parentes, amigos e vizinhos, que se encontravam ainda vivendo em condies precrias nas reas rurais. Isto ocasionou uma acelerao do xodo rural, causando ainda mais inchao nos grandes centros, aumentando ainda mais os problemas ocasionados pela misria na periferia das grandes cidades.

Atualmente, o xodo rural encontra-se em processo de extino no Brasil. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) prev que em no mximo em dez anos, 2015/2020 ocorra o fim do xodo rural no Brasil, com parcela esmagadora da populao brasileira vivendo em cidades (mais de 90% da populao absoluta). At aqui foram apresentados os principais eventos no Brasil que levaram o home do campo a abandonar a agricultura familiar, e se tornar um morador urbano, sem profisso, somando-se assim a massa de excludos nas grandes capitais. Evento que pode ser evitado se for construdas polticas srias para o aproveitamento das riquezas produzidas pelo pequeno produtor, dentro do seu territrio, da sua regio e da sua localidade. Cabe ao Servio Social criar referenciais tericos fora do eixo governo capitais.

Estamos comeando a inverso do xodo, e pesquisadores srios apontam que a partir desta dcada teremos o inverso do xodo urbano. Segundo estatsticas, j se iniciou uma onda de xodo rural, onde as pessoas comeam a fugir da violncia e voltar as suas origens. Muitos aposentados, ou outros que conseguiram acumular um capital retornam a sua terra natal. E neste quesito, temos visto o Servio Social solapado pelo estado e pelo governo, seguindo apenas os campos de trabalho, criado pelos polticos, como CRAS, CREAS etc. No queremos com isso negar sua eficcia, mas isso em muitos casos trata apenas do resultado da excluso, esquecendo-se de vacinar a origem dos eventos que do inicio as expresses da questo social. Que segundo analise emprica, criteriosa, e de fcil identificao, sempre teve origem no campo, e no pequeno produtor rural, que por falta de amparo social, tcnico e governamental, abandona sua especialidade em busca de vida melhor, e torna-se um explorado na cidade, territrio que lhe estranho. Enquanto que outro estranho lhe toma as terras para produzir, pela lgica do capital, sem sustentabilidade, tornando o problema eco ambiental, uma das novas expresses da questo social, interferindo no clima mundial, e causando problemas irreversveis a natureza.

HISTRIA DA AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL.

A emergncia do agricultor familiar como personagem poltico recente na histria brasileira. Nas duas ltimas dcadas, vem ocorrendo um processo complexo de construo da categoria agricultura familiar, enquanto modelo de agricultura e como identidade poltica de grupos de agricultores.

A literatura sobre a agricultura familiar aponta que, desde meados da dcada de 1990, vem ocorrendo um processo de reconhecimento e de criao de instituies de apoio a este modelo de agricultura. Foram criadas polticas pblicas especficas de estmulo aos agricultores familiares (como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAF, em 1995), secretarias de governo orientadas exclusivamente para trabalhar com a categoria (como a Secretaria da Agricultura Familiar criada em 2003 no mbito do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio - MDA, criado em 1998), promulgou-se em 2006 a Lei da Agricultura Familiar, reconhecendo oficialmente a agricultura familiar como profisso no mundo do trabalho e foram criadas novas organizaes de representao sindical com vistas a disputar e consolidar a identidade poltica de agricultor familiar (como a Federao dos Trabalhadores na Agricultura Familiar FETRAF). Alm do mais, a elaborao de um caderno especial sobre a Agricultura Familiar com os dados do Censo Agropecurio de 2006 (IBGE, 2009) contribuiu para evidenciar a importncia social e econmica desta categoria de agricultores no pas.

O socilogo e professor da Universidade Federal de Santa Maria Everton Lazzaretti Picolotto aponta que o reconhecimento da categoria agricultura familiar tem se dado de trs formas principais, distintas, mas complementares entre si. A primeira diz respeito ao aumento de sua importncia poltica e dos atores que se constituram como seus representantes (com a formao da FETRAF como organizao especfica de agricultores familiares e, de outro lado, com a reorientao poltica da Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CONTAG, que, a partir de meados dos anos 1990, passou a fazer uso da categoria agricultor familiar). A segunda se refere ao reconhecimento institucional propiciado pela definio de espaos no governo, definio de polticas pblicas e pela Lei da Agricultura Familiar. E a terceira advm do trabalho de reverso das valoraes negativas que eram atribudas a este modelo de agricultura, tais como: atrasada, ineficiente e inadequada. Por meio de uma luta simblica movida pelo sindicalismo, por setores acadmicos e por algumas instituies governamentais, a agricultura familiar passou a ser associada com adjetivos considerados positivos, tais como: moderna, eficiente, sustentvel, solidria e produtora de alimentos. Tais reverses de valores esto intimamente vinculadas ao processo de construo da agricultura familiar enquanto modelo de agricultura do tempo presente e o agricultor familiar, seu sujeito, passa a ser um personagem poltico importante no cenrio nacional (Picolotto, 2011).

2.1.3 Legislao da Agricultura Familiar no Brasil.

No Brasil, a agricultura familiar foi assim definida na Lei n 11.326, de 24 de julho de 2006:

Art. 3 Para os efeitos desta Lei considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:

I - no detenha, a qualquer ttulo, rea maior do que 4 (quatro) mdulos fiscais;

II - utilize predominantemente mo de obra da prpria famlia nas atividades econmicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econmicas vinculadas ao prprio estabelecimento ou empreendimento;

IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua famlia.

1 O disposto no inciso I do caput deste artigo no se aplica quando se tratar de condomnio rural ou outras formas coletivas de propriedade, desde que a frao ideal por proprietrio no ultrapasse 4 (quatro) mdulos fiscais.

2 So tambm beneficirios desta Lei:

I - silvicultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caput deste artigo, cultivem florestas nativas ou exticas e que promovam o manejo sustentvel daqueles ambientes;

II - aquicultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caput deste artigo e explorem reservatrios hdricos com superfcie total de at 2ha (dois hectares) ou ocupem at 500m (quinhentos metros cbicos) de gua, quando a explorao se efetivar em tanques-rede; III - extrativistas que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos II, III e IV do caput deste artigo e exeram essa atividade artesanalmente no meio rural, excludos os garimpeiros e faiscadores;

V - pescadores que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos I, II, III e IV do caput deste artigo e exeram a atividade pesqueira artesanalmente.

2.2 2014, ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR.Em dezembro de 2011, a Assembleia Geral das Naes Unidas declarou 2014 o Ano Internacional da Agricultura Familiar, reconhecendo o papel fundamental desse setor para a segurana alimentar no mundo. A Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura foi convidada a facilitar sua implementao, em colaborao com governos, instituies internacionais de desenvolvimento, organizaes de agricultores e outras organizaes relevantes do sistema das Naes Unidas, bem como organizaes no governamentais relevantes.

O Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF) 2014 visa a destacar o perfil da agricultura familiar e dos pequenos agricultores, focalizando a ateno mundial em seu importante papel na erradicao da fome e pobreza, proviso de segurana alimentar e nutrio, melhora dos meios de subsistncia, gesto dos recursos naturais, proteo do meio ambiente e para o desenvolvimento sustentvel, particularmente nas reas rurais.

2.3 AGRICULTURA FAMILIAR NA MERENDA ESCOLAR

A merenda escolar como fruto da agricultura familiar uma poltica pblica, cujos sujeitos e direitos sociais, so frentes de trabalho que necessitam da atuao direta do Servio Social na construo da reflexo terica, projetos, programas e garantia de direitos.

Entende-se por agricultura familiar o cultivo da terra realizado por pequenos proprietrios rurais, tendo como mo-de-obra essencialmente o ncleo familiar, em contraste com a agricultura patronal - que utiliza trabalhadores contratados, fixos ou temporrios, em propriedades mdias ou grandes.

Segundo o economista Ricardo Abramovay, da FEA-USP, tal oposio de natureza social - entre a agricultura que se apoia fundamentalmente na unidade entre gesto e trabalho de famlia e aquela em que se separam gesto e trabalho. De acordo com o economista, o modelo adotado pelo Brasil, o patronal, no foi o que prevaleceu em pases como os Estados Unidos, onde, historicamente, a ocupao do territrio baseou-se na unidade entre gesto e trabalho, e a agricultura baseou-se inteiramente na estrutura familiar. Abramovay ressalta que os pases que mais prosperaram na agricultura foram aqueles nos quais a atividade teve base familiar e no a patronal, enquanto que os pases que dissociaram gesto e trabalho tiveram como resultado social uma imensa desigualdade.A explorao familiar, tal como concebemos, corresponde a uma unidade de produo agrcola onde propriedade e trabalho, esto intimamente ligados famlia. A interdependncia desses trs fatores no funcionamento da explorao engendra necessariamente noes mais abstratas e complexas, tais como a transmisso do patrimnio e a reproduo da explorao. (LAMARCHE, 1993, p. 15). No Brasil, a agricultura familiar foi assim definida na Lei n 11.326, de 24 de julho de 2006:3

Art. 3 Para os efeitos desta Lei considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:

I - no detenha, a qualquer ttulo, rea maior do que 4 (quatro) mdulos fiscais;

II - utilize predominantemente mo de obra da prpria famlia nas atividades econmicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econmicas vinculadas ao prprio estabelecimento ou empreendimento;

IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua famlia.

[...] a direo dos trabalhadores do estabelecimento exercida pelo produtor, o trabalho familiar superior ao trabalho contratado. Foi estabelecida uma rea mxima regional para cada grande regio no Brasil como limite superior para a rea total dos estabelecimentos familiares que considere as enormes diferenas regionais para evitar que grandes latifndios improdutivos sejam includos no universo de unidades familiares. (GUANZIROLI et al, 2001, p.50).

Cerca de 60% dos alimentos consumidos pela populao brasileira so produzidos por agricultores familiares. No Brasil, a agricultura familiar responsvel pela produo de 87% da produo nacional de mandioca, 70% da produo de feijo, 46% do milho, 38% do caf, 34% do arroz, 21% do trigo e, na pecuria, 60% do leite, 59% do plantel de sunos, 50% das aves e 30% dos bovinos. Segundo dados do Censo Agropecurio de 2006, 84,4% do total de propriedades rurais do pas pertencem a grupos familiares. So aproximadamente 4,4 milhes de unidades produtivas, sendo que a metade delas est na Regio Nordeste. Esses estabelecimentos representavam 84,4% do total, mas ocupavam apenas 24,3% (ou 80,25 milhes de hectares) da rea dos estabelecimentos agropecurios brasileiros. J os estabelecimentos no familiares representavam 15,6% do total e ocupavam 75,7% da sua rea.

Tabela 1. Percentuais da produo advindos dos estratos at 100 ha e mais de 100 h.

Produtos

< 100

(familiar)>100

(patronal)Mercado

Relevante

Algodo44,555,6Externo

Amendoim76,323,7Interno

Arroz29,170,9Externo

Batata63,236,8Interno

Cacau55,944,1Externo

Caf54,345,7Externo

Cana1288Externo

Cebola93,56,5Interno

Feijo7129Interno

Fumo98,41,6Externo

Laranja37,562,5Externo

Mandioca8515Interno

Milho44,455,5Interno

Soja25,175Externo

Sisal8218Interno

Tomate67,332,7Interno

Trigo45,454,6Externo

Uva90,79,4Interno

Bovinos23,576,6Externo

Sunos81,218,8Interno

Frangos80,719,3Externo

Leite55,444,6Externo

Fonte: IBGE, Censo Agropecurio, 1995/96, elaborao, exceto ltima coluna: Homem de Melo.

Segundo o ltimo Censo Agropecurio, a agricultura familiar responde por 37,8% do Valor Bruto da Produo Agropecuria. De acordo com a Secretaria de Agricultura Familiar, aproximadamente 13,8 milhes de pessoas trabalham em estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77% da populao ocupada na agricultura.

Segundo o economista Ricardo Abramovay, da FEA-USP, tal oposio de natureza social - entre a agricultura que se apoia fundamentalmente na unidade entre gesto e trabalho de famlia e aquela em que se separam gesto e trabalho. De acordo com o economista, o modelo adotado pelo Brasil, o patronal, no foi o que prevaleceu em pases como os Estados Unidos, onde, historicamente, a ocupao do territrio baseou-se na unidade entre gesto e trabalho, e a agricultura baseou-se inteiramente na estrutura familiar. Abramovay ressalta que os pases que mais prosperaram na agricultura foram aqueles nos quais a atividade teve base familiar e no a patronal, enquanto que os pases que dissociaram gesto e trabalho tiveram como resultado social uma imensa desigualdade.

Por meio da Lei n 11.947/2009, a Agricultura Familiar passa tambm a fornecer gneros alimentcios a serem servidos nas escolas da Rede Pblica de Ensino. Do total dos recursos repassados pelo FNDE para o Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE), no mnimo 30% deve ser comprado em gneros alimentcios da agricultura familiar, sem intermedirios e dispensando o processo licitatrio. BRASIL, 2009.Considerando que a meta do Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE), implantado em 1955, garantir, por meio da transferncia de recursos financeiros, a alimentao escolar dos alunos de toda a educao bsica (educao infantil, ensino fundamental, ensino mdio e educao de jovens e adultos) matriculados em escolas pblicas e filantrpicas.

Seu objetivo atender as necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanncia em sala de aula, contribuindo para o crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes, bem como promover a formao de hbitos alimentares saudveis.

Atualmente, o valor repassado pela Unio a estados e municpios por dia letivo para cada aluno definido de acordo com a etapa de ensino:

Creches R$ 1, Pr-escola R$ 0,50, Escolas indgenas e quilombolas R$ 0,60, Ensino fundamental, mdio e educao de jovens e adultos R$ 0,30, Ensino integral (Mais Educao) R$ 0,90. BRASIL (2011).

O repasse feito diretamente aos estados e municpios, com base no censo escolar realizado no ano anterior ao do atendimento. O programa acompanhado e fiscalizado diretamente pela sociedade, por meio dos Conselhos de Alimentao Escolar (CAEs), pelo FNDE, pelo Tribunal de Contas da Unio (TCU), pela Secretaria Federal de Controle Interno (SFCI) e pelo Ministrio Pblico.

O oramento do programa para 2013 de R$ 3,5 bilhes, para beneficiar 43 milhes de estudantes da educao bsica e de jovens e adultos. Com a Lei n 11.947, de 16/6/2009, 30% desse valor ou seja, R$ 1,05 bilho devem ser investidos na compra direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimula o desenvolvimento econmico das comunidades.

O mnimo 30%, mas pode ser comprado da agricultura familiar at 100% do recurso repassado para a alimentao escolar pelo FNDE. Esses 30%, em 2010, correspondem a cerca de 1 bilho de reais. Do ponto de vista de quem produz, a nova Lei abre mais um mercado, o da Alimentao Escolar, no qual a agricultura familiar pode atuar como fornecedor. Ao todo, hoje, so 47 milhes de alunos, distribudos em 190 mil escolas da Rede Pblica de Ensino em todo Brasil. O resultado de todo esse potencial de mercado poder ser: Mais desenvolvimento local; aumento do dinamismo na economia local e desconcentrao da renda regional; estmulo ao consumo de produtos orgnicos/agroecolgicos na alimentao escolar, disseminando sistemas de produo de menor impacto am biental.Segurana e garantia de comercializao para o mercado institucional. BRASIL, 2011.

Alm disso, a agricultura familiar hoje o segmento agrcola que mais detm propriedades e o que recebe menos investimentos por parte do governo. Segundo o INCRA (2000):

Os agricultores familiares representam, portanto, 85,2% do total de estabelecimentos, ocupam 30,5% da rea total e so responsveis por 37,9% do Valor Bruto da Produo Agropecuria Nacional, recebendo apenas 25,3% do financiamento destinado a agricultura (INCRA, 2005, p.2).

Esta pesquisa instigante do ponto de vista de novas reas de atuao para o Assistente social como campo de trabalho, e deve ser discutida. O debate est aberto.

2.4 ONTOLOGIA E TELEOLOGIA DO HOMEM DO CAMPO.

Quem o homem do campo, e qual sua finalidade enquanto ser social? O homem do campo tem prazer no seu trabalho, sua realizao ver a terra produzir. A terra sua me, e tocar o cho com seus ps um prazer. Dito isto, fica posto, que, a agricultura familiar parte da ontologia e da teleologia do homem do campo, parte do seu ser e de sua finalidade, aquilo que ele e que sente se bem em ser. Neste ponto, a agricultura familiar no s questo econmica, questo subjetiva do trabalho como realizao, ao fazer aquilo que gosta, o homem se realiza enquanto ser social. Enquanto se realiza, constri e reproduz em seu entorno o modelo de sociedade almejada.

Kant (traduo de 2010) argumenta que a ontologia, "se preocupa menos dos objetos do que do modo de conhec-los, na medida em que este deve ser possvel a priori", ou seja, conhecemos muito dos produtos do campo, dele abstramos o mximo possvel a nossa mesa e vesturios. Contudo, nada quase sabemos das mos que plantam, colhem ou fiam. Da roupa de algodo que vestimos; ter sido plantada e colhida por maquinrios, ou por mos humanas? Da comida que vem a nossa mesa, dos gros, dos cereais, dos legumes ou mesmo das carnes. Quem foi o responsvel por seu cultivo? Quais foram as tcnicas aplicadas na sua produo? Qual o valor abstrato e qual o valor absoluto de tal mo de obra?

O homem do campo, em essncia, nunca deixa de ser. Ele pode migrar para a cidade, se profissionalizar, emancipar-se. Mas sempre ser homem do campo, e ao ser indagado sobre onde gostaria de estar ou viver, sua resposta ser bvia, quero voltar para minha terra. Vou me aposentar a voltar as minhas origens.

A relao do agricultor familiar com sua terra no se pauta apenas na produo para a comercializao da produo, mas ele se identifica com o lugar que trabalha e vive. Em muitos casos, foi no mesmo pedao de terra que seus antepassados viveram. O que torna o lugar carregado de um sentimento de posse e identificao (valores simblicos). Nestes sistemas de organizao familiar, a ontologia e a teleologia no representam somente a base de sua estrutura de produo, mas uma dimenso abrangente, relacionada totalidade da vida do agricultor e fundamento de reproduo social da famlia (CANUTO; SILVEIRA; MARQUES, 1994, p.61).2.5 A AGRICULTURA FAMILIAR E O EMPODERAMENTOO homem do campo ficou longe da participao politica, fora da participao econmica, uma verdadeira contradio. Aqueles que alimentam a nao, no participam do seu governo, aqueles que desde os primrdios, construram com suor e sangue as fundaes basilares da sociedade, no participam de seus benefcios, nem de suas decises, e por fim no participam do mercado. O resgate da agricultura familiar, como elemento de poder politico para o homem do campo, dever do estado, da sociedade e do servio social. Urge o compromisso tico politico do servio social em fazer do homem do campo, um sujeito politico de fato.

O "empoderamento" da comunidade, para que ela seja protagonista de sua prpria histria tem sido um termo que entrou para o jargo das polticas pblicas e dos analistas, neste novo milnio. Trata-se de processos que tenham a capacidade de gerar processos de desenvolvimento auto-sustentvel, com a mediao de agentes externos - os novos educadores sociais atores fundamentais na organizao e o desenvolvimento dos projetos. O novo processo tem ocorrido, predominantemente, sem articulaes polticas mais amplas, principalmente com partidos polticos ou sindicatos. GOHN (2006)Empoderar o homem do campo, significa ir at ele, torna-lo cnscio de seus direitos e deveres, enquanto participante da sociedade com a qual mantem relaes de manuteno atravs de sua produo, e no s isso, torna-lo ser social de sua existncia atravs da organizao da categoria por meio cooperativas, associaes etc.

[...] o significado da categoria "empowerment" ou empoderamento como tem sido traduzida no Brasil, no tem um carter universal. Tanto poder estar referindo-se ao processo de mobilizaes e prticas destinadas a promover e impulsionar grupos e comunidades - no sentido de seu crescimento, autonomia, melhora gradual e progressiva de suas vidas (material e como seres humanos dotados de uma viso crtica da realidade social) [...].Gohn (2006) Neste sentido, o agricultor familiar, sendo um dos principais atores na manuteno da sociedade atravs da produo de alimentos e bens de consumo, deve participar de sua construo direta, como politico, critico, exigindo que as legislaes a seu respeito sejam rigorosamente cumpridas em seu territrio de produo.

Uma sociedade democrtica s possvel via o caminho da participao dos indivduos e grupos sociais organizados. Gohn (2006). No se muda a sociedadeapenascom a participao no plano local, micro, mas a partir do plano micro que se d o processo de mudana e transformao na sociedade. no plano local, especialmente num dado territrio, que se concentram as energias e foras sociais da comunidade, constituindo o poder local daquela regio; no local onde ocorrem as experincias, ele a fonte do verdadeiro capital social, aquele que nasce e se alimenta da solidariedade como valor humano.

O agricultor Familiar inicio da economia local, ele produz o alimento da merenda escolar, produz o produto fresco da feira livre, ele abastece o mercado local com produtos frescos a custo baixo, pois no demanda de transporte, nem de grandes despesas com armazenamentos, e acima de tudo, o mais importante, ele no est na linha de ao dos parasitas que sos os atravessadores que encarecem os produtos chegando a dobrar o preo sem acrescentar ou agregar valor algum ao produto final. O produtor local gera capital social quando gera autoconfiana nos indivduos de uma localidade, para que superem suas dificuldades. Gera, junto com a solidariedade, coeso social, foras emancipatrias, fontes para mudanas e transformao social.Gohn (2006).

O agricultor familiar faz parte da regio, ele faz parte da histria do local, seus filhos demandam do capital estatal para educao, sade, lazer etc. E como ator de seus direitos, deve participar diretamente das decises emanadas do poder estatal local e assim tornar se sujeito politico a nvel nacional.

no territrio local que se localizam instituies importantes no cotidiano de vida da populao, como as escolas, os postos de sade etc. Mas o poder local de uma comunidade no existe a priori, tem que ser organizado, adensado em funo de objetivos que respeitem as culturas e diversidades locais, que criem laos de pertencimento e identidade socio-cultural e poltica. Gohn (2006).

O homem do campo est abandonado e precisa ser resgatado, seu valor histrico, sua participao, seus conhecimentos, sua cultura, sua capacidade de sobrevivncias, seu poder de sustentabilidade, sua produo nica, sua capacidade de manuteno, so patrimnios da humanidade que no podem e no devem ser extintos.

Entre as metas nacionais de plano de governo mais urgentes encontra-se, sem dvida, o empoderamento das famlias que habitam e trabalham nas zonas rurais. A histria do xodo rural nos ltimos decnios atesta o drama de milhes de famlias, expostas a violncias e sofrimentos indizveis, que nos obrigam a unir esforos em bem do agricultor familiar. A poltica agrcola no pode ser considerada apenas sob a perspectiva da produo de alimentos, com descaso pela situao dos trabalhadores rurais.

H valores que devem ser assegurados. O ambiente rural facilita a convivncia familiar, o contato com a natureza, a aproximao entre as geraes, a partilha no trabalho e nos momentos de lazer e descanso. Na atual fase do desenvolvimento nacional so muitas as famlias que lutam por conseguir o uso e propriedade da terra, na qual possam morar e encontrar honesto sustento, de acordo com suas inclinaes e capacitao nos trabalhos. Crescem, com efeito, os grupos de acampados espera do assentamento que lhes devido. Em 1995 houve 554 conflitos pela posse da terra e no ano de 1996 a violncia no campo fez 33 vtimas. Dom Luciano (1996).

Compete ao Servio Social propor uma ao poltica, inteligente e conjunta da sociedade brasileira para criar, sem violncia, condies de redistribuio da terra. As leis devem regulamentar a propriedade rural, de modo a salvaguardar os direitos sociais do pequeno produtor rural, que na tica do servio social, um trabalho territorial, que parte do micro para o macro. A muita terra ociosa ou abusivamente concentrada nas mos de poucos, quando a maior parte da populao rural no tem acesso propriedade e padece fome e misria, enquanto atravessadores ficam como todo lucro, criando assim de vis indireto, a acumulao do capital, sem produzir bem algum.

O empoderamento do homem do campo, alm dos incentivos econmicos indispensveis para a aquisio de instrumentos, sementes, melhoria do solo, irrigao, combate s pragas, requer trs indispensveis iniciativas por parte do governo e da sociedade. A primeira a educao que assegure o ensino bsico e a capacitao profissional adequada cultura e exigncias do meio rural. necessrio, porm, valorizar e subsidiar as "escolas-famlias-agrcolas", que alternam a presena na famlia e na escola, oferecendo pedagogia prpria ao homem do campo. A segunda o atendimento sade, com medicina comunitria preventiva, condies sanitrias e rede de hospitais no interior. Acrescente-se a terceira iniciativa, a tecnologia, que facilite e melhore a produo agrcola, a pecuria, a avicultura e outros setores.

Nesta batalha entre a fora e o poder, esta o Servio Social para garantir a criao de novos programas de governo nos municpios e Estados, bem como a nvel federal. So atribuies privativas do Servio social, a elaborao de projetos de politicas publica para resgatar a dignidade dos trabalhadores rurais.O resgate do papel do homem do campo como parte essencial de uma sociedade saudvel, enquanto protagonista politico imperioso para preservao de sua cultura e de seus conhecimentos, e dai nasce outra preocupao crescente no mundo globalizado, que a sustentabilidade.

2.6 AGRICULTURA FAMILIAR E A SUSTENTABILIDADE.

Sem considerar a questo social, no h sustentabilidade. Em primeiro lugar preciso respeitar o ser humano, para que este possa respeitar a natureza. E do ponto de vista do ser humano, ele prprio a parte mais importante do meio ambiente. Ningum conhece melhor a terra do que o homem do campo, e cujo conhecimento pode ser redirecionado na gerao de sustentabilidade. A preservao do meio ambiente parte da responsabilidade do projeto tico politico do Servio Social.De acordo com Toscano,[...] que todos os pases desenvolvidos tm na agricultura familiar um sustentculo do seu dinamismo econmico e de uma saudvel distribuio da riqueza nacional. Todos eles, em algum momento da histria, promoveram a reforma agrria e a valorizao da agricultura familiar. Para se ter uma idia, a ocupao histrica do territrio dos Estados Unidos foi na unidade entre gesto e trabalho e a agricultura foi inteiramente baseada na estrutura familiar (TOSCANO, 2003).

Esta relao direta entre a economia e o pequeno produtor rural passou despercebida no Brasil por sculos, s recentemente se comeou um trabalho ainda muito tmido em relao a emancipao deste ator social em busca de uma melhor aproveitamento deste recurso de produo econmica e sustentvel.A contribuio do homem do campo na acumulao terica sobre sustentabilidade singular. Nenhum outro ator agrcola detm tantos conhecimentos, acumulados por geraes, sobre manuteno rural com o homem do campo. Conhecimentos sobre remanejo de plantios, eroso, reflorestamento, nascentes de rios, chuvas, combate a pragas, e uma variedade de conhecimentos culturais e populares que vem se perdendo ao longo do tempo, pelo isolamento politico participativo. necessrio resolver o paradigma da produo e preservao ou no termos mais produo. Nesse sentido, vive-se, atualmente, como defendem alguns autores, um momento de transio de paradigmas que, de acordo com Becker uma transio que se revela nas mltiplas dimenses de uma crise decorrente do esgotamento do paradigma dominante e se pr-anuncia na emergncia de um novo paradigma (BECKER, 2002, p. 31).O poder comunitrio do homem do campo precede a qualquer outro tipo de cooperativa, deriva dos tempos remotos anteriores as cidades, dos famosos mutires de ajuda, tambm conhecidos como puxiro, dobradinha e tantos outros nomes dados pelo Brasil afora, a este movimento de unidade informal entre produtores de uma determinada regio que se uniam para ajudar construir uma casa, preparar um terreno, colher uma safra etc. Este poder comunitrio est esquecido e precisa ser revitalizado na construo da sustentabilidade atual.

A sustentabilidade comunitria uma aplicao do conceito de sustentabilidade no nvel comunitrio. Diz respeito aos conhecimentos, tcnicas e recursos que uma comunidade utiliza para manter sua existncia tanto no presente quanto no futuro. Este um conceito chave para as comunidades agrcolas que produzem as margens das cidades. Diversas estratgias podem ser usadas pelas comunidades para manter ou ampliar seu grau de sustentabilidade.O conhecimento do Agricultor familiar em relao a sustentabilidade suplanta qualquer trabalho cientifico e precisa ser aproveitado de forma mais evidente, Canuto e Silveira os denomina como Oikolgicos devida s a sua forte ligao a terra e a natureza.

Em relao sua importncia enquanto grupo econmico, os oikolgicos so sistemas minoritrios e cada vez mais escassos. No entanto, representam as ltimas fontes preservadas de biodiversidade e do conhecimento necessrio para gerir tal diversidade em sistemas agrcolas complexos. Desse modo, so sistemas com potencial para fornecer informao gentica e tecnolgica para incrementar a sustentabilidade de outros sistemas. (CANUTO; SILVEIRA; MARQUES, 1994, p. 61 e 62).Conclui-se que no h como falar em sustentabilidade sem falar na agricultura familiar, devido ao poder micro regional de produo e manuteno sustentvel, potencializado pelo numero de agricultores familiares que suplantam os grandes produtores em 3/1.

A adoo de aes de sustentabilidade garante a mdio e longo prazo um planeta em boas condies para o desenvolvimento das diversas formas de vida, inclusive a humana. Garante os recursos naturais necessrios para as prximas geraes, possibilitando a manuteno dos recursos naturais (florestas, matas, rios, lagos, oceanos) e garantindo uma boa qualidade de vida para as futuras geraes.

Os herbicidas so os agrotxicos mais utilizados no Brasil, principalmente no controle de ervas daninhas, seguidos dos inseticidas, fungicidas e acaricidas. o que revela a publicao "Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel - Brasil 2004", lanada pelo IBGE. Revela tambm que, apesar do uso massivo de agrotxicos, os agricultores tm investido em produtos menos txicos nos ltimos anos.

Uma meta do programa de desenvolvimento sustentvel para o pas, traado pela Organizao das Naes Unidas ONU justamente diminuir a toxidade desses produtos e utiliz-los em menor escala. Mas adotar essa ltima medida no to simples, pois os agrotxicos so um dos principais recursos empregados no atual modelo de desenvolvimento da agricultura do pas. Assim, permanece o desafio: como aumentar a produo de alimentos de forma sustentvel? Isto , como produzir mais alimentos sem poluir o meio ambiente? Muitos so os efeitos do uso desses produtos. Por um lado, so importantes no controle de pragas, doenas e ervas daninhas nas plantaes. Por outro, podem contaminar as guas, o ar e o solo, alm de causar prejuzos sade da populao (tanto dos consumidores quanto dos produtores de alimentos).

Este um campo vasto, que ainda no foi devidamente explorado pelo Servio Social. A realidade esta posta, IAMAMOTO (2001, p.21), cabe aos profissionais criarem projetos e planos de aes para desbravar este vasto campo de trabalho. Est provado que a sociedade no vive sem o campo, donde provm sua produo alimentar. Logo, se a sociedade no sobrevive sem o campo, de vital importncia, que o campo seja mais includo enquanto fonte de manuteno desta sociedade. As leis para o home do campo foram criadas e esquecidas, seus direitos so negados todos os dias. neste ponto que urge a interveno direta do Servio Social neste campo de atuao.

2.7 AGRICULTURA FAMILIAR E AS RELAES DE GENERO.O termo homem de campo por si s j excludente, visto que o homem do campo, muitas vezes uma mulher, alm disso, h ainda a possibilidade da participao dos jovens aprendizes, e at da explorao do trabalho infantil conforme costumes e cultura local.

Conforme pontua Lusa (2008), neste novo mundo rural - especificamente na agricultura familiar - observou-se a continuidade de padres desiguais de gnero, os quais so histricos, culturais e ocasionam s mulheres maiores dificuldades para exerccio da vida cotidiana, que para os homens. Observa-se tal dificuldade seja em relao ao desenvolvimento de atividades de trabalho e de lazer, seja no quesito do acesso financeiro e administrativo dos bens familiares produzidos e, finalmente, no acesso a servios e polticas pblicas, tanto as sociais, quanto aquelas econmicas. Tais dificuldades vo desde o acesso a servios e benefcios sociais, at a participao social efetiva junto aos grupos sociais e a prpria comunidade.

A nica opo para participao igualitria da relao de gneros aquela oferecida segundo a filosofia de Nicolau Maquiavel (1513) [...] a pobreza se v elevada dignidade de princpio poltico: "a repblica bem organizada deve manter o Estado (i] publico) rico e os cidados pobres" (ibidem, I, 37: 119). Que esquecida nas regies mais remotas, muitas vezes ao menos fazem parte das pesquisas e do senso demogrfico.

Lusa (2008) pontua que as transformaes na contemporaneidade vm acontecendo de forma intensa, nos mais diversos setores da sociedade, contextos e conjunturas, bem como nas mais diversas reas do conhecimento. As questes de gnero inserem-se dentro deste conjunto de transformaes, tanto de ordem prtica, atravs de mudanas nas relaes sociais entre os indivduos homens e mulheres, quanto de ordem terica, atravs dos estudos nas diversas reas de conhecimento, inclusive de forma inter e trans-disciplinar. Ao mesmo tempo, seguindo o ritmo intenso das transformaes, so percebidas mudanas no contexto rural do Brasil que ocasionam o surgimento de novos paradigmas de ruralidade.

Embora despercebida, segundo Lusa (2008), a emergncia deste novo mundo rural, adentra no imaginrio de homens e mulheres rurais. E este novo, no to novo, se volta s sesmarias, passa pelo imprio, e empaca na reforma agrria, e no neoliberalismo. Neste contexto de transformao, constata-se que permanece uma situao de desigualdade nas relaes de gnero, fazendo com que as mulheres inseridas naquele contexto vivam a ausncia de autonomia, logo, de emancipao, o que configura, portanto, a necessidade (e possibilidade) de que este processo seja desencadeado. Lusa (2008).

A construo da identidade camponesa, que Bourdieu (1995) denomina de habitus campons, tambm conhecido por ethos campons, segundo Boni (2005), teve e continua tendo forte impregnao do patriarcado, o qual determina ser o homem o polo dominante tanto das relaes de produo quanto das relaes sociais do ncleo familiar rural (ou urbano), assumindo-se ele como chefe-de-famlia. Este habitus, que aqui ser tratado por cotidiano, reproduzido culturalmente atravs da transmisso dos valores a serem preservados. Assim, muitos elementos que determinam como devem ser as relaes de gnero acabam perpetuando-se e naturalizando-se atravs de padres de comportamento, sendo difcil desconstru-los embora as vrias transformaes da contemporaneidade provoquem uma nova forma - ainda tmida e insuficiente - de pensar, agir e ser. LUSA 2008.

Neste sentido, passa-se a compreender que a diviso sexual do trabalho na agricultura permeada pela tradicional e cultural dominao masculina de forma muito mais intensa que noutros contextos, gerando uma desigualdade tanto nas relaes de trabalho quanto nas relaes sociais. Segundo Elisabeth Souza-Lobo (1991), a diviso sexual do trabalho traria embutida as estratgias de utilizao do corpo a partir da representao das qualidades sociais de homens e mulheres, tomadas como naturais. Isto , qualidades no tomadas como habilidades desenvolvidas - ou no -, mas como determinaes da natureza, condicionadas na cotidianidade em suas diferenas e singularidades pelo simples fato de ser mulher ou ser homem.

Assim, nota-se que a diviso sexual do trabalho bastante explcita na agricultura familiar, cabendo ao homem as tarefas destinadas gerao de renda, tais como o cultivo dos campos, inclusive no corte, ou nos dias atuais, na preservao das matas, a construo de cercas, as relaes comerciais de vendas de produtos, compra de insumos, maquinrios, a aquisio de bens ou financiamentos, etc. J para a mulher, cabem as tarefas relativas ao mbito domstico, o qual no contexto rural estende-se aos arredores da casa. Atribui-se mulher as tarefas destinadas reproduo familiar, como os cuidados com a casa, com a comida e na educao dos filhos, o cultivo da horta e cuidados com o jardim, as pequenas criaes de gado, aves e sunos, etc.

Destarte, verifica-se que a desigual diviso sexual dos papis nas pequenas propriedades de agricultura, associa-se a dominao que permeia desde as relaes familiares internas, ou seja, aquelas que acontecem no mbito privado, at as relaes familiares externas, no mbito pblico, como por exemplo, as relaes de herana e propriedade, os arranjos matrimoniais, entre outras, tambm visualizadas e discutidas por Boni (2005) e Paulilo (2003).

Questes como a diviso sexual do trabalho na agricultura, a propriedade da terra e o matrimnio, so intrnsecas e fundamentais vida da mulher no campo. Consideraes levantadas por Paulilo (2003) apontam elementos de debate como a questo da herana, a manuteno do patrimnio familiar, a tradio cultural sobre as sucesses, os valores patriarcais camponeses, a compreenso do trabalho da mulher como um auxlio, no necessitando pagamento j que no se configura como atividade produtiva - gerada pela fora de trabalho -, a discriminao e o isolamento familiar e comunitrio das mulheres.

O bvio fica claro atravs desta breve analise reflexiva que a urgente superao da situao de desigualdade entre homens e mulheres da agricultura familiar, permeia as modificaes das relaes de gnero a partir de aes emancipatrias e de empoderamento, as quais somente so possveis atravs de uma conscincia prtica, terica e discursiva, Lusa (2008).

Mas como desbravar este campo de trabalho? Com quem e a partir de onde, e a partir de qual instituio? Que relao o Servio Social tem com esta ruptura e quais as possibilidades e/ou responsabilidades que assume em sua cotidianidade profissional junto a classe trabalhadora, especificamente aquela rural?

2.8 AGRICULTURA FAMILIAR E O TRABALHO INFANTIL.

A cultura e os costumes do homem do campo, sempre foi do trabalho braal como algo honrado e dignificante, comeando logo aos 5 anos de idade, e permanecendo assim por toda vida. Muitos jovens comearam a trabalhar logo cedo, quando ainda eram crianas, sem ter direito a lazer ou oportunidade de estudos. Muitos deles, em trabalhos pesados, quase alm de suas foras, movidos por uma cultura sem informao.

Movido pela necessidade, pela cultura ou pelos costumes, ainda hoje muitas crianas trabalham como adultos, devido omisso do estado em oferecer politicas publicas mais abrangentes e ao alcance do homem do campo.

A Constituio de 1988 determina que a idade mnima para o exerccio do trabalho seria aos 14 anos, o que foi alterado por uma Emenda Constitucional de 1998, aumentando a idade mnima para o trabalho para 16 anos (exceo feita para aqueles que trabalharem com 14 anos de idade na condio de aprendiz).Segundo os dados do estudo da OIT (2004, p. 39), a maior proporo de crianas trabalhando no ramo agrcola estaria concentrada nas regies Sul (203.281 ou 16,4% do total de meninos e 109.122 ou 25,1% do total das meninas) e Nordeste (746.277 ou 60,5% do total de meninos e 254.986 ou 58,8% do total das meninas). No Rio Grande do Sul, seriam 78.318 meninos e 45.679 meninas, com idade entre 5 e 15 anos que estriam trabalhando no ramo agrcola. SCHNEIDER 2005.

2.9 AGRICULTURA FAMILIAR E OS MOVIMENTOS SOCIAIS

Em busca de melhores condies de trabalho, suporte tcnico, financiamento de maquinrios e at de especializao, um numero cada vez maior de trabalhadores do campo tem formado as mais diversas formas de movimentos de reinvindicao. Isso se deve ao fato da manipulao do mercado em favor do capital, que mesmo nos mais distantes campos de produo, ainda explora aquele que o produz o bem e quase no participa dele.

dentro deste processo de sujeio da renda da terra que o capital entra no mundo do pequeno lavrador campons, situando-o pela ao dos monoplios. Mas a mesmo que gestado o movimento contrrio, que leva a unio desses trabalhadores enquanto classe. E a liberdade de produzir tem sido a bandeira empunhada por esses camponeses. (OLIVEIRA, 2001; p.12)

Este processo de contradio entre o capital e o bem produzido, a motivao da criao dos movimentos sociais, cooperativas, associativismos etc. E seguindo esta mesma lgica humana, o homem do campo, enquanto sujeito de sua soberania, se impe contra as regras de mercado, para tirar dele o sustento para sua famlia e encontrar meios de produzir mais e melhorar sua qualidade de vida.

2.10 A AGRICULTURA FAMILIAR E A INDUSTRIALIZAOUm dos maiores inimigos do home do campo so as industrias e os atravessadores. Existem pases, como o caso da Alemanha que no produz um nico gro de caf, mais uma das maiores exportadoras de caf solvel do mundo. O mesmo ocorre com o produtor familiar, que tem que disputar o mercado com grandes indstrias, que produzem para o capital, produtos contaminados com agrotxicos, e produzidos em larga escala.

Mesmo nas cidades do interior, onde em tempos remotos as feiras livres eram de produtores rurais de regies circunvizinhas, e tinha tudo que era produzido em volta da cidade, vendidos a preos populares e contribuam para o crescimento da economia local, hoje est tomada pela indstria dos atravessadores que nada plantam, mas vivem como parasitas comprando e revendendo cada vez mais caro. E isso sem pagar impostos, assemelhando se ao mercado negro do capitalismo industrial.

O cultivo agrcola diferencia-se da produo industrial, pelo fato de esta dependente dos fatores naturais, tais como chuva, vento, sol, etc. Meios de basilar importncia a produo como um todo, e em muitos casos dela carea totalmente. A terra como meio de produo assume forma peculiar, pois se trata de um bem natural pertencente a toda humanidade de forma igualitria, mas que foi tratada pela ascenso capitalista, como um objeto de mercado.

A agricultura campo de grandes resultados econmicos pertencente a uma minoria, que exploram atravs da fora de trabalho, aqueles que nela trabalham como forma de subsistncia, trabalhadores assalariados, assim como ocorre na indstria. Aps a regulamentao das leis de trabalho, a indstria se viu obrigada a respeitar a lei para evitar sanes, no entanto o homem do campo continua a ser explorado. No podemos esquecer, no entanto, que na agricultura, so reproduzidas relaes, principalmente entre pequenos produtores que no necessariamente obedecem lgica capitalista.

A produo uma atividade social. Para produzir e reproduzir os meios de vida e de produo, os homens estabelecem determinados vnculos e relaes mtuas, dentro e por intermdio das quais exercem uma ao transformadora da natureza, ou seja, realizam a produo. (IAMAMOTO, CARVALHO, 2005; p.29)

Nesta metodologia produtiva, o capitalismo tem que ceder aos elementos da natureza, sendo que esta no acompanha a lgica mercantil, que de produzir de forma acelerada. Antes de tudo, importante mencionar que o sistema capitalista consiste em um modo especifico de produo, que visa a obteno do lucro, sendo que, assim como os demais modos de produo, foi construdo historicamente. Traz em sua gnese, a explorao dos trabalhadores por parte dos donos dos meios de produo.

O processo capitalista de produo expressa, [...] uma maneira historicamente determinada de os homens produzirem e reproduzirem as condies materiais de existncia humana e as relaes sociais atravs das quais levam a efeito a produo. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2005, p. 30).

Esta explorao se representa no ato da remunerao ao trabalhador que produziu determinada mercadoria, seja ela de origem industrial ou agrcola. Desta forma, os moldes de produo capitalista esto presentes tambm no campo. [...] convm dizer que o capitalismo est em expanso tanto no campo quanto na cidade, pois esta a sua lei: a lei da produo crescente, ampliada. (Martins, 1995; p.152).

No entanto, no meio rural, o capital se depara com elementos que diferenciam suas estratgias em relao indstria, uma vez que est condicionado a fatores que no seguem a lei de mercado. Pode-se citar a especificidade dos processos biolgicos; os Condicionamentos naturais e o papel da terra como meio de produo. Os processos biolgicos compreendem basicamente as plantas e os animais. Na agricultura, a produo acontece de maneira linear, no podendo ser alterada, ou seja, preciso primeiro plantar, esperar o crescimento da planta, a gerao dos frutos para depois realizar a colheita. No caso de animais, igualmente necessrio aguardar o seu desenvolvimento. Estes fatores, somente puderam ser alterados no sentido de reduzirem de forma limitada o tempo de espera. Foram conseguidos atravs dos avanos tecnolgicos, sejam eles qumicos ou atravs da produo de mquinas mais geis e precisas.

Por exemplo, para se conseguir produzir feijo em menos dias ou madeira em menos anos, h necessidade de uma longa seleo gentica para obteno de variedades precoces, e, ainda assim, os resultados alcanados sero sempre modestos: no se chegar nunca a produzir feijo em horas e madeira em dias. (SILVA, 2003, p. 27).

Em relao a isto, existe hoje uma forte discusso em torno dos transgnicos, que no podem ser confundidos com melhoramento e seleo gentica. Os transgnicos compreendem plantas modificadas geneticamente que as tornam resistentes a determinados elementos qumicos ou ao ataque de determinadas pragas.

Na agricultura, os avanos tecnolgicos e cientficos propiciam o processo de produo, mas no de forma significativa como acontece na indstria. Nesta, as relaes de produo, a partir da Revoluo Industrial, foram consideravelmente descomplicadas.

.Na agricultura, a tecnologia interferiu no que diz respeito a colheita manual, por exemplo, de um hectare de soja a trinta anos atrs e a mesma rea de terra colhida com uma mquina de ltima gerao nos dias de hoje. Estes avanos, porm, no interferem nos processos naturais desta produo, pois ainda que existam variedades de sementes precoces, adubos bastante eficientes, este tempo de produo no ser significativamente alterado.

Os Condicionamentos Naturais compreende basicamente a luz solar, chuvas, ventos, a fertilidade natural dos solos, etc. Os condicionamentos naturais esto ligados aos processos biolgicos e so de extrema importncia para o desenvolvimento da agricultura. Desta forma, somando-se aos fatores biolgicos, na produo agrcola h perodos de no trabalho, onde a natureza a reguladora da produo. (Silva, 2003).

Na indstria, o tempo para um produto ser fabricado praticamente o somatrio dos tempos das diversas tarefas realizadas ao longo daquele processo produtivo. Ou seja, no existem perodos de no trabalho. Assim, na agricultura, [...] do ponto de vista do capital, esses tempos perdidos no qual ele [o trabalho] est submetido aos caprichos da natureza constituem um perodo em que ele no est sendo valorizado. (Silva, 2003, p.28). Esta uma caracterstica particular da produo agrcola.

Outra particularidade do campo a questo da terra. De acordo com Silva 2003, ela um meio de produo fundamental, pois o processo de produo agrcola requer uma interao com o solo, sendo que a alimentao das plantas, e dos animais indiretamente fornecida pela terra. A indstria, por sua vez, utiliza-se da terra apenas como base da construo fsica do espao em que o processo de produo realizado terreno para a construo de uma fbrica. Na dimenso agrcola, quando nos referimos a terra como meio de produo, ela possui um carter especial pelo fato de ser [...] um bem natural, finito, que no pode ser reproduzido, no pode ser criado pelo trabalho. (Silva 2003, p.159).

Existem tcnicas criadas atravs da cincia que proporcionam uma maior produtividade da terra, ou seja, se produz mais, no aumentando porm, a sua quantidade.

Conforme Martins (1995):

A terra , pois, um instrumento de trabalho qualitativamente diferente dos outros meios de produo. Quando algum trabalha a terra, no para produzir a terra, mas para produzir o fruto da terra. O fruto da terra pode ser produto do trabalho, mas a prpria terra no o . (MARTINS, 1995; p. 159-160).

Pode-se dizer que na indstria, todos os elementos envolvidos sofreram modificaes pelo trabalho humano, desde a matria-prima at os instrumentos. Na agricultura, todos os elementos tambm sofreram alguma interveno do homem, mas a terra sendo um elemento natural no pode ser modificada, apenas enriquecido. Os meios de produo existentes hoje, em sua maioria, puderam ser ampliados ou aperfeioados por intermdio dos avanos tecnolgicos e cientficos. Na indstria, atravs de novos instrumentos de trabalho; atravs da fragmentao do trabalho nas linhas de produo, etc. Na agricultura, basicamente com avanos tecnolgicos na produo de mquinas, pela criao de adubos qumicos, sementes mais produtivas, fungicidas e herbicidas, novas tcnicas de irrigao, etc. Neste sentido, importante dizer que a cincia na sociedade capitalista, possui um carter de classe e a tecnologia ainda mais, por esta se tratar da aplicao desta tecnologia no processo produtivo.

(Silva, 2003). A tecnologia , portanto, uma relao social e no um conjunto de coisas, como poderamos pensar ao olhar as mquinas, os adubos qumicos, as sementes, etc. (Silva, 2003; p.16). Pode-se dizer portanto, que no a tecnologia em si que oprime, mas sim, na forma como ela utilizada. A tecnologia se faz extremamente necessria aos processos produtivos atuais, independentemente se acontecem na indstria ou na agricultura. Sua principal funo seria a de permitir que o homem pudesse dispor de maior tempo para satisfao de outras necessidades.

O poder de controle das relaes de produo capitalista, diferentemente da produo escrava pela qual o senhor de escravos controlava totalmente a vida destes, justamente por serem considerados instrumentos de trabalho se do hoje, de uma forma mais sutil onde h, aparentemente, uma troca de equivalentes (trabalho X salrio). Na verdade, o que ocorre, que nesta relao de troca aparentemente igual, aquele que produziu a mercadoria recebe apenas uma parcela do valor produzido, que o salrio. O restante fica de posse do capitalista, que o proprietrio dos meios de produo. Portanto, nesta relao, o trabalhador produziu uma riqueza que no ato do pagamento de seu salrio, no lhe apropriado. Esta uma caracterstica construda historicamente, pela qual se move o sistema capitalista, presente tanto na indstria, a um trabalhador que produz parte de um componente de um veculo at um empregado rural, que planta e colhe a produo de seu patro.

A categoria trabalho que move todo o conjunto produtivo (instrumentos e matria-prima) sendo, portanto, um elemento especial neste processo. Antunes (2004) diz que o trabalho um processo em que o homem controla, media e regula a natureza, um processo entre o homem e a natureza. Netto e Braz (2006) caracterizam ainda o trabalho sendo ele [...] que torna possvel a produo de qualquer bem, criando os valores que constituem a riqueza social. (Netto e Braz, 2006, p. 29)

Toda mercadoria produzida em um perodo de tempo, o qual necessrio ao pagamento do salrio do empregado mais a matria-prima, mais o desgaste dos instrumentos e o pagamento dos gastos gerais. Este tempo chamado tempo socialmente necessrio. Quanto menor, maior a quantidade de lucro apropriada pelos donos dos meios de produo, pois se tratando do trabalho assalariado, o capitalista contrata o empregado para que este produza para ele durante um perodo de tempo dirio, extraindo-lhe a fora de trabalho. Neste perodo, o trabalhador produziu para cobrir os custos da mercadoria, que consiste no desgaste dos instrumentos, pagamento da matria-prima e de seu salrio e alguns outros custos.

No entanto, ele trabalha por um perodo superior ao necessrio a este pagamento. Este tempo de trabalho excedente fica de posse dos donos dos meios de produo, sob a forma de mais-valia. Portanto, a lgica do mercado produzir cada vez mais em cada vez menos tempo, para consequentemente, acumular mais. Isso facilmente observado na indstria, onde tal processo possvel atravs de horas extras de servio e no investimento de novas mquinas, mais modernas e rpidas. No entanto, na agricultura esta no uma regra.

No campo, as relaes de desigualdade tambm esto presentes, onde existem grandes latifundirios, proprietrios de imensas extenses de terra , com diversos empregados; trabalhadores que vendem sua fora de trabalho meio pelo qual podem manter-se vivos, praticamente nas mesmas condies da indstria e tambm os pequenos produtores familiares e assentados trabalhando basicamente para sua subsistncia.

As formas de dominao do capital em relao agricultura familiar se d de maneira particular em relao ao trabalhador assalariado. Conforme Martins 1995, nos casos em que o agricultor familiar permanece no campo, acaba muitas vezes se tornando um proprietrio nominal da terra, ou seja, esta sua sob a forma legal mas ao mesmo tempo trabalha na condio de explorado, tendo a maioria da renda destinada ao pagamento de instituies financiadoras da produo, como bancos e cooperativas (de carter capitalista).

Desta forma, os grandes proprietrios representantes da burguesia e no raramente, representantes polticos-partidrios esto constantemente em vantagem com relao aos pequenos proprietrios no que diz respeito ao poder de barganha na compra de adubos, sementes, agrotxico (pelo fato de adquiri-los em grande quantidade) e na venda de sua produo dificultando as condies de sobrevivncia destes pequenos produtores rurais.

Apesar da produo agrcola de carter capitalista ser condicionada aos fatores naturais, isso no impede que o capital se reorganize constantemente no espao rural. Vale mencionar que neste sentido, as agroindstrias tem papel importantssimo, uma vez que constitui-se na ligao entre o campo e a indstria, sendo o agricultor, especialmente o assalariado e o de carter familiar, os mais explorados neste processo.

A produo capitalista no campo est submetida fatores naturais para que o processo de produo possa acontecer, diferentemente da indstria. As relaes de produo no campo e na cidade so semelhantes em alguns pontos e diferentes em outros. No que diz respeito s semelhanas, podemos citar a desigualdade social, o trabalho assalariado, os elementos que constituem a produo, isto , a existncia dos instrumentos de trabalho e de um produto final. Quanto s diferenas, pode-se mencionar: no que diz respeito produo agrcola, a terra; os processos biolgicos (germinao das sementes, crescimento das plantas, maturao dos frutos, etc.) e os fenmenos climticos (chuvas, tipo de solo, fertilidade, luz solar, etc.). Estes so de extrema importncia para que esta produo ocorra.

Na indstria, pelo contrrio, estes elementos no possuem tanta relevncia, em muitos casos, so totalmente dispensveis. Por exemplo: em uma montadora de automveis, a germinao de sementes, o seu crescimento, bem como seu aspecto produtivo no possui a menor importncia. No que diz respeito a terra, da mesma forma.

Na indstria, sua funo extremamente restrita: servir de base para a construo do espao fsico, onde se realizar determinado processo produtivo. Em contrapartida, na agricultura, ela fundamental, pois servir de substrato para o desenvolver das plantas e animais.

Outro fator importante a se destacar a presena de pequenos produtores rurais, diferenciando-se do trabalhador assalariado ou mesmo urbano. Uma dessas

caractersticas que um assalariado, seja ele trabalhador rural ou urbano, recebe salrio e no tem propriedade sob os instrumentos de trabalho. Em contrapartida, no campo grande o nmero de pessoas que so autnomas, utilizando-se da sua famlia para produzir, ou seja, no trabalham para um patro e no possuem empregados.

Como exposto, no caso da agricultura familiar, a dominao capitalista se d principalmente via agroindstria. Contudo, atualmente h elementos que podem, mesmo que a mdio e longo prazo reverter esta situao, que a produo sustentvel.

Pode-se dizer que apesar de campo e cidade terem formas exclusivas de produo, no pode ser abarcado em separado, pois na medida que se divide os espaos da sociedade, divide-se tambm as possveis solues para os problemas enfrentados em cada espao, o que de fato no pode ser considerado.

INDICADORES SOCIAIS DA AGRICULTURA FAMILIAR2.11 O SERVIO SOCIAL E A AGRICULTURA FAMILIAR

O campo de atuao da agricultura familiar define-se por elencar uma vasta diversidade de dimenses, tanto no que se refere disponibilidade quanto ao uso e distribuio dos recursos, trabalhador, terra e capital, no interior das unidades produtivas. A crise estrutural no meio rural decorre dos ajustes do modo de produo capitalista e a reordenao de foras para legitimar a ideologia desenvolvimentista na regio.

Sendo esta uma rea ainda pouca explorada pelo Servio Social, mas que apresenta grande potencial de aproveitamento dos conhecimentos da profisso que precisa ser transformada, conforme pontua a professora Iamamoto;

As possibilidades esto dadas na realidade, mas no so automaticamente transformadas em alternativas profissionais. Cabe aos profissionais apropriaremse dessas possibilidades e, como sujeitos, desenvolvlas transformandoas em projetos e frentes de trabalho. IAMAMOTO (2001, p.21).O Cdigo de tica Profissional do Assistente Social, que trata entre outras coisas do Projeto-tico-politico do servio social, traz como tema o reconhecimento da liberdade como valor tico central e das demandas polticas a ela inerentes, autonomia, emancipao e plena expanso dos indivduos sociais e garante a participao deste profissional nas polticas sociais e a agricultura familiar uma delas.

participao na elaborao e gerenciamento das polticas sociais, e na formulao e implementao de programas sociais Cdigo de tica do/a Assistente Social, Artigo 2 Alnea c.

A agricultura familiar ainda carente de programas federais, projetos, pesquisas e estudos aprofundados sobre o assunto. E a atuao do servio social ainda no est claramente definida, devido a sua segmentao, federal, estadual, municipal e local.

Essa segmentao pode ser observada em diversas escalas, seja nacional, estadual, microrregional, municipal e, at mesmo dentro de uma comunidade rural. Para entender a organizao da produo familiar nesses termos, necessrio considerar que a diferenciao social entre produtores familiares fruto do desenvolvimento de uma agricultura moderna, que incorpora o progresso tecnolgico, formando uma camada de produtores ditos modernos e, no outro extremo, aqueles que adotaram outras estratgias de desenvolvimento e de reproduo social e territorial. Desta maneira, segundo Neumann (1993), o ponto de partida para o processo de transio rumo sustentabilidade na agricultura reside no reconhecimento das diferentes racionalidades de decises produtivas presentes na produo familiar, se que se pretende oferecer algum aporte eficaz para enfrentar os problemas existentes na organizao interna das unidades produtivas familiares. E para oferecer um referencial terico profissional a estes problemas da ordem de emancipao social, gerao de renda, empoderamento, fica posto o servio social e suas atribuies.Dentre as atribuies do profissional em Servio Social relacionadas ao homem do campo e a agricultura familiar e respeitando o cdigo de tica, bem como o projeto tico politico da profisso, compete:

Analisar as possibilidades e restries para o desenvolvimento da agricultura familiar a partir da perspectiva da sustentabilidade e suas relaes com o desenvolvimento territorial enquanto ator contribuinte por meio da participao atravs da produo, portanto tambm dos benefcios dela resultante.

Compreender, com base em leituras selecionadas sobre a temtica, a base terico conceitual que permeia os estudos sobre agricultura familiar, sustentabilidade e territrio, e atravs disso propor novos debates atravs de monografias, projetos, pesquisa, estudos e aes concretas. BRASIL (Cartilha 2009) Estabelecer comparaes entre as diferentes organizaes das unidades produtivas familiares, mediante anlise emprica de elementos diferenciadores presentes na agricultura, tais como; cooperativas, associaes, sindicatos e qualquer outra instituio comunitria ou de classe. Participar de suas reunies, projetos, feiras, e manter registros de suas atividades.

Identificar as alternativas de desenvolvimento para a agricultura familiar, baseadas nos princpios da sustentabilidade econmica, social e ecolgica, somando em rede com as demais reas de atuao, como agrnomos, tcnicos agrcolas etc.

Analisar os princpios tericos e metodolgicos que norteiam os estudos sobre o desenvolvimento territorial do agricultor familiar enquanto sujeito politico e ator de suas conquistas em relao melhoria de sua produo

Realizar atividades de pesquisa de campo a fim de confrontar com o referencial terico com a realidade emprica bem como a do senso comum do agricultor familiar para, por meio de palestras e outros meios de comunicao mediar a substituio do senso comum pelo conhecimento cientifico em relao as tcnicas de produo, adubao, manejo e insumos em geral, atravs de profissionais capacitados na rea. BRASIL (Cartilha 2009)Organizar o grupo de estudos, referente aos projetos, tem como sistematizao discutir e