agricultura familiar e seguranÇa alimentar · fome é necessário que “sejam analisados os...

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1 AGRICULTURA FAMILIAR E SEGURANÇA ALIMENTAR Ruth Youko Tsukamoto Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] Alice Yatiyo Asari Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] Resumo A questão das políticas de segurança alimentar e nutricional está vinculada ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que objetiva garantir aos cidadãos em insegurança alimentar e nutricional o acesso aos alimentos e à água, por meio de programas e projetos de apoio à produção, distribuição e consumo de alimentos. O município de Londrina conta com a APRONOR que congrega agricultores voltados à produção de frutas, hortaliças/legumes comercializados na CEASA com mais de 200 produtores associados. Nesse mesmo espaço atuam os “boxistas” da ARUCEL que por meio do corpo administrativo da CEASA têm realizado as doações de produtos perecíveis ao Banco de Alimentos. Além dessa iniciativa da CEASA, há um programa denominado Mesa Brasil-SESC de Londrina que mantém “parceria” com a COAFAS que organiza os produtores do Programa de Aquisição de Alimentos e do Programa Nacional de Alimentação Escolar cujo recebimento e distribuição dos produtos procedentes diretamente do campo são realizados pelo SESC. Palavras-chave: Políticas Públicas. Agricultura Familiar. Segurança Alimentar Introdução As políticas públicas do governo federal e estadual no programa de segurança alimentar. A questão das políticas de segurança alimentar e nutricional está vinculada ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome que objetiva garantir aos cidadãos que estão em situação de insegurança alimentar e nutricional, o acesso aos alimentos e à água em volume, qualidade e regularidade suficientes, para tanto desenvolvendo programas e implantando projetos de apoio à produção, distribuição e consumo de alimentos. Entretanto, tem-se observado a partir dos estudos junto às unidades de produção familiar, por meio de iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos, Programa Nacional de Alimentação Escolar e de Agroindústria Familiar (fábrica do agricultor) que os participantes dos mesmos tem também vínculos com os programas

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AGRICULTURA FAMILIAR E SEGURANÇA ALIMENTAR

Ruth Youko Tsukamoto Universidade Estadual de Londrina - UEL

[email protected]

Alice Yatiyo Asari Universidade Estadual de Londrina - UEL

[email protected]

Resumo A questão das políticas de segurança alimentar e nutricional está vinculada ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que objetiva garantir aos cidadãos em insegurança alimentar e nutricional o acesso aos alimentos e à água, por meio de programas e projetos de apoio à produção, distribuição e consumo de alimentos. O município de Londrina conta com a APRONOR que congrega agricultores voltados à produção de frutas, hortaliças/legumes comercializados na CEASA com mais de 200 produtores associados. Nesse mesmo espaço atuam os “boxistas” da ARUCEL que por meio do corpo administrativo da CEASA têm realizado as doações de produtos perecíveis ao Banco de Alimentos. Além dessa iniciativa da CEASA, há um programa denominado Mesa Brasil-SESC de Londrina que mantém “parceria” com a COAFAS que organiza os produtores do Programa de Aquisição de Alimentos e do Programa Nacional de Alimentação Escolar cujo recebimento e distribuição dos produtos procedentes diretamente do campo são realizados pelo SESC. Palavras-chave: Políticas Públicas. Agricultura Familiar. Segurança Alimentar Introdução

As políticas públicas do governo federal e estadual no programa de segurança alimentar.

A questão das políticas de segurança alimentar e nutricional está vinculada ao

Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome que objetiva garantir aos

cidadãos que estão em situação de insegurança alimentar e nutricional, o acesso aos

alimentos e à água em volume, qualidade e regularidade suficientes, para tanto

desenvolvendo programas e implantando projetos de apoio à produção, distribuição e

consumo de alimentos.

Entretanto, tem-se observado a partir dos estudos junto às unidades de produção

familiar, por meio de iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos,

Programa Nacional de Alimentação Escolar e de Agroindústria Familiar (fábrica do

agricultor) que os participantes dos mesmos tem também vínculos com os programas

2

voltados à captação e distribuição de alimentos objetivando almejar as metas do

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Neste contexto, o município de Londrina conta com uma associação paranaense de

horticultores (APRONOR) que congrega agricultores voltados à produção de

hortaliças/legumes como também, de frutas que comercializam no recinto da CEASA ,

praticando a venda direta ao consumidor. São mais de 200 produtores associados cuja

maioria entrega faz a entrega em dois dias da semana, em dois turnos (manhã e tarde).

Por outro lado, nesse mesmo espaço atuam os “boxistas”, isto é, os comerciantes de

caráter atacadista já instalados em recintos próprios e que participam da ARUCEL –

Associação de Permissionários da CEASA-Londrina.

Essas duas associações, por meio do corpo administrativo da CEASA, têm realizado as

doações de produtos perecíveis ao Banco de Alimentos que é uma iniciativa que auxilia

no abastecimento e segurança alimentar, funcionando através da coleta dos produtos não

comercializados pelos atacadistas e produtores rurais nas Unidades da CEASA/PR.

(CEASA,2010)

Além dessa iniciativa da CEASA, há um programa denominado Mesa Brasil-SESC que

está em funcionamento desde 2008/2009 nas diversas unidades existentes no estado do

Paraná, entre elas a de Londrina que atua por meio de uma diretriz instituída em caráter

nacional. Vale salientar que essa instituição mantém uma “parceria” com a COAFAS

(Cooperativa da Agricultura Familiar), a qual organiza os produtores para participar do

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Programa Nacional de Alimentação

Escolar (PNAE), sendo que o recebimento e a distribuição dos produtos procedentes

diretamente do campo são realizados pelo SESC.

Nesse sentido, procurou-se expor no presente artigo uma primeira aproximação das

evidências encontradas no município de Londrina por meio das ações da Central de

Abastecimento S/A (CEASA) de Londrina e do programa Mesa Brasil-SESC do mesmo

município. Trata-se de ações recentes, tendo seu início por volta de 2010/2009,

respectivamente.

Trata-se assim, de um estudo que pretende aliar as políticas públicas para o

fortalecimento da agricultura familiar por meio da aquisição do governo federal com as

instituições que realizam ações voltadas para a sociedade civil no sentido de promover a

distribuição de alimentos a aqueles que são vulneráveis à situação de insegurança

alimentar.

3

Agricultura familiar e segurança alimentar: breve entendimento a respeito

A existência/permanência das unidades de produção familiar, historicamente, tem

exercido papel fundamental na produção de alimentos para a sociedade voltados tanto

para o mercado interno quanto ao externo. Esses agricultores passaram a ter maior

atenção do Estado a partir da década de 1990 por meio dos programas de financiamento

atribuindo juros mais baixos e priorizando aqueles que pretendem permanecer no campo

e se reproduzir socialmente.

Entretanto, temos notado nas pesquisas realizadas junto esses agricultores uma situação

de desestímulo resultante das dificuldades enfrentadas de diversos fatores, ou seja,

desde os preços baixos até problemas de intempéries. Nesse sentido, verificou-se de um

modo geral, o não desejo da permanência dos descendentes nesse setor de atividade

optando por um salário, mesmo que mínimo, nas cidades.

Estamos entendendo que esse agricultor familiar é aquele que desenvolve suas

atividades por meio da força de trabalho familiar e que, esporadicamente, conta com o

trabalho assalariado nos períodos de maior demanda de mão-de-obra. Vale salientar, o

fato colocado pelos produtores sobre a falta de trabalhadores para exercer as atividades

do campo. Esse agricultor pode estar voltado para o mercado como também para o auto-

consumo, mas nota-se que na área estudada estão voltados para o mercado em maior ou

menor volume.

É nesse momento que as atenções se voltam às políticas públicas existentes para

garantir, em parte, um canal de comercialização “seguro”, ou seja, que o produtor

obtenha um preço mais adequado no momento de circular a sua produção. Para tanto,

existem um série de programas direcionados para esse fim, entre eles, o Programa de

Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),

o da Agroindústria Familiar.

Nota-se que esses programas compõem uma rede, uma vez que ao assegurar a aquisição

dos produtos oriundos do campo, consequentemente estará propiciando uma renda a

outra parcela da população que se encontra em situação de insegurança alimentar.

Conforme as bibliografias consultadas e entrevistas realizadas, esse volume distribuído

tem um caráter de complementação.

4

Menezes (1998) apresenta o conceito de Segurança Alimentar, construído quando da

elaboração do documento brasileiro pelo governo e pela sociedade civil para a Cúpula

Mundial de Alimentação que diz: A Segurança Alimentar e Nutricional significa garantir, a todos, condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana (MENEZES, 1998, s.p.)

Ainda segundo Menezes (1998), as causas da insegurança alimentar são várias, mas a

fundamental é a incapacidade de acesso por falta de poder aquisitivo, enfatizando

também, uma outra face do problema que é a falta de acesso aos bens de produção na

área rural principalmente para aqueles que não tem terra. Além disso, observa que há

carência nos serviços públicos de água e esgoto bem como na educação e na saúde.

Nota-se que estas observações colocadas pelo autor ainda permanecem no seio da

sociedade brasileira, guardadas as diferenças regionais que ainda se apresentam em

maior ou menor proporção. Salienta-se também, que o autor menciona a criação do

Conselho de Segurança Alimentar ainda no governo Itamar Franco e que foi desativada

quando da criação do Programa Comunidade Solidária no governo de Fernando

Henrique Cardoso. Há que se observar que nos governos posteriores, outras ações

foram executadas visando atingir um maior número de famílias em risco.

Assim, somente em 2006 o governo promulgou uma lei regulamentando o Sistema

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional que, conforme o Ministério de

Desenvolvimento Social e Combate a Fome,

o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional—SISAN foi criado por meio da Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006 (LOSAN), com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada. O SISAN tem por objetivos formular e implementar políticas e planos de segurança alimentar e nutricional, estimular a integração dos esforços entre governo e sociedade civil, bem como promover o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação da segurança alimentar e nutricional no país (BRASIL,MDS, 2006, s.p.)

Trata-se de um objetivo amplo, de âmbito nacional que apresenta realidades muito

contrastantes e a tentativa de atingir essa meta torna-se uma tarefa complexa, pois como

afirma Hoffmann (1994, p.8) “dizer que uma pessoa passa fome porque não tem poder

aquisitivo para comprar alimentos e, obviamente, uma análise muito limitada”. O

mesmo autor cita Sen (1981) afirmando que para entender porque uma pessoa passa

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fome é necessário que “sejam analisados os “direitos” dessa pessoa que é um enfoque

muito mais abrangente”. Para tanto, Hoffmann (1994, p.9) conclui essa ideia dizendo

“que o enfoque dos “direitos” das pessoas para compreender porque, eventualmente,

passa fome, envolve uma análise da estrutura jurídica, social e econômica da

sociedade”.

Hoffmann (1994, p.9) já afirmava que há argumentos de que os preços dos alimentos

são elevados no Brasil “porque a produção agrícola é insuficiente e/ ou a sua

comercialização é ineficiente e controlada por oligopólios”, mas considera, também,

que o processo de comercialização deve ser aperfeiçoado, evitando-se desperdícios.

Entendemos que o autor se refere aos desperdícios na colheita ou mesmo na forma de se

transportar os alimentos, ocorrendo também, em locais de comercialização como em

supermercados , feiras livres e nas Centrais de Abastecimento a exemplo das CEASAS.

Nesse sentido, a partir de 2006, o Estado tem implementado programas que vem de

encontro a essas necessidades na tentativa de minimizar o quadro de vulnerabilidade de

parcela da população brasileira e evitar desperdícios dos produtos alimentícios.

Entretanto, verifica-se que há muito que se aperfeiçoar para atingir os objetivos

propostos tanto em relação a organização dos produtores para acessar os programas de

aquisição de alimentos quanto na distribuição dos mesmos.

Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar (2012), as ações da SESAN

estão organizadas em três eixos de atuação: apoio à produção, comercialização e

consumo.No primeiro consta o fomento à produção de alimentos visando o auto-

consumo, à organização de sistemas produtivos e à inclusão produtiva da população

rural que está em situação de insegurança alimentar; o segundo eixo, garante a compra

dos produtos provenientes do campo, de agricultores familiares, pelo poder público ,

assegurando sua destinação a pessoas atendidas por entidades socioassistenciais e pelos

equipamentos de alimentação e nutrição e o terceiro são ações de educação alimentar e

nutricional , apoiando a agricultura urbana e periurbana, com o objetivo de estruturar a

rede de equipamentos públicos de alimentação e nutrição , com o objetivo de assegurar

o direito à alimentação adequada. Nesse item estão incluídos os restaurantes populares,

cozinhas comunitárias e bancos de alimentos.

Em Londrina, o programa Banco de Alimentos foi inaugurado em 2010 sob a

coordenação da Central de Abastecimento S/A (CEASA). Somando ao Mesa Brasil-

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SESC inaugurado em 2009, são os que estão atuando efetivamente nesse segmento ora

em pauta.

A CEASA de Londrina: APRONOR E ARUCEL

O município de Londrina faz parte da Microrregião Geográfica de Londrina sendo

aquele que ocupa maior dimensão territorial e populacional. (mapa 1) Nele está

localizado a Central de Abastecimento (CEASA) que exerce um papel relevante no

tocante ao abastecimento alimentar local e regional, extrapolando os limites do estado.

Mapa1

Segundo estudos realizados por Tsukamoto (2010) no conjunto da Microrregião

Geográfica de Londrina os grupos de área de até 50 hectares representava em 1995,

aproximadamente, 80% do total do número de estabelecimentos e em 2006 passou para

84% de representatividade. Destaca-se o grupo de 10 a 50 hectares tanto em 1995

quanto em 2006 estão desenvolvendo a hortifruticultura atividade que absorvem

basicamente a força de trabalho familiar.(tab.1 e 2)

Tab. 1 Distribuição dos Estabelecimentos na Microrregião Geográfica de Londrina 1995-96

Grupos de área (ha)

Nº % Area %

Até 2 342 6,23 333 0,12 2 – 5 686 12,50 2420 0,82 5 -10 770 14,03 5974 2,00

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10 – 50 2520 45,93 55.288 18,82 50 – 100 530 9,66 37.873 12,90 100 – 500 565 10,32 113.019 38,40 500 – 1000 56 1,02 39.533 13,40 1000 – 2000 15 0,27 20.496 6,96 Mais 2000 02 0,04 19.310 6,58 Totais* 5.486 100,00 294.246 100,00 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1995-96 *não foram incluídos 19 estabelecimentos sem declaração de área

Tab. 2 Distribuição dos Estabelecimentos na Microrregião Geográfica de Londrina

2006 Grupos de Área (ha.)

Número % Área %

Até 2 1217 17,67 775 0,21 2 – 5 1132 16,43 3775 1,05 5 – 10 989 14,36 7.469 2,10 10 – 50 2.427 35,24 51.665 14,43 50 – 100 431 6,26 30.547 8,53 100- 500 626 9,10 168.532 47,10 500 – 1000 40 0,58 29.659 8,29 1000 – 2500 17 0,25 24.883 6,95 Mais 2500* 08 0,11 40.575 11,34 Totais* 6.887 100,00 357.878 100,00 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1995-96 *não foram incluídos 21 estabelecimentos sem declaração de área ** O Censo de 2006 não informa estabelecimentos de 2000 hectares e sim 2.500 hectares. Ainda pode-se verificar nas tabelas 1 e 2 que a área ocupada por esse grupo de até 50

hectares era apenas de 21,76% e 17.8% do total em 1995 e 2006, respectivamente. O

grupo de100 a 500 hectares participava com cerca de 10% do total de estabelecimentos

nos dois anos ora em análise, mas em área representava, em média, 43% do total das

terras. Daí pode-se deduzir que as terras estão concentradas e mais, a produção de

gêneros alimentícios tais como a olericultura, a avicultura e a bovinocultura de leite

estão sendo desenvolvidas em estabelecimentos que ocupam uma ínfima área no

contexto geral da microrregião.

No presente estudo salientamos o significado da produção de frutas e verduras/legumes

por se tratar de alimentos que em parte serão encaminhados para os programas ora em

questão, tais como os bancos de alimentos que destinam os alimentos para asilos,

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creches e instituições de organização não-governamental e à merenda escolar das

escolas públicas.

Pode-se verificar nas tabelas 3 e 4 o significado da produção de alimentos da agricultura

regional conforme levantamento do Instituto EMATER.

Conforme pode-se observar, esses dados não significam que o total dessa produção seja

destinado exclusivamente para a Central de Abastecimento de Londrina, mas devemos

lembrar que nesse recinto comercializam-se a produção dos mais de 200 associados da

APRONOR (Associação Norte Paranaense de Horticultores).

Pode-se observar na tabela 3 que de 2004 a 2008 ocorreu um aumento do número de

produtores e da área plantada nas dez culturas mais representativas no conjunto da

olericultura. Nesse sentido, pode-se fazer uma inter-relação com as tabelas 1 e 2 as

quais apresentam a predominância do número de estabelecimentos de até 50 hectares,

lembrando que de acordo com o presidente da Associação Norte Paranaense de

Horticultores, esses produtores se situam em estabelecimentos de até 10 hectares.

Tabela 3 – Olericultura da Microrregião Geográfica de Londrina Principais Culturas

2004-2008 ANOS 2004 2005 2006 2007 2008

Tipos de cultura

Nº de pro-

dutores

Área (ha)

Nº de pro-

dutores

Área (ha)

Nº de pro-

dutores

Área (ha)

Nº de pro-

dutores

Área (ha)

Nº de pro-

dutores

Área (ha)

Alface 74 84 75 74 80 84 82 88 90 91 Aipim 298 400 310 408 316 415 316 415 316 415 Batata-doce

111 236 131 273 151 277 138 297 138 297

Berinjela 71 62 85 70 87 69 82 72 85 65 Cenoura 76 109 77 126 81 131 86 131 89 136 Couve-flor

258 417 240 536 240 536 242 537 247 440

Pepino 126 102 158 153 181 128 181 171 177 101 Pimentão 108 94 108 93 109 95 112 93 114 97 Repolho 360 664 364 761 358 760 364 762 366 714 Tomate 207 273 159 346 159 448 162 461 170 709 Totais 1.689 2.44

1 1.707 2.840 1.762 2.94

3 1.765 3.027 1.792 3.065

Fonte: INSTITUTO EMATER - Perfil da Realidade Municipal – 2004/2008

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Tabela 4 – Fruticultura da Microrregião Geográfica de Londrina Principais Culturas

2004-2008 ANOS 2004 2005 2006 2007 2008

Tipos de cultura

Número de

produtores

Área

(ha)

Número de

produtores

Área

(ha)

Número de

produtores

Área (ha)

Número de

produtores

Área

(ha)

Número de

produtores

Área

(ha)

Abacate 28 60 33 76 34 76,5 34 71,5 33 61 Banana 24 82 23 82 27 97 25 103 24 93 Caqui 37 58 37 58 38 57 38 62 38 54 Maçã 10 8,5 11 11 10 23 12 51 11 34 Manga 9 13 10 13 11 15 13 16,6 15 19,6 Maracujá 24 23 18 15 15 12 13 13,4 12 12,4 Morango 48 19 40 15 39 16 46 17 41 16 Laranja 126 164

7 132 139

0 143 2020 149 204

7 150 254

9 Limão 27 41 54 53 56 56 57 58,4 58 51,4 Uva Comum

52 56 50 55 50 55 50 55 50 55

Uva Fina 40 52 38 47 36 41 34 41 34 41 Uva Rústica

34 -- 36 44 36 26 35 81 38 38,5

Totais 459 2.060

482 1.859

495 2.495

506 2.617

504 3.025

Fonte: INSTITUTO EMATER - Perfil da Realidade Municipal – 2004/2008

Salienta-se que esses associados tem acesso ao recinto da Central mediante o pagamento

de uma taxa para que possam comercializar a sua produção. Importante destacar é a

forma de comercialização que é realizada diretamente ao consumidor e curiosamente, os

atacadistas adquirem, vez ou outra, dos produtores da APRONOR.

A ARUCEL (Associação dos Permissionários da CEASA de Londrina) é composta

pelos atacadistas que tem a característica de outras centrais onde se comercializam a

produção local /regional e produtos procedentes de outras áreas do território nacional e

internacional num pavilhão permanente tendo a obrigatoriedade de funcionar

diariamente para as transações comerciais entre atacadistas.

Conforme dados da CEASA/PR a unidade de Londrina movimentou em 2009

152.685.878 toneladas de alimentos com 88 empresas superando apenas a capital

Curitiba que comercializou quatro vez mais em volume e contou com 470 empresas.

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É nesse contexto da CEASA Londrina participa do programa Banco de Alimentos do

Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome para minimizar as

necessidades de uma parcela da população mais carente e às instituições de saúde e de

ensino da Microrregião de Londrina.

As ações da Central de Abastecimento S/A (CEASA) via Banco de Alimentos Trata-se de um programa realizado em parceria com diversas instituições

governamentais e não governamentais, e tem por objetivo de organizar a coleta dos

produtos não comercializados pelos atacadistas e produtores rurais da CEASA e dos

produtos repassados pelo Programa de Aquisição de Alimentos-PAA do governo

federal, às entidades sociais e às famílias em situação de insegurança alimentar e

nutricional.

Há um conselho gestor cujos integrantes são os representantes de diversas instituições

governamentais e não governamentais tais como o EMATER, Secretaria da Agricultura

e Abastecimento, CEASA (diretores), Secretaria Municipal da Agricultura, Provopar

,Secretaria do Meio Ambiente, ARUCEL, APRONOR, APAE/Londrina e Ibiporã,

Hospital do Câncer, Universidade Estadual de Londrina e UNIFIL- Universidade

Filadélfia.

Conforme informações obtidas na CEASA Londrina, os produtos, arrecadados na Ceasa

e pelo PAA “ são recebidos, selecionados e distribuídos gratuitamente às entidades

assistenciais a às famílias em situação de insegurança alimentar e nutricional,

previamente cadastradas, como forma de complementação às refeições diárias da

população assistida”.

Em Londrina esse programa foi inaugurado em 2010 e conta com um recinto apropriado

para armazenar os produtos procedentes do Programa de Aquisição de Alimentos- PAA.

Em caráter ilustrativo podemos citar o estoque de iogurtes armazenados na câmara fria

com produtos de uma cooperativa assentados de Querência do Norte (COANA),

constituído de iogurte e queijo mussarela (esta última não tinha sido recebido no

período da nossa entrevista e visita).

Para o ano de 2012, prevê-se o recebimento de 80 mil litros de iogurte e cinco toneladas

de queijo os quais por meio do PAA a produção será destinada para o Banco de

Alimentos que fará a adequada distribuição após estabelecer critérios de prioridade que,

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no caso, seriam às crianças dos centros de educação infantil e aos idosos das casas de

repouso. Nota-se que há uma conexão entre os objetivos do PAA com as instituições

que realizam a distribuição desses alimentos adquiridos pelo Estado.

São ainda recebidos mercadorias denominadas de “segunda linha”, cuja origem é a

CONAB, tais como: feijão, farinha de mandioca, milho, açúcar mascavo, fubá, farinha

de trigo e amendoim. Por exemplo, o feijão pode ficar estocado por um período de três

anos e quando se aproxima da data limite de validez, é entregue para o Programa. Já

houve casos de ter 140 mil sacas de feijão em estoque em armazéns de cidades como

Prudentópolis e Maringá que foram destinados ao Programa.

O apoio do MDS está sendo concretizado com a instalação de uma infraestrutura de

manipulação de alimentos como despolpadeira, geladeiras e freezer que, atualmente,

não se encontra em atividade. Esses equipamentos foram adquiridos com verbas

provenientes do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) no

valor de R$140.000,00

Segundo informações coletadas in loco com o diretor da CEASA local, o Banco de

Alimentos tem 108 entidades cadastradas entre as regulares e eventuais. São cerca de 45

instituições que enviam seus voluntários (cerca de 3 a 5 pessoas) para a coleta dos

alimentos e, no próprio espaço da CEASA, os mesmos fazem a seleção, lavagem e

distribuição das doações daquele dia.

São cinco instituições que coletam no período da manhã e mais cinco à tarde, uma vez

por semana, totalizando cerca de 1500 a 2000 kg/semana. Dentre essa instituições fazem

parte os municípios da Microrregião Geográfica de Londrina e segundo a diretoria da

CEASA, são atendidas cerca de 20mil pessoas.

Participam com doações dos produtos não comercializados 96 empresas em 194 boxes e

os produtores do Mercado do Produtor (associados da APRONOR). Há 118 produtores

cadastrados no PAA, os quais conseguem entregar um total de R$ 550.000,00 por ano

de produtos, beneficiando os produtores familiares. O dados comentados no item

anterior demonstram que o volume de vendas é significativo e assim, o excedente não

comercializado é proporcional. São caixas e caixas de frutas, verduras e legumes que

são plenamente viáveis para o consumo e, para os produtores e atacadistas deixam de ter

a qualidade exigida para comercialização ou seja, são mercadorias que estão fora do

padrão comercial

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Um ponto que deve ser ressaltado é que o Banco de Alimentos tem favorecido os

boxistas, pois estes necessitam fazer o pagamento à empresa Kurica Ambiental para a

retirada das “sobras” e, sendo destinado ao Banco há uma diminuição de custos na

operacionalização dos seus negócios.

As ações do programa Mesa Brasil SESC

Esta é mais um programa que está em vigor na Microrregião Geográfica de Londrina

denominado Mesa Brasil SESC que é uma rede nacional de solidariedade que atua na

área de segurança alimentar e nutricional por meio da doação de alimentos excedentes

às pessoas em situação de insegurança alimentar e vulnerabilidade social. Trata-se de

um programa mais abrangente mas é oportuno mencionar a atuação da mesma no

tocante ao papel exercido na coleta e distribuição de alimentos oriundos do processo de

aquisição pelo governo federal.

Mesa Brasil em Londrina foi instalado em 2006 com o objetivo de combater o

desperdício e a fome com ações voltadas à realização de manipulação de alimentos e

transporte com a distribuição e busca de produtos na área é rural.

Além dos produtos perecíveis o SESC também doa produtos industrializados via doação

de supermercados e das indústrias alimentícias. Os produtos processados pelos

agricultores (agroindústria familiar) têm um valor agregado maior a exemplo dos sucos

concentrados de Corumbataí do Sul

As áreas de atuação no estado do Paraná são Londrina, Maringá, Francisco Beltrão,

Cascavel, Paranaguá, Campo Mourão, Guarapuava e Curitiba.

São 89 instituições cadastradas no SESC Londrina que participam da política de

assistência à saúde e à educação.No caso da saúde, atualmente, fazem parte o Hospital

Infantil e Mater Dei ligadas á Santa Casa de Londrina e a ONG Viver, a Santa Casa de

Cambé, Arapongas e Sertanópolis (esta não faz parte da microrregião de Londrina).

A participação do Mesa Brasil SESC em parceria com a COAFAS (Cooperativa da

Agricultura Familiar) iniciou-se em 2010 pelo fato desta última ainda não ter estrutura

suficiente para coletar e distribuir os alimentos procedentes do campo. São cerca de 50

produtores que encaminham a produção para o SESC e esta faz uma avaliação por meio

de duas nutricionistas para que os produtos cheguem ao destino com a devida

qualidade. Foi salientado pela coordenadora local que os produtores já têm

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conhecimento das exigências feitas quanto à qualidade do produto. Nota-se que a

localização desses produtores estão bem polarizados no município de Londrina e região

e para realizar o transporte necessita de uma melhor logística . O programa Mesa Brasil

conta com uma “Sprinter” e um caminhão para realizar essa tarefa. Na tentativa de

evitar desperdício no próprio local de produção um funcionário se desloca para verificar

in loco se está ou não ocorrendo sobras.

Considerações finais

As ações de duas instituições aqui analisadas demonstram que as políticas públicas

lançadas pelo Estado são interessantes na medida em que envolve além dos vários

órgãos governamentais as instituições não-governamentais ou seja, a efetiva

participação da sociedade civil.

Nota-se que o envolvimento dos atacadistas e dos produtores da CEASA vem de

encontro ao potencial existente no recinto de comercialização, uma vez que o volume

diário de toneladas de alimentos passa por um processo de depreciação que os obriga a

descartar de uma forma ou de outra. Nesse sentido, o desperdício seria muito mais

significativo se não fosse absorvido pelo Banco de Alimentos. Segundo o diretor da

CEASA de Londrina, que implantou o programa em foco, este lamenta sobre a

impossibilidade de fornecer produtos derivados de carne bovina, suína, frango pelo fato

da capacidade de armazenamento da câmara fria ser pequena, impossibilitando o

armazenamento adequado.

Constata-se que, muitas vezes, existe um apoio inicial para a implantação por parte do

Estado da infraestrutura , mas no decorrer dos anos os programas passam a enfrentar

problemas de falta de verba ou a não prioridade do governo que sucede, inviabilizando

uma continuidade das ações e/ou melhoria nessas instituições.

Vale salientar que se o agricultor familiar conta com os programas que procuram

incentivar a permanência no campo por meio da compra de seus produtos com preços

acima do mercado e com garantia de contrato por um ano, esta é apenas uma medida

paliativa, pois se trata de uma parte da produção que será agregada a sua renda, pois

segundo as pesquisas realizadas no campo, o produto que propicia a renda é ainda

aquele voltado para o mercado. Por outro lado, nota-se que os produtores ainda estão

pouco organizados principalmente no tocante à infraestrutura de transporte e

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distribuição. A própria cooperativa (COAFAS) ainda está se consolidando enquanto tal.

Contudo, trata-se de um programa que está sendo implementado paulatinamente e

espera-se que dêem continuidade para serem aperfeiçoados. Nesse sentido, a cota

anual a ser paga aos participantes do Programa de Alimentação Escolar foi elevado de

R$9.500,00 para R$20.000, em 2012, incentivando os produtores familiares a aderirem

ao programa, uma vez que muitos dos produtos solicitados existem nas suas

propriedades.

Essa conexão entre os programas governamentais para agregar mais valor à produção

dos agricultores familiares por meio da aquisição direta e o destino desses produtos à

população carente, vulnerável socialmente por meio do Sistema Nacional de Segurança

Alimentar (SISAN), permite esboçar um futuro mais alentador tanto para os

componentes das unidades familiares de produção, quanto para os cidadãos em situação

de insegurança alimentar.

Referências BRASIL.IBGE Censos agropecuários de 1975,1980,1985,1995-96. Rio de Janeiro: FIBGE,1997 _______.Censo Agropecuário de 2006. Disponível em:<http//sidra.ibge.org.Acessado em 16 de jun.2010.. HOFFMANN, Rodolfo. A insegurança alimentar no Brasil. Revista Caderno de Debate. Vol.II. Campinas:UNICAMP, 1994. p.1-11. INSTITUTO EMATER. Perfil da realidade agrícola. Curitiba: Instituto EMATER, 2010 (documento interno) MENEZES, Francisco. Panorama atual da segurança alimentar no Brasil disponível em: http://amar-bresil.pagesperso-orange.fr/documents/secual/san.html, capturado em 09 de maio de 2012. MESA Brasil SESC disponível em http://www.sesc.com.br/mesabrasil/omesabrasil.html capturado em 06 de maio de 2012. SISAN. Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional disponível em: http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/sisan capturado em 08 de julho de 2012. SEGURANÇA alimentar e nutricional disponível em: http://www.ceasa.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=18 capturado em 06 de maio de 2012.

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TSUKAMOTO, Ruth Y. As unidades de produção familiar no Norte do Paraná: formas de permanência no campo. Presidente Prudente: FCT/UNESP, Presidente Prudente. 2010.(relatório de estágio pós doutoral)