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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESPRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAISINSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-ECONÔMICO
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Agressividade na sala de aula(Uma Experiência no Programa Vida Nova)
Neisy Helena dos Santos
Orientador : Nelsom J. V. de Magalhães
RIO DE JANEIRO, RJ- BRASILFEVEREIRO DE 2002
Agressividade na Sala de Aula(Uma Experiência no Programa Vida Nova)
Neisy Helena dos Santos
Trabalho Monográfico apresentadocomo requisito parcial para obtençãodo Grau de Especialista emSupervisão Escolar.
Agradeço ao meu namorado Wilson pelo carinho, paciência, amor, dedicação e
por estar ao meu lado em todos os momentos mais difíceis.
Agradeço à minha mãe Iracema pela dedicação, amor e apoio sempre que
precisei.
Agradeço à minha irmã Neida Luciana pelo incentivo.
Agradeço aos alunos do Projeto Vida Nova por me ajudar a ser tolerante.
Agradeço a Ruth Sales por acreditar no meu trabalho.
Dedico este trabalho a Deus. “Para Ele toda honra e toda glória, para sempre amém.”
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDESPRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAISINSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO ECONÔMICO
PROJETO A VEZ DO MESTRE
RESUMO DO TRABALHO MONOGRÁFICO APRESENTADO COMOREQUESITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM
SUPERVISÃO ESCOLAR.
Neisy Helena dos Santos
Agressividade na sala de aula(Uma Experiência No Programa Vida Nova)
Orientador : Nelsom J. V. de Magalhães
Este trabalho desenvolve um estudo sobre agressividade que ocorre
dentro da sala de aula. Veremos que a agressividade pode manifestar-se de
forma exteriorizada ou interiorizada. O indivíduo ao manifestar abertamente a
agressão, libera para o ambiente, independente dela assumir aspecto positivo ou
negativo. Quando o indivíduo manifesta internamente a agressão, reprime dentro
de si e sempre ela assumirá aspecto negativo.
Para realizar este estudo observaremos os comportamentos agressivos
dos alunos, na faixa etária de dezesseis a vinte e dois anos, do segundo
segmento do ensino fundamental, do Programa Vida Nova, localizado na
comunidade Borel-Indiana.
A grande maioria dos alunos dessa comunidade manifesta agressão de
forma exteriorizada, na tentativa de esconder suas dificuldades no aprendizado,
embora já fossem agressivos, ao ingressarem no projeto.
Descreveremos alternativas criativas baseadas na arte e no esporte, para
que os impulsos agressivos dos alunos sejam liberados de modo construtivo
trazendo benefícios aos alunos, aos professores e ao ambiente.
LISTA DE ANEXOS
Histórico de alunos............................ ..............................................30Texto : O que é Caro ?..................................... ...................................34Lista de erros da redação sobre o lixo......................... .......................35
LISTA DE QUADROS
Quadro sobre comportamentos agressivos –................ .....................15Quadro sobre as dificuldades de aprendizagem – ........... ....... ..........21
ÍNDICE
Capítulo ȱ
Introdução1.1- Tema ...............................................................................................81.2- Delimitação do Tema .......................................................................81.3- Justificativa .......................................................................................81.4- Objetivo ...........................................................................................81.5-Problema ...........................................................................................81.6- Hipóteses ........................................................................................91.7-Metodologia ....................................................................................91.8- Fundamentação Teórica ................................................................91.9-Definição dos Termos de Pesquisa ................................................91.10-Conteúdo do Trabalho .................................................................10
Capítulo ȱȱ
A Agressividade2.1- Introdução..............................................................................................112.2- Conceituação de Agressividade ...........................................................122.3- Posições Teóricas ................................................................................122.4- Formas de Agressividade ....................................................................142.5- Comportamentos de Agressividade ....................................................152.6- Conclusão ............................................................................................16
Capítulo ȱȱȱ
Manifestações de Agressividade na Sala de Aula3.1- Introdução .............................................................................................173.2- Os Comportamentos Agressivos na Sala de Aula ..............................173.3- Explicações para as Condutas Agressivas ...........................................193.4- Dificuldades de Aprendizagem ............................................................203.5- Conclusão .............................................................................................22
Capítulo ȱV
Agressividade e Criatividade4.1- Introdução ..............................................................................................234.2- A Arte e o Esporte Contribuindo para a Melhora do Aprendizado e dosImpulsos Agressivos Destrutivos ..................................................................234.3- Conclusão ..............................................................................................26
Capítulo VConclusão.....................................................................................................27
Anexos .........................................................................................................29
Bibliografia ...................................................................................................36
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1.1- Tema
Agressividade na sala de aula
1.2- Delimitação do tema
Alunos da quinta a oitava séries do ensino fundamental
1.3- Justificativa
Esta pesquisa é importante, porque se propõe a analisar as
manifestações de agressividade na sala de aula e de propor alternativas para as
manifestações de agressividade, em comportamentos de criatividade que se
traduzam em enriquecimento para o aluno e para a escola.
1.4- Objetivo
Objetivo geral:
• Identificar comportamentos de agressividade no contexto da sala
de aula.
Objetivo específico :
• Mostrar como os comportamentos de agressividade dentro do
contexto da sala de aula podem ocultar as dificuldades de
aprendizagem dos alunos que cursam o ensino fundamental, na
quinta a oitava séries.
1.5- Problema
Como melhorar o aprendizado dentro do contexto da sala de aula com
alunos da quinta a oitava séries ?
1.6- Hipóteses
A agressividade na sala de aula oculta as dificuldades de aprendizagem.
1.7- Metodologia
Este estudo será realizado através de uma pesquisa bibliográfica, a qual
consultaremos vários autores que esqueceram sobre o tema agressividade.
Pretendemos observar, analisar e documentar os comportamentos
agressivos manifestados no contexto da sala de aula.
1.8- Fundamentação teórica
O relacionamento humano sempre deixou evidências de agressividade
que se perpetuam ao longo da História. Atualmente, o comportamento agressivo
tem sido constate nas escolas. Sejam elas, públicas ou privadas, e muitos
profissionais da área de educação não conseguem lidar com esse problema. Este
trabalho se propõe a relatar ao comportamentos agressivos dentro da sala de
aula, analisar os motivos de tantas manifestações agressivas de caráter destrutivo
e buscar alternativas para transformá-los em construtivos.
A proposta desse trabalho nos incentiva pela possibilidade de sugerir
reflexões que possam ser úteis aos profissionais que atuam na área de educação.
1.9- Definição dos termos da pesquisa
Este estudo será realizado através de uma pesquisa bibliográfica e da
apresentação das manifestações agressivas de uma turma de alunos, do
Programa Vida Nova, situada na Comunidade Borel-Indiana.
Pretendemos registrar os comportamentos agressivos no contexto
interativo entre alunos e professores. Uma vez registrados, serão examinados
numa reflexão crítica que atenda à proposta de avaliar alternativas de
comportamentos de agressividade capazes de beneficiar o aluno e o seu
contexto, que é a sala de aula.
1.10- Conteúdo do trabalho
No capítulo ȱȱ é feita uma abordagem sobre a conceituação da
agressividade. Apresentaremos as posições teóricas de vários autores sobre o
assunto, as formas de agressividade e um quadro com exemplos que mostram
como os comportamentos agressivos podem se manifestar.
No capítulo ȱȱȱ, desenvolve-se a apresentação dos comportamentos
agressivos dos alunos de quinta a oitava séries, no contexto da sala de aula. O
estudo versa tema em que a agressividade manifestada pelos alunos tem por
finalidade esconder suas dificuldades no aprendizado.
No capítulo ȱv, apresentamos alternativas para transformar
comportamento agressivo destrutivo em atividades produtivas.
No capítulo v está reservado às conclusões, comentários e sugestões
sobre o tema abordado, com suas principais contribuições e seus possíveis
desdobramentos contínuos e futuros, contextualizando-os em nossa realidade
cotidiana.
CAPITULO ȱȱ
A AGRESSIVIDADE
2.1 - Introdução
Neste capítulo trataremos da conceituação de agressividade apresentada
no Dicionário de Psicologia. A seguir veremos as posições teóricas de alguns
autores como Erich Fromm, Rollo May, Dollard, Gabriel Moser e Dalton Caram,
sobre o tema e depois apresentaremos como o comportamento agressivo se
manifesta.
A agressividade abrange um círculo muito amplo do comportamento
humano. Talvez por esta razão que muitos autores encontraram dificuldades para
defini-la.
Quando uma criança faz pirraça, ela está sendo agressiva, o mesmo
acontece quando uma pessoa tenta o suicídio.
O comportamento agressivo pode se apresentar de forma positiva ou
negativa, dependendo das situações. A agressão apresenta-se de forma positiva,
quando o indivíduo toma a iniciativa, lidera ou está em busca de um objetivo.
Quando falamos que uma pessoa tem “garra”, Isto significa que “é alguém
que não torna a agressividade algo contra os outros ou contra si, mas uma força
para batalhar na vida.“
(Spaccaquerche, 1993, pág. 17).
O ato agressivo assume forma negativa quando a pessoa é capaz de
causar danos, ferir, insultar e até matar. Também se transforma em negativo
quando assume aspectos de auto agressão, sendo uma das manifestações o
suicídio.
2.2 – Conceituação de agressividade
Vejamos como o Dicionário de Psicologia conceitua a agressividade :
“Agressividade – Comportamento caracterizado pelo ato de atacar ou
marchar à frente, opondo-se ao de recusar o combate fingir as dificuldades.
Agressivo – Diz-se do indivíduo que manifesta tendência a atacar e a
procurar a luta, por oposição àquele que foge do perigo ou de dificuldade. “
(Pieron, 1975, pág.13).
Conforme o conceito apresentado no Dicionário de Psicologia, a
agressividade é considerada de forma exteriorizada e destrutiva.
Ao estudarmos os teóricos que se dedicaram a este tema, vamos
perceber que a agressividade recebe conceituações diversas.
2.3 – Posições Teóricas
Erich Fromm é psicanalista e classifica a agressão em biologicamente
adaptativa, preservadora da vida, benigna e biologicamente não adaptativa,
maligna. “(...) a agressão biologicamente adaptativa é uma reação às ameaças a
interesses vitais, é filogeneticamente programada, não é espontânea ou auto
propulsora, mas reativa e defensiva; visa a remoção da ameaça, destruindo ou
afastando sua origem.
A agressão biologicamente não adaptativa, maligna, isto é, a
destrutividade e a crueldade e a crueldade, não constitui defesa contra uma
ameaça, não é filogeneticamente programada, é característica apenas do homem,
suas manifestações principais – o ato de matar e a crueldade.”
( Fromm, 1975, pág 253;254 )Desprovido de agressividade, o homem seria incapaz de se integrar nos
grupos sociais e não teria sobrevivido como espécie. Entretanto, o homem é o
único ser que potencialidade de exterminar um ser da mesma espécie.
Rollo May- Associa a agressão com o poder.
“A agressão é um deslocamento para fora, uma investida contra a pessoa
ou coisa que for considerada um adversário. Sua meta é causar uma mudança no
poder, em defesa dos interesses do eu ou daquilo a quem se dedica.”
(May ,1981, pág. 121)
Dollard, Doob, Miller e Sears- Esses pesquisadores da Universidade de
Yale, nos EUA, relacionaram a agressão com frustração. Definem a agressão
como resposta que se segue a uma frustração.
“ Toda agressão é conseqüência da frustração e toda frustração origina
uma forma de agressão.”
( Dollard apud Moser, 1991, p.63 )
Gabriel Moser- Para este autor francês, a agressão é um comportamento
Interativo entre um agressor e uma vítima. Para ele não existe agressão sem
vítima.
“A agressão é um comportamento, por definição social, na medida em
que pressupõe uma relação diádica como a maioria das condutas humanas. É
uma interação social na medida em que tem sua origem esse efetiva na relação
com o outro.”
(Moser, 1991, p.12)
Dalton Caram – A agressividade tanto pode ser positiva como negativa.
“ (... ) a agressão não é nem boa e nem má. Ela pode servir para fins
destrutivos como para fins construtivos. O homem necessita dela para
impulsionar-se. Em pequenas doses é um estimulante, em fortes doses
representa um veneno.”
(Caram, 1978, p.43)
2.4- Formas de agressividade
Existem duas formas da agressividade de manifestar. Pode ser
exteriorizada ou interiorizada. A agressividade é considerada exteriorizada
quando se manifesta abertamente e projeta o indivíduo para o ambiente.
A agressividade interiorizada é voltada para o próprio indivíduo, ou seja, a
pessoa guarda dentro de si a agressividade. Também é chamada de auto-
agressão.
Sabendo da existência dessas formas de agressividade, podemos traçar
um paralelo com a agressividade construtiva e destrutiva. A agressividade
manifestada abertamente pode assumir aspectos construtivos e destrutivos
enquanto que a agressividade interiorizada sempre terá aspectos destrutivos.
Para entendermos melhor apresentamos o quadro que mostra como os
comportamentos de agressividade podem se manifestar.
2.5- Comportamentos de Agressividade
AgressividadeExteriorizada
Agressividade Exteriorizada AgressividadeInteriorizada
( Destrutiva ) ( Construtiva ) ( Destrutiva )
• Ataque físicocontra pessoa
• Assume liderança • Mostra-semedrosa
• Ataque físicocontra animais
• Toma iniciativa • Mostra-sedependente
• Decide • Isola-se• Ataque físicocontra objetos
( destruir, arruinar, sujar )• Luta pelos seus
direitos• Faz
oposiçãopassiva
• Cria • Pessoascomtendênciascompulsivas
• Ataque verbalcontra pessoas
( xingar, insultar, ofender )
• Constrói• Irritação (
estourar-se )• Mostra-se
independente
• Destróiobjetos eatacaanimais
(de modo camuflado )• Suicídio• Humilhação
contra pessoa( desprezar )
• Auto-flagelação
Em geral, os tipos auto-agressivos causam menos preocupação aos pais
e professores porque não são claramente demonstradas, embora seja prejudicial
para quem carrega esse tipo de agressão.Já a agressão demonstrada ocasiona
incômodo ao ambiente e às pessoas que nele convivem.
13
A maioria das pessoas tende a dar mais importância a agressão
demonstrada de modo destrutivo, esquecendo-se que ela também tem seu lado
positivo.
Rollo May, no livro “ Poder e Inocência ”, explica as razões pelas quais
isso acontece.
“ Uma razão óbvia é que temos sido aterrorizados pela agressão e
supomos –embora seja uma falsa crença-que poderemos controla-la melhor se
concentrar-mos toda nossa atenção em seus aspectos destrutivos, como se não
existissem outros. (...)
Uma outra razão é porque tendemos a enfatizar somente o aspecto
negativo da agressão é que ele está impregnado em de ansiedade e culpa.”
( May, 1981, p.124 )
2.6- Conclusão
A agressividade manifesta-se de forma aberta tanto no seu aspecto
positivo quanto no seu aspecto negativo. Pode se transformar num elemento
positivo para a pessoa que agride, pois ao manifestar o comportamento agressivo
ela estará liberando sua energia. Entretanto, quem manifesta a agressividade de
forma fechada estará se prejudicando porque guarda a energia dentro de si.
14
CAPÍTULO ȱȱȱ
MANIFESTAÇÕES DE AGRESSIVIDADE NA SALA DE AULA
3.1- Introdução
Este capítulo tem por finalidade apresentar os comportamentos
agressivos dos alunos de quinta a oitava séries, no contexto da sala de aula, e
mostrar que agressividade manifestada por esses alunos tem por fim camuflar
suas dificuldades no aprendizado.
Para descrever as manifestações agressivas dos alunos observaremos
uma turma do Núcleo de Educação Popular (NEP), do Programa Vida Nova, da
Secretaria de Estado de Ação Social e Cidadania, situado na Comunidade Borel-
Indiana.
O Programa Vida Nova tem como público alvo jovens de 16 a 22 anos, de
ambos os sexos, moradores de comunidades carentes beneficiadas pelo
Programa que não tenham concluído o ensino fundamental, e que tenham
cursado no mínimo até a 4ª série, objetivando que os mesmos concluam o ensino
fundamental, no período de dez meses. Uma característica marcante em todas as
comunidades em que o Programa está implantado, é um número considerável de
alunos que já são pais.
Este programa está implantado em cinqüenta comunidades, porém neste
trabalho só registraremos as manifestações agressivas dos alunos, da
Comunidade Borel- Indiana e utilizaremos nomes fictícios, a fim de preservar a
identidade dos alunos.
3.2- Os comportamentos agressivos na sala de aula
Neste item iremos apresentar os comportamentos agressivos, da turma
do Núcleo de Educação Popular, da comunidade Borel – Indiana.
Os alunos sempre chegam para assistir às aulas muito agitados e
reclamando muito. Ao entrar na sala de aula, arrastam as carteiras ao invés de
levantá-las, o que provoca um grande barulho. Eles picharam todas as carteiras
com corretivo e escreveram seus nomes para marcar lugar.
Esses alunos teriam que seguir algumas regras estabelecidas no contrato
de convivência elaborado por eles com a participação dos professores, porém
nem sempre as regras são respeitadas.
As regras estabelecidas foram as seguintes : Os alunos poderão entrar
para assistir aulas até às oito horas e trinta minutos, devidamente uniformizados
com a camisa do Programa Vida Nova, não xingar palavrões e cuidar da limpeza
da sala de aula.
O aluno João chegou após as oito horas e trinta minutos para assistir aula
e não justificou o seu atraso. A professora explicou para o aluno que ele não
poderia entrar. Inconformado João ofendeu a professora com palavras de baixo
escalão.
A aluna Joana foi assistir aula sem uniforme. Ao ser indagada pelo
uniforme, a aluna teve uma crise de raiva e aos gritos disse que não assistiria à
aula. Saiu batendo a porta com muita violência. A aluna Paloma pensou que
Marina estava rindo dela, então deu um soco no rosto da colega.
Luiz estava zombando do sotaque nordestino do colega Gilberto durante
a leitura do texto, enquanto restante da turma dava gargalhadas. A professora
chamou atenção da turma, para que não rissem do colega porque ele merecia
respeito. O aluno Luiz se sentiu ofendido e começou uma discussão com a
professora dizendo que ele riu mesmo e o que ela tinha a ver com isso ?
As manifestações agressivas não se limitavam apenas durante as aulas.
Nos dias de prova, o comportamento agressivo se acentuava. Durante a prova de
recuperação de matemática, a aluna Laura iniciou uma gritaria porque não estava
conseguindo resolver os problemas de área e perímetro. O aluno José recusou-se
a participar das aulas de recuperação de matemática e no dia da prova deixou
todas as questões em branco.
Durante a prova de recuperação de geografia, a situação não foi
diferente. Os alunos foram avisados com antecedência do horário da prova, que
seria realizada às dez horas. E das oito horas até às dez horas haveria aula
normal. Mesmo avisados, os alunos José e Rafael fizeram um escândalo porque
queriam que a prova fosse realizada às oito horas.
Além de se agredirem entre si e agredirem aos professores, eles usavam
de toda artimanha para tumultuar as aulas. Para isto, ou simulavam uma briga
dentro da sala de aula, ou cantavam alto abafando a voz da professora.
Através desses relatos podemos perceber que os jovens ao serem
contrariados reagem agressivamente. Infelizmente esta realidade não ocorre
somente nesta sala de aula. A agressividade em seu aspecto destrutivo está
disseminada tanto em escolas particulares quanto em escolas públicas.
Podemos observar que os alunos, da comunidade Borel-Indiana
descarregam cargas de impulsos destrutivos no ambiente da sala de aula, o que
acaba causando danos aos outros, a eles próprios e ao ambiente.
3.3- Explicações para as condutas agressivas dos alunos
O comportamento agressivo do adolescente não surge repentinamente.
Ele inicia-se na infância e é constituído nas interações familiares e com o
ambiente social. Há uma série de condutas dos pais que podem contribuir para o
desenvolvimento de padrões agressivos nos filhos. Uma dessas condutas é
rejeitar a criança, mostrando que ela não é amada ou que ninguém se interessa
por ela. Outra conduta é a falta de limites na educação, deixando os filhos
fazerem o que desejam. Pais autoritários e punitivos também contribuem para
agressividade.
A violência doméstica também é um fator que pode exercer influência
decisiva no comportamento. Crianças que assistem a cenas de violência em casa,
ou que são vítimas da violência dos pais, podem aprender que essa é uma forma
aceitável de lidar com a raiva e a frustração.
A escola também pode contribuir para o desenvolvimento do
comportamento agressivo dos alunos quando não se propõe a ouvi-los e discutir
porque se comportam desta maneira. Professores autoritários podem
desencadear sentimentos de hostilidade em seus alunos. Se eles tiverem
dificuldade em lidar com esse tipo de sentimento, é provável que venham reagir
agressivamente em relação à escola e ao próprio professor.
3.4- Dificuldades de aprendizagem
Através dos relatos sobre as manifestações agressivas, podemos
perceber que a turma de alunos, da comunidade Borel-Indiana tem como
característica marcante à agressividade. Ao ingressarem no Programa Vida Nova,
eles já eram agressivos, por serem excluídos socialmente porque moram em
favelas; economicamente porque tem baixo poder aquisitivo; do sistema escolar
porque alguns alunos foram expulsos da escola, como o aluno José.
Entretanto essa agressividade se acentuou na sala de aula como
mecanismo de defesa. A turma tentava e muitas vezes conseguia tumultuar as
aulas para mascarar um problema, que eles herdaram, do primeiro seguimento do
ensino fundamental, que são as dificuldades de aprendizagem.
A maioria dos alunos traz nos seus históricos escolares, a repetência por
diversas vezes. A aluna Elizabete repetiu a primeira série do ensino fundamental
por três vezes consecutivas. Laura repetiu a primeira e a terceira série do ensino
fundamental e a aluna Joana foi eliminada da escola, na quarta série, por excesso
de faltas.Numa conversa informal, durante as aulas, os alunos relataram que
abandonaram a escola porque não conseguiam aprender e aos poucos foram
perdendo o interesse.
Muitos desses alunos já deviam apresentar dificuldades desde que
entraram na escola. Ou o problema passou despercebido pelos pais e
professores, ou houve um descaso por parte dos pais em sanar este problema.
Segundo Vítor Fonseca, a definição de dificuldades de aprendizagem é :
“Um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens
manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e na utilização da
compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático.”
(Fonseca, 1995, p.71 )
Mostraremos um quadro dos problemas que crianças e adolescentes com
dificuldades de aprendizagem podem apresentar.
(Idem, p.253)
Os alunos do Programa Vida Nova, da comunidade Borel-Indiana
apresentam dificuldades em fixar a atenção. Dispersam-se com muita freqüência
sendo atraídos por qualquer barulho.
Encontravam dificuldades em realizar as quatro operações da
matemática, principalmente na montagem das contas. Resistiam muito quando
tinham que escrever uma redação.
Tentavam driblar o professor de todas as formas para não entregar a
redação para correção. Talvez sentiam-se incapazes de realizar uma atividade
intelectual.
Apresentavam muitos erros na grafia das palavras, tais como essas
encontradas numa redação sobre o lixo.
X quando- escreveram “ condo ”X preciso- escreveram “ pressiço ”X gari- escreveram “ cari ”X rio- escreveram “ riu ”
Este caso citado acima é classificado como problemas perceptivos, no
qual destacam-se os problemas visuais e auditivos. Essas dificuldades deveriam
ter sido resolvidas no primeiro segmento do ensino fundamental, mas infelizmente
os alunos chegaram ao segundo segmento do ensino fundamental apresentando
essas deficiências.
3.5- Conclusão
A agressividade manifestada pelos aluno, da comunidade Borel-Indiana
assume caráter destrutivo, porque acarreta danos ao individuo, aos outros e ao
meio. Ao descarregarem os impulsos agressivos para o ambiente, acabam
atrapalhando o andamento das aulas.
Embora já fossem agressivos antes de ingressarem no Programa Vida
Nova, esta agressividade demonstrada dentro da sala de aula, tinha por finalidade
mascarar as dificuldades de aprendizado. Este problema deveria ter sido
resolvido antes de cursarem o segundo segmento do ensino fundamental.
CAPITULO ȱv
AGRESSIVIDADE E CRIATIVIDADE
4.1- Introdução
Como vimos no capítulo ȱȱ, no item 2.4, a agressividade pode ter fins
construtivos ou destrutivos. E no capítulo ȱȱȱ, no item 3.2 observaremos que o
comportamento agressivo dos alunos assume formas destrutivas.
Entretanto, podemos transformar esse comportamento utilizando a
criatividade, ou seja, dirigindo os impulsos agressivos para situações que sirvam
para descarregá-los de modo construtivo e útil.
Para que isto aconteça, é necessário que os professores exploram os
seus recursos pedagógicos pautados nas artes e nos esportes.
4.2- A arte e esporte contribuindo para melhorar o aprendizado e os impulsos
agressivos destrutivos.
Atualmente em que a agressividade destrutiva tem sido uma constante
nas salas de aulas. A atitude mais adequada que os professores devem assumir é
não reprimir ou então negar a agressividade.
Por mais difícil que possa ser, os professores precisam acolher seus
alunos, para que possam ser acolhidos. Quando o vinculo entre professor e aluno
está bem estabelecido, fica mais fácil resolver o problema da agressividade e do
aprendizado.
Para isto, podemos utilizar como ferramentas, a arte e o esporte, a fim de
dirigir os impulsos agressivos dos alunos para situações que sirvam para
descarregá-los de modo construtivo. Vejamos o que o cronista Artur da Távola
escreveu sobre o assunto :
“Quando a criança e o adulto transportam para pinturas, formas ou cores
os símbolos que os oprimem, estão descarregando a agressividade que se
voltaria contra si ou contra os outros.”
(Távola, 2002, p.03)
Quando os alunos aprendem através de brincadeiras tudo fica mais
agradável. O professor deve explorar seus recursos pedagógicos com o objetivo
melhorar o aprendizado e os impulsos agressivos destrutivos.
Um dos recursos a ser utilizados é o teatro. Podemos utilizá-lo com o
objetivo de exercitar a cidadania, a partir dos acontecimentos do dia-a-dia da sala
de aula. Com o teatro podemos ensiná-los a lutar pelos seus direitos, a respeitar
os direitos dos próximos e a cumprir seus deveres e suas responsabilidades.
Outro recurso que podemos utilizar é a música, já que os alunos gostam
muito promover o concurso de música, com letras que envolvam temas que fazem
parte da realidade dos alunos tais como : preconceito, violência, meio ambiente,
etc....
Para desenvolver o interesse pela leitura, capacidade de concentração,
atenção e imaginação. Temos como alternativa criar histórias em quadrinhos
através das noticias de jornais. Os alunos escolhem a noticia que mais lhe
agradar e a respeito dela criam uma história em quadrinhos.
A arte pode relacionar-se com o meio ambiente. Os alunos do Programa
Vida Nova, da comunidade Borel- Indiana tiveram esta experiência. Eles
aprenderam a confeccionar sofá com garrafas plásticas de refrigerantes, de dois
litros e depois estofaram. Também aprenderam a fazer samambaias para decorar
a sala de aula.
Outra produção com material reciclado foi a confecções de cintos com os
lacres das latas de refrigerantes e cervejas.
Além de aprenderem a reciclar o material descartável, ainda ajudam na
prevenção contra a dengue.
O professor também pode utilizar o desenho, a dança, a poesia e
promover atividades culturais como visitas a Museus.
Além da arte, o esporte ajuda a liberar os impulsos agressivos. Konrad
Lorenz sugere que as pessoas deveriam praticar esportes, a fim de esgotarem os
impulsos agressivos.
“ A melhor solução é dar ao homem oportunidades para descarregar sua
instigação agressiva através da participação em esportes e em outras atividades
competitivas e inofensivas. ”
(Lorenz apud Megargee e Hokanson, 1976, p.07)
As pessoas que liberam seus impulsos agressivos nas práticas esportivas
não precisam faze-lo através da destruição. Sendo assim, a disciplina educação
física assume uma grande importância. Quando esta disciplina é bem planejada
pode contribuir para melhorar a coordenação motora, o raciocínio, a atenção, a
solidariedade, além de fazer bem a saúde dos alunos.
O autor Hamilton Werneck ressalta os benefícios que a educação física
nas escolas traz para os alunos.
“ O controle motor, necessária a uma boa educação desde a primeira
infância, o desenvolvimento da concentração, a visão de conjunto em várias
práticas, o desenvolvimento do raciocínio espacial, a socialização, controle
emocional, a aceitação da realidade concreta de vitória e derrota, (...), isto sem
falar dos valores puramente físicos relativos a saúde.”
( Werneck, 1988, p.34 )
A criatividade não refere-se somente às atividades artísticas, conforme
costumamos pensar. Podemos considerar uma pessoa criativa quando ela é
questionadora, tem visão crítica, supera as dificuldades, etc...
Há vários comportamentos, ações e idéias que podem configurar
criatividade. Uma turma de alunos criativos propiciará a cooperação de seus
membros. Sendo assim criarão soluções para o grupo a enfrentar as dificuldades
e atingir metas. Ao fazerem isto, os alunos estarão assumindo um comportamento
agressivo construtivo.
Uma aliada importante na luta pela melhora do aprendizado e pela
transformação da agressividade para fins construtivos, é a família. Muitos pais ao
receberem uma notificação para comparecerem a escola, já pensam que irão
ouvir reclamações sobre o comportamento dos filhos. É importante a participação
da família seja na escola formal, ou no projeto que os filhos participam, como é o
caso do Programa Vida Nova.
Quando os pais participam das reuniões e das atividades propostas pela
escola ou pelo projeto, o desempenho dos alunos melhoram, porque eles se
sentem valorizados e com a certeza de que alguém se interessa por eles.
“ Só quem se sente pertencendo a um time o defende com unhas e
dentes. Assim são pais e filhos que se sentem pertencendo a uma escola : todos
formam um time afetivo e eficiente. ”
(Tiba, 1998, p.165)
4.3- Conclusão
Quando a criança ou adolescente freqüentam uma sala de aula que está
aberta a sua participação, ele será um aluno valorizado e atuará de forma criativa
e construtiva. Isso será favorável ao seu processo de aprendizagem e também
como membro integrante de um grupo, pois os laços de cooperação se
solidificarão entre a turma.
Para que isto aconteça, é necessário que o professor seja um
incentivador do desenvolvimento pessoal de cada aluno. Quando o aluno se sente
livre, a criatividade brota dentro dele, principalmente se tiver que enfrentar
desafios.
O esforço e dedicação dos professores e a participação da família neste
processo ajudará a direcionar a agressividade para atividades construtivas.
CAPITULO V
CONCLUSÃO
A agressividade vem acompanhando o homem ao longo da História da
humanidade. Toda pessoa deve possuir um gradiente de agressividade porque
ela faz parte do seu crescimento e amadurecimento. O homem não sobreviveria
como espécie, se não possuísse doses de agressividade.
Ao observarmos os comportamentos agressivos dos alunos, do Programa
Vida Nova, da Comunidade Borel-Indiana, notamos que esses comportamentos
direcionavam-se para a destrutividade. Isto não é uma característica peculiar
deste local. Tanto em escolas públicas quanto privadas, ocorrem episódios de
agressividade que não caminham para atividades produtivas.
A explicação para este fato seria a insegurança no mundo do trabalho,
fazendo com que os pais não acompanhem a educação de seus filhos. Ao
trabalharem, os pais não conseguem conciliar seu tempo de trabalho e
acompanhamento dos filhos. Assim, crianças e jovens deixam de serem
socializados, principalmente quando não possuem limites e perdem a educação
dos valores morais.
Atualmente vivemos numa sociedade em que o prazer está acima de
tudo, onde o consumo é fator de socialização. Na medida, em que um jovem
sente-se contrariado, ele reage com ato agressivo.
A responsabilidade de socialização de crianças e jovens foi sendo
delegada as escolas, sem que elas percebessem. Entretanto, não está
conseguindo realizar esta tarefa porque não estava preparada para acompanhar a
evolução da sociedade. E a maioria dos professores em atividade não tivera
durante a sua formação profissional capacitação para exercer esse papel
socializador e formador.
Hoje nos deparamos com o seguinte problema: Os alunos estão cada vez
mais agressivos e os professores não se sentem preparados para lidar com essa
situação.
Para amenizar esse conflito, é necessário que ocorra a valorização deste
profissional, para que ele se sinta estimulado a criar situações inovadoras, a fim
de que os alunos possam adquirir conhecimentos que sejam úteis as suas vidas.
É importante que os professores enxerguem as necessidades, as
dificuldades dos alunos sem rotulá-los e pesquisar métodos e técnicas que
tornem o aprendizado mais agradável para eles.
Agindo dessa forma, os professores encontrarão alternativas criativas
para direcionar os impulsos agressivos dos alunos para atividades produtivas
para eles e para o ambiente.
Entretanto, essa responsabilidade não cabe apenas aos professores. É
preciso que a direção da escola ou do projeto, como no caso do Programa Vida
Nova estejam envolvidos nessa empreitada.
Outra aliada importante é a família. A presença dela no ambiente escolar
estimula a auto estima e contribui para que o desempenho escolar de seus filhos
melhore.
Quando professores, direção, família e alunos estão comprometidos com
a realidade social e também pessoal, e assumem responsabilidades de seus
compromissos são capazes de produzirem resultados satisfatórios.
BIBLIOGRAFIA
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WERNECK, Hamilton . Ensinamos Demais, Aprendemos de Menos. Petrópolis:
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Neisy Helena dos Santos
Agressividade na Sala de Aula
(Uma Experiência no Programa Vida Nova)
TRABALHO MONOGRÁFICO COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO
DO GRAU DE ESPECIALISTA EM SUPERVISÃO ESCOLAR.
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Neisy Helena dos Santos
APROVADO POR : _______________________Nelson J. V. de Magalhães