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i Agradecimentos Termina agora aqui um longo caminho que nem sempre foi fácil, principalmente para os que me acompanharam, pelo que gostaria de agradecer à minha família, os meus pais Ana e Filipe, irmãos Mariana e Pedro e Avó Maria, mas também à Inês pela compreensão quando o trabalho era mais intenso. No desenvolvimento desta dissertação gostaria de agradecer a ajuda da tia Maria Luísa com os conhecimentos de inglês bem como ao Luís. Para o fim, mas muito importante, fica o sincero agradecimento ao Professor A. Moret Rodrigues pela paciência, dedicação, grande empenho e bastante tempo perdido na explicação exaustiva do programa e de todos os ensinamentos.

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i

Agradecimentos

Termina agora aqui um longo caminho que nem sempre foi fácil, principalmente para os que me

acompanharam, pelo que gostaria de agradecer à minha família, os meus pais Ana e Filipe, irmãos

Mariana e Pedro e Avó Maria, mas também à Inês pela compreensão quando o trabalho era mais

intenso.

No desenvolvimento desta dissertação gostaria de agradecer a ajuda da tia Maria Luísa com os

conhecimentos de inglês bem como ao Luís.

Para o fim, mas muito importante, fica o sincero agradecimento ao Professor A. Moret Rodrigues pela

paciência, dedicação, grande empenho e bastante tempo perdido na explicação exaustiva do

programa e de todos os ensinamentos.

ii

Resumo

Num contexto actual em que as preocupações ambientais acompanham as económicas, a sociedade

procura minimizar impactes e reduzir custos, mas sempre sem perder qualidade de vida. As

condições de conforto mínimas em edifícios são já um requisito obrigatório nos vários regulamentos

europeus, de forma, não só a melhorar condições de habitabilidade, mas também evitar o aumento

da factura energética.

As medidas implementadas pelas directivas europeias passam principalmente por controlar princípios

construtivos, ignorando por vezes a especificidade do funcionamento dos edifícios. Este trabalho

procura caracterizar condições de funcionamento dos edifícios mais próximas das reais, avaliando o

impacte em termos de temperatura que determinados comportamentos podem causar e o significado

desse impacte em termos económicos.

Após análise dos conceitos da térmica de edifícios é possível observar que os factores que

condicionam o comportamento térmico de zonas fechadas são principalmente os ganhos internos, as

renovações de ar e os ganhos solares pelos envidraçados. Estes factores apresentam uma grande

influência por parte dos utilizadores finais e portanto interessam ser avaliados no contexto deste

trabalho.

O estudo destes factores foi realizado por intermédio de simulações que comparam diferentes

comportamentos com simulações paramétricas baseadas nos valores do RCCTE. Os resultados

obtidos permitem verificar que os valores definidos no regulamento se encontram ligeiramente

afastados dos obtidos quando se tem em consideração o factor humano. São notórias as variações

das condições interiores que se obtêm, apenas com ligeiras alterações de comportamento, revelando

a grande influência das condições reais de funcionamento no comportamento térmico de edifícios.

Palavras-chave: Comportamento térmico; Edifícios; Influência de condições de utilização; Ganhos internos; Ventilação Natural; Ganhos solares; EnergyPlus.

iii

Abstract

Regarding the actual context where the environmental concerns go along with the economical ones,

the society tries to minimize the impacts and reduce costs, but always without compromising quality of

life. Standard comfort conditions in buildings are already required in the various European regulations,

not only to improve interior air quality, but also to avoid the rise of the energetic costs.

The measures developed and implemented by the European rules control constructive principles,

ignoring sometimes the specificity of the buildings behaviour. This thesis tries to characterize the more

realistic user behaviour conditions, evaluating the formal impact that certain behaviours can cause in

the inside mean air temperature and the economical significance of that impact.

After analysing some of buildings thermal concepts, it is possible to note that the factors that stipulate

the thermal behaviour of buildings are mainly the internal gains, the natural ventilation and the solar

heat gains through the windows. The building users have a great influence on these factors, and

therefore, they must be considered in the context of this work.

The study of the referred parameters was accomplished through several realistic simulations, which

compare different behaviours, with parametric simulations based on the national regulation values,

RCCTE. The results show that the values obtained with the application of RCCTE are slightly different

from the obtained values considering human factors. The impact of small behaviour alterations in the

actual conditions of use is significant in the thermal behaviour of buildings, revealing the great

influence of the real user conditions in the thermal behaviour of buildings.

Keywords: Thermal Behaviour; Buildings; Actual conditions of use; Internal gains; Natural ventilation;

Solar heat gains; EnergyPlus.

iv

Índice

1. Introdução ..................................................................................................................................1

1.1. Enquadramento...................................................................................................................1

1.2. Objectivos/Motivações ........................................................................................................2

1.3. Metodologia e estrutura 2

2. Conceitos sobre os fenómenos de transmissão de calor em edifícios...........................................3

2.1. Variáveis individuais e ambientais, de zonas habitacionais ...................................................3

2.1.1. Conforto térmico .........................................................................................................3

2.1.2. Temperatura do ar .......................................................................................................5

2.1.3. Humidade ....................................................................................................................5

2.1.4. Ventilação Natural .......................................................................................................6

2.2. Fenómenos de transmissão de calor ....................................................................................7

2.2.1. Condução.....................................................................................................................8

2.2.2. Convecção ...................................................................................................................8

2.2.3. Radiação ......................................................................................................................9

3. Comportamento térmico de edifícios ........................................................................................ 10

3.1. Factores com influência no comportamento térmico dos edifícios ..................................... 11

3.2. Interferência dos utilizadores nas condições padrão de funcionamento dos edifícios ........ 12

3.2.1. Ganhos de calor internos ........................................................................................... 13

3.2.2. Ventilação Natural ..................................................................................................... 15

3.2.3. Ganhos solares .......................................................................................................... 18

4. Apresentação do programa ....................................................................................................... 19

4.1. Valores de entrada para o EnergyPlus ................................................................................ 22

4.1.1. Parâmetros de simulação ........................................................................................... 22

4.1.2. Cálculo das trocas de energia ..................................................................................... 22

4.1.3. Fluxo de ar ................................................................................................................. 23

4.1.4. Elementos de construção da envolvente .................................................................... 27

4.1.5. Descrição e caracterização das zonas e superfícies térmicas....................................... 28

4.1.6. Localização e clima..................................................................................................... 28

4.1.7. Calendários ................................................................................................................ 29

4.1.8. Ganhos internos......................................................................................................... 29

4.1.9. Mecanismos de climatização ...................................................................................... 30

5. Simulações ................................................................................................................................ 32

v

5.1. Modelo Base ..................................................................................................................... 33

5.1.1. Ganhos internos......................................................................................................... 34

5.1.2. Ventilação natural - Renovação do ar ......................................................................... 34

5.1.3. Ganhos solares .......................................................................................................... 34

5.1.4. Características geométricas ....................................................................................... 35

5.2. Ganhos internos ................................................................................................................ 37

5.2.1. Impacte na temperatura do ar interior ....................................................................... 39

5.2.2. Impacte nos consumos energéticos ........................................................................... 43

5.3. Ventilação natural ............................................................................................................. 45

5.3.1. Impacte na temperatura média do ar interior no verão .............................................. 48

5.3.2. Impacte na temperatura média interior do ar no Inverno........................................... 52

5.3.3. Impacte nos consumos energéticos no Verão............................................................. 55

5.4. Ganhos solares .................................................................................................................. 57

5.4.1. Impacte na temperatura média do ar interior ............................................................ 58

5.4.2. Impacte nos consumos energéticos ........................................................................... 61

5.5. Simulação Geral ................................................................................................................. 62

5.5.1. Variação da temperatura média interior .................................................................... 63

5.5.2. Consumos energéticos ............................................................................................... 66

6. Conclusões ................................................................................................................................ 67

7. Referências bibliográficas .......................................................................................................... 73

vi

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Descrição das simulações realizadas .................................................................................3

Tabela 2 - Tabela resumo dos ganhos internos, recolhidos de várias fontes ...................................... 14

Tabela 3 - Aberturas possíveis .......................................................................................................... 24

Tabela 4 - Factores modeladores da temperatura ............................................................................. 25

Tabela 5 - Dimensões das janelas .................................................................................................... 25

Tabela 6 - Parâmetros característicos dos aparelhos de climatização ............................................... 31

Tabela 7 - Valores base definidos pelo RCCTE ................................................................................. 33

Tabela 8 - Datas das simulações ...................................................................................................... 33

Tabela 9 - Tipos de protecções solares e respectivos factores solares .............................................. 35

Tabela 10 - Valores dos parâmetros em estudo ................................................................................ 35

Tabela 11 - Simulação sem ganhos internos ..................................................................................... 37

Tabela 12 - Simulação Base ............................................................................................................. 38

Tabela 13 – Simulação com ganhos reais baixos .............................................................................. 38

Tabela 14 - Simulação com ganhos reais médios .............................................................................. 38

Tabela 15 - Simulação com ganhos reais altos.................................................................................. 39

Tabela 16 - Temperaturas interiores na estação de aquecimento ...................................................... 42

Tabela 17 - Temperaturas interiores na estação de arrefecimento ..................................................... 42

Tabela 18 - Consumo energético com aquecimento .......................................................................... 43

Tabela 19 - Consumo energético para arrefecimento ........................................................................ 43

Tabela 20 – Consumo energético anual para climatização ................................................................ 44

Tabela 21 - Diminuição percentual dos custos em relação à situação mais desfavorável ................... 45

Tabela 22 - Simulação sem ventilação .............................................................................................. 46

Tabela 23 - simulação Base (RCCTE) ............................................................................................... 46

Tabela 24 - Ventilação ocupação nocturna ........................................................................................ 46

Tabela 25- Ventilação cruzada para ocupação nocturna ................................................................... 46

Tabela 26 - ventilação com temperatura interior superior a 20ºC ....................................................... 47

Tabela 27 - Ventilação que conjuga ocupação com a temperatura .................................................... 47

Tabela 28 - Ventilação em período de desocupação ......................................................................... 47

Tabela 29 - Valores dos caudais de renovação ................................................................................. 47

Tabela 30 - Temperaturas interiores dos vários casos. ...................................................................... 49

Tabela 31 - Simulação sem ventilação .............................................................................................. 53

Tabela 32 - Simulação Base (RCCTE) .............................................................................................. 53

Tabela 33 - Ventilação em período diurno ......................................................................................... 53

Tabela 34 - Caudais de renovação .................................................................................................... 53

Tabela 35 - Temperaturas do ar interior na estação de aquecimento ................................................. 54

Tabela 36 - Consumos da climatização para as simulações da ventilação ......................................... 55

Tabela 37 - Variação dos custos em relação à situação mais desfavorável ....................................... 56

vii

Tabela 38 – Simulação protecções sempre OFF ............................................................................... 57

Tabela 39 – Simulação Base (RCCTE) ............................................................................................. 57

Tabela 40 - Simulação protecções sempre ON.................................................................................. 57

Tabela 41 - Simulação protecções activas sem ocupação ................................................................. 58

Tabela 42 - Simulação com controlo da temperatura ......................................................................... 58

Tabela 43 - Simulação das protecções exteriores como elementos de segurança/oclusão ................ 58

Tabela 44 - Temperaturas interiores das várias simulações .............................................................. 58

Tabela 45 - Consumos totais com climatização ................................................................................. 61

Tabela 46 - comparação dos custos em relação à situação mais desfavorável .................................. 62

Tabela 47 - Parâmetros das simulações Globais ............................................................................... 63

Tabela 48 - Temperaturas interiores.................................................................................................. 63

Tabela 49 - Consumo energético para os dois funcionamentos do sistema de climatização .............. 66

Tabela 50 - Variação dos consumos energéticos .............................................................................. 67

Tabela 51 – Resumo dos resultados do estudo sobre os ganhos internos ......................................... 68

Tabela 52 – Resumo dos resultados obtidos para o estudo da ventilação natural .............................. 70

Tabela 53 – Resumos dos resultados obtidos para as simulações do estudo dos ganhos solares ..... 70

viii

Índice de Figuras

Figura 1 - Divisão percentual de ganhos e perdas de um fogo para a estação de aquecimento. ........ 11

Figura 2 - Esquema representativo das principais trocas de calor num edifício .................................. 12

Figura 3 - Imagem foto térmica de uma habitação ............................................................................. 13

Figura 4 - Percurso e temperatura de um fluxo de ar numa sala sem janela,. .................................... 16

Figura 5 - Percurso e temperatura de um fluxo de ar numa sala com uma janela, ............................. 16

Figura 6 - Relação entre a temperatura exterior e a abertura de janelas. ........................................... 17

Figura 7 - Relação da abertura de janelas com o período do dia e da ocupação, durante 30 dias de

trabalho no verão de 2003. ............................................................................................................... 17

Figura 8 - Modelo de funcionamento do programa............................................................................. 20

Figura 9 - Função que controla a abertura de janelas controladas pela temperatura .......................... 25

Figura 10 - Características das janelas a introduzir no programa ....................................................... 26

Figura 11 - Factores multiplicativos da área de abertura .................................................................... 26

Figura 12 - Propriedades dos materiais utilizados.............................................................................. 27

Figura 13 - Constituição dos elementos construtivos ......................................................................... 27

Figura 14 - Imagem 3D das zonas caracterizadas no programa ........................................................ 28

Figura 15 – Alçado principal e planta de arquitectura do edifício em estudo....................................... 36

Figura 16 - Planta com os vértices utilizados para a introdução de dados no programa e respectivo

alçado ............................................................................................................................................... 36

Figura 17 – Gráfico da variação dos ganhos internos ao longo do dia ............................................... 39

Figura 18 - Diferença das temperaturas entre as várias simulações na estação de aquecimento ....... 40

Figura 19 - Diferença das temperaturas entre as várias simulações na estação de arrefecimento ..... 40

Figura 20 - Valor das temperaturas, na estação de aquecimento, das simulações com ganhos

internos ............................................................................................................................................. 41

Figura 21 - Valor das temperaturas, na estação de arrefecimento, das simulações com ganhos

internos ............................................................................................................................................. 41

Figura 22 - Variação dos custos com aquecimento............................................................................ 43

Figura 23 - Variação dos custos com arrefecimento .......................................................................... 44

Figura 24 - Custos finais da climatização .......................................................................................... 44

Figura 25 - Valor médio das renovações ........................................................................................... 48

Figura 26 - Diferença de temperatura entre existência ou não de ventilação...................................... 49

Figura 27 - Temperaturas interiores de dois dias típicos de verão ..................................................... 50

Figura 28 - Temperaturas interiores simulações com controlo dos utilizadores .................................. 51

Figura 29 - Temperaturas interiores de simulações com funcionamento nos mesmos períodos ......... 51

Figura 30 - Temperaturas interiores para ventilação controlada pela ocupação ................................. 52

Figura 31 - Temperaturas para simulações no inverno com variação das renovações de ar .............. 55

Figura 32 - Consumos climatização................................................................................................... 56

Figura 33 - Temperaturas interiores, de duas semanas de verão, das várias simulações realizadas .. 59

Figura 34 - Valores das temperaturas de quatro simulações, para 3 dias típicos de verão ................. 60

Figura 35 – custos com o arrefecimento do fogo ............................................................................... 61

ix

Figura 36 - Variação da temperatura ao longo de duas semanas de verão ........................................ 64

Figura 37 - Variação da temperatura ao longo de duas semanas de verão ........................................ 65

Figura 38 - Custos energéticos ......................................................................................................... 66

Figura 39 - Comportamento dos ganhos diários ................................................................................ 68

Figura 40 - Comparação dos vários resultados obtidos ..................................................................... 71

1

1. Introdução

1.1. Enquadramento

As sociedades actuais têm assistido a uma diminuição das reservas de recursos energéticos, não

renováveis, e ao grande impacte ambiental causado pela geração de energia ao longo de gerações.

A sensibilização mundial para a necessidade de conservação e uso racional da energia tem levado a

que cada vez mais se procurem soluções para minimizar as alterações que estão a ocorrer, sem

modificar o estilo de vida contemporâneo. Apesar da consciencialização ambiental, o consumo de

energia para a criação de condições de conforto em edifícios tem visto o seu peso na factura

energética aumentar significativamente. Este aumento leva a tentativas de melhorar a eficiência

energética dos edifícios, tanto ao nível da redução das necessidades bem como eliminando

desperdícios, através de soluções cada vez mais “amigas” do ambiente.

Olhando o panorama da construção verifica-se que, fruto de um maior desenvolvimento económico e

social, existe um aumento das exigências de conforto térmico. Em Portugal, segundo dados da

Direcção Geral de Energia, em 2002 existiam “mais de 3,3 milhões de edifícios, que representavam

cerca de 22% do consumo em energia final”, sendo que só as habitações residenciais são

responsáveis por 13%. Uma análise global, da mesma entidade, revela que na distribuição dos

consumos energéticos do sector doméstico em termos de energia final, 25% dizem respeito à

climatização de edifícios. Também na União Europeia, segundo o seu portal sobre poupança de

energia, os edifícios residenciais, industriais, comerciais e administrativos, são responsáveis por mais

de 40% do consumo de energia sendo a maior parte utilizada em sistemas de aquecimento e

refrigeração.

Em contraponto com a crescente necessidade energética na climatização dos edifícios, a UE criou no

ano de 2002 a “Directiva para a Eficiência Energética dos Edifícios”. Esta directiva apontava medidas

para “potenciais poupanças de energia, no sector da habitação”, na ordem dos 22% já em 2010, e

mesmo reduções de 30-40% em mais de 10 milhões de habitações na União Europeia. A diminuição

dos consumos pode ser obtida por diminuição das necessidades e mesmo pelo aumento da eficiência

dos sistemas. No entanto, “o modo mais eficaz corresponde a uma diminuição das necessidades,

uma vez que a energia que não se precisa não se gasta” [1].

Considerando estes dados, pode concluir-se que uma das áreas críticas no projecto de um edifício é

o consumo energético para aquecimento e arrefecimento. Estes consumos irão, segundo as novas

directivas nacionais, atribuir uma classificação de eficiência aos edifícios e podem mesmo inviabilizar

a sua construção, caso não cumpram os requisitos da regulamentação nacional (RCCTE) [2].

Devido à relevância que o consumo de energia nos edifícios apresenta, qualquer melhoria no sentido

de diminuir os gastos de energia na climatização apresenta benefícios a nível económico e ambiental.

Neste aspecto, Portugal encontra-se numa posição vantajosa em termos climáticos para o

aproveitamento das energias renováveis, bem como para a regulação das trocas de calor. Existe,

apesar de tudo, um desconhecimento e falta de sensibilidade sobre este assunto. Deve ser feito um

esforço no sentido de sensibilizar as pessoas, nos aspectos em que estas podem “contribuir para

2

uma sustentabilidade e eficiência energética na exploração dos edifícios e, por consequência, para

uma maior autonomia energética de Portugal e uma maior preservação ambiental” [3].

1.2. Objectivos/Motivações

Existem vários desenvolvimentos em termos de soluções construtivas que contribuem

significativamente para um melhor desempenho térmico dos edifícios. Técnicas construtivas de

“arquitectura bioclimática” e maiores exigências de desempenho térmico das habitações fazem já

parte dos princípios básicos da engenharia. No sentido de maximizar a eficiência destas técnicas, e

mesmo a criação de novas soluções, torna-se importante o estudo pormenorizado do comportamento

dos edifícios a nível térmico e energético, de forma a obter-se dados mais reais e exactos.

A energia consumida por um edifício, no seu período de vida é composta por duas parcelas: a

energia do dia-a-dia, onde se incluem os gastos com o aquecimento e o arrefecimento, e a energia

incorporada na construção (materiais e processos). Os utilizadores finais têm um papel fundamental

no comportamento energético diário das habitações, principalmente na forma como as trocas de calor

se processam e em que quantidade. Com a elaboração deste trabalho, pretende-se quantificar os

impactes nas trocas de calor provocados pelos utilizadores dos edifícios, no que diz respeito ao seu

desempenho térmico global, com o objectivo de obter dados que possam ser úteis em fases iniciais

do projecto de térmica. Para a realização do trabalho foram realizadas várias simulações, recorrendo

a um programa computacional, de forma a avaliar o comportamento térmico e energético de um fogo

tipo para condições reais de funcionamento.

1.3. Metodologia e estrutura

No capítulo 1 é feito um enquadramento do tema do trabalho, a que se seguem as motivações e os

objectivos que estão na base da sua realização. Depois desta apresentação, no capítulo 2 é feita uma

revisão dos conceitos teóricos fundamentais de transmissão de calor, carga térmica, condições de

conforto, entre outros. Para melhor compreender os factores que influenciam o comportamento

térmico dos edifícios, são revistos os fenómenos de transferência de calor que ocorrem ao longo de

um dia numa habitação. Após esta revisão, no capítulo 3 são aprofundados os factores relacionados

com o uso dos edifícios e o seu impacte sobre os referidos fenómenos de transmissão de calor.

Consolidados os conceitos teóricos, é possível centrar a atenção nos aspectos mais práticos do

trabalho. Para a elaboração dos inúmeros cálculos necessários à obtenção dos resultados

pretendidos, será utilizado o programa EnergyPlus, que é um programa bastante utilizado em

trabalhos no mesmo âmbito. Devido à especificidade deste programa e aos vários pressupostos

assumidos para a elaboração do trabalho, no capítulo 4 procura-se fazer um enquadramento histórico

do programa e explicar passo a passo os dados introduzidos.

No que diz respeito ao estudo analítico, o programa EnergyPlus será utilizado para a realização de

uma série de simulações térmicas de um edifício residencial típico, apresentadas no capítulo 5. As

simulações irão centrar-se especificamente sobre três parâmetros representativos duma utilização do

3

tipo habitacional: ganhos internos, ventilação natural e ganhos solares. Para cada um destes

parâmetros serão criadas previsões de comportamento tipo, baseadas no estudo teórico realizado

sobre o tema. Os comportamentos tipo irão basear-se nas necessidades de conforto dos utilizadores,

nos horários de ocupação reais e nas tentativas de diminuição de consumos energéticos. Os

resultados obtidos com os testes realizados, sobre estes aspectos, serão alvo de dois tipos de

análise.

Numa primeira análise, as simulações serão confrontadas com uma simulação Base a fim de avaliar

se os valores definidos no regulamento nacional sobre o comportamento térmico dos edifícios

(RCCTE) se afastam muito dos que traduzem condições mais reais de funcionamento. A outra

vertente de análises centra-se no impacte produzido no comportamento térmico de um edifício por

uma variação dos parâmetros acima referidos – ganhos internos, ventilação natural e ganhos solares.

Obtidos os resultados, é feita a sua leitura crítica salientado as principais diferenças observadas entre

os diferentes casos de simulação. As conclusões irão debruçar-se sobre o impacte na temperatura

média do ar interior e nos consumos energéticos com climatização, consequência dos ganhos

internos, da ventilação e dos ganhos solares. A Tabela 1 resume os diferentes tipos de simulação

realizados ao longo do trabalho.

Tabela 1 - Descrição das simulações realizadas

Tipo de simulação Objectivo

1 Simulação em

funcionamento livre Caracterizar a zona sem influência de qualquer parâmetro

2 Simulação Base Caracterizar a zona utilizando os valores definidos pelo RCCTE

3 Simulação referente aos

ganhos internos

Definir aproximações de valores espectáveis para ganhos internos normais

4 Comparar os valores obtidos em termos de grandeza e em termos de período

de funcionamento

5 Simulação referente à

ventilação natural Definir padrões de abertura de janelas com caudais razoáveis e conjugar com

horários de funcionamento e condições de conforto

6 Simulação referente aos

ganhos solares Definir posições das protecções solares com base nas suas funções de

segurança e sombreamento

2. Conceitos sobre os fenómenos de transmissão de calor em

edifícios

2.1. Variáveis individuais e ambientais, de zonas habitacionais

2.1.1. Conforto térmico

As habitações edificadas nos países desenvolvidos apresentam como princípios construtivos não só

a segurança estrutural, regulamentada pelos Eurocódigos, mas também uma série de outras

características obrigatórias, definidas por regulamentos direccionados para as exigências de

habitabilidade, no caso geral, e de conforto em particular.

4

As exigências de conforto são definidas por vários regulamentos nacionais, tais como o RCCTE,

“Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios”, a norma NP 1037-1

que controla a “Ventilação e evacuação dos produtos da combustão dos locais com aparelhos a gás”,

o “Regulamento Geral do Ruído”, entre outros. As condições mínimas definidas nas várias legislações

procuram responder às exigências de conforto dos utilizadores finais dos edifícios, consumindo o

mínimo de recursos para cumprir esse objectivo.

Importa então definir, logo desde inicio, o conceito de conforto térmico, os factores que influenciam

essa sensação e as consequências do comportamento dos edifícios na obtenção dessas condições.

As variáveis ambientais que influenciam a sensação de conforto são a temperatura do ar, a

temperatura radiante média, a velocidade do ar e a pressão parcial do vapor de água no ar ambiente.

Estes são claramente os factores que irão influenciar as decisões das pessoas e o seu

comportamento.

Analisando definições de vários autores, é consensual que o conforto é um “estado de espírito que

expressa satisfação com a envolvente térmica”, devendo as condições na envolvente ser tais que, as

trocas térmicas entre o corpo do ocupante e o meio se processem de maneira a que o corpo não

tenha que produzir nem perder calor em excesso, de forma a manter uma temperatura adaptada às

suas actividades.

Sendo assim existem também uma série de variáveis que influenciam o modo como “geramos e

perdemos calor, tais como a actividade física e mental, a velocidade metabólica, o isolamento

corporal natural e as roupas” [3]. Estas variáveis são denominadas variáveis individuais. Diferentes

combinações dessas variáveis podem produzir a mesma sensação térmica; logo duas pessoas

submetidas às mesmas condições de ambiente no interior de um edifício podem ter sensações

diferentes de conforto térmico.

Devido à subjectividade dos critérios, a definição de conforto térmico é de difícil quantificação. Deste

modo, tem apenas interesse identificar e estudar os aspectos que influenciam esse conforto sem os

quantificar. Neste trabalho o objectivo é caracterizar as atitudes dos utilizadores perante os meios que

dispõem para procurarem obter conforto, verificando depois o seu impacte nas condições reais.

Existem vários índices que traduzem as condições de conforto dos ocupantes de um edifício, sendo

os mais comuns, segundo [4], a neutralidade térmica (Thermal Neutrality), o modelo adaptativo

(Adaptive mode) e ainda o mais complexo, o voto médio pervisivel (Predicted mean vote).

No que diz respeito a estes modelos, o aspecto mais importante é o facto de assumirem que as

pessoas irão alterar o seu comportamento, “diminuindo o nível de roupa, abrindo janelas, etc”,

quando atingem a sensação de desconforto térmico (Oseland, 1998) [4].

Antes de ser possível compreender o comportamento dos utilizadores perante as possíveis condições

interiores de um edifício, convém fazer uma análise das variáveis ambientais que condicionam essas

condições.

5

2.1.2. Temperatura do ar

O edifício não pode ser considerado um elemento isolado de condições externas por ser

principalmente devido a essas condições que se processam as trocas de calor entre o edifício e a sua

envolvente. Este facto tem importância quando se fala da temperatura do ar interior, uma vez que

esta temperatura é resultante dos ganhos e perdas que se verificam no espaço.

As temperaturas a ter em consideração no estudo do comportamento térmico de um edifício são a

temperatura exterior e interior. A temperatura exterior é exclusivamente dependente da localização do

edifício, sendo definida no caso do RCCTE para a zona climática à qual pertence. Neste trabalho,

como será referido mais adiante, o programa utilizado recorre a dados climáticos horários para cada

região, que também são disponibilizados no site onde se descarrega o programa,

http://www.eere.energy.gov/buildings/energyplus

.No que diz respeito à temperatura interior, é necessário diferenciar entre a temperatura que evolui

em regime livre e a temperatura que se pretende atingir de modo a que se verifiquem as condições

de conforto exigidas pelos utilizadores. A temperatura interior em funcionamento livre é função da

temperatura exterior, da radiação solar e das características físicas da envolvente. Corresponde à

temperatura que se obtém do balanço térmico entre os ganhos e as perdas de calor que ocorrem em

determinado momento.

Um dos objectivos deste trabalho é avaliar a temperatura interior que se verifica para as várias

condições simuladas. No entanto, a precisão que se pretende neste estudo implica também a

necessidade do conhecimento horário do valor da temperatura exterior. Como será explicado no

capítulo dos conceitos teóricos dos fenómenos de transmissão de calor, a diferença de temperaturas

entre o interior e o exterior provoca fluxos de calor entre estes dois meios, tanto através de condução

como por movimentações de massas de ar.

Relacionando a temperatura com as condições de conforto surge a definição de temperatura interior

de conforto. A temperatura de conforto deve apresentar um valor que permita aos utilizadores realizar

as actividades à sua temperatura “corporal normal com uma taxa de produção de calor igual à taxa

de perda” [4]. O RCCTE define como temperatura de conforto para a estação de aquecimento o valor

de 20ºC, enquanto para a estação de arrefecimento esse valor é 25ºC

A diferença entre as duas temperaturas interiores, real e de conforto, conduz a que existam

necessidades de aquecimento e arrefecimento do espaço ocupado, consoante a temperatura de

conforto supera a interior ou vice-versa.

Visto ser um dos objectivos desta dissertação uma análise completa do funcionamento de um edifício,

serão fornecidos dados horários de temperatura exterior, para que o programa analise as trocas de

calor e possa activar os meios de controlo da temperatura interior em consonância com o que seria

expectável por parte dos utilizadores.

2.1.3. Humidade

A humidade sob a forma de vapor no ar é outro factor que não pode ser ignorado quando se fala de

condições ambiente. Esta variável ambiental influência a sensação de conforto dado que uma das

6

“formas de o corpo libertar energia é através da transpiração” [3], que constitui uma expulsão de água

do corpo.

Quanto maior o valor da humidade relativa, maior a sensação de desconforto perante temperaturas

mais elevadas. É no verão que a humidade atinge os valores mais elevados, sendo nesse período

que se deve ter em consideração os valores atingidos na avaliação da temperatura de conforto.

Existem dois problemas de fundo provocados pela humidade ao nível do comportamento térmico de

edifícios. O primeiro problema encontra-se relacionado com a diminuição da temperatura de conforto,

perante maiores valores de humidade, e o consequente aumento das necessidades de arrefecimento.

O segundo problema diz respeito à condensação. A condensação é um fenómeno que consiste na

agregação das partículas de água que existem em fase gasosa no ar, a humidade. Este fenómeno

ocorre quando o ar entra em contacto com uma superfície mais fria e arrefece até atingir a chamada

temperatura de orvalho.

A importância da humidade no tema deste trabalho prende-se com a necessidade de renovar o ar

interior para evitar as referidas condensações. Este parâmetro é uma das causas que implica

ventilação natural para melhorar a qualidade do ar interior e prevenir patologias construtivas.

2.1.4. Ventilação Natural

A ventilação desempenha um papel importante no comportamento térmico dos edifícios a dois níveis

muito distintos: ao nível das trocas de calor; e ao nível da renovação do ar dos espaços interiores. Os

efeitos da ventilação nos edifícios dependem principalmente da velocidade e orientação do vento, da

diferença de temperatura entre o interior e o exterior e da área de aberturas permitida para a

renovação do ar.

O ar que envolve o edifício não se encontra estático, mas apresenta contínuas movimentações entre

o interior o exterior. As forças que geram estas movimentações têm duas origens: uma é provocada

pelas diferenças de densidade associadas a massas de ar a diferentes temperaturas, que constituem

acções estáticas; a outra é devida a diferenças de pressão causadas pela acção do vento, que

constituem acções dinâmicas. A entrada e saída de ar nos edifícios faz-se devido às diferenças de

pressão, com as origens referidas, que ocorrem entre o interior e o exterior, e é função da

permeabilidade da envolvente. Quando este processo ocorre de uma forma não controlada designa-

se por infiltração.

Conhecendo as causas da movimentação do ar, podem-se distinguir três tipos de ventilação natural:

a ventilação simples, a cruzada e o efeito chaminé.

Ventilação simples (one-sided ventilation) processa-se apenas através de aberturas numa só

fachada, o que torna esta solução pouco eficaz. Ventilação cruzada (two-sided ventilation) processa-

se entre aberturas localizadas em fachadas diferentes, podendo originar um número elevado de

renovações horárias e efeitos consideráveis nas condições de conforto térmico.

O efeito chaminé (stack effect), por outro lado, é devido à diferença de densidades já referida, que

caracteriza as massas de ar com diferentes temperaturas. Este facto provoca uma subida do ar

quente e uma saída pela zona superior do edifício bem como uma sucção de ar, criando uma

7

ventilação cruzada. A eficiência desta técnica é tanto maior quanto maior a diferença de temperaturas

entre o ar confinado à chaminé e o ar exterior [1].

A movimentação do ar entre o interior e o exterior tem duas consequências muito visíveis. Por um

lado conduz a perdas de calor, pelas trocas de energia que se geram, por outro aumenta a

temperatura de conforto, gerando uma sensação de desconforto pela velocidade do ar.

A causa do aumento da temperatura de conforto deve-se ao aumento das trocas de calor por

convecção entre o corpo e o ambiente. A referência [1] define que, por exemplo, para velocidades de

0,5 m/s a gama de temperaturas de conforto encontra-se entre os 21 e os 25ºC enquanto para 2m/s

essa gama situa-se entre 25 e 28ºC. Com este aumento da tolerância a temperaturas superiores em

cerca de 4ºC é possível realizar poupanças energéticas importantes no verão, mas por outro lado

aumentos de consumo no inverno. Apesar de contraproducente no inverno, a exposição ao vento das

fachadas é muito benéfica no verão [1].

Segundo [5], GIVONI realizou experiências, onde observa o efeito do posicionamento e dimensões

das aberturas sobre os fluxos de ar internos no ambiente. Existem vários textos que defendem a ideia

de que o uso apropriado das janelas pode contribuir para uma diminuição da temperatura de um

espaço.

Existe uma falta de dados concretos sobre infiltração e ventilação para edifícios completos. Essa

informação é essencial para validar os modelos de ventilação. Antes de iniciar as simulações é

necessário identificar todas as variáveis para cada edifício em concreto, de modo a, obter dados mais

realistas e em última análise, modelos mais exactos.

Atendendo à influência da ventilação nas trocas de calor nos edifícios, e ao papel dos utilizadores no

controlo deste parâmetro, este será um aspecto a verificar neste trabalho.

2.2. Fenómenos de transmissão de calor

Antes de se iniciar o estudo do comportamento térmico de um edifício é necessário abordar os

fenómenos de transferência de energia num edifício. Este capítulo irá abordar os três tipos de

transferência de energia e todas as trocas térmicas que se verificam no regular funcionamento de

qualquer edifício.

A base teórica que fundamenta os fenómenos de transmissão do calor é muito vasta e encontra-se

intimamente ligada à termodinâmica e às leis dos fluidos [6]. A termodinâmica indica que a

transferência de energia se processa de um foco quente para um foco frio. Deste modo, um edifício

que receba energia natural é um foco frio perante determinado foco quente. No sentido oposto, um

edifício que liberte energia para o exterior é um foco quente para o exterior, que é um foco frio

Para que as trocas de calor favoreçam o conforto interior, deve procurar-se que durante o verão a

habitação seja um foco quente, transferindo o calor para o exterior, e durante o inverno, um foco frio

que receba energia, evitando ao mesmo tempo que outras fontes de maiores dimensões alterem este

estado de fluxo. De seguida apresenta-se uma breve explicação das formas de transferência de

energia térmica.

8

2.2.1. Condução

O fenómeno da condução traduz-se na “transferência de energia de partículas com níveis energéticos

mais elevados para partículas com menor energia” [7]. A condução pode ocorrer entre dois corpos ou

dois meios em contacto e com diferentes temperaturas, através do movimento e choque de

partículas. A quantidade de calor transmitida pode ser obtida por intermédio da Lei de Fourier:

𝑞 = −λ𝛿𝜃

𝛿𝑋

onde q = fluxo de calor (W/m2)

λ = condutibilidade térmica do material (W/mºC) δθ = diferença de temperatura entre duas partículas (ºC) δx = distância entre partículas (m)

Segundo esta lei quanto maior a diferença de temperatura entre os dois corpos maiores as trocas de

calor entre os mesmos, sendo que os corpos tendem a igualar as temperaturas para atingirem um

estado de equilíbrio.

No entanto, existem outros factores que condicionam as trocas de calor. O calor propaga-se pela

continuidade dos materiais consoante a sua condutibilidade térmica, sendo a quantidade de calor

transmitido por condução directamente proporcional à condutibilidade térmica do meio ou material.

Esta propriedade, designada simbolicamente por λ, “equivale à quantidade de calor Q transmitida

através de uma espessura L, numa direcção normal a superfície de área A, devido ao gradiente de

temperatura ΔT, [W/m⁰C]”, retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Condutividade_t%C3%A9rmica.

A equação utilizada para expressar as trocas de calor por condução é então função de vários

parâmetros e surge normalmente sobre a forma da seguinte equação:

𝑄 = 𝑈 × 𝐴 × (𝜃𝑒 − 𝜃𝑖)

onde U= Coeficiente de transmissão térmica (W/m2⁰C)

A= área de exposição (m2)

θe = temperatura exterior (ºC) θi = temperatura interior (ºC)

O principal conceito a reter para aplicação neste trabalho é o facto de, nos edifícios, a condução ser

responsável pela transferência de calor entre duas fronteiras sólidas, sendo essa quantidade e

intervalo de tempo controladas pela condutibilidade dos materiais e pela inércia térmica.

2.2.2. Convecção

A convecção é o processo pelo qual um fluxo de calor é transferido entre uma superfície sólida e o ar

adjacente a essa mesma superfície, ou seja, é a propagação de energia entre um sólido e um fluido

que escoa sobre a superfície sólida. Este fenómeno pode ser de origem natural, se for causado por

gradientes de temperatura, ou forçada se for devido a ventos ou ventoinhas.

Na modelação das correntes de convecção num edifício, as superfícies externas e internas são

tratadas de forma diferente. A convecção externa deve-se ao vento e é considerada forçada,

9

enquanto a interna pode dever-se a fenómenos naturais bem como ser forçada por aparelhos de

condicionamento do ar.

Torna-se difícil a contabilização da convecção interna forçada, uma vez que, esta se encontra

bastante dependente da utilização de aparelhos pelos utilizadores e das disposições de aberturas

definidas para os fluxos. Na realização do trabalho foi utilizado um programa de cálculo de fluxos de

ar, o Comis, como módulo do programa EnergyPlus. Este programa permite a definição de um vasto

espectro de cenários de disposição e abertura de janelas em termos da ventilação induzida, o que se

afigura de grande interesse no âmbito da avaliação das condições reais de funcionamento de um

edifício.

A expressão que traduz este fenómeno de transferência de calor por convecção aproxima-se da

expressão da condução e é a seguinte:

𝑄 = ℎ𝑐 × 𝐴 × (𝜃𝑠 − 𝜃𝑓)

onde hc= condutância superficial por convecção (W/m2⁰C)

A= área de exposição (m2)

θs = temperatura da superfície do sólido (ºC) θf = temperatura do ar (ºC)

2.2.3. Radiação

A radiação consiste na libertação de energia sobre a forma de ondas electromagnéticas, emitidas

devido à energia acumulada no corpo sob a forma de calor. Esta energia radiante, mesmo na

ausência de um meio de propagação, pode ser absorvida, transmitida ou reflectida.

Devido à sua elevada temperatura, o sol desempenha um papel muito importante como corpo

emissor de energia radiante. As parcelas desta energia absorvida pelas superfícies opacas e

transmitida pelas superfícies transparentes são responsáveis por grande parte dos ganhos de calor

nas habitações, conduzindo a aumentos da temperatura das superfícies e ar interior.

A expressão que explica o fenómeno da radiação denomina-se expressão de Stefan-Boltzmann e

traduz-se na seguinte equação.

𝑄 = 휀 × 𝜎 × 𝐴 × 𝜃4

onde A = área da superfície do corpo (m2)

θ = Temperatura absoluta (K) ζ = Constante de Stefan-Boltzmann (W/m

2.K

4)

ε = Emissividade da superfície (0≤ε≤1)

Tal como na transmissão por condução e convecção, a expressão para a troca de energia radiante

entre duas superfícies é directamente proporcional a uma diferença de temperaturas e é a que se

segue.

𝑄 = ℎ𝑟 × 𝐴 × (𝜃1 − 𝜃2)

onde hr= condutância superficial por radiação (W/m2⁰C)

A= área de exposição (m2)

θ1 = temperatura do corpo 1 (ºC) θ2 = temperatura do corpo 2 (ºC)

10

“Mesmo garantindo completo isolamento a trocas de calor por condução e convecção, uma vez que

os corpos não se encontram isolados no meio” [1], existem sempre trocas de energia por radiação

entre todas as superfícies que se contactam visualmente, e que é tanto maior quanto maior for a

diferença de temperatura entre elas.

Relativamente à radiação solar distinguem-se três tipos que têm importância na térmica de edifícios:

radiação directa do sol, que é a forma de radiação mais intensa; radiação difusa, que é difundida em

todas as direcções pelas moléculas de ar e por partículas que compõem a atmosfera; e ainda a

radiação reflectida em outras superfícies. Num dia de céu limpo, a percentagem de radiação que

chega ao solo é cerca de 50% do valor da radiação emitida pelo sol, sendo a percentagem de

radiação difusa baixa. No entanto, num dia com nuvens, a radiação difusa pode variar entre 10 a

100% do valor da radiação que chega ao solo, segundo [3].

O sol apenas altera a inclinação dos seus raios ao longo do ano, pelo que as propriedades ópticas do

corpo que recebe a radiação determinam em grande parte a quantidade de energia efectivamente

recebida. Este facto torna os envidraçados, que são elementos com elevada transmitância, a principal

forma de entrada da radiação solar num edifício. O controlo da área envidraçada exposta à radiação

é transversal ao estudo realizado para o parâmetro dos ganhos solares.

3. Comportamento térmico de edifícios

As trocas de calor entre o edifício e o meio envolvente ocorrem pelos fenómenos físicos estudados

anteriormente. Esses fenómenos são resumidamente: condução, devido à diferença de temperatura

entre as partes sólidas do edifício; convecção, entre as partes sólidas e o ar interior e exterior; e ainda

por radiação, captada do exterior pelos envidraçados das fachadas. Interessa agora compreender

através de que elementos ocorrem essas trocas e a influência que os utilizadores têm no controlo

destas transferências. Essa influência irá prender-se principalmente com o calor produzido pela

ocupação interna, com a abertura e fecho de janelas e ainda com a posição das protecções solares

das janelas.

O RCCTE, no cálculo das necessidades de aquecimento e arrefecimento, descrimina todas as formas

de ganhos e perdas de calor, perante determinadas condições de funcionamento das habitações.

Para além das considerações do regulamento já vários trabalhos estudaram as principais formas de

transferência de energia num edifício. O presente trabalho não procura identificar as perdas e a forma

como elas ocorrem. O objectivo é medir a influência dos utilizadores nessas perdas e ganhos que

ocorrem, no sentido de uma contabilização mais correcta das necessidades energéticas para o

conforto térmico.

Utilizando como base o RCCTE, considera-se que os ganhos existentes se resumem à ocupação

interna, à radiação solar incidente nas fachadas expostas e aos ganhos por condução. No que diz

respeito às perdas, incluem-se as perdas por condução pelos elementos da envolvente e as perdas

por renovação do ar.

As estações do inverno e do verão distinguem-se pelo facto de uma corresponder a uma altura de

aquecimento e a outra a um período de arrefecimento. Apesar desta diferença nenhum edifício pode

alterar as suas características físicas principais de estação para estação. Sem alterar características,

11

o edifício pode ser dotado de mecanismos que, mediante uma correcta utilização, conduzam a

resultados diferentes em termos de ganhos e perdas de energia. “Enquanto no Inverno interessa

restringir as perdas de calor para o exterior, no Verão torna-se mais favorável restringir os ganhos

excessivos de calor para o interior” [8].

Para a melhor contabilização destas trocas através da envolvente e para o cálculo das necessidades

de climatização dos edifícios foi utilizado um software de análise dinâmica do comportamento térmico.

Em seguida serão apresentadas todos os factores que condicionam as trocas de calor num edifício e

que serão alvo de análise.

3.1. Factores com influência no comportamento térmico dos

edifícios

Pode considerar-se a existência de 3 factores fundamentais na temática da transmissão de calor em

edifícios, o próprio edifício, o clima e as pessoas.

Inicialmente convém quantificar a distribuição das perdas e dos ganhos pelos elementos que

constituem o edifício. O trabalho [8], que pretendia caracterizar os impactes da envolvente no

desempenho térmico de edifícios, utilizando o programa EnergyPlus, conclui que para vários fogos

tipo as parcelas com mais peso na distribuição percentual das perdas e ganhos são os ganhos

internos, os ganhos e perdas pelos envidraçados e os ganhos e perdas por ventilação. A Figura 1 é

um exemplo concreto da situação de inverno para demonstrar a diferença relativa às outras formas

de transferência de energia. O que se pretende agora é avaliar os factores que influenciam estas

trocas e o impacte das condições reais de funcionamento no valor final de cada um deles.

Figura 1 - Divisão percentual de ganhos e perdas de um fogo para a estação de aquecimento, [8].

Segundo [9], não “se encontraram dados conclusivos” sobre a influência dos ocupantes de edifícios,

mas “não se pode descartar o utilizador como causa da margem de erro que se verifica nas

estimativas” das temperaturas interiores de edifícios. Na respectiva tese afirma-se que existiu uma

grande “ dificuldade em determinar a carga térmica de edifícios”, [9]. O objectivo do presente trabalho

é avaliar os factores que influenciam a carga térmica, de forma a facilitar a determinação destes

valores.

12

Após um estudo aprofundado de todas as questões das trocas energéticas, as maiores incertezas

que surgem no cálculo da carga térmica são: a abertura de janelas, grande influência na renovação

do ar; a posição das protecções dos envidraçados, com consequência na área de exposição directa à

radiação solar; e ainda os valores de ganhos internos devido à ocupação interna.

A Figura 2 é um esquema ilustrativo dos factores em que se procura estudar a influência dos

utilizadores.

Figura 2 - Esquema representativo das principais trocas de calor num edifício

3.2. Interferência dos utilizadores nas condições padrão de

funcionamento dos edifícios

O comportamento dos ocupantes, suas acções e estilos de vida apresentam um impacte significativo

no comportamento térmico dos edifícios. Não se deveria aligeirar os impactes dos utilizadores, mas

sim fazer uma avaliação correcta para que se possam obter estimativas do consumo de energia mais

realistas. Este capítulo foi realizado para justificar a influência dos utilizadores nos factores que se

consideram afectar o comportamento térmico dos edifícios, ganhos internos, ventilação natural e

ganhos solares.

Definidos os aspectos que mais influenciam as trocas de energia, falta responder à questão de quais

as condições que fazem com que os utilizadores tomem determinada atitude em relação às opções

de controlo das condições térmicas interiores. As acções dos utilizadores estão intimamente

relacionadas com a sua percepção sensorial de conforto, tornando-se difícil a sua previsão.

O edifício deve funcionar como um “filtro, que modula as condições externas de modo a proporcionar,

no interior, um ambiente que satisfaça das necessidades do ser humano” [1]. Os utilizadores podem

ser os controladores desse “filtro”, utilizando as componentes que constituem o edifício. A actuação

dos ocupantes sobre o ambiente (uso de ventilação, mecanismos de sombreamento, produção de

calor) tem influência decisiva nas condições de conforto térmico. Por estas e outras razões, “nenhum

modelo e índice apresenta resultados sem discrepâncias em relação à realidade” [1].

Comportamento térmico de um

edificio

Ganhos internos

Ventilação Natural

Ganhos solares

13

Em termos do comportamento dos utilizadores podemos distinguir duas situações de desconforto:

uma devido à baixa temperatura e a oposta em que a temperatura interior é superior à temperatura

de conforto. Estas duas situações distintas de desconforto, quando aliadas aos padrões de

funcionamento de um fogo, respondem à maioria das decisões tomadas pelos utilizadores e que

influenciam o comportamento térmico dos edifícios.

Um trabalho realizado para o Fraunhofer Institute [10], conclui, através da comparação entre

monitorizações e simulações estatísticas do comportamento dos utilizadores, que um modelo

estatístico do comportamento da utilização da abertura de janelas e suas protecções solares pode

contribuir para um modelo mais realista de meios passivos de arrefecimento. Outro estudo realizado

pelo mesmo instituto [11], afirma que o modelo térmico do edifício combinado com estatísticas do

comportamento dos utilizadores simula com exactidão a performance térmica do mesmo, uma vez

que as pessoas procuram o conforto interior e irão interagir com meios ao seu dispor para adaptar o

edifício às suas necessidades. De seguida serão descritos com maior pormenor os factores em

estudo e justificados os padrões de funcionamento.

3.2.1. Ganhos de calor internos

A avaliação dos ganhos internos distingue-se dos restantes parâmetros em avaliação. Neste caso,

não se trata de criar um padrão que regule as decisões perante mecanismos existentes na habitação,

mas sim determinar ganhos tipo padrão que melhor representem os ganhos internos reais existentes.

O RCCTE, na elaboração do balanço energético de um edifício residencial, considera como ganhos

internos um valor constante médio em todas as horas de 4W/m2. Ora, como é óbvio numa habitação

não existem sempre os mesmos ganhos ao longo do dia, existindo períodos de pico com maior

ocupação e alturas em que a habitação se encontra desocupada e sem ganhos.

Por vezes os utilizadores dos fogos apenas aquecem e arrefecem a zona que utilizam, deixando o

resto do edifício em funcionamento livre, conduzindo a maiores perdas por deixarem de se poder

tratar de zonas aquecidas. A Figura 3 demonstra, numa mesma habitação, a diferença de

temperaturas que se verifica no interior.

Figura 3 - Imagem foto térmica de uma habitação, http://www.maxit.pt

14

Estas observações justificam o interesse em relação à análise da possibilidade de não existirem

ganhos internos (Simulação sem ganhos internos), bem como em relação à existência de períodos de

menor ocupação em que não existem ganhos. As simulações realizadas procuram não só

compreender a relevância de existirem ganhos internos numa habitação, mas também perceber em

que períodos esses ganhos existem em maior quantidades e qual o valor que realmente apresentam.

Para além das questões mais relacionadas com os períodos de ocupação existe ainda a questão do

valor definido no RCCTE para o valor dos ganhos internos. A Tabela 2 resume vários dados de

produção de calor por parte de pessoas, luzes e equipamentos, que foram recolhidos de diversas

fontes nomeadamente, o manual de utilizador do programa EnergyPlus [12] e ainda o documento

[13]. Os dados que serão utilizados nas simulações referentes aos ganhos internos utilizam estes

valores médios.

Tabela 2 - Tabela resumo dos ganhos internos, recolhidos de várias fontes

Origem dos ganhos

Tipo de ocupação Valor

[W/ocupante]

Metabolismo humano

Dormir 95

Sentado a descansar 104

Actividade sedentária 126

Actividade Leve 167

Cozinhar 200

Limpeza da casa 310

Iluminação

Nível de ganhos Valor [W/m2]

Baixo 5

Médio 10

Alto 20

Equipamentos

Tipo de equipamento Valor [W]

Fogão pequeno com forno 270

Esquentador 11l/minuto 345

Aspirador, Ferro de engomar, etc

270

Televisão 100

Computador pessoal 200

Frigorifico 200

Pequeno aparelho eléctrico 100

O grande número de actividades e de possibilidades de utilização de equipamentos não permite

afirmar com certezas sobre quais os ganhos exactos que ocorrem numa habitação. No entanto, é

possível definir algumas actividades base que ocorrem em qualquer rotina diária e ao mesmo tempo

introduzir aparelhos que normalmente também fazem parte do dia-a-dia, mas que não constituem

uma necessidade básica.

No capítulo da avaliação analítica, que estuda este parâmetro, foram criados calendários de

ocupação aos quais se fazem corresponder conjuntos de actividades. Uma vez que os valores variam

15

ao longo do dia, para comparação com os valores do RCCTE, foram realizadas, conjugando vários

comportamentos tipo, médias de ganhos internos horários (5,6 e 7W/m2) à semelhança do valor de

4W/m2. É possível observar que um aumento pouco significativo nos aparelhos utilizados pode

facilmente aumentar em 1W/m2 o valor dos ganhos internos médios.

3.2.2. Ventilação Natural

Conhecendo minimamente o comportamento de um fluído como o ar, facilmente se compreende que

a disposição das janelas e as áreas de abertura condicionam bastante os fluxos de circulação do ar

no interior de uma habitação. Os vidros que constituem os envidraçados apresentam elevadas

condutibilidades térmicas e grandes coeficientes de transmissão de radiação, não constituindo

praticamente barreira às trocas por condução e radiação. No entanto, a sua permeabilidade à entrada

de ar é nula, dependendo apenas da permeabilidade da caixilharia. Por estas razões o caudal de

entrada nos fogos com as janelas abertas aumenta substancialmente com a área de abertura.

Sabendo a relevância da ventilação nas trocas de energia, a alteração da posição dos envidraçados,

ganha ainda mais importância.

Segundo [14], Huang and Brodrick afirmam que nos Estados Unidos, a transferência de calor pelas

janelas produz cerca de 34% da carga de arrefecimento e 23% da carga de aquecimento, em

edifícios residenciais. É então importante modelar adequadamente os mecanismos de transferência

de calor por renovação do ar, para determinar o impacte dos regimes de utilização de janelas nos

consumos energéticos e no conforto dos ocupantes.

O controlo da convecção pode ser feito através de cenários de disposição e abertura de janelas.

Vários estudos comprovam a relevância, na diminuição da temperatura, da abertura de janelas

durante os períodos mais frios do dia, nos meses quentes. No entanto, não é apenas a pressão

estática que pode ser controlável, sendo possível afirmar o mesmo em relação à pressão dinâmica. A

criação de correntes de ar, alterando a disposição das janelas, ventila o edifício e renovam o ar,

diminuindo a temperatura e aumentando a sensação de conforto.

No sentido contrário, de modo a evitar-se perdas excessivas por convecção, deve “proteger-se os

paramentos exteriores das correntes de vento frias” [1]. Segundo um estudo realizado pelo

Sustainable Energy Development Office [4], a “redução da ventilação natural e das infiltrações

involuntárias, podem melhorar significativamente a eficiência de edifícios”. “Afortunadamente na

maioria das ocasiões, as correntes frias do inverno não coincidem com as frescas do verão, pelo que

é possível adoptar soluções compatíveis para ambos os casos” [1]. Do ponto de vista das cargas

térmicas, o ideal seria obter soluções de sombreamento e de ventilação que ajudem a “reduzi-las nos

períodos quentes e optimizá-las nos períodos frios” [1].

As Figuras 4 e 5 foram criadas pelo Laboratório de modelação matemática de processos ambientais e

tecnológicos da Universidade da Letónia, e comparam fluxos de ar em salas comuns de edifícios com

e sem janelas, através do seguimento de partículas marcadas. Por análise do esquema de cores

utilizado na representação é possível observar que a presença de uma janela altera ligeiramente as

16

condições de fronteira do fluxo no interior, mas principalmente, que reduz a temperatura do próprio

fluído.

Figura 4 - Percurso e temperatura de um fluxo de ar numa sala sem janela,

http://www.modlab.lv/en/izstradnes-metodikas-termo.php.

Figura 5 - Percurso e temperatura de um fluxo de ar numa sala com uma janela,

http://www.modlab.lv/en/izstradnes-metodikas-termo.php

O comportamento dos utilizadores provoca variações constantes nestes fluxos pelo que se torna

difícil a modelação correcta dos mesmos. Através da comparação de simulações realizadas no

programa EnergyPlus irá ser avaliada a relevância destas alterações no comportamento térmico de

edifícios.

De forma a caracterizar melhor as condições reais de funcionamento das habitações, os estudos

referidos de seguida são elucidativos da relação entre o período do dia, a temperatura interior e a

área de abertura de janelas definidas pelos utilizadores. O estudo elaborado em [10] observa o

aumento significativo da percentagem de abertura de janelas para temperaturas acima dos 20ºC.

Existe uma clara tendência para o aumento da área de janelas abertas com o aumento da

temperatura do ar interior. A Figura 6 mostra as percentagens de aberturas para as temperaturas do

ar interior.

17

Figura 6 - Relação entre a temperatura exterior e a abertura de janelas [10].

O mesmo estudo elaborou uma análise dos períodos do dia em que existia maior probabilidade de

abertura das janelas. Os valores obtidos apontam para a abertura de janelas e de outros elementos

de controlo da ventilação apenas quando existem ocupantes nos edifícios e principalmente nas

alturas do dia em que a temperatura é mais baixa no exterior. Este facto é relevante para se perceber

que o valor das renovações de ar não é constante ao longo do dia, apresentando picos que

caracterizam o seu comportamento real e que interessam quantificar. Apesar do estudo ter sido

elaborado para um edifício de escritórios, as conclusões a retirar para uma habitação são as

mesmas, apesar de que os períodos de ocupação são obviamente distintos. A Figura 7 representa a

frequência com que as janelas são abertas ao longo de um dia.

Figura 7 - Relação da abertura de janelas com o período do dia e da ocupação, durante 30 dias de

trabalho no verão de 2003 [10].

Como conclusão, o estudo afirma que “a probabilidade de abertura de janelas depende

principalmente da temperatura ambiente e da altura do dia. No entanto, o perfil de utilização difere de

estação para estação. Apesar das janelas serem abertas o mesmo número de vezes no verão que no

inverno, permanecem mais tempo abertas no verão” [10]. Esta conclusão serve de base aos padrões

de funcionamento criados para as simulações analíticas. As conclusões sobre se estas condições

18

apresentam um impacte no comportamento térmico de edifícios, serão retiradas aquando da

apresentação dos resultados.

3.2.3. Ganhos solares

A radiação solar é uma das principais acções climáticas a considerar no comportamento térmico de

edifícios. Todos os edifícios, de uma forma ou de outra, estão sujeitos à influência dos raios solares e

às consequências dessa forma de transmissão de calor. É importante ter-se a noção de que em

edifícios desenhados sem qualquer preocupação especial, a energia solar contribui em cerca “20%

para o seu aquecimento, podendo esse valor aumentar para 40% caso se dedique algum tempo a

esta temática aquando da concepção do edifício” [3].

Segundo [15], Lamberts afirma que “a radiação solar é um dos mais importantes contribuintes para os

ganhos térmicos em edificações, além de ser a principal fonte de luz natural”. Estes ganhos são muito

benéficos no inverno para o aquecimento, mas durante o “verão devem ser limitados por palas ou

sombreamentos sobre a janela de modo a evitar sobreaquecimentos” [3].

A superfície de fachada apresenta zonas opacas, onde ocorre absorção e reflexão da radiação, e

zonas translúcidas, como os envidraçados, em que ocorre transmissão da radiação. A radiação

transmitida através dos vidros é responsável pela maior parte dos ganhos obtidos por radiação.

Desde logo se percebe a importância de se controlar a radiação que atinge os envidraçados, por

intermédio de protecções opacas.

O comportamento dos vidros é particularmente interessante no que diz respeito à radiação solar. A

radiação de onda curta atravessa facilmente o vidro fornecendo energia aos elementos existentes no

espaço. Esses elementos absorvem e acumulam uma grande parte dessa energia. Por outro lado, a

radiação que é reflectida apresenta comprimentos de onda longa que não é transmitida pela

envolvente do edifício. Este tipo de efeito é muito útil nas estações frias visto permitir armazenar

calor.

Num estudo citado em [5] foi realizada uma simulação computacional para um edifício de escritórios

na cidade de São Paulo e concluiu-se que o efeito do sombreamento externo é mais eficaz na

redução dos ganhos térmicos internos do que o tipo de vidro. Neste estudo, independente do tipo de

vidro, a presença de uma protecção exterior opaca reduz cerca de 25% do ganho térmico interno

para a mesma proporção janela/parede. Apesar dos mecanismos de sombreamento internos serem

de manuseamento mais fácil, em virtude da sua acessibilidade, são cerca de 30% menos eficientes

do que os mecanismos externos, visto que os primeiros estão localizados no interior do edifício e a

reflexão da luminosidade nunca é conseguida a 100%. Em mecanismos externos a energia é

dissipada pela ventilação exterior, constituindo portanto um sistema mais eficiente [3].

Muito do aproveitamento da radiação passa pela atitude dos ocupantes que regulam a entrada de

radiação na habitação, controlando a activação ou ocultação das protecções solares. Os elementos

mais sensíveis à radiação são os envidraçados devido à sua “elevada transmissão da radiação e

fraca resistência térmica” [7]. Os restantes elementos, opacos, restringem a passagem de energia

sobre a forma de radiação, permitindo apenas a absorção da radiação e não a sua transmissão. A

posição das protecções exteriores tem máxima importância nos ganhos térmicos por radiação solar,

19

podendo passar de 100% de aproveitamento a 0% consoante a sensação de conforto do controlador

das protecções. Palas exteriores ajustáveis e elementos verticais, como estores, portadas ou toldos

ou então sombreamentos interiores, como cortinas e cortinados, são os elementos à disposição dos

utilizadores para o controlo dos ganhos por radiação solar.

Da análise de resultados elaborados no estudo [11] é possível concluir que em divisões em que os

ocupantes fecham mais frequentemente as janelas existiam ganhos solares médios de 106 Wh/m²,

enquanto nos casos em que raramente eram fechadas existiram ganhos médios de 210 Wh/m².

Desde logo se observa a influência dos comportamentos dos utilizadores nos ganhos por radiação

num fogo. Estes valores apresentam uma grande variação ao longo dos vários dias, tendo o mesmo

estudo detectado desvios padrão de “43% nos ganhos solares em relação à média” [11].

Como conclusão, a regulação das protecções permite controlar a radiação solar, dando um contributo

importante para a climatização do edifício. No entanto, as técnicas naturais de aquecimento devem

ter em conta o seu comportamento durante o verão e estabelecer mecanismos de sombreamento e

ventilação para evitar excessivos aquecimentos. Nas simulações realizadas, na análise analítica, o

comportamento dos utilizadores incide no controlo da temperatura interior, com a activação ou

oclusão das protecções, e ainda num controlo baseado na ocupação, em que as protecções

apresentam uma função de protecção contra intrusões.

4. Apresentação do programa

Todos os objectivos deste trabalho e os pressupostos que se procura avaliar e comprovar necessitam

de inúmeros cálculos. O cálculo da carga térmica de edifícios e das trocas de calor pressupõe a

contabilização de todos os ganhos e perdas para as situações que se procura avaliar. Os programas

de cálculo automático possibilitam estes cálculos, que seriam impossíveis de resolver manualmente.

O programa a utilizar neste trabalho, EnergyPlus, é um programa modular que permite avaliar a

temperatura interior ao longo dos vários passos de cálculo, bem como calcular todas as necessidades

energéticas ao longo de um determinado período. Utilizando esta ferramenta, serão definidas

condições iniciais paramétricas, para as quais será realizada uma simulação (simulação Base), sendo

a posteriori alteradas individualmente as condições que se pretende estudar, criando modelos para

essas situações. Desde já percebe-se que seria impossível a realização manual de todos os cálculos,

até porque muitas das condições são definidas hora a hora e dependem de vários factores

probabilísticos.

O EnergyPlus é uma ferramenta informática de análise dinâmica dos fenómenos de transmissão de

calor produzido pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos da América, e que resulta da

união de dois outros programas, o Blast e o DOE-2. O programa permite ainda a integração de outras

ferramentas para cálculos mais específicos, como o programa Comis. Com o conhecimento das

condições climatéricas exteriores, são calculadas as cargas térmicas a partir do balanço térmico dos

elementos constituintes das zonas para intervalos de tempo definidos, e alteradas as condições

interiores para o passo de cálculo seguinte. Para cada intervalo de tempo o EnergyPlus utiliza essas

condições interiores para activar os sistemas existentes na edificação e integrar ambos os resultados.

20

O que se procura ao utilizar o EnergyPlus é que o programa gere um modelo que use a informação

da envolvente do edifício, das condições interiores de funcionamento da habitação, das taxas de

utilização dos sistemas de climatização e dados climatéricos produzindo simulações horárias para

estimar a temperatura interior e consumos energéticos dos sistemas de climatização. A Figura 8

resume a forma como o programa funciona.

Figura 8 - Modelo de funcionamento do programa [12]

A validação do EnergyPlus foi já realizada através de testes padrões (BESTEST), que são utilizados

para verificar possíveis erros do programa, analisando se o modelo computacional representa as

condições reais da edificação. O método BESTEST (Building Energy Simulation Test) foi criado pela

International Energy Agency e foi adoptado pela ASHRAE como “norma para teste e avaliação de

programas computacionais para análise energética de edificações”, com o nome de ASHRAE

Standard 140 (ASHRAE, 2001). É frequentemente utilizado como procedimento de testes e validação,

pois possui resultados de simulações de outros programas de simulação térmica de edifícios,

possibilitando a comparação entre os modelos.

O Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL, 2004), utilizando o referido método ANSI/ASHRAE

Standard 140, realizou a simulação de 18 edifícios, variando a inércia térmica, posição de janelas,

protecções solares e ainda vários sistemas de climatização, obtendo o EnergyPlus resultados com

variações inferiores a 1% em grande parte das simulações. Também já vários utilizadores, como por

exemplo “Grings, (2003), ao analisar a potencialidade e as limitações do programa, observou que a

diferença entre a carga térmica medida e a simulada apresenta-se dentro do intervalo de incerteza

previsto” [15].

Tendo já sido o programa testado na simulação do comportamento térmico de edifícios o objectivo é,

tendo por base um modelo com características semelhantes às utilizadas pelo regulamento nacional,

introduzir um edifício de características físicas fixas e simular parâmetros que se consideram

relevantes no comportamento térmico de edifícios e analisar a influência dos utilizadores nas trocas

de calor do mesmo edifício.

21

22

4.1. Valores de entrada para o EnergyPlus

Antes de se iniciar a introdução dos dados concretos da zona em estudo, existe uma série de

informações a introduzir no programa, que ajudam a compreender o funcionamento do programa em

vários aspectos mais técnicos e não relacionados com o tema.

4.1.1. Parâmetros de simulação

A versão utilizada do programa é a 1.2.0. Apesar de não ser a versão mais recente permite

perfeitamente cumprir os objectivos a que o trabalho se propõe.

No que diz respeito mais concretamente à zona em estudo, o edifício que será caracterizado é

denominado de edifício “estudo” e tem uma orientação de -45º em relação ao eixo do Norte. Para os

vários cálculos a serem elaborados, definiu-se como período mínimo de repetição, time step in hour,

uma hora de intervalo. As alterações nas condições de funcionamento de edifícios podem ser

efectuadas a qualquer momento, pelo que para a avaliação dos parâmetros em estudo este período

deveria ser o mínimo possível, neste caso uma hora. As características seguintes explicam a forma

como o programa avalia as condicionantes exteriores que provocam impacte sobre o edifício.

4.1.2. Cálculo das trocas de energia

O programa permite várias formas de abordar e calcular as cargas térmicas transmitidas por

radiação, convecção e condução.

No que diz respeito à radiação, o modelo utilizado para avaliar a radiação solar será tratado nas

simulações como “Full Exterior”. Esta opção tem em consideração todas as saliências, palas e

relevos das portas e janelas sobre a superfície exterior, no cálculo da respectiva área de exposição à

radiação directa. No que diz respeito à radiação que atinge o interior, o programa considera

simplificadamente que toda a radiação incide exclusivamente sobre o pavimento, sendo absorvida

consoante o coeficiente de absorção respectivo. Toda a radiação reflectida é adicionada à radiação

difusa, que se considera uniformemente distribuída por todas as superfícies interiores. Os ganhos

solares são calculados partindo dos valores da radiação incidente nas janelas, definidos nos dados

climáticos, tendo em consideração a orientação das mesmas, sombreamento de elementos

envolventes e ainda a posição das protecções solares.

Apesar do programa possuir informação sobre o posicionamento solar ao longo se todo o ano,

considera-se que essa posição não apresenta grandes alterações ao longo dos dias. Neste sentido,

com o objectivo de acelerar os cálculos, define-se como período de cálculo do sombreamento 20

dias, pois é o número médio de dias em se pode considerar que existem alterações significativas

nesta posição.

Para o modelo de cálculo da convecção interior e exterior, a escolha foi o modelo detalhado,

“Detailed”. Este modelo utiliza os princípios da ventilação natural, baseados nas diferenças de

temperaturas já referidos no capítulo teórico da ventilação.

23

Para acompanhar a convecção o EnergyPlus possui um módulo, que calcula o fluxo de ar infiltrado.

Este módulo pode realizar cálculos de forma mais pormenorizada, utilizando o programa Comis, mas

apresenta também a hipótese de um cálculo simples e mesmo a hipótese de ignorar este factor. A

opção a tomar neste caso irá variar de caso para caso e será explicada adiante.

Em termos de balanço energético final, foi escolhido o modelo “CTF”, que considera apenas as

transferências de calor, ignorando transferências de massa, como a humidade.

4.1.3. Fluxo de ar

Um dos parâmetros a estudar e que exige bastante atenção no programa é a disposição de janelas e

área de aberturas para o cálculo da renovação de ar da zona. Caso se pretenda que não exista

ventilação do espaço não é necessário introduzir nenhuma informação no programa. No entanto, se a

opção tiver sido pelo modelo Simple, devem ser introduzidos valores no módulo infliltration. Se o

modelo escolhido tiver sido o Comis, devem ser caracterizadas as várias condições de funcionamento

no módulo Comis Simulation.

4.1.3.1. Infiltration

A utilização da infiltração é feita por intermédio da escolha da opção Simple. O objectivo é simplificar

o cálculo da renovação de ar, uma vez que nesta opção o programa limita-se a considerar um valor

constante de caudal de infiltração que é depois multiplicado por um coeficiente, definido no

calendário. Este coeficiente diz respeito à ventilação e procura indicar se está disponível a ventilação

e em que percentagem do volume. Sempre que nas simulações a realizar não se pretenda avaliar

verdadeiramente o parâmetro da ventilação, esta deve ser a opção escolhida, sendo o valor

introduzido sempre multiplicado por um coeficiente de valor igual a 1, de forma a manter a ventilação

constante (caso RCCTE).

4.1.3.2. Comis Simulation

Na realização deste trabalho, para uma melhor avaliação das condições reais, utiliza-se um programa

mais complexo para análise da ventilação. A utilização de um bom modelo de simulação de

ventilação é fundamental para uma correcta avaliação das transferências de calor. “Devido à sua

estrutura modular” o programa EnergyPlus utiliza o modelo de simulação Comis de modo a obter

valores reais de ventilação do edifício, determinando, para as condições definidas, valores dos

caudais de ventilação. Estes valores são utilizados pelo programa para o cálculo da transmissão de

calor entre o exterior e o interior. O Comis possibilita várias alterações das condições de

funcionamento de um edifício através da alteração da disposição das janelas e de diferentes áreas de

abertura.

O Comis resolve as equações de pressão do fluxo associadas a uma rede de aberturas e percursos

de corrente, consequência de diversas condições de fronteira exterior e interior. Existe uma

interacção com o cálculo térmico do EnergyPlus, determinando num primeiro passo os fluxos de ar,

24

que são depois utilizados pelo EnergyPlus para realizar o balanço térmico e pelo HVAC para

determinar a temperatura interior, nesse passo. Num segundo passo utiliza essa temperatura para

definir novas condições de fluxo e voltar a fornecer essa informação ao EnergyPlus. A determinação

da informação a fornecer ao modelo é um dos principais objectivos deste trabalho, visto que terá

impacte nos outputs do modelo, e será realizada através dos calendários definidos para a ventilação

A maioria dos modelos considera todas as aberturas isoladamente e uniformes, negligenciando a

interacção dos vários constituintes do sistema e limitando a circulação de ar a uma única condição de

fronteira. Neste sentido é de grande importância definir as disposições e áreas de abertura que

melhor traduzem as opções de utilização dos ocupantes. Apesar de não ter sido calibrado para uma

solução em particular, foi necessário realizar várias experiências com o Comis para determinar que

condições podem ser consideradas credíveis no âmbito do trabalho.

Os dados a inserir para o cálculo do modelo de ventilação dizem respeito aos parâmetros de

funcionamento da simulação, mas também às características da zona, das superfícies e das

aberturas. O modelo definido pode ser caracterizado por uma zona com cinco janelas que são

reguladas pelas condições existentes na área em que se encontram, ZoneLevel.

As condições para abertura de janelas são controladas por dois tipos de metodologias distintas, mas

que podem ser utilizadas em simultâneo. A necessidade da zona ser ventilada ou não pode ser

controlada pela temperatura ou por um calendário que define aberturas constantes para

determinadas horas do dia. As opções são então, resumidamente, abertura constante controlada pelo

horário, abertura variável controlada pela temperatura e ainda abertura controlada pela temperatura e

pelo calendário.

A zona em estudo apresenta cinco superfícies largas e verticais (LVO), que formam janelas, com as

características definidas na planta de arquitectura. Definido o controlo, é necessário definir as

dimensões das aberturas que o programa pode utilizar. O primeiro valor a introduzir é o factor de

abertura referente a cada janela e que será diferente de caso para caso. Este factor de abertura é

utilizado para interpolar entre as possibilidades de aberturas (largura e altura) definidas para cada

janela – Tabela 3.

O programa exige o mínimo de duas possibilidades de abertura para permitir a interpolação entre

esses valores por multiplicação dos vários factores de abertura. Para facilitar, as duas possibilidades

de abertura introduzidas dizem respeito à situação em que a janela está aberta ou fechada, pois

assim, basta multiplicar o factor de abertura pelas dimensões para obter as dimensões da abertura. A

Tabela 3 indica os valores para as duas possibilidades de abertura.

Tabela 3 - Aberturas possíveis

Possibilidades de abertura

Coeficiente de descarga Factor de largura Factor de altura

Abertura #1 0.6 0 0

Abertura #2 0.6 1 1

25

Caso o tipo de controlo utilizado seja a temperatura, existe ainda um outro factor, aqui designado por

modulador de temperatura, que irá multiplicar o factor de abertura anterior e é caracterizado pela

função representada na Figura 9.

Figura 9 - Função que controla a abertura de janelas controladas pela temperatura

Os factores multiplicativos utilizados na situação de controlo por parte da temperatura têm como

objectivo controlar a área de abertura para grandes gradientes de temperatura entre o interior e o

exterior, uma vez que essa situação conduz a grandes caudais de infiltração indesejados. A Tabela 4

indica os valores utilizados para modelar a abertura para as diferenças de temperatura.

Tabela 4 - Factores modeladores da temperatura

Eixo Modelação de abertura Coeficientes

Valor a multiplicar pelo factor de abertura

Multiplicador máximo do factor de abertura

1.00

Multiplicador mínimo do factor de abertura

0.20

Diferenças de temperaturas que limitam

os multiplicadores

Menor valor da diferença de temperatura

2.00

Maior valor da diferença de temperatura

6.00

As dimensões geométricas das janelas são inseridas no campo que caracteriza as superficies

térmicas, mas por terem bastante relevância neste capítulo convém resumir as dimensões. A altura

das janelas na realidade é de cerca 2.2 metros, mas devido à existência de protecções em 70% da

área da janela, segundo as definições do RCCTE, a altura das janelas foi alterada para facilitar a

introdução dos dados. As dimensões, apesar de tudo, (Tabela 5) apresentam pouca importância, pois

o relevante é controlar a área efectiva de abertura. A Figura 10 ilustra a forma como é possivel

representar as aberturas no programa Comis.

Tabela 5 - Dimensões das janelas

Dimensões das janelas Altura [m] Largura [m]

Janela tipo 1 1.54 1.38

26

Figura 10 - Características das janelas a introduzir no programa

A Figura 11 resume os três valores necessários para controlar a área de abertura.

Figura 11 - Factores multiplicativos da área de abertura

Apesar da possibilidade de abertura de janelas, existem situações em que as mesmas se encontrarão

encerradas. Para essa condição o programa utiliza um método de análise diferente e que pode ser

definido pela equação de fluxo para fendas. A existência de fluxo é consequência da permeabilidade

do caixilho. Os valores obtidos apresentam pouco significado, por essa razão foram introduzidas

características genéricas de um caixilho de alumínio. A equação utilizada é a seguinte.

𝑄 = (𝐹𝑎𝑐𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑓𝑒𝑛𝑑𝑎) × 𝐶𝑄(∆𝑃)𝑛 - Equação de fluxo para fendas

Onde Q = massa do fluxo de ar (Kg/s) CQ = coeficiente da massa do fluxo de ar (Kg/s @1Pa) ΔP= diferença de pressão através da fenda (Pa) n= expoente do fluxo de ar

•Valor fixo para cada janelaFactor de abertura

• Igual a 1 se ΔT< 2ºC

• Igual a 0.2 se ΔT> 6ºC

•Varia linearmente entre os dois valoresFactor modelador da

temperatura

•Nada aberto #1

•Tudo aberto #2Aberturas

27

4.1.4. Elementos de construção da envolvente

A estrutura do EnergyPlus é modular, em que todos os campos devem ser preenchidos do pormenor

para o geral. Este grupo de elementos diz respeito às propriedades físicas dos elementos

construtivos da envolvente e do interior do edifício. Inicialmente começa-se por definir os materiais

para depois se utilizar esses parâmetros na definição dos elementos construtivos. As propriedades

que o programa necessita são a espessura, a condutividade, a densidade e o calor específico. Os

materiais utilizados e suas características são os típicos para elementos de construção em Portugal e

vão desde o tijolo furado e o betão para elementos estruturais, reboco, estuque e ladrilhos cerâmicos

para revestimentos, até ao poliestireno extrudido para isolamento térmico. Na definição dos materiais

(Figura 12) interessa não só definir as propriedades dos mesmos, mas também ser exacto no nome

que se atribui para facilitar a sua escolha nos campos seguintes.

Figura 12 - Propriedades dos materiais utilizados

Da mesma forma que se indica os materiais opacos, também é necessário realizar o mesmo

procedimento para os elementos que constituem os envidraçados, vidro e gás da caixa-de-ar.

Conhecendo os materiais pode passar-se para o campo Construction (Figura 13), onde se compõem

os elementos de construção utilizando os materiais já definidos.

Figura 13 - Constituição dos elementos construtivos

Novamente deve ser referido que os nomes com que se identificam os elementos de construção

serão utilizados na caracterização da geometria da superfície das zonas em estudo. A imagem

anterior resume os materiais utilizados, para a constituição do edifício, nos diferentes tipos de

elementos construtivos utilizados.

28

4.1.5. Descrição e caracterização das zonas e superfícies térmicas

Antes de se iniciar a introdução destes dados é fundamental tirar algumas conclusões em relação às

características do edifício. Dada a tipologia do edifício em estudo optou-se por estudar um piso

intermédio constituído por dois fogos, um T2 e um T3, ligados por uma zona comum onde existem os

caminhos de circulação vertical, escadas e elevadores. Dada esta constituição, desde logo se

distinguem três zonas distintas, duas correspondentes aos fogos e uma para a zona comum. Apenas

existe o objectivo de estudar as transmissões de calor nas habitações, mas devido ao facto de não

existirem preocupações em termos de aquecimento com a zona de circulação, é necessária a criação

de mais uma zona, à qual se atribui a designação de local interior não aquecido.

Definidas as zonas, com as suas coordenadas, volume e pé direito, o passo seguinte é caracterizar

as superfícies que delimitam os respectivos locais. Este campo necessita de todas as coordenadas

geométricas, bem como o tipo de elemento construtivo utilizado, que já foi definido anteriormente. O

processo implica a indicação dos quatro vértices do paramento, a tipologia de construção e as

condições externas a que se encontra sujeito.

Este grupo de dados diz respeito não só aos elementos opacos, mas também a envidraçados,

elementos de sombreamento fixo e ainda às protecções solares. O grande volume de dados não

possibilita a apresentação. No entanto, todas as dimensões são exactas e retiradas das plantas de

arquitectura do edifício a estudar. A Figura 14 seguinte ilustra uma imagem 3D do modelo criado para

as simulações.

Figura 14 - Imagem 3D das zonas caracterizadas no programa

4.1.6. Localização e clima

Antes de se iniciar a caracterização do local é preciso definir o período de simulação para que o

programa saiba que dados climáticos são necessários. Procura-se neste trabalho avaliar a altura do

ano em que os parâmetros em estudo apresentam maior impacte. A avaliação varia consoante a

simulação, pelo que os períodos serão definidos mais adiante.

A localização escolhida é a cidade de Lisboa com as coordenadas 38ºN de latitude e 9ºW de

longitude, localização que é caracterizada em termos de clima, pelo ficheiro climático do INETI para a

região de Lisboa. Para todas as simulações é necessário introduzir o respectivo ficheiro climático, que

foi retirado da base de dados do EnergyPlus e possui toda a informação necessária às simulações,

29

nomeadamente a posição do sol, radiação solar incidente, temperatura exterior, entre muitos outros

dados.

4.1.7. Calendários

Este grupo de objectos é de importância transversal a todo o programa. As informações inseridas

neste campo irão regular todos os dispositivos controlados pelos utilizadores, segundo os objectivos

que se pretende na realização deste trabalho. Os calendários definem valores horários a utilizar em

qualquer altura do ano e que são utilizados em cada passo de cálculo. É necessário criar um

calendário individual para cada dispositivo que se pretende controlar, para o qual é possível atribuir

valores que activem ou interrompam o seu funcionamento. A introdução desses valores é feita hora a

hora para o calendário diário, sendo depois indicada para cada dia da semana o calendário diário

definido, repetindo-se o processo para os meses em que se realizam as simulações.

É neste ponto que se atende à especificidade das condições reais de funcionamento do edifício.

Utilizando como base os conceitos revistos anteriormente e os objectivos do trabalho, foram criados

os calendários suficientes para controlar todos os parâmetros que se procura estudar. Os calendários

podem corresponder a todo o tipo de dados, desde valores de temperatura, a números contínuos e

mesmo valores indicativos do tipo de controlo.

4.1.8. Ganhos internos

Existem três origens de calor produzido internamente a considerar no programa: as pessoas, a

iluminação e os equipamentos eléctricos. Uma avaliação completa pressupõe a introdução da

informação sobre estes três intervenientes. Para uma avaliação mais simplificada é possível introduzir

apenas um ganho ao nível da iluminação regulado por um calendário de actividade, conjugando todos

os outros intervenientes.

No que diz respeito a equipamentos e iluminação, é necessário definir um nível de actividade que

indica, em Watt, a produção de calor e que é posteriormente multiplicado pelo valor introduzido no

calendário, definido para a utilização do respectivo equipamento. Para os ganhos produzidos pelas

pessoas, as diferenças residem na necessidade de definir um número de pessoas por fogo, que é

conjugado com um calendário que corrige esse mesmo número hora a hora. Também o nível de

actividade é, neste caso, definido por um calendário, que irá depender da actividade tipo de uma

família em cada período do dia.

Todas as simulações realizadas utilizaram apenas o campo dos ganhos com iluminação pois é o

suficiente para representar os ganhos internos da forma que se pretende. A introdução dos dados

neste campo é bastante simples, sendo apenas necessário um valor de ganhos médios por hora para

a totalidade da área da zona, em Watts, e o respectivo horário de funcionamento. O horário permite

que os ganhos sejam constantes ao longo das várias horas do dia, se tomar o valor de 1, mas

também que variem desde zero até qualquer valor que se pretenda, bastando introduzir um

coeficiente de multiplicação no calendário.

Para as várias simulações serão fornecidos valores médios para os ganhos (5,6 e 7W/m2) e os

valores que se pretendem para cada período do dia. O valor do coeficiente de determinada hora, para

30

o calendário diário, é obtido dividindo o valor que se observa na respectiva hora pelo valor médio da

simulação.

4.1.9. Mecanismos de climatização

4.1.9.1. Funcionamento

O principal objectivo da utilização destes mecanismos prende-se com a quantificação da energia útil

necessária à promoção das condições de conforto térmico, aqui traduzidas simplificadamente por

dois valores limite de temperatura do ar, um para o Inverno (20ºC), que não deve ser excedido

inferiormente; o outro para o Verão (25ºC), que não deve ser excedido superiormente.

Para atingir estes objectivos o programa permite definir para cada zona um termóstato de controlo de

temperatura da zona. Este termóstato mede a temperatura que se verifica na zona, em cada hora, e

determina se deve ou não fornecer ar frio ou quente para igualar a temperatura interior ao valor de

conforto.

O termóstato possui 4 tipos de controlo, sendo que só dois foram utilizados, o Single Heating Setpoint

(1) e Single Cooling Setpoint (2), controlo de aquecimento e de arrefecimento, respectivamente. Para

que não exista aquecimento no verão e arrefecimento no inverno, situação que não se pretende, foi

definido um calendário que controla o termóstato, e que com o valor 1, de [1 de Outubro a 31 de

Maio] permite apenas aquecimento, e com o valor 2, de [1 de Junho a 30 de Setembro] apenas

permite arrefecimento. Quando não se pretende o funcionamento do aparelho o valor a definir é o

zero (0).

Os dois tipos de controlo referidos anteriormente são controlados por um calendário com valores de

temperatura iguais para todas as horas do dia. Os valores das temperaturas são 20ºC para o Single

Heating Setpoint e 25ºC para o Single Cooling Setpoint.

Como conclusão, na estação de arrefecimento, o aparelho apenas funciona para arrefecer e sempre

que a temperatura é superior a 25ºC e na estação de aquecimento funciona para aquecer a zona

quando a temperatura baixa os 20ºC.

4.1.9.2. Resultados energéticos

Existem vários resultados fornecidos pelo programa para o funcionamento do aparelho, no entanto,

para uma avaliação do consumo energético, o Output que interessa obter é denominado de HVA

Average Purchased Air Total Cooling Rate. Este resultado traduz, em Watts, a energia útil a fornecer

ao ambiente para atingir a temperatura que se pretende, sendo então possível, sabendo

características de uma máquina, determinar energia a total e consumo efectivo. Para os dois tipos de

necessidade serão utilizadas duas máquinas distintas, cujas características se encontram na Tabela

6.

31

Tabela 6 - Parâmetros característicos dos aparelhos de climatização

Parâmetro Unidades

Aquecimento Arrefecimento

Gás Natural Caldeira

Electricidade Bomba de calor

Custo unitário Cu € 0.54/m3 0.0965/kW

Rendimento η - 0.9 3

Poder calorífico inferior PCI KWh/m3 10.53 -

Os cálculos realizados para obter consumos e custos com a utilização dos aparelhos basearam-se na expressão seguinte.

Despesa =E

PCI × η× Cu

onde E= energia útil consumida PCI = Poder calorífico inferior η = Rendimento Cu = Custo unitário

32

5. Simulações

De seguida irão ser expostas as simulações dos três aspectos do comportamento real de edifícios

que se pretende estudar: ganhos internos, ventilação natural e ganhos solares. No estudo da

influência de cada parâmetro, os restantes dois são inseridos no programa com os valores fornecidos

pelo regulamento nacional, de forma a facilitar comparações entre resultados. Antes de se iniciar a

quantificação pormenorizada dos aspectos em estudo, tornou-se necessário a criação de um modelo

Base. A simulação Base serve de modelo para todos os parâmetros introduzidos e que não são caso

de estudo em determinada simulação. Estes valores são retirados do Regulamento nacional, RCCTE,

e procuram uniformizar as simulações, permitindo comparações entre elas sem a influência da

variação de outros parâmetros. Este modelo varia ligeiramente do verão para o inverno, no sentido de

se ajustar às condições definidas pelo RCCTE.

Para todos os parâmetros em estudo o objectivo é avaliar as variações ao nível da temperatura do ar

interior e dos consumos energéticos com a climatização. No caso da temperatura o propósito é

comparar a variação das temperaturas do ar interior entre: uma simulação sem o parâmetro de

estudo, uma simulação Base, com os valores do RCCTE e várias simulações com diferentes padrões

de utilização de cada parâmetro.

O cálculo das temperaturas é realizado num regime de funcionamento sem climatização, enquanto a

avaliação do consumo energético é feita com base num funcionamento horário do sistema de

climatização. O sistema encontra-se programado para funcionar sempre que a temperatura seja

inferior ou superior à temperatura de conforto, consoante se trate da estação de aquecimento ou

arrefecimento, respectivamente. Apesar de não se tratar de um funcionamento inteligente, por

funcionar em horas em que em algumas simulações não existe ocupação, este é o funcionamento

que melhor permite comparações entre necessidades de climatização. O fornecimento de energia é

realizado por um aparelho comum de climatização, sendo o resultado fornecido pelo programa a

energia útil consumida pelo respectivo aparelho, em Watt.

Todos os restantes modelos serão caracterizados nos respectivos capítulos antes da apresentação

dos resultados e respectivas observações.

33

5.1. Modelo Base

O modelo construído apresenta três zonas distintas, dois fogos e uma zona de circulação. O estudo

incide unicamente sobre um dos fogos, T2, apresentando as outras duas zonas condições realistas

para o seu uso. O outro fogo, o T3, é caracterizado pelos mesmos valores que o T2, enquanto a zona

de circulação está nas condições indicadas pelo RCCTE para este tipo de zona. Primeiramente é

necessário procurar todos os valores base que caracterizam o edifício em estudo. Devido à dispersão

dos dados no regulamento, a Tabela 7 resume as características gerais da zona a estudar.

Tabela 7 - Valores base definidos pelo RCCTE

Características do edifício

Tipo de edifício: Residencial

Localização: Lisboa Classe de exposição das fachadas

Exposição 1 Altura: 7 metros

Zonas climáticas: Inverno I1

Duração das estações Aquecimento 5,3 meses

Verão V2 Arrefecimento 4 meses

Definidas as zonas a caracterizar, é fundamental definir os períodos de corrida das simulações –

Tabela 8. No caso do estudo da temperatura interior, pretende-se avaliar o impacte dos parâmetros

nas situações em que a temperatura se afasta mais da temperatura de conforto. O período de

simulação corresponde às duas semanas em que a temperatura exterior é mais elevada, afastando-

se mais da de conforto. A avaliação do consumo energético tem o objectivo mais geral de analisar a

influência dos parâmetros em todo o período de aquecimento ou arrefecimento. Por esta razão, o

período de simulação apresenta a duração da respectiva estação, definida pelo RCCTE.

Tabela 8 - Datas das simulações

Períodos de simulação Parâmetro a avaliar

Temperatura Consumo energético

Estação

Estação de aquecimento

2 Semanas [1Janeiro; 15 Janeiro]

5 Meses [1Novembro; 31 Março]

Estação de arrefecimento

2 Semanas [15Julho; 1Agosto]

4 Meses [1Junho; 30setembro]

De notar que, nem para todos os parâmetros a estudar tem interesse simular todos estes períodos.

Na caracterização das simulações será alvo de análise o período de interesse das respectivas

simulações. Conhecendo estas características genéricas, é possível definir os valores base dos

parâmetros que se pretende estudar.

34

5.1.1. Ganhos internos

No que diz respeito aos ganhos internos o regulamento inclui todas as “fontes de calor situadas no

interior do espaço a aquecer, excluindo o sistema de aquecimento, nomeadamente o metabolismo

dos ocupantes, equipamentos e dispositivos de iluminação” [3]. Segundo o Quadro IV.3 do RCCTE,

os “Ganhos térmicos internos médios por unidade de área útil de pavimento”, para um edifício

“Residencial” apresentam um valor de 4W/m2.

5.1.2. Ventilação natural - Renovação do ar

Em relação à ventilação, o ponto 3 do ANEXO IV do RCCTE apresenta a metodologia de cálculo para

os valores convencionais das renovações por hora para edifícios de habitação. Devido ao

desconhecimento em relação ao projecto de ventilação, é obrigatório o cálculo deste valor

considerando que o edifício não se encontra conforme com a norma NP 1037-1, o que remete para o

Quadro IV.1 e respectivas notas. A classe de exposição foi já definida como Exp.1, as caixilharias

consideradas são de classe 2 e existe caixa de estore, razões pelas quais, segundo o respectivo

quadro, o valor das renovações de ar é de 0.8 h-1

. Este valor indicativo é no entanto agravado 0.2,

passando a ser de 1 renovação/hora, consequência da área de envidraçados ser superior a 15% da

área útil de pavimento e devido à simplificação de cálculos sobre os dispositivos de admissão de ar

nas fachadas.

5.1.3. Ganhos solares

As protecções solares são tratadas de forma diferente pelo RCCTE nas diferentes estações. Devido à

maior complexidade dos ganhos solares, foi necessário criar dois ficheiros diferentes. A informação a

introduzir no programa diz respeito à existência ou não de protecções solar em cada janela e o factor

solar da respectiva protecção.

O RCCTE indica que, na estação de aquecimento, “no cálculo do factor solar de vãos envidraçados,

deve ser considerada a existência de pelo menos, cortinas interiores muito transparentes de cor

clara” em toda a área do vidro. Já em relação ao verão o “factor solar do envidraçado deve ser

tomado com dispositivos de sombreamento móveis activos a 70%” ficando os restantes 30%

expostos directamente à radiação solar. A diferente área de exposição no verão implicou a criação de

duas janelas distintas, uma com área de 70% do envidraçado total e que apresenta uma protecção

totalmente activa e outra com 30% da área e sem nenhum tipo de protecção. Por observação do

Quadro V.4 do regulamento, durante o verão o factor solar com protecção activa a 100% e vidro

incolor corrente deve ter um valor de 0.07, enquanto no inverno de 0.7. A outra diferença reside no

facto da protecção no inverno ser interior e no verão exterior.

Mantendo as características do vidro iguais durante todo o ano o programa permite a activação ou

desactivação de protecções solares. Estas protecções devem ter valores que em conjunto com o

vidro correspondam ao valor do coeficiente de transmissão determinado no RCCTE. Os valores

utilizados foram iguais para todas as simulações e são o mais próximo possível dos valores tipo

35

indicados no regulamento. A Tabela 9 resume os valores indicados pelo RCCTE, para os

envidraçados, e os valores definidos nas simulações.

Tabela 9 - Tipos de protecções solares e respectivos factores solares

Protecções Solares Tipo de

envidraçado

Factor solar do

envidraçado Tipo de protecção

Factor solar da

protecção

Factor Solar global

Inverno

RCCTE Vidro incolor simples 6mm

0.85 Interior

Cortinas muito finas

0.70 0.70

Simulações Duplo 4mm

+4mm 0.78

Interior Baixa reflexão e

alta absorção 0.70 0.73

Verão

RCCTE Vidro incolor simples 6mm

0.85 Exterior

Persiana, réguas metálicas

0.07 0.07

Simulações Duplo 4mm

+4mm 0.78

Exterior Alta reflexão e baixa absorção

0.10 0.10

Conhecendo as características definidas pelo regulamento e determinados os valores para o fogo em

estudo, T2, a Tabela 10 seguinte resume os valores fundamentais a introduzir no programa.

Tabela 10 - Valores dos parâmetros em estudo

Zona 1

Fogo em estudo: T2

A=95.35 m2 V=266.98m3

Valor unitário Valor Global

Ganhos Internos 4 [W/m2] 381.4 [W]

Renovações horárias 1 h-1 266.98m3

Factor Solar do envidraçado Inverno = 0.73 Verão = 0.1

5.1.4. Características geométricas

A Figura 15 representa a planta do piso e o alçado principal do edifício em estudo. Sem entrar em

grande pormenor, estes desenhos são suficientes para ilustrar o tipo de edifício. O piso representado

é genérico e corresponde a um nível intermédio localizado entre dois pisos aquecidos.

36

Figura 15 – Alçado principal e planta de arquitectura do edifício em estudo

Para facilitar a visualização das características físicas da zona em estudo é apresentada a Figura 16,

onde é visível a tracejado o fogo estudado e os envidraçados da respectiva zona.

Figura 16 - Planta com os vértices utilizados para a introdução de dados no programa e respectivo alçado

37

5.2. Ganhos internos

A avaliação da importância dos ganhos internos no desempenho térmico e energético de um edifício

será realizada a partir de dois parâmetros fundamentais: a temperatura do ar interior em

funcionamento livre e o consumo de energia para obter as condições de conforto impostas pelo

RCCTE.

Após uma série de simulações iniciais, verificou-se que existem duas comparações que melhor

permitem abordar esta temática. Por um lado, é importante verificar a diferença entre as situações

com e sem ganhos internos do fogo; por outro lado, interessa também comparar a diferença entre o

caso do fogo com ganhos internos médios e constantes ao longo do dia, com o valor definido pelo

RCCTE, e o caso em que os ganhos internos são mais próximos dos reais em termos quer de valor

absoluto quer de período de funcionamento. Os períodos adoptados para o estudo térmico

correspondem a duas semanas tipo da estação de aquecimento e arrefecimento, já definidas no início

do capítulo. No que respeita ao estudo energético, o período de estudo será o correspondente à

duração das estações climáticas.

Devido à grande variabilidade que pode existir em termos da ocupação de um fogo, não é possível

definir com toda a clareza um valor de ganhos fixos. Este facto será evidenciado nos resultados

apresentados adiante. Deste modo, será simulado um conjunto de casos respeitantes a diferentes

regimes de ocupação credíveis, e efectuada a sua comparação com a simulação Base que utiliza o

valor de ganhos definido pelo RCCTE, correspondente a uma ocupação média permanente. As

simulações que levam em conta o regime de ocupação são realizadas para horários fixos, mas

variando os valores dos ganhos. Neste ponto será considerado um aumento gradual de 1W/m2, entre

o valor base do regulamento (4W/m2) e o valor máximo de 7W/m

2, de forma a melhor poder avaliar o

impacte de um nível crescente de ganhos internos. De notar que além do aumento do valor médio

dos ganhos, em relação ao RCCTE, os ganhos deixam de ser considerados constantes e passam a

apresentar valores variados consoante a ocupação tipo de determinado período.

Os casos em estudo serão denominados: 1.Simulação sem ganhos, 2.Simulação Base e

3.Simulações Reais. Na situação sem ganhos internos, as simulações são realizadas com um valor

nulo correspondente a este parâmetro (Tabela 11); na simulação Base, o valor dos ganhos é o

definido pelo RCCTE e é sempre o mesmo ao longo do tempo (Tabela 12); relativamente às

simulações Reais, os valores dos ganhos e os horários de ocupação são os que se apresentam nas

Tabelas 13,14 e 15. Na Figura 17 apresenta-se um gráfico ilustrativo do valor dos ganhos internos ao

longo de um dia para as diferentes simulações.

Tabela 11 - Simulação sem ganhos internos

Simulação sem ganhos

Horário [0h às 24h]

Tipologia de Ocupação Constante

Valor 0 W/m2

38

Tabela 12 - Simulação Base

Simulação Base

Horário [0h às 24h]

Tipologia de Ocupação Constante

Valor 4W/m2

Tabela 13 – Simulação com ganhos reais baixos

Tabela 14 - Simulação com ganhos reais médios

Simulação ocupação 6 W/m2

Horário [23h às 7h] [7h às 9h] [9h às18h] [18h às 23h]

Tipologia de ocupação

Dormir W/m2 Pico manhã W/m2 Vazio W/m2 Pico Noite W/m2

Pessoas Dormir 2.65 Actividade

Leve 3.71 - 0

Actividade Média

4.55

Luzes - 0 1hora de nível

de ganhos baixos

2.50 - 0 Nível de

ganhos baixos 5.00

Equipamento - 0 1hora de

Esquentador 3.62 - 0

Frig+tv+pc +Ap. Dom.

8.10

Duração 7h 2.65 2h 9.83 9h 0 6h 17.65

Simulação ocupação 5 W/m2

Horário [23h às 7h] [7h às 9h] [9h às18h] [18h às 23h]

Tipologia de ocupação

Dormir W/m2 Pico manhã W/m2 Vazio W/m2 Pico Noite W/m2

Pessoas Dormir 2.65 Actividade

Leve 3.75 - 0 Actividade Média 4.36

Luzes - 0 1hora de nível

de ganhos baixos

2.50 - 0 Nível de ganhos

baixos 4.00

Equipamento - 0 1hora de

Esquentador 3.62 - 0 Frig+tv+pc 5.24

7h 2.65 2h 9.87 9h 0 6h 13.60

39

Tabela 15 - Simulação com ganhos reais altos

Simulação ocupação 7 W/m2

Horário [23h às 7h] [7h às 9h] [9h às18h] [18h às 23h]

Tipologia de ocupação

Dormir W/m2 Pico manhã W/m

2 Vazia W/m

2 Pico Noite W/m

2

Pessoas Dormir 2.65 Actividade

Leve 4.70 - 0.00 Actividade Alta 5.10

Luzes - 0.00 1hora de nível

de ganhos baixos

2.50 - 0.00 Nível de ganhos

médios 6.00

Equipamento - 0.00 1hora de

Esquentador +Frigorifico

5.70 - 0.00 Frig+tv+pc +Ap.

Dom. +Eq. Eléctrico

9.50

7horas 2.65 2horas 12.90 9horas 0.00 6horas 20.60

Figura 17 – Gráfico da variação dos ganhos internos ao longo do dia

5.2.1. Impacte na temperatura do ar interior

As Figuras 18 e 19 mostram a variação da temperatura do ar interior para o período de estudo já

referido, correspondente a cada uma das estações de climatização (aquecimento e arrefecimento),

para as diferentes simulações. Depois de uma análise prévia dos resultados verificou-se que a

simulação com produção de 5 W/m2 fornece resultados muito próximos dos da simulação Base, pelo

que, por razões de clareza, não foram representados graficamente.

O andamento das temperaturas do ar interior em todas as simulações acompanha muito de perto a

variação da radiação solar e da temperatura exterior (também não representada por questões de

clareza do gráfico), verificando-se que as temperaturas mais elevadas, em todos os casos e como

seria de esperar, correspondem às horas de maior calor. No entanto, é bem visível a diferença entre

os gráficos das diferentes simulações, a qual mantém-se praticamente constante ao longo dos dias, e

0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

01/0

1 0

1:00

:00

01/0

1 0

3:00

:00

01/0

1 0

5:00

:00

01/0

1 0

7:00

:00

01/0

1 0

9:00

:00

01/0

1 1

1:00

:00

01/0

1 1

3:00

:00

01/0

1 1

5:00

:00

01/0

1 1

7:00

:00

01/0

1 1

9:00

:00

01/0

1 2

1:00

:00

01/0

1 2

3:00

:00

Val

or

do

s ga

nh

os

[W/m

2 ]

Variação diária dos ganhos internos

Simulação Base

ocupação 6 W/m2

ocupação 7 W/m2

ocupação 5 W/m2

40

é devida à influência dos ganhos de ocupação interna. Esta diferença é bastante mais acentuada

entre as simulações com e sem ganhos.

Figura 18 - Diferença das temperaturas entre as várias simulações na estação de aquecimento

Figura 19 - Diferença das temperaturas entre as várias simulações na estação de arrefecimento

As Figuras 20 e 21 mostra-se um pormenor dos gráficos anteriores, para dias aleatórios de cada uma

das estações, em que se evidencia as diferenças entre a simulação Base e duas das simulações

reais que integram um valor de ganhos um pouco superior e distribuído de forma diferente no tempo.

13.0014.0015.0016.0017.0018.0019.0020.0021.0022.0023.00

01/0

1 0

1:00

:00

01/0

1 1

3:00

:00

01/0

2 0

1:00

:00

01/0

2 1

3:00

:00

01/0

3 0

1:00

:00

01/0

3 1

3:00

:00

01/0

4 0

1:00

:00

01/0

4 1

3:00

:00

01/0

5 0

1:00

:00

01/0

5 1

3:00

:00

01/0

6 0

1:00

:00

01/0

6 1

3:00

:00

01/0

7 0

1:00

:00

01/0

7 1

3:00

:00

01/0

8 0

1:00

:00

01/0

8 1

3:00

:00

01/0

9 0

1:00

:00

01/0

9 1

3:00

:00

01/1

0 0

1:00

:00

01/1

0 1

3:00

:00

01/1

1 0

1:00

:00

01/1

1 1

3:00

:00

01/1

2 0

1:00

:00

01/1

2 1

3:00

:00

01/1

3 0

1:00

:00

01/1

3 1

3:00

:00

01/1

4 0

1:00

:00

01/1

4 1

3:00

:00

01/1

5 0

1:00

:00

01/1

5 1

3:00

:00

Tem

pe

ratu

ra [º

C]

Temperaturas internas

S. sem ganhos Simulação Base ocupação 6 W/m2 ocupação 7 W/m2

23.0024.0025.0026.0027.0028.0029.0030.0031.0032.0033.00

07/1

5 0

1:0

0:0

0

07/1

5 1

6:0

0:0

0

07/1

6 0

7:0

0:0

0

07/1

6 2

2:0

0:0

0

07/1

7 1

3:0

0:0

0

07/1

8 0

4:0

0:0

0

07/1

8 1

9:00

:00

07/1

9 1

0:0

0:0

0

07/2

0 0

1:0

0:0

0

07/2

0 1

6:0

0:0

0

07/2

1 0

7:0

0:0

0

07/2

1 2

2:0

0:0

0

07/2

2 1

3:0

0:0

0

07/2

3 0

4:0

0:0

0

07/2

3 1

9:00

:00

07/2

4 1

0:0

0:0

0

07/2

5 0

1:0

0:0

0

07/2

5 1

6:0

0:0

0

07/2

6 0

7:0

0:0

0

07/2

6 2

2:00

:00

07/2

7 1

3:0

0:0

0

07/2

8 0

4:0

0:0

0

07/2

8 1

9:0

0:0

0

07/2

9 1

0:0

0:0

0

07/3

0 0

1:0

0:0

0

07/3

0 1

6:0

0:0

0

07/3

1 0

7:0

0:0

0

07/3

1 2

2:00

:00

08/0

1 1

3:0

0:0

0

Tem

per

atu

ra [º

C]

Temperaturas internas

S. sem ganhos Simulação Base ocupação 6W/m2 ocupação 7W/m2

41

Figura 20 - Valor das temperaturas, na estação de aquecimento, das simulações com ganhos internos

Figura 21 - Valor das temperaturas, na estação de arrefecimento, das simulações com ganhos internos

Uma primeira conclusão a retirar é que, apesar das distribuições no tempo dos ganhos internos entre

as simulações reais e a simulação Base serem diferentes, a forma das curvas da temperatura interior

é muito semelhante em todos os casos, diferindo apenas nos valores alcançados. Verifica-se também

que existe uma ligeira aproximação das temperaturas nas horas em que as simulações não

apresentam ocupação e um afastamento nas horas de pico. No entanto o principal aspecto a referir é

o facto de o RCCTE apresentar uma previsão de ganhos mínimos, e que uma qualquer ocupação

15.0016.0017.0018.0019.0020.0021.0022.00

Tem

pe

ratu

ra [º

C]

Temperaturas horárias

Simulação Base ocupação 6 W/m2 ocupação 7 W/m2

27.00

28.00

29.00

30.00

31.00

32.00

33.00

Tem

per

atu

ra 8

ºC]

Temperaturas horárias

Simulação Base ocupação 6W/m2 ocupação 7W/m2

42

com apenas alguns equipamentos e iluminação conduz a temperaturas superiores às da simulação

Base (RCCTE) na ordem de 1ºC.

Para melhor quantificar o impacte dos ganhos internos na temperatura do ar interior, apresentam-se

nas tabelas seguintes – Tabelas 16 e 17 – alguns indicadores para este efeito, nomeadamente

temperaturas média, máxima e mínima para cada um dos casos simulados.

Tabela 16 - Temperaturas interiores na estação de aquecimento

Temperatura

exterior S. sem ganhos S. Base

4W/m2

Ocupação 5W/m

2

Ocupação 6W/m

2

Ocupação 7W/m

2

T Média [ºC] 11.52 15.48 17.42 17.73 18.11 18.51

T Máximo [ºC]

17.30 19.21 21.16 21.43 21.81 22.24

T Mínimo [ºC] 6.50 13.56 15.45 15.84 16.26 16.70

Tabela 17 - Temperaturas interiores na estação de arrefecimento

Temperatura

exterior S. sem ganhos S. Base

4W/m2 Ocupação

5W/m2 Ocupação

6W/m2 Ocupação

7W/m2

T Média [ºC] 22.89 26.54 28.57 28.97 29.39 29.80

T Máximo [ºC]

32.70 29.10 31.37 31.77 32.08 32.39

T Mínimo [ºC] 11.40 23.92 25.87 26.24 26.68 27.12

Como é possível observar, existe um aumento óbvio das temperaturas médias com o aumento dos

ganhos, atingindo a diferença entre as simulações com e sem ganhos internos valores da ordem dos

2ºC, em qualquer uma das estações. Também entre simulações com ganhos internos as diferenças

são significativas, constituindo os ganhos definidos no RCCTE uma estimativa que pode conduzir a

diferenças de 1ºC em relação a casos de ocupação/utilização mais intensa.

Pela observação das tabelas, a situação que se afigura mais favorável do ponto de vista térmico, ou

seja, em que as temperaturas mais se aproximam do valor convencional do conforto é, no caso do

inverno, o correspondente à simulação com maior valor de ganhos internos (7W/m2). No entanto é de

esperar que este caso, que é o mais favorável no inverno, seja o mais desfavorável no verão. De

facto a Tabela 17 assim o indica, mostrando que ao nível mais elevado de ganhos internos

corresponde a gama de temperaturas interiores mais afastada do valor convencional de conforto no

verão.

Esta diferença de comportamento na vertente térmica entre o inverno e o verão pode ter um resultado

importante na vertente energética. De facto, uma análise energética global abrangendo o conjunto

das duas estações pode conduzir a resultados bastante diferentes dos que se obtêm para cada uma

das estações quando analisadas individualmente. Este assunto é objecto de análise no ponto

seguinte.

43

5.2.2. Impacte nos consumos energéticos

Uma análise em termos dos consumos energéticos (segundo o capítulo 4.1.9.2) tem a particularidade

de permitir quantificar globalmente o impacte dos ganhos internos. Devido ao facto dos ganhos

internos apresentarem benefícios numa estação e prejuízo na outra, como já foi referido, esta análise

é importante para verificar em que medida existe compensação no custo final. As tabelas e figuras

seguintes – Tabela 18, 19 e 20 e Figuras 22, 23 e 24 - apresentam os valores dos consumos para o

funcionamento da climatização sempre que a temperatura apresenta um valor que implique

aquecimento ou arrefecimento.

Tabela 18 - Consumo energético com aquecimento

Inverno S. sem ganhos S. Base 4W/m2

Ocupação 5W/m2

Ocupação 6W/m2

Ocupação 7W/m2

Soma [W] 4057655.74 2690858.72 2379259.18 2051608.89 1734925.28

Média horária [W]

1119.66 742.51 656.53 566.12 478.73

Custo final € 232.79 154.38 136.50 117.70 99.53

Figura 22 - Variação dos custos com aquecimento

Tabela 19 - Consumo energético para arrefecimento

Verão S. sem ganhos S. Base 4W/m2

Ocupação 5W/m2

Ocupação 6W/m2

Ocupação 7W/m2

Soma [W] 680826.28 1414188.15 1629394.85 1775137.75 1923808.43

Média horária [W] 232.52 482.99 556.49 606.26 657.04

Custo final € 21.90 45.49 52.41 57.10 61.88

0.00

50.00

100.00

150.00

S. sem ganhos

Simulação Base

ocupação 5W/m2

ocupação 6W/m2

ocupação 7W/m2

Co

nsu

mo

[€]

Custo Total Aquecimento

44

Figura 23 - Variação dos custos com arrefecimento

Tabela 20 – Consumo energético anual para climatização

Total S. sem ganhos S. Base 4W/m2

Ocupação 5W/m2

Ocupação 6W/m2

Ocupação 7W/m2

Custo final € 254.69 199.87 188.91 174.80 161.42

Figura 24 - Custos finais da climatização

Como seria de esperar, na estação de aquecimento, o aumento da temperatura com os ganhos

internos conduziu a uma diminuição da potência consumida pelo aparelho de climatização e

respectivo custo. Ao contrário, na estação de arrefecimento os ganhos internos conduziram a um

aumento da potência. Verifica-se pela Figura 24 que a situação de maior ocupação constitui aquela

que conduz a um valor menor de custo, o que mostra que se verificou uma maior compensação, para

esta simulação, entre as duas estações do que para as restantes simulações.

No total consumido ao longo dos dois períodos de climatização, é possível observar – Tabela 21-

que um fogo com ganhos internos poupa no mínimo 13% de energia em climatização, em relação a

0.0010.0020.0030.0040.0050.0060.0070.00

S. sem ganhos

Simulação Base

ocupação 5W/m2

ocupação 6W/m2

ocupação 7W/m2

Co

nsu

mo

[€]

Custo Total Arrefecimento

95.00

100.00

105.00

110.00

115.00

120.00

125.00

130.00

S. sem ganhos

Simulação Base

ocupação 5W/m2

ocupação 6W/m2

ocupação 7W/m2

Co

nsu

mo

[€]

Custo Total Climatização

45

um sem ocupação. O RCCTE, com o seu valor de ganhos internos, pode conduzir a gastos

energéticos cerca de 10% superiores aos que realmente se verificam em condições reais de

funcionamento.

Tabela 21 - Diminuição percentual dos custos em relação à situação mais desfavorável

S. sem ganhos S. Base

4W/m2 Ocupação

5W/m2 Ocupação 6W/m2

Ocupação 7W/m2

Percentagens 100.00% 86.63% 84.60% 80.76% 77.21%

Diminuição 0.00% 13.37% 15.40% 19.24% 22.79%

5.3. Ventilação natural

A inclusão do programa COMIS, no EnergyPlus, tornou possível análises que determinam com

precisão a performance de um vasto espectro de cenários de disposição e abertura de janelas em

termos da ventilação induzida. O programa permite avaliar não só a variação das trocas de energia e

as cargas térmicas provocadas por determinado cenário de ventilação, mas também analisar as suas

implicações ao nível do conforto térmico, condensação, qualidade do ar e luz solar.

Para uma completa análise do efeito da ventilação natural, o programa tem em consideração a área

de abertura de janelas, definida por um calendário de controlo, a pressão do vento induzida nas

fachadas e ainda as diferenças de pressão e temperatura nos dois lados das aberturas [16].

Como já foi referido, o modelo Base, que incorpora as exigências do RCCTE, considera caudais de ar

constantes ao longo do dia com um valor fixo próximo de uma renovação por hora. Neste objectivo de

avaliar a importância dos utilizadores no funcionamento dos edifícios, um dos aspectos interessantes

a analisar é o dos impactes térmicos e energéticos no fogo produzido por diferentes regimes de

ventilação e verificar a sua relação com o modelo Base. Para verificar o impacte dos utilizadores nas

condições de funcionamento de um fogo foram realizadas uma série de simulações que conjugam

diferentes cenários de disposição e abertura de janelas, tendo por base diversos horários de

funcionamento. Estas simulações procuram de alguma forma traduzir o comportamento dos

ocupantes da habitação no que diz respeito à abertura de janelas.

Para a estação de arrefecimento, altura em que existe a tendência e necessidade da abertura de

janelas, o problema da ventilação apresenta um maior número de casos interessantes de simulação.

Na estação de aquecimento, apesar de não existir por parte dos utilizadores necessidade de abertura

de janelas por razões de conforto térmico, importa também analisar o impacte da ventilação neste

período no desempenho térmico dos edifícios.

No capítulo teórico dedicado à ventilação, foram analisados os motivos que levam à abertura de

janelas por parte dos ocupantes. As simulações realizadas procuraram responder a essas exigências

tendo sido realizadas sete simulações, em que uma delas corresponde à simulação sem ventilação

ou infiltração (Tabela 22), outra diz respeito à simulação Base (Tabela 23), com a exigência do

RCCTE, e as outras cinco correspondem a soluções mais reais de aberturas de janelas.

46

Nas simulações controladas pelos ocupantes, os factores tidos em consideração são o período do dia

em que varia a ocupação e os níveis de temperatura interior e exterior. Com estes factores e pela

análise de várias simulações teste é possível afirmar que as simulações com resultados mais

interessantes são as seguintes: Ventilação constante sempre que existe ocupação (Tabela 24),

ventilação controlada pela temperatura (Tabela 26), ventilação controlada pela ocupação e pela

temperatura (Tabela 27), ventilação controlada pela não ocupação (Tabela 28), ventilação nocturna

cruzada (Tabela 25).

As tabelas seguintes indicam os parâmetros de funcionamento da ventilação para as várias

simulações.

Tabela 22 - Simulação sem ventilação

Simulação sem ventilação ou infiltração

Horário [0h às 24h]

Tipologia de Ocupação Constante

Valor 0 Rph

Tabela 23 - simulação Base (RCCTE)

Simulação Base

Horário [0h às 24h]

Tipologia de Ocupação Constante

Valor 1Rph

Tabela 24 - Ventilação ocupação nocturna

Simulação ventilação zona ocupada (nocturna)

Tipologia de ocupação

Horário Tipo de controlo

Área de abertura/janela

Janelas abertas

Ocupação Nocturna

[18h às 9h] Constante 31 cm2

3 Janelas a sul

Vazio [9h às 18h] Constante 0 cm2 Nenhuma

Tabela 25- Ventilação cruzada para ocupação nocturna

Simulação ventilação zona ocupada (nocturna)

Tipologia de ocupação

Horário Tipo de controlo

Área de abertura/janela

Janelas abertas

Ocupação Nocturna

[18h às 9h] Constante 31 cm2

1 Janela SUL + 1 Janela Norte

Vazio [9h às 18h] Constante 0 cm2 Nenhuma

47

Tabela 26 - ventilação com temperatura interior superior a 20ºC

Simulação ventilação controlo de temperatura

Tipologia de ocupação

Horário Tipo de controlo Área de

abertura/janela Janelas abertas

Constante [0h às 24h] Temperatura

da Zona 0 a 31 cm

2 3 Janelas a sul

Tabela 27 - Ventilação que conjuga ocupação com a temperatura

Simulação ventilação controlo de temperatura e zona ocupada (nocturna)

Tipologia de ocupação

Horário Tipo de controlo

Área de abertura/janela

Janelas abertas

Ocupação Nocturna

[18h às 9h] Temperatura da Zona 0 a 31 cm2 3 Janelas a sul

Vazio [9h às 18h] Constante 0 cm2 3 Janelas a sul

Tabela 28 - Ventilação em período de desocupação

Simulação ventilação zona desocupada

Tipologia de ocupação

Horário Tipo de controlo

Área de abertura/janela

Janelas abertas

Ocupação Nocturna

[18h às 9h] Constante 0 cm2 Nenhuma

Vazio [9h às 18h] Constante 31 cm2 3 Janelas a sul

Definidos estes regimes de funcionamento da ventilação, antes de analisar a evolução das

temperaturas do ar interior, convém observar os valores de renovação médios e máximos – Tabela

29 e Figura 25 - para os vários casos, de forma a eliminar situações não credíveis.

Tabela 29 - Valores dos caudais de renovação

Valores dos caudais de renovação

Regime de ventilação

S. Base Zona

ocupada Controlo de temperatura

Zona ocupada e controlo de temperatura

Zona desocupada

Cruzada zona

ocupada

Média [m3] 266.98 515.35 542.78 487.57 205.59 569.25

Valor de pico [m3]

266.98 1053.43 966.17 969.27 1068.58 2168.49

Renovações médias [h-1]

1.00 1.93 2.03 1.83 0.77 1.10

Renovações de pico [h-1]

1.00 3.95 3.62 3.63 4.00 8.12

48

Figura 25 - Valor médio das renovações

Verifica-se pela análise da tabela anterior que as renovações médias apresentam valores razoáveis

para uma situação de ventilação durante o verão, em que o objectivo é baixar a temperatura do ar

interior. As três simulações controladas pela ocupação e pela temperatura apresentam valores

médios de 2 renovações por hora, com aberturas de pequenas dimensões. Tal facto indica que o

valor definido pelo regulamento é baixo quando se tem em consideração a possibilidade de abertura

de janelas. Os valores máximos (valores de pico) que ocorreram no período de simulação, apesar de

elevados em relação às médias registadas, são bastante credíveis, não ultrapassando os valores

razoáveis para a estação de verão.

Entre os casos da ventilação cruzada e ventilação de um só lado, verifica-se que o valor médio das

renovações horárias é menor no primeiro caso, o que está de acordo com a menor área de aberturas

que também lhe corresponde. No entanto, o contrário acontece relativamente aos valores de pico, em

que na ventilação cruzada eles são bastante significativos. Daqui pode concluir-se que este tipo de

ventilação permite, com um menor volume de renovações por dia, reduzir drasticamente a

temperatura interior na altura em que se pretende, através de elevados caudais de infiltração.

Conhecidos os valores dos caudais associados às diferentes simulações, passa-se à análise do seu

impacte ao nível das temperaturas e consumos energéticos.

5.3.1. Impacte na temperatura média do ar interior no verão

Os valores obtidos para a temperatura podem ser observados na Tabela 30 e na Figura 26. A Figura

26 é particularmente importante para a comparação entre os casos com e sem ventilação.

0.00

0.50

1.00

1.50

2.00

2.50

de

ren

ova

ções

[h-1

]

Ventilação natural

Renovações médias [h-1]

49

Tabela 30 - Temperaturas interiores dos vários casos.

T [ºC] Média Máxima Mínima

Simulação sem ventilação 36.62 37.83 35.44

Simulação Base 28.57 31.37 25.87

Zona ocupada 27.11 31.50 22.08

Controlo de temperatura 27.14 31.49 22.41

Zona desocupada 33.24 35.18 29.22

Zona ocupada e controlo da temperatura 27.33 31.58 22.49

Ventilação cruzada zona ocupada 26.73 31.32 20.49

Figura 26 - Diferença de temperatura entre existência ou não de ventilação

Da observação dos resultados ressalta imediatamente a grande diferença nas temperaturas do ar

interior entre os casos com ventilação e o caso limite de ausência completa da mesma. Esta

comparação mostra a extrema importância da ventilação dos edifícios para a melhoria das condições

de conforto térmico na estação quente. Entre as simulações com ventilação também se observam em

alguns casos diferenças importantes ao nível da evolução da temperatura interior. Neste caso, a

maior diferença observa-se na comparação com o caso Base, que utiliza as condições de ventilação

do RCCTE. Observa-se que estas diferenças de temperatura entre qualquer outro regime de

ventilação e o correspondente ao caso Base traduzem-se em valores que podem variar entre 1º C e

20

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Tem

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atu

ra [º

C]

Temperatura interior

S. sem ventilação S. Base zona ocupada

controlo de Temp. vent cruzada zona ocupada Temp Exterior

50

3ºC. A Figura 27 ilustra com maior pormenor a diferença entre a simulação Base e as simulações de

outros regimes.

Figura 27 - Temperaturas interiores de dois dias típicos de verão

Relativamente aos casos com regimes de ventilação diferentes do RCCTE, as diferenças não são

muito acentuadas, sobretudo à noite, em que as curvas são praticamente coincidentes – Figura 28.

Este facto também se explica pelas funções que activam a ventilação. Assim, verifica-se que em

todos eles a ventilação funciona no período nocturno e daí a proximidade dos resultados neste

período. De facto, numa das simulações o período nocturno em que ocorre ocupação é a única

condição necessária para a ventilação; noutro, a ventilação é controlada pelos níveis de temperatura

do ar interior e exterior (independente da ocupação); ora, como no período da noite a temperatura do

ar exterior é mais fresca que no interior é verificada a condição para se processar a ventilação e,

assim, ela ocorre, portanto, durante a noite, tal como no caso anterior. Finalmente, o caso da

ventilação controlada pela temperatura e ocupação acaba por se fundir num dos outros casos

(porque a ocupação é nocturna e porque, no período nocturno, as gamas de temperatura que se

verificam tanto no interior como no exterior quase sempre permitem que ocorra ventilação).

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Tem

pe

rau

ta [º

C]

Temperaturas interiores

S. Base zona ocupada

controlo de Temp. zona ocup. Controlo de temp.

51

Figura 28 - Temperaturas interiores simulações com controlo dos utilizadores

Resta avaliar o impacte da ventilação cruzada, que apesar dos valores médios de renovações

próximos do caso Base, conduz a temperaturas médias inferiores em mais de 1ºC em relação a este

caso. O programa Comis é inovador no facto de permitir o cálculo, tanto de ventilação em apenas

uma fachada, “single-sided” [12], como de ventilação cruzada, “crossed ventilation” [12]. A Figura 29

compara estes dois casos para o mesmo período de funcionamento da ventilação. É bem visível a

menor temperatura do caso da ventilação cruzada, mesmo com uma menor área de abertura, como

era esperado.

Figura 29 - Temperaturas interiores de simulações com funcionamento nos mesmos períodos

26.5027.0027.5028.0028.5029.0029.5030.0030.5031.0031.50

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5 0

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8 2

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Te

mp

era

tura

[ºC

]

Temperaturas interiores

zona ocupada controlo de Temp. zona ocup. Controlo de temp.

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07/2

1 2

3:00

:00

Tem

pe

rau

ta [º

C]

Temperaturas interiores

zona ocupada vent cruzada zona ocupada

52

Um aspecto que interessa referir, por permitir comparações com as simulações realizadas no inverno,

é a grande diferença entre a ventilação nos períodos de ocupação e a que ocorre nos períodos de

não ocupação. Nas simulações da estação de arrefecimento, a ventilação diurna, nas horas em que a

zona não se encontra ocupada, conduz a temperaturas interiores muito elevadas – Figura 30 - por

ocorrer principalmente nas horas de maior calor e não permitir renovações nas horas mais frescas.

No inverno, a situação inverte-se e interessa verificar se a promoção da ventilação nessas horas não

cria condições térmicas mais desfavoráveis do que a situação de não ventilação.

Figura 30 - Temperaturas interiores para ventilação controlada pela ocupação

5.3.2. Impacte na temperatura média interior do ar no Inverno

O menor número de cenários de disposição da abertura de janelas com interesse no inverno conduz

a resultados mais simples. As comparações que interessam realizar, para avaliação do impacte do

regime de ventilação na temperatura, dizem respeito às simulações: situação sem ventilação (Tabela

31); ventilação nas condições do RCCTE (simulação Base) (Tabela 32); e ainda ventilação para zona

desocupada (período diurno) (Tabela 33). Este ultimo caso pretende traduzir um comportamento dos

ocupantes que se traduz na abertura de janelas no período em que não há ocupação para renovação

do ar e consequentemente melhoraria da sua qualidade.

20.00

22.00

24.00

26.00

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32.00

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07/2

7 0

1:00

:00

07/2

7 1

9:00

:00

07/2

8 1

3:00

:00

07/2

9 0

7:00

:00

07/3

0 0

1:00

:00

07/3

0 1

9:00

:00

07/3

1 1

3:00

:00

08/0

1 0

7:00

:00

Tem

per

atu

ra [º

C]

Temperaturas interiores

zona ocupada zona desocupada

53

Tabela 31 - Simulação sem ventilação

Simulação sem ventilação

Horário [0h às 24h]

Tipologia de Ocupação Constante

Valor 0 Rph

Tabela 32 - Simulação Base (RCCTE)

Simulação Base

Horário [0h às 24h]

Tipologia de Ocupação Constante

Valor 1Rph

Tabela 33 - Ventilação em período diurno

Simulação ventilação zona desocupada (diurna)

Tipologia de ocupação

Horário Tipo de controlo

Área de abertura/ janela

Janelas abertas

Ocupação Nocturna

[18h às 9h] Constante 0.00 Nenhuma

Vazio [9h às 18h] Constante 31 cm2 3 Janelas a sul

Para estas condições foram obtidos os caudais de infiltração que se encontram na Tabela 34.

Tabela 34 - Caudais de renovação

S. sem

ventilação Simulação Base

Ventilação zona desocupada

Média [m3] 0 267.00 283.49

Pico [m3] 0 267.00 1306.88

Renovações médias [h-1]

0 1 1.06

Renovações de pico [h-1]

0 1 4.89

Os valores das renovações médias são bastante interessantes pelo facto das condições definidas

para a ventilação diurna conduzirem a renovações de ar médias semelhantes às produzidas pela

simulação Base (RCCTE). Constatada esta semelhança torna-se interessante comparar as duas

simulações no que diz respeito à temperatura do ar interior. Verifica-se pela Tabela 35 que no fogo

em estudo seria possível ventilar o seu interior no inverno, com valores de renovações próximos dos

considerados no RCCTE, mantendo a temperatura em condições razoáveis.

54

Tabela 35 - Temperaturas do ar interior na estação de aquecimento

T [ºC] T exterior S. sem

ventilação Simulação Base

Ventilação zona desocupada

Média 11.52 23.64 17.17 19.76

Máximo 17.30 26.59 19.33 21.44

Mínimo 6.50 21.71 15.65 15.86

Sobre as simulações realizadas é ainda possível observar uma questão importante. A primeira diz

respeito à situação sem ventilação, em que a temperatura interior nunca é inferior à temperatura de

conforto. Esta condição seria claramente a ideal para diminuir os consumos energéticos com

aquecimento. No entanto, tal situação, como se sabe, é indesejável do ponto de vista das condições

do ambiente interior e patologias da construção, pelos problemas que dai poderiam resultar quer ao

nível das condensações quer da qualidade do ar.

As condições definidas para ventilação diurna demonstram que é possível realizar a ventilação de

uma habitação, com um valor médio de uma renovação por hora, mantendo temperaturas no período

de funcionamento bastante razoáveis. O andamento da temperatura – Figura 31 - mostra que apesar

da grande redução da temperatura no período em que é permitido ventilar, essa diminuição não

prejudica a temperatura no período de ocupação, que se mantém próxima da temperatura de

conforto.

55

Figura 31 - Temperaturas para simulações no inverno com variação das renovações de ar

5.3.3. Impacte nos consumos energéticos no Verão

Avaliado o impacte da ventilação na temperatura do ar interior em função do regime de ocupação do

fogo, passa-se à quantificação dos consumos energéticos na estação de arrefecimento. Na Tabela 36

mostram-se estes consumos e na Figura 32 e Tabela 37 apresenta-se análise de custos respectiva,

com base nas considerações do ponto 4.1.9.2. referente à climatização.

Tabela 36 - Consumos da climatização para as simulações da ventilação

Consumos Energia útil

[W] Média horária

[W] Energia Total

[kWh] Custo Total

[€]

Simulação sem ventilação 1927526.15 658.31 642.51 62.00

Simulação Base 1414188.15 482.99 471.40 45.49

Zona ocupada 744986.10 254.44 248.33 23.96

Controlo de temperatura 724533.35 247.45 241.51 23.31

Zona desocupada 2495459.07 852.27 831.82 80.27

Zona ocupada e controlo da temperatura

746093.20 254.81 248.70 24.00

Ventilação cruzada zona ocupada 514175.27 175.61 171.39 16.54

5

10

15

20

25

3001

/01

01:

00:0

0

01/0

1 1

3:00

:00

01/0

2 0

1:00

:00

01/0

2 1

3:00

:00

01/0

3 0

1:00

:00

01/0

3 1

3:00

:00

01/0

4 0

1:00

:00

01/0

4 1

3:00

:00

01/0

5 0

1:00

:00

01/0

5 1

3:00

:00

01/0

6 0

1:00

:00

01/0

6 1

3:00

:00

01/0

7 0

1:00

:00

01/0

7 1

3:00

:00

01/0

8 0

1:00

:00

01/0

8 1

3:00

:00

01/0

9 0

1:00

:00

01/0

9 1

3:00

:00

01/1

0 0

1:00

:00

01/1

0 1

3:00

:00

01/1

1 0

1:00

:00

01/1

1 1

3:00

:00

01/1

2 0

1:00

:00

01/1

2 1

3:00

:00

01/1

3 0

1:00

:00

01/1

3 1

3:00

:00

01/1

4 0

1:00

:00

01/1

4 1

3:00

:00

01/1

5 0

1:00

:00

01/1

5 1

3:00

:00

Tem

per

atu

ra [º

C]

Temperatura interior inverno

T exterior S. sem vent simulação Base zona desocupada

56

Figura 32 - Consumos climatização

Tabela 37 - Variação dos custos em relação à situação mais desfavorável

Percentagens Diminuição

Simulação sem ventilação 100.00% 0.00%

Simulação Base 73.37% 26.63%

Zona ocupada 38.65% 61.35%

Controlo de temperatura 37.59% 62.41%

Zona desocupada 129.46% -29.46%

Zona ocupada e controlo da temperatura 38.71% 61.29%

Ventilação cruzada zona ocupada 26.68% 73.32%

Como seria de esperar, a variação dos custos ao longo de toda a estação de arrefecimento

acompanha as alterações da temperatura interior. A ocorrência de ventilação, mesmo para as

condições do RCCTE, diminui mais de 30% os custos com energia. As simulações que representam

o comportamento típico dos ocupantes da habitação chegam a mostrar reduções de mais de 60%,

conduzindo a consumos quase desprezáveis para a duração da estação de arrefecimento.

0.0010.0020.0030.0040.0050.0060.0070.0080.0090.00

Co

nsu

mo

[€]

Custo Total

57

5.4. Ganhos solares

Os ganhos solares, como já foi referido são, juntamente com os ganhos internos, os principais

responsáveis pelos ganhos de calor de uma habitação. Devido ao facto de ocorrerem principalmente

na hora de maior calor contribuem ainda mais para as necessidades de arrefecimento. As simulações

realizadas irão incidir sobre a estação de arrefecimento com o objectivo de avaliar medidas que

melhorem o desempenho térmico dos edifícios, em relação a este tipo de ganhos, e reduzam os

consumos de energia nesta estação.

As protecções solares podem ser fixas ou móveis. As móveis podem ser controladas, especificando

calendários de utilização que tenham em atenção as condições interiores do fogo ou um horário de

utilização.

As variáveis para o controlo das protecções solares podem ser a radiação incidente na janela, a

temperatura exterior, a temperatura interior e ainda o desconforto provocado pelo encadeamento da

luz solar. Apesar das possibilidades existentes no programa, as simulações irão centrar-se nos

factores ocupação e temperatura, à semelhança dos restantes estudos realizados.

A avaliação do impacte das protecções solares no desempenho térmico e energético dos edifícios

incluirá: uma simulação sem protecções (Tabela 38); a simulação Base (Tabela 39); e ainda algumas

em que o comportamento dos utilizadores varia dependendo das variáveis atrás referidas (Tabelas

40, 41, 42, 43). As tabelas seguintes indicam os parâmetros definidos para cada simulação.

Tabela 38 – Simulação protecções sempre OFF

Simulação sempre sem protecções solares

Tipologia de ocupação Horário Posição Janelas

Constante [0h às 24h] Ocultas Todas

Tabela 39 – Simulação Base (RCCTE)

Simulação Base

Tipologia de ocupação Horário Posição Janelas

Constante [0h às 24h] 70% activas e 30%ocultas Todas

Tabela 40 - Simulação protecções sempre ON

Simulação sempre com protecções solares

Tipologia de ocupação Horário Posição Janelas

Constante [0h às 24h] Activas Todas

58

Tabela 41 - Simulação protecções activas sem ocupação

Simulação protecções solares ON sem ocupação

Tipologia de ocupação Horário Posição Janelas

Ocupado [18h às 9h] Ocultas Todas

Vazio [9h às18h] Activas Todas

Tabela 42 - Simulação com controlo da temperatura

Simulação protecções solares controlo de temperatura

Tipologia de ocupação Horário Posição Janelas

Temperatura superior a 20ºC [0h às 24h] Activas Todas

Temperatura inferior a 20ºC [0h às 24h] Ocultas Todas

Tabela 43 - Simulação das protecções exteriores como elementos de segurança/oclusão

Simulação protecções solares ON para segurança

Tipologia de ocupação Horário Posição Janelas

Ocupado dormir [23h às 7h] Activas Todas

Ocupado acordado [7h às 9h] Ocultas Todas

Vazio [9h às18h] Activas Todas

Ocupado acordado [18h às 23h] Ocultas Todas

5.4.1. Impacte na temperatura média do ar interior

Na Figura 33 representa-se a evolução da temperatura do ar interior em duas semanas genéricas da

estação de arrefecimento para o conjunto das simulações realizadas. Por sua vez, a Tabela 44

apresenta uma estatística dos valores de temperatura obtidos.

Tabela 44 - Temperaturas interiores das várias simulações

T Média [ºC] T Máxima [ºC] T Mínima [ºC]

Simulação sempre com protecções solares 27.16 29.43 24.78

Simulação sempre sem protecções solares 31.56 34.62 28.49

Simulação Base 28.57 31.37 25.87

Simulação protecções solares ON sem ocupação

28.60 31.20 25.79

Simulação protecções solares ON para segurança

28.79 31.29 26.13

Simulação protecções solares controlo de temperatura

27.34 29.45 24.96

59

Figura 33 - Temperaturas interiores, de duas semanas de verão, das várias simulações realizadas

A observação dos resultados permite identificar imediatamente diferenças nas temperaturas do ar

interior entre dois casos extremos de simulação: protecções sempre totalmente activas e protecções

nunca activas. Esta comparação mostra a grande importância do controlo da entrada de radiação

solar nos edifícios para melhoria das condições de conforto térmico na estação quente. Entre as

simulações com possibilidade de activação de protecções, também se observam em alguns casos

diferenças importantes ao nível da evolução da temperatura interior. Neste caso, a comparação entre

os vários regimes de controlo de protecções solares permite identificar dois grupos de simulações

distintos.

O primeiro diz respeito às simulações com base no factor de ocupação (simulação com as protecções

activas quando não existe ocupação; e o caso das protecções activas por motivos de segurança), em

que a temperatura interior tem um andamento muito próximo do caso Base, com valores médios de

cerca de 28.5ºC. A diferença entre os períodos de funcionamento destas duas simulações reside num

horário nocturno que aparece na simulação das protecções como elemento de segurança, mas que

24.00

26.00

28.00

30.00

32.00

34.0007

/15

01:

00:0

0

07/1

5 1

6:00

:00

07/1

6 0

7:00

:00

07/1

6 2

2:00

:00

07/1

7 1

3:00

:00

07/1

8 0

4:00

:00

07/1

8 1

9:00

:00

07/1

9 1

0:00

:00

07/2

0 0

1:00

:00

07/2

0 1

6:00

:00

07/2

1 0

7:00

:00

07/2

1 2

2:00

:00

07/2

2 1

3:00

:00

07/2

3 0

4:00

:00

07/2

3 1

9:00

:00

07/2

4 1

0:00

:00

07/2

5 0

1:00

:00

07/2

5 1

6:00

:00

07/2

6 0

7:00

:00

07/2

6 2

2:00

:00

07/2

7 1

3:00

:00

07/2

8 0

4:00

:00

07/2

8 1

9:00

:00

07/2

9 1

0:00

:00

07/3

0 0

1:00

:00

07/3

0 1

6:00

:00

07/3

1 0

7:00

:00

07/3

1 2

2:00

:00

08/0

1 1

3:00

:00

Tem

pe

ratu

ras

Temperaturas interiores

S. sempre com protecções S. sempre sem protecções

S. Base S. Protecções On sem ocupação

S. protecções On para segurança S. Controlo de Temp.

60

não está presente na outra simulação. Assim, como o período diurno em que existem ganhos solares

é o mesmo, os resultados das simulações são muito próximos.

O segundo grupo corresponde às simulações em que os ocupantes procuram reduzir os ganhos

solares para controlo da temperatura interior (activação das protecções solares dependente da

temperatura interior e activação permanente das protecções solares, que constitui um dos casos

extremos já referidos). Quando se comparam os valores das temperaturas médias da simulação

Base, com os valores das simulações deste segundo grupo observam-se diferenças de 1ºC em

média. No entanto, uma observação com maior detalhe do andamento dos gráficos permite observar

que esta diferença não é constante, chegando em algumas horas a atingir 2ºC, como é visível na

Figura 34, onde se mostra a evolução da temperatura do ar interior para três dias típicos de verão e

para os dois grupos de simulações referidos.

Figura 34 - Valores das temperaturas de quatro simulações, para 3 dias típicos de verão

A observação destes resultados mostra com mais pormenor que o comportamento dos utilizadores,

com base na ocupação, conduz a resultados próximos dos obtidos com o RCCTE (simulação Base).

Já a simulação das protecções solares controladas pela temperatura interior na estação de

arrefecimento mostra valores muito próximos do caso extremo de protecções permanentemente

activas. Os bons resultados desta estratégia sugerem, em caso de sua utilização, a possibilidade de

aumentar as áreas envidraçadas nos edifícios sem um impacte exagerado nas condições de conforto

no verão.

27.0027.5028.0028.5029.0029.5030.0030.5031.0031.5032.00

07/1

5 0

1:00

:00

07/1

5 0

5:00

:00

07/1

5 0

9:00

:00

07/1

5 1

3:00

:00

07/1

5 1

7:00

:00

07/1

5 2

1:00

:00

07/1

6 0

1:00

:00

07/1

6 0

5:00

:00

07/1

6 0

9:00

:00

07/1

6 1

3:00

:00

07/1

6 1

7:00

:00

07/1

6 2

1:00

:00

07/1

7 0

1:00

:00

07/1

7 0

5:00

:00

07/1

7 0

9:00

:00

07/1

7 1

3:00

:00

07/1

7 1

7:00

:00

07/1

7 2

1:00

:00

07/1

8 0

1:00

:00

07/1

8 0

5:00

:00

07/1

8 0

9:00

:00

07/1

8 1

3:00

:00

07/1

8 1

7:00

:00

07/1

8 2

1:00

:00

Tem

per

atu

as[º

C]

3 dias de verão

S. Base S. sempre com protecções

S. Controlo de Temp. S. protecções On para segurança

S. Protecções On sem ocupação

61

5.4.2. Impacte nos consumos energéticos

Relativamente aos consumos energéticos e respectivos custos associados às diferentes simulações,

apresentam-se na Tabela 45 e Figura 35 os valores obtidos.

Tabela 45 - Consumos totais com climatização

Energia útil

[W] Média horária

[W] Energia Total

[kWh] Custo Total

[€]

Simulação sempre com protecções solares

878994.09 300.20 293.00 28.27

Simulação sempre sem protecções solares

2841262.01 970.38 947.09 91.39

Simulação Base 1414188.15 482.99 471.40 45.49

Simulação protecções solares ON sem ocupação

1157313.92 395.26 385.77 37.23

Simulação protecções solares ON para segurança

1491147.04 509.27 497.05 47.97

Simulação protecções Solares para controlo

de temperatura 1126098.96 384.60 375.37 36.22

Figura 35 – custos com o arrefecimento do fogo

A avaliação dos custos com a climatização é novamente um reflexo da avaliação da temperatura

interior. As variações que se observavam, de cerca de 2ºC, entre os dois grupos de simulações

conduzem a diminuições de cerca de 20% no consumo de energia.

Entre o caso de total ausência de protecções e o caso da completa activação das mesmas, é verifica-

se que a diminuição de custos é de cerca de 70% (Tabela 46). Esta redução é devida à utilização de

protecções solares, comprovando novamente a importância da radiação solar. Mesmo um qualquer

regime de utilização de protecções solares, como por exemplo o caso Base, permite reduzir o custo

0.0010.0020.0030.0040.0050.0060.0070.0080.0090.00

100.00

sempre sem

protec.

S. Base protec. ON sem

ocupação

protec. On para

segurança

protec. controlo de

temp.

sempre com

protec.

Co

nsu

mo

[€]

Custo Total

62

com a climatização para metade quando comparado com o caso da não activação das protecções em

qualquer período do dia.

Tabela 46 - comparação dos custos em relação à situação mais desfavorável

Percentagens Diminuição

Simulação sempre sem protecções solares 100.00% 0.00%

Simulação Base 49.77% 50.23%

Simulação protecções solares ON sem ocupação

40.73% 59.27%

Simulação protecções solares ON para segurança

52.48% 47.52%

Simulação sempre com protecções solares 30.94% 69.06%

Simulação protecções solares para controlo de temperatura

39.63% 60.37%

5.5. Simulação Geral

Avaliados individualmente os impactes térmicos e energéticos de todos os factores de utilização em

causa neste estudo, tem interesse verificar o efeito dos mesmos quando aplicados em simultâneo no

comportamento dos edifícios.

A análise do comportamento global do edifício será quantificada pelos mesmos dois parâmetros

fundamentais: a temperatura do ar interior em funcionamento livre e o consumo de energia para obter

as condições de conforto impostas pelo RCCTE.

Após as várias simulações iniciais, verificou-se que existem duas combinações relevantes nesta

análise. Por um lado, é importante agrupar todas as simulações que melhor representam o

comportamento dos ocupantes do fogo; por outro lado, interessa também analisar o conjunto das

simulações que conduziram em cada caso à temperatura mais próxima da de conforto.

Tem interesse comparar o caso em que as condições são mais próximas das reais com a simulação

Base, que utiliza os valores definidos pelo RCCTE; é também relevante comparar as situações que

representam o comportamento real com as situações supostamente ideais, quer em termos de valor

absoluto quer de período de funcionamento.

Os períodos adoptados para o estudo térmico correspondem a duas semanas tipo da estação de

arrefecimento, à semelhança dos restantes estudos homólogos. Em relação ao estudo energético, o

período de estudo será o correspondente à duração da estação de arrefecimento.

A Tabela 47 resume as condições de funcionamento para os três factores de utilização já analisados:

ganhos internos, ventilação natural e ganhos solares.

63

Tabela 47 - Parâmetros das simulações Globais

Simulações Finais

Simulação Ganhos internos Ventilação Protecções solares

Simulação Base

4 W/m2

constante

1Rph - constante 70% activas e 30% ocultas

Simulação Inteligente

6 W/m2

com ocupação 31 cm

2 em 3 janelas - Em período

nocturno com ventilação cruzada Activas de dia - ocultas à

noite

Simulação Real

6 W/m2

com ocupação Controlo de temperatura em

regime de ocupação Activas para segurança

5.5.1. Variação da temperatura média interior

Nas Figura 36 e 37 e na Tabela 48 encontram-se os valores da temperatura interior do fogo das

diferentes simulações.

Tabela 48 - Temperaturas interiores

Simulação Base Inteligente Real

T Média [ºC] 28.57 24.99 25.31

T Mínimo [ºC] 25.87 18.34 20.07

T Máxima [ºC] 31.37 29.35 29.54

64

Figura 36 - Variação da temperatura ao longo de duas semanas de verão

19.00

21.00

23.00

25.00

27.00

29.00

31.00

07/1

5 0

1:00

:00

07/1

5 1

6:00

:00

07/1

6 0

7:00

:00

07/1

6 2

2:00

:00

07/1

7 1

3:00

:00

07/1

8 0

4:00

:00

07/1

8 1

9:00

:00

07/1

9 1

0:00

:00

07/2

0 0

1:00

:00

07/2

0 1

6:00

:00

07/2

1 0

7:00

:00

07/2

1 2

2:00

:00

07/2

2 1

3:00

:00

07/2

3 0

4:00

:00

07/2

3 1

9:00

:00

07/2

4 1

0:00

:00

07/2

5 0

1:00

:00

07/2

5 1

6:00

:00

07/2

6 0

7:00

:00

07/2

6 2

2:00

:00

07/2

7 1

3:00

:00

07/2

8 0

4:00

:00

07/2

8 1

9:00

:00

07/2

9 1

0:00

:00

07/3

0 0

1:00

:00

07/3

0 1

6:00

:00

07/3

1 0

7:00

:00

07/3

1 2

2:00

:00

08/0

1 1

3:00

:00

Te

mp

era

tura

[ºC

]Temperaturas interiores

Simulação Base Simulação real

65

Figura 37 - Variação da temperatura ao longo de duas semanas de verão

Os valores obtidos nas três simulações, que se encontram na Tabela 48, comprovam os resultados

obtidos nos vários testes anteriores. Apesar do aumento da temperatura média do ar interior que se

esperava devido aos ganhos internos, a ventilação natural e o controlo das protecções reduzem

bastante a temperatura em relação aos pressupostos do RCCTE. O funcionamento real da zona

estudada conduz a diminuições de 3ºC de temperatura média do ar interior em relação às condições

constantes e uniformes consideradas pelo regulamento nacional. Estes resultados comprovam que

de facto o comportamento real de funcionamento de edifícios pode ser bastante variado, por

depender do comportamento dos utilizadores.

Comparando a solução mais próxima da realidade com a solução idealmente óptima, a segunda

conduz a temperaturas médias mais próximas da de conforto e a temperaturas mínimas mais baixas.

Sendo assim, a solução que se poderia considerar ideal diminui bastante a temperatura nas alturas

mais frescas, mas não nas alturas de maior calor. De facto, a solução que conjuga as melhores

simulações realizadas não produz grande impacte quando comparada com uma solução baseada nos

hábitos regulares dos ocupantes de um edifício de habitação.

19.00

21.00

23.00

25.00

27.00

29.00

31.00

07/1

5 0

1:00

:00

07/1

5 1

7:00

:00

07/1

6 0

9:00

:00

07/1

7 0

1:00

:00

07/1

7 1

7:00

:00

07/1

8 0

9:00

:00

07/1

9 0

1:00

:00

07/1

9 1

7:00

:00

07/2

0 0

9:00

:00

07/2

1 0

1:00

:00

07/2

1 1

7:00

:00

07/2

2 0

9:00

:00

07/2

3 0

1:00

:00

07/2

3 1

7:00

:00

07/2

4 0

9:00

:00

07/2

5 0

1:00

:00

07/2

5 1

7:00

:00

07/2

6 0

9:00

:00

07/2

7 0

1:00

:00

07/2

7 1

7:00

:00

07/2

8 0

9:00

:00

07/2

9 0

1:00

:00

07/2

9 1

7:00

:00

07/3

0 0

9:00

:00

07/3

1 0

1:00

:00

07/3

1 1

7:00

:00

08/0

1 0

9:00

:00

Tem

pe

ratu

ra[º

C]

Temperaturas interiores

Simulação inteligente Simulação real

66

5.5.2. Consumos energéticos

Por se tratar da simulação que engloba todos os factores estudados, a avaliação dos consumos

energéticos será tratado de uma forma diferente. Para além da avaliação do consumo total no final da

estação, será realizado um estudo comparando esses resultados com a situação em que o sistema

de climatização funciona exclusivamente nas horas de ocupação do fogo. É esperada uma

diminuição de consumos, não só devido ao menor período de funcionamento do sistema, mas

principalmente devido ao facto das principais consequências dos parâmetros introduzidos se

verificarem exactamente no período de ocupação.

Tem vindo a ser realizada ao longo de todas as simulações o cálculo do consumo energético

necessário para manter a temperatura interior no mínimo igual à de conforto. Esta avaliação é

puramente estatística com o objectivo de avaliar o comportamento da zona perante as condições que

lhe são impostas. Neste caso será também utilizada a filosofia da influência do comportamento dos

utilizadores perante o sistema de climatização, com o objectivo de verificar qual a importância dos

consumos nos períodos de ocupação e mostrar a importância de melhorar o comportamento térmico

dos edifícios principalmente nesses períodos.

A Tabela 49 e a Figura 38 resumem os valores dos consumos energéticos e dos custos com

climatização.

Tabela 49 - Consumo energético para os dois funcionamentos do sistema de climatização

RCCTE Inteligente Real

RCCTE ocupação

Inteligente ocupação

Real ocupação

Energia útil [W] 1414188.15 146119.28 203885.55 827124.33 87456.07 117625.27

Média horária [W]

482.99 49.90 69.63 282.49 29.87 40.17

Energia Total [KW.h]

471.40 48.71 67.96 275.71 29.15 39.21

Custo Total [€] 45.49 4.70 6.56 26.61 2.81 3.78

Figura 38 - Custos energéticos

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

Simulação Base

simulação inteligente

Simulação real

Simulação Base

ocupação

simulação inteligente ocupação

Simulação real

ocupação

Co

nsu

mo

[€]

Custo Total

67

A Figura 38 é realmente explícita da diferença de consumos entre a simulação Base e as simulações

com base no comportamento dos ocupantes.

Conhecendo os valores para os dois casos, é possível analisar a importância do período de

funcionamento nos consumos energéticos.

Tabela 50 - Variação dos consumos energéticos

Custo Total [€] RCCTE Inteligente Real

Sempre a funcionar 45.49 4.70 6.56

Funcionar com ocupação 26.61 2.81 3.78

Redução 41.5% 40.1% 42.3%

A redução entre as hipóteses de funcionamento constante da climatização e o funcionamento no

período de ocupação, que se verifica, na Tabela 50, é aproximadamente de 40%. Este facto significa

que os consumos no período de ocupação das habitações representam 60% dos custos em relação

ao funcionamento totais. Esta conclusão é importante no âmbito do trabalho por mostrar que o

comportamento padrão dos ocupantes pode ter impacte significativo por ocorrer no período mais

importante do dia.

6. Conclusões

Concluída a exposição dos resultados obtidos, serão agora apresentadas neste capítulo conclusões

que, de forma sintética, procuram resumir alguns valores com interesse e transpô-los para o objectivo

do trabalho. O objectivo que se pretendia atingir desde inicio era responder à questão de qual o

impacte das condições reais de funcionamento no comportamento térmico dos edifícios.

Para melhor compreender os fenómenos de transmissão térmica que ocorrem num edifício procedeu-

se a uma revisão dos conceitos teóricos mais importantes. Desta revisão observou-se que,

transversalmente a toda a bibliografia consultada, existem três factores que são responsáveis pela

grande maioria das trocas de calor que ocorrem num fogo: ganhos internos; ventilação natural e

ganhos solares. Estes fenómenos de transmissão térmica são consequência de diversos

condicionalismos do ambiente exterior ao fogo, mas são fundamentalmente dependentes das

condições reais de funcionamento criadas pelos utilizadores do mesmo fogo.

De modo a comprovar a importância das condições de funcionamento dos três factores no

comportamento térmico dos edifícios, foram realizadas uma série de simulações utilizando o

programa EnergyPlus que avaliaram dois parâmetros das condições de funcionamento de uma

habitação, temperatura interior e consumo energético com climatização.

Ganhos internos

Relativamente aos ganhos internos interessa referir dois aspectos condicionantes: períodos de

ocupação e valor de ganhos produzidos pelos utilizadores. Em relação ao período de ocupação o

RCCTE considera um valor de ganhos constantes ao longo do dia, mas tendo por base o tipo de

68

ocupação de um edifício residencial verifica-se que existem momentos do dia em que o valor dos

ganhos pode ser de 0W/m2 (zona desocupada) passando depois a valores muito mais elevados, da

ordem dos 15W/m2 (períodos de pico). Conhecendo os valores para cada período do dia interessa

realizar uma média diária e comparar com o valor médio definido no regulamento.

Sendo assim, no que diz respeito ao valor médio é possível, por análise de valores característicos do

comportamento dos utilizadores criados para as simulações, observar que o ganho médio de 4W/m2

definido no regulamento é um valor baixo para o comportamento típico. Facilmente se obtêm ganhos

médios superiores em cerca de 2W/m2 com a utilização de apenas alguns equipamentos típicos de

uma habitação.

A Figura 39 representa a evolução dos ganhos ao longo de um dia, utilizados nas simulações.

Figura 39 - Comportamento dos ganhos diários

Compreendidas as diferenças do comportamento considerado no regulamento e as condições reais

facilmente se analisa os resultados dos comportamentos térmico e energético, obtidos no estudo

analítico. A Tabela 51 apresenta os valores da temperatura média interior para as duas estações,

aquecimento e arrefecimento, acompanhados dos custos com climatização para obter a temperatura

de conforto na totalidade das estações.

Tabela 51 – Resumo dos resultados do estudo sobre os ganhos internos

Temperatura

exterior S. sem ganhos

S. Base 4W/m2

Ocupação 5W/m2

Ocupação 6W/m2

Ocupação 7W/m2

T Média [ºC] inverno

11.52 15.48 17.42 17.73 18.11 18.51

T Média [ºC] verão

22.89 26.54 28.57 28.97 29.39 29.80

Consumo [€]

- 254.69 199.87 188.91 174.80 161.42

0.004.008.00

12.0016.0020.0024.00

Val

or

do

s ga

nh

os

[W/m

2 ]

Variação diária dos ganhos internos

Simulação Base ocupação 6 W/m2

ocupação 7 W/m2 ocupação 5 W/m2

69

Uma observação rápida dos resultados mostra que, com o aumento dos ganhos, a temperatura

média interior aumenta. Este aumento implica, no caso do inverno, uma aproximação da temperatura

de conforto e no verão um afastamento dessa mesma temperatura. Tendo em atenção a

compensação existente na soma dos consumos das duas estações é importante salientar dois

aspectos: a diferença significativa da situação sem ganhos e as restantes, mostrando o impacte

destes ganhos; e ainda a situação com ocupação média de 7W/m2 que conduz à melhor solução em

termos económicos.

Ventilação Natural

A ventilação natural, contrariamente aos restantes factores referidos, traduz-se principalmente ao

nível das perdas. A renovação do ar é fundamental num edifício, apesar de, por vezes, os utilizadores

evitarem a abertura de janelas por motivos de conforto térmico.

Da observação dos resultados, para a estação de arrefecimento, ressalta imediatamente a extrema

importância da ventilação dos edifícios para a melhoria das condições de conforto térmico na estação

quente. Entre as simulações com ventilação observam-se em alguns casos diferenças importantes ao

nível da evolução da temperatura interior. De notar que as diferenças de temperatura média do ar

interior entre qualquer outro regime de ventilação e o correspondente ao caso Base traduzem-se em

valores que podem variar entre 1º C e 3ºC, diferenças essas que podem conduzir a condições

interiores bastante próximas da de conforto. Em relação aos valores das renovações definidos no

RCCTE para este parâmetro verifica-se são muito inferiores aos obtidos com uma qualquer simulação

realizada, quer em termos dos períodos de ventilação, quer em termos de volumes caudais de

renovação.

O comportamento das temperaturas ao longo do dia demonstra fundamentalmente que o período

indicado para recorrer à ventilação natural é o período nocturno.

Na estação de aquecimento a situação é distinta, em termos de objectivos, da que é analisada na

estação de arrefecimento. Nesta estação não existe a procura, por parte dos utilizadores, de

ventilação natural. Tendo este facto em consideração procurou-se demonstrar que ventilação durante

o período diurno permite caudais de renovação adequados para a melhoria das condições interiores,

tendo sido obtido um valor médio igual ao do RCCTE, sem que com isso existam exagerados

prejuízos para as condições de conforto nos períodos de ocupação.

A Tabela 52 mostra as diferenças de valores, entre as temperaturas médias, que se obteve para as

várias simulações.

70

Tabela 52 – Resumo dos resultados obtidos para o estudo da ventilação natural

T [ºC] Verão

Consumo no verão

[€]

T [ºC] Inverno

Simulação sem ventilação 36.62 62.00 23.64

Simulação Base 28.57 45.49 17.17

Zona ocupada (P. nocturno) 27.11 23.96 -

Controlo de temperatura 27.14 23.31 -

Zona desocupada (P. diurno) 33.24 80.27 19.76

Zona ocupada e controlo da temperatura

27.33 24.00 -

Ventilação cruzada zona ocupada 26.73 16.54 -

Ganhos solares

Do estudo teórico elaborado retira-se a ideia de que os factores que condicionam a utilização das

protecções solares por parte dos ocupantes são o horário de ocupação e o valor da temperatura

interior. Conjugando estes parâmetros de funcionamento obtiveram-se dois conjuntos de simulações

muito semelhantes entre si. O primeiro diz respeito às simulações condicionadas pela ocupação, que

apresentaram resultados semelhantes aos do caso Base, enquanto o segundo grupo junta os casos

que procuram simular a procura das melhores condições em termos de temperatura interior e

apresenta valores da temperatura média inferiores em cerca de 1ºC em relação ao caso Base.

A proximidade entre as simulações que representam a ocupação e o caso Base permite observar que

o RCCTE representa adequadamente o comportamento dos ocupantes em relação a este aspecto.

Já a simulação das protecções solares controladas pela temperatura interior na estação de

arrefecimento mostra bons resultados sugerindo que, em caso da sua utilização, a possibilidade de

aumentar as áreas envidraçadas nos edifícios sem um impacte exagerado nas condições de conforto

no verão. A Tabela 53 apresenta os valores obtidos para a temperatura média do ar interior e para os

consumos com a climatização, para a estação de arrefecimento, e que comprovam as conclusões

referidas.

Tabela 53 – Resumos dos resultados obtidos para as simulações do estudo dos ganhos solares

T Média [ºC] Custo total [€]

Simulação sempre com protecções solares 27.16 28.27

Simulação sempre sem protecções solares 31.56 91.39

Simulação Base 28.57 45.49

Simulação protecções solares ON sem ocupação

28.60 37.23

Simulação protecções solares ON para segurança

28.79 47.97

Simulação protecções solares controlo de temperatura

27.34 36.22

71

Simulação global

Adequadamente estudados individualmente todos os factores que se pretendia, foram elaboradas

simulações que conjugaram as outras que foram realizadas. Foram criadas duas simulações globais,

uma que representa as condições mais próximas das reais e outra que conjuga as várias hipóteses

que conduziram, separadamente, aos melhores valores em termos económicos.

A observação dos resultados destas duas simulações conduziu a conclusões ainda mais significativas

comprovando o impacte das condições reais de funcionamento no comportamento térmico dos

edifícios. A Figura 40 apresenta a comparação entre: o Caso Base; as várias simulações sem os

parâmetros; as simulações mais realistas e ainda as duas simulações que conjugam todas as outras.

Figura 40 - Comparação dos vários resultados obtidos

A grande diferença entre a aplicação individual dos parâmetros e a aplicação conjunta mostra o

impacte positivo do uso conjunto da ventilação nocturna e protecções solares nas horas de maior

calor. Esta utilização anula não só maiores ganhos internos, consequência dos níveis mais elevados

de ocupação considerados, como também reduz quase na totalidade as necessidades energéticas

com climatização na estação de arrefecimento.

Comentários

Por observação dos resultados da simulação Base é possível afirmar que o RCCTE é bastante

conservativo no cálculo das necessidades de arrefecimento. Não sendo o RCCTE um regulamento

que define características de segurança, não deveria fornecer aos projectistas valores tão elevados

relativamente aos que se verificam em condições reais de funcionamento. Estes valores

conservativos conduzem a um sobredimensionamento dos sistemas de climatização, sistemas estes

que permitem aos ocupantes utilizar os edifícios sem qualquer preocupação com o consumo dos

aparelhos. A situação ideal seria o dimensionamento de aparelhos de climatização, de menor

0102030405060708090

100

Caso Base Sem ganhos Vs ocup. 7W/m2

sem ventilação Vs ventilação

para controlo da temp.

Sem proteções Vs protecções

para controlo da temp.

Simulação real conjunta Vs

simulação ideal conjunta

Cu

sto

tota

l [€]

Custo Total para a estação de arrefecimento

72

potência, que conduzissem os ocupantes dos edifícios à utilização dos meios de controlo de

temperatura naturais, referidos ao longo do trabalho, ventilação natural e protecções solares.

Ao longo dos capítulos deste trabalho foram referidas condições de funcionamento que claramente

conduzem a melhores comportamentos térmicos dos edifícios. Caso o comportamento dos

utilizadores finais dos edifícios se aproxime das condições definidas e não exista uma utilização

“cega” dos aparelhos de climatização, os consumos energéticos para a criação de condições de

conforto podem diminuir bastante.

Relativamente à situação de inverno verificou-se que a existência de ganhos internos contribui para a

melhoria das condições de conforto térmico, não sendo portanto uma boa prática de utilização de

edifícios permitir que determinadas zonas de uma habitação permaneçam desocupadas. A não

utilização de algumas divisões da casa diminui bastante a sua temperatura, nessas zonas,

aumentando o custo com a climatização. A forma mais adequada de utilização de uma habitação é

procurar manter sempre todas as zonas da casa com uma temperatura constante no seu interior,

diminuindo os picos de consumo energético para aquecer individualmente cada zona.

Outro comentário em relação à estação de aquecimento é o facto de ser possível a ventilação natural

da habitação para melhoria da qualidade do ar interior, 1 renovação por hora, sem a diminuição

significativa da temperatura, desde que essa ventilação ocorra nos períodos de temperatura exterior

mais elevada.

Na estação de arrefecimento o papel dos utilizadores toma ainda maior importância, existindo uma

série de boas práticas capazes de melhorar o comportamento térmico de edifícios. A diminuição dos

ganhos internos, com a redução do nível de iluminação e a menor utilização de equipamentos

eléctricos, bem como a limitação da entrada da radiação solar, principalmente nas horas de maior

calor, devem ser um objectivo dos utilizadores da habitação. A diminuição dos ganhos nesta estação

quando acompanhada de ventilação nocturna, se possível cruzada, melhora bastante o

comportamento térmico dos edifícios.

73

7. Referências bibliográficas

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guías técnicas, agecam, Castilla-La Mancha, 2004.

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