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    UMATRADIOREBELDE:notas sobre os quilombos na capitania do Rio de Janeiro(1625-1818)*

    ETAwb dos Santos Gomes*'

    A maior pa rte da historiografia brasileira dedicada ao estudo da resistn-cia ne gra procurou privilegiar o enfoque so br e os quilombos e insurrei-es. Mais q ue isso, foi privilegiado o e studo d e gran de s qu ilombos e le-vantes, ond e procurava-se destac ar o nmero d e cativos envolvidos e s u aslideranas. Considerava-se, des te modo, som en te es sa s lutas como aque-las n as quais os escrav os brasileiros teriam ticlo m ais "conscincia" d e s uaconclio'. Nelas ressaltariam-se tam bm o s heris, logo transform adosem m itos, qu e por si s- egundo tais anlises- esbancariam a s abor-da ge ns qu e apontavam para um a escravido brasileira "branda", na qualOS escrav os teiiam sido "passivos". P equ enos m ocam bos ou revoltas rapi-dam ente sufocadas eram, assim, consideradas d e menor ou de qu ase ne-nh um a importncia histrica.Afora a s anlises do quilombo de Palm ares, na capitania d e Pernam bucono sculo XVII e o s quilombos mineiros e baianos setec entistas, os estu-do s sob re resistncia, d e uma maneira geral, concentraram-se no sculoXIX. De ste modo, elegem-se poucos lugares e mom entos d a luta dos es-cravo s brasileiros para conquistar a s ua emancipao. A partir de uma re-viso crtica, entretanto, vrios autores tm demonstrado mais recente-me nte com o o s aspectos histricos da resistncia negra - o s 6 aquelados quilombos e da s insurreies- o com plexos, multifacetados e atra-vessam vrios perodos e regies da e s ~ r a v id o .~ idia mddelo d e um

    'A gr ad c~ o s comentrios do ProfessorJoo Jos Reis (Universidade Federal da Bahia)." Univers idad e Federal do I'ara.Ver comentArios d e Slvia Hunold Lara, Cattrpos da Violncia. Escravos e Senhores nampitriniu do Rio de Janeiro, 1750-1808, io de Janeiro, Paz e Terra, 1988 , pp.307-8.Para o Brasil, ver, por exemplo: C di a M arinho de Azev edo, Onda Negra, Medo Bran-co. O Negro no Fktraginrio cklsElites -sculo XLX, Rio de Janeiro. Paz e Ter ra, 1987: SidneyChalhoub, Visces de Liberrlade: Uttla Ilistriu das ltirnus dcaticls da Escravido na Cor te,So Paulo, Companhia das Le t~ as , 990; Manuela Carneiro da Cunha, Negros estrangeiros:osescravos libertos e suo voltu Afica, So Paulo, Brasiliense, 1985; Lara, Cartrpos da violnc ia.

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    cativo "rebelde" qu e to som ent e procurava "reagir" contra a s crueld ade ssenhoria is acabou por limitar um entendimento mais amplo da luta escra-va. A escravido foi, sem dvida, violenta. Nela, porm, mi lhare s d e ho-mens e mulheres no s sobreviveram como tambm procuraram, namedida do possvel, organizar s ua s vidas. Recriaram-nas atravs d e vriosespao s d e resistncia e busca por autonomia, onde incluam-se a ge sta-o d e comunidades, laos familiares, cultura e em alg um as ocasies at de uma econom ia prpria.3Es te artigo tem como objetivo analisar vrios aspec tos da constituiode mocambos e quilombos no Rio d e Janeiro nos sculos XVIII e XIX.Atravs d e uma documentao em gran de pa rte indita visitaremos a lgunsdes tes redutos, assim como os contextos scio-econbmicos e demogrilcosem que s e formaram, procurando destacar sem pre q ue possvel organiza-o social, economia, cultura, alianas e conflitos com outr os gru po s e a sestratgias da s autoridad es coloniais fluminenses na tentativa d e des tru-10s. Enfim, ve rem os com o no Rio d e Janeiro, j em me ados do sculo XVIIcomeava a se r criada uma tradio rebelde de constituio d e comunida-d e s d e fugitivos.

    A histria do comeoApesar da falta de pesqu isas empricas d e maior flego, a historiografiaso br e o Rio de Janeiro n os sculos XVII e W I I I tem apontado a existnciade m uitos m ocambos.Es te s situavam-se tanto prximos Co rte com o no interior da capita-nia. Nas regies mais d is tantes , como Campos e M acae, ou me sm o e mvr ias 10,calidadesdo Recncavo da Guana bara, apareciam aqui e acolfugitivos e aquilombados q ue eram logo perse guido s por capites-do-mato. A respeito de ste s havia provises e nom eaes d e patentes des-de as primeiras dcadas do sculo XVII. J em 1625, segundo VivaldoMaria Helena Toledo Machado, O Plano e Pdnico, os movimentos sociais na dcada d a Abo-lio, Rio de Janeiro, Editora UFRJ,EDUSP, 1994; Joo Jo s Reis. Rebelio escrava no Bra-sil. A histria do levante dos Mals (18.?5),So Paulo, Brasiliense, 1986; Stuart B. Schwartz,"Mocambos, Quilombos e Palrnares: a resistncia escrava no Brasil Colonial",Estudos Eco-nbniicos, nQ 17, (1987), pp. 61-88 e Robert W. Slene s, "'Malungu, Ngoma vem!': hr i c acoberta e descoberta no Brasil', Revista USP, nQ12 (dez./jan./fev., 1991-1992), pp. 4 8 6 7 .

    Para uma anlise mais recente sobre quilombos e suas relaes com vrios setoresda socied ade escravista do Rio de Janeiro do scu lo XIX, ver: Flvio dos Santos Gomes,flist rias de quilonbolas. Mocut~ibos Comrrnidurles de Senzalas no Rio de Janeiro -SculoXiX, Rio de Jane iro, Arquivo Nacional, 1995.

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    Coaray, o problema dos mocambos no R o d e Janeiro "apresentava gravi-dade bastante para m otivar med idas repressiva^".^Vrias expedies punitivas seriam organizadas. Em 1659, a s noticiasdo interior qu e chegavam a cidade do Rio d e Janeiro informavam que o s"negros abandonavam as lavouras e homiziavam-se nas m atas do sert o,indo estabelecer quilombos as m arg ens do Paraba, o nde se aliavam ao sndios bravos de que ainda por ali havia nm ero considervel':. Dez ano sdepois, a s auto ridades fluminenses preocupavam-se com a movimentaod e grup os quilombolas bem prxima a capital da capitania. Alm dos es-cravos africanos que estavam abandonando o s enge nhos e refugiando-sena s "matas da S erra dos rgosn, sabia-se qu e os "quilombolas passa rama praticar furtos e assaltos nas regies d e Inhama, descendo m uitasvzesem seu atrevimento at a entrada de So C ri s t o ~ o ". ~

    O documento mais antigo que encontramos sobre os mocambos dacapitania do Rio d e Jane iro data do final do sculo XVII. Em maio d e 1691,informava-se ao governador Luis Csar de M enez eshaver no serto desta Ciclade hum mocambo de negrosfogidos com gra nd e quantidacle de ge nte nas ca bece iras doRio Guand donde vem a fazer assaltos pelas fazendas, rou-bando, e levando os escravos com que s e beneficio no queactualmente esto padecendo os moradores desta capita-nia gran des perdas ...(...)

    De fato, os qu ilombos j pareciam ser naquela ocasio um problemacrnico para a referida capitania. Talvez sua proximidade das periferias edos centro s urbanos assus tasse sobrem aneira as autoridades. Alm d ascons tantes d ese r es de cativos havia o perigo do incitamento a insu rrei-o. Era necessr io providncias rpidas e efet ivas. Para combaterquilombolas no interior da s matas e ra pi'eciso contar com ho me ns experi-en tes nest e tipo de servio. Naquela ocasio, pediu-se autorizao ao go-vernador local para que Antonio Raposo fosse "conquistar o dito mocambo".Este, m orador d a capela d e Taubat, ao que parece estava s de passagempelo Rio d e Janeiro, m as s e colocava disposio para realizar a tarefa,apesa r do "grande risco que cor re a sua peoa". Seria necessrio, ento,

    Ver: Vivaldo Coaracy, "Quilombolas no Rio de Janeiro", in: Edison Carneiro (Org.),Antologia do Negro Brasileiro (Rio d e Janeiro: Ed. Globo, 1950), pp. 213-4 e O Rio de Janeirono Sculo Dezessete, Rio d e Janeir o, Lhlraria Jost. Olympio, 1965.lbid.

    ti AN, COdice 77, Ord ens Rgias -governado res do N o de Jane iro (1689/1693) , Volu-me 2, 31.05.1691, fl . 12v.

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    tamb m autorizao para que pudesse reunir "gente necessria" e "fazerde spe za considervel". Teria ainda permisso para "uzar d e todos o s estra-tagemas d e gu err a para destru ir o dito m ocambo e prezionar a todos ne-gro s e gente que nelle s e acho[,] matando o s que s e no quizerem entre-gar". Q uanto a tomadia a s e r cobrada pela captura d os quilombolas, cad asen ho r pagaria "20s por cada hu m delles" , e aqueles que s e recus assem aefetuar tal pagam ento perd eria para o referido a posse do escrav o captura-do e a t vend-lo. Finalm ente teria ele direito d e ficar com "todas a s criasque ap anh ar nascidas no ditto m ~ c a m b o " . ~No s abem os s e esta expedio preparada por Antnio Raposo foi, enfim,realizada. Ou mesmo, se realizada, conseguiu sucesso, capturando muitosquilombolas e destruindo s eu s mocambos. De qualquer maneira, quatro an osmais tard e o ento governado r Sebastio de Castro Caldas era ainda informa-do do s "prejuzos" e "vexaes" provocados pelas aes dos quilombolas nacapi tania . Conforme informaes, os "moradores desta c idade e s e uRecncavo" estavam sofrendo muito incmodo^.^ Alm disso, o problemaagora parecia ser mais complexo. A questo no era to som ente impedir ossaques , roubos e razias levadas a cabo pelos quilombolas. Eles- egundoalgumas investigaes- stavam contando com a proteo nos de o utr osescravo s m as tam bm de alguns fazendeiros. Dizia-se me sm o do "acolhi-mento que do em suas cazas e fazendas dos negros fugidos a s eu s senhores".

    Envolvidos nessa "proteo" havia, inclusive, segu ndo constava, pessoas"poderozas contra q uem s e no atrevem os se nh ore s do s escravos fugidos adenunciar e uzar dos m eyos ordinrios pello pouco effeito e mayor dano quedahi s e lhe pode seguir". Tal situao estava provocando um clima de tensoem vrias regies do Recncavo da Guanabara, uma vez que a s fugas d e es-cravos estavam aumentando. Alis, o mais grav e de tudo isto, conforme aavaliao dos senhores e das autoridades, "h que os mesmos negros queservem nas fazendas do seu s senho res ou em su as senzalas os induzem [osquilombolas] e oculto com enteresse de se aproveitarem de seu tr a b a lh ~ " .~As teias e as redesEm todas a s rea s das Amricas Negras onde s e estabeleceram a s comuni-dade s d e escravos fugidos, destaca-se- omo bem frisou Price- manei-

    Ibid.* AN, Cdice 77, Or de ns Rbgias- overnadores do Rio de Jane iro (1693/1699), Volu-m e 6, 10.06.1695, fl . 30.

    Ibid.

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    ra com o s e forjaram polticas de alianas entre o s fugitivos e outros se tore sda sociedade. Foi assim na Jamaica, Haiti, Colmbia, Brasil, Su rinam e e e moutras regies escrav istas onde quilombolas, cimarrones, palenques, cum be se ma roons procuraram organizar su as comunidades, tentando manter a todocusto sua autonomia e ao m esmo tempo agenciando estratgias de resistn-cia junto a piratas, indgenas, com erciantes, fazendeiros, lavrado res, at au-toridades coloniais e principalmente daqu eles que permaneciam escravo snas plantaes. Foi, se m dvida, a partir d e tais estratgias- ermeadas,algum as vezes, d e contradi es e conflitos- ue o s fugitivos imprimiramsentido a suas vidas como sujeitos de sua prpria histria.1No caso da capitania do Rio d e Janeiro, j no final do sculo XVII, o squilombolas assim procediam . As autoridades, alm d e preocupa das coma "proteo" q ue eles tinham d e alguns fazendeiros, para o s quais, inclusi-ve, realizavam pequenos servios, e dos contatos perm anen tes q ue tinhamcom outros cativos nas senzalas d e engenho s prximos procuravam m eiosd e reprimir um outro "mal" qu e cada vez mais ficava impossvel d e contro-lar: as red es d e comk rcio clandestino do s quilombolas com ve ndeiro s etaberneiros. No interior destes estabelecimentos aqueles encon travam tantoparce iros ideais para trocas econ micas- ermutavam os excedentes desu as econom ias por sal, munio e outro s produtos qu e necessitavam -como tamb m uma po derosa re de d e proteo e solidariedade. Sobre qual-qu er movimentao d e tropas para persegui-los eram logo avisados. Des-ciam d e seu s mocam bos, visitavam se us parceiros escrav os, pernoitavamm esm o nas sen zalas e frequentavam a s tabern as. Ali bebiam e at partici-pavam d e batuques."Era preciso reprimir. As autoridades sabiam disto. O problema dosquilombos alcanava outras e com plexas dimenses. No ficavam el es tosomente isolados no interior da floresta - nde os havia colocado ahistoriogafia da escravido at o s anos 70 -, marginalizados do res tan teda sociedade escravista. Pelo contrrio, seu perigo estava, em algumassituaes, na s ua proxim idade cada vez maior. A dinmica das comunida-d es d e fugitivos era neste contexto paradoxal: precisavam s e man ter afas-tadas o suficiente para proteger se us m ocambos, m as ao m esm o tempo

    l0 Para um a viso panoi-lmica ainda atualizada so bre a s comu nidades d e e scrav os fugi-dos, ve r: IGchard I'i-ice (Oi-g.),Maroon Societies. Hebe l Sluue Com ~aunit ies n th e Americas2a ed., Baltimorc. 'l'hr Jo hn s Hop kins Uiiivcrsity P ress , 1979.Sobre as d iversas e complexas relacs entre o s quilombolas da regi50 de Iguau noN o d e Janeiro ao longo do sculo XIX, ver: Flvio dos Santos Gomes, " 'O Campo Negro'd e Ig~iau :escrav os, a mp orieses e rnocambos no Rio de Janeiro (1812-1883)", Estudos Afio-Asiuticos, nQ 25 (dcz., 1993), pp. 43-72.

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    prximas o bastante para efetuarem trocas mercantis.12 Para alm de um arelao to s om en te econmica, esta proximidade acabou por modificar eforjar novas rela es com vrios se tore s da sociedade escravista. Assim, avida de se nh or es e escravos no podia s e r mais a mesma.No Rio de Janeiro, a s autoridades coloniais sabiam deste perigo. Aindaque, certam ente s em muito sucesso, providncias foram tomadas. Em maiode 1695,determinou-se:que qualquer pessoa d e qualquer qualidade e comdisso queseja que constar te10 lhee ou consentir em sua caza ou hzen-da negro cativo, ou mulato fugido se m qu e logo o rem eta acusta do Sr. a cadeya desta cidade ser condenado e m vintemil reis pagos e m dois mezes d e prizo conforme s ua qua-lidade e sendo negro ou mulato o s que o s tais negro s oumulatos fugidos recolhe r induzir ou tiver em su a caza, se-ro assoutados em o pelourinho desta cidade e hiro traba-lhar dous mezes a sua custa nas obras da s Fortalezas della.13

    Alm de proibies e punies para aqueles qu e de ssem couto aos es-cravos fugidos fosse na s cidades ou n as rea s do Recncavo, a s tabernas ese us proprietrios deveriam s e r vigiados de perto. De ste modo, igualmen-te foi determinado que:

    o vendeyro ou vendeyra que em sua caza ou em outrasimilhante consentirem jogos e ajuntamentos de negros ca-tivos ser condenado pela primeira ve s em cinco mil reis epellas mais e m dobro, e a s ditas conde naen s a m etadedellas sero aplicadas para os quartis do s soldados que s eho de fazer e a outra m etade para os denun ciarem contraa s pessoas q ue enco rrerem neste bando cujas cpias seroremetidas e postas nas partes mais pblicas do Recncavodesta C idade e para q ue che gue a noticia de todos e noposso chega r ignorar es te s e lance a tom d e caixas regis-trando s e nesta secretaria e donde mais tocar e s e fixar naparte c o s t ~ m a c l a " . ~ ~

    l2 Price j destacou isto para a s comunidades de escravos fugidos nas Amricas. Param a nalise geral mais atualizada, ver: Richard Price, "Resistance to Slavery in the Arnericas:Maroons and their Cornrnunities", Inlllun Historicul Review, ny 15, (198889), pp. 7595.13AN,Cdice 77, Ordens Rgias -governadores do Rio de Janeiro (1693/1699), Volu-

    me 6, 10.06.1695, fl. 30.l4 Ibid.

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    Para um efetivo controle da m assa esc rava, inclusive do s quilombolas,tinha q ue s e vigiar tanto o centro da cidade com o o interior do Recncavo.Quilombolas ou simplesmente escravos fugidos poderiam ser encontra-dos tanto nas profundezas da s matas, protegidos por se rr as d e difcil aces-so, com o no interior da s senzalas, nas cas as d e negros, cativos ou forros,nas cidades e principalmente nas vendas e tabern as. A prtica d e "ajunta-me ntos d e negros" e m tabe rnas parecia j se r comum. Motivados ou no,to som ent e por fins econmicos, taberneiros consentiam- ossem ele sbrancos p ortu gue ses ou pardos brasileiros- ue o s escravos a s frequen-tassem . Tal prtica, por certo acontecia nos sbad os, domingos, feriadosreligiosos, ou nos dias d e semana d urante a noite. Em cidades com po rtosprximos, a s tabe rnas eram disputadas conjuntamente por escravos, sol-dados, ma rinheiros estrang eiros e caixeiros-viajantes.15 Quilombolas po-deriam esta r por perto, misturados com outros escravos. Apesar do s olha-res aten tos d as autoridades, a vigilncia nas cidades , pela prpria natu rezada escravido urbana tendia a se r mais frouxa. Tentava-se contudo controlaro mximo possvel a populao da s cidades, principalmente negro s e mesti-os16. Ainda em 1693, repetia-se o bando que determinava a proibio doporte d e arm as depois do toque das Ave Maiias. Os infratores de qualquer"qualidade e condio" pagariam multas, alm de ser em obrigados a traba-lhar nas obras da cidade. Quanto a populao de cor determinava-se que:

    todo o mulato, negro ou carij que d e dia ou de noute forachado com arm a de fogo, carreg ada hvera pena d e mor-te, e sendo com qualquer outro gen ero d e arm as ofensivasou defensivas, a saber, espadas, adagas, facens, faquas,paos de ponta Ihes tomaro o s officiaes d e Milcia ou Justi-a que os havero como sua s, e os deliquentes s ero casti-gados com penna d e cem assou tes ao p do pelourinho hiroferir por tempo d e seis mez es nas obras e limpeza d e huada s fortalezas da Barra sendo achado s de dia, e s e foremacha dos de noute serviro na mesm a forma por tempo d ehu anno e som ente lhe s ser permetido levarem espada naocazio que acompanho a se us sen hor es aL 7

    l5 Uma anlise instigante a respeito das complexas relaes en tre escrav os e marinhei-ros nos "mundos atlnticos" encontra-se em: Peter Idnebaugh e Marcus Rediker, "TheMany-Headed Hydra: Sailors, Slaves, and Lhe Atlantic Working Class in the EighteenthCentury", Journal of FIistorical Sociology, nQ 3, (Setembro 1990), pp . 225252.' V a r a uma aborda gem sob re o controle social junto aos neg ros e mestios no Rio d eJaneiro no sculo XIX, ver: Cunha, Negros, estrangeiros, pp. 74 et passim.

    l7 AN, Cdice 77, Ordens Rgias - overnadores do Rio de Janeiro (1693/1699),Volume 6, f l . 6, 02.07.1693.

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    O prprio gov ernad or Castro C aldas, e ou tros ante s dele, na tentativad e controlar a populao negra procuraram at me sm o regulam enta o us oele roupas d a s escravas. Reclamava-se do "excessivo luxo" d as ne gra s, um avez qu e "escedio a m odstia nos trajes d e vestir com muito m au exemploe prejuzo grave a s eu s senhore s, e su as famlias e o utras mais cauzas emrisco d e considerao d ignos d e s e atalharem".18Quanto ao s quilomb os na capitania do Rio d e Janeiro, j pareciam umproblem a incontrolvel no alvo rece r do scu lo XVIII. Em 1699, o rei envi-ava uma ca rta rgia ao governador Artur de S e Menezes preocupadocom a questo. Dizia, ento, qu e continuavam ou m esm o aum entavam o s"roubos, e m alefcios, que custumo faser nas es trad as os ne gro s fugidosao s morad ores d ess e E stado, buscando para es te fim sitio acomodad o emalguma Serra , onde s e ajunto, e sahem a fazer o s clitos excessos". Lern-brava ainda das providncias no totalmente satisfatrias clos governado-re s anteriores - rincipalmente C astro Caldas- ressaltava a necessi-dade ele s e evitar "excesso s" n as ~lilig6 ncia s. '~Diversa s vezes, por ocasio de ex pedie s punitivas- leviclo a luta eresistncia do s quilombolas reescravizao - cabava havendo m orte scom prejuzos para os donos de escravos. Era comu m tam bm have r arbi-trariedades por parte dos solclaclos e comanclantes das expeclies pu-nitivas. M uitos cluilombolas eram m or to s indiscriminaclam ente. Para evi-tar os reclamos do s senho res- omo tinha acontecido alguns anos an tescom a m or te d e um quilombola pelo capito Roque Fe rna nd es - estam esm a car ta rgia d eterminava o rei que s e devesse "tirar devassa, e cons-tando q ue a s m orte s s e fizero, ou foro accidentes, ou n ascidas de resis-tncia". Terminava pedindo proviclncias efetivas quanto ao problema doaum ento d os quilombos no Rio d e Janeiro. Lembrava qu e caso ao contr-rio o s quilombolas viriam "faser ne ssa capitania o q ue fisero nos P alm are sd e P e r n a m b u ~ o " . ~ ~mem ria da luta secular clos quilombos de Palm aresestava bem viva na mente do Rei. No poderia existir outros P a l m a r e ~ . ~ 'Bacaxh e outros quilombosO sculo XVIII inicia-se na capitania do Rio d e Janeiro com m ais d en ncia sso br e a form ao ele novos mo cam bos. J no final ele 1712 prepara-se um a

    l8 Ibid., 04.07.1696,fl. 53 .IYBNN, Seqo de M anuscri tos, Cdice I 1 - 34, 23, 1 n. 57, 24.09.1699.2"bid.21 Seria interessan te anal isar de que modo a tradiqo d e luta de P a h a r e s p er ma ne ce uno imaginrio d a s autoi-idades coloiiiais nos sccu los XVII e XVI I I .

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    expedio para de str ui r "vrios quilomb os d e escravo s fugidos" localiza-do s no Recncavo, mais precisam ente prximo a os distritos d e Santo An-tnio d e S e Macacu. Para realizar tal diligncia a s auto ridad es contariamcom a ajuda de Antnio Machado, um "homem sertanejo e morador nascabeceiras c10 Rio Mag". As expedi6es com pos tas s por so ldados ou capi-tes-do-mato, ao qu e s e sabe, no estavam dando "boa conta". J o referidoMachado s e propunha a levar "alguns indios que tem tirado dos m attos porsua gra nde inteligncia e que est es so gra nde s rastejadores da s trilhasdos ditos quilombos a qu e s e deve acudir com remdio prompto". A ele eratambm autorizado a buscar "alguma ajuda e favor de todas a s fazendas poronde paar". Igualmente teria prerrogativas para "prender todos aquellesdelinquentes e parciaes dos dittos quilombos que tiver noticia se comunicocom elles". Outro fato interessante foi a condio imposta pelo referidoMachado para com andar aquela expedio. Ele era um condenado "perantea s ju st i~ as m crimes", e assim temia ser preso. Fezum acordo com a s auto-ridades qu e s e caso fosse bem sucedido teria perdoados se u s crimes.22No ano segu inte noticiava-se a existncia de mocambos no distrito de SoJoo d e Icara e o s conseq ente s "excessivos roubos" e "muitas mo rtes"e fe tu ad as pelos q u i l ~ m b o l a s . ~ ~Recncavo parecia estar florido democam bos por toda a parte. Em Macacu, em agosto de 1724, confirmava-seapatente destinada, desde 1711,para Antnio de Souza ocupar o posto de "Capi-to das entradas dos matos e sertos", com vistas a combater os q ~ i l o m b o s . ~ ~No incio da dca da de 1730 a s autoridades coloniais voltaram os olh ospara a localidade d e Bacax, onde existia um considervel mocam bo. Es taregio , conhecida como rea de "ser to" , loca l izava-se prxima aoRecncavo da Guan abara junto a um rio tam bm cham ado d e Bacax, es-tende ndo -se at o sul da Lagoa de S aqua rem a e tambm limitando-se como se rt o de Tan gu. P ar te dela er a constituda por terra s devolutas aindano cultivadas. Bacax p ertencia ao distrito d e Sa quare m a, divisando comos distritos de Cabo Frio, Itabora, Maric e Santo Antnio d e S, re as quecomeavam a s e destacar na produo d e acar j no primeiro quartel dosculo XVIII. Eram , entretanto regies pouco ~ ~ o v o a d a s ,stando a escra-vatura espalhada em fazendas de gados, engenhoc as d e aguardente e en-gen ho s d e acar.25

    "AN, COdice 77, Or de ns Regias -gov erna dore s do Rio de Jan eiro (1710/1713), Volu-m e 22, 13.12.1712e 01.02.1713, f l . 68.23 Ibid., Volume 23 (1713/1718), 18.10.1713,i.270.24 Ibid., Volume 11 (1710/1712), 19.08.1724, i.31.25 Cf. Jo s Antnio So are s Sousa, "Quilombo d e Bacax", RIIIGB, Vol. 253 (1961-621,

    p. 4 .

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    Desde o final de 1729 falava-se em Bacax d e "de linquentes refugiadosno Ao qu e parece, o s quilombolas estavam suficientemente es-condidos no interior das matas. Em meaclos de 1730 um fato cria pnico naregio e desperta ateno das autoridades a respei to das aes dosquilombolas. Segundo informaes do juiz ordinrio d e Saqu arema Sebas-tio Gom es Sardinha:

    hindo dous ranchos de cas sadore s des se Destricto para o smo ntes d e Bacax, foro assaltados por hua parf da d e maisde sincoenta negros arm ados com arc os, e flechas e outrasa rm as , e que mataro o s c a s ~ a d o r e s . ~ ~Informaes posteriores mais detalhad as deram conta q ue eram "ses-senta negros" e que o s caadores "brancos mo rtos foram sm ente dous etr es qu e escaparo". Munido de tais informaes o governador da capita-nia, Luiz Vahia Monteiro logo procurou tom ar providncias. Em 11d e agos-to enviou o rd en s ao capito-mor da vila de Santo Antnio d e Sa, Caetanode Souza Pereira, para q ue extinguisse o "quilombo ante s que o seu exces-so faa maiores demazias". Na mesma ocasio, oficiou ao comandantemilitar d a regio determinando que e ste prep arasse uma diligncia, reu-nindo para isso "officiaes de maior confiana, e soldados auxiliares emateiros". Dias depois o referido governador j recebia mais inform aes.Tomaria conhecimento:

    que os ne gros so muitos e qu e esto situados com cazas, erossas h muitos annos o que naturalmente pode s er e mq u a n t o n o f a z i o i n s u l t o s , m a s d e p o i s d e s t e s h impraticavl dissimular se melhan te atrevimentos, a vista doque necessario no s extinguir o dito quilombo m as pren-.der todos os negros, e negras e filhos que tivessem nomato.28

    Es te s quilombos, alm de antigos, eram grande s, ou seja, contava comdezenas d e habitantes. Talvez sua populao alcanasse mais de cem pes-soas. Lembremos que o s caadores disseram ter sido atacados por cerc a

    26AN, dice 64, Registro Geral d e Ord en s likgias (1694/1734), Volume 3, 23.12.1729,fl . 590.AN, Cdice 84, Corres pond ncia dos gove rnadore s do Rio de Jan eiro com Dive rsasAutoridades (1720/1732), Volume 3, 11.08.1730, fl . 4v.

    28 Ibid., 15.08.1730, fl. 5v.

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    d e cincoenta a sesse nta quilombolas. Por outro lado, este n me ro podiater sido exagerado tanto pelos refericlos caadores como pelas autorida-des locais, chamando assim mais ateno do governaclor. De qualquermodo, j estavam e les "situados com Cazas" e tinham "rossas". N o pare-cia ser, portanto, um pequeno gru po d e quilombolas apenas "salteadoresd e estradas".Ficam, porm, algum as indagaes. Po rqu e teriam ele s atacado e ma-tado o s caadores? Teriam os caado res adentrado o interior daquelas ma tase ch egado muito perto dos s eu s mocambos? Por certo, aqueles quilombolasestavam s e protegendo. Sabiam eles qu e a s expedies reescravizadorasera m an tecedid as por pa trulhas d e mateiros q ue procuravam localiz-los.Parece, inclusive, que s e os c aadores no fossem atacados a s autoridadesno teriam conh ecimento d este quilombo. Elas, assim como o s sen ho re sda regio, sabiam da s constantes fugas d e escravos e qu e aqui ou acol s eformavam gru po s de c~uilombolas ue praticavam rou bos, Entretanto, notinham co nhecim ento cle um mocam bo h muito tempo estabelecido comcasas e roas. Alis, segundo o prprio governador o mais perigoso noera a existkncia des te quilombo m as a sua "ouzadia" d e atacarem caado-r e s e "insultarem a s c a ~ a s " . ~ ~O go ve rnad orva hia Monteiro estava decicliclo a destruir completamenteest e mocambo e capturar todos se us habitantes. Para isso determinou amobilizao clas "companhias militares d e Maric e Saquarema". Ch am ouateno para que a expedio fosse bem planejada, para dar resultaclos.Des tacou para o coronel Prado:

    tomem a sahicla para a parte do s campo s novos, e depoisatacallos por esta bancla; e advirta V -M erc ao s officiaes,que nio m e conten to com os afugentar, nem com a clisculpade s e metero no mato, porque ess e mesmo mato, por ondeentro os negros, podem entrar os soldados e brancos, ef ina lmen te h necess rio que o s v ivos ou m or t os s erezistirem venho a minha prezena porque d e outra s ort eviram todos o s dias os negr os a insultar e ss e Paiz nas pr-prias cazas com escandallo nosso, e talves ser n ecess rioqu e V.Merc s e ponha perto claquelle citio para da r a s or-de ns necessarias ao s que entro pelo mato, e receb er o sseos avizos com brevidade para lhe dar Remdio p r ~ m p t o . : ~ ~

    29 Ibid.30 Ibid.

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    per ante am eaas. Foi dito a ele para "se entre ga r os negros", caso contr-rio ser ia enforca do "por s e r cmplice no s se u s delictos". Nesta expedio,porm, um outro problema com um nas diligncias contra mocam bos apa-receria: de so rd en s e motins na tropa. No s no sc ulo XVIII com o tam-bm no sculo XIX reunir tropas- ossem regulares ou a Gua rda Nacio-nal- ra uma tare fa difcil. Alm do prob lem a ela falta d e arm am en to emunio havia o perigo das deser es, deso rde ns e motins por parte d ossoldados. Por ocasio da tentativa de destruio do m ocambo de Bacaxa,parte da tropa acabou promovendo saq ue s em algu m as fazendas, princi-palmente no enge nho do defunto Andr d e Souza. Segundo denncias re-cebidas pelo governa dor Vahia M onteiro o s soldados "quiseram amotinarno m ato" e "fizeram bas tan te es trago na fazenda do dito defunto, matanclo-lh e gado vacum , porc os e aves, e tomando-lhe todos o s queijos". Imediata-mente o referido governador pediu providncias e punies ao coronelJoo d e Abreu Pereira, do clestacamento d e M aric, lem brand o-lhe que viad e regra o s soldados "se interessam mais no saquey o qu e nas dilignciasdo s er vi o a o s q ua es te m os s e m p re em pou ca r e p ~ t a a m " . ~ ~Afora tais dificuldades costum eiras, a expedio conseguiu capturar"dezoito cabeas dos negros, e negras, que t inham clezamparaclo oquilombo". Gran de pa rte d os quilombolas- lis, com o tinha previsto ogovernador- cabou refugiando-se nas matas, povoados e e ng en ho s vizi-nhos. Assim er a a estratgia d os quilombolas. Procuravam a todo cu stodefender se us m ocam bos, s e no conseguiam internavam-se na florestaou ficavam algum tempo recolhidos- m senzalas, vilas e arra iais prxi-m os- depo is escolhiam ou tros locais para es tabe lece r novos acam pa-mentos. Em Bacax o de stacam ento de Santo Antnio d e S, comandadopelo coronel Jos d e Aquila, descobriu q ue existiam dois mocam bos: o"quilombo novo" e o "quilombo velho"." Por certo, s ab ed or es da expedi-o punitiva abandonaram um d os se us acampam entos, aden traram a flo-resta e estabeleceram-se em outra rea. Tinh am ento, muitas clas vezes,qu e reorganizar su as econom ias em novos locais. Eram perodos difceispara a s co m unidad es d e fugitivos. Talvez tivessem qu e conviver longosperodos na penria d as florestas, fugindo d as exped ies punitivas.As histrias de mocambos fluminenses no sculo XVIII, entretanto,no terminam naquela tentativa d e de strui o em Bacax. At o final dosculo surg iriam notcias a respeito de com unidad es de fugitivos por todaa par te. Um episdio intere ssa nte -sob re o qual infelizmente tem os mui-to poucos clados- o do quilombo do Curu kang o. E ste m ocam bo locali-

    34 Ibid., 27.09.1730, f l. 22v.35 I bid., 02.10.1730, f l. 26v.

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    zava-se nordeste cle M aca- or te da capitania- rximo d as nascen-tes do rio do Deitado, afluente do So Pedro. Era liderado por um cativofugido africano, de origem "moambique", denom inado Curulm ngo (tam-bm conhecido por Carucango ou Querucang o). Consta q ue e ste africanoteria assassin ado o se u s enho r, Antnio Pinto. e s e internado na m ata, pro-curando form ar um mocam bo. Este, posteriormente chegou a ter cerca deduze ntos negros, tendo "muitas ro as d e milho, feijo e ou tros cultivos".Dizia-se tambm qu e est es quilombolas praticavam s aq ue s e assa ssinatos,send o a s escravas da rcgio "levadas a fora da casa do s senhores". Um aexpedio comandada pelo chefe do destaca men to militar local, Anto deVasconcelos, perseguiu e capturou Cu rula ngo. Consta, igualmente, qu eo "furor" da tropa punitiva foi tam anho que os quilombolas "foram degola-dos e a s suas cabeas espetadas em estacas margem da estrada geral,para se rvi rem de exemplo ao s outros escravos".36Ou tro s moc am bos surgiriam naquela capitania. Em 1759,a s autorida-des novamente tentavam perseguir quilombolas. Desta feita a rea dose m ba t e s s e r ia a regio de M acacu, no mui to d is tante d e Bacax ,Saqu arem a e M arica. O vice-rei, cond e de Bobadela, trocou vrias ca rt ascom o sargento-mor Manoel Gom es Pereira so bre "os prog resso s so br eadiligncia da destruio do quilombo" local. Sabe-se que alguns "negrosaquilombados" ac abaram p resos e reme tidos para a cadeia. O utro s foramferidos por ocasio da expeclio e seguiram para o hospital. A persegui-o continuou at o final daquele ano, visando as autoriclacles extinguir"por hum a vez todos o s quilombos que ouverem por e ss e Recncavo paraqu e vivo em socego os m orado res delle", Sen ho res e au toridade s procu-ravam tambm descobrir o s escravos e libertos qu e tinham "comunica-o" com os fugitivos. Havia tambm em Macacu o problema costum eirodas tabernas e os con ta tos envolvendo seus donos com os q u i l ~ m b o l a s .~ ~Em meados de 1761 tenta-se providenciar mais diligncias contramocambos, des ta vez na regio d e Santo Antnio cle S. J em janeiro d e1762, notcias da vila da Tacoara alertavam para a "grancle dezordem edistrbios" provocados por quilombolas. Este s estavam "acomettenclo a scaz as e ross as" da regiiio. Em maio de ste mesm o ano falava-se da prepara-o de uma diligncia contra os mocambos de Parati. O ano de 1763

    3 V ~nt30 d e Vasconcclos, Cri) /les Cblebres e111Mumk , kio d e Janciro , 1911, pp. 41-61 e Alberlo R. Ian icgo , "O Carunkango",Anurio Geogrdfico (1'0 Estado do Rio de Juneiro,nQ11, (1958), pp. 97-99."AN, Cdicc 84, CorrcspondCncia dos go vernado res d o Rio de Janciro com diversasAutoridades (1757/1763), Volume 14 , 07.09.1759, fl . 188v; 17.09.1759, fl . 190v; 28.09.1759,f l. 193; 17.10.1759; 30.10.1759 c fl . 198v.

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    marcado por vrias informaes dando conta dos mocamb os da regio d eIcara, prxima cla vila d e Niteri. Na ocasio, a s au toridades procuravamigualmente vigiar a s tabernas. Denunciava-se m esm o qu e s eu s propriet-rios no a s fechavam depois das 8 ho ra s da noite e consentiam "batuquese o utro s folguedos a s eu modo". O s taberneiras s e mostravam "rebeldes edesobidientes" com relao a s determina es quanto ao funcionamentodas tabernas, e "descompoem e injurio aos soldados que lhes mandofechar". Des te modo, o s quilombolas continuavam "vindo de noite fora dehora s a s tavernas a contratarem, e refazerem s e do q ue lhes h e precizo atroco d e roubos". Devido a tais problemas crnicos a s autoridades coloni-ais fluminenses chegaram a determ inar a priso de "todas a s pesso as d eque tiver notcia passo avizos ou do ajuda e favor aos calham bola^".^^Entretanto , aincla no ano d e 1764, mais noticias chegavam , falando de "mor-tes, roubos e outros irisultos mais" praticados por quilombolas tanto emIcara como nas vizinhas "paragens chama das Titioca, Cobango, Pinditiba,e Engenho de Antnio da F o n ~ e c a " . ~ ~m 1779, reclamava-se do s fudt ivo se quilombolas da regio de C ampo Grande e da fazenda d e Santa Cruz40.No final do sculo XVIII, mais propriamente no ano de 1792, o senado dacm ara do Rio de Janeiro oficia ao vice-rei a respeito da s "providncias"quanto "s en tradas dos Qu i l om b o~ " . ~ ~Os campos dos quilombolasNa regio de Camp os do s Goitacazes -bem ao nor te da capitania do Riode Janeiro- nstaurou-se tambm uma tradio de form aes d e comuni-dades quilombolas, ao que parece, d es de o final do sculo XVII. No ser t odo rio Urura, por exem plo, havia uma localidade no incio do sculo XVIIIconhecida como "ser to do C a lh a m b ~ la " ~ ~ .m 1751, o senado da cm arada vila cle So Salvador, admitindo que o problema dos quilombolas nestaregio, alm de crnico j parecia fugir ao controle ..-.- c?!-':iez q u e erzix

    a bid., 04.05.1761, fl271; 28.08.1761, fl . 290v; 22.01.1762, fl.305 evolurne 15,17.02.1763,f l . 8; 01.03.1763. fl . 14v; 14.02.1763, fl . 6v.

    39 AN, Viccliciiiado - Capilania do Rio d e Ja ne iro (1679-1808), Caixa 746 - pacote 2,16.03.1764AN, Casa Iinpci.ia1- Faze nda d e Santa Cruz (1779-1805), caixa 507, pacote 1.

    4 L AN, Vicc-Reinado- enado da Cm ara do Rio d e Janeiro (17581808), caixa 500,10.09.1792, pacote 1.4 2 Ci.Lara, Currifios 10 oiolnciu, p. 193.

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    constantes as denncias de roubos, assassinatos e seques tro de mu lheres- onclamava, atrav s cle edital, a "todos o s mo rad ores e capites-do-matopara q ue d essem no s quilombos" locais.43Em m eados do sculo XVIII, os moca mbo s pareciam continuar sendoo principal problema da regio d e Cam pos que j dava sinais d e francodesenvolvimento econm ico, com a expanso d a cultura d e cana-de-aucar.Alm da s providncias costumeiras, a s autoridades locais procuravam , name dida do possvel, ampliar a s caractersticas da repre ss o. S egun do SI-via Lara, a s "medidas d e tal amplitude, como autorizao do u so d e ar m as,iseno de pe nas para a s mo rtes d e fugitivos renitentes, exposio exem-plar d e cabe as [do s quilombolas] e financiamento da s expedies, pare-cem , entretanto, no ter t ido o s resultados desejado^".^^ Sabe-se que em1769 foi preparada uma gra nd e expedio para "dar n os quilombos dospretos fugidos" a se r com andada pelo mestre-cle-campo Joo Jos d e B ar-c e 1 0 s . ~ ~o final do sculo XVIII, ma is especificamente n o ano d e 1792, ovice-rei escrevia a cm ara da vila d e So Salvador ressaltando a im portn-cia de um a re press o efetiva aos "quilombos q u e existem nos ser te s des-te destrito". Nesse mesmo ano foi realizada uma diligncia contra osquilombolas d e toda a regio cam pista, utilizando-se para isso m ais d e 200hom ens. Vrios mo cam bos foram atacados, send o qu e conseguiu-se "nos arras-los como prender muitos dos seu s m ~ r a d o r e s " . ~ ~Represso continuava. As com unidade s quilombolas locais procuravamcom estratgias diversas manter su as autonom ias. Ne sse pro cesso histri-co, tense s, solidariedades e conflitos variados aconteciam . A propsito,em fins de 1796, send o ce rcada e invadida a senzala do pardo Joaqu im,escravo do alferes Miguel de Morais Pessanha, foram encontrados doisfugitivos. Joaquim acabou condenado "pelo uso de a rm as c ur tas e acoutadore inc1uzidor de escr av os Eugidos" e rem etido para a cad eia da Relao doRio d e Janeiro. Em outras ocasies, a repress o ao s quilombolas servia atmesmo para justificar arbitrariedades e mortes.47 Foi o que aconteceu,tambm na regio de Cam pos, em 1807, mais propriamente no se rto pr-ximo ao rio Muria, onde Anglica, preta escrava de Manoel Pereira daFonseca apareceu morta. Instaurou-se um a devassa, sendo ouvidas 15teste-munhas. O s acusados do assassinato foram Joo Fe rnande s e Jo s M onteiro,

    4 3 Ibid. p. 30044 Ibid. p. 305I Ibid. pp. 306-74"bid. p. 307" bid. p. 240

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    es te ltimo feitor d e um a Gze nda vizinha. Alegando inocncia d os acu sa-dos uma testemu nha declarou que estes, estando a ma rgem do rio, perce-beram qu e a preta Anglica "havia de ir para o q uilombo, o qu e ele [JooFern and es] no quis assent ir e por isso lhe fizera os ferimentos com q ue am esm a apare ceu morta". Impedir qu e um cativo fugisse para um d os vri-os q uilomb os da reg-io parecia ser, pelo m en os naquela ocasio, um moti-vo suficiente qu e justificasse a m orte d e um escravo. M esm o que a hist-ria fo sse falsa, ela confirma a existncia d e quilom bos na regio.48D es de a segu nda m etade do sculo XVIII a regio d e Camp os estavainfestada d e quilombolas e fugitivos escravo s. O reg istro da cadeia d a vilade So Salvador indicava 222 escravos fugidos presos entre 1759 e 1805.Entretanto, des te total, ape na s 11%, 5 escravos, foram pre sos co m a indi-cao de "quilombolas" ou "preso no q u i l ~ m b o " . ~ ~nalisando a res istnciaescrava em Cam pos entre a segunda m etade do sculo XVIII e o incio dosculo XIX, Slvia Lara tam bm des taca a existncia de tr s nveis cliferenci-ad os nas prticas repressivas ao s fugitivos e m ocambos. A primeira ser ia arepress o levada a cabo pe los capites-do-mato e s eu s auxiliares. Era um aprtica repressiva situada entre a esfera pblica e a privada, uma vez queape sar d e ser instituda pelo poder pblico quem pagava todas a s de spe saseram o s propriethrios dos escravo s e m questo. A segunda seria a repress oefetivada diretamente pelos particulares e/ou "moradores". E m no ra rasocasies os senho res cle escravos planejavam, preparavam e armav am se u sag re ga do s para efetuarem diligncias contra mo cam bos. O ltimo nvel d epratica repressiva er a aquele d e natureza m ilitar e administrativa.Ta mb m eram vrias as ocasies em que a Coroa tomava a si a respon-sabilidade de perseguir quilombolas, no s legislando a respeito comoigualme nte financiando e preparand o exped ies. Des taca a referida auto-ra qu e a atuao cla Coroa n este con texto, via de regra, p arec e te r estado"diretamen te relacionada ao grau d e periculosiclade e resistncia do s fugi-tivos ou a negligncia e desp reparo da s foras repressivas locais".5QO s quilombolas dos Cam pos do s Goitacazes montaram um ctsirio idealpara e stab elec erem -se. Vale a pena aqui citar alguns d etalh es de ste cen-rio. Esta rea teve o incio da sua colonizao nas primeiras dcadas dosculo XVII. Antes era h abitada pelos ndios goitacs, c on side rad os "fero-zes e bravios", dificultando a interiorizao d e colonos e o estabe lecim entod e prop riedades. No incio do sculo XVIII predom inou a criao d e gado .

    48 Ibid. pp . 1759" h i d . p. 24150 Ibid. pp, 309-11

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    Pos teriorm ente desenvolveu-se a cultura d e cana-de-aucar. Em 1737 estaregio possua apen as 34 eng enh os de acar, em 1779j existiam c erc ade 179 e em 1785 contavam-se 288 engenhos e en genhocas de aguarde n-te.51 Segundo o m arq us do Lavradio, entre 1779 e 1789 os en ge nh os daregio produziam acar "em m aior abundncia que o d os en gen hos dacapital e seu Recncavo". De fato, na seg un da m etad e do sculo XVIII coma franca expanso d a cultura aucareira na regio d e Camp os, o nm erod e fbricas acabou multiplicando "aproximadam ente por seis".52 Em 1799j existiam nesta regio 324 eng enho s, correspo nden do a 52,6%do total d e616 enge nho s de acar de toda a capitania.53Tal expa nso econm ica foi evidente. No final do sculo XVIII a regiode Cam pos produzia cerca de 128.580 arr ob as d e acar e 55.905 "medi-das" de aguarden te. O utras atividades econmicas tambm davam mo strade ss e desenvolvimento. A regio possua ce rca d e 218 cu rrai s com 55.672cabe as d e gado bovino e 13.201 de gad o cavalar. Quanto As lavouras dealime ntos colhiam 12.032 alqu eire s de feijo, 55.109 d e farinha, 17.102 d emilho e 4.458 de arroz. C olhem-se tambm 2.772 arro ba s d e algodo. EmCa m pos existiam ainda 99 teares e 51 olarias.54A consequncia da expanso aucareira foi o aumento populacionalcom a d em and a d e mo-de-obra africana para trabalhar na lavoura.55 Nofinal do sculo XVIII a populao total da capitania do Rio d e Janeiro er a d e179.595 pes soa s, s en do 52,5% ivres e 47,5%escravas. Em Ca m pos haviamce rc a d e 21.905 habitantes, equivalendo 12,4%.A populao escrava predo-minava. En quanto qu e na Vila d e So Salvador a porcentagem de es crav osera d e 59%, nas freguesias auc areiras m ais importantes, com o So Gon-alo e Santo Antnio de Gua rulh os, alcanava 62,1% e 77,9% respectiva-m ente. Nesta ocasio, Cam pos j s e tornara o terceiro maior contingenteescravo da capi tania , s perdendo para a regio do Recncavo daGuan abara, prximo a C ~ r t e . ~ "

    A estru tura d e posse do s escravos em Cam pos no diferia muito dospa dr es de outras re a s escravistas no Brasil do final do sc ulo XVIII.5751 Ibid. pp. 133 et passim52 Ibid.53 Ibid.54 Ibid.55 Ibid.56 Ibid.57 Ver: Stuart B. Schwartz, "Padrcs de propriedade d e esc ravos n as Arnericas; novaevidncia para o Brasil", Esturlos Econfinlicos,no 1 3 (1983), pp.259-96.

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    Em 1779, apen as 5 e ng en ho s funcionavam com mais d e 100 escravos (in-cluindo-se a a s propriedades religiosas, com o o antigo eng enh o d o s jesu-tas, com 1.400 cativos e o eng enh o do s beneditinos com 432). Ou tros cin-co eng enh os possuam entre 100 e 50 escravos e as d emais fbricas deacar- maioria (cerca de 149)- ontavam com m en os d e 50 cativos,sendo a mdia d e 15 escravos por plantei.58Foi neste contexto scio-econmico que o s mo cam bos estabeleceram-s e na regio de Cam pos, na capitania do Rio de Janeiro, pelo m eno s e ntr ea segun da metade do sculo XVIII e o incio do scu lo XIX. Ou tro s vrioscen rios foram, entretanto, montados. As principais re as d e form aesde co m un idad es quilombolas na capitania do Rio de Janeiro foram: Cam -pos d o s Goitacazes, C abo Frio, Parati e a s diversas r ea s do Recncavo daGu anaba ra (destacanclo-se M acacu, Saq uarem a, Maric, Santo Antnio d eS, Itabora, Mag: e Iguau). De um modo gera l eram r ea s prod utoras deac ar (algumas em franca expanso e outras de ocupao m ais antiga),agu ard ente e principalmente d e gitneros para o abastecimento da capita-nia (reas c10 Recncavo da Guanabara). Destaca-se ainda que alm daregio d e Campos- ue como j citamos ficava ao no rte da capitania-economia aucareira expandiu-se em direo ao sul, mais propriamentepara a s re as cle Parati e Angra do s Reis. Alis, a s r ea s cle Cam pos e Parati- om tradio na formao d e m ocam bos- specializaram-se na pro-duo d e aguard ente. O s m ocambos fluminenses, ento, formavam-se tantoem regies agro-exportadoras como naquelas produtoras de alimentos.Apesar da veloz exp anso econm ica de algu m as re as existiam, inclusi-ve, vrias te rra s devolutas. Havia tambm o aum ento considervel da po-pulao escrav a africana. Constitua-se assim um a fonte cada vez maior d eabastecim ento para o circuito cle ne gros fugidos.Segundo a s informaes do m arq u s de Lavradio, no final do sculoXVIII, havia te rra s devolutas por toda a parte. P odem os citar as r ea s d eSaquarem a e Campos onde, ao que parece, estabeleceram-se comunida-d es considerveis d e fugitivos. De S aqua rem a dizia-se qu e "no cam po d eBacax tem o Capitam Joz k t n i o Barboza hum a Igoa de terra , onde jteve gado , escravos, e culturas, e de prezentem ente no tem, e s mo rona terra algumas pessoas, s em foro nem penso; todos os cer tes estopor cultivar".5g J clos Cam po s clos Goitacazes inform ava-se qu e no "rioEm b, para cima de hu a posse qu e tem a Fazenda d'El-Rey, segu em mui-tas terras devolutas, sem senhorios em que proximamente s e tem pedido

    "8 Cf. h r a , Curtipos de violncia, pp. 133 et passim.RIHGB, vol. 47 (1902), p. 309.

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    trz sismarias , que ainda no viero, e so em te rras, que dizia Diogo Alvarezhavia muitoO s mocambos fluminenses procuraram, entretanto, estabelecer-se e mr ea s no m uito afastadas dos ncleos d e povoamento. Embora procuran-do a proteo geogrfica tinham com o estratg ias ficar prximos ao s en-genhos, fazendas, estradas e vilas. Tal estratgia garantia, entre outrascoisas, a s trocas mercantis, represen tando ainda mais solidariedades comtaberne iros e os cativos d as plantaes e vilas. Po r out ro lado, a tentativad e interiorizao d e algum as com unidades quilombolas pode te r sido difi-cultada pela existncia d e tribos indgenas hos tis - rincipalmente emCampos e Cabo Frio - ue habitavam os se rtes desta s regies. M asquando em alguns casos conseguiam aliana com o s ndios, a ba rreiraindgena pode ter dificultado, inclusive, a ampliao e interiorizao darepres so contra seu s mocambos. O s escravos Francisco e Domingos, denao Angola, permaneceram , e m 1801, oito me se s fugidos no se rt o d eSo Fidlis. Consta q ue estavam em brenha dos pelos matos, vivendo "coma gentilidade".61No incio do sculo XIX, ao que parece, as notcias a respeito dosmocambos aumentam, ou pelo menos tornam-se mais frequentes. Emmeados de 1807, alguns lavradores, procurando desbrav ar o se rt o do rioImb, entr e a s regies de Campos e M aca, descobriram "da parte d osCamp os cinco Quilombos d e negros".62 Ainda em 1805, do distrito d e CaboFrio chegar ia dennc ias de m or te s e roubos l evados a cabo pelosquilombolas. Moradores tambm denunciavam que o lavrador ManoelF e r r a r a acoitava o s "negros foragidos, os qua es lhe trabalhavo". O pni-co do s sen ho re s er a tamanho que algun s julgavam existir "algum levantedo s escravos pelos distrbios q ue diariamente" faziam o s neg ros fugidosda regio d e Cabo Frio. Na ocasio em qu e roubavam o eng enh o do Capi-to Antnio G onalves 1 2 quilombolas foram cap turad os- nclusive a "ra-inha do quilombo"- utros , entretanto, refugiaram-se floresta adentro.63Quilombolas capturados, via d e regra, eram entreg ues a s eu s sen hor es,depois d e ressa rcid as a s desp esa s d as cliligkncias realizadas. Eram trans-feridos para a cadeia principal d a cidade do Rio de Janeiro, onde agua rda-vam o s alvars de soltu ras. Em 1810 foi enviada uma petio ao corregeclor

    60 Cf. Lara, Cattipos da violncia, p 344.Ibid. p. 242

    62 BNRJ, e o de Manuscritos, Cdice 2 0 ,4 , 2 n" 31, 24.04.1807.63 AN, Correspondbncia d e Capilcs-Mores e Coman dantes de Regimentos de Vilasdo Rio d e Ja ne iro (1771-1808). caixa 484, Ofcios de 26.09. e 08 12.10.1805, pacote 2.

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    do crim e da Co rte pedindo a soltura do escravo Caetano, de nao "Guin".Argumentava-se que este negro, com mais de 60 anos, capturado no"quilombo d'Macab3',j estava preso h 4 anos se m qu e seu senh or solici-tas se su a soltura." Em 1814 dizia-se que cinco quilombolas captu rados naCo rte e acusados de hom icdios desd e 1810, estavam "apodrecendo" nacadeia se m qu e fossem enviados para trabalhar e m presdios.65Uma represso mais sistemtica contra os quilombos da capitaniareiniciaria com a criao d a Intendncia G eral de Polcia, em 1808, inicial-m en te comandada por Paulo Fern an des Viana.66J em m aro do referidoano a s autorida des do distrito d e Paty d e Alferes receberam autorizaopara utilizar o s "ndios Coroaclos do Se rto , en tre o s rios Paraba, Pre to,para fazer prender os neg ros refugiados n os matos" locais.67 No m s se-guinte, o fazendeiro Fern ando Jo s d a Costa, de Cam pos, pediu providn-cias para a captura dos "escravos e dezertores refugiados nos q u i l ~ m b o s " . ~ ~Da Vila de M ag, em junho, vinham informaes semelh antes. D estacan-do a urgkncia de medidas repressivas dizia o ento intendente que osquilombolas deviam "andar sempre perseguidos e acossados athe paraexemplo d os mais escravos".69 Ne sse sentido expediu o rde ns ao s capi-tes-m ores d as vilas d e Cabo Frio, Mag, Macacu e Re~ ende .~Oinda emagosto daq uele ano determinou ao com andante militar do distrito d e SoGonalo "hum ataque bem ordenado" para d estruir o s mocam bos daquela10calidade.~'Bem prximo da Corte tamb m apareciam denncias da for-mao de m o ~ a r n b o s . ~ ~O s primeiros resultados d ess as determinaes exp ressas pela Inten-dncia G eral de Polcia logo aparecera m. Em sete m bro de 1808, noticiava-s e que diligncias seg uidas contra os quilombos de Ma ca conseguiram

    AN, Co rreged oria de Polcia (1810), caixa 774, 03.11.1810, pacote 3.65 Ibid., 15.06.1814.@V er: xila M czan Algranti, O Feito rAusente. Estudos sobre a escravidGo urban a no Rio

    rle Juneiro (1808-1821), Petrp olis, Vozes, 1988.AN, *1JJ 9 18, Livro de Registro d e Correspon dncia do gov erna dor do Rio deJaneiro , 27.03.1808, fl . 1.

    68 Ibid., 07.04.1808, fl . lv.69 AN, Cdice 318, Iicgistro d e Avisos, P ortarias e Ofcios da Polcia (1808/1809 ),Volume 1 , 04.06.1808, f l . 20.70 Ibid., 13.07.1808, f l . 3 9 ~ .71 Ibid.. 12.08.1808, f l . 58.72 Ibid., 01.09.1808, fl . 68.

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    capturar quarenta negros, e ntre mulheres, h om ens e crianas. Ordenava-s e qu e a s expeclies continuassem. O intendente F ern and es Viana infor-mou ao g overnador Roclrigo de Sousa Coutinho da s su as providncias eda s dificuldades encontradas. Dizia qu e algu mas expedies fracassavam ,uma vez que d iversos mocambos se s ituavam em ser ras d e onde o squilombolas "observo todos os movimentos, inutiliso as diligncias".Lembrava ainda que existiam tanto mocambos pequenos de "5 negros"como aquele s "grandes".73 Tam bm em set em bro a s autoridacles tenta-riam perse guir o s quiombolas da regio d e Campos d os Goitacazes. Emoutubro seria a vez d e novos ataques ao s mocambos d e Macacu, destavez no d i s t r i to d e Tapa co r . A lis , des ta r eg io no t i c iou -se qu equilombolas tinham assassin ado o feitor da fazenda do falecido coro nelFrancisco X a ~ i e r . ~ ~m 1809, a cm ara d e Cabo Frio autorizou mais ex-pedies para "prender todos o s negro s fugidos e aquilombados que hou-verem".75 Em m ea do s de 1811 foi atacado um "quilombo da Tijuca" nocorao da Corte.76Dois an os depois so determinadas m ais expediespunitivas contra o s quilombos de Vila Nova, Macacu e Paraty. Mocam bosde Maric- uem s ab e aqueles remanescen tes do quiloinbo de Bacaxatacado em 1730 -foram assaltados em 1814.77Em fins d e 1818 a s autori-dad es preparam-se para ten tar dest ruir o "grande Quilombo d e Suruhi",prximo as vilas de M ag, Santo Antnio d e S e I n h ~ r n e r i r n . ~ ~tradioainda estava bem viva.

    73 BNlu, Seo de Manuscri tos, Cdice 1-33, 30, 19 nQ2, Oficio de Paulo Fern and esViana a Dom Rodrigo de Sousa Couiinlio, 19.09.1808.74 AN, Cdice 318, Registro dc Avisos, Portarias e Ofcios da Policia (1808/1809), O-cios: 01.09.1808, fl. 68v: 01.09.1808, fl. 6 9 1.091808 f l v 08101808 8 18.10.1808,

    fl . 91 e 29.10.1808, fl . 93.75 Ibid., 05.01.1809. fl . 137.76 AN, COdicc 320, Correspondbncia- egistro d e Ofcios dirigidos ao s Ministros daC ort e e capitania e aos Ministros Eclesisticos, Volume 1,31.07.1811.77 Ibid., Volume 2 (1812/1815), 05.02.1814.78 Ibid., Volume 4 (1817/1818), 22.10.1818.