aet da construção civil no levantamento de paredes

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CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO Construção Civil: Levantamento de Paredes

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AET Da Construção Civil No Levantamento de Paredes

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Page 1: AET Da Construção Civil No Levantamento de Paredes

CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA

FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Construção Civil: Levantamento de Paredes

BELO HORIZONTE

2014

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1. OBJETIVO

Este trabalho apresenta a análise ergonômica durante a tarefa do levantamento de

paredes em alvenaria, por trabalhadores de uma pequena empresa da construção

civil, com caráter qualitativo e quantitativo, do tipo descritivo.

2. METODO UTILIZADO

Foram utilizados métodos de observação direta do canteiro de obras e fotos para

verificação do risco postural durante a realização das atividades.

3. INTRODUÇÃO

A indústria da construção civil, por sua própria natureza, requer de seus colaboradores

a realização de tarefas desgastantes e difíceis. Estas, associando-se a treinamento

quase inexistente, o baixo nível de escolaridade, as baixas remunerações pelos

serviços prestados e as ferramentas pouco programadas para a realização das

tarefas, tornam a ergonomia extremamente necessária para a minimização dos riscos

das atividades realizadas, e manutenção da integridade física e mental destes

trabalhadores.

Segundo Dul (2004) a ergonomia é uma ciência aplicada ao projeto de máquinas,

equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde,

conforto e eficiência no trabalho. Para que este conceito possa ser amplamente

utilizado, torna-se imprescindível a realização da análise da tarefa, de como ela está

sendo realizada pelos trabalhadores e sobre quais circunstâncias de trabalho.

Um dos problemas que ocorre entre trabalhadores da construção civil é o fato dos

mesmos desprezarem os riscos existentes no ambiente de trabalho, fazendo que

tenha a necessidade conscientização quanto aos riscos existentes em cada situação

de trabalho bem como a forma correta de prevenção de acidentes do trabalho. Sabe-

se que quando uma tarefa é realizada de maneira inadequada, afeta diretamente a

saúde, através de diversas patologias músculo esqueléticas.

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Lida (1990) relata que uma das maiores dificuldades em analisar e corrigir más

posturas no trabalho está na identificação e registro das mesmas, concluindo que, a

descrição verbal não é prática, porque se torna muito prolixa e de difícil análise.

4. O TRABALHO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Procurando conseguir altos índices de produtividade as empresas aperfeiçoam a

integração cada vez maior do homem com o seu ambiente de trabalho e, em muitos

casos, não se sabem quais consequências trarão ao homem. As boas condições

ambientais, na maioria das vezes são esquecidas e os trabalhadores por sua vez,

sempre conheceram esta única realidade de trabalho, não tendo parâmetros

comparativos necessários para julgarem se estas condições são corretas ou não.

A busca incessante por produtividade afeta muito a saúde do trabalhador. Este por sua

vez tem em mente que quanto maior a produtividade, maior o recebimento pelas

tarefas prestadas. Este evento força, de certa maneira, os trabalhadores a

aumentarem sua produtividade, não lembrando que o aumento se dá por tempo

limitado, pois proporcionalmente ao aumento da quantidade de trabalho, estão os

riscos de desenvolvimento de doenças ocupacionais. Kroemer (2005) relatou que o

excesso de horas trabalhadas não só reduz a produtividade por hora, mas também é

acompanhada por um aumento característico de faltas, por doenças ou acidentes.

A oferta de mão de obra para a construção civil é abundante, pois normalmente não

requerer grau de escolaridade. Os trabalhadores que não conseguem se adaptar a

este modelo de produção, são substituídos. Assim sendo, os trabalhadores acabam

realizando as tarefas ordenadas sem grandes questionamentos ou solicitações, por

sofrerem a pressão constante do desemprego.

5. OS RISCOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Couto (2006) descreve que os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho

(DORT), abrangem quadros clínicos do sistema músculo esqueléticos adquiridos pelo

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trabalhador submetido a determinadas condições de trabalho e que não há causa

única para sua ocorrência. Dentro da indústria da construção civil, diversos motivos

somam-se para exacerbar seu aparecimento.

Couto (2006) relata os cinco motivos pelos quais as DORT têm aumentado nas últimas

décadas:

a) Pelo desequilíbrio entre o trabalho e a possibilidade de cumprimento;

b) Pela anulação dos mecanismos de regulação;

c) Pela complexidade cada vez maior do trabalho a ser feito pelas pessoas;

d) Pela realidade social favorecedora das lesões, principalmente pelo fracasso dos

mecanismos da própria empresa;

e) Pela intensificação dos fatores biomecânicos da tarefa.

As lesões ocupacionais afetam a saúde física e mental do trabalhador, reduzindo

sensivelmente sua capacidade funcional, interferindo diretamente na produtividade e

na qualidade de vida do trabalhador.

Segundo Lida (1992) existe o sistema OWAS (Ovako Working Posture Analysing

System), proposto por pesquisadores finlandeses em 1977, método que avalia a

postura do dorso, braços, pernas e a carga manipulada pelo trabalhado em cada fase

de trabalho, classificando as posturas dos trabalhadores em quatro categorias:

TABELA 1: Classificação das posturas pelo sistema OWAS

Risco 1 Postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais

Risco 2 Postura que deve ser revisada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho

Risco 3 Postura que deve merecer atenção em curto prazo

Risco 4 Postura que deve merecer atenção imediata

6. MATERIAIS E MÉTODOS

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Este trabalho apresenta a análise ergonômica durante a tarefa do levantamento de

paredes em alvenaria, por trabalhadores de uma pequena empresa da construção

civil, com caráter qualitativo e quantitativo, do tipo descritivo, relatando a situação de

trabalho e riscos ergonômicos dos trabalhadores estudados.

O canteiro de obras continha trabalhadores, sendo pedreiros e serventes de pedreiro,

realizando o levantamento de paredes. Todos se queixavam de dor em múltiplas

localizações, eram do sexo masculino, com idades entre 25 e 50 anos.

Foi explicado o motivo da pesquisa para os trabalhadores e realizado questionário

para coleta dos dados como idade, tempo de serviço em construção civil e queixas

dolorosas. Foi feita uma visita do canteiro de obras para melhor visualização do

ambiente de trabalho e das atividades. Para melhor visualização foram feitas

fotografias do canteiro e dos trabalhadores durante a realização da tarefa, sendo feito

o acompanhamento da rotina do trabalhador. Concretizada a coleta de dados, estes

foram classificados os riscos das posturas utilizadas.

7. ANÁLISE DOS RESULTADOS

7.1. O Ambiente de Trabalho

O local da obra constituía-se de um terreno de 450 m², na região urbana, onde estava

em construção uma casa de 220 m². O material utilizado para o cumprimento das

tarefas estava disponibilizado aleatoriamente ao redor do terreno, demonstrando um

trabalho a mais para o carregamento dos materiais até o posto de trabalho.

Os trabalhadores dispunham de um espaço que era utilizado para guarda dos

materiais de construção e, durante a execução das atividades, entravam em contato

com poeira, areia e cimento.

Havia material de proteção individual disponibiliza do pela empresa, porém com pouca

utilização pelos trabalhadores, que relataram não ver necessidade de uso.

7.2. As Atividades Durante o Levantamento de Paredes

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a) O funcionário pega a massa do balde com a colher de pedreiro colocando-a sobre

o tijolo a ser assentado;

Trabalhador põe massa no bloco para assentamento.

b) Retira o tijolo do chão com a mão;

Trabalhador retira o tijolo do chão.

c) Coloca o tijolo no local do assentamento, apoiando-o com as duas mãos;

d) Bate por três vezes com a colher de pedreiro em cima do tijolo;

e) Retira o excesso de massa ao redor do tijolo assentado;

Trabalhador retira o excesso de massa.

Visualiza-se na seta “a” a flexão de punho com consequente movimento

compensatório dos ombros e na seta “b” a colher de pedreiro pouco adaptada ao

trabalhador necessitando a flexão de punho.

f) Devolve o excesso de massa ao balde;

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g) Confere visualmente o tijolo assentado;

h) Verifica o prumo.

Trabalhador verifica o prumo.

i) Eventualmente o trabalhador pega o carrinho de mão, sai do posto de trabalho, vai

até o local de alojamento dos tijolos, carrega o carrinho de mão com os tijolos e

retorna empurrando o carrinho de mão até o posto de trabalho.

A jornada de trabalho no canteiro inicia às oito horas, terminando às dezessete horas,

com pausa de uma hora para almoço. Não existem pausas de descanso regulares,

além do período de almoço.

Outras fotos dos postos de trabalho:

Em determinados momentos o trabalho é realizado em andaimes.

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Carrinho de mão transportado pelo trabalhador.

Locais com dificuldade de acesso para transporte de materiais.

7.3. Análise das posturas

Foi realizada a avaliação das posturas utilizadas pelos trabalhadores para o

levantamento de paredes.

TABELA: Categoria de risco das atividades de levantamento de paredes

  Coluna Braços Pernas Carga

Buscar tijolos Risco 3 Risco 1 Risco 2 Menor que 20 KgPegar massa Risco 4 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 KgPegar tijolos Risco 4 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 KgColocar tijolos Risco 3 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 KgBater no tijolo Risco 3 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 KgRetirar excesso de massa Risco 3 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 KgVerificar o prumo Risco 3 Risco 1 Risco 2 Menor que 10 Kg

Verificou-se um maior risco durante as atividades de pegar a massa do balde e pegar

os tijolos, devido principalmente as posições realizadas pela coluna vertebral e as

repetições constantes dos membros superiores, demonstrando repetitividade

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associada ao levantamento constante de uma carga aproximada de 3kg referentes ao

peso de cada tijolo colocado, durante grande parte da jornada de trabalho.

Principalmente nestas duas atividades citadas, são necessárias correções imediatas.

Netas o trabalhador realiza constantemente movimentos de tronco com torção e

inclinação da coluna para conseguir pegar a massa e os tijolos, pois estes ficam

posicionados próximos ao corpo e ao nível do solo. Outro ponto crítico constatado, diz

respeito ao posicionamento dos membros inferiores pelo tempo em que permanece de

pé com pouco movimento. O trabalhador em determinados momentos necessita ficar

ajoelhado.

Foi verificado também o risco postural durante da atividade de buscar os tijolos com o

carrinho de mão, onde exige correções em curto prazo. Nesta atividade o risco para os

membros inferiores diminuiu nestas fases devido à postura do trabalhador ser em pé e

com pouco movimento.

Demonstrou-se a necessidade de correções e adaptações do trabalho para ambos os

membros. São considerados fatores como repetitividade, cargas levantadas pelos

braços, e principalmente as amplitudes de movimento articulares utilizadas pelos

membros superiores. Estas posições em alguns momentos deviam-se ao peso do tijolo

a ser assentado, em outras pela colher de pedreiro pouco adaptada a anatomia da

mão, que para pegar a massa do balde necessitava realizar desvios intensos de punho

ou ação compensatória de ombros ou cotovelos.

8. SUGESTÕES DE CORREÇÕES ERGONÔMICAS

8.1. No ambiente de trabalho

a) Maior integração entre os trabalhadores;

b) Instruções sobre saúde e segurança no trabalho;

c) Instalação de pausas regulares para recuperação física;

d) Organização e limpeza do canteiro de obras, minimizando os deslocamentos e

proporcionando que estes estejam livres de obstáculos;

8.2. No posto de trabalho

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a) Posicionamento dos materiais em frente aos trabalhadores, evitando o uso de

torções de coluna;

b) Plataforma para colocação de materiais, evitando as inclinações de coluna durante

o trabalho em pé;

c) Disponibilizar uma banqueta para evitar que o trabalhador ajoelhe-se no chão,

durante as etapas iniciais do levantamento de paredes;

d) Utilização de colheres de pedreiro com cabo ergonômico, evitando desvios;

e) Utilização de tijolos menores, mais leves minimizando a carga ofertada aos

membros superiores;

9. CONCLUSÕES

Concluiu-se que os operários que atuam durante o levantamento de paredes estão

expostos a acentuados riscos posturais, os quais variam conforme a altura da parede

que se altera progressivamente.

Verificamos que existem riscos imediatos durante as atividades de pegar a massa do

balde, pegar os tijolos ao nível do solo e retirar o excesso de massa ao redor dos

tijolos, com necessidade de correções em curto prazo. As atividades de buscar os

tijolos com o carrinho de mão, verificar o prumo devem ser novamente revisadas e

podem ser necessárias correções futuras.

A atividade do pedreiro durante o levantamento de paredes demonstrou ser nociva a

saúde, quando não planejadas e adaptadas ao trabalhador. Correções dos postos de

trabalho e ambiente de trabalho podem e devem ser feitas para a manutenção da

capacidade de trabalho e qualidade de vida do trabalhador.

10.REFERÊNCIAS

COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia aplicada ao trabalho : o manual técnico da

máquina humana. Belo Horizonte: Ergo, 1995. 2 v.

DUL, Jan; WEERDMEESTER, Bernard. Ergonomia prática. 3. ed. rev. e ampl. São

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Paulo: Edgard Blücher, 2012. 163 p.

KROEMER, K. H. E.; GRANDJEAN, Etienne. Manual de ergonomia: adaptando o

trabalho ao homem. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. 327 p.

LIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: E. Blücher, 2002. 465 p.