aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

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FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AERONÁUTICAS AEROCINETOSE NA AVIAÇÃO CIVIL E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DO PILOTO COMERCIAL Salvador BA Nov/2013

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Page 1: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AERONÁUTICAS

AEROCINETOSE NA AVIAÇÃO CIVIL E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO

DO PILOTO COMERCIAL

Salvador – BA

Nov/2013

Page 2: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

JONAS LIMA DE OLIVEIRA

AEROCINETOSE NA AVIAÇÃO CIVIL E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO

DO PILOTO COMERCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação em

Ciências Aeronáuticas da Faculdade de

Tecnologia e Ciências de Salvador,

como requisito parcial para obtenção do

título de Bacharel em Ciências

Aeronáuticas.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Janete Peregrino Braga

Salvador – BA

Nov/2013

Page 3: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

Folha de Aprovação

TRABALHO APRESENTADO PARA CONCLUSÃO DE CURSO SUPERIOR NA REFERIDA INSTITUIÇÃO.

O AUTOR DISPONIBILIZA O CONHECIMENTO E CONTEÚDO APRESENTADOS LIVREMENTE PARA PUBLICAÇÃO EM OUTRAS OBRAS COM OS DEVIDOS

CRÉDITOS.

TODAS AS INSTRUÇÕES DE TRATAMENTO SÃO MERAMENTE

ACONSELHADORAS E INFORMATIVAS, PESQUISADAS E DISPONIBILIZADAS

NA LITERATURA MÉDICA OU MENCIONADA POR PROFISSIONAIS DA ÁREA. O

AUTOR NÃO SE RESPONSABILIZA PELO USO IRRESPONSÁVEL DAS

INSTRUÇÕES, BEM COMO SUA UTILIZAÇÃO SEM O ACONSELHAMENTO DE

PROFISSIONAL CAPACITADO. A SEGURANÇA DE VOO COMEÇA NO SOLO.

CONTATO:

JONAS LIMA

Celular: 71 9305-1005 E-Mail: [email protected]

Page 4: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

Dedicatória

Não utilizado.

Page 5: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

Agradecimentos Em branco

Page 6: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

RESUMO

Este estudo versa sobre a aerocinetose e os impactos causados pela doença

em passageiros e principalmente durante formação do piloto comercial. As questões

problematizadoras consistiram em saber quais são os reais impactos da aerocinetose

no cotidiano do aeronavegante, se há consequências de ordem psicológica que

colaboram no aparecimento da doença, e como realizar o seu diagnóstico e

tratamento. Escolheu-se como objetivo, compreender os reais impactos da

aerocinetose no cotidiano no aeronauta; identificar os elementos constitutivos do

ambiente que envolve a cabine e seus riscos operacionais; descrever os fatores

psicológicos inerentes à atividade aérea, principalmente a fadiga de voo, o estresse e

o medo de voar, assim como listar os métodos mais utilizados no tratamento da

patologia. A metodologia apoiou-se em revisão bibliográfica tendo como principais

referências os autores: Palharini (2012), Sousa, (2011), Lackner, (2004) e Pinheiro

(2013). Como resultado, obteve-se o conhecimento sobre essa doença, como é feito

o diagnóstico, as medidas de prevenção do aparecimento dos sintomas, bem como

algumas das principais formas de conseguir-se um tratamento eficaz visando a

mitigação dos sintomas; ajudando o piloto a superar este obstáculo aumentando suas

chances de sucesso em sua futura carreira.

Palavras-chave: aerocinetose, instrução de voo, sistema vestibular.

Page 7: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

ABSTRACT

This study regards about the airsickness and the impacts caused by this disease

in passengers and principally during the commercial pilot formation. The

problematizing questions consists in knowing what is the real impacts of air sickness

daily on the airmen’s life, if there are consequences by psychological motivations that

collaborate on appearance of disease, and how to accomplish your diagnosis and

treatment. Has sorted by objective, to comprehend the reals impacts of airsickness on

pilot’s life; identifying the ambient constitutive elements that wraps the cabin and your

operational risks; describing the physiologic factors inherent in the aeronautical

activity, principally the fatigue of flight, stress and fear of flight, such as listing the

methods most utilized in treatment of this pathology. Methodology supported on

bibliographic revision and having as highlighted references the authors, Palharini

(2012), Sousa, (2011), Lackner, (2004) and Pinheiro (2013). As result, was obtained

the knowledge about this disease, how diagnosis is made, prevent ways of the

symptoms appearing, such as some of principals forms to accomplish an effective

treatment aiming symptoms mitigation; helping the pilot overcome this obstacle

enhancing the success chances in your furter career.

Keywords: air sickness, flight instruction, vestibular system.

Page 8: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11

2 OS MEIOS DE TRANSPORTE E O CORPO HUMANO .............................. 14

3 O AMBIENTE NA CABINE E OS RISCOS OCUPACIONAIS ..................... 16

3.1 Pressão do ar .............................................................................................. 16

3.2 Temperatura e umidade ............................................................................. 17

3.3 Radiação ...................................................................................................... 19

3.4 Ruído a bordo ............................................................................................. 20

3.5 Vibrações e microvibrações ...................................................................... 21

3.6 Acelerações ................................................................................................ 21

4 FISIOLOGIA DE VOO .................................................................................. 24

5 FATORES PSICOLÓGICOS ........................................................................ 26

5.1 Fadiga de voo.............................................................................................. 26

5.2 Estresse ....................................................................................................... 27

5.2.1 O CRM .......................................................................................................... 28

5.3 Aerofobia ou medo de voar ....................................................................... 29

5.3.1 A autoafirmação e o preconceito .................................................................. 30

6 ORIENTAÇÃO ESPACIAL DO CORPO HUMANO ..................................... 32

6.1 Sistema vestibular ...................................................................................... 32

6.2 Sistema proprioceptivo .............................................................................. 34

7 A AEROCINETOSE ..................................................................................... 36

7.1 Visão geral .................................................................................................. 36

7.2 Classificação ............................................................................................... 38

7.2.1 Outras classificações .................................................................................... 38

7.3 Sintomatologia ............................................................................................ 39

7.3.1 Fatores pessoais que favorecem o surgimento dos sintomas ...................... 40

7.4 Diagnóstico ................................................................................................. 41

7.5 Prevenção ................................................................................................... 41

7.5.1 Estímulos visuais .......................................................................................... 41

7.5.2 Exercícios físicos .......................................................................................... 42

7.5.3 Alimentação adequada ................................................................................. 42

7.6 Tratamentos ................................................................................................ 43

7.6.1 Reabilitação labiríntica ou Reabilitação vestibular ........................................ 43

Page 9: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

7.6.2 Tratamentos medicamentosos ..................................................................... 44

7.6.3 Remédios naturais (fitoterapia) ..................................................................... 45

7.6.4 Tratamentos homeopáticos .......................................................................... 46

7.6.5 Acupuntura e acupressão ............................................................................. 46

7.6.5.1 Pulseira de acupressão ................................................................................ 48

7.6.6 Outros métodos ............................................................................................ 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 50

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APOS Associação dos Portadores de Olho Seco

APTCA Associação Portuguesa de Tripulantes de Cabine

dB Decibel

CENIPA Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos

GPS Global Positioning System

GPWS Ground Position Warning System

HF High Frequency

hPa Hectopascal

NDB Non-Directional Beacon

NMM Nível Médio do Mar

NTSB National Transportation Safety Board

OACI Organização da Aviação Civil Internacional

OMS Organização Mundial da Saúde

QI Quociente Intelectual

VHF Very High Frequency

VOR VHF Omnidirectional Range

Page 11: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Sistema vestibular ...................................................................................... 32

Figura 2: Pulseira de acupressão .............................................................................. 48

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11

1 INTRODUÇÃO

Em mais de cem anos após o homem haver dominado com sucesso as técnicas

do voo e de sua controlabilidade, podemos constatar avanços das mais diversas

formas neste meio de transporte.

Modernos aviões, instrumentos avançados de navegação e avanços na

engenharia aeronáutica, oferecem segurança, conforto e acessibilidade aos

passageiros. Todavia, uma peça chave neste mercado não sofreu modificações: o

corpo humano.

Nosso corpo não está totalmente adaptado para as variações bruscas de

acelerações, mudanças de pressão, temperatura e qualidade do ar aos quais os

tripulantes e passageiros que utilizam o transporte aéreo são submetidos.

A aerocinetose possui uma representatividade considerável nas condições

adversas que podem surgir no corpo humano durante o voo. Altitudes elevadas nas

quais os aviões comerciais operam, potencializam os efeitos causados por esse

fenômeno e traz mais desconforto aos indivíduos sensíveis ao movimento.

Além da influência da altitude e das leves acelerações que são habituais na

aviação comercial, no período de instrução inicial e intermediária, ou seja, durante os

cursos de pilotos privado e comercial, o aluno piloto, que muitas vezes não está

habituado a essas alterações de ambiente, é submetido a acelerações, variações de

pressão na cabine e vibrações de maneira mais intensa, o que contribui para o

aparecimento de sintomas relacionados à aerocinetose.

Em estudo de Ribeiro (2006), citado por Gomes (2012), foi demonstrado que a

doença ocorre de 2% a 5% em indivíduos que utilizam-se de quaisquer meios de

transporte, e principalmente em instrução de voo onde percebe-se uma prevalência

de 5% a 10%. Embora em pesquisa realizada pelo segundo indica até 20% de

acometimento em alunos.

Alunos-pilotos estão mais expostos aos fatores contribuintes para o

aparecimento de sua sintomatologia por não dominarem técnicas de voo estáveis e

terem pouca experiência no ambiente aéreo. Além disso, há o desgaste psicofísico

normalmente apresentado nas aulas práticas iniciais que aumenta os impactos da

sensibilidade ao movimento.

Page 13: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

12

Mesmo pilotos já formados podem apresentar problemas de ordem psicológica

favorecendo o aparecimento da aerocinetose e causando certo desconforto ou

insegurança ao executarem a pilotagem. Logicamente, não ocorre com a maioria dos

indivíduos, porém, a existência deste problema não pode ser desprezada.

Este trabalho justifica-se com base na necessidade da maior exposição do

problema, uma vez que há poucos trabalhos relacionados a este tema na literatura,

principalmente direcionado à formação inicial de pilotos civis; e no compartilhamento

de experiências, auxiliando outros alunos pilotos a conhecerem o problema da

aerocinetose de uma forma mais aprofundada e simples.

Sabendo-se do exposto acima, surgem os questionamentos: Quais são os

fatores presentes no meio aéreo que favorecem o aparecimento da aerocinetose?

Quais são os reais impactos da aerocinetose no cotidiano do aeronavegante? Há

consequências de ordem psicológica que colaborem para o aparecimento da doença?

Como realizar o seu diagnóstico e tratamento?

Diante desses questionamentos, os objetivos do presente trabalho são:

compreender os reais impactos da aerocinetose no cotidiano no aeronauta; identificar

os elementos constitutivos do ambiente que envolve a cabine e seus riscos

operacionais; descrever os fatores psicológicos inerentes à atividade aérea,

principalmente a fadiga de voo, o estresse e o medo de voar e listar os métodos mais

utilizados no tratamento da patologia.

O interesse pelo tema surgiu através da experiência pessoal do autor com a

aerocinetose, que o influenciou na busca de soluções e mais conhecimentos sobre

este quadro clínico. O diagnóstico é simples e os métodos de tratamento são bastante

eficazes, podendo ser concatenados a fim de obterem-se melhores resultados. Outro

motivo encorajador é a relevante incidência deste mal nos pilotos em formação, tanto

civis como militares, prejudicando o desempenho do aluno em suas missões e em

alguns casos, até causando sua evasão.

A metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa, apoiada em revisão

bibliográfica, cujos autores principais foram: Palharini (2012), Sousa, (2011) e Lackner

(2004), Mattiola (2010) e Temporal (2005). Serão demonstrados dados científicos,

trazendo-os para a realidade da aviação de instrução, e sugestões simples, porém

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13

eficazes para que o aviador consiga minimizar os impactos sofridos pelos sintomas

da aerocinetose e realizar o seu sonho de voar.

O trabalho está organizado em sete tópicos: o primeiro trata introdução ao

tema; o segundo, da relação entre os meios de transporte e o corpo humano; o

segundo, do ambiente na cabine e dos riscos ocupacionais; o terceiro, da fisiologia de

voo; o quarto, dos fatores psicológicos; o quinto, da orientação espacial do corpo

humano; o sexto, da aerocinetose, suas implicações, diagnósticos e formas para tratá-

la; finalmente as considerações finais.

Page 15: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

14

2 OS MEIOS DE TRANSPORTE E O CORPO HUMANO

O ser humano com capacidades intelectuais ímpares, vem procurando formas

de facilitar a sua rotina desde os primórdios de sua evolução. Um dos avanços mais

representativos, foi sem dúvida, a invenção da roda e o consequente aperfeiçoamento

dos meios de transporte.

Com exceção das espécies que praticam relações biológicas como o

comensalismo, que é o caso das rêmoras e tubarões, inquilinismo ou mais

especificamente a forésia1, o ser humano é o único animal que criou métodos de

locomoção não próprios, mesmo considerando esta comparação injusta, uma vez que

estes animais obviamente não possuem sistemas de orientação complexos como o

do homem, não sofrem acelerações e estímulos na mesma intensidade, ou

simplesmente já possuem mecanismos fisiológicos adaptados para este tipo de

locomoção.

Com a capacidade de nos locomovermos utilizando os meios de transporte,

agilizamos as tarefas diárias, percorremos longas distâncias em pouco tempo,

poupamos energia do nosso corpo nos percursos de curta distância, transportamos

mais carga de uma só vez. Enfim, na contemporaneidade seria impossível

imaginarmos nossa vida sem meios transporte eficientes e seguros.

Todos esses benefícios proporcionados à humanidade através de meios de

locomoção cada vez mais modernos, desencadeiam também algumas consequências

para indivíduos que são sensíveis ao movimento, dentre elas a cinetose, também

chamada de enjoo de movimento ou mal do movimento.

Para Mattiola (2010), a cinetose é causada por diversos estímulos aos quais o

corpo humano é submetido quando somos transportados por outro meio que não

nossas próprias pernas, como navios, automóveis, trens, brinquedos de parque de

diversões e até mesmo elevadores de altos edifícios.

_____________ 1 Forésia: associação entre indivíduos de espécies diferentes (relação ecológica inter-específica), na qual um transporta outro, sem se prejudicarem. A forésia também pode ser definida como um caso específico do comensalismo (FAN e PETITT, 1998, tradução nossa).

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Entretanto, na aviação experimentamos uma variação dessa patologia: a

aerocinetose ou airsickness. Diferenciando-se da outra apenas pelo fato de ocorrer

no meio aéreo, porém, apresentando as mesmas causas, sintomas e tratamentos.

Page 17: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

16

3 O AMBIENTE NA CABINE E OS RISCOS OCUPACIONAIS

A exposição do corpo humano a ambientes fora dos padrões percebidos no

nível médio do mar, traz a ele consequências negativas. Vários sintomas de ordem

fisiológica apresentados, principalmente por causa da diminuição de pressão

atmosférica e da consequente escassez de oxigênio na cabine, contribuem para que

nosso corpo não suporte certas condições limitantes por muito tempo, caso não

fossem desenvolvidos mecanismos de adaptação das aeronaves à altitude.

Os tópicos seguintes demonstrarão os principais fatores contribuintes para o

aparecimento de sintomas da aerocinetose e de outros males relacionados à altitude

e ao meio aeronáutico.

3.1 Pressão do ar

Segundo Palharini (2012), a principal adaptação realizada nos aviões

comerciais para possibilitar o suporte à vida em altitudes elevadas é a pressurização.

Porém esta, por si só, não é capaz de mitigar os problemas causados pela altitude.

Operando em altitudes elevadas, geralmente acima de 30.000 pés, as

aeronaves comerciais enfrentam pressões baixíssimas se comparadas às observadas

ao Nível Médio do Mar (NMM), que na aviação adotamos o valor padrão da

Organização Mundial da Aviação Civil (OACI) de 1013,2 hectopascais (hPa).

Caso não dispuséssemos do sistema de pressurização nessas aeronaves,

obedecendo-se a regra do gradiente de pressão, onde a cada 1000 pés acima do

NMM são diminuídos 27hPa da pressão atmosférica real a qual o avião é submetido,

logo, tripulação e passageiros seriam expostos a -98,1hPa, claramente um valor muito

aquém do suportado pelo corpo humano.

Utilizando sistemas de pressurização, os aviões comerciais mantêm-se a uma

pressão autônoma em seu interior, em torno de 717hPa, correspondente a 8.000 pés

acima do NMM, denominada de altitude de cabine, que é controlada de forma

automática ou manual, e relaciona-se de maneira proporcional às mudanças da

altitude real realizadas durante o voo.

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17

Como consequência da diminuição barométrica da cabine para valores

correspondentes a uma altitude superior a 10.000 pés, tem-se uma considerável

queda na concentração de oxigênio e dos valores de admissão do gás pelo organismo,

apresentando um quadro de hipóxia da altitude, dificultando ou até mesmo

impossibilitando a respiração.

Na aviação de pequeno porte, onde geralmente são utilizadas aeronaves não

equipadas com sistema de pressurização, somos submetidos a variações súbitas de

pressão atmosférica, e corremos ainda, risco de entrada em estado de hipóxia caso

não seja mantida uma supervisão constante da altitude voada quando nos

aproximamos dos 10.000 pés limitantes, haja vista que em sua maioria, mesmo

pequenas aeronaves alcançam ou superam esta altitude.

A exposição a estas variações de pressão podem causar problemas no sistema

auditivo com o passar dos anos, além de danos no sistema respiratório do tripulante,

porém, estes quesitos são acompanhados durante os exames periódicos a que são

submetidos.

3.2 Temperatura e umidade

As aeronaves que operam em altos níveis de voo possuem os citados sistemas

de pressurização a fim de equiparar a pressão da cabine a valores encontrados em

altitudes menores. Porém, de forma semelhante à que acontece com a pressão

atmosférica, o ambiente da cabine sofre com a diminuição da temperatura e da

umidade do ar.

Como o ar externo em tais níveis é muito frio, utiliza-se sistemas de ar

condicionado, que funcionam basicamente injetando-se o ar exterior que

posteriormente é aquecido com energia dos motores, assim obtemos temperaturas

confortáveis, em torno de 22°C.

Resolvido o problema da temperatura, nos aviões de médio e grande portes

que voam em altitudes acima dos 10.000 pés suportados pelo organismo, ainda temos

o problema da falta de umidade, considerando que qualquer sistema de ar

condicionado, seja aeronáutico ou não, por comprimir o ar durante o processo,

acabam por quase que eliminar a umidade, resultando na entrega de ar praticamente

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18

seco. Segundo a Associação dos Portadores de Olho Seco (APOS) a umidade dentro

dos aviões comerciais é de apenas 9 a 30%.

Nesse sentido, pode-se dizer que “[...] o organismo humano necessita de

umidade no ar entre 25 a 50%, para que seja possível executar as funções

metabólicas normais” (PALHARINI 2012, p. 22). Temos então valores acima dos

oferecidos na aeronave, o que pode causar problemas de saúde para tripulantes e

passageiros frequentes.

Dentre as complicações mais comuns por conta da baixa umidade da cabine

estão: ressecamento da pele, dos lábios, olhos e das fossas nazais. Além da maior

facilidade de transmissão de agentes patológicos (vírus e bactérias), o que pode

transformar-se num grave problema em voos internacionais e de longa duração.

Segundo Palharini (2012), para que os impactos dos problemas causados pela

falta de umidade na cabine sejam diminuídos, recomendam-se a utilização de colírios,

a utilização de cremes hidratantes nas partes do corpo não protegidas pela vestimenta

e a remoção de lentes de contato durante o voo. Caso ocorram eventuais

sangramentos ou desconforto nas narinas, o tratamento recomendado é respirar

durante o período através de um lenço umedecido .

Ainda, conforme raciocínio do autor mencionado é possível considerar que:

A principal alteração sobre o organismo, decorrente da baixa umidade

do ar, ocorre em função da eliminação de urina concentrada, com

aglutinação de cristais, que aumenta a probabilidade de formação de

pedra nos rins, e essa enfermidade tem afastado muitos tripulantes do

voo (PALHARINI, 2012, p. 22).

Ele chama atenção sobre alguns cuidados a respeito da saúde do tripulante, e

de passageiros frequentes, recomenda ainda, a ingestão de no mínimo 3 litros de

líquido a cada 24 horas, dando preferência a bebidas frias, não alcoólicas e

descafeinadas .

Tendo como base estas sugestões, surge a ideia de que a distribuição de

bebibas como café, habitualmente em voos domésticos e vinhos e cervejas em voos

internacionais, seria inadequada à boa saúde do passageiro frequente, não havendo,

por parte da companhia, nenhuma informação a respeito do assunto. Em relação ao

Page 20: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

19

consumo por parte de tripulantes, durante a formação este assunto é pouco explorado,

podendo favorecer problemas de saúde futuramente.

3.3 Radiação

Sobre a superfície terrestre, mesmo em doses relativamente pequenas,

convivemos a todo momento com radiação vinda do sol e do espaço. A atmosfera

terrestre exerce papel importante na filtragem dos raios cósmicos, impedindo que seus

valores excedam os níveis suportáveis pelos seres vivos.

Aeronaves comerciais atingem normalmente altitudes de até 12.000 metros, o

que causa uma diminuição na camada atmosférica atuante sobre o equipamento e

consequentemente sobre os indivíduos em seu interior. O que não ocorre na aviação

de instrução, considerando que na maioria dos voos não são atingidas altitudes

superiores a 3.000 metros devido a utilização de aeronaves não pressurizadas.

De acordo com o título traduzido da obra de Barish (1996), “a radiação é um

passageiro invisível e oferece riscos para pessoas que voam”. Portanto, a radiação

está presente e seus efeitos não podem ser, de forma alguma menosprezados, sendo

assim, o tripulante deve atentar para a sua existência e possíveis doenças que ela

futuramente possa causar, como algumas neoplasias ou câncer.

Temos ainda outra consideração importante:

[...] os pilotos, em particular os que passam longos períodos na cabina

de comando nas modernas aeronaves, podem ficar expostos a certos

tipos de radiações presentes no local de trabalho, geradas pelas

ondas eletromagnéticas de radiofrequência, do sistema de

comunicação (PALHARINI, 2012, p. 23).

Grande parte dos equipamentos e instrumentos presentes na cabine utilizam-

se de ondas de rádio em seu funcionamento: radares meteorológicos, receptores de

GPS, rádios VHF e HF, transponders, antenas data-link, Wi-Fi, VOR, NDB, GPWS,

computadores de bordo, entre outros.

Page 21: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

20

A Comissão Internacional de Proteção Radiológica (International Commission

of Radiological Protection), estipula valores aos quais indivíduos em geral e os

profissionais das áreas que atuam diretamente com materiais radioativos podem ser

expostos. Tendo como base estes limites, os órgãos reguladores de aviação de vários

países instituem regras para imporem o controle de doses de radiação para

tripulações.

Em consulta à legislação trabalhista relacionada a aviação no Brasil, não foram

encontradas menções aos níveis de radiação permitidos ou aceitáveis para exposição

dos aeronautas.

Entretanto, um estudo conduzido por Langner et al. (2004), em companhias de

oito países da Europa, com dados de exatos 19.184 tripulantes de linha aérea,

correlacionou a incidência de câncer de diversos tipos com esta atividade por 20 anos,

não encontrando influência significativa da radiação ou maior incidência de morte por

neoplasias malignas nestes profissionais.

3.4 Ruído a bordo

De acordo com Palharini (2012), em aeronaves, são notados ruídos

decorrentes do atrito causado pelo vento relativo nas superfícies de comando, asas e

principalmente pelos motores em funcionamento. Podendo causar desconforto e

complicações neuropsicológicas aos tripulantes ou passageiros.

O autor demonstra ainda, que a exposição prolongada a ruídos acima de 85

decibéis pode levar a surdez permanente e caso este valor exceda picos de 140 dB

pode causar o rompimento da membrana timpânica em seres humanos. Na cabine

das aeronaves não são atingidos tais valores, portanto o tripulante não precisa ter

preocupação em proteger-se com protetores auriculares.

Outrossim, é necessário o correto ajuste de volume dos fones de ouvido

utilizado pelos pilotos, para que o som das comunicações, ultrapassando o limite

tolerável, não cause danos à audição.

Apesar de não causar danos significativos à audição, Palharini (2012) ainda

informa que os ruídos a bordo podem desencadear fadiga aguda ao aeronavegante,

se não mantidos dentro dos patamares ideais. Neste caso apenas o descanso

Page 22: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

21

intrajornada se faz suficiente para a perfeita recuperação e desaparecimento dos

sintomas.

3.5 Vibrações e microvibrações

As vibrações no meio aéreo são normalmente percebidas com mais intensidade

em aeronaves sustentadas por potência (helicópteros, autogiros, etc.) pela ação

contínua do rotor principal no eixo vertical da aeronave. Em aeronaves antigas este

era um problema mais sério, hoje, com a evolução da engenharia, dispomos de

equipamentos que vibram menos e garantem mais conforto às tripulações e

passageiros.

Para Sivieri (1995), as vibrações constantes percebidas a bordo de aeronaves

podem causar artroses, lesões ósseas, formigamento das extremidades, problemas

circulatórios, alteração na sensibilidade e alterações neurológicas.

Palharini (2012), traz outros sintomas mais relacionados com o objeto abordado

neste trabalho, já podendo relacionar-se com o aparecimento da aerocinetose como:

tontura, mal estar, náuseas e vômitos.

Existem pessoas que são mais sensíveis à vibração. Estas sofrem até mesmo

com as microvibrações que normalmente são menos perceptíveis na maioria da

população, potencializando os sintomas mencionados.

Para eliminar ou atenuar os problemas causados por vibrações, tanto em

aviões como helicópteros, Palharini (2012) recomenda aos tripulantes que posicionem

uma pequena almofada em seu assento e evitem tocar o assoalho da aeronave,

posicionando uma superfície macia sob os pés enquanto em repouso, e em momentos

de crise dos sintomas ocasionados por vibrações, repousar os pés sobre uma

superfície macia pode atenuar os impactos causados por eles.

3.6 Acelerações

As acelerações são vistas como as principais agentes causadoras da

aerocinetose, devido aos estímulos exagerados do labirinto enviados ao sistema

Page 23: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

22

nervoso. As velocidades em que aviões comerciais evoluem na atmosfera são muito

altas, normalmente 850km/h, porém, na aviação de pequeno porte as acelerações

também são atuantes e influenciam na resposta do organismo humano aos seus

estímulos.

Na aviação comercial ocorre com menos intensidade que na aviação de

instrução e militar, visto que nestas últimas o equipamento é posto em seu limite para

fins de treinamento e combate, executando manobras que majoram os efeitos das

acelerações em sua estrutura e no corpo da tripulação.

Durante todas as fases do voo são experimentados diversos tipos de

acelerações, Palharini (2012) faz esta listagem: a) na decolagem e nos pousos

ocorrem a aceleração linear; b) nas curvas com inclinação, sob velocidade constante

temos a aceleração radial; c) quando a aeronave executa mudanças simultâneas na

altitude e velocidade, ocorre a aceleração angular.

As acelerações, de acordo com o autor, caracterizam-se pela variação da força

da gravidade (G) exercida sobre um objeto ou indivíduo. Complicações ocorrem em

função do tempo e intensidade da exposição à força acelerativa, com impacto maior

sobre o sistema cardiocirculatório dificultando a circulação do sangue para

determinadas áreas do corpo, a depender do sentido da força.

Executando-se manobras bruscas, efeitos negativos começam a ocorrer.

Acelerações positivas desencadeiam-se por manobras onde o sangue é pressionado

em direção aos pés do indivíduo, diminuindo o disponível na região cardíaca,

consequentemente privando o cérebro da quantidade correta de oxigênio. As

negativas ocorrem quando manobras comprimem o sangue em direção ao cérebro,

causando assim um inchaço excessivo e perigoso.

A partir da imposição de +4G (4 vezes a aceleração da gravidade), Palharini

(2012) diz que pode ocorrer um escurecimento total da visão, conhecido como

blackout, aumentando-se para +6G por mais de quatro segundos, pode-se haver

perda de consciência, e a +8G por mais de cinco segundos o indivíduo pode entrar

em coma; a partir disso há grande possibilidade de morte.

A exposição a acelerações negativas traz sintomas semelhantes,

diferenciando-se pela intolerância a grandes valores por causar a expansão

exagerada do cérebro contra a caixa craniana. Nestes casos Palharini (2012)

Page 24: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

23

menciona que é característico o avermelhamento da visão, conhecido como redout e

que ocorre inchaço dos globos oculares, desencadeando uma possível ruptura em

vasos sanguíneos, causando derrame ocular e cegueira temporária.

Ainda de acordo com afirmações do autor, o corpo humano tolera mais

acelerações positivas que negativas, daí a importância de não ultrapassarem-se os

limites do organismo e da aeronave que, por conseguinte, sofrerá as mesmas

acelerações, podendo acarretar em danos à sua estrutura, principalmente na raiz das

asas, onde são sofridos os maiores esforços estruturais em razão da relação

sustentação vs. peso.

Page 25: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

24

4 FISIOLOGIA DE VOO

Expostos às situações e estímulos infaustos abordados neste trabalho, o corpo

humano apresenta respostas muitas vezes negativas, e portanto, nocivas à segurança

de voo.

Dentre elas, Palharini (2012) cita o disbarismo, causador de aeroembolismo e

aerodilatações, que são desencadeados basicamente pela variação barométrica na

cabine e fogem ao controle do indivíduo.

O principal efeito percebido por passageiros e tripulantes acerca da variação

de pressão na cabine, segundo Palharini (2012), é o resultado da expansão gasosa

interna nas diversas partes de seus corpos, e a diferenciação barométrica a menor da

cabine em relação à pressão interna do organismo.

Tem-se como exemplo comum, o desconforto auditivo sofrido durante as

variações de altitude da aeronave causado por tais variações barométricas e pela

impossibilidade do corpo em equalizar as pressões externa e interna na mesma

velocidade em que a variação ocorre.

Os efeitos são mais percebidos por pessoas que estejam com algum sintoma

de resfriado ou problemas como sinusite ou outras doenças que podem interferir no

funcionamento das Trompas de Eustáquio 2 , responsáveis por tornar possível a

equiparação de pressões dos seios da face.

Além desse problema, Palharini (2012) cita a aerodilatação, responsável pela

variação do volume dos gases presentes em sua forma natural como no trato

digestivo, ou diluído como no sangue, pode causar desconforto a passageiros e

tripulantes que tenham predisposição ou possuam fatores contribuintes para a

evolução dos sintomas.

O autor ainda destaca que, particularmente, indivíduos que submeteram-se a

tratamentos odontológicos recentemente, podem sofrer com dores de dente

(aerodontalgia) relacionadas à expansão de alguma quantidade de ar presente no

_____________ 2 Tuba Auditiva ou Trompa de Eustáquio é um canal virtual que comunica a nasofaringe ao orelha média. Sua função, além de proteção e limpeza, é equilibrar a pressão da orelha média com a pressão atmosférica (GODOY, 1999).

Page 26: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

25

interstício entre restaurações ou tratamentos imperfeitos de canal e os nervos

alveolares presentes na região afetada, causando intensas dores.

Palharini (2012) recomenda que tripulantes com possibilidades de

apresentarem sintomas negativos relacionados à variação de volume e pressão

gasosa, se afastem momentaneamente dos voos até o desaparecimento do fator

desencadeador da hipersensibilidade.

Ainda de acordo com o autor mencionado, outras ações também são

recomendadas como a diminuição da altitude, compressão pneumática local, ou em

casos mais sérios, a terapia hiperbárica.

Page 27: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

26

5 FATORES PSICOLÓGICOS

Sob a ótica da psicologia, a aerocinetose, é também, em muitos casos

desencadeada ou agravada por fatores inerentes a esta área.

Fatores estes, resultantes de experiências no ambiente aéreo, perdurantes de

traumas ou sendo intrínsecos ao indivíduo. Podendo-se assim, citar como exemplos

destes fatores: a fadiga, o estresse, a rejeição ao voo ou medo de voar, relacionados

diretamente à atividade aérea e às pressões psicológicas as quais os aeronavegantes

são submetidos.

5.1 Fadiga de voo

Um tripulante acometido dos cansaços físico, mental ou de ambos, é um

componente de risco ao voo seguro por não estar em plenas condições de realizar

julgamentos eficazes e responder em tempo hábil a possíveis situações de

emergência.

Palharini (2012), aborda que fadiga de voo é muitas vezes causada, por

excesso de trabalho do piloto na operação dos comandos da aeronave que exigem

esforços, tanto físicos quanto mentais.

A carga horária de trabalho, quando ultrapassada, contribui para que o piloto

diminua sua capacidade de julgamento, sendo possível o aparecimento de sintomas

relacionados à fadiga, que são: “aumento ou diminuição na quantidade de oxigênio

consumido pelo organismo, acompanhado de mudanças na pressão arterial e no ritmo

cardíaco e irritabilidade” (PALHARINI, 2012, p. 61).

Ainda segundo o autor citado, as próprias variações climáticas do local de

partida, de dentro da cabine e do local de destindo, contribuem para que ocorra um

quadro de cansaço no tripulante, principalmente observando-se os níveis de umidade

relativa do ar, que sabidamente, a bordo são muito baixos e o organismo não dispõe

de tempo hábil para compensar a deficiência repentina de umidade.

Palharini (2012), lembra ainda dos voos de longa duração aos quais são

impostas variações de fuso horário, alterando o relógio biológico por mudanças no

Page 28: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

27

ritmo circadiano, que é a maneira com a qual o organismo mantém as funções

biológicas organizadas nos vários períodos do dia.

De acordo com dados do NTSB (National Transportation Safety Board) (2011),

20% dos incidentes e acidentes aéreos são decorrentes da fadiga do tripulante.

Adentrando nesta seara, tem-se o problema das jornadas de trabalho

excessivas, que há muito tempo vêm sendo analisadas para que haja uma definição

adequada do limite de tempo a que o tripulante pode ser exposto ao ambiente da

cabine de comando, com o intuito principal de diminuir o acometimento destes pela

fadiga.

5.2 Estresse

Juntamente com a fadiga, ou tratando-se como fatores interdependentes, o

estresse contribui para a diminuição do rendimento do voo e consequentemente da

segurança.

O site CareerCast.com, citado por Sousa (2011), anualmente publica uma lista

das profissões mais estressantes dos EUA. No ano de 2011, a profissão de piloto

comercial figurou no topo da lista.

Sousa (2011), cita esse ranking que considera onze aspectos influentes no

nível de estresse do piloto, dentre os quais se destacam os seguintes: “competição,

demandas físicas, prazos, perigos inerentes e até potencial de crescimento”.

O autor menciona ainda, a atenção constantemente empregada aos

instrumentos de bordo e a confiança “cega” nos órgãos de controle de tráfego áereo,

fazendo com que o piloto permaneça durante todo o voo, com um elevado nível de

estresse.

No Brasil a situação não é muito diferente. Temos problemas semelhantes aos

estadunidenses. Somados à carência de infraestrutura até mesmo em grandes

aeroportos, tem-se muitas vezes, trânsito intenso para os tripulantes chegarem até

suas bases e apresentarem-se, ou seja, o estresse é percebido antes mesmo do voo

propriamente dito.

A respeito dos níveis de estresse, temos ainda uma importante consideração:

Page 29: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

28

Os Pilotos também experimentam mudanças bruscas no nível de

stress, saindo de períodos relaxantes enquanto não estão voando,

seguindo por períodos de alto stress durante os voos, e estas

mudanças são muito prejudiciais para a saúde. A profissão também é

afetada pela economia, com demissões, alto preço do petróleo, corte

de custos nas empresas, salários baixos, etc. (SOUSA, 2011).

Pode-se compreender que o estresse no tripulante, além de desencadeado por

estímulos percebidos no voo, é causado também por fatores alheios a este.

Como seres humanos, sofremos também a influência de fatores emocionais e

motivacionais intimamente ligados ao salário e às condições trabalhistas (estabilidade

e perspectiva de crescimento profissional), que por vezes não atingem as expectativas

do piloto, principalmente no início da carreira, além de influências de acontecimentos

em sua vida pessoal.

O estresse no tripulante, é citado por Palharini (2012) como fator colaborador

para o aparecimento de sintomas da aerocinetose, haja vista que o organismo

trabalhando sob condições estressantes, funciona como uma máquina

sobrecarregada, não conseguindo de maneira correta, interpretar estímulos ou sinais

(principalmente os da orientação espacial e equilíbrio corpóreo), levando assim ao

desenvolvimento de anomalias em seu funcionamento.

5.2.1 O CRM

Este trabalho aborda o assunto sob uma ótica superficial em detrimento da

extensão e da larga abrangência do tema.

O CRM (Corporate Resource Management) atua hoje como catalisador na

melhoria de processos de toda a companhia, não somente dentro da cabine de

comando, objetivando a segurança das operações tanto em voo quanto no solo.

Segundo Marinho (2012), os cursos de CRM, contribuem para que o piloto

consiga mitigar, com simples ações, os impactos causados pela fadiga e o estresse

durante o voo, visando sempre a segurança e o bem-estar a bordo.

Page 30: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

29

Esses treinamentos, demonstram-se cada vez mais necessários para a boa

formação do piloto comercial, uma vez que exige-se dele o autoconhecimento e dos

demais tripulantes de cabine, eliminando tensões ou discussões desnecessárias,

favorecendo o bom relacionamento interpessoal e facilitando a troca de informações.

Seu objetivo principal, a segurança de voo, segundo o autor, se divide em

quatro pilares distintos, são eles: comunicação, trabalho em equipe, consciência

situacional e o processo decisório no cockpit.

5.3 Aerofobia ou medo de voar

Esta subseção aplica-se principalmente a certos grupos de alunos da aviação

que durante sua formação inicial enfrentam este problema: o medo de voar (aerofobia)

ou rejeição ao voo.

Segundo a APTCA (Associação Portuguesa de Tripulantes de Cabine) (2011),

40% da população mundial tem receio de voar de avião.

Denominado por essa associação de “aerofobia”, o fenômeno é observado com

mais frequência em passageiros, embora aconteça também, notadamente em

menores proporções, nos tripulantes, podendo estar associado a outros problemas de

ordem psicológica, como: síndrome do pânico, claustrofobia e medo de altura.

Segundo Bassani (2005), estando sob condições psíquicas relativamente

abaladas por problemas financeiros, familiares, pressão psicológica durante a

instrução de voo, por instabilidades do mercado ou até mesmo incertezas vocacionais

quanto à profissão e à carreira, o aluno, ou piloto já formado podem apresentar um

quadro de complicação psicológica dificultando o aprendizado ou a execução de suas

tarefas profissionais, algumas vezes, causando um desconforto ou mal-estar ao

experimentar a pilotagem.

Certamente, como mecanismo de defesa, nosso cérebro tende afastar-nos do

problema (voar). Tripulantes recém formados, quando questionados sobre este

assunto, em estudo realizado pela APTCA (2011), relataram que em algum momento

de sua formação ocorreram situações em que não conseguia-se nem mesmo adentrar

à aeronave, havendo literalmente o medo de que esta fosse cair, o que é sabido ser

possível, porém, acidentes acontecem com certa raridade devido aos padrões

Page 31: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

30

impostos de segurança de voo, que ao serem seguidos, proporcionam uma segurança

elevada para o equipamento e seus ocupantes.

A literatura sobre o tema em língua portuguesa é escassa, uma vez que de

acordo com o CENIPA (2013), no Brasil ainda não existem cursos especializados na

área de psicologia de aviação.

No entanto, o CRM, pode auxiliar no combate a este problema ou até mesmo,

caso o aspirante a piloto julgue necessário, a consulta com um profissional de

psicologia ou psicanálise pode ajudá-lo a eliminar o problema da aerofobia e dar

seguimento a sua formação e prosseguir normalmente na carreira.

5.3.1 A autoafirmação e o preconceito

Outro empecilho ao diagnóstico e quantificação de problemas tipicamente

psicológicos durante a formação do piloto civil, é a necessidade da autoafirmação e

muitas vezes a vergonha em relatar o problema.

O meio aeronáutico, principalmente entre profissionais mais antigos, traz um

certo preconceito em seu seio, onde preconiza-se que o piloto precisa ter “nascido

para voar”, sendo assim, ao enfrentar qualquer problema que possa ser plenamente

tratado ou explicado, o aluno pode questionar-se quanto a sua carreira; se realmente

será um bom profissional no futuro.

Claramente, o avião sendo uma máquina, são necessárias pessoas com o

devido treinamento para operá-la. Portanto, foram estipulados perfis profissiográficos

inerentes às atividades desenvolvidas por parte dos pilotos, assim como em outras

áreas da aviação, como é o caso dos controladores de tráfego aéreo, mecânicos e

comissários de voo.

A respeito do assunto, podemos considerar a afirmação: “no que se refere ao

indivíduo, o perfil profissiográfico indica as características pessoais necessárias ao

bom desempenho do cargo em questão, assim como as restritivas ou impeditivas”

(FAIAD, ALBUQUERQUE et al., 2012, p. 388).

Sendo assim, não é plausível que haja uma equiparação entre problemas

pontuais relatados por alguns indivíduos, que possuem os requisitos físicos e

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31

psicológicos para atuar no meio aéreo, mas que no momento passam por situações

motivacionais adversas dificultando o aprendizado, e outros que não atendam

cronicamente os atributos de personalidade ou QI (quociente intelectual) necessários

para atuarem no comando de uma aeronave.

Page 33: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

32

6 ORIENTAÇÃO ESPACIAL DO CORPO HUMANO

O corpo humano possui diversos sistemas que controlam todas as suas

atividades diárias. Este trabalho oferece destaque ao sistema vestibular.

Localizado no ouvido interno, esse sistema é sensível aos estímulos do

movimento e proporciona ao cérebro informações sobre a posição espacial do

indivíduo, juntamente com outros sistemas, os quais abordaremos em seguida, como

é o caso do sistema proprioceptivo, que atua juntamente com o vestibular. De acordo

com dados de estudos médicos contemporâneos, sabe-se que são exatamente

estímulos incongruentes entre esses dois sistemas os principais responsáveis pelo

aparecimento da aerocinetose.

6.1 Sistema vestibular

Figura 1: Sistema vestibular Fonte: http://leandrafono.blogspot.com.br/2012/05/vertigem-e-reabilitacao-vestibular.html

O aparelho vestibular ou sistema vestibular, como demonstrado acima (Figura

1), é responsável primeiramente pelo equilíbrio em seres humanos, assim como no

restante dos mamíferos.

Com informações de Vilela (2006), descreve-se resumidamente a seguir, o

funcionamento do sistema vestibular (Figura 1): presente bilateralmente nos ouvidos

internos, o labirinto, principal órgão do sistema, é preenchido totalmente por um líquido

derivado do sistema linfático, que por sua vez, ativa receptores ciliados ao se

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33

movimentar na parede interna do sáculo e do utrículo e na base dos canais

semicirculares, causando assim uma corrente elétrica que envia estímulos do

movimento ao sistema nervoso central.

Sendo assim, distúrbios relacionados ao equilíbrio e movimento, geralmente

estão ligados ao sistema vestibular, uma vez que, o líquido que preenche os canais

semicirculares, por ação da inércia, permanece naturalmente em movimento após

cessado o movimento da cabeça do indivíduo, causando estímulos incompatíveis com

os gerados pela visão, que informa ao cérebro que não há movimento aparente.

Acerca da função prática dos estímulos labirínticos e visuais e do

funcionamento detalhado do sistema vestibular, outro autor disserta:

Órgãos do equilíbrio localizados na orelha interna avisam o cérebro

sobre movimentos e sobre a posição da sua cabeça. Existem 3 “anéis”

(canais semicirculares) em cada orelha, e estes canais sentem quando

você movimenta sua cabeça e lhe ajudam a enxergar claramente

durante estes movimentos. Existem também duas estruturas em cada

orelha chamadas de órgãos otolíticos (o utrículo e o sáculo). Eles

avisam o cérebro quando a cabeça está se movimento numa linha reta

(como quando você está dirigindo um carro ou subindo e descendo

um elevador) e sentem o posicionamento da sua cabeça mesmo

quando você está parado (se está reta ou inclinada) (HOFFMAN,

2010).

De acordo com o trecho acima, a autora ainda afirma que caso perceba-se

distúrbios de equilíbrio, um dos sistemas envolvidos (visual, vestibular e

proprioceptivo) podem não estar funcionando corretamente e enviando informações

inconsistentes, causando tonturas, confirmando a informação do autor antes citado.

A aerocinetose, é uma doença derivada de tais informações erroneamente

interpretadas pelo cérebro sobre o movimento e posição espacial do indivíduo.

Segundo tradução do estudo de Lackner (2004), a manifestação de quaisquer

das “cinetoses”, tanto a terrestre, quando a observada no meio aéreo) ou motion

sickness, consiste em uma resposta do organismo a esses estímulos, ainda não

totalmente descrita pela medicina, havendo várias teorias, sendo a mencionada a

Page 35: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

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mais aceita. Porém ainda não foi explicado o porquê dos estímulos serem coletados

ou interpretados de maneira errada desencadeando os sintomas, principalmente no

trato digestivo.

Ainda segundo o trecho traduzido pelo autor deste trabalho, onde Lackner

(2004) menciona a remoção cirúrgica de áreas de projeção vestibular do cerebelo,

tornando macacos insuscetíveis à doença de movimento.

Não há informações a respeito dessa intervenção em seres humanos.

Entretanto, pode-se, com o resultado da experiência com animais, entender que o

distúrbio está ligado a esta área do cérebro. Outrossim, não foram citadas no estudo,

as consequências da secção da área no comportamento dos animais ou possíveis

sequelas trazidas pela intervenção.

6.2 Sistema proprioceptivo

Responsável por grande parte das informações necessárias ao corpo humano

para definir sua orientação espacial e equilíbrio, juntamente com o sistema vestibular,

o proprioceptivo desempenha um papel importante no desenvolvimento do quadro da

aerocinetose.

Segundo Antunha e Sampaio (2008), esse sistema atua como um “sexto

sentido”, pela interação do indivíduo com o meio externo, informando ao cérebro

quanto ao estado do corpo humano.

De modo geral, o sistema proprioceptivo funciona como um catalisador da

nossa consciência situacional do dia a dia, é por ele que o nosso corpo consegue

perceber se os braços estão estendidos ou recolhidos sem a necessidade de

estarmos olhando para eles. Este é só um exemplo, dentre as diversas funções que o

sistema desempenha no cotidiano.

Sobre o sistema proprioceptivo, aos autores pesquisados afirmam o seguinte:

O Sistema Proprioceptivo é de natureza neurológica que recebe

informações provenientes de múltiplos sensores do nosso corpo como

a pele da sola dos pés, músculos e articulações, mucosas, língua,

sistema visual e sistema auditivo do equilíbrio (labirinto). Este sistema

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35

integra e compatibiliza todas essas informações e expede as ordens

necessárias para as fibras musculares de todo o corpo para que estas

realizem uma determinada ação (ANTUNHA e SAMPAIO, 2008, p.

280).

O referido sistema tem grande importância na interação do indivíduo com o

meio externo e também na maioria das funções do organismo.

Ainda segundo os autores, quando o sistema proprioceptivo entra em algum

tipo de disfunção, os sintomas são múltiplos e aparecem de diferentes maneiras a

depender do indivíduo.

A lista de sintomas apresentados quando ocorrem distúrbios no sistema

proprioceptivo incluem: dores, desequilíbrio (associado ao sistema vestibular),

perturbações vasculares e erros de localização espacial. Este último ocorre quando,

por exemplo: a pessoa possui dificuldades em localizar sua própria boca ao alimentar-

se; morde língua e bochechas; perde noção de distância que seus membros podem

atingir ao executar movimentos, causando quedas ou erros ao colocar líquidos em

recipientes.

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36

7 A AEROCINETOSE

Nos capítulos anteriores, mencionaram-se inúmeros fatores intrínsecos e

extrínsecos que contribuem para o aparecimento dos sintomas da aerocinetose, bem

como os órgãos que são responsáveis por causar os estímulos desencadeadores da

doença e os impactos causados pelo mau funcionamento destes.

Diante dos subsídios adquiridos até o momento, será abordada a seguir, a

aerocinetose, com seus sintomas e tratamentos. Objetivando, de uma forma simples,

descrevê-la fornecendo ao leitor conhecimentos a fim de que sejam realizadas ações

simples com a intenção de evitar-se ou de diminuírem-se os sintomas porventura

apresentados.

7.1 Visão geral

Há diversas explicações sobre o que vem a ser efetivamente a aerocinetose,

no entanto, destaca-se a seguinte citação:

Aerocinetose: resposta fisiológica a um estímulo sensorial relacionado

ao voo, real ou aparente, conflitante com os padrões armazenados

no cérebro, caracterizada por enjoo, vômito, palidez, sudorese,

cefaleia, apatia e prostração. (Mal do Ar) - Doença cinética ou

cinetose, é resultante de uma crise neurovegetativa complexa,

oriunda do movimento da aeronave, desencadeada pela

hipersensibilidade vestibular, agravada por instabilidade

neurovegetativa e uma predisposição psíquica (TEMPORAL, 2005,

p. 253, grifo nosso).

De acordo com o autor, aerocinetose (airsickness) ou também chamada de

“Mal do Ar” é a “resposta fisiológica a um estímulo sensorial relacionado ao voo, real

ou aparente [...]”.

Sendo assim, depreende-se do trecho textual, que os estímulos aos quais

somos submetidos são relacionados a vários fatores externos ocasionados pelo voo,

Page 38: Aerocinetose na aviação civil e suas implicações na formação do piloto comercial

37

podendo este, ocorrer em condições reais ou em simuladores, e também de fatores

internos ou “predisposição psíquica”.

De acordo com Uiliano, Lambert et al. (1986), há relatos de tripulantes que

apresentam os sintomas da doença em exercícios realizados até mesmo em

simuladores de voo, onde o tripulante permanece parado em relação ao solo, mas sua

visão ou outros sistemas sensoriais o informa que está em movimento, ou vice-versa,

causando uma incompatibilidade nas informações de orientação espacial recebidas

pelo cérebro.

Os sintomas característicos da doença se manifestam durante o voo ou após o

pouso e podem ser notados sinais como: tontura, náuseas, sudorese, boca seca,

eructações, flatulência, cefaleia, prostração e a consequente perdas da consciência

situacional da cabine e orientação espacial, podendo culminar na ocorrência de

vômitos, comprometendo assim a segurança em caso de voo solo.

De acordo com Syburra, Huber e Suter (2009), a aerocinetose apresenta

influência negativa na atividade de voos iniciais de instrução tanto militares quanto

civis, onde os tripulantes são submetidos à condições limítrofes de acelerações, forças

e variação abrupta de pressão atmosférica as quais o organismo não está habituado

e tende a responder de maneira adversa resultando no aparecimento dos sintomas

da doença.

Concatenando-se essas condições aos já citados fatores psicológicos

influentes sobre aluno, que por sua vez, nos voos de instrução inicial ainda está

inseguro e domina pouco os parâmetros e comandos da máquina a qual opera,

observam-se a potencialização dos sintomas apresentados e um quadro mais grave

que foge ao padrão apresentado, por exemplo, em passageiros da aviação comercial.

Dados divergem quanto à incidência da aerocinetose tanto em passageiros

quanto em tripulantes. Não obstante, todos os indivíduos que utilizam-se de quaisquer

meios de transporte possam apresentá-la, o estudo de Ribeiro (2006), citado por

Gomes (2012), demonstra que de 2% a 5% dos passageiros apresentam esse mal, e

aponta uma maior incidência dos sintomas em alunos de aviação, em torno de 5% a

10%, tanto no meio civil quanto militar, porém, encontraram-se índices de

manifestação de um ou mais dos sintomas em maiores proporções em pesquisa do

mesmo autor que será abordada a seguir em subseção apropriada.

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38

Ainda assim, aqueles dados podem sofrer alterações significativas justamente

pela questão da necessidade já mencionada de autoafirmação do piloto e do receio

em revelar que possui os sintomas, uma vez que nem sempre percebe-se claramente

o desenvolvimento destes sem que haja o relato do tripulante.

Então, afirma-se que a doença possui uma incidência não documentada muito

maior no âmbito da instrução de aviação inicial.

7.2 Classificação

Registrada na Classificação Internacional de Doenças versão 10 (CID 10), sob

número T75.3, a Cinetose ou enjoo de movimento (motion sickness), está posicionada

na categorização “T66 - T78 Outros efeitos de causas externas e os não

especificados”, possuindo documentada, a seguinte descrição: “Doença Causada

Pelo Movimento”.

Sua classificação nesta categoria, implica a contribuição majoritariamente de

causas externas como uma das principais causadoras de seu quadro, ficando em

segundo plano as causas intrínsecas ao indivíduo, como por exemplo, as de ordem

psicológica.

A ausência de um código específico para a aerocinetose, corrobora a ideia que

sua manifestação, como sendo uma variante da cinetose, torna mais rápido e fácil

diagnóstico e procura por tratamento, haja vista que esta é mais mencionada na

literatura médica.

7.2.1 Outras classificações

A cinetose também está registrada sob número 158280 no projeto OMIM

(Mendelian Inheritance in Man), que cataloga as doenças humanas que sejam

derivadas de uma componente genética, sugerindo que há fatores genéticos que

podem favorecer o aparecimento de seus sintomas, não excluindo-se, logicamente os

demais fatores contribuintes.

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39

7.3 Sintomatologia

Segundo pesquisa realizada por Gomes (2012), os sintomas da aerocinetose

aparecem em sua maioria, em um intervalo entre 30 e 45 minutos de voo, podendo

variar a depender das condições meteorológicas e das manobras executadas.

Gomes (2012) ainda cita os sintomas mais comuns percebidos por quem sofre

deste mal:

Os sintomas progridem da letargia à apatia, de mal gástrico a náuseas,

palidez, sudorese fria, chegando a vômitos e, finalmente, prostração

total. Náuseas e vômitos são os sintomas mais comuns, porém

existem sintomas acessórios que podem estar presentes

associadamente, que são cefaleia, aumento da salivação e da

manobra da deglutição, eructação e flatulência (GOMES, 2012, p. 18).

Um tripulante com aerocinetose é uma ameaça à segurança de voo,

considerando que pode-se chegar a um quadro de prostração 3 , dentre outros

sintomas limitantes, como citados acima pelo autor, que incapacitam-no a operar

corretamente os da aeronave comandos.

Ainda segundo o autor supracitado, os sintomas mais comuns da aerocinetose

são náuseas e vômitos. Além disso, pode-se considerar que “o desconforto epigástrico

não é um fato gerado simplesmente pela movimentação da aeronave, ele também

pode ser explicado pela diferença de pressão a qual o corpo humano é submetido ao

sair de uma determinada altitude para outra” (RIBEIRO, 2006 apud GOMES, 2012).

Dados acima, e anteriormente mencionados, comprovam que os sintomas da

aerocinetose são normalmente desencadeados por fatores intrínsecos, como os

fatores psicológicos, e extrínsecos ao tripulante, como a própria movimentação e

variação de altitude da aeronave.

Corroborando esta informação, menciona-se o seguinte:

_____________ 3 Prostração: s. f. Ação ou efeito de prostrar; grande debilidade proveniente de doença ou cansaço; enfraquecimento; esgotamento. (DICIO, 2013)

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40

O equilíbrio e a percepção do indivíduo no espaço são controlados

pela interação dos sistemas visual (olhos), vestibular (labirinto) e

proprioceptivo (receptores sensoriais das articulações e músculos).

Quando ocorre alguma alteração nestes três sistemas podem ocorrer

os sintomas de desequilíbrio e enjoo (MATTIOLA, 2010).

O autor menciona os estímulos que o nosso corpo se utiliza para sua orientação

e equilíbrio, necessitando apenas de uma discrepância dentre alguns deles para que

aconteçam os sintomas da doença.

Apesar de serem percebidos em sua maioria de imediato, os sintomas podem

manifestar-se algumas horas depois da exposição ao fator desencadeador (voo real

ou exercício em simulador), o que pode, algumas vezes dificultar o diagnóstico.

De acordo com a pesquisa de Gomes (2012) com profissionais da aviação

militar, a incidência dos sintomas foi observada majoritariamente na fase de instrução

pré-solo, com posterior remissão. E ainda segundo a pesquisa do autor, a incidência

sintomática demonstrada por gráficos, foi de aproximadamente 20% no público

pesquisado, aumentando a prevalência citada por Ribeiro (2006).

Já Pinheiro (2013), afirma que em passageiros, a incidência de sintomas pode

chegar a 25%, uma incidência menor do que a da cinetose em navios, de 40%, que

devido à amplitude e frequência do movimento deste geralmente serem maiores,

favorecem a incidência dos sintomas.

Como pôde-se perceber ao longo desta pesquisa, o meio aeronáutico é

altamente propício para que haja alterações no sistema vestibular. Com acelerações

em três sentidos (linear, radial e angular), vibrações e visibilidade limitada, o ambiente

na cabine oferece condições para que os estímulos externos sejam interpretados de

maneira equivocada pelo cérebro favorecendo a desorientação espacial, tonturas

outros distúrbios do equilíbrio.

7.3.1 Fatores pessoais que favorecem o surgimento dos sintomas

Os sintomas da cinetose e aerocinetose possuem um grupo de pessoas com

certas características, conforme menciona Pinheiro (2013): sexo feminino; crianças

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maiores que dois anos; gravidez; portadores de labirintite e ansiedade. Além dos

fatores psicológicos mencionados anteriormente.

7.4 Diagnóstico

O diagnóstico da aerocinetose é feito por um médico otorrinolaringologista com

base no relato dos sintomas apresentados pelo indivíduo.

Muitas vezes o tratamento pode ser retardado devido ao aeronavegante não

procurar ajuda médica a respeito do problema, ou mesmo, devido à diversidade dos

sintomas, o tripulante tende a procurar várias especialidades médicas, obtendo

tratamentos e medicações não correspondentes até ser atendido de maneira correta

e devidamente tratado.

Apesar do diagnóstico ser clínico (apenas com a observação dos sintomas), o

médico poderá solicitar exames específicos para a confirmação do quadro patológico,

como: audiometria, impedanciometria, meatoscopia, vídeonistagmografia e exames

otoneurológicos, a fim de descartar a possibilidade da causa do problema se dar por

complicações neurológicas mais graves, apesar de raras.

7.5 Prevenção

No meio aeronáutico, é possível a observância de algumas ações objetivando

a minimização dos sintomas da aerocinetose até uma possível dessensibilização total

do organismo. Levando em consideração o fato de que não foram encontradas fontes

que relatam casos de impossibilidade de cura.

7.5.1 Estímulos visuais

Para os passageiros de qualquer meio de transporte, é recomendado por

Pinheiro (2013), que evite-se a leitura durante a viagem e que o indivíduo olhe para

um ponto fixo e evite acompanhar pontos da paisagem.

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No entanto, aos tripulantes, esta sugestão não se aplica, devido à necessidade

constante de leitura de cartas, monitoração de instrumentos de voo e a conferência

de pontos de referência visuais no solo (em caso de voo visual). Portanto, sugere-se

a esses que evitem movimentos bruscos com a cabeça para que os olhos consigam

focar pontos individuais por mais tempo.

7.5.2 Exercícios físicos

Segundo Os exercícios são recomendados para que o organismo se

dessensibilize devido aos movimentos realizados, por exemplo, durante corridas. E

assim, o cérebro consiga administrar os estímulos de maneira que não mais haja a

observância da doença ou ocorra uma diminuição da intensidade dos sintomas a ela

relacionados.

7.5.3 Alimentação adequada

Sabe-se que uma alimentação adequada é um dos pilares para uma vida

saudável. Durante os voos, Pinheiro (2013) recomenda evitar comer, consumir bebida

alcoólica e fumar.

Alguns alimentos colaboram para o agravamento do quadro da aerocinetose

pela reação que causam quando ingeridos:

Se comer alimentos que estimulam a formação de gases, como

feijão, lentilha, abóbora, cebola, repolho, couve, pepino ou salsicha,

a digestão será mais difícil e você vai se sentir "inchado". É por isso

que os refrigerantes também são contraindicados, assim como as

frituras, as carnes vermelhas e os molhos (GOMES, 2012, p. 21).

O autor cita alguns alimentos que devem ser evitados antes do voo, assim como

quaisquer alimentos considerados pesados, gordurosos ou calóricos demais, devido

à demora na digestão.

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De acordo com o Portal da Aviação (2010), o jejum pleno também favorece o

aparecimento dos sintomas relacionados a aerocinetose. Portanto sugere-se que o

tripulante não labore sem uma alimentação prévia, porém, sem excessos.

Pilotos, são aconselhados a manterem uma dieta saudável todos os dias, não

só em dias de trabalho devido aos exames periódicos frequentes obrigatórios para

diminuir-se a possibilidade de complicações de saúde em voo. Portanto, é inerente à

carreira que o profissional siga uma alimentação regrada evitando problemas futuros

com afastamento e perda de qualidade de vida, não só na prevenção do quadro de

enjoo de movimento.

7.6 Tratamentos

A aerocinetose é tratada de diversas maneiras a depender da intensidade dos

sintomas e da resposta do indivíduo acometido por eles.

Nesta subseção, listar-se-ão algumas das principais e mais eficazes formas de

tratamentos da doença. Porém, não eliminando a necessidade de consulta prévia com

profissionais da área médica para o correto diagnóstico e administração de

medicamentos, ou prescrição de tratamentos alternativos. O objetivo neste trabalho,

é apenas a instrução informativa para o aluno-piloto.

7.6.1 Reabilitação labiríntica ou Reabilitação vestibular

O tratamento envolvendo a reabilitação labiríntica, consiste em manobras com

a cabeça, instruídas por um profissional de fonoaudiologia ou médico

otorrinolaringologista, a fim de dessensibilizar o organismo do paciente ao movimento

causado em meios de transporte.

De acordo com Mack (2011), a reabilitação vestibular é o melhor tratamento

indicado para as cinetoses, melhorando a qualidade de vida do indivíduo e o

desempenho em suas atividades cotidianas.

Ainda sobre o tratamento com reabilitação vestibular, têm-se a importante

consideração:

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Trata-se de um conjunto de exercícios físicos repetitivos associados a

mudanças de hábitos, cuja base terapêutica está ligada à plasticidade

vestibular. Os exercícios devem ser indicados por fonoaudiólogos

especialistas na área (MANTELLO, 2013).

Nesta citação, a autora confirma que há, comprovadamente, uma “plasticidade

vestibular”, onde se faz possível a adaptação do órgão aos estímulos antes

desencadeadores da aerocinetose.

Corroborando a afirmação da autora acima, o Portal da Aviação (2010),

menciona que o tratamento com reabilitação vestibular é o principal na profilaxia da

aerocinetose, porém, existem outros tratamentos não medicamentosos menos

difundidos como a eletroestimulação do nervo mediano.

7.6.2 Tratamentos medicamentosos

Os tratamentos envolvendo medicamentos são uma alternativa na profilaxia da

aerocinetose. No entanto, as drogas disponíveis no mercado, segundo Meluzzi (2011),

causam uma diminuição da atividade encefálica, acarretando sonolência e lentidão no

raciocínio.

Apoiando Meluzzi (2011), pode-se citar Gomes (2012), Lackner (2004),

Pinheiro (2013), dentre outros autores pesquisados, informam que tais medicamentos

causam sonolência e são totalmente contraindicados na profilaxia da doença em

tripulantes, podendo acarretar em sérias consequências.

Mesmo sendo contraindicados, Gomes (2012) cita tais classes de

medicamentos com a ressalva mencionada, são eles: anti-histamínicos,

antidopaminérgicos, antimuscarínicos.

O principal remédio, dentre os das categorias citadas acima, que é utilizado

pela maioria da população, recebe o nome comercial de Dramin® B6. Esta droga

possui como agentes principais a vitamina B6 e o dimenidrinato, podendo-se utilizar

doses variáveis, conforme prescrição médica, também sendo ressalvada a

contraindicação para condutores de veículos e operadores de máquinas cortantes.

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Além das drogas mencionadas, existem diversos outros que podem ser

receitados por médicos, a lista demonstrada nesta subseção não esgota as

possibilidade, mas utiliza-se da menção dos tipos de remédios mais utilizados no

tratamento.

A respeito dos demais medicamentos indicados, cita-se:

[...] uma boa pedida é usar algum tipo de medicamento que iniba os

sintomas da cinetose antes mesmo de eles acontecerem. As

medicações mais utilizadas são a metoclorpropramida, flunarizina,

dimenidrinato e os inibidores centrais do vômito, como a

ondansetrona. É importante ressaltar, porém, que todo medicamento

deve ser indicado por um médico de confiança (MELUZZI, 2011, grifo

nosso).

Outro autor ainda alerta para o seguinte: “depois de instalado o quadro os

sintomas são mais intensos e não respondem muito bem ao tratamento com

medicação. É sempre melhor prevenir do que tratar” (GOMES, 2012, p. 21).

Portanto, a sugestão é que os sintomas sejam evitados, com as

recomendações alimentares, exercícios físicos, boas condições psicológicas durante

o voo e a não ingestão de álcool, uso de cigarros ou outras drogas.

7.6.3 Remédios naturais (fitoterapia)

Apesar da reabilitação vestibular ou labiríntica apresentar-se como a forma

mais eficiente de profilaxia para a aerocinetose, sua aplicação efetiva pode demandar

um tempo muito grande se comparado a outros métodos. Alguns indivíduos, ao serem

tratados dos sintomas, podem não responder satisfatoriamente à medicação

tradicional.

Por isso a medicina natural oferece algumas alternativas a fim de acelerar-se o

resultado dos demais tratamentos, por si só assegurar ao paciente bons resultados

ou mesmo a solução efetiva do problema.

Botsari (2011), clínico geral e estudioso de plantas medicinais, menciona o chá

de gengibre como um ótimo remédio para os sintomas das cinetoses. O autor destaca

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que é cientificamente comprovada a atividade da planta contra náuseas e doenças

relacionadas com o movimento.

O autor ainda sugere que o chá da erva deve ser consumido três vezes ao dia

em que for exposto ao fator causador, de dois a quatro gramas da planta em forma de

raiz fresca para cada 150 ml de água.

Mack (2011), informa ainda que algumas plantas, como o já citado, gengibre, a

camomila e a hortelã, também são indicadas para controlar os sintomas relacionados

ao enjoo de movimento.

Os vegetais citados não possuem contraindicação em decorrência de não

apresentarem efeitos colaterais, como a sonolência e lentidão no raciocínio antes

citadas. Portanto, depreende-se que sua utilização não trará malefícios; somente

vantagens caso o indivíduo reaja ao tratamento.

É adequado que o aluno-piloto acometido por algum sintoma da doença, faça

a utilização de algum método indicado nesta subseção antes de procurar ajuda

médica caso julgue pertinente, e os sintomas apresentados não apresentem maiores

consequências e complicações que somente o desconforto durante a pilotagem. Uma

vez que, não se trata de automedicação, o próprio indivíduo terá a possibilidade de

verificar a diminuição dos sintomas no decorrer do seu treinamento prático de voo.

7.6.4 Tratamentos homeopáticos

Durante coleta de dados para este trabalho, não foram encontradas fontes

relacionando a homeopatia com o sucesso em tratamentos de cinetoses.

No entanto, caso haja preferência por este método, pode-se realizar consulta

com profissional da área para avaliar possibilidades de tratamento, haja vista que

raras foram as fontes encontradas indicando esse tratamento para doenças do tipo.

7.6.5 Acupuntura e acupressão

A acupuntura é um ramo da medicina tradicional chinesa, a Organização

Mundial da Saúde (OMS), classifica-a como um tratamento complementar, consistindo

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na aplicação de agulhas em diversas partes do corpo, chamadas de pontos de

acupuntura.

Embora haja divergências acerca da eficácia deste método para a profilaxia de

doenças relacionadas ao movimento, como a aerocinetose, Botsari (2011) também

cita que a acupuntura também possui evidência científica de atuar neste tipo de

patologia, e recomenda que uma aplicação de agulhas pode ser feita antes da

exposição ao ambiente causador dos sintomas.

A acupressão, é um tratamento que consiste em pressão nos mesmos pontos

onde são aplicadas agulhas, sugerido quando não há possibilidade de aplicação das

delas ou não haja sua disponibilidade no momento necessário à aplicação.

Uma pesquisa utilizando a acupressão, conduzida pelos autores, Ding, Zhao et

al. (2006), com um grupo de 200 pessoas, onde, em 102 delas aplicaram-se grânulos

magnéticos em pontos localizados na orelha e no Neiguan Point (P6), localizado

pouco após do pulso em direção ao cotovelo; as 98 restantes serviram como grupo

de controle, recebendo tratamento convencional com theohydramine (dimenidrato).

Cita-se abaixo o resultado da pesquisa:

Houve uma diferença significativa entre os dois grupos na taxa efetiva

total (P<0,05), e os sintomas clínicos desapareceram mais

rapidamente no grupo de tratamento comparando com grupo de

controle (P<0,05). O efeito terapêutico nos pacientes com sintomas de

leve a moderados do grupo de tratamento foi melhor do que a do grupo

de controle, e não houve nenhuma diferença significativa no efeito

terapêutico para os pacientes com doença grave entre os dois grupos.

No grupo de tratamento, o efeito terapêutico do paciente leve era o

melhor, no paciente que apresentava quadro moderado ou grave,

observou-se uma piora no estado do paciente, com uma diferença

expressiva (P<0,005) (DING, ZHAO, et al., 2006, p. 325, tradução

nossa).

Com o texto acima, confere-se uma expressiva perspectiva de sucesso nos

tratamentos ministrados em pacientes com sintomas leves e moderados, perdendo

sua eficácia em pacientes com a doença em estágios mais avançados.

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Sobre o tratamento com acupuntura, observa-se mais resultados como segue

a citação:

A pesquisa clínica tem demonstrado esta modalidade de tratamento

para náusea, seja devido a náuseas em mulheres grávidas, a doença

de movimento em viajantes, náuseas ou náusea induzida pela

quimioterapia em pacientes com câncer (SAMUELS, 2003, p. 297,

tradução nossa).

Segundo o autor, os tratamentos com acupuntura, aqueles que são realizados

por médico especializado e com o uso de agulhas, apresenta uma relevância

significativa no tratamento da doença, inclusive em pacientes com outras

vestibulopatias ou no tratamento de enjoo causado pela utilização e medicamentos

contra cânceres.

Devido ao baixo custo do método, é aconselhado ao tripulante que sentir-se

prejudicado pelos sintomas da aerocinetose, que procure um especialista no ramo e

realize a tentativa de tratamento.

7.6.5.1 Pulseira de acupressão

Figura 2: Pulseira de acupressão Fonte: http://enjoo.net.br/wp-content/uploads/pulseira-anti-enjoo2.png

As denominadas pulseiras de acupressão, são difundidas no mercado e

utilizadas principalmente por gestantes durante os meses iniciais da gravidez, também

sendo indicadas para utilização mitigadora dos enjoos de movimento.

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No meio científico, contudo, a utilização da pulseira mostra-se contraditória

para o tratamento de cinetoses. Em pesquisa realizada por Miller e Muth (2004), não

foi encontrada relação entre o uso de duas marcas de pulseiras de acupressão, com

diminuição efetiva dos sintomas de cinetoses.

Segundo os autores, “nem a pulseira nem um placebo impediram o

desenvolvimento da doença de movimento, independentemente se estas foram

utilizadas correta ou incorretamente” (MILLER e MUTH, 2004, p. 227, tradução

nossa).

A acupuntura se mostra uma alternativa para o tratamento da doença, e pode

ser utilizada em conjunto com outras formas para a diminuição dos sintomas

encontrados em doenças de movimento.

7.6.6 Outros métodos

Além das formas já citadas de tratamento das cinetoses, e principalmente da

aerocinetose, a área médica sugere, em casos extremos a adoção de outros tipos de

tratamentos. As fontes pesquisadas listam tratamentos em cadeiras giratórias,

eletroestimulação e cirurgias.

De qualquer forma, essas limitam-se apenas em mencioná-los devido ao baixo

número de pessoas que alcançam a progressão necessária dos sintomas para que

seja indicada a execução daqueles procedimentos. Haja vista a baixa complexidade

na aplicação dos tratamentos citados no decorrer deste trabalho assim como o baixo

custo.

Apesar da lista anterior ser a mais indicada para a adaptação do organismo, é

também importante, citar que a regularidade dos voos é também um método muito

eficaz de tentar-se minimizar ou eliminar os sintomas apresentados, sendo a forma

mais utilizada por quem sofre das cinetoses. Os voos, servem assim, como um

tratamento de reabilitação labiríntica “involuntário” onde os estímulos são enviados ao

cérebro e este se adapta com o passar do tempo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho abordou em uma visão simples, a evolução sofrida pelos meios

de transporte nos últimos séculos, e sua relação com o organismo humano; a

diferença entre o ambiente dentro da aeronave e o terrestre; os fatores causadores

da aerocinetose e suas relações com a formação do piloto comercial; sua prevalência

em passageiros; os sistemas do corpo humano que favorecem o aparecimento dos

sintomas e, dentre outros assuntos, formas simples de conseguir-se diminuir ou

eliminar os sintomas da doença.

Demonstraram-se vários fatores que podem contribuir para que a doença se

manifeste e consiga impactar significativamente a formação e carreira de tripulantes

de aeronaves, e o bem-estar durante a viagem em passageiros. Um desses fatores,

o psicológico, é tratado em especial por muitas vezes passar despercebido pela

maioria dos portadores dos sintomas e ser responsável por grande parte da incidência

da patologia.

As referências consultadas, não mencionaram, no entanto, casos onde a cura

não foi possível, sendo assim, pôde-se concluir que a possibilidade de alcançá-la,

seguindo-se os tratamentos sugeridos é grande, bastando ao indivíduo, a paciência,

persistência e determinação exigidos para tratar-se através um mais métodos que

sejam adotados para o tratamento.

A regularidade da exposição ao movimento pode ser a mais simples maneira

de enfrentar a doença, uma vez que o cérebro passa a interpretar corretamente os

estímulos a ele enviados pelos sistemas responsáveis pelo movimento. Portanto, o

segredo é o aluno piloto não se desesperar e seguir seu treinamento naturalmente até

que os sintomas desapareçam por si só. Caso isto não ocorra, pode-se procurar ajuda

profissional ou adotar procedimentos sem a utilização de medicamentos, como os

listados neste documento.

A aerocinetose é empecilho durante a formação de muitos pilotos,

especialmente durante as primeiras horas de voo do treinamento prático, na maioria

não atrapalha muito, contudo, em alguns, pode levar à desistência da carreira e uma

posterior frustração profissional e insatisfação durante sua vida.

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Acredita-se que este trabalho cumpriu seu objetivo, informando ao aluno-piloto

que sentindo-se impactado por este problema, não desista de continuar sua formação.

Sendo assim, agora, conhecendo-se melhor, entendendo o que se passa no interior

da cabine durante o voo e compreendendo como é desencadeada a aerocinetose,

este tenha as informações necessárias para seguir sua formação.

Para isso, sugere-se a dedicação do aluno, a fim de que este empenhe-se o

suficiente para ter seu nível de estresse diminuído durante o voo, em razão da

segurança com que passará a operar a aeronave; uma alimentação adequada, sem

excessos, drogas, bebidas alcoólicas ou uso de cigarro; voos em locais com

temperaturas amenas; delicadeza na manipulação dos controles de voo, para evitar

acelerações repentinas; um bom relacionamento com o instrutor de voo, para garantir

a tranquilidade e o bom aproveitamento de todas as fases do voo por parte do aluno.

As sugestões profiláticas mencionadas neste trabalho são de caráter

meramente sugestivo e aconselhador, não eximindo-se, de forma nenhuma o

aconselhamento profissional de um médico otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo

especializados no tratamento de doenças de movimento.

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