adulteraÇÃo de cehque - domingos tocchetto

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ADULTERAÇÃO DE CHEQUE Domingos Tocchetto [email protected] XX CONGRESSO NACIONAL DE CRIMINALÍSTICA III CONGRESSO INTERNACIONAL DE PERÍCIA CRIMINAL João Pessoa – PB, 04 a 09 de outubro de 2009.

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Page 1: ADULTERAÇÃO DE CEHQUE - Domingos Tocchetto

ADULTERAÇÃO DE CHEQUE

Domingos Tocchetto

[email protected]

XX CONGRESSO NACIONAL DE CRIMINALÍSTICA III CONGRESSO INTERNACIONAL DE PERÍCIA CRIMINAL João Pessoa – PB, 04 a 09 de outubro de 2009.

Page 2: ADULTERAÇÃO DE CEHQUE - Domingos Tocchetto

I - I N T R O D U Ç Ã OI - I N T R O D U Ç Ã O

O emitente do cheque questionado alegou que houve adulteração do valor original do cheque, de R$ 35,00 para R$ 3.005,00 e TRINTA E CINCO REAIS para TRES MIL CINCO REAIS.

Através de inúmeros quesitos foram requeridos três tipos diferentes de perícias:

1o) perícia para verificar a existência de vestígios da adulteração;

2o) perícia grafoscópica nos dizeres manuscritos usados no preenchimento do cheque, visando comprovar que foram produzidos por mais de um punho escritor;

3o) perícia para verificar se foi usada uma só caneta esferográfica, ou mais de uma, para produzir os dizeres manuscritos existentes no cheque.

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II- DOCUMENTO QUESTIONADO 

Cheque SK-683393, do Banco Itaú S. A., datado de “20 de dezembro de 2001”, no valor de R$ 3.005,00, tendo como emitente Olmiro Ribeiro Biskup e como favorecido Fabiano Pereira.

O papel suporte mede 17,6 cm de comprimento por 7,6 cm de largura. Seus espaços e pautas foram parcialmente preenchidos com dizeres manuscritos, em letras de fôrma e maiúsculas, inclusive a assinatura, mediante o emprego de canetas esferográficas dotadas de cargas com tintas (massas pastosas) de cores preta e azul.

A assinatura do emitente do cheque , em letras de fôrma e maiúsculas, foi lançada com caneta esferográfica contendo tinta preta. As impressões do fundo e dos dizeres impressos, foram produzidas com o emprego de tinta azul, preta, amarela e rosa.

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III - MÉTODO PERICIAL E INSTRUMENTAL UTILIZADO 

3.1- Método pericial

Na perícia grafoscópica dos dizeres manuscritos (questionados e padrões), presentes no cheque, utilizamos o MÉTODO GRAFOCINÉTICO e o MÉTODO SINALÉTICO.

Para a análise química da(s) tinta(s), visando determinar se foi usada uma ou mais de uma caneta esferográfica para a produção dos dizeres manuscritos, a cromatografia em camada delgada de sílica gel pode constituir-se, num recurso valioso.

A análise da tinta dos diversos dizeres manuscritos, por cromatografia em camada delgada de sílica gel, poderá permitir que se estabeleça se os dizeres manuscritos foram todos produzidos com uma mesma caneta esferográfica, ou não.

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As análises físicas consistem, nos estudos pertinentes aos traçados, dos seguintes itens:

·      Cor·      Tonalidade·      Brilho·      Largura média·      Fluorescência·      Luminescência ultravioleta (UV)·      Microestriamentos deixados pela esfera da caneta.  As análises físico-químicas normalmente são refletidas pela cromatografia em camada delgada, pois trata-se de técnica de altíssima sensibilidade e que pode ser realizada em pequeno fragmento de traço, de 1 mm de diâmetro, sendo parcial e insignificantemente destrutiva.

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3.2- Instrumental utilizado

Microscópio estereoscópio binocular marca PZO, com luz incidente, luz rasante, dois pares de oculares com potência de aumentos de 12x e 17x e quatro objetivas com potências de 1x, 2x, 3x e 5x, com aumentos de 12x a 85x.

Microscópio marca LUMAGNY, dotado de lente com

zoom, que permite a observação de objetos com aumentos de 60x, 80x e 100x; lupas manuais (lupas de bolso), com potência de aumento de 10x, 15x e 20x.

Uma máquina fotográfica NIKON FG, com lentes Micro-Nikkor 55mm, Nikkor 28mm e Super Wide Panoramic High Resolution 0.42X, filtro 80B, foi usada para a obtenção das fotografias (figuras).

Lâmpada de Wood, emissora de raios ultravioleta filtrados, foi usada no exame de rasuras, tonalidades de tintas e outros vestígios, foi usada uma

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IV- EXAME PERICIAL REALIZADO  

4.1- Exame dos valores numérico e por extenso a fim de constatar a existência, ou não, de vestígios da adulteração dos mesmos.

a) R$ 35,00 R$ 3.005,00 Junto ao valor numérico do cheque há tênues

vestígios da remoção de algarismos do valor original do cheque, que era de “35,00”. Não conseguimos

identificar o método usado para tal remoção.

b) TRINTA E CINCO REAIS TRES MIL CINCO REAIS

No valor por extenso do cheque ha vestígios da remoção de parte das letras da expressão original “TRINTA E”, em especial do “T” e do “A”, do valor original “TRINTA E CINCO REAIS”.

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4.2- Perícia grafoscópica nos dizeres manuscritos  

A perícia grafoscópica foi realizada nos dizeres manuscritos questionados, lançados no cheque SK-683393, do Banco Itaú S. A., datado de “20 de dezembro de 2001”, no valor de R$ 3.005,00, confrontando-os com assinaturas e dizeres manuscritos autênticos, produzidos pelo punho escritor de Olmiro Ribeiro Biskup. Quanto ao aspecto geral dos dizeres manuscritos confrontados, há alguma semelhança formal entre os dizeres manuscritos questionados e os autênticos de Olmiro Ribeiro Biskup, semelhança essa insuficiente para permitir alguma conclusão categórica, com base nas características gerais.

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Características particulares

Existem as seguintes DIVERGÊNCIAS no confronto dos dizeres manuscritos questionados, com os autênticos:

1. A forma e a gênese da maiúscula “E”, em “TRES”.

2. A forma e a gênese da maiúscula “S”, em “TRES”, em especial a forma do grama de remate (traço final).

3. A forma e sobretudo a gênese da maiúscula “M”, em “MIL”, em especial com relação à forma da sua região mediana.

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4. A maiúscula “I”, em “MIL”, que no valor por extenso não possui o “pingo”, enquanto que nos dizeres autênticos de Olmiro Ribeiro Biskup o “I” sempre se apresenta com seu pingo.

5. A forma e a gênese do “L”, em “MIL” são divergentes. No valor por extenso a espessura do traço é maior, contínua e uniforme em toda a extensão da letra, o que não ocorre nos dizeres manuscritos autênticos de Olmiro Ribeiro Biskup.

6. O algarismo “5” do valor numérico “3.005,00”, tem forma e gênese divergentes, especialmente quanto a região superior desse algarismo.

7. A forma e a gênese do algarismo “0” (zero), do valor numérico “3.005,00”, são divergentes.

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4.3- Exame da(s) tinta(s) dos dizeres manuscritos relativos aos dizeres “TRES MIL” e aos algarismos do valor numérico “3.005,00”.

As letras ou dizeres “ES MIL”, do valor por extenso “TRES MIL CINCO REAIS”, bem como os algarismos “5” e “0”, do valor numérico “3.005,00” não foram produzidos pelo punho escritor do emitente Olmiro Ribeiro Biskup. O emitente do cheque em análise alega que esse cheque foi emitido no valor de “R$ 35,00”, cujo valor por extenso seria “TRINTA E CINCO REAIS”. Entretanto, o que consta neste cheque são os valores “3.005,00” e “TRES MIL CINCO REAIS”.

As análises físico-químicas da(s) tinta(s) dos dizeres manuscritos, sobretudo dos dizeres relativos ao valor “TRES MIL CINCO REAIS” e ao valor “3.005,00”, foram por cromatografia em camada delgada de sílica gel.

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Antes de recortar os discos foi realizado o exame

físico dos traçados dos dizeres citados no parágrafo

anterior, considerando a cor, tonalidade, brilho, largura

média, e características constitutivas entre os bordos,

tais como a distribuição da pigmentação e

eventualmente microestrimentos ocasionados por

diminutos defeitos da esfera ou da ponta do

instrumento escritor.

Esse exame revelou divergências dessas caracte-

rísticas físicas entre as tintas e os traços das letras “ES

MIL”, em relação às demais letras do valor por extenso

“TRES MIL CINCO REAIS”. As letras “ES MIL”

apresentam em seus bordos traços mais escuros do

que sua região mediana, em forma de uma linha.

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MATERIALMATERIAL PARA EXAME POR PARA EXAME POR CROMATOGRAFIACROMATOGRAFIA EM CAMADA DELGADA DE SÍLICA GELEM CAMADA DELGADA DE SÍLICA GEL

Em geral, para realizar uma análise por cromatografia em camada delgada de sílica gel, necessita-se do seguinte material: 1-1- Placa de sílica gel, de marca Merck ou similar, montada em alumínio. 2- 2- Trocarte adaptado para extrair segmentos de papel de aproximadamente 1 mm de diâmetro.

3-3- Suporte plano de borracha.

4-4- Pinça pequena.

5-5- Placas de vidro com depressões para “spot testes”.

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6-6- Micropipeta dispensadora de 20 microlitros.

7-7- Tubos capilares de 0,5 mm de diâmetro.

8-8- Tubos de ensaio de 5cm x 0,5 cm.

9-9- Suporte para tubos de ensaios.

10-10- Cuba para a partição.

11-11- Secador de cabelo (ar quente).

12-12- Solventes apropriados sendo os seguintes os mais utilizados:

12.1-12.1- Extrator total : Piridina pró análise (P. A.)

12.2-12.2- Solvente de partição: . N Butanol pró análise.................... 5 vol. . Etanol pró análise........................ 1 vol . Água destilada................................ 1,5 vol.

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Passamos, a seguir, ao exame químico da(s) tinta(s) por cromatografia em camada delgada de sílica gel. Foram retirados diminutos discos do papel contendo pigmentos tintóreos de traços dos seguintes algarismos e letras dos dizeres manuscritos:

1. “3” - do valor numérico “3.005,00”;2. “5” - do valor numérico “3.005,00”;3. “R” - de “TRES”, do valor por extenso;4. “M” - de “MIL”, do valor por extenso;5. “N” - de “FABIANO”, do nome do favorecido;6. “4” - do número “4.48.024-8” do RG, constante no verso. Também foram retiradas duas amostras para teste

“branco”, isto é, dois discos do papel suporte, sem a tinta dos dizeres manuscritos, para verificar quais os pigmentos que integram a impressão do fundo de segurança do cheque.

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M É T O D OM É T O D O  1- Recortar a placa de sílica gel, nas dimensões apropriadas à pesquisa que se vai efetuar Deixar os bordos com mais ou menos 1mm de alumínio sem sílica gel. Marcar com lápis macio a linha de partida (P) que vai receber os pigmentos para a partição.

2- Alternativas para transferência das tintas para a placa: a)- Colocar o pequeno disco com segmento do traço voltado para a superfície de sílica gel. Com o tubo capilar colocar 01 (uma) gota de piridina. Secar com ar quente. b)- Colocar o disco na depressão etiquetada da placa de vidro e dissolver com piridina. Transferir quan- titativamente o material diluído para a placa de sílica gel, na linha de partida assinalada, e secar com ar quente.

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3-3- Levar a placa de sílica gel para a cuba já contendo o solvente de partição previamente ali colocado, no mínimo 15 minutos antes, para saturar o ambiente.

4-4- Deixar a placa na cuba entre 15 e 45 minutos, pois este é o tempo que a partição cromatográfica pode levar, dependendo da natureza da tinta.

5-5- Marcar a linha de front (F).

6- Determinar os coeficientes de partição (“Rf”) dos pigmentos. Rf (Rate-flow): - distância entre a linha de partida e a do front - distância da linha de partida à mancha corada  Quando o papel for corado: realizar um BRANCO (recortar um segmento do papel sem a tinta).

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  (*) Os pigmentos verde e azul celeste não migraram

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INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOSINTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

. Inicialmente realizar o exame físico do traçado através do estudo microscópico do traçado e interpretar os resultados relativos aos seguintes itens: cor, tonalidade, brilho, largura média, microestrias e UV.

. Na interpretação do resultado deve-se levar em conta os pigmentos visíveis luminiscentes ao UV do branco. Também lembrar que a situação (posição) dos pigmentos têm uma tolerância de ± 1 mm.

. Com relação aos pigmentos obtidos, comparar:

. a cor; . os Rf: - se forem semelhantes: indicam tintas de mesma composição; - se forem diferentes: indicam composição diferente das tintas.

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CONCLUSÕES   1a) Foram identificados vestígios que comprovam que o valor original do cheque de R$ 35,00 foi adulterado para R$ 3.005,00 e de TRINTA E CINCO REAIS para TRES MIL CINCO REAIS.  2a) Os algarismos “0” e “5” do valor numérico e as letras dos dizeres “ES MIL”, em TRES MIL CINCO REAIS, não foram produzidos pelo punho escrevente do emitente do cheque.  3a) Através da análise realizada por cromatografia em camada delgada de sílica gel ficou comprovado que os dizeres dos dizeres “ES MIL” e os algarismos “0” e “5”, dizeres foram produzidos com caneta esfero- gráfica diferente daquela usada para produzir as outras letras e algarismos dos valores por extenso e numérico do cheque examinado.