adubaÇÃo follar em milho utilizando fertilizantes

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MILHO ADUBAÇÃO FOLlAR EM MILHO UTILIZANDO FERTILIZANTES MULTINUTRIENTES Antônio Marcos Coelho Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo [email protected] N oBrasil,a adubação foliar uti- lizando fertilizantes multinu- trientes na cultura do milho tem se intensificado nos últimos anos, tendo contribuído para isso os seguintes fato- res: o desenvolvimento de híbridos com elevado potencial produtivo e com maior exigência nutricional; correção de defici- ências eventuais;aproveitamento de ope- rações para aplicação de defensivos e a grande disponibilidade no mercado de fertilizantes contendo vários nutrientes. As seguintes condições têm levado a um agravamento geral das deficiências de micronutrientes, tornando-se uma obri- gatoriedade as análises de solo e plan- ta, visando um adequado diagnóstico das suas necessidades: no caso específi- co dos micronutrientes, o uso de fórmu- las de fertilizantes de alta concentração, principalmente em nitrogênio (N), fós- foro (P) e potássio (K), reduzindo a ofer- ta de micronutrientes, como impurezas. O avanço da fronteira agrícola para os solos ácidos e pobres - inclusive em mi- cronutrientes - dos Cerrados (com exce- ção do manganês); a correção de acidez com a elevaçãodo pH do solo,diminuin- do a disponibilidade (com exceção do molibdênio) dos micronutrientes zinco, boro, cobre, ferro e manganês, original- mente deficientes, podendo diminuir até 100 vezes a disponibilidade de manga- nês e zinco, além de reduzir a atividade do cobre e de ampliar os riscos de per- das de boro por lixiviação. Determinar as fontes, doses e épocas de aplicação mais adequadas, bem como verificar possíveis efeitos fitotóxicos às plantas, pela aplicação de fertilizantes multinutrientes, pode auxiliar sobrema- neira no planejamento da adubação.

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Page 1: ADUBAÇÃO FOLlAR EM MILHO UTILIZANDO FERTILIZANTES

MILHO

ADUBAÇÃO FOLlAR EM MILHO UTILIZANDOFERTILIZANTES MULTINUTRIENTES

Antônio Marcos CoelhoPesquisador da Embrapa Milho e [email protected]

NoBrasil, a adubação foliar uti-lizando fertilizantes multinu-trientes na cultura do milho tem

se intensificado nos últimos anos, tendocontribuído para isso os seguintes fato-res: o desenvolvimento de híbridos comelevadopotencial produtivo e com maiorexigência nutricional; correção de defici-ências eventuais; aproveitamento de ope-rações para aplicação de defensivos e agrande disponibilidade no mercado defertilizantes contendo vários nutrientes.

As seguintes condições têm levado aum agravamento geral das deficiências demicronutrientes, tornando-se uma obri-gatoriedade as análises de solo e plan-ta, visando um adequado diagnósticodas suas necessidades: no caso específi-co dos micronutrientes, o uso de fórmu-las de fertilizantes de alta concentração,principalmente em nitrogênio (N), fós-foro (P) e potássio (K), reduzindo a ofer-ta de micronutrientes, como impurezas.O avanço da fronteira agrícola para ossolos ácidos e pobres - inclusive em mi-cronutrientes - dos Cerrados (com exce-ção do manganês); a correção de acidezcom a elevaçãodo pH do solo,diminuin-do a disponibilidade (com exceção domolibdênio) dos micronutrientes zinco,boro, cobre, ferro e manganês, original-mente deficientes, podendo diminuir até100 vezes a disponibilidade de manga-nês e zinco, além de reduzir a atividadedo cobre e de ampliar os riscos de per-das de boro por lixiviação.

Determinar as fontes, doses e épocasde aplicação mais adequadas, bem comoverificar possíveis efeitos fito tóxicos àsplantas, pela aplicação de fertilizantesmultinutrientes, pode auxiliar sobrema-neira no planejamento da adubação.

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Como diagnosticar a necessidadede adubação foliar

Considerando que na cultura do mi-lho a aplicação de nutrientes via foliarnormalmente é utilizada para correçãode deficiências nutricionais observadasno campo, principalmente na fase inicialde desenvolvimento das plantas, períodovegetativo de quatro a 10 folhas comple-tamente desenvolvidas, a diagnose visualconstitui ferramenta primordial.

Nessa fase, a análise foliar apresentaproblemas operacionais, como o tempogasto na coleta de folhas no campo, o en-vio ao laboratório e o recebimento dos re-sultados, o que demanda tempo, não per-mitindo, assim, a tomada de decisão para acorreção do problema em prazo hábil. Poroutro lado, os resultados da análise foliarde plantas de milho, obtidos nessa fase dacultura, não apresentam respaldo de da-dos de pesquisa para sua interpretação.

Assim, os sintomas de deficiências nu-tricionais são, no campo, um elemento au-xiliar na identificação da carência nutri-cional. No entanto, para a identificaçãoda deficiência com base na sintomatolo-gia, é necessário que o técnico tenha ra-zoável experiência de campo, uma vez quedeficiências nutricionais, sintomas de do-enças e distúrbios fisiológicos podem serconfundidos.

Para um preciso diagnóstico é im-portante obter informações adicionais, asquais incluem: condições climáticas, aná-lises de solo, aplicação de agroquímicos(fertilizantes, herbicidas, inseticidas, etc.).

Os fertilizantes multinutrientes

A adubação foliar, utilizando fertili-zantes multinutrientes, não substitui to-tal ou parcialmente a quantidade dos nu-trientes NPK recomendada para aplicaçãopor ocasião da semeadura ou em cobertu-ra na cultura do milho.

Em culturas extensivas, como o milho,com maiores exigências em nitrogênio (N),fósforo (P) e potássio (K), haveria necessi-dade de um grande número de aplicaçõesfoliares para suprir a demanda destes nu-trientes, o que tomaria a prática inviável.

Sintoma de Phaeosphaeria +deficiência de fósforo

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Tabela 1.Efeito de métodos de aplicação de zinco na produtividade do milho

Testemunha 0,3Solo a lan o1,20 lha 1,2Solo no sulco1,20 lha 1,0

Via foliar- 2 a licações+Solução 1 % 0,4Via foliar- 3 a Iicações-'Solução 1 % 0,4

11 Solução a I% de sulfato de zinco (23% de Zn): 3' e 5'semanas após a emergência. "Solução a I% de sulfato dezinco (23% de Zn): 3',5' e 7' semanas após a emergência. Fonte: modificada de Galrão (1994).

Tabela 2. Efeito de doses e número de aplicações foliares de manganês na produtividade

2.210 895.100 14315.330 14416.030 16816.690 18218.230 2181 18.400 2111 1

"Sulfato de manganês diluído em 150 litros de água por hectare. Teor de Mn no solo (extrator Mehlich') = 2,8 mg/dm', pH (H,O) = 6,3. Fonte: modificada de Mascagni e Cox (1984).

Tabela 3. Efeito da aplicação foliar de fertilizantes multinutrientesna produtividade do milho destinado à produção de forragem

: ---"I111 1,0 9.380a31 10.380a 19.750a1 1,5 9.520a 9.980a 19.500a1 2,0 10.060a 9.780a 19.840a

221 +1 0,75 + 0,75 10.570a 7.800b 18.370ab2+1 1,0 + 1,0 9.540a 7.580b 17.130ab

Testemunha ---------- 9.050a 6.490b 15.540bMédia 9.680 8.670 18.360CV(%) 10,67 9,79 7,39

" Fertilizante multinutrientes contendo Mg 1%, Zn 20%, Mn 3%, B 2%, Fe I% e Cu 0,1 %. "Fertilizantesmultinutrientes contendo Zn 30% e Mn 4%. "Médias na mesma coluna seguidas pela mesma letra não diferementre si pelo teste de Tukey a 5%. Fonte: modificada de Coelho e Coelho Filho (2006).

~ CAMPO & NEGÓCIOS M2M-1 JANEIRO 2018

Com adubação foliar, asdeficiências podem ser corrigi dasdurante a fase de crescimento

Neste caso, a adubação deve ser viasolo. A adubação foliar pode ser utilizadapara a correção de deficiências eventuais(suplementar), aproveitando-se de outrasoperações para aplicações de inseticidas efungicidas. Nas condições brasileiras, a re-comendação generalizada de aplicação viafoliar de macronutrientes (NPK) em pe-quenas doses raramente tem encontradorespaldo nas pesquisas.

Entretanto, em função da pequenaquantidade aplicada, seu custo é relativa-mente baixo, e por isso muitos agricultoresse utilizam da prática sem a mínima segu-rança a respeito do real benefício.

" COWvQl ~ $-wJ;,a6 ~ dM~ apwW1õJv U~

rU; ptt rU; 5,0 {)j 6,0

"Para os micronutrientes, por exem-plo, o zinco (Zn), o bora (B), o manga-nês (Mn), etc., as exigências nutricionaisdo milho são em pequenas quantidadese, consequentemente, com menor núme-ro de aplicações, normalmente duas a três,no máximo, o que possibilita sua utiliza-ção com grande eficiência, principalmen-te para correção de deficiências eventuaisobservadas no campo.

Fase ideal para aplicar

Para a cultura do milho, a fase ide-al para aplicação de nutrientes via foliarcompreende os estádios de desenvolvi-mento vegetativo de quatro e sete folhasdesenvolvidas (V 4 e V7). Este período éconhecido como a "janela ideal para apli-cação via foliar", principalmente para osmicronutrientes.

Com relação ao horário, existe umconsenso de que aplicações feitas pela ma-nhã ou à tarde, nas horas mais frescas dodia, podem proporcionar o fornecimentode adubos foliares sem o perigo de ocorrerqueima das folhas. Entretanto, dependen-do da temperatura, da umidade relativa do

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Na adubação fofiar, aresposta à aplicação é rápida

ar e da concentração da solução, a aplica-ção poderá ser feita em qualquer hora dodia com bons resultados.

Produtividade

A adubação foliar apresenta algumasvantagens, como as doses para aplicaçãoserem muito menores do que as aplica-ções via solo; é possível se obter facilmen-te uniformidade de distribuição; a respostaà aplicação é rápida e, consequentemente,as deficiências podem ser corrigidas du-rante a estação de crescimento; e suspei-tas de deficiências podem ser facilmentediagnosticadas por meio de ensaios sim-ples de pulverização.

Os ganhos em produtividade obtidoscom a utilização desse tipo de adubaçãoirão depender da habilidade do produ-tor, técnico ou consultor em diagnosticaros possíveis problemas de fertilidade com

base na análise de solos e no planejamen-to do programa de adubação.

Depende também da habilidade dediagnosticar possíveis deficiências no cam-po em um estádio de desenvolvimento daplanta que ainda possibilite a correção dadeficiência via pulverização foliar.

Como mostrado nas Tabelas 1,2 e 3,ganhos significativos (100%) nas produti-vidades de grãos de milho e forragem fo-ram obtidos com aplicações no solo e viapulverização foliar com fertilizantes con-tendo os micronutrientes zinco (Tabela1), manganês (Tabela 2) e multinutrien-tes (Tabela 3).

Condições em que a aplicaçãofoliar de nutrientes deve ser

utilizada

As filosofias de aplicação da adubaçãofoliar podem ser enquadradas em quatrocategorias: preventiva, corretiva, substitu-tiva e complementar. Assim, ela constitui-

-se uma importante estratégia como ummeio rápido para corrigir deficiências nu-tricionais; em situações de ocorrência deveranicos (solos secos); diminuição da ati-vidade radicular durante a fase reprodutivapor causa da competição por carboidrato,e para aumentar o teor de proteína, ferro ezinco nos grãos de cereais (biofortificação).

A adubação foliar impõe cuidados es-peciais, pois a característica da calda prepa-rada pode causar algum efeito fito tóxico edanificar severamente as folhas das plan-tas. O pH da solução varia entre nutrien-tes, por exemplo: boro e zinco, pH 6,0 a7,0; nitrogênio (ureia), fósforo, potássio ecálcio, pH 4,0 a 5,0.

Como recomendação geral, as caldasdevem apresentar valores de pH de 5,0 a6,0. É importante mencionar que, com-parada com a absorção de nutrientes pe-las raízes, a absorção foliar é mais rápidae menos persistente, necessitando assim,dependendo do nutriente, de mais de umaaplicação. •

GREEbaI~ITALIA

Progresso in Agricoltura