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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - EEL/USP
ADRIANA COSENTINO GARCIA
EFEITO DE NANOPARTÍCULAS DE CARBETO DE SILÍCIO NA CRISTALIZAÇÃO DE
POLIURETANO
LORENA
2015
ADRIANA COSENTINO GARCIA
EFEITO DE NANOPARTÍCULAS DE CARBETO DE SILÍCIO NA CRISTALIZAÇÃO DE
POLIURETANO
Monografia apresentada à Escola de Engenharia de
Lorena - Universidade de São Paulo como parte das
exigências para aprovação na disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso II do curso de Engenharia
Química.
Área de Concentração: Materiais poliméricos
Orientadora: Profa. Dra. Diovana Aparecida dos
Santos Napoleão
Lorena
2015
Dedico este trabalho à minha mãe, por ser a
grande responsável pela minha formação
pessoal e por todo incentivo e apoio que muito
me ajudaram nas horas em que eu mais
precisei.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, irmãos e a toda minha família que, com muita dedicação e apoio,
não mediram esforços para que eu alcançasse meus objetivos e chegasse até esta etapa de
minha vida.
Aos amigos e colegas, por todo incentivo nos estudos e pela convivência nesses
cinco anos em Lorena.
A todos os professores do curso, que desempenharam com dedicação e
competência a sua profissão, contribuindo com minha vida acadêmica e profissional.
À Dra. Silvana Navarro Cassu e Renata Patrícia dos Santos por prestarem toda a
orientação e esclarecimentos necessários para a execução deste trabalho.
Dedico especial agradecimento à minha orientadora Profa. Dra. Diovana
Aparecida dos Santos Napoleão, por ter acreditado na minha capacidade desde o projeto de
iniciação científica e por toda dedicação, ensinamentos, conselhos e incentivo.
Gostaria também de agradecer a banca examinadora: Profa. Dra. Jayne Carlos de
Souza Barboza e a Profa. Dra. Maria Lúcia Caetano Pinto da Silva pelo tempo precioso que
dedicaram para colaborar com meu trabalho.
Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que de alguma forma contribuíram
para a realização e conclusão deste trabalho.
RESUMO
A utilização de nanocargas em matriz polimérica apresenta melhorias nas
propriedades mecânicas e térmicas da matriz com o uso de pequeno teor da nanopartícula
(normalmente inferior a 5%). Dentre as melhorias nas propriedades térmicas da matriz, tem-se
a atuação das nanocargas como agente nucleante, ou seja, partículas dispersas na matriz
polimérica que atuam como sítios de nucleação nos processos de cristalização, resultando em
menor tamanho dos cristais e maiores taxas de cristalização no nanocompósito em
comparação ao polímero puro. Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo estudar o
efeito da adição de nanopartículas de carbeto de silício (SiC) como agente nucleante na
cristalização de poliuretanos termoplásticos (TPUs). Filmes de poliuretano (PU) com β-SiC
foram preparados utilizando partículas β-SiC dispersas previamente em água ou em acetona.
Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura (SEM) e espectros de
espectroscopia no infravermelho (UATR/FT-IR) mostraram aglomeração e sedimentação de
partículas β-SiC em nanocompósitos PU/β-SiC obtidos com suspensão de β-SiC em água.
Uma dispersão mais homogênea e mais estável de β-SiC foi alcançada com acetona como
agente de dispersão, o que resultou em filme nanocompósito PU/β-SiC homogêneo que foi
confirmado com análise de UATR/FT-IR e distribuições de tamanho de partícula obtidas por
espalhamento dinãmico de luz (DLS). A adição de acetona em poliuretano puro alterou o
comportamento de cristalização de PU, no entanto, as entalpias de cristalização e de fusão
foram semelhantes às observadas em PU puro. A influência de partículas β-SiC neste
nanocompósito foi monitorada por calorimetria diferencial exploratória (DSC), que mostrou
que houve alteração na cristalização em presença de partículas β-SiC, concluindo-se assim
que estas partículas atuam como um agente de nucleação.
Palavras-chave: Nanocompósitos, Poliuretano termoplástico, Agente nucleante.
ABSTRACT
The use of nanofillers in the polymer matrix has the advantage of obtaining
improvements in the mechanical and thermal properties of the matrix with use of low-grade of
nanoparticles (typically less than 5%). Among the improvements in thermal properties of the
matrix, exists the action of nanofiller as a nucleating agent, namely dispersed particles in the
polymer matrix acting as nucleation sites in the crystallization process, resulting in smaller
crystals size and higher crystallization rates the nanocomposite compared to the pure polymer.
Thus, this paper aims to study the effect of adding silicon carbide nanoparticles (SiC) as a
nucleating agent in the crystallization of thermoplastic polyurethanes (TPUs). Polyurethane
(PU) films with β-SiC were prepared using β-SiC particles dispersed in water or in acetone.
Micrographs obtained by scanning electron microscope (SEM) and spectroscopy infrared
spectra (UATR/FT-IR) shown agglomeration and sedimentation of β-SiC particles in PU/β-
SiC nanocomposites obtained with β-SiC water suspension. Homogeneous and more stable
dispersion of β-SiC were reached with acetone as dispersant, which results in homogenous
PU/β-SiC nanocomposite film and was confirmed with spectra UATR/FT-IR and particle size
distributions obtained by dynamic light scattering (DLS). The addition of acetone to neat PU
changed the behavior of PU crystallization, however, the crystallization and melting enthalpy
were similar to that observed for neat PU. The influence of β-SiC particles in this
nanocomposite was monitored by differential scanning calorimetry (DSC), which shown that
crystallization was changed in presence of β-SiC particles, which acted as a nucleating agent.
Keywords: Nanocomposite, Thermoplastic polyurethane, Nucleating agent
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Formas de distribuição e dispersão de cargas particuladas...................................... 16
Figura 2 - Formação do grupo uretano pela reação entre o grupo isocianato e álcool. ............ 17
Figura 3 - Representação da unidade básica de carbeto de silício. ........................................... 18
Figura 4 - Empilhamento dos cristais de SiC. (a) β-SiC; (b) α-SiC. ........................................ 19
Figura 5 - Representação esquemática da estrutura cristalina do carbeto de silício (a): cúbica
(3C); (b): hexagonal (2H). ........................................................................................................ 19
Figura 6 - Estrutura molecular do 3-aminopropiltrietoxisilano. ............................................... 21
Figura 7 - Representação de um dos possíveis mecanismos da interação de um agente silante
com superfícies inorgânicas...................................................................................................... 21
Figura 8 - Esquema mostrando o processo de hidroxilação seguido pela silanização com 3-
aminopropiltrietoxisilano na superfície de silício. ................................................................... 21
Figura 9 - Comparação entre o processo de cristalização de polímero ao qual foi adicionado
agente nucleante (nucleado) com outro sem este aditivo (não nucleado). ............................... 24
Figura 10 - Esquema utilizado para preparar a suspensão de poliuretano com SiC, por meio da
agitação mecânica e utilização de ultrassom. ........................................................................... 26
Figura 11 - Esquema utilizado para produzir vácuo dentro do dessecador, e preparação dos
filmes de poliuretano dentro das formas de silicone. ............................................................... 28
Figura 12 - Calorímetro exploratório diferencial (DSC), marca TA Instruments, modelo DSC
Q100. ........................................................................................................................................ 29
Figura 13 - Acessório universal UATR, contendo ZnSe e diamante e torque de 100 N. ......... 30
Figura 14 - Microscópio modelo LEO 435 VPI- SE. ............................................................... 30
Figura 15 - Equipamento Mastersizer 2000 da marca Malvern. .............................................. 31
Figura 16 - Imagens de microscopia eletrônica de varredura com ampliação de 3000 vezes: (a)
DWSiC 0,5% , (b) DWSiC Mod 0,5%. .................................................................................................... 32
Figura 17 - Curvas de DSC do resfriamento dos filmes PU puro, DWSiC 1%, DWSiC Mod 1%, DWSiC
1% + 1% disp e DWSiC 1% + 2% disp. ..................................................................................................... 34
Figura 18 - Curvas de DSC do segundo aquecimento dos filmes PU puro, DWSiC 1%, DWSiC Mod
1%, DWSiC 1% + 1% disp e DWSiC 1% + 2% disp. ...................................................................................... 34
Figura 19 - Curvas de DSC do resfriamento dos filmes PU puro, DWSiC 0,5%, DWSiC Mod
0,5%,DWSiC 0,5% + 1% disp e DWSiC 0,5% + 2% disp. ................................................................................. 35
Figura 20 - Curvas de DSC do segundo aquecimento dos filmes PU puro, DWSiC 0,5%, DWSiC Mod
0,5%, DWSiC 0,5% + 1% disp e DWSiC 0,5% + 2% disp. ................................................................................ 35
Figura 21- Espectros de UATR/FT-IR da superfície dos filmes obtidos de PU puro, das
nanopartículas β-SiC e da face frontal e posterior dos nanocompósitos de PU/ β-SiC DWSiC 0,5%
e DWSiC Mod 0,5%. ......................................................................................................................... 37
Figura 22 - Aspecto visual de dispersões. DWSiC 0,1%: (a) imediatamente e (b) depois de 24
horas de preparação; DAc SiC 0,1%: (C) imediatamente e (d) depois de 24 horas de preparação. 39
Figura 23 - Espectros de UATR/FT-IR da superfície do filme de PUAcetona e da face frontal
e posterior do filme DAc SiC 0,1%. ................................................................................................ 40
Figura 24 - Curvas de DSC de (a) resfriamento e (b) segundo aquecimento dos filmes PU
puro, PUAcetona e DAc SiC0.1%. ................................................................................................. 42
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 -Formulação de todas dispersões preparadas. ............................................................ 27
Tabela 2 - Formulação das dispersões usadas no preparo de nanocompósitos de PU/β-SiC
para estudo do efeito da silanização do SiC. ............................................................................ 32
Tabela 3 - Formulação das dispersões usadas no preparo de nanocompósitos de PU/β-SiC
para estudo da cristalinidade do PU. ........................................................................................ 33
Tabela 4 - Resultados de DSC para os filmes de PU/SiC. ....................................................... 36
Tabela 5 - Formulação das dispersões usadas no preparo de nanocompósitos de PU/β-SiC
para estudo da influência do solvente. ...................................................................................... 38
Tabela 6 - Distribuição de tamanho de partículas de β-SiC em água e acetona. ...................... 39
Tabela 7 - Formulação das dispersões usadas no preparo de nanocompósitos de PU/β-SiC
para estudo da cristalinidade do PU. ........................................................................................ 41
Tabela 8 - Resultados de DSC para dos filmes PU puro, PUAcetona e DAc SiC0.1%. ..................... 42
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
α-SiC Carbeto de silício alfa
β-SiC Carbeto de silício beta
2H Estrutura hexagonal de carbeto de silício
3C Estrutura cúbica do carbeto de silício
APTES 3-aminopropriltrietoxisilano
DLS Espalhamento Dinâmico de Luz
DSC Calorimetria Exploratória Diferencial
FT-IR Espectroscopia Infravermelho com Transformada de Fourier
MDI Difenilmetano diisocianato
pH Potencial Hidrogeniônico
PU Poliuretano
SEM Microscópio Eletrônico de Varredura
SiC Carbeto de silício
TDI Tolueno diisocianato
TPU Poliuretano termoplástico
UATR Reflexão Total Atenuada Universal
ZnSe Seleneto de zinco
LISTA DE SÍMBOLOS
nm Nanômetro
% Porcentagem
cP Centipoise
g Grama
cm Centímetro
Tg Temperatura de transição vítrea
Tm Temperatura de fusão
ppm Partes por milhão
Tc Temperatura de cristalização
oC Graus Celsius
rpm Rotações por minuto
kHz Kilohertz
ΔHm Variação na entalpia de fusão
ΔHc Variação na entalpia de cristalização
mL Mililitro
min Minuto
mg Miligrama
N Newton
mm Milímetro
kV Kilovolt
µm Micrômetro
J Joule
± Mais ou menos
W Watt
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 14 2.1. OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 14
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 14
3. REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................................... 15 3.1. NANOCOMPÓSITOS .................................................................................................. 15
3.2. POLIURETANOS ......................................................................................................... 16
3.1.1. DISPERCOLL® U54 ............................................................................................. 17
3.3. CARBETO DE SILÍCIO ............................................................................................... 18
3.3.1. MODIFICAÇÃO DA SUPERFÍCIE DAS NANOPARTÍCULAS DE SiC COM
AGENTES SILANOS ...................................................................................................... 20
3.4. CRISTALIZAÇÃO E NUCLEAÇÃO DE POLÍMEROS ............................................ 22
3.5. AGENTES NUCLEANTES .......................................................................................... 23
4. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 25 4.1 PREPARAÇÃO DA SUSPENSÃO DE POLIURETANO COM SIC .......................... 25
4.2. PREPARAÇÃO DO FILME DE POLIURETANO ...................................................... 27
4.3. CALORIMETRIA EXPLORATÓRIA DIFERENCIAL (DSC) ................................... 28
4.4. ESPECTROSCOPIA INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER
(FT-IR).................................................................................................................................. 29
4.5. MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA (SEM) ...................................... 30
4.6. ESPALHAMENTO DINÂMICO DE LUZ (DLS) ....................................................... 31
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................................... 32 5.1. EFEITO DA SILANIZAÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS DE SiC ........................... 32
5.2. CRISTALINIDADE DO PU COM ADIÇÃO DE DIFERENTES CONCENTRAÇÕES
DE NANOPARTÍCULAS DE SiC DISPERSAS EM ÁGUA ............................................. 33
5.3. INFLUÊNCIA DO SOLVENTE SOBRE A ESTABILIDADE DA DISPERSÃO,
HOMOGENEIDADE E TAMANHO DA PARTÍCULA .................................................... 38
5.4. CRISTALINIDADE DO PU COM ADIÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE SiC
DISPERSAS EM ACETONA .............................................................................................. 41
6. CONCLUSÕES ................................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 44
ANEXO A - TERMO DE PERMISSÃO DE USO DE INFORMAÇÕES ........................ 48
12
1. INTRODUÇÃO
Em 1990 foi publicado pelo Instituto de Tecnologia da Toyota o primeiro
estudo sobre nanocompósitos, no qual relatava a obtenção de benefícios relevantes nas
propriedades mecânicas e de barreira e na resistência térmica de nanocompósitos
poliméricos à base de argila montmorilonita e do polímero poliamida 6. Desde então, a
nanotecnologia tem conseguido avanços notáveis na obtenção de novos materiais com
propriedades físicas e químicas controladas (CARVALHO, 2014).
A nanotecnologia, visando à obtenção de produtos mais eficientes, modifica a
matéria por meio do átomo, empregando a escala nanométrica para produzir novas
substâncias e alterações de propriedades. Deste modo, o desenvolvimento de
nanocompósitos de polímeros termoplásticos consiste na preparação de membranas finas
do polímero e na adição de nanopartículas a elas com o objetivo de incorporar
propriedades específicas ao material (BANDEIRA et al., 2011).
Os nanocompósitos, da mesma maneira que os compósitos, são materiais
constituídos por uma fase contínua (uma matriz polimérica, cerâmica ou metálica) e uma
descontínua, formada pelas partículas de carga dispersas na matriz. Contudo, o que difere
os nanocompósitos é que nestes a carga possui pelo menos uma de sua dimensão na escala
nanométrica, 10-9
metros (entre 1 e 100 nm) (ESTEVES et al., 2004).
Devido a maior área de contato entre as cargas nanométricas e o polímero, é
necessário uma menor quantidade para que a carga tenha efeito sobre as propriedades dos
materiais, o que permite uma economia na produção do material e o deixa mais leve. Dessa
forma, a utilização de nanocargas em matriz polimérica apresenta a vantagem de obter
melhorias nas propriedades mecânicas e térmicas da matriz com pequeno teor da
nanopartícula (normalmente inferior a 5%). Se fossem utilizadas cargas convencionais de
tamanho micrométrico, para obter o mesmo efeito, seriam necessários teores entre 30 e
50% (ARIFFIN et al., 2008; CARVALHO, 2014).
Dentre as melhorias nas propriedades térmicas da matriz, tem-se a atuação das
nanocargas como agente nucleante, ou seja, partículas dispersas na massa polimérica
fundida que atuam como sítios de nucleação (núcleos) nos processos de cristalização,
resultando em menor tamanho dos cristais e maiores taxas e temperaturas de cristalização
no nanocompósito em comparação ao polímero puro. Os agentes nucleantes são utilizados
como modificadores de propriedades, o que os tornam de grande interesse comercial
(RABELLO, 2000).
13
Há anos os efeitos da utilização de agentes nucleantes na cristalização de
diversos polímeros termoplásticos tem sido estudados, o que não ocorre para o caso dos
poliuretanos termoplásticos (TPUs) (FREITAG, 2009). Diante deste fato, neste trabalho
será abordada a adição de nanocargas de carbeto de silício (SiC) a poliuretano
termoplástico com a finalidade de estudar as propriedades finais do nanocompósito obtido,
de forma a verificar se as nanopartículas de SiC atuam como agente nucleante no
poliuretano.
14
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
O presente trabalho teve como objetivo estudar o efeito da adição de
nanopartículas de SiC como agente nucleante na cristalização de poliuretanos
termoplásticos.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Para a realização deste estudo foram propostos os seguintes objetivos
específicos:
a) Obter filmes homogêneos de poliuretano termoplástico com a adição de
nanopartículas de SiC;
b) Caracterizar as misturas obtidas através de análises de calorimetria
diferencial exploratória;
c) Avaliar se as nanopartículas de SiC atuam como agente nucleante na
cristalização de TPUs.
15
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1. NANOCOMPÓSITOS
Nanocompósitos são materiais heterogêneos que possuem pelo menos duas
fases distintas, em que uma delas é contínua, chamada de matriz (agente ligante), podendo
ser uma matriz metálica, cerâmica ou polimérica (sendo esta a mais utilizada pela sua
versatilidade de formulação e facilidade de processamento). A outra fase é descontínua ou
dispersa, chamada de agente de reforço ou de enchimento responsável por fornecer a
principal resistência ao esforço, aumentando a resistência da matriz (KABIR, 2012).
Os nanocompósitos poliméricos são constituídos por uma matriz polimérica
reforçada com um pequeno teor (inferior a 5%) de um composto inorgânico, com pelo
menos uma de suas dimensões em escala nanométrica, podendo ser nanopartículas (todas
dimensões nanométricas), nanoplaquetas (duas dimensões nanométricas) ou nanofibras
(uma dimensão nanométrica) (CARVALHO, 2014).
Devido ao fato do tamanho de partícula ser menor nos nanocompósitos, o que
aumenta sua área superficial, maior é o número de átomos disponíveis na superfície da
partícula para interagir com maior intensidade com a matriz polimérica, proporcionando
características únicas e alterando o comportamento das propriedades (ARIFFIN et al.,
2008).
Uma característica específica do nanocompósito que o diferencia de um
compósito tradicional é a uniforme dispersão da nanocarga na matriz polimérica que
produz uma enorme interação na interface. Esta interação interfacial possui um papel
determinante para que os nanocompósitos apresentem melhores propriedades mecânicas,
térmicas, de barreira e retardância à chama quando comparados à matriz pura e aos
compósitos convencionais. Deste modo, durante a fabricação de nanocompósitos, procura-
se obter uma distribuição uniforme da carga na matriz polimérica e uma boa adesão na
interface entre ambos os componentes, conforme mostrado na Figura 1-d (CARVALHO,
2014; ESTEVES et al., 2004).
16
Figura 1 - Formas de distribuição e dispersão de cargas particuladas.
Fonte: MARTINS, 2012.
3.2. POLIURETANOS
Poliuretanos podem ser produzidos em duas formas: termoplásticos e
termorrígidos, ou seja, podem ou não apresentar reticulações. Os poliuretanos
termoplásticos se caracterizam por possuírem cadeias lineares e não apresentarem
reticulações. Nestes polímeros, os blocos flexíveis permitem que o material apresente
elasticidade, enquanto o bloco rígido atua como pontos de reticulações físicas, devido as
ligações de hidrogênio realizadas pelos grupos uretano. Assim, os TPUs apresentam como
uma das principais vantagens a combinação de elasticidade, típica dos elastômeros
vulcanizados, com a processabilidade dos polímeros termoplásticos (FIORIO, 2011).
É possível produzir poliuretano (PU), na sua maioria, pela reação de poliadição
de um isocianato (no mínimo bifuncional) e um poliol contendo mais de duas hidroxilas
livres. Essa reação de adição ocorre no grupo (NCO), formando uretanos, como mostrado
na Figura 2 (OERTEL, 1985).
17
Figura 2 - Formação do grupo uretano pela reação entre o grupo isocianato e álcool.
Fonte: PACHECO, 2006.
A natureza química bem como a funcionalidade dos reagentes deve ser
escolhida de acordo com as propriedades finais desejadas, podendo-se assim, optar por
materiais mais elásticos e macios, ou por tipos mais duros e de estrutura reticulada. Os
isocianatos podem ser aromáticos ou alifáticos. Dos isocianatos usados comercialmente
com no mínimo dois grupos funcionais, mais de 95% são aromáticos à base do TDI (31%)
e dos diferentes tipos de MDI (66%). Já os polióis podem variar quanto a natureza química
e funcionalidade, podendo ser poliéteres (geralmente são os mais utilizados), poliésteres,
ou possuir estrutura hidrocarbônica. Pode-se também variar o peso molecular, isto é, os
polióis que dão origem às espumas flexíveis e elastômeros possuem peso molecular entre
1000 e 6000 e funcionalidade entre 1,8 e 3,0; enquanto que os polióis de cadeia curta (peso
molecular entre 250 e 1000) e alta funcionalidade (3 a 12) produzem cadeias rígidas com
alto teor de ligações cruzadas e são usados nas espumas rígidas e nas tintas de alto
desempenho. Além do isocianato e do poliol outros reagentes são utilizados, como agentes
de cura ou extensores de cadeia, contendo dois ou mais grupos reativos, catalisadores,
agentes de expansão, surfatantes, cargas, agentes antienvelhecimento, corantes e
pigmentos, retardantes de chama, desmoldantes, etc (VILAR, 2004).
3.1.1. DISPERCOLL® U54
Dispercoll® U54 é uma dispersão aquosa de poliuretano de elevado peso
molecular produzida pela multinacional alemã Bayer. Este material possui elevado nível de
sólidos com teor de polímero entre 49 e 51%, viscosidade variando de 40 a 600 cP,
densidade de aproximadamente 1,1 g/cm3 e pH entre 6,0 e 9,0. Sua fórmula estrutural não
está disponível, pois trata-se de um polímero complexo de estrutura indefinida (BAYER,
2012; CHEMICALS NOTIFICATION AND ASSESSMENT, 1997).
18
Utiliza-se o Dispercoll® U54 como matéria prima de elevado desempenho
para a formulação de adesivos ativados pelo calor usados em móveis, calçados, automóveis
e em indústrias de construção civil. Estes poliuretanos a base de água foram desenvolvidos
para ajudar a resolver as crescentes exigências ambientais na indústria de adesivos para
produzir adesivos contendo pouco ou nenhum solvente, para diminuir as emissões de
solventes para a atmosfera e reduzir os riscos de incêndio associados à maioria dos
adesivos à base de solventes (BAYER, 2015).
3.3. CARBETO DE SILÍCIO
Os elementos silício e carbono possuem, ambos, quatro elétrons no orbital de
ligação que são distribuídos em quatro níveis de energia similares, orbital sp3, originando a
combinação de um orbital s e três orbitais p. Devido a pequena diferença de
eletronegatividade entre os elementos, predomina-se a característica de ligação covalente
(LEE; RAINFORTH, 1994).
A unidade básica de carbeto de silício é um tetraedro de SiC4 (ou CSi4), com
um átomo de silício no centro de massa da estrutura tetragonal e quatro átomos de carbono
nos vértices (ou um átomo de carbono no centro e quatro átomos de silício nos vértices) de
maneira que a distância entre os átomos de silício e carbono seja sempre igual (Figura 3).
Os tetraedros são ligados pelos vértices, para satisfazer um número de coordenação quatro
em qualquer ponto da estrutura (JEEPS e PAGE, 1979; KARCH et al., 1996).
Figura 3 - Representação da unidade básica de carbeto de silício.
Fonte: MARCHI, 2003.
Quando o arranjo das unidades básicas de SiC é paralelo, o cristal formado é
cúbico. E quando a sequência de empilhamento envolve a combinação de camadas
paralelas com antiparalelas, o sistema cristalino é hexagonal ou romboédrico (Figura 4).
19
Como regra geral, a forma cúbica é denominada de carbeto de silício beta (β-SiC) e todos
os outros politipos não cúbicos são chamados de carbeto de silício alfa (α-SiC) (SILVA,
2008).
Figura 4 - Empilhamento dos cristais de SiC. (a) β-SiC; (b) α-SiC.
Fonte: SILVA, 2009.
O carbeto de silício apresenta vários politipos, ou seja, alterações na sequência
de empilhamento de planos cristalinos sem provocar variação de estequiometria. Embora
haja um número infinito de variações possíveis na sequencia de empilhamento, os politipos
de estruturas mais longas podem ser considerados como sequencias de mais de uma
unidade menor. A Figura 5 representa esquematicamente as estruturas cúbica 3C (a) e
hexagonal 2H (b) do carbeto de silício (MARCHI, 2003; WATCHTMAN, 1989).
Figura 5 - Representação esquemática da estrutura cristalina do carbeto de silício (a):
cúbica (3C); (b): hexagonal (2H).
Fonte: MARCHI, 2003.
20
3.3.1. MODIFICAÇÃO DA SUPERFÍCIE DAS NANOPARTÍCULAS DE
SiC COM AGENTES SILANOS
As modificações na superfície são realizadas em nanocargas inorgânicas para
elevar as forças de adesão interfacial, evitando problemas de compatibilização,
homogeneidade e dispersão quando estas são adicionadas em uma matriz polimérica.
Dentre estas técnicas, tem-se o tratamento de cargas inorgânicas com agentes silanos que é
bastante interessante devido a elevada interação obtida entre reforços inorgânicos e a
matriz polimérica (MOON, 2005).
Os silanos são compostos químicos que apresentam fórmula geral
Y(CH2)nSiX3, em que, X é um grupo hidrolisável (alcóxi, halogênio ou amina), e Y é um
grupo organofuncional (amina, epóxi, vinil, entre outros). Os grupos alcóxi hidrolisam na
presença de água formando grupos silanóis reativos, que possibilitam a formação de
ligações primárias com grupos hidroxila (H-O-R) (VASANT et al., 1995).
A estrutura química dos silanos apresenta parte orgânica, a qual interage e une-
se fortemente à matriz polimérica (que também é orgânica), e uma parte inorgânica que se
liga às cargas com características inorgânicas, produzindo um elevado grau de interação
entre as partículas de cargas e a matriz polimérica. Desta forma, devido a presença da parte
orgânica, os silanos tornam a superfície da carga inorgânica, que é apolar, mais polar,
favorecendo a interação com a matriz polimérica, que também é polar (ARMELLEI,
2012).
Neste trabalho, foi utilizado o 3-aminopropiltrietoxisilano (APTES) (Figura 6)
como agente silante do carbeto de silício. O processo de funcionalização de superfícies em
substratos de silício com APTES é descrito a seguir. Primeiramente, realiza-se uma reação
de hidroxilação que introduz numerosos grupos hidroxilas (-OH) na superfície da amostra
de silício. A segunda etapa consiste na hidrólise dos grupos etil (-C2H5) das moléculas de
APTES, que conduzem à formação de silanóis (Si-O-H). A interação do grupo silanol do
APTES com a hidroxila da superfície de silício resulta na reação de condensação,
formando uma ligação covalente (Si-O-Si) entre a molécula do silano e a superfície de
silício (Figura 7). Como pode ser visto na Figura 8, a estrutura de siloxano é orientada de
tal maneira que os grupos amina carregados positivamente (-NH2+) estão alinhados para
fora do substrato de silício de base (SARKAR e DANIELS-RACE, 2013).
21
Figura 6 - Estrutura molecular do 3-aminopropiltrietoxisilano.
Fonte: SIGMA-ALDRICH, 2015.
Figura 7 - Representação de um dos possíveis mecanismos da interação de um agente
silante com superfícies inorgânicas.
Fonte: FONSECA e AIROLDI, 2003.
Figura 8 - Esquema mostrando o processo de hidroxilação seguido pela silanização com 3-
aminopropiltrietoxisilano na superfície de silício.
Fonte: SARKAR e DANIELS-RACE, 2013.
22
3.4. CRISTALIZAÇÃO E NUCLEAÇÃO DE POLÍMEROS
As condições e o mecanismo envolvido na cristalização definem características
importantes como: grau de cristalinidade, dimensões e estruturas dos cristais e da região
amorfa e, consequentemente, a morfologia do polímero. Como resultados destes
parâmetros, as propriedades térmicas, físicas e mecânicas de um polímero semicristalino
variam consideravelmente, afetando sua aplicação industrial (CORRÊA, 2007).
As propriedades dos polímeros estão diretamente relacionadas a sua
cristalinidade e para que ocorra a cristalização as seguintes condições básicas devem ser
seguidas:
a) A estrutura molecular do polímero deve permitir o arranjo cristalino. Se a
cadeia polimérica não possui mobilidade suficiente para se adequar ao arranjo cristalino, se
existem grupos laterais volumosos ou distribuídos de forma aleatória ao longo das mesmas
ou se existem ramificações, a cristalização pode ser inibida ou dificultada;
b) A temperatura de cristalização deve estar entre as temperaturas de transição
vítrea (Tg) e a de fusão (Tm), uma vez que acima de Tm não há nucleação devido ao intenso
movimento térmico, e abaixo de Tg não há mobilidade molecular para a nucleação e o
crescimento;
c) Devem haver núcleos para iniciar a cristalização, a partir dos quais os
cristalitos serão formados, unindo-se posteriormente para a formação dos esferulitos;
d) A velocidade de cristalização deve ser suficientemente alta (LANGHANZ,
2012).
A cristalização consiste no processo no qual o polímero fundido é resfriado
abaixo de sua temperatura de fusão de maneira que a ordem cristalina começa a se
estabelecer. A cristalização ocorre em dois estágios: nucleação e crescimento do cristal. A
nucleação é um processo no qual as cadeias emaranhadas do polímero se orientam em uma
conformação adequada, se alinhando em um padrão tridimensional perfeito, chamado
núcleo. Durante o crescimento do cristal, as cadeias do polímero se orientam de acordo
com o modelo tridimensional e se depositam sobre o núcleo (AZEREDO, 2010).
A nucleação pode ser homogênea ou heterogênea. A nucleação homogênea
ocorre em temperaturas bem abaixo da fusão em polímeros puros, em que o alinhamento
acidental de um número suficiente de cadeias na massa polimérica fundida é resultante de
um processo totalmente aleatório. A nucleação heterogênea ocorre em temperaturas mais
23
elevadas, quando uma partícula estranha está presente no polímero fundido e reduz a
barreira de energia para a nucleação. Essas partículas estranhas são chamadas agentes
nucleantes e são responsáveis por catalisar o alinhamento das cadeias poliméricas em
estruturas cristalinas denominadas esferulitos (AZEREDO, 2010; LANGHANZ, 2012).
Os poliuretanos termoplásticos, geralmente, são considerados como
copolímeros multiblocos do tipo (AB)n, onde A e B representam unidades repetitivas de
segmentos flexíveis e rígidos (VODA, VODA e BECK, 2006). A imiscibilidade
termodinâmica entre estes segmentos ocasiona a separação de fases em nível microscópico
(YAMAZAKI et al., 2007). Adicionalmente, os segmentos rígidos apresentam maior
temperatura de fusão do que os segmentos flexíveis. Normalmente, os poliuretanos
cristalizam a partir do fundido ou de solução, através de dobramentos da cadeia polimérica,
ou seja, a molécula dobra-se sobre si mesma formando um núcleo de cristalização (YANG
et al., 2004).
3.5. AGENTES NUCLEANTES
Um aditivo para atuar como agente nucleante deve ser insolúvel no polímero,
umedecido ou adsorvido pelo polímero, possuir ponto de fusão superior ao do polímero e
ser facilmente disperso no polímero de forma a obter dispersão homogênea e mais fina
possível (LANGHANZ, 2012).
Os agentes nucleantes são partículas dispersas na massa polimérica que atuam
como núcleo nos processos de cristalização. Ao comparar um polímero ao qual foi
adicionado agente nucleante com outro sem este aditivo, submetidos às mesmas condições
de resfriamento após fusão, observa-se que no primeiro há maior número de núcleos e,
consequentemente, mais cristalitos se formam ao mesmo tempo e um cristalito em
formação encontrará as fronteiras de outros cristalitos mais rapidamente, resultando em
esferulitos menores (Figura 9). Deste modo, quanto maior for a quantidade de núcleos
formados pela presença de agentes nucleados, menores serão os esferulitos formados e
mais refinadas serão as estruturas de grãos o que reflete nas propriedades físico-químicas
no produto final (LANGHANZ, 2012; SPECIALCHEM, 2015).
24
Figura 9 - Comparação entre o processo de cristalização de polímero ao qual foi
adicionado agente nucleante (nucleado) com outro sem este aditivo (não nucleado).
Fonte: SPECIALCHEM, 2015.
Para um mesmo grau de cristalinidade, a diminuição do tamanho dos
esferulitos implica em um maior número de moléculas de união, resultando em aumento de
dureza, melhores propriedades óticas e maiores alongamento na ruptura e resistência ao
impacto, pois as tensões aplicadas durante esforço mecânico são distribuídas
uniformemente. Estes efeitos de um agente nucleante dependem do tipo, da concentração,
da forma de incorporação do mesmo e das condições de processamento. Na prática, as
concentrações de nucleante costumam ser inferiores a 5000 ppm, sendo que para
concentrações mais elevadas não tem sido notadas alterações no efeito nucleante.
(LANGHANZ, 2012)
25
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Utilizou-se o Dispercoll U-54®, poliuretano termoplástico alifático em
dispersão aquosa produzido pela Bayer Germany, como matriz polimérica para a
preparação de filmes de PU puro, de PU com acetona e de nanocompósitos poliuretano/β-
carbeto de silício (PU/β-SiC).
Nanopartículas de β-SiC, fabricadas pela Nanostructured & Amorphous
Materials Inc., foram usadas como carga. De acordo com as especificações do fabricante, o
tamanho de partículas é de 10 nm e a pureza de 97%.
Em alguns dos filmes preparados foi utilizado o dispersante Dolapix com a
finalidade de aumentar a dispersão das nanopartículas de SiC na matriz polimérica de PU.
A superfície das nanopartículas de carbeto de silício foi modificada com o
agente de acoplamento organossilano 3-aminopropiltrietoxissilano fornecido por Aldrich.
A reação (razão molar 1:2 APTS/SiC), foi realizada em meio de etanol sob refluxo a 82°C
durante 5 horas.
4.1 PREPARAÇÃO DA SUSPENSÃO DE POLIURETANO COM SIC
Os nanocompósitos PU/β-SiC foram preparados a partir de duas metodologias
diferentes. Na primeira (processo 1) nanopartículas β-SiC foram dispersas em água (pré-
mistura para facilitar a homogeneização) sob agitação a velocidade de 280 rpm e banho de
ultrassom com frequência de 40 kHz ao mesmo tempo por 30 minutos. O sistema foi
montado de forma a permitir que a agitação e o ultrassom fossem utilizados
simultaneamente, conforme Figura 10. Dispercoll U54® foi adicionado à dispersão e
homogeneizado como o procedimento anterior, seguido por mais 30 minutos de agitação
com velocidade de 980 rpm, sem ultrassom.
26
Figura 10 - Esquema utilizado para preparar a suspensão de poliuretano com SiC, por meio
da agitação mecânica e utilização de ultrassom.
Fonte: Elaborado pela autora.
No segundo método (processo 2) utilizado para preparar nanocompósitos de
PU/β-SiC, a carga β-SiC foi dispersa em acetona (pré-mistura) e esta suspensão foi agitada
por 30 minutos, seguida de agitação e banho de ultrassom ao mesmo tempo por 1 hora, no
esquema da Figura 10 Dispercoll U54® foi adicionado à suspensão e a mistura foi mantida
sob agitação e ultrassom ao mesmo tempo por 15 minutos, seguido de mais 15 minutos de
agitação.
Todas as formulações preparadas são mostradas na Tabela 1.
27
Tabela 1 -Formulação de todas dispersões preparadas.
Nanocompósito Meio de
dispersão
Teor de β-SiC
(%)
Teor de β-SiC
silanizada (%)
Processo
PU puro --- --- --- ---
PUAcetona Acetona --- --- ---
DAc Sic 0,1% Acetona 0,1 --- 2
DWSiC 0,1% Água 0,1 --- 1
DWSiC 0,5% Água 0,5 --- 1
DWSiC 0,5% + 1% disp Água + 1%
Dolapix
0,5 --- 1
DWSiC 0,5% + 2% disp Água + 2%
Dolapix
0,5 --- 1
DWSiC Mod 0,5% Água --- 0,5 1
DWSiC 1% Água 1,0 --- 1
DWSiC 1% + 1% disp Água + 1%
Dolapix
1,0 --- 1
DWSiC 1% + 2% disp Água + 2%
Dolapix
1,0 --- 1
DWSiC Mod 1% Água --- 1,0 1
4.2. PREPARAÇÃO DO FILME DE POLIURETANO
As suspensões preparadas foram vertidas em placas de silicone, após 30
minutos em repouso. Após 3 horas, as placas foram colocadas sob vácuo, em dessecador,
para evitar a formação de bolhas no filme, mantendo-se durante 24 horas (Figura 11). Os
filmes resultantes foram aquecidos durante 1 hora a 100°C, para assegurar que todo o
solvente fosse removido.
28
Figura 11 - Esquema utilizado para produzir vácuo dentro do dessecador, e preparação dos
filmes de poliuretano dentro das formas de silicone.
Fonte: Elaborado pela autora.
4.3. CALORIMETRIA EXPLORATÓRIA DIFERENCIAL (DSC)
Em um experimento de calorimetria exploratória diferencial, mede-se a
variação de entalpia que ocorre entre a amostra e a referência em função da variação da
temperatura durante o processo de aquecimento/resfriamento. Com a utilização desta
técnica é possível avaliar algumas propriedades dos nanocompósitos como: temperatura de
fusão (Tm) e de cristalização (Tc) do polímero, temperatura de transição vítrea (Tg) e a
variação da entalpia de fusão (ΔHm) e cristalização (ΔHc).
A cristalização não-isotérmica foi estudada utilizando-se um calorímetro
exploratório diferencial (DSC), marca TA Instruments, modelo DSC Q100 (Figura 12), na
faixa de temperatura de -90°C a 200°C. As calibrações de temperatura e de fluxo de calor
foram realizadas usando padrões de índio e zinco. Todas as medidas foram realizadas em
atmosfera de nitrogênio (50 mL/min).
As amostras com cerca de 5 mg foram seladas em cadinhos de alumínio e
submetidas a resfriamento da temperatura ambiente até -90°C. Atingida essa temperatura,
foram aquecidas até 200°C com taxa de aquecimento de 10°C/min. A etapa seguinte foi o
29
resfriamento até -90°C (taxa de 10°C/min) com posterior aquecimento até 200°C (taxa de
10°C/min).
Figura 12 - Calorímetro exploratório diferencial (DSC), marca TA Instruments, modelo
DSC Q100.
Fonte: Elaborado pela autora.
4.4. ESPECTROSCOPIA INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE
FOURIER (FT-IR)
A técnica FT-IR pode ser usada para identificar um composto ou investigar a
composição de uma amostra. Neste trabalho, o objetivo deste ensaio foi analisar a parte
superior e a inferior do filme de poliuretano obtido, para observar se houve deposição das
nanopartículas de β-SiC nos filmes PU/ β-SiC produzidos.
As análises foram realizadas utilizando-se o espectrômetro FT-IR Spectrum
One PerkinElmer (resolução 4 cm-1
, ganho 1, 4000 – 550 cm-1
), com acessório universal
UATR (Figura 13), contendo ZnSe e diamante e torque de 100 N. Este acessório é
adequado para obtenção de espectros de excelente qualidade para a maior parte das
substâncias, pois possui alto índice de refração e grau de penetração da radiação na
amostra em torno de 1 a 2 mm. A dureza e a estabilidade química do diamante permite a
obtenção direta de espectros de materiais que possuam bom contato entre a amostra e o
cristal.
30
Figura 13 - Acessório universal UATR, contendo ZnSe e diamante e torque de 100 N.
Fonte: PERKIN ELMER, 2015.
4.5. MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA (SEM)
O microscópio eletrônico de varredura é um equipamento capaz de produzir
imagens de uma amostra com alta ampliação (até 300.000 vezes) e resolução, sendo útil
para a observação e análise de características microestruturais de objetos sólidos com
valores de resolução da ordem de 2 a 5 nanômetros.
A microscopia eletrônica de varredura foi realizada em um microscópio
modelo LEO 435 VPI- SE com tensão de aceleração de 20 kV, através de elétrons
secundários (Figura 14). As análises dos filmes foram realizadas na superfície (metalizada
com ouro).
Figura 14 - Microscópio modelo LEO 435 VPI- SE.
Fonte: INSTITUTO DE AERONÁUTICA E ESPAÇO, 2010.
31
4.6. ESPALHAMENTO DINÂMICO DE LUZ (DLS)
Em geral, o espalhamento dinâmico de luz é aplicado na caracterização de
partículas, que foram dispersas ou dissolvidas em um líquido. O movimento browniano das
partículas em suspensão faz com que a luz laser seja espalhada com intensidades
diferentes, permitindo a medição do tamanho e da distribuição do tamanho de partículas
em suspensão.
Utilizou-se a análise de espalhamento dinâmico de luz (DLS), no equipamento
marca Malvern - modelo Mastersizer 2000 (Figura 15), para avaliar a distribuição de
tamanho de nanopartículas. As partículas foram dispersas em água ou acetona, para estudo
da influência do solvente. Estas dispersões foram mantidas sob agitação magnética durante
30 minutos e mais 30 minutos num banho de ultrassom para desaglomeração das
partículas.
Figura 15 - Equipamento Mastersizer 2000 da marca Malvern.
Fonte: AIMIL LTD., 2015.
32
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1. EFEITO DA SILANIZAÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS DE SiC
Os nanocompósitos de PU/β-SiC para estudo do efeito da silanização do SiC
foram preparados com as formulações de dispersões apresentadas na Tabela 2. As
micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura destes nanocompósitos são
mostradas na Figura 16.
Tabela 2 - Formulação das dispersões usadas no preparo de nanocompósitos de PU/β-SiC
para estudo do efeito da silanização do SiC.
Nanocompósito Meio de
dispersão
Teor de β-SiC
(%)
Teor de β-SiC
silanizada (%)
Processo
DWSiC 0,5% Água 0,5 --- 1
DWSiC Mod 0,5% Água --- 0,5 1
Figura 16 - Imagens de microscopia eletrônica de varredura com ampliação de 3000 vezes:
(a) DWSiC 0,5% , (b) DWSiC Mod 0,5%.
Fonte: Elaborado pela autora.
Comparando-se as micrografias dos filmes de PU/β-SiC preparados com β-SiC
(Figura 16-a) e β-SiC modificado com silano (Figura 16-b), em suspensões de água,
observa-se que o filme obtido de PU com β-SiC (Figura 16-a) apresentou distribuição de
tamanho de partícula com aglomerados maiores do que 1 µm.
No entanto, o filme de PU/β-SiC contendo β-SiC silanizado, DWSiCMod 0,5%
(Figura 16-b) mostra melhor distribuição das partículas de β-SiC na matriz de PU quando
compara-se com o filme de PU/β-SiC contendo β-SiC, DWSiC 0,5%. Este fato pode ser
33
atribuído a melhor interação entre a matriz polimérica (PU) e a carga (SiC) devido à
silanização da superfície de partículas β-SiC .
5.2. CRISTALINIDADE DO PU COM ADIÇÃO DE DIFERENTES
CONCENTRAÇÕES DE NANOPARTÍCULAS DE SiC DISPERSAS EM ÁGUA
Os nanocompósitos de PU/β-SiC utilizados para este estudo da cristalinidade
do PU foram preparados com as formulações de dispersões apresentadas na Tabela 3. Os
valores de ΔHc, Tc e ΔHm obtidos por calorimetria diferencial exploratória (DSC) são
mostradas na Tabela 4. As curvas obtidas nas análises de DSC foram separadas em curvas
de resfriamento e curvas do segundo aquecimento e unidas de acordo com a concentração
de partículas β-SiC utilizada. Deste modo, a Figura 17 e a Figura 18 mostram,
respectivamente, as curvas do resfriamento e do segundo aquecimento dos filmes com teor
de 0,5% de β-SiC. Enquanto que a Figura 19 e a Figura 20 mostram, respectivamente, as
curvas do resfriamento e do segundo aquecimento dos filmes com teor de 1% de β-SiC.
Tabela 3 - Formulação das dispersões usadas no preparo de nanocompósitos de PU/β-SiC
para estudo da cristalinidade do PU.
Nanocompósito Meio de
dispersão
Teor de β-SiC
(%)
Teor de β-SiC
silanizada (%)
Processo
PU puro --- --- --- ---
DWSiC 0,5% Água 0,5 --- 1
DWSiC 0,5% + 1% disp Água + 1%
Dolapix
0,5 --- 1
DWSiC 0,5% + 2% disp Água + 2%
Dolapix
0,5 --- 1
DWSiC Mod 0,5% Água --- 0,5 1
DWSiC 1% Água 1,0 --- 1
DWSiC 1% + 1% disp Água + 1%
Dolapix
1,0 --- 1
DWSiC 1% + 2% disp Água + 2%
Dolapix
1,0 --- 1
DWSiC Mod 1% Água --- 1,0 1
34
Figura 17 - Curvas de DSC do resfriamento dos filmes PU puro, DWSiC 1%, DWSiC Mod 1%,
DWSiC 1% + 1% disp e DWSiC 1% + 2% disp.
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 18 - Curvas de DSC do segundo aquecimento dos filmes PU puro, DWSiC 1%, DWSiC
Mod 1%, DWSiC 1% + 1% disp e DWSiC 1% + 2% disp.
Fonte: Elaborado pela autora.
35
Figura 19 - Curvas de DSC do resfriamento dos filmes PU puro, DWSiC 0,5%, DWSiC Mod
0,5%,DWSiC 0,5% + 1% disp e DWSiC 0,5% + 2% disp.
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 20 - Curvas de DSC do segundo aquecimento dos filmes PU puro, DWSiC 0,5%, DWSiC
Mod 0,5%, DWSiC 0,5% + 1% disp e DWSiC 0,5% + 2% disp.
Fonte: Elaborado pela autora.
36
Tabela 4 - Resultados de DSC para os filmes de PU/SiC.
Nanocompósito ΔHc (J/g) Tc (oC) ΔHm (J/g)
PU puro 31,8 ± 0,6 -2,4 ± 0,2 37,3 ± 1,8
DWSiC 0,5% 34,5 ± 0,6 0,2 ± 3,2 39,2 ± 0,2
DWSiC 0,5% + 1% disp 31,6 ± 0,3 -4,8 ± 0,2 39,1 ± 0,5
DWSiC 0,5% + 2% disp 35,8 ± 0,3 0,9 ± 0,1 38,1 ± 0,2
DWSiC Mod 0,5% 34,8 ± 0,2 -1,0 ± 0,1 38,6 ± 0,2
DWSiC 1% 29,9 ± 0,8 -7,1 ± 0,5 40,5 ± 1,2
DWSiC 1% + 1% disp 34,4 ± 0,9 1,8 ± 1,4 37,7 ± 0,1
DWSiC 1% + 2% disp 28,3 ± 1,9 -7,1 ± 0,1 39,6 ± 0,6
DWSiC Mod 1% 28,4 ± 0,8 -5,9 ± 1,0 39,3 ± 1,1
As análises de DSC mostraram o mesmo tipo de comportamento térmico para
todas as amostras, não apresentando diferenças significativas nos valores de Tc, ΔHc e
ΔHm das amostras. Isto pode ser explicado pelo fato de que a água não foi eficaz para
promover a quebra dos aglomerados β-SiC, como mostrado nas micrografias de SEM na
Figura 16, na qual observa-se que o filme de PU preparado com β-SiC em suspensão de
água apresentou uma distribuição de tamanho de partícula com aglomerados maiores do
que 1 µm.
Observa-se que a adição do Dolapix nos filmes DWSiC 1%+1% disp, DWSiC 1%+2% disp,
DWSiC 0,5% + 1% disp e DWSiC 0,5% + 2% disp não modificou a dispersão das nanopartículas de SiC,
como esperava-se do seu efeito dispersante. Do mesmo modo que a diminuição da
concentração de nanopartículas β-SiC de 1% para 0,5% também não contribui para facilitar
a dispersão das nanocargas β-SiC na matriz polimérica de PU.
Devido à fraca dispersão de β-SiC observado para os filmes de PU/β-SiC nas
micrografias de SEM, analisou-se também as suas superfícies (face frontal e posterior) por
UATR/FT-IR para investigar a homogeneidade do filme nanocompósito e a sedimentação
de partículas de β-SiC. A Figura 21 mostra os espectros de FT-IR de PU puro, das
partículas β-SiC e das faces frontal e posterior dos filmes DWSiC 0,5% e DWSiC Mod 0,5%.
37
Figura 21- Espectros de UATR/FT-IR da superfície dos filmes obtidos de PU puro, das
nanopartículas β-SiC e da face frontal e posterior dos nanocompósitos de PU/ β-SiC DWSiC
0,5% e DWSiC Mod 0,5%.
Fonte: Elaborado pela autora.
A presença de estrutura uretânica presente no PU foi identificada com base nas
bandas em 1538 cm-1
(amida II – estiramento C-N e deformação angular N-H), 1725 cm-1
(estiramento C=O que pode ser atribuído ao éster/uretano livre) e 3330 cm-1
(estiramento
NH com ligação de hidrogênio). Ligações poliéster ou poliéter em poliuretanos podem ser
detectadas na diferença de intensidade das bandas de absorção em 1250 cm-1
(n COOC) no
caso do poliéster-uretano, e por volta de 1110 cm-1
(n COC) para os poliéter-uretano.
Poliéster-poliuretanos apresentam uma banda mais forte e larga do que nos poliéteres.
(CAKIC, 2009; SIVAKUMAR, 2012; URBANSKI, 1977).
Partículas β-SiC apresentaram bandas do espectro na região de 1052 cm-1
atribuído ao Si-O-Si e em 780 cm-1
atribuído a Si-C. A superfície de SiC geralmente
apresenta uma camada rica em oxigênio, quimicamente semelhante à superfície de sílica, o
38
que explicaria a presença de absorções de Si-O no espectro de FT-IR para β-SiC.
(NIKKAM et al., 2014; SINGH et al., 2007)
Comparando os espectros de ambos os lados, superior e inferior, dos filmes
PU/β-SiC, observa-se uma evidente diferença nas absorções. Na face posterior dos
nanocompósitos, além das bandas características de PU também é detectado um
alargamento nas bandas na região de 770-900 cm-1,
indicando a presença de β-SiC. Outra
diferença pode ser observada na parte da região 2330-1900 cm-1
devido à interferência do
índice de refração do cristal e da β-SiC, portanto, esta região não deve ser utilizada para
caracterizar o material.
Através das micrografias obtidas por SEM e dos espectros de FT-IR, foi
possível concluir que houveram formações de compósitos convencionais e não de
nanocompósitos como o esperado, mostrando que a aglomeração de β-SiC não foi
quebrada em dispersão aquosa, o que resultou na fraca dispersão e homogeneidade dos
filmes de PU.
5.3. INFLUÊNCIA DO SOLVENTE SOBRE A ESTABILIDADE DA
DISPERSÃO, HOMOGENEIDADE E TAMANHO DA PARTÍCULA
Visto que o processo em suspensão aquosa não foi eficiente para a obtenção de
filmes nanocompósitos homogêneos e estáveis, preparou-se outra suspensão de β-SiC
utilizando acetona como solvente numa tentativa de evitar a agregação e sedimentação de
nanopartículas e assim promover uma melhor estabilidade ao sistema.
Os nanocompósitos de PU/β-SiC para estudo da influência do solvente foram
preparados com as formulações de dispersões apresentadas na Tabela 5. Nestas
formulações, além da utilização da acetona como solvente, a concentração de β-SiC foi
reduzida para 0,1% com a finalidade de facilitar a dispersão destas nanocargas na matriz
polimérica de PU.
Tabela 5 - Formulação das dispersões usadas no preparo de nanocompósitos de PU/β-SiC
para estudo da influência do solvente.
Nanocompósito Meio de
dispersão
Teor de β-SiC (%) Teor de β-SiC
silanizada (%)
Processo
PUAcetona Acetona --- --- ---
DAc Sic 0,1% Acetona 0,1 --- 2
DWSiC 0,1% Água 0,1 --- 1
39
A estabilidade da dispersão foi avaliada através da monitoração visual ao longo
do processo de sedimentação. A Figura 22 compara as imagens das dispersões de DWSiC
0,1% e, DAc SiC 0,1% preparados com água e acetona, respectivamente. As imagens foram
registadas imediatamente (Figura 22-a, Figura 22-c) e 24 horas após a preparação de
dispersão (Figura 22-b, Figura 22-d).
O aspecto visual sugere que o processo 2, utilizando acetona para preparar a
suspensão β-SiC (DAc SiC 0,1%) não apresenta sedimentação das partículas β-SiC, como
mostrado na Figura 22-d, que pode ser atribuído à melhor dispersão de β-SiC em acetona.
O comportamento contrário foi observado para DWSiC 0,1%, no qual a sedimentação é
pronunciada, conforme mostrado na Figura 22-b, o que pode ser atribuído a maior
aglomeração de β-SiC em dispersão aquosa.
Figura 22 - Aspecto visual de dispersões. DWSiC 0,1%: (a) imediatamente e (b) depois de 24
horas de preparação; DAc SiC 0,1%: (C) imediatamente e (d) depois de 24 horas de preparação.
Fonte: Elaborado pela autora.
A análise da distribuição de tamanho de partícula com o espalhamento
dinâmico de luz (DLS) confirmou que o tamanho das partículas β-SiC é menor em acetona
do que em dispersão aquosa, que foi observado em D50, D10 e D90, indicando que 10%,
50%, 90%, respectivamente, de tamanhos de partícula será encontrada abaixo do valor
descrito na Tabela 6.
Tabela 6 - Distribuição de tamanho de partículas de β-SiC em água e acetona.
Meio de suspensão D50 (nm) D10 - D90 (nm)
Água 1114,4 359,5 - 3729,0
Acetona 179,5 67,3 - 545,7
40
A partir destes resultados era esperado que as suspensões de acetona com 0,1%
de β-SiC resultassem em filmes nanocompósitos homogêneos. Para confirmar esta
suposição, analisou-se a face frontal e posterior do filme DAc SiC 0,1% por UATR/FT-IR e
analisou-se também o filme PUAcetona, que foi preparado adicionando-se a mesma
quantidade de acetona que foi usado para preparar DAc SiC 0,1% ao PU puro.
Na Figura 23, observa-se que o espectro da face frontal e posterior do filme
DAc SiC 0,1% são semelhantes entre si e possuem absorções similares às do filme PUAcetona,
não sendo possível detectar alterações espectrométricas influenciadas pela presença β-SiC.
Este resultado indica uma melhor incorporação da carga na matriz de poliuretano devido a
dispersão inicial de partículas β-SiC em acetona ser mais eficiente e prevenir a
sedimentação de partículas, conforme mostrado com medições de DLS e a avaliação da
estabilidade.
Figura 23 - Espectros de UATR/FT-IR da superfície do filme de PUAcetona e da face
frontal e posterior do filme DAc SiC 0,1%.
Fonte: Elaborado pela autora.
41
5.4. CRISTALINIDADE DO PU COM ADIÇÃO DE
NANOPARTÍCULAS DE SiC DISPERSAS EM ACETONA
Os nanocompósitos de PU/β-SiC utilizados para este estudo da cristalinidade
do PU foram preparados com as formulações de dispersões apresentadas na Tabela 7.
Tabela 7 - Formulação das dispersões usadas no preparo de nanocompósitos de PU/β-SiC
para estudo da cristalinidade do PU.
Nanocompósito Meio de
dispersão
Teor de β-SiC
(%)
Teor de β-SiC
silanizada (%)
Processo
PU puro --- --- --- ---
PUAcetona Acetona --- --- ---
DAc Sic 0,1% Acetona 0,1 --- 2
O efeito de acetona e β-SiC partículas na cristalinidade de PU foi avaliada por
DSC, no entanto, apenas o nanocompósito DAc SiC 0,1% foi estudado devido à sua dispersão
mais homogênea e por não apresentar sedimentação de partículas β-SiC. Os resultados de
DSC são apresentados na Figura 24 e na Tabela 8.
Ao comparar os filmes de PU puro e PUAcetona, observa-se que a adição de
acetona provoca um atraso na formação de cristais, resultando numa cristalização parcial
durante o resfriamento. A cristalização é completada durante o segundo aquecimento, no
entanto, os valores de entalpia de fusão e de cristalização foram semelhantes para os filmes
de PU puro e PUAcetona, mostrando que o grau de cristalinidade não é afetado por adição de
acetona (Tabela 8).
Ao analisar o comportamento do filme DAc SiC 0,1%, observou-se que a
cristalização ocorre durante o resfriamento, como observado para o filme de PU puro, o
que sugere que a presença de nanopartículas β-SiC atua como um agente de nucleação
favorecendo a cristalização do PU, mesmo na presença de acetona.
42
Figura 24 - Curvas de DSC de (a) resfriamento e (b) segundo aquecimento dos filmes PU
puro, PUAcetona e DAc SiC0.1%.
Fonte: Elaborado pela autora.
Tabela 8 - Resultados de DSC para dos filmes PU puro, PUAcetona e DAc SiC0.1%.
Resfriamento Aquecimento
PU puro PUAcetona DAc SiC0.1%. PU puro PUAcetona DAc SiC0.1%.
ΔHc (J/g) 34,1 ± 1,0 27,0 ± 3,0 33,0 ± 1,0 --- 2,6 ± 2,4 ---
Tc (oC) -2,3 ± 0,5 -6,4 ± 0,8 -1,0 ± 3,0 --- -17,9 ± 0,3 ---
ΔHm (J/g) --- --- --- 36,0 ± 1,0 38,0 ± 1,0 38,0 ± 1,0
43
6. CONCLUSÕES
A silanização da superfície de partículas β-SiC proporcionou uma maior
interação entre a matriz polimérica (PU) e a carga (SiC), contribuindo para a dispersão.
Filmes de PU/β-SiC foram preparados utilizando partículas β-SiC dispersas
previamente em água ou em acetona. Observou-se que a dispersão inicial de partículas β-
SiC em acetona foi mais eficiente e preveniu a sedimentação de partículas.
Esta dispersão homogênea e mais estável de β-SiC alcançados com acetona
como agente de dispersão, resultou em filme nanocompósito PU/β-SiC homogêneo,
indicando uma melhor incorporação da carga na matriz de poliuretano.
A influência de partículas β-SiC neste nanocompósito foi monitorado por DSC,
que mostraram que houve alteração na cristalização em presença de partículas β-SiC,
concluindo-se assim que estas partículas atuam como um agente de nucleação.
44
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