adolescÊncia e violÊncia na escola e o trabalho da ... · adolescentes na escola. os objetivos...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ADOLESCÊNCIA E VIOLÊNCIA NA ESCOLA E O TRABALHO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIANTE DESSA PROBLEMÁTICA ELMA TELLES GOUVEIA ORIENTADOR (A): Profª Maria Esther de Araújo RIO DE JANEIRO JUNHO/2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ADOLESCÊNCIA E VIOLÊNCIA NA ESCOLA E O TRABALHO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

DIANTE DESSA PROBLEMÁTICA

ELMA TELLES GOUVEIA

ORIENTADOR (A):

Profª Maria Esther de Araújo

RIO DE JANEIRO JUNHO/2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ADOLESCÊNCIA E VIOLÊNCIA NA ESCOLA E O TRABALHO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

DIANTE DESSA PROBLEMÁTICA

ELMA TELLES GOUVEIA

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção de Grau de Especialista em Orientação Educacional.

RIO DE JANEIRO JUNHO/2010

À minha família, pelo carinho e

compreensão nos momentos de

dificuldades.

AGRADECIMENTOS

À professora Maria Esther de Araújo, que muito contribuiu no

desenvolvimento deste estudo, se dedicando a me orientar com muita

atenção.

A Deus que me proporciona todas as vivências e pessoas boas no

meu caminho, harmonia de vida e energia que me vitaliza a todo o momento.

“Quando se quer realmente algo, todo o

universo conspira a seu favor”.

(Goethe)

RESUMO

A escola tem apresentado muitos problemas decorrentes da violência com alunos adolescentes no seu interior e diante disso tem buscado soluções expressivas para diminuir este número. A indisciplina dos alunos se tornou um caso de estudos na escola. Ante a isso é necessário a realização de um trabalho voltado para a reintegração do aluno, para a sua formação social, através da orientação educacional. Diante disso, tem-se como objetivo geral analisar a importância do trabalho do orientador educacional diante dos casos de violência praticados por adolescentes na escola. Os objetivos específicos Compreender a função social da escola e sua importância para a formação do cidadão; Observar as teorias que relacionam a orientação educacional e a função social da escola; Identificar os principais problemas enfrentados pela escola em relação a violência. Os instrumentos de medida utilizados foram a leitura analítica de referenciais teóricos, que constituíram essa discussão e a aplicação de um questionário para a orientadora educacional que atende à escola. Após a coleta de dados foi realizada a discussão e análise dos resultados obtidos, podendo concluir a violência nas escolas é uma realidade atual, e que diante de um bom trabalho, desenvolvido pela equipe docente, equipe gestora, orientador educacional e, principalmente, com a família este quando pode se tornar positivo, favorecendo assim a formação social do aluno a partir do Ensino Fundamental.

Palavras-Chaves: Violência; Escola; Indisciplina; Orientação Educacional.

METODOLOGIA

Diante da necessidade de investigação e pesquisa, a elaboração

deste estudo constituiu-se de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo

em uma escola pública no município de Formosa-GO. O referencial teórico

que compõe a pesquisa bibliográfica mostra a importância do trabalho da

escola em relação aos indicies de violências entre adolescentes, bem como

a participação e importância do trabalho do orientador educacional diante do

problema na escola.

A abordagem da pesquisa foi qualitativa, em que se enfoca na

pesquisa de campo realizada com o orientador educacional na escola,

visando conhecer as ações utilizadas pelo mesmo e para a escola no

combate a violência entre os adolescentes, diante do processo de formação

social do mesmo.

Foram utilizadas ideias e teorias de livros e também foram utilizados

para a confecção do referencial teórico artigos de jornais, revistas e de

estudos publicados na Internet.

A partir da pesquisa de campo foi possível compreender o trabalho do

orientador educacional na escola no combate a violência entre os

adolescentes. Posteriormente, foi realizada a uma discussão sobre os

resultados do questionário aplicado com a finalidade de comparar a teoria e

a prática.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................... 09

CAPÍTULO I - ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ........................................ 11

1.1 Conceituando a Orientação Educacional .................................. 11

1.2 A formação cultural do aluno na escola ..................................13

CAPÍTULO II – ADOLESCÊNCIA: VIOLÊNCIA OU INDISCIPLINA .........18

2.1 Contextualizando a adolescência e violência ........................... 18

2.2 A indisciplina na escola ........................................................... 20

2.3 A postura do professor e do aluno .......................................... 24

CAPÍTULO III – INSTRUMENTO E COLETA DOS DADOS .................. 26

3.1 Metodologia ........................................................................... 26

3.2 Participantes .............................................................................. 27

3.3 Instrumentos .......................................................................... 27

3.4 Ambientação ........................................................................... 26

3.5 Procedimentos ......................................................................... 27

CAPÍTULO IV – RESULTADOS DA PESQUISA ..................................... 26

4.1 Apresentação e análise dos resultados .................................... 27

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 34

REFERÊNCIAS ....................................................................................... 36

APÊNDICE

INTRODUÇÃO

Percebe-se que é no universo da escola que o aluno vivencia

situações diversificadas que favorecem o aprendizado, para dialogar de

maneira competente com a comunidade, aprender a respeitar e a ser

respeitado, a ouvir e ser ouvido, a reivindicar direitos e cumprir obrigações, a

participar ativamente da vida científica, cultural, social e política do país e do

mundo.

Diante da importância da escola para a formação social do aluno,

compreende-se que a presença do Orientador Educacional funciona como

um suporte às ações que podem ser desenvolvidas para melhorar as

relações entre aluno/aluno e professor/aluno.

Na instituição escolar, o orientador educacional é um dos profissionais

da equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando-os

em seu desenvolvimento pessoal; em parceria com os professores, para

compreender o comportamento dos estudantes e agir de maneira adequada

em relação a eles; com a escola, na organização e realização da proposta

pedagógica; e com a comunidade, orientando, ouvindo e dialogando com

pais e responsáveis.

A situação problema a ser pesquisada neste estudo é:

De que forma a orientação educacional pode favorecer o trabalho na

escola em relação à violência dos alunos?

O objetivo geral do estudo foi analisar a importância do trabalho do

orientador educacional diante dos casos de violência praticados por

adolescentes na escola. Os objetivos específicos Compreender a função

social da escola e sua importância para a formação do cidadão; Observar as

teorias que relacionam a orientação educacional e a função social da escola;

Identificar os principais problemas enfrentados pela escola em relação a

violência.

A educação voltada para a formação do cidadão que deve estar

preparado para conviver nessa sociedade global, da qual fazemos parte, tem

seus objetivos alcançados a partir da consideração da função social da

escola em conjunto com o trabalho do Orientador Educacional na sua

relação com outros profissionais que atuam escola.

A hipótese do estudo busca compreender as ações que podem ser

desenvolvidas tendo em vista sanar o problema da violência no âmbito da

escola, praticada por adolescentes, facilitando as relações dentro da escola.

O primeiro capítulo traz teorias a cerca da orientação educacional,

bem como o seu histórico na educação brasileira, elucidando a importância

da escola para a formação social do aluno na escola e para a vida.

O terceiro capítulo ressalta as teorias sobre a adolescência e os

principais índices e conceitos da violência na sociedade e na escola,

analisando dentro deste contexto a prática da indisciplina como alvo da

violência na escola.

O terceiro capítulo apresenta os estudos metodológicos e a pesquisa

de campo realizada com o orientador educacional em uma escola de

Formosa-GO.

CAPÍTULO I

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A orientação educacional representa uma tomada de consciência em

relação à realidade do educando e à complexidade da vida social. A

orientação educacional, praticamente surgiu no inicio do século XX, nos

Estados Unidos, e com o fito primeiro de orientar os estudantes para uma

adequada escolha de trabalho, com intenções, pois, de orientação

profissional.

Neste capítulo será elucidado sobre o conceito da orientação

educacional, bem como a sua importância no trabalho na escola em relação

a adolescência e violência.

1.1 Conceituando a Orientação Educacional

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº

9.394/96, no contexto educacional atual em que se apresentada a educação,

a Orientação Educacional se tornou necessária, principalmente diante dos

diversos problemas detectados na escola entre aluno/aluno e

professor/aluno.

A Lei ela determinou que a instituição da Orientação Educacional e

Vocacional deverá ser considerada como uma das normas da organização

de todo o ensino de 2º grau, inclusive como cidadão de reconhecimento. E

prescreveu o modo de formação dos educadores, que deveriam assumir tal

tarefa depois de freqüentar um curso de nível superior, destinado

especificamente à formação profissional de “orientadores da educação”

(BRASIL, 1996)

Na fase transitória caracterizada por um numero insuficiente de

diplomados em cursos destinados à formação de orientadores educacionais,

o MEC autorizou a habilitação por meio de uma prova de suficiência, aberta

a professores, portadores de registro definitivo, que tenham realizado curso

especializado de pelo menos um ano em Faculdade de Filosofia.

Do currículo mínimo desses cursos constavam as seguintes matérias: Teoria de Orientação Educacional; Métodos e Técnicas da Orientação Educacional; Psicologia da Infância e da Adolescência; Psicologia Social; Técnicas de Exames Psicopedagógicos; Elementos de Psicopatologia; Elementos de Orientação Profissional e Estudos de Oportunidades de Ocupação; Administração Escolar e Sistemas Escolares e Estatística Aplicada (BRASIL, 1996, p.86).

Diante do currículo apresentado para a formação em orientação

pedagógica, compreende-se que esta é o elemento da organização escolar

que permite a programação antecipada e globalizada de todas as atividades

escolares, envolvendo a comunidade escolar, orientada pela direção da

escola, que acompanhará e controlará pedagogicamente sua execução.

De acordo com o parecer n.º 374/62, do Conselho Federal de

Educação disposto em Brasil (1996), que regula o assunto, estabeleceu que

o curso será de 12 meses letivos e que, tendo o caráter de pós-graduação,

poderá permitir às Faculdades certas adaptações, conforme a formação já

adquirida pelos candidatos, que podem ser dispensados das matérias

cursadas em nível superior, desde que haja correspondência no conteúdo

das mesmas.

A Orientação Pedagógica segundo Duarte (1986, p. 82) “o auxílio

prestado aos professores na seleção de métodos e processos que visem à

maior eficiência do ensino e na adoção de atitudes mais adequadas aos

objetivos da Educação”.

O trabalho do Orientador Educacional é de grande valor, ordem e

responsabilidade e, para que seja alcançado a satisfatoriamente, exige-se

extremamente desse profissional, não só em cabos de desenvolvimento, de

modernização constante e de características de originalidade como também

de procedimento ético.

A Orientação Pedagógica como um trabalho normativo visa a dar à escola uma filosofia de educação através de um planejamento global e consciente, em que as disciplinas, práticas educativas e atividades extra-classe e extracurriculares se articulem e correlacionem no sentido horizontal e vertical, na medida em que orientam a formação sistemática integral de cada educando. (CRESTANI, 2000. p. 16)

O contexto da escola exige, além do corpo técnico - administrativo

qualificado, um corpo docente ativo, homogêneo em sua formação e

coerente em suas ações, todos participantes da mesma filosofia de

educação; currículo funcional que seja um “meio estimulante” ao

desenvolvimento integral dos educandos e bastante flexível para permitir o

atendimento das diferenças individuais e sociais; programas tecnicamente

dosados que levem à formação, substituindo os programas meramente

informativos, que conduzem apenas ao acumulo de elementos esparsos da

cultura; correlação afetiva quer no setor horizontal, quer no vertical, e

finalmente a seleção do horário pedagogicamente elaborado, possibilitando

o máximo de rentabilidade à aprendizagem.

1.2 A formação cultural do aluno na escola através da

orientação educacional

A escola, como um corpo em movimento, expressa cotidianamente a

sua identidade. Portadora de diferenças e de peculiaridades, que por muito

tempo foram clandestinas e até inconfessáveis, como afirma Hutmacher

(1992, p.45), hoje passa a ser estudada justamente nos seus aspectos

miúdos. E é na diferença, nos elementos de sua própria cultura, que

encontra respostas para uma série de questões que lhe são postas

constantemente, ou que ela mesma se impõe a responder.

A organização do trabalho na escola e na sala de aula estão

diretamente relacionados ao trabalho do professor, pois é ele o responsável

pela organização do conhecimento, bem como de momentos em que se tem

a oportunidade de partilhar experiências que podem levar a melhoria da

escola.

O que se pode observar nas teorias destacadas é que a Orientação

Educacional sempre existiu, nas escolas, mas de forma empírica. A partir da

terceira década do século XX é que passou a ter uma execução sistemática,

envolvendo pessoas com formação especializada.

Neste sentido, o bom educador deve estar sempre a procura de

conhecimentos que visem melhorar suas técnicas em sala de aula e

principalmente, deve procurar atingir a capacidade dos alunos com relação a

expansão e aperfeiçoamento dos conhecimentos.

Hoje os principais questionamentos sobre a escola se voltam para a

sua função. De acordo com Pilletti (1996, p.70) a escola serve para:

Ensinar conteúdos e habilidades necessárias à participação do indivíduo na sociedade; Através de seu trabalho específico, a escola deve levar o aluno a compreender a sua própria realidade, situar-se nela, interpretá-la e contribuir para sua transformação; A escola é fundamental para a formação da cidadania. Por isso, nenhuma criança pode ficar excluída de seus benefícios.

Todas as crianças têm o direito a uma sólida formação escolar. Pois a

educação é uma forma de realização pessoal e social, onde fazem do

processo de ensino-aprendizagem uma variação de conhecimentos e

culturas nas formas de trabalho do educador na escola e na sala de aula.

A função da escola é proporcionar um conjunto de práticas preestabelecidas tem o propósito de contribuir para que os alunos se apropriem de conteúdos sociais e culturais de maneira crítica e construtiva. Esta função socializadora nos remete a dois aspectos: o desenvolvimento individual e o contexto social e cultural (FREIRE, 2000, p.104).

É nesta dupla determinação que nos construímos como pessoas

iguais, mas ao mesmo tempo, diferentes de todas as outras. Como seres

humanos possuímos uma cultura, de certa forma, igualitária, nos permitindo

integrar e repartir com as pessoas com quem convivemos os saberes

adquiridos.

“O papel formal da Escola é o de ser a principal responsável pela

organização, sistematização e desenvolvimento das capacidades científicas,

éticas e tecnológicas de uma nação.” (FORMIGA, 1999. p.2) Inspirada nos

princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por

finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o

exercício da cidadania, sua qualificação para o trabalho, bem como, meios

para progredir nele e em estudos posteriores.

Para Libâneo (1999, p. 56), “a educação cabe fornecer, de algum

modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao

mesmo tempo, a bússola que permite navegar através dele.” Assim, o

conhecimento hoje é entendido como um valor especial, mais até do que

bens materiais. Em meio as incertezas que o atual momento tende a

despertar, num ponto estão todos de acordo: a importância do conhecimento

para todos os indivíduos, sobretudo os jovens, para enfrentar o presente e o

futuro. Temos que ensinar bem e preparar os indivíduos para exercer a

cidadania e o trabalho no contexto de uma sociedade complexa.

Na visão de Antunes (2002, p.57) as vias que compõem o saber são:

a) Aprender a conhecer: para mostrar como devemos aprender a conhecer, é preciso tem em mente que este tipo de aprendizagem tem a finalidade e o seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer e de descobrir. b) Aprender a fazer: aprender a

conhecer e aprender a fazer são em larga medida indissociáveis. O aprender a fazer possui uma referência mais ampla, o indivíduo coloca em prática todo o aprendizado.c) Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros: para que este pilar realmente aconteça a educação deve ser consideravelmente levada para o lado mais importante na vida do indivíduo e da instituição que a prega.d) Aprender a ser: o que se espera da educação é que ela seja contribuinte no desenvolvimento humano e de suas potencialidades e habilidades, pois a preparação para a vida através da educação deve dar suporte ao indivíduo para viver e agir nas diferentes circunstancia de sua vida.

A escola é considerada nos dias atuais um fenômeno relativamente

recente na história da humanidade. A dedicação cada vez maior dos homens

e mulheres ao trabalho fez com que as crianças, tanto quanto os pais,

passassem muito mais tempo fora de casa, e o papel da escola na formação

dos indivíduos passou a ser maior.

As tradições culturais transmitidas oralmente num grupo social

fundamentam-se na ancestralidade, uma vez que são transmitidas de uma

geração para outra, a partir de vivências significativas para o grupo em

atividades de sobrevivência e/ou no exercício do poder no âmbito de sua

organização política, econômica e sociocultural (BRASIL, 2001, p.148).

A transmissão cultural refere-se, muitas vezes, a sociedades

aparentemente pouco modeladas pela penetração exterior. É difícil encontrar

uma sociedade não danificada pela modernização e, nomeadamente, pela

universalização da escola.

A valorização dessas vozes no cotidiano da escola implica pesquisas de cunho literário e também junto à comunidade, por meio de depoimentos que muitas vezes não têm registros nas escritas de nossas histórias, como relatos de descendentes de escravos, indígenas, imigrantes, sacerdotes de diferentes cultos e religiões. O conteúdo desse enfoque permite a emergência da memória constitutiva das tradições, valores, normas e costumes, com marcas presentes na medicina, culinária, literatura, jogos, brincadeiras, festas religiosas, rituais, cerimônias de iniciação e outras atividades compartilhadas por crianças, adolescentes e adultos nas diversas comunidades (BRASIL, 2001, P.156).

O compromisso com a construção da cidadania pede

necessariamente uma prática educacional voltada para a compreensão da

realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida

pessoal, coletiva e ambiental. Ao pressupormos o ser humano como agente

social e produtor de cultura, evocamos a emergência de suas histórias,

delineadas no movimento do tempo em interação com o movimento no

espaço.

O que marca a existência da cultura é a existência de um saber. É porque há um saber que traduz o jeito de ser, pensar e agir, que há um determinado povo e, conseqüentemente, sua cultura. Do mesmo modo, esse saber se torna um saber dito cultural porque se expande, prolifera e frutifica, sendo transmitido, passado adiante e multiplicado, fazendo circular conhecimentos e tradições. É exatamente aí que surge a educação: é ela, a educação, o instrumento de passagem, de uns aos outros, do saber que o constitui e legitima. Mais ainda: a educação participa do processo de produção dessas idéias e crenças, de qualificações e especialidades, que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, determinam tipos de sociedades (BAESSE, 2009, online).

A escola é uma instituição em que se priorizam as atividades

educativas formais, sendo identificada como um espaço de desenvolvimento

e aprendizagem e o currículo, no seu sentido mais amplo, envolvendo as

experiências adquiridas e vivenciadas pelo individuo como meio de

socialização e de aquisição da cultura.

CAPÍTULO II

ADOLESCÊNCIA: VIOLÊNCIA OU INDISCIPLINA

Na adolescência, ocorrem inúmeras transformações com o organismo

do indivíduo, a partir daí ele começa a ver as coisas de forma diferenciada. A

escola, para ele, muitas vezes, é um refúgio diante de seus medos e

conflitos internos e externos de sua personalidade. E diante disso, acabam

passando por cima de valores éticos e morais de condutas que o definem

para o resto de sua vida.

Neste contexto expõe-se nesta capítulo estudos sobre a adolescência

e violência, bem como a sua interferência na escola, alterando não somente

a rotina escolar, bem como pedagógica e discente.

2.1 Contextualizando a adolescência e violência

No ano de 1904, Granville Stanley Hall publicou um estudo realizado

por ele sobre a psicologia da adolescência. Através deste estudo instituiu a

fundação do Instituto de Psicopatia Juvenil, tendo em vista a pesquisa sobre

os comportamentos dos adolescentes. Este Instituto foi precursor de um

trabalho voltado para a orientação de adolescentes.

A adolescência, na década de 30 era considerada por estudiosos

como um período de crise, onde os indivíduos expressavam ou

manifestavam suas emoções, para os pais este era um momento muito

difícil. Neste período, há uma transição de sentimento, onde os indivíduos

tendem a estender muito pouco os laços de afetividade, principalmente em

casa, com os pais.

De acordo com Benevides & Guerreiro (2001, p.12)

Nesta fase são observados relacionamentos turbulentos entre pais e filhos, pois estes apresentam comportamentos de desrespeito com aqueles e com outras pessoas. Os adolescentes revoltam-se, principalmente, com as opressões que são feitas pela sociedade, para que se tornem logo adultos e desenvolvam atividades produtivas, estabelecidas pelos adultos.

Assim, compreende-se que os conflitos existentes entre os

adolescentes, me muitos momentos, é uma forma do individuo expor aquilo

que vivencia em sua cultura, fora da escola, até mesmo em casa, com a

família. Se sentem inseguros, diante da diversidade de coisas que o mundo,

fora da proteção dos pais, começa a oferecer.

Benevides & Guerreiro (2001, p.12) ressaltam que

A Psicologia do desenvolvimento desenvolveu estudos que permitiram compreender a existência de inúmeros fatores que influenciam a adolescência e acabam afetando a participação do aluno na escola e nas suas relações familiares e, em 1950, a adolescência passou a ser considerada não como crise, mas, um estado, como o modo de ser ou o estado dos jovens.

Maffessoli (apud GUIMARÃES, 1996, P.9) ressalta que “a violência é

uma das maneiras que movimentam as relações humanas. Ela não deixa de

levar em conta a instabilidade social como integrante de tudo que, em vez de

eliminar os antagonismos, busca ordená-los”.

Em muitos momentos, a violência é cometida como forma de

expressionismo, como meio de idealizar uma vontade própria de cada

pessoa. No aluno, ela pode estar ligada a necessidade de preenchimento de

valores e culturas das quais ele não tem acesso fora da escola, no meio

onde vive, e dessa forma, acaba prejudicando o andamento de seu processo

de aprendizagem na escola.

Segundo Campos (1998, p.51)

O progresso de cada adolescente ao amadurecimento emocional dependerá, em grande escala, de suas experiências emocionais anteriores. Conforme várias, Escolas Psicológicas, aquilo que foi experimentado na infância desempenha importante papel durante os anos da adolescência. A criança, cujas necessidades de carinho e afeição foram satisfeitas, comumente tem os fundamentais sentimentos de segurança que a capacitam a enfrentar os “stress” da adolescência, com um considerável grau de resistência. Se através dos anos, foi ajudada a entender a si e aos outros, a identificar seus alvos e valores, a ajustar-se às mudanças, em si mesmo e no ambiente, estará bastante fortalecida para enfrentar as tensões e pressões emocionais da adolescência. Nesta fase, será particularmente importante o grau em que desenvolveu a auto disciplina e aprendeu a aceitar as responsabilidades da progressiva proporção de liberdade que vai alcançando.

Na concepção de Candau (2002), muitas das manifestações de

violência nas escolas preocupam os pais, bem como os educadores, que

não sabem de que forma iniciar uma tomada de decisão para a extinção

desse problema.

2.2 A indisciplina escolar

Os relatos históricos sobre a disciplina escolar nos levam a crer que

antigamente os alunos demonstravam mais interesse pelas aulas, tinham

grande respeito pelo mestre. Em resumo, eram disciplinados. Ao fazermos

essas afirmações não devemos esquecer que, no passado o sistema familiar

e escolar eram bastante rígidos.

A família desempenhava um papel fundamental e decisivo na

educação dos filhos. Além disso, o professor detinha autoridade e direito

suficientes para punir aqueles que desobedecessem as regras impostas.

A princípio, a educação não era o principal foco da Companhia de

Jesus, mas sim a catequese, porém com o passar dos anos, a educação

tornou-se o fator mais significativo, mas é claro sem haver um rompimento

desta com a espiritualidade.

De acordo com Luzuriaga (2001, p.49), a Companhia de Jesus, criada

por Inácio de Loyola e reconhecida pelo papa em 1540, “foi a mais poderosa

organização que a Igreja possuiu para a educação durante muito tempo e

ainda hoje exerce influência considerável”. Os jesuítas utilizavam métodos

tradicionais baseados meramente em aulas expositivas e exercícios de

memorização.

A disciplina se baseava na emulação e na competição, fomentadas de vários modos: individualmente, tendo cada aluno um êmulo com quem competir, e coletivamente, dividindo-se as classes em dois grupos rivais, com denominações próprias. Fomentava-se igualmente a emulação entre escolas, por meio de exames, discussões, etc. Com isso se despertava o sentimento de competição e do amor próprio (LUZURIAGA, 2001, p.119).

A educação jesuíta tinha como fundamento, o cristianismo,

preocupava-se muito com a conduta moral dos aprendizes, por isso a

educação era baseada em normas impostas, e na vigilância constante do

comportamento dos alunos.

Segundo Luzuriaga, (2001), a conduta dos alunos era, assim, algo de

exterior e artificioso, sem espontaneidade, nem naturalidade. Pois os

professores da época faziam com que seus alunos o temessem , não

significando que os respeitassem. Fazendo com que todo o desempenho do

aluno ocorresse de forma mecânica.

No século XVII, a educação é marcada pelas idéias de Comênio,

considerado o maior educador e pedagogo dessa época, a sua principal

obra é chamada de Didática Magna. Ele elaborou manuais para que

houvesse ensino e aprendizagem eficazes. Apesar das suas idéias

renovadoras, Aranha (1996) nos diz que nesse período, a educação

brasileira conduzida pelo monopólio conservador dos jesuítas, esteve alheia

à revolução intelectual.

O governo português liderado pelo Marquês de Pombal, temendo o

poder político e econômico exercido pelos jesuítas sobre todas as camadas

sociais, expulsou-os no século XVIII, provocando assim, um retrocesso no

sistema educacional brasileiro.

No século VI, na Alta Idade Média, a Igreja exercia influência

gigantesca na educação, e em todas as outras esferas da sociedade. Nessa

época a forma tradicionalista imperava sobre a educação da sociedade.

Na pedagogia tradicional a disciplina se reduz a um conjunto de regras de condutas, a normas disciplinares e hierarquias rígidas. Espera-se com isso conseguir a obediência do aluno, através da vigilância constante. È uma disciplina puramente exterior, baseada na coação e no autoritarismo, o que dá margens a arbitrariedades, castigos, punições etc. (FRANCO, 1986, p.16).

Os anos se passaram, mas a valorização da dura disciplina para

mudar o comportamento dos indisciplinados, permaneceu inabalável.

Ao longo dos anos movimentos surgiam para renovar não somente a

escola, mas todo o modelo social existente, manifestações que divergiam

das idéias da Igreja, a Reforma comandada por Lutero é um exemplo. Esses

acontecimentos, aos poucos mudavam a mentalidade de muitos, que nada

diziam ou faziam. Poucos tinham coragem de se manifestar contra o sistema

que era imposto, tinham muito medo do castigo divino. E aqueles que

contradiziam o poder, eram duramente punidos. Então, ainda no século XIII,

a dura disciplina continuava.

As correções ordinárias com o chicote serão feitas no canto mais escondido e escuro da sala, onde a nudez de quem for corrigido não possa ser vista pelos outros; cuide-se muito para inspirar aos alunos um grande horror de um mínimo olhar nessa ocasião... As correções extraordinárias, porém... devem ser feitas publicamente, na presença dos alunos da classe, no meio da sala(ou as vezes com a presença de todas as classes (MANACORDA,2000, p.234).

Por volta do século XV, surge o Humanismo, criado pelos mestres

livres, que vieram, com novas idéias, opondo-se a essas metodologias

tradicionais, tão repetitivas e abominando a disciplina estupidamente severa.

Desde os primórdios, o Humanismo orientava-se pela renovação do processo educativo. Os maiores humanistas consideravam seu dever e necessidade presente dedicar maior atenção aos problemas da organização escolar, ao programa de estudos, aos métodos de ensino e ao comportamento dos alunos (GILES, 1987, p.113).

Apesar da preocupação visível dos humanistas em relação à forma

como o processo ensino-aprendizagem ocorria a dura forma de disciplinar

perdurou por séculos seguintes. A disciplina deve ser compromisso de toda

a Instituição escolar e como já foi dito, não é apenas questão de professor e

aluno. Por isso é importante que a organização escolar e a organização

familiar interfiram de forma positiva nesse processo, contribuindo para que

haja um ambiente propício a aprendizagem.

A disciplina não será alcançada de forma superficial e exterior, mas

sim de maneira interiorizada. É preciso que o aluno compreenda o porquê

deve agir dessa e não daquela maneira.

A disciplina para Gramsci significa a capacidade de comandar a si mesmo, de se impor aos caprichos individuais, as veleidades desordenadas, significa, enfim, uma regra de vida. Além disso, significa a consciência da necessidade livremente aceita, na medida em que é reconhecida como necessária para que um organismo social qualquer atinja o fim proposto (GRAMSCI, apud FRANCO, 1986, p.40).

Sendo assim, é preciso conscientizar constantemente os educandos

da importância da disciplina, fazer com que eles incorporem esse conceito

para si. A partir do momento que os alunos compreenderem que

comportamentos inadequados produzirão resultados negativos e

reconhecerem e aceitarem as condutas que serão benéficas para sua vida,

agirão de forma livre e autônoma porque sabem que terão respostas

positivas, e não porque alguém está obrigando-os a agir dessa ou daquela

maneira.

O aluno é um reflexo das relações sociais, sendo assim a questão

disciplinar para ser melhor compreendida deve-se levar em consideração a

família, a vizinhança, enfim, as relações interpessoais pelo qual esse

estudante tem contato. “A criança indisciplinada está tentando dizer alguma

coisa para o professor. É preciso saber ouvir e compreender a mensagem

que se esconde por trás do comportamento manifesto como indisciplina”

ROSENBERG (apud FRANCO 1986, P.50).

Muitas vezes o aluno quer dizer que não está gostando da aula; que

está com problemas em casa ou até mesmo que nesse dia não está se

sentindo bem. O professor deve estar atento a esses sinais antes de

descarregar todo o seu stress nesse aluno indisciplinado.

De acordo com Franco (1986), os professores em geral são

autoritários, não preparam as aulas, chegam atrasados; lêem jornal na frente

dos alunos; lidam com o aluno padrão e não com o concreto; transmitem

conhecimentos abstratos; não dominam com competência os conteúdos;

ministram aulas monótonas, repetitivas e aborrecidas.

2.3 A postura do professor e do aluno

A relação professor-aluno está marcada por uma submissão do

segundo ao primeiro. O passado nos revela um comportamento apropriado à

escola, muitas vezes marcado pelo medo e não somente pelo respeito

devido ao professor. A relação pedagógica era desigual, pois o mestre era o

dono do saber e o discípulo era considerado alguém que nada sabia, sendo

assim, o mestre falava e o discípulo não devia questionar seus

ensinamentos, deveria permanecer calado.

Tanta severidade, muitas vezes provocava reações contrárias a

disciplina, pois causava aversão e vontade de vingar-se do mestre. Às

vezes os alunos revoltados, faziam algumas peraltices, como roubar a

merenda, escrever palavrões na lousa ou fazer desenhos obscenos. Tudo

isso eram sinais de que não estavam satisfeitos com o sistema escolar

imposto.

A postura do professor como senhor soberano, autoritário, dono do

saber, o que levava o aluno a se sentir e ser tratado como um ser inferior,

desprovido de conhecimento, fazia com que artistas da época satirizassem

essa relação entre professor-aluno. Shakespear, no romance de Romeu e

Julieta, em poucos versos resume bem essa relação: “Amor corre para

amor, como as crianças fogem da escola, mas o amor se afasta do amor

com olhos tristes, como criança quando vai à escola” (ATO II, CENA 2, apud

MANACORDA, 2000, p.212).

Tudo isso refletiu um contexto educacional voltado somente à pura

transmissão e assimilação de conhecimentos, buscando para isso recursos

que revelavam austeridade dos mestres com seus alunos e com isso a

relação entre ambos, principalmente com os indisciplinados, era bastante

delicada, pois era marcada pelo medo e raiva das aplicações de castigos

severos.

CAPÍTULO III

INSTRUMENTO E COLETA DOS DADOS

3.1 Metodologia

Esta pesquisa é caracterizada quanto a natureza em bibliográfica e de

campo, pois inicialmente será realizado um estudo bibliográfico sobre o tema

buscando definições, contexto histórico e evolução e em seguida será

realizada a pesquisa de campo. Quanto a abordagem esta se utilizará do

método dedutivo. Quanto aos objetivos é classificada como descritiva.

A proposta de trabalho a ser realizada será a pesquisa de campo

enfocando o trabalho da orientação educacional em relação a violência entre

adolescentes na escola.

Andrade (2003) destaca em seus estudos que se a pesquisa é a

razão do ensino, vale o reverso: o ensino é a razão da pesquisa, se não

quisermos alimentar a ciência como prepotência a serviço de interesses

particulares. O trabalho pessoal de pesquisa encontra expressão própria no

desafio de assumir um tema para elaborar e defender, ainda que possa

restringir–se a produção teórica. O primeiro passo é aprender, que significa

não imitar, copiar, reproduzir.

3.2 Participantes

A pesquisa foi realizada com o orientador educacional de uma escola

pública em Fomorsa-Go. A escola foi escolhida para a aplicação do

questionário por ser uma das escolas que trabalha com adolescentes na

segunda fase do Ensino Fundamental.

3.3 Instrumentos

O instrumento de pesquisa utilizado foi o questionário com perguntas

fechadas e abertas, que foi respondido pelo orientador da escola, com o

objetivo de serem sanadas todas as dúvidas em relação as ações

desenvolvidas no contexto da violência na escola.

3.4 Ambientação

As questões foram respondidas pelo orientador na própria escola

buscando respeitar a disponibilidade do mesmo, e seu horário pré-

determinados.

3.5 Procedimento

A pesquisa, através da aplicação do questionário, foi realizada na

escola, pois segundo a direção da escola este facilitaria o trabalho do

profissional no âmbito da escola.

Após a coleta do material houve a necessidade da análise de se obter

a análise dos dados, transformando as respostas em dados concretos pela

pesquisadora. Desta forma, foi possível chegar a uma categorização dos

dados.

Os resultados apresentados referem-se a pesquisa realizadas com o

profissional em orientação educacional da escola em Formosa-GO. Os

dados obtidos na coleta foram apresentados evidenciando-se a pesquisa e a

análise teórica, permitindo assim, a resposta ao problema de pesquisa e aos

objetivos propostos para o estudo.

CAPÍTULO IV

RESULTADOS DA PESQUISA

41. Apresentação e análise dos resultados

Em um processo de ensino que priorize a crítica e uma educação

transformadora, o trabalho de orientação educacional priorize as reais

necessidades não somente da escola, bem como dos alunos diante do

contexto em que vivem. Também são priorizadas as relações interpessoais,

as trocas mútuas entre docentes e discentes. Haverá necessariamente um

momento de parada para que se repense, para que se crie, para que sugira

e se procure outras formas desenvolvimento de relações. E diante deste

momento de reflexão, busca-se a orientação do trabalho de um profissional,

tendo em vistas as dificuldades de relacionamento entre os alunos na

escola.

Para realizar-se um estudo do caso em uma escola municipal da

cidade de Formosa-go, foi feita a pesquisa com a orientadora educacional

mediante a autorização da equipe diretiva, tendo em vista a necessidade de

se conhecer o contexto da escola, bem como o cotidiano dos alunos que

nela adquirem seus conhecimentos, possibilitando assim compreender como

estas pessoas compreendem a violência na escola, quais as causas que

apontam para a ocorrência deste fenômeno e como lidam com a violência.

Em relação a formação da orientadora educacional, a mesma

informou ter feito o Curso de Pedagogia Parcelada pela Universidade

Estadual de Goiás, e que posteriormente realizou a especialização em

Orientação Educacional em outra faculdade.

No primeiro momento foi questionado a orientadora se na escola há

ou houve algum caso de violência entre os adolescentes, a mesma

respondeu que

Até o ano de 2007 não haviam ocorrido casos de violência, porém no ano passado (2009) houve muitos. Alunos conseguiam entrar até mesmo armados dentro da escola, o que gerava muita dificuldade nas relações com os demais alunos e ate mesmo com a equipe administrativa (E. B. M. Orientadora Educacional).

Assim, compreende-se que no âmbito da escola, surge a necessidade

de implementação de ações que possam prender a atenção dos alunos para

o processo de ensino-aprendizagem, tendo como foco desviar a atenção dos

alunos das más condutas dentro do contexto da escola.

Sobre isso, Kusumoto (1999, p.126) ressalta que “enquanto

considerarmos o mundo como um campo de competição em que a

sobrevivência é obtida pelo mais forte, ou por aquele que consegue uma

melhor adaptação, viveremos em constante conflito”.

Em relação aos procedimentos tomados pela escola em relação a

violência entre os alunos a mesma respondeu,

Inicialmente o aluno que gera os conflitos dentro da escola e encaminhado para o serviço de orientação, juntamente com o acompanhamento dos pais e/ou responsáveis, e quando as medidas adotadas não são suficientes para resolver o problema o aluno é encaminhado ao Conselho Tutelar no caso de ser menor e se maior, encaminhamos para profissionais de segurança pública (E. B. M. Orientadora Educacional).

O caso da violência, de acordo com a resposta da orientadora, é um

fator que requer medidas drásticas, pois se a escola não se responsabilizar

por estas ações, corre o risco de poder dar abertura para outros novos

acontecimentos entre os alunos.

Através dessa compreensão, percebe-se que em muitos momentos, a

violência pode propiciar mudanças dentro de uma instituição, muitas vezes

uma conexão entre o que o aluno busca e o que a escola pode oferecer.

Para Maffessoli (1987, apud GUIMARÂES, 1996, p.13) “é sempre por

um ato de violência que se inicia um novo sistema social”. É analisando

estes conceitos, é que a escola pode usufruir das formas diferenciadas de

cada aluno ver o mundo dentro da escola, proporcionando assim, melhorias

ou mesmo mudanças, adaptações curriculares para o atendimento destes

problemas com os aluno em geral.

A violência em sua estrutura sempre gera uma nova ordem, inserindo-

se num movimento duplo de demolição e de construção. O lado construtivo

da violência permite entender essa forma social como auxiliadora da ordem.

Sobre como é feito o acompanhamento do aluno que comete algum

tipo de violência na escola, a pesquisada respondeu que

Ele inicia todo um processo de acompanhamento dentro da escola, com a psicopedagoga, psicóloga e com a minha orientação desenvolvemos alguns procedimentos para compreender o que levou o aluno a realizar os atos de violência, na escola, com os colegas e/ou professores, gostamos, também, de realizar este trabalho com a participação dos pais, o que muitas vezes é parte mais difícil do acompanhamento, normalmente os pais mostram mais resistência do que os próprios alunos envolvidos. (E. B. M. Orientadora Educacional).

Percebe-se que todo o trabalho direcionado pela escola, pode ter

efeitos positivos, mas é necessário que a escola busque também, cada vez

mais, a participação dos pais no processo de readaptação do

comportamento do aluno dentro da escola.

Para De La’Taille (1992), o desenvolvimento moral das crianças

depende da ação dos adultos, dos pais e dos professores na escola. Se o

professor comunica aos pais sobre a indisciplina dos alunos, o processo de

dar limites se torna uma parceria entre pais/escola.

Questionada sobre a indisciplina dos alunos ser causada por

problemas familiares, ele respondeu que

Acredito que sim, pois nesta comunidade percebemos um distanciamento entre pais e filhos, de uma forma geral, não há um vínculo afetivo visível, acho que isso é um fator fundamental para a indisciplina do aluno, bem como para o princípio da violência que ele pratica na escola e/ou fora dela. (E. B. M. Orientadora Educacional).

Assim, compreende-se que a família possui ligação direita com o

comportamento do aluno na escola. Pois o mesmo reflete tudo aquilo que

vivencia, transmite aos outros a cultura que recebe em casa, da família.

Zagury (2002) fazem referência a geração de pais que confundem

autoridade e autoritarismo. Dessa forma, passam aos seus filhos uma forma

errônea de educar, que acaba por promover o processo indisciplinar.

Isso reflete de forma direta no comportamento do alunos com os

demais colegas na escola, pois surge uma gama de novos valores, modos

diferentes de ver as situações, formas de pensar diferenciadas, e se o aluno

não possui uma boa estrutura familiar, logicamente ele não vai conseguir

superar as diferenças que existe entre os relacionamentos com os colegas

na escola.

Sobre o trabalho dos professores, incentivar os alunos no

desenvolvimento de uma boa disciplina em sala de aula, a pesquisada

respondeu

Na escola, trabalhamos em prol da formação do aluno, realizamos um planejamento integral, onde há a participação de professores, coordenadores pedagógicos, orientadores, supervisores e equipe diretiva, tudo isso tentando passar ao aluno um ensino de qualidade, todos os conhecimentos que a escola, na pessoa de seus profissionais, possui. Então acredito que o trabalho de nossos professores incentive os alunos no desenvolvimento de

uma boa disciplina, não só em sala de aula, mas também fora dela. (E. B. M. Orientadora Educacional).

Percebe-se que a escola, através do trabalho coletivo, conjunto,

busca desenvolver um ensino de qualidade, juntando todos os

conhecimentos possíveis para o processo de formação e socialização dos

alunos que nela se insere, através do trabalho desenvolvido pelo professor

em sala de aula.

Nos dias de hoje, o professor deve ser um “líder”, deve saber também

que liderança não se impõe, se conquista. Na sala de aula, ele representa a

direção, a própria família. Ali ele é o “dono da lei”. E dessa forma, sua

metodologia deve estar voltada para o cumprimento de suas tarefas

enquanto educador (ROSSINI, 2001, p.44).

Entende-se que o professor tem um papel essencial como o de

contribuir e viabilizar aos alunos a construção de conhecimentos nesta etapa

da educação básica. Em outras palavras o professor precisa ter muita

criatividade, alegria, bom humor, respeito humano e disciplina tornando

assim sua aula mais atrativa.

A partir desse estudo foi possível reconhecer que o movimento de

orientação em educação tem sido considerado, de modo geral, como um

produto americano, e como tal, tem apresentado uma forte característica

pragmática, pelo menos, na prática da orientação, mas isso não impede as

adequações necessárias para seu melhor funcionamento de acordo com a

realidade de cada escola.

O trabalho do Orientador Educacional reveste-se de grande

importância, complexidade e responsabilidade e, para que seja realizado a

contento, exige-se muito desse profissional, não só em termos de formação,

de atualização constante e de características de personalidade, como

também, de comportamento ético. É seu comportamento que lhe permitirá

ampliar a sua identidade e o levará a desenvolver em sua escola de atuação

um trabalho diferenciado que levem alunos, professores, gestores e

comunidade a encontrarem novos caminhos para a educação.

Mesmo tendo atribuições tão diversas o Orientador Educacional,

também tem a responsabilidade de auxiliar na solução de problemas

cotidianos da escola, ou seja, de fazê-la cumprir sua função social. A este se

aplica à questão da indisciplina e da violência de adolescentes na escola

que vem sendo amplamente discutida ao longo dos últimos anos.

Os olhares da escola se voltam para aqueles que são considerados

fora dos padrões de comportamento habituais da sociedade. Ao passo que

estes alunos são rotulados, eles também são questionados de seus

comportamentos e por vezes punidos, mas poucas são as chances que eles

têm para tentar reverter este quadro. Portanto, o Orientador é uma peça

importante neste processo.

CONCLUSÃO

A tentativa de entender o porquê da violência nas escolas não só em

Formosa-GO, mas também nas escolas de modo geral, não um trabalho

fácil, mas se apresenta de forma complexa, diante das inúmeras

transformações sociais que acontecem na vida das crianças, adolescentes e

jovens.

Diante da problemática do estudo, foi possível verificar alguns

problemas sobre a violência na escola como a falta de reflexão por parte do

professor sobre a sua ação pedagógica, a falta de relacionamento entre a

escola e família do aluno, que só comparece a escola quando o aluno

comete algum ato ilícito e a resistência do próprio aluno nas propostas

elaboradas pela orientação educacional da escola na tentativa de melhorar o

seu comportamento dentro e fora da mesma.

A realização do estudo na escola da possibilitou perceber que a

violência na escola tem diversas causas e se desenvolve de muitas

maneiras. Observou-se que as principais causas da violência na escola têm

sido, entre outras e principalmente, a desagregação familiar, problemas

sócio-econômicos, a violência que o aluno experiência em casa, a baixa

auto-estima, a falta de limites em relação aos seus atos, a falta de diálogo na

família e na escola.

Ante a pesquisa realizada com a orientadora da escola, compreende-

se que diante da violência que ocorre no interior da mesma, esta vem

buscando realizar as abordagens de forma amigável, realizando um diálogo

com o aluno e com a família, bem como um trabalho que envolve, muitas

vezes, profissionais de outros órgãos. Mas pouco se tem conseguido

alcançar com estas ações, pois fora do contexto da escola, muitas vezes, o

aluno não recebe apoio suficiente para mudar sua cultura e adquirir bons

valores morais e éticos.

Diante do trabalho que a orientadora realiza na escola, percebe-se

que a participação da família é peça fundamental para o êxito do trabalho

desenvolvido pela escola e que os profissionais, no desenvolvimento do

trabalho, devam buscar adquirir, sem uso excessivo de autoridade, a

confiança dos alunos. É importante que os responsáveis por atos violentos

recebam uma atenção especial da escola e que seus pais sejam envolvidos

no trabalho de reeducação destes alunos.

Para enfrentar a violência, é necessário que a educação tenha

realmente prioridade. O orientador educacional deve estar preparado para

atender aos alunos de modo integral e além dos conteúdos disciplinares,

tratar de questões relacionadas à violência e compreender os problemas

pelos quais seus alunos passam, de modo a poder interferir, ajudar e, desse

modo, conquistar o respeito deles.

É importante, sempre, a existência do diálogo, abrindo espaços para

que os alunos se expressem o mais possível, discutindo com eles sobre

suas expectativas e definindo, conjuntamente com eles, regras e normas.

Isto certamente poderá contribuir significativamente para a formação de um

ser social mais satisfeito e que luta pelos seus ideais de uma forma menos

agressiva.

REFERÊNCIAS

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BAESSE, Deborah. Práticas culturais e o cotidiano: folclore, educação e cidadania - experiência e transmissão do saber popular. Artigo cientifico disponível em: www.divinoemaranhado.art.br. Acesso em 28 de março de 2010.

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CANDAU, Vera Maria. (Org.). Sociedade, educação e cultura(s): questões e propostas. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.

FORMIGA, Marcos. Educação para o trabalho. A era do aprender. Jornal do Brasil, janeiro, 1999.

FRANCO, Luiz Antônio Carvalho. Problemas de educação escolar. São Paulo: CENAFOR, 1986.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

GUIMARÃES, Áurea M. A Dinâmica da Violência Escolar: Conflito e Ambigüidade. Campinas, S.P.: Autores Associados, 1996.

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LIBÂNIO, José Carlos. Democratização da escola pública. A pedagogia critico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1999.

LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. 19. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001.

MANACORDA, Mário. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

PILLETTI, Nelson. História da educação no Brasil. São Paulo: Ática, 1996.

APÊNDICES

QUESTIONÁRIO

1. Formação. ________________________________________________

2. Há ou houve algum caso de violência entre os adolescentes na escola?

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3. Quais os procedimentos tomados pela escola em relação a violência entre

os alunos?

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4. Como é feito o acompanhamento do aluno que comete algum tipo de

violência na escola?

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5. Acredita que a indisciplina dos alunos pode ser causada por problemas

familiares?

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_____________________________________________________________

6. O trabalho dos professores, incentiva os alunos no desenvolvimento de

uma boa disciplina em sala de aula?

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