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FAC FACULDADES CEARENSES CURSO DIREITO ANTONIO ALDNY DE SOUSA ADOÇÃO NO BRASIL E AS PRINCIPAIS MUDANÇAS COM A LEI 12.010/09 FORTALEZA CEARÁ 2011

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FAC – FACULDADES CEARENSES

CURSO DIREITO

ANTONIO ALDNY DE SOUSA

ADOÇÃO NO BRASIL E AS PRINCIPAIS MUDANÇAS COM

A LEI 12.010/09

FORTALEZA – CEARÁ

2011

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ANTONIO ALDNY DE SOUSA

ADOÇÃO NO BRASIL E AS PRINCIPAIS MUDANÇAS COM

A LEI 12.010/09

Monografia apresentada ao Curso de Direito das

Faculdades Cearenses, como requisito parcial à

obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profª Ninon Elizabeth Tauchmann

Fortaleza – Ceará

2011

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ANTONIO ALDNY DE SOUSA

ADOÇÃO NO BRASIL E AS PRINCIPAIS MUDANÇAS COM

A LEI 12.010/09

Monografia apresentada à banca examinadora e à Coordenação do Curso de Direito de Centro

de Ciências Jurídicas das Faculdades Cearenses, adequada e aprovada para suprir exigência

parcial inerente à obtenção do grau de bacharel em Direito.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Profª. Ninon Elizabeth Tauchmann (Orientadora)

________________________________________________

Profª. Ana Maria Tauchmann Rocha Moura (Examinadora)

__________________________________________

Prof. Roberto Silvio de Morais Almeida (Examinador)

Fortaleza – 2011

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Aos meus pais, Sebastião e Cecília, pelo grande

amor que sempre dedicaram a seus filhos, além da

educação e do comprometimento que desprenderam

a mim desde o início da minha vida.

A minha esposa, Ana Zélia, e filhos, Jessica,

Jessiane e Junior, pelo amor compreensão e pelo

apoio incondicional nos momentos de dificuldade.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter-me concedido a vida, pela oportunidade de tornar mais um dos meus sonhos

realidade e por me fortalecer e dar forças para superar todos os obstáculos que encontro nos

caminhos que escolho;

Aos meus pais, Sebastião e Cecília, minha esposa, Ana Zélia, e filhos, Jessica, Jessiane e

Junior, minha irmã, Terezinha, que me ajudou em alguns trabalhos, meus sobrinhos, Rafael e

Ana Cecília, e cunhado, Francisco José;

Meu muito obrigado aos colegas Ana Maria e Nilton Alencar, que me ajudaram na confecção

desta monografia, além da minha estimada professora orientadora Ninon Tauchamann, que

me conduziu com sabedoria, paciência e amizade, para a elaboração deste trabalho;

A todos aqueles, que, embora não mencionados aqui, contribuíram de maneira direta ou

indireta para a concretização deste trabalho, muito obrigado.

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ALDNY DE SOUSA, ANTONIO. ADOÇÃO NO BRASIL E AS PRINCIPAIS

MUDANÇAS COM A LEI 12.010/09. APRESENTADA POR RESUMO. 65F. 2011.

MONOGRAFIA. CURSO DE DIREITO. FACULDADES CEARENSES.

RESUMO

Dada a relevância do tema em foco, o presente estudo trata da análise sobre a Adoção no

Brasil e as Principais Mudanças advindas com a Lei 12.010/09, bem como, pretende-se

demonstrar a evolução e aplicação do Instituto ao Direito. Dentro dessa perspectiva de

análise, buscar-se-á discutir o processo de adoção entendida como aquele que observe todas

as garantias de um processo legal, justo e capaz de tratar interdisciplinarmente a situação de

cada criança e/ou adolescente a fim de proporcionar-lhe a máxima igualdade em concordância

com os ditames da Constituição de 1988, a qual promoveu uma inovação no ordenamento

jurídico brasileiro ao elevar o respeito à dignidade da pessoa humana como Princípio

Fundamental. O presente trabalho de conclusão de Curso trará ainda a discussão acerca da

nova Lei, suscitando quais os avanços ou retrocessos no processo de adoção. Para colimar tal

resultado, será ainda analisado o posicionamento de diversas personalidades conhecedoras do

assunto, como também realizadas entrevistas com magistrados aplicadores da lei. Não

obstante, a importância do estudo está no fato de que poderá ser utilizado para outros novos e

futuros contribuindo para a formação do profissional do Direito, apontando possíveis soluções

para efetivar mudanças quanto à aplicabilidade das leis vigentes e assim, proporcionar

melhores condições materiais e morais ao indivíduo, pois a família é um pilar social. Por fim,

o Trabalho apontará que, a solução para os problemas da humanidade se remete em primeiro

plano ao resgate da entidade familiar que é a base de tudo.

Palavras-chave: Adoção no Brasil. Constituição Federal de 1988. Princípio da Dignidade da

Pessoa Humana. Mudanças da Lei 12.010/09, avanços e retrocessos.

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ABSTRACT

Given the relevance of the subject in focus, this study deals with the analysis of the adoption

in Brazil and the major changes stemming from the Law 12.010/09, and is intended to

demonstrate the evolution and application of the Law Institute. Within this analytical

perspective, it is hoped will discuss the adoption process understood as one who observes all

the guarantees of a legal, fair and capable of dealing with an interdisciplinary situation of each

child/teen to provide you maximum equality in accordance with the dictates of the

Constitution of 1988, which promoted an innovation in the Brazilian legal system by

increasing respect for human dignity as a fundamental principle. This conclusion of course

work will also bring the discussion about the new law, raising which advances or setbacks in

the process of adoption. Colima such a result is still considered the positioning of several

people know about it, as well as interviews with judges law enforcers.Nevertheless, the

importance of the study is the fact that it can be used for other new and future contributing to

the professional training of law, pointing to possible solutions to effect change regarding the

applicability of existing laws and thus provide better material and moral the individual,

because the family is a social pillar. Finally, the paper points out that the solution to the

problems of humanity in the foreground refers to the rescue of a family unit that is the basis of

everything.

Keywords: Adoption in Brazil. The 1988 Federal Constitution. The Principle of Human

Dignity. Change of Law 12.010/09, progress and setbacks

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 8

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO ADOÇÃO .................................. 11

2.1. Adoção Internacional pós Segunda Guerra Mundial ............................... 13

2.2. Adoção de crianças na Ásia pós-guerra ...................................................... 15

2.3. Adoção de crianças na América Latina pós-guerra .................................. 16

3. CONCEITO DE ADOÇÃO .................................................................................. 18

4. ADOÇÃO E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ........ 21

5. AS PRINCIPAIS MUDANÇAS NO PROCESSO DE ADOÇÃO NO

BRASIL TRAZIDAS PELA LEI 12.010/09 ........................................................ 25

6. A NOVA LEI: AVANÇOS E RETROCESSOS .................................................. 30

7. ADOÇÃO E O PODER JUDICIÁRIO ................................................................ 33

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 36

9. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 38

ANEXOS ........................................................................................................................ 41

Anexo 1 – Entrevista com o Dr. Suenon Bastos .................................................. 42

Anexo 2 – Entrevista com a Dra. Lúcia Falcão ................................................... 45

Anexo 3 – Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009 .................................................. 46

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1. INTRODUÇÃO

No mundo globalizado, onde o ser humano evolui a cada dia em diversas áreas e

setores, tais como tecnológicos e científicos, ainda são verificados problemas de cunho social

cuja solução parece superar a capacidade de inteligência do ser humano.

Além de casos de desigualdade social que parece não ter fim, deparamo-nos com

a situação de penúria e desvantagem que torna cada vez mais pesado o fardo do desprezo e

sofrimento de crianças e adolescentes.

Desprovidas de um lar e de afeto familiar, sofrem desde o seu nascimento e

durante o seu desenvolvimento, sobretudo se compararmos com aquelas crianças e

adolescentes cercados do amor dos seus genitores. Comparar a vida dessas crianças rejeitadas

com as que recebem o amor paternal é muito difícil.

Diante dessa premissa, observa-se sensato o estudo do instituto adoção, como se

processa, na tentativa de encontrar respostas para amenizar essa situação de penúria em que

vivem crianças e adolescentes.

Ressaltasse que tal procedimento é adotado desde os tempos mais remotos, muito

embora apresentasse conotações diversas.

Portanto, a adoção, desde épocas remotas da civilização, tem sido a forma de

solucionar o problema de casais que não podem procriar, não olvidando de atender as

necessidades da criança ou adolescente carente.

Com o passar dos tempos e com a evolução social, percebemos que os

legisladores mudaram o foco, sendo importante agora observar se estas mudanças alcançam o

objetivo de dar todas as garantias à criança e ao adolescente de um processo justo e capaz de

analisar de forma interdisciplinar a situação particular de cada indivíduo e, por fim, tratá-los

com a máxima igualdade possível.

O presente trabalho tem como objetivo não somente analisar essa evolução no

pensamento do legislador, mas da própria sociedade e também tecer alguns comentários sobre

as mudanças ocorridas no processo de adoção no Brasil, a partir da Lei 12.010/09, a chamada

nova lei de adoção, a qual proporcionou algumas alterações no ordenamento jurídico.

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Para tanto serão trazidos à baila os pensamentos de renomadas personalidades

conhecedoras do assunto, dentre essas destacamos o entendimento dos Doutrinadores Silvio

Rodrigues (2002); Maria Helena Diniz (2004); Silva Filho (1997), Maria Berenice Dias

(2007), Gustavo Tepedino (2007), entre outros.

Será feito um levantamento histórico do instituto da adoção, desde a época mais

remota da civilização, quando o instituto ainda estava ligado a crenças e religiosidades,

passando pelo período pós Segunda Guerra Mundial, até os dias atuais, quando a adoção

passa a ser entendida não mais como medida assistencial ou simplesmente corretora da

impossibilidade de casais gerarem filhos legítimos, mas sim como forma de proteger a criança

e o adolescente, visando dar-lhes um lar e uma família, ou no entendimento do próprio

Estatuto vigente (ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente), o qual revogou o código de

menores (art.267), em seu capitulo III, trazendo a visão de que “o direito à convivência

familiar e comunitária” é o objetivo a se perseguir por meio desta Lei.

Como de relevância essencial, será enfocado e estudado o instituto adoção, em

conformidade com os ditames e princípios norteadores da Carta Política de 1988, a qual

revolucionou o ordenamento jurídico dando uma conotação mais abrangente e preocupada

com a efetiva defesa do melhor interesse dos direitos do cidadão, incluindo a criança, o

adolescente, enfim, a família.

A Constituição atual adota uma postura mais socializada voltada para corrigir a

legislação anterior, mais especificamente o Código de 1916, que, no trato das questões que

envolviam famílias, e consequentemente seus membros, colocava em primeiro plano a

questão patrimonial, deixando de lado ou ignorando o lado afetivo.

Importante destacar que serão plenamente analisadas as principais mudanças

ocorridas no processo de adoção no Brasil, dando ênfase à preocupação com a situação da

mãe e da criança, desde o estado de gestação o qual a medicina denomina período pré e pós-

natal.

Ainda no presente trabalho, serão destacadas as situações e dificuldades

concernentes à maquina estatal, ou seja, à aplicabilidade da legislação, a qual vislumbra a

melhor das intenções e resultado no trato dessas questões, todavia, a viabilidade material, no

que diz respeito à mão-de-obra suficiente para a execução das determinações, não se

demonstra eficiente.

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Por fim, será feita uma abordagem sucinta dentro de um ponto levantado a partir

da lei 12.010/09, a saber: estabelecer se houve avanço no processo de adoção no Brasil com a

nova lei. Para tanto, será utilizada uma amostra das contrariedades existentes entre as diversas

correntes de pensamento quanto ao avanço ou retrocesso, o posicionamento de dois

magistrados sobre o instituto de adoção e a nova lei. O primeiro é o Exo. Senhor Doutor

Desembargador Suenon Bastos, que, durante dezenove anos, respondeu como Juiz titular da

2ª Vara da Infância e da Adolescência; em seguida, a visão da Douta Magistrada Dra. Lucia

Falcão, a qual utilizou a Lei e passou pelo processo ao adotar uma criança.

Concluindo, será exposta posição pessoal do autor do presente TCC sobre o tema

e o apontamento de uma possível solução para acabar com o sofrimento de crianças e

adolescentes que se veem no mundo sem lar e família.

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2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO ADOÇÃO

Segundo Diniz (2002), podemos afirmar que o surgimento da adoção se deu

atendendo imperativos de ordem religiosa. A crença do homem primitivo em que os vivos

eram governados pelos mortos levava-os a apaziguar com preces e sacrifícios os ancestrais

falecidos para que protegessem os seus descendentes. É no culto aos mortos, exercido em

todas as religiões primitivas, que se encontra a explicação e a expansão do instituto da adoção

e o papel que ela desempenhou no mundo antigo.

Sendo a família unidade social, econômica, política e religiosa, a constituir um

Estado dentro do próprio Estado, com autoridades dentro dos limites do lar, a adoção, nesse

contexto, permitia integração, na família ao estrangeiro que aderia à religião doméstica.

Gozava, portanto, o adotado, de uma espécie de naturalização política e religiosa. Comenta

Diniz (2002, p. 155):

Sendo então uma espécie de naturalização política e religiosa, uma modificação de

culto permitindo a saída de uma família e o ingresso em outra, a adoção garantiu o

desenvolvimento pacífico do mundo antigo, sendo considerado um dos grandes

catalisadores do progresso e da civilização.

A adoção no direito primitivo constitui, portanto, um eficaz meio de perpetuar a

família e a religião doméstica, assim, mesmo ainda não existindo o testamento −

desconhecido pelo direito hindu e não levado em consideração ou proibido em Atenas até a

época de Sólon e, em Esparta, até guerra do Peloponeso −, transferiam-se os bens familiares.

A adoção também foi objeto de legislação nas cidades gregas. A Bíblia, o Código de

Hamurabi e as leis de Manu já se referem à adoção.

Na Roma antiga, a adoção foi instituída para que se pudesse deixar herdeiros,

mesmo numa época em que não havia testamento. Após o surgimento do testamento, a adoção

veio exercer outras funções. Inicialmente, vinculava-se ao culto dos mortos, mas cristalizou-

se e adquiriu, em seguida, importância política, sendo utilizada pelos imperadores para

designarem seus sucessores. Assim, ela perde o instituto de direito privado e se transforma

numa técnica de escolha dos futuros chefes do Estado. No direito romano-helênico, a adoção

perdeu sua função política e religiosa, limitando-se a consolar os casais estéreis.

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No direito canônico, a adoção não era reconhecida, a Igreja manifestava

importantes reservas. Os sacerdotes a viam como um meio de suprir ao casamento e à

constituição da família legitima e uma possibilidade de fraudar as normas que proibiam o

reconhecimento de filhos adulterinos e incestuosos.

Na Idade Média, esse instituto sofreu grande retratação, sendo, em geral,

desconhecido nos direitos costumeiros da Europa Ocidental. A estrutura da época medieval,

fundada nos laços de sangue no seio da linhagem, opunha-se à introdução de um estranho

nela, ou à ideia romana de filiação fictícia.

Na Alemanha, inicialmente, não se conhecia a adoção como forma de filiação. Ela

tinha como finalidade instituir um continuador; o adotado obtinha o nome e as armas

adotantes, entretanto, não gozava do vínculo de parentesco, não tinha, portanto, direito à

herança do adotante, salvo disposição da última vontade ou por doação entre vivos.

O instituto da adoção, como filiação, só penetrou no direito germânico com a

recepção do Direito Romano, sendo admitida para suprir a falta do testamento. Era,

essencialmente, no dizer de Chaves (apud SILVA FILHO, 1997, p. 25), “uma adoptio in

heriditatem”, isto é, um ato destinado a realizar, por meio de atribuição do status de um filho,

uma convocação hereditária do adotante (pacto sucessório).

A evolução da adoção entre os germânicos deu-se em três períodos: o primeiro

correspondente ao direito primitivo, em que o povo era essencialmente guerreiro e buscava na

adoção um meio de perpetuar o chefe de família para a continuação de suas campanhas

bélicas. Nesse período, não se constituíam vínculos de parentesco entre adotante e adotado,

como já exposto, que somente sucedia por ato de última vontade ou dação entre vivos; o

segundo período sofreu influência do Direito Romano e dividiu-se em duas fases distintas: o

período anterior à influência da Escola de Bolonha e, a partir dela, até o Código da Prússia

(1794); e o terceiro período, que vai do Código de 1794 ao atual Código Civil da Alemanha.

De acordo com os autores franceses, no século XVI, a adoção se limitava a

conferir direitos sucessórios. Somente na Idade Moderna, a revolução Francesa propiciou o

ressurgimento da adoção, por meio das reformas das instituições sócias.

Foi na França que a adoção ressurgiu, mediante decisão da Assembleia

Legislativa, no ano de 1792, que determinou à sua comissão de legislação incluí-la no plano

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geral das leis civis, entretanto, não foram regulamentadas as condições, formas e efeitos.

Segundo Lisboa (1996, p. 19):

Foi graças à intervenção de Napoleão que o Código regulou a adoção, em seus arts.

343 a 360, no entanto, a critérios rigorosos. A sua aplicação era restrita aos maiores

de 50 anos de idade, por parte do adotante, não podendo estes possuir filhos nem

descendentes legítimos; era necessário que o adotante fosse pelo menos 15 anos

mais velhos que o adotado; exigia-se, também, que fosse dada assistência e

fornecido socorro durante pelo menos seis anos ao adotado.

O Código de Napoleão, com interesse do próprio imperador em adotar um de seus

sobrinhos, ressuscitou o instituto da adoção na França, entretanto, ele só reconhecia a adoção

em relação a maiores. Muito complexo e com normas rigorosas, pouca utilidade teve o

Código, sendo de rara aplicação. Posteriormente, baixaram a idade exigida e facilitaram a

adoção, permitindo o seu melhor desenvolvimento na sociedade moderna.

Em Portugal, o instituto da adoção foi pouco utilizado, tendo recebido o nome de

perfilhamento. Este compreendia não só a adoção propriamente dita, adoptio, como a

obrigatio do Direito Romano.

Diferentemente do Direito Romano, o adotante só adquiria o pátrio poder se o

adotado tivesse perdido o pai natural. Para que o filho pudesse suceder ao pai adotante, era

preciso que se destruísse a ordem de sucessão, que a lei abrisse uma exceção, que só o

príncipe poderia autorizar. Era a adoção um titulo de filiação, que servia para dispensar a

prova desse fato nos casos em que era exigida, isto é, para pedir alimentos e suceder nas

distinções gentílicas.

O Código Português de 1867 não acolheu o instituto, disciplinado no Código de

1966 nas modalidades: adoção plena, por meio da qual o adotado adquiria a condição de filho

legitimo para todos os efeitos legais, salvo alguns necessários; e a adoção restritiva, que

atribuía ao adotado e ao adotante os direitos e deveres estabelecidos em lei.

2.1. Adoção Internacional pós Segunda Guerra Mundial

Até o Século XIX, a adoção transnacional não era praticada, uma vez que, como

vimos, as adoções se limitavam apenas a âmbito interno. Somente a partir do século XX, por

ocasião da Segunda Guerra Mundial, é que o tipo de adoção entra em cena. Nesse momento,

ela tinha como objetivo principal amparar as crianças deixadas órfãs pela guerra, o que fez

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surgir sua feição de cunho caritativo, pois permitia aos que tiveram suas famílias dizimadas

pelos conflitos armados uma nova rede familiar afetiva.

A grande quantidade de órfãos que o conflito armado deixou trouxe à tona um

grave problema social que, até então, não causava grandes preocupações: a incapacidade dos

países menos bastados de dar assistência aos “sem família”. A solução encontrada para

amenizar o impacto causado por essa amarga realidade foi a “exportação” de crianças para os

países que haviam sofrido em menores proporções as consequências do conflito.

Crianças da Alemanha, China, Itália, Grécia e outros países fortemente

impactados pela guerra, foram adotados por casais norte-americanos e europeus. Milhares

dessas crianças saíram de seus países de origem sem a documentação indispensável à

regularização de sua situação.

A partir de 1953, as Nações Unidas passaram a preocupar-se com o problema,

tendo em vista o crescente número de adoções entre países. Costa (1998, p. 59), a esse

respeito ressalta:

No ano de 1956, integrantes da pioneira organização Serviço Social Internacional

SSI reuniram-se na Alemanha, a fim de estabelecer os princípios fundamentais do

serviço de adoção internacional, utilizados no ano seguinte como base da discussão

realizada em Genebra, sob o patrocínio do Serviço de Assistência Técnica do

Escritório europeu das Nações Unidas e o próprio SSI.

Ressalta ainda Costa (1998) que “Em 1960, em Leysin, na Suíça, realizou-se o

Seminário Europeu sobre Adoção, convocado pelas Nações Unidas, que elaboraram o

primeiro documento oficial sobre o assunto, denominado Princípios Fundamentais sobre

Adoção entre Países”.

O Serviço Social Internacional, em julho de 1962, levou à conferência de Direito

Internacional de Haia o importante relato de sua experiência no domínio da adoção entre

países e, em setembro de 1971, realizou-se na Itália Conferência sobre Adoção e Colocação

Familiar, tendo predominado como tema: adoções inter-raciais, particularmente de menores

negros por famílias brancas nos Estados Unidos e a adoção de menores asiáticos, em especial

coreanos, por parte de famílias norte-americanas e europeias.

Na segunda metade da década de 60, ocorreu um incremento nas adoções

transnacionais. Esse crescimento se prolongou pelos anos 1970 e 80, a princípio, na Ásia,

castigada pelas guerras da Coreia e Vietnã, em seguida na América Latina, deixando à

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descoberto uma vasta e complexa gama de problemas jurídicos, políticos e sócio-culturais que

preocupam pelo seu agravamento.

2.2. Adoção de crianças na Ásia pós-guerra

As décadas de 60 e 70 trouxeram uma mudança no direcionamento das adoções

internacionais. Elas se voltaram para o continente asiático, e, em especial, para a Coreia. O

sucesso do Plano Marshall, o qual deu especial impulso à economia europeia, aliado à política

de controle de natalidade e à posterior legalização do aborto, foram responsáveis por um

declínio nas taxas de natalidade dos países de maior bem-estar social.

Casais norte-americanos e da Europa Ocidental, diante da impossibilidade de

terem filhos e da inexistência de crianças disponíveis para adoção no âmbito doméstico,

focaram sua atenção no continente asiático, uma vez que ele se encontrava submerso em

grande pobreza e seu desenvolvimento deixava muito a desejar. Nesse contexto, a adoção

figura como solução para dois problemas: primeiro, para suprir a necessidade de casais que

não podiam ter filhos; segundo, suprir a carência afetiva e social de crianças que tiveram seus

lares dizimados pela guerra. Costa (1998, p. 62) ressalta:

Com fluxo asiático, as adoções internacionais adquirem, em definitivo, suas

características fundamentais atuais: passam a ser intercontinentais; as crianças

provêm de países com altos índices demográficos e insuficiente desenvolvimento

econômico; os adotantes são pessoas radicadas em países ricos e industrializados,

especialmente na Europa e Estados Unidos.

O envio de crianças da Ásia para adoção nos Estados Unidos e na Europa

aumentou durante a Guerra do Vietnã, pois milhares de lares foram destruídos e suas famílias

se desestruturam. Acrescente-se a isso, a grande quantidade de filhos de soldados norte-

americanos com vietnamitas, que abandonaram o país após a guerra.

O governo não se opôs à saída dessas crianças, nem tomou nenhuma providência

no sentido de dificultá-las, não só por considerar desonroso o fato de suas mulheres terem

concebido com soldado do exército invasor, mas para evitar que essas crianças sofressem

alguma discriminação em seu próprio país.

Posteriormente, com a queda de Saigon, uma das primeiras medidas do Vietnã do

Norte foi o fechamento das fronteiras e a proibição de adoções por estrangeiros, o que,

consequentemente, diminui o número de crianças disponíveis para adoção.

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2.3. Adoção de crianças na América Latina pós-guerra

Com o fechamento das fronteiras, a implantação de políticas de controle de

natalidade na Ásia, além da permissão para o aborto em Hong Kong e na Coreia, houve uma

significativa redução de crianças asiáticas disponíveis para a adoção.

O olhar dos países de Primeiro Mundo se voltou então para os países da América

Latina, que, embora não tenham sofrido as consequências da guerra, deparavam-se com

problemas econômicos semelhante aos atingidos pelas mazelas do conflito.

Assim, “vários casais sem filhos biológicos vêm para a América Latina numa

busca desesperada por crianças” disponíveis para a adoção, dirigindo-se diretamente às

autoridades judiciárias ou utilizando intermediários particulares, que pudessem procurá-las,

criando assim uma nova rede de relações, muitas vezes, envolvendo-se com atividades ilícitas

para atingirem seus objetivos.

Tendo em vista o descontrolado incremento das adoções entre países e os graves

abusos que estavam sendo verificados, principalmente a venda e o tráfico internacional de

crianças, surgiu, tanto nos países “provedores” do mercado de crianças, como países que

acolhiam essas crianças, a necessidade de se estabelecerem normas eficazes para garantir a

seriedade das adoções, assim como de proteger os menores.

Para atender as exigências de proteção às crianças vitimas dos abusos de pessoas e

instituições inescrupulosas que, acima de tudo, visavam ao lucro nessa transação, era preciso

que as legislações dos países envolvidos se modificassem, adaptando-se às mudanças sociais e

às novas orientações sobre a matéria. Costa (1998, p. 66) afirma que:

Na America Latina, tradicionalmente provedora de infantes, as mudanças tiveram

inicio em fins da década passada. Mediante revisão criteriosa das legislações

internas de seus diferentes países, visando, primordialmente, opor entraves à saída

indiscriminada de suas crianças e coibir os abusos que se verificavam, mediante a

edição de medidas impositiva de normas mais estritas. Entre elas, a preferência de

organizações confiáveis, devidamente credenciadas em lugar dos indivíduos que

atuam como intermediários: vedação das adoções por procuração; punição dos

responsáveis pela adoção realizada com fraudes às leis nacionais e internacionais e a

omissão de passaporte para menores e, sobretudo, o respeito aos princípios

consagrados pela Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança,

especialmente o que confere à adoção por estrangeiro o caráter de excepcionalidade.

(grifos originais).

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A moderna ordem legislativa supranacional, tendo a frente à Organização das

Nações Unidas, não tem medido esforços a fim de criar mecanismos eficientes de proteção ao

bem-estar da criança adotada e assegurar-lhe uma situação jurídica estável tanto no seu país

de origem, como no país de acolhimento.

Muitos progressos foram alcançados nas últimas duas décadas, no campo do

direito interno nacional e internacional privado dos diferentes países, bem como no direito

convencionado, com especial ênfase nas correntes de codificação americana e europeia,

impulsionadas pela Conferência Especializada Interamericana de Direito Internacional

Privado (CIPID) e pela Conferência de Haia de Direito Internacional Privado, que há muitos

anos incursionaram em temas da criança e da família, já tendo firmado importantes

Convenções a respeito, estas representam os mais importantes documentos de proteção social

e jurídica da infância.

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3. CONCEITO DE ADOÇÃO

Conceitos e definições dos institutos jurídicos normalmente são formulados pela

doutrina e dizem respeito a uma determinada época e sistema em que se inserem. Nessa ação

de formular conceitos, abrigam-se os doutrinadores em características gerais que formam a

adoção. Partindo de tal principio, era de se esperar que não houvesse univocidade conceitual

no que tange ao termo. Com relação à falta de uniformização dos conceitos, comenta Silva

Filho (1997, p. 55):

É de se considerar, também que os conceitos jurídicos são formulados a partir de um

sistema de normas determinadas incidentes sobre o certo instituto, considerando a

produção de certos efeitos. Não é diferente com a adoção. O conjunto orgânico de

regras aplicáveis, formando uma unidade, é que caracteriza o seu regime jurídico.

Sendo viável o regime jurídico nas várias ordens jurídicas por consectários variados,

também são os conceitos de adoção, mas geralmente aparece como ato gerador de

um estádio.

Assim, com o passar do tempo e a evolução e modificação das legislações, o

conceito de adoção sofreu significativas mudanças e variações. Embora a palavra derive do

latim adoptio, que quer dizer dar a alguém o próprio nome ou pôr o nome em uma pessoa, em

linguagem mais popular, assume o sentido de acolher alguém. Assim, no Direito Romano, de

acordo com Costa (1998, p. 47): “Adoção é o ato solene pelo qual se admite em lugar de

filhos quem por natureza não o é” ou “adoção é o ato legitimo pelo qual alguém, perfilha filho

que não gerou”.

Hoje, no direito brasileiro, podemos encontrar diversos conceitos de adoção. A

definição de Beviláqua para o instituo é de que a adoção é um ato civil pelo qual alguém

aceita um estranho, na qualidade de filho. Rodrigues (2002, p. 380) entende que “a adoção é

um ato do adotante pelo qual traz ele, para sua família e na condição de filho, pessoa que lhe é

estranha”. Discorda o dileto autor do vocábulo “aceita”, usado por Beviláqua, pois, segundo

ele, o termo não reflete o comportamento do adotante, uma vez que parte dele, adotante, o

desejo e a iniciativa do “negócio”.

Rodrigues (2002) diz tratar-se a adoção de um negócio unilateral e solene. Essa

unilateralidade é imperfeita e discutível, visto que a lei reclama o consentimento dos pais ou

do representante legal do adotado (ECA art. 45), o que levou alguns escritores clássicos a

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definirem a adoção como um contrato solene, porque a lei lhe impõe forma, sem a qual o ato

não tem validade, ou inexistente como tal.

Kauss (1993) confronta Silvio Rodriguez e Beviláqua pelo emprego da expressão

“estranho”. Para Kauss (1993), a expressão confere um sentido de imperfeição ao instituto,

visto que, mesmo à época da redação primitiva do Código Civil, a adoção não excluía a

possibilidade de o adotado ser um parente do adotante, embora não usual, era legalmente

possível.

Para Diniz (2002, p. 154), “a adoção é uma ficção jurídica que cria o parentesco

civil. É um ato jurídico bilateral que gera laços de paternidade e filiação entre pessoas para as

quais tal relação inexistente naturalmente”. Ressaltamos ainda outra definição de adoção em

Wald (1999, p. 449), para quem adoção:

[...] é uma medida de proteção e uma instituição de caráter humanitário, que tem, por

um lado, por escopa dar filhos àqueles a quem a natureza negou e, por outro lado,

uma finalidade assistencial, constituindo um meio de melhorar a condição moral e

material do adotado.

Entretanto, o termo “assistencial vem sendo questionado por Liberati (2003, p.

20). Ressalta o autor:

A adoção não admite ter “pena” nem “dó”,”compaixão”; a adoção, como a

entendemos nos dias de hoje, não se presta para resolver problemas de casais em

conflito, de esterilidade, de transferência de afetividade pelo falecimento de um

filho, de solidão etc. ela é muito mas que isso; é a entrega de amor e dedicação a

uma criança que, por algum motivo, ficou privada de sua família. Na adoção, o que

interessa é a criança e suas necessidades: a adoção de ser vivida privilegiando o

interesse da criança.

Silva Filho (1997), por sua vez, discorda da ideia de adoção como vinculo fictício,

visto que esta é consagrada pelo direito, portanto, uma realidade, isto é, a constituição do

vinculo paterno-filial por via adotiva, com indistinção. O direito tem poder de criar a sua

própria realidade. Deve-se, portanto, evitar a confusão entre origem biológica e origem legal.

Para o autor, o vinculo paterno-filial não pode sofrer indistinção.

Nesse mesmo sentido, caminha a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988),

quando diz, em seu art. 227, 6º, que: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou

por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designação

discriminatória relativa à filiação”.

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A redação do novo Código Civil Brasileiro de 2002 renovou o conteúdo do

Estatuto da Criança e do Adolescente e dispôs em seu artigo 1.625 que “somente será

admitida a adoção que constituir efetivo benefício para o adotado”.

Com base no exposto, somos levados a concordar que a definição que Liberati

(2003) dá ao instituto é mais consistente, pois contém a perfeição da verdade definitiva e é a

que mais se adapta à nova visão do instituto da adoção, visto que o direito positivo moderno a

considera como instituição de proteção e integração familiar da infância, que tem por

finalidade dar uma família a uma criança ou adolescente.

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4. ADOÇÃO E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Quando o assunto é adoção no Brasil, é possível observar que o mesmo já estava

disposto no Código Civil de 1916, bem como no Código de Menores de 1927. Mas, a partir

do advento da Constituição de 1988, com o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990

(ECA), juntamente com o Código Civil de 2002, o tema ganhou uma conotação mais

abrangente e preocupada com a efetiva defesa do melhor interesse de crianças e adolescentes.

O código de 1916 tinha como objeto maior de sua preocupação a defesa dos

interesses patrimoniais, principalmente quanto às relações familiares. Durante a vigência

desse código, o casamento refletia bem esses interesses, pois era colocado como prioridade

em relação a outros tipos de constituição familiar, como no caso da união estável, a qual era

passiva de discriminação.

Hodiernamente, prevalece na doutrina uma compreensão mais socializada voltada

para a despatrimonialização do direito e consequentemente uma legislação com uma função

mais voltada para o social, tendo como escopo a busca por um equilíbrio dentro dessa

questão. Com isso, verificam-se, no ordenamento jurídico, modificações inseridas em um

contexto legislativo que, gradativamente, eleva os sujeitos de família à condição de existência

na sociedade e com tal respeito a sua dignidade.

Com o advento da Constituição de 1988, a estrutura familiar ganhou uma

conotação mais humanista e preocupada com o maior reconhecimento da dignidade de seus

membros.

A partir de sua promulgação, a Constituição vigente promoveu uma inovação

dentro do nosso ordenamento jurídico, ao eleger o respeito à dignidade da pessoa humana

como princípio fundamental do sistema jurídico brasileiro.

Antes de analisar a eficácia desse princípio, é importante destacar que o

ordenamento jurídico positivo é composto por regras e princípios. As primeiras de caráter

mais impositivo, fechado, e as seguintes, de caráter mais abrangente, sendo diretrizes do

sistema. O princípio constitucional possui grande importância para nosso ordenamento

jurídico, como destaca Sarmento (2000): “Se o direito não contivesse princípios, mas apenas

regras jurídicas, seria possível a substituição dos juízes por máquinas”.

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Esse princípio passa a valorizar o indivíduo integrante da instituição familiar

como um ser possuidor de individualidade, o qual deve ser respeitado e atendido nas suas

necessidades, principalmente as mais urgentes.

Nesse contexto, a dignidade da pessoa humana é colocada no ápice do nosso

ordenamento jurídico e encontra na família a base apropriada para seu desenvolvimento. Com

isso, percebe-se que as relações familiares possam ser funcionalizadas em razão da dignidade

de cada partícipe.

Como já mencionamos, a Constituição Federal de 1988 marcou uma nova época

no ordenamento jurídico brasileiro, pois antes dela sempre se colocava em primeiro plano a

organização do Estado, deixando o individuo em segundo plano. Agora essa nova carta

direciona-se para o individuo inserido dentro da coletividade, contemplando os direitos

individuais sem esquecer os direitos difusos e coletivos.

O artigo 1º da Constituição de Federal mostra que a Republica Federativa do

Brasil é constituída pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,

constituindo-se em Estado Democrático de Direito e tendo como fundamentos a soberania, a

cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e

o pluralismo político.

A Carta Magna de 1988 difere das anteriores por ter um caráter mais voltado para

a valorização do homem, sendo considerada por alguns legisladores como antropocêntrica.

Nesta linha de raciocínio, o legislador constituinte deu especial atenção aos direitos e

garantias fundamentais, pois abordou inicialmente estes temas, para depois pensar na

organização do Estado.

Por outro lado, a família foi reconhecida como base da sociedade e recebe

proteção do Estado, nos termos dos artigos 226 e seguintes, por ser considerado como local de

formação da pessoa humana.

Quando nos referimos à família, é importante salientar que a mesma não se

constitui apenas com relações de sangue, mas, sobretudo, afetivas, traduzidas em uma

comunhão espiritual e de vida. Nessa Carta, a família tem um papel de destaque por sua

importância na formação do individuo, um dos objetivos do principio da dignidade da pessoa

humana.

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Entendemos que o Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana, plasmado

no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal, demonstra uma nova ótica do Direito

Constitucional e do Direito de Família, em especial.

Com o objetivo de ratificar a importância do que foi expendido, é importante

destacar o pensamento do grande doutrinador constitucionalista Alexandre de Moraes sobre o

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana:

Concede unidade inerente aos direitos e garantias fundamentais, sendo inerentes às

personalidades humanas. Esse fundamento afasta a ideia de predomínio das

concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em detrimento da liberdade

individual. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se

manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria

vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas,

constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar,

de modo que, somente excepcionalmente, possam sofrer limitações ao exercício dos

direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que

merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. (MORAES, 2005, p. 16).

O novo modelo de proteção engloba todo o povo, contrariando o objetivo anterior

que priorizava os interesses meramente particulares. Ratificando esse pensamento, citamos o

posicionamento de Pelegrini (2004, p. 5):

O Princípio da dignidade da pessoa humana surge como uma conquista em

determinado momento histórico. Trata-se de tutelar a pessoa humana possibilitando-

lhe uma existência digna, aniquilando os ataques tão frequentes à sua dignidade.

Esse princípio demonstra realmente nova realidade do direito constitucional e

também do direito de família. A Constituição de 1988 e o Código Civil de 2002 caminham

lado a lado e colocam a família sob proteção estatal, priorizando a individualidade de cada

membro.

Muito embora alguns juristas classifiquem dignidade como um direito

metaindividual, onde a proteção deveria ser da coletividade, esse novo posicionamento, em

primeiro momento, passa a contrariar essa ideia, pois busca a proteção individual em primeiro

plano, mas, na verdade, asseguram outros tantos direitos e garantias. Carlos Roberto

Gonçalves cita Gustavo Tepedino, que assim se posiciona:

A milenar proteção da família como instituição, unidade de proteção e reprodução

dos valores culturais, éticos, religiosos e econômicos, dá lugar à tutela

essencialmente funcionalizada à dignidade de seus membros, em particular no que

concerne ao desenvolvimento da personalidade dos filhos. (TEPEDINO, s.d. apud

GONÇALVES, 2005)

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Já no pensamento de Diniz (2002), o referido princípio constitui a base da

comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus

membros, principalmente da criança e do adolescente, e critica jurista, que, ante a nova

concepção de família, fala em crise, desagregação e desprestígio, salientando que a família

passa, sim, por profundas modificações, mas, como organismo natural, ela não se acaba e

como organismo jurídico está sofrendo uma nova organização.

Outro que destaca a importância desse princípio é Silvio Salvo Venosa, que

defende que a Constituição Federal de 1988 consagra a proteção à família, no artigo 226,

compreendendo tanto a família fundada no casamento, como a união de fato, a família natural

e a família adotiva. De há muito, diz o mestre, o país sentia necessidade de reconhecimento da

célula familiar independentemente da existência de matrimônio.

Diante do exposto, chegamos à conclusão de que a Carta Magna vigente assume

uma postura bem mais humanista, tendo principalmente como ponto de referência o Principio

da dignidade da pessoa humana, que assume papel fundamental na proteção da instituição

familiar tanto de caráter biológico como afetivo.

Sabemos que, ao longo da historia, vários casos de maus tratos a pessoas foram

realizadas, principalmente nos períodos de guerras. Genocídios de milhares, por vezes, mortos

por intolerância à sua condição ética, religiosa ou mesmo orientação sexual, deixando órfãs

alguns milhares de crianças. A partir daí, os legisladores passam a refletir sobre a condução

humana e buscam, dentro de um contexto ético, a valorização do ser humano.

Essa valorização é notória, principalmente quando observamos o art.5° da atual

Carta Magna vigente, que assegura o direito à realização do indivíduo nos seus aspectos

subjetivos, tais como honra, liberdade, igualdade, etc.

Com isso, não temos dúvidas quanto à importância do Principio da dignidade da

pessoa humana, quando no trato de questões relativas ao processo de adoção.

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5. AS PRINCIPAIS MUDANÇAS NO PROCESSO DE ADOÇÃO NO

BRASIL TRAZIDAS PELA LEI 12.010/09

O Brasil, maior país da América Latina, surge no cenário internacional como um

País de grandes contrastes e uma variada gama de problemas sócio-econômicos. O modelo

convencional de desenvolvimento instaurado pelos governos que sucederam ao longo dos

anos se mostrou incapaz de assegurar, à maioria das famílias brasileiras, condições de vida

decente. O desenvolvimento foi confundido com a industrialização, e esta, com o crescimento

e a produção.

Boron (1996) afirma que a passagem brutal e mal conduzida de um modelo

econômico agrícola para um modelo industrial provocou, entre outras consequências, a

migração de enormes massas de população das regiões pobres para os grandes centros

industrializados. Esse fenômeno migratório não foi acompanhado dos recursos necessários da

infraestrutura social e de serviços públicos (educação, saúde, energia, transporte, saneamento,

etc.). Esses serviços ficaram reservados a uma minoria rica. Assim, coexistem no Brasil duas

realidades distintas: de um lado, uma minoria que dispõe das vantagens proporcionadas pelo

desenvolvimento científico-tecnológico e, de outro, uma grande massa marginalizada de tais

aquisições sociais.

Abandonada pelos serviços públicos, a família, por sua vez, abandona a criança.

Os sintomas de tal situação apresentam distintos aspectos. O fenômeno mais conhecido é dos

meninos de rua. Sob essa denominação geral, ocultam-se situações pessoais e familiares

muito diferentes: crianças órfãs, maltratadas, delinquentes, crianças com problemas de

conduta ou deficiência mental, fugitivos, etc.

Os diferentes aspectos desta problemática, extremamente heterogênea, são

habitualmente ignorados, de modo que, facilmente, confunde-se carência com abandono (no

sentido jurídico do termo). De acordo com Mugiatti Sobrinho (s.d), é dessa confusão

semântica que nasce um dos maiores equívocos em torno do tema adoção: a pretensão de

resolver pela adoção, nacional ou internacional, a situação dos expressivos contingentes de

crianças e adolescentes marginalizados. E cria-se a ideia de um país com imensa reserva para

adotar.

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Para Mugiatti Sobrinho (s.d.), os motivos da institucionalização da adoção de

crianças, em nosso país, não são o abandono, a negligência ou a rejeição por parte dos pais,

mas as precárias condições de vida desestruturadoras de milhões de famílias integrantes dos

chamados núcleos duros de pobreza. Nesse contexto, a adoção figura como solução para o

problema de “milhões das crianças e adolescentes abandonados”. E afirma Mugiatti Sobrinho

(s.d, p. 39):

Quanto mais perversa a distribuição da riqueza em um país, maior o número de

famílias desestruturadas e de crianças entregues a sua própria sorte. Quanto maior a

redução dos níveis de emprego, maiores também as taxas de pobreza e indigência. A

melhor distribuição da renda, aliada à implementação de políticas sociais básicas

visando proteger e orientar as famílias excluídas do processo de desenvolvimento,

onde se concentram as crianças adotáveis, irá permitir que elas próprias cuidem

melhor de seus filhos, prevenindo o abandono e a institucionalização.

Diniz (2002, p. 156) acredita que, mais do que suprir as necessidades de casais

impossibilitados de gerar filhos biológicos, a adoção é um “instituto de solidariedade social”

onde há “simbiose”, entre adotante e adotado, “um auxilio mútuo, um meio de repartir por

maior número de família os encargos de prole numerosa”. Nessa mesma linha de pensamento,

com pequena divergência, aponta Wald (1999, p. 449), para quem a doação detém dupla

função: “[...] dar filhos àqueles a quem a natureza negou e, por outro lado, uma finalidade

assistencial”. Assim, em ambos os autores, a adoção também figura como meio de resolução

dos problemas socioeconômicos vividos pela população de baixa renda.

Para Liberati (2003), entretanto a adoção vai para além do assistencialismo, este

perdeu espaço diante das novas exigências do instituto legal, sendo incompatível o binômio

assistencialismo e adoção, conforme citação feita na primeira parte do trabalho. Nesse mesmo

sentido, caminham outros juristas os quais veem que, na atual legislação, a adoção está

centrada na figura do adotado e não do adotante confirmando seu caráter social.

A nova lei tem o intuito de melhorar a questão da adoção no Brasil, trazendo

significativas mudanças no contexto jurídico como se demonstrará no decorrer deste trabalho.

Sabemos que a Lei n 12.010 de 03 de agosto de 2009, decretada pelo Congresso

Nacional e sancionada pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, ratificou

alguns pontos já existentes na legislação anterior no trato da questão da adoção e, por

seguinte, criou alguns novos posicionamentos.

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Neste trabalho, traçaremos algumas das principais novidades desta nova lei,

tentando manter uma sequência lógica envolvendo o desenrolar deste processo desde o estado

puerperal da mulher à efetivação da adoção no contexto da nova lei.

Em um primeiro momento, percebemos que nosso ordenamento jurídico mantinha

uma preocupação com o período de gestação batizado pela medicina de pré e pós-natal. A

grande novidade agora é que essa preocupação passou para um cuidado maior principalmente

com as gestantes que desejam entregar seus filhos para adoção. Essa medida evita que pessoas

mal intencionadas fiquem com essas crianças, já que o correto seria a adoção por parte de

pessoas devidamente inscritas no Cadastro Nacional de Adoção. O não encaminhamento da

gestante pelos membros do estabelecimento de atenção a saúde, por exemplo, médicos,

enfermeiros ou mesmo os dirigentes deste órgão, gera uma infração administrativa como está

disposta no art. 258-B desta lei, que cita:

Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção

à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de

caso que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho

para adoção: Pena – multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de programa oficial ou

comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar que deixa de

efetuar a comunicação referida no caput deste artigo.

A criança ou adolescente entregue ao programa de acolhimento familiar ou

institucional passa a ser acompanhada por uma equipe interprofissional ou multidisciplinar

que analisa se o caso é para reintegração familiar ou colocação em família substituta. O

“abrigamento” é de caráter transitório, por isso a equipe de profissionais fará uma avaliação

da situação das crianças e adolescentes a cada seis meses. O tempo máximo previsto para a

permanência nesse abrigamento é de dois anos, visando, com isso, privilegiar o direito da

criança ou adolescente de viver em família, se não biológica, substituta.

Durante o processo de adoção ou outras formas de colocação em família, o maior

de 12 anos será ouvido pelo juiz com presença do Ministério Publico em um ato obrigatório

denominado de “colhido em audiência”.

Por ser tratar de um ato irrevogável, como define o artigo 39 da Lei, o poder

público só concede o deferimento favorável a adoção quando esgotadas todas as outras

possibilidades de manutenção da criança ou adolescente em família natural ou extensa. O

parágrafo único do artigo 25 deste ordenamento jurídico define família extensa:

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Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende

para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes

próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de

afinidade e afetividade.

Com relação às pessoas aptas a adotar, devem as mesmas preencher alguns

requisitos, como contar com idade mínima de 18 anos durante o início do ato de adoção.

No processo de adoção conjunta, a legislação continua com a mesma postura só

reconhecendo a união entre homens e mulheres como dispõe o art. 226, parágrafo 3°, muito

embora já existam decisões judiciais que deferem adoções a pessoas em união homoafetivas.

Já no trato dos casais divorciados, judicialmente separados ou ex-companheiros,

ainda podem adotar, desde que o processo tenha sido iniciado na constância do

relacionamento e agora com uma inovação, que é a necessidade de afinidade e afetividade

entre os envolvidos no processo adotivo.

No caso mencionado anteriormente, a legislação agrega ao pedido a chamada

Guarda Compartilhada implementada pela Lei 11.698/08, que deu nova redação ao artigo

1538, parágrafo 1° do Código Civil de 2002. O referido artigo cita: “A guarda compartilhada

e a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não

vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns”.

A adoção pos mortem pode vir a ser deferida caso a manifestação de vontade seja

iniciada antes de o adotante vier a falecer.

Deferida a adoção, o adotante poderá registrar o adotado no cartório do registro

civil do município de sua residência, como forma de evitar constrangimentos para o adotado

que desconheça sua condição, já que cabe aos adotantes contar ou não. Em alguns casos,

adotados não cientes de sua condição, não entendiam o porquê de seu registro ter sido feito

em outra cidade diversa da sua família, ou seja, aquela em que nenhum membro de sua

família tenha ligação e acabavam se revoltando com essa situação.

Com relação ao constrangimento citado anteriormente, nós sabemos que a Lei

anterior já assegurava ao adotado o direito de conhecer sua origem biológica, por isso, com o

advento do novo ordenamento, foi acrescido ao adotado o direito de acesso ao processo, mas

isso mediante orientação e assistência jurídica e psicológica, pois alguns juristas defendem

que esse é um direito personalíssimo.

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Para finalizar este tópico, observamos mudanças no trato da questão referente à

adoção internacional, que, anteriormente à lei 12.010/09, era definido de maneira diversa da

interpretação atual. Se não, vejamos o entendimento de Carlos Simões sobre o conceito de

adoção internacional. Segundo ele, “Adoção internacional era aquela em que o adotante é um

estrangeiro, residente e domiciliado fora do Brasil”. A grande mudança começa logo com a

definição disposta no art. 51 desta lei, que cita:

Considera-se adoção internacional aquela na qual a pessoa ou casal postulante é

residente ou domiciliado fora do Brasil, conforme previsto no art. 2º da Convenção

de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação

em Matéria de Adoção Internacional, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 1, de 14

de janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto nº 3.087, de 21 de junho de 1999.

Como vimos, o entendimento de adoção internacional está agora centrado na

questão da residência e não mais usando o critério da nacionalidade. Neste também a

preferência para a adoção é dada aos brasileiros residentes no exterior. Hoje existe uma

preocupação maior quanto à segurança jurídica para essa modalidade de adoção. Foi

incorporada pela lei uma série de disposições editadas a partir da Convenção de Haia de 29 de

maio de 1993, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 1, de 14 de janeiro de 1999, e

promulgada pelo Decreto nº 3.087, de 21 de junho de 1999. Convém ressaltar, o que antes

estava em uma série de atos separados agora ganha força e sistematização de lei. Destacando

ainda a colocação em lei do que já era procedimento adotado pelas Comissões Estaduais de

Adoção por orientação do Conselho das Autoridades Centrais para a habilitação do

estrangeiro e credenciamento das agências internacionais que atuam na aproximação dos

pretendentes estrangeiros. Os procedimentos concentram-se principalmente nos prazos,

tradução, espécies de documentos, relatórios e outros que possibilitam a transparência do

processo de adoção.

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6. A NOVA LEI: AVANÇOS E RETROCESSOS

A nova lei 12.010.09, que trata da questão da adoção, combinada com as

adequações no Estatuto da Criança e do Adolescente, surgiu com o objetivo de

desburocratizar o processo de adoção no Brasil.

Juristas divergem sobre a questão do avanço ou retrocesso da Lei de adoção. Com

isso, faz-se necessário para boa compreensão do assunto elaborar uma abordagem histórica

dentro do contexto desta nova lei.

Destarte, convém destacar o conceito de adoção na visão de Diniz (2002):

A adoção é ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém

estabelece, independente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim,

um vinculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho,

pessoa que, geralmente, lhe é estranha.

Com base nesse conceito, iremos retornar aos vários motivos pelos quais as

gerações antecedentes à nossa adotavam crianças ou adolescentes. A princípio, destacamos

que a adoção no Brasil surgiu com o objetivo de perpetuação da família principalmente os

casais que não podiam gerar filhos.

No Brasil, esse ato de adoção era concedido inicialmente a pessoas casadas com

idade superior a 50 anos de idade, já quase sem nenhuma possibilidade de ter filhos

biológicos como dispunha o Código Civil de 1916.

A nossa legislação evoluiu e concedeu, a partir de 1957, para pessoas com idade

superior a 30 anos, o direito de adotar.

Sabemos que, para a época, foi um grande avanço, mas o intuito principal era de

dar ao maior número de crianças abandonadas um novo lar, mesmo assim, a legislação da

adoção fazia distinção entre os filhos adotivos e os legítimos, pois a mesma não envolvia a

sucessão hereditária.

Finalmente, em 1988, a legislação deixou bem claro que não se pode mais fazer

distinção entre filhos, legítimos ou não, pois os dois gozarão do mesmo direito.

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Em 1990, entrava em vigor o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8069,

de 13-7-1990), o qual permitia adoção plena para os menores de 18 anos.

A aprovação da Lei Nacional da Adoção (12.010/09) trouxe à tona discussão

bastante complexa: definir se houve avanço no processo de adoção. Os principais problemas

para quem quer adotar uma criança ou um adolescente continuam sendo a burocracia e a falta

de estrutura nas varas da infância e da adolescência para atender à demanda das famílias

interessadas. Por isso, existe a dualidade de opinião entre os juristas.

Dias (2010), em trecho de um artigo publicado em 2010, intitulado “Direito das

famílias: um ano sem grandes ganhos”, expressava sua opinião sobre a nova lei:

O total descaso do legislador para com a realidade da vida resta escancarada na

chamada Lei da Adoção, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009. Apesar do nome

com que ficou conhecida, veio para entravar ainda mais o calvário a que são

submetidas milhares de crianças e adolescentes. Não basta a desdita de não

permanecerem junto a seus pais. Sequer lhes é assegurado o direito de encontrarem

um lar sem amargarem por anos em abrigos e instituições. A sacralização

exacerbada da família natural faz tão moroso o processo de destituição do poder

familiar que as crianças deixam de ser crianças, o que diminui, em muito, as chances

de serem adotadas. Ainda que a Lei traga alguns avanços, estes são insignificantes

em face dos percalços impostos à adoção nacional e internacional.

Já contrariando o pensamento de Dias (2010), colhemos o pronunciamento do

Promotor de Justiça da Infância e Juventude do Paraná, Murilo Digiácomo, que palestrou no

dia 23 de outubro de 2009, no Ministério Público Estadual, sobre “Aspectos da Nova Lei de

Adoção: Avanço ou Retrocesso?”. Para Digiácomo (2009): “Nada de retrocessos, apenas

avanços, como, por exemplo, a obrigatoriedade explícita do Município de implementar

políticas públicas que protejam a instituição familiar e a manutenção da criança junto a ela”,

algo que, segundo Digiácomo (2009), “sempre esteve previsto no Estatuto da Criança do

Adolescente (ECA), mas de forma subentendida. Agora, não dá pra o sujeito dizer: Eu não

sabia de tal obrigação”, frisou ele.

As citações anteriores representam o pensamento de alguns juristas que

concordam apenas no tocante à questão de atribuir a culpa à máquina administrativa do

Estado, que elaboram as leis, mas não possuem mecanismos para a execução. Se não, vejamos

no parágrafo 4º do art. 8º da ECA (2009): “Incumbe ao poder público proporcionar assistência

psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir

ou minorar as consequências do estado puerperal”.

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No exemplo citado, essa missão proposta pela máquina estatal de prestar

assistência psicológica à gestante, tanto durante a gestação como após o parto, seria, de certa

forma, utópica, pois sabemos que há um pequeníssimo número de profissionais especializados

hoje lotados nas repartições públicas não podendo participar de várias etapas da vida das

pessoas envolvidas no processo de adoção.

Para finalizar a questão, mostraremos outro ponto polêmico, que é o caso em que

a mãe torna-se obrigada a deixar o filho em abrigo, para que o mesmo seja adotado. Decorre

daí um complicador: muitas mães têm enorme receio de deixar o filho em um abrigo, por não

saberem por quais mãos será a criança acolhida.

Muitos outros problemas surgem no transcorrer do processo de adoção e, a cada

dia, surgem mais e mais crianças e adolescentes abandonados que almejam um lar o mais

rápido possível, mas o processo é demorado e quem pretende adotar terá que ter muita

paciência, pois esse processo tem que ser realizado com muita cautela, cada requisito deve ser

verificado, respeitando a legislação.

Sabemos que a legislação terá sempre que passar por renovações para acompanhar

as mudanças sociais para que alcance seu objetivo principal.

O importante é que o instituto da adoção continue sendo inovado e torne mais

rápido esse procedimento. Pois, apesar da burocracia, sabemos que as pessoas que desejarem

adotar e entrar nessa disputa terão que ter boas condições materiais e morais, e, acima de tudo,

amar seu filho como se legitimo fosse.

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7. ADOÇÃO E O PODER JUDICIÁRIO

Após longo estudo sobre o instituto adoção, constata-se que ainda é muito grande

a quantidade de crianças e adolescentes em orfanatos e/ou abrigos e que sonham com um lar.

A lei que rege o processo de adoção já sofreu algumas alterações durante o passar dos anos.

Inicialmente, a instituto adoção almejava satisfazer casais que não podiam ter

filhos, em seguida, alçou o filho adotivo à condição de herdeiro, e hoje assume-se como um

ato de solidariedade, que ajuda menores que não possuem um lar, ou seja, que não têm

família, elevando-os à condição de filhos legítimos.

Recentemente, verificou-se uma modificação em relação à adoção, com a criação

da Lei n°12.010, de 03 de agosto de 2009. Essa nova alterou as Leis nº 8.069, de 13 de julho

de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente e 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revogou

os dispositivos da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, e da Consolidação

das Leis do Trabalho – CLT.

A nova lei estabelece que, para iniciar o processo de adoção, deve o casal ou

mesmo o solteiro interessado passar por etapas. O Juizado da Infância e Juventude recebe

mensalmente vários processos de casais que desejam adotar.

Quando um processo é ajuizado em uma Vara da Infância e Adolescência, o

primeiro ato é o encaminhamento dos autos para as psicólogas e assistentes sociais, que fazem

uma avaliação acerca dos dados trazidos sobre adotantes e adotado e, de então, inicia-se,

propriamente dito, o processo de adoção, o qual tem por primeira fase as visitas domiciliares,

institucionais e entrevistas, estas capazes de consubstanciar os relatórios psicossociais, os

quais absolutamente necessários para as decisões dos juízes acerca da viabilidade da adoção.

Portanto, adotar uma criança no Brasil, requer um percurso longo e cheio de dificuldades.

A adoção legal é o caminho mais seguro para o processo de adoção, pois evita a

ilegalidade. No entanto, verificam-se opiniões diversas sobre a eficácia dessa nova lei. As

reclamações, geralmente, partem de pessoas leigas que, muitas vezes, não aceitam os trâmites

legais. Por isso, é importante ouvir opiniões de pessoas profundamente conhecedores das leis

para aferir e verificar se as reclamações dessas pessoas procedem, ou são frutos do

desconhecimento legal.

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Neste diapasão, objetivando esclarecer e responder à indagação acima citada, o

método adotado para a implementação do TCC foi a entrevista com dois magistrados para

comparar suas opiniões sobre a nova lei e o instituto de adoção.

A escolha, resta salientar, teve uma situação especial e excepcional, pois foi eleito

à oitiva de dois magistrados em situações opostas: o primeiro, um juiz, atuou, durante anos,

na condição de aplicador da lei, diretamente nas varas de infância e juventude, e um segundo,

também magistrado, passou pelo processo de adoção como parte, pois adotou uma criança.

As argumentações foram conseguidas com o Desembargador Francisco Suenon

Bastos Mota, que, durante 19 anos de trabalho dedicados à 2ª Vara da Infância e Juventude

em Fortaleza, concedeu mais de mil adoções de crianças, principalmente para casais

brasileiros. Em seguida, entrevistamos a Dra. Lúcia Falcão, juíza da 14ª unidade do JCC da

Comarca de Fortaleza-Ce, a qual vivenciou as etapas do processo, adotando uma criança.

Para o Dr. Suenon, adoção é um ato de amor, em que um casal adotante por força

da lei transforma-se em pai e mãe, concedendo direito como se fosse filho biológico. A nova

lei, segundo o mesmo, disciplinou o processo quando passou a exigir um cadastro de casais

para pleitearem a adoção. No entendimento do doutor, só deve adotar quem realmente deseja,

pois, além do cadastro, é essencial que as pessoas passem por todos os procedimentos

estabelecidos pela nova lei, inclusive um estudo técnico social sobre o casal.

Em suma, o Dr. Suenon deixa claro que a nova lei proporcionou um avanço muito

grande no processo, trazendo mais segurança tanto para as partes como para a justiça. Essa

segurança se caracteriza a partir do cumprimento de todas as etapas do processo.

No segundo momento de nossa enquete, ouvimos a Dra. Lúcia Falcão, que

recentemente adotou uma criança de oito anos. Notamos que, em alguns pontos, a mesma

concorda com o doutor Suenon e em outros discorda. Na questão do conceito de adoção, ela

também concorda com o pensamento anterior, conceituando a adoção como um ato de amor e

dedicação para uma pessoa que não é seu filho biológico, mas que, por meio do ato, passa a

ser considerado como tal. Indagamos a doutora sobre o processo de adoção e a nova lei, que

segundo a mesma não trouxe nenhum avanço e sim burocratizou ainda mais.

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O processo, na opinião da Magistrada, demora demais causando desconforto para

a família que pleiteia a adoção e para a própria criança. O mesmo precisa de alguns ajustes

principalmente no ínterim entre o cadastro e sua conclusão.

O desenvolvimento desse tópico apresentou um paralelo entre dois magistrados

sobre o instituto de adoção, com base nas entrevistas que nos foram concedidas e que estão

nos anexos desse trabalho.

Diante do exposto, concluímos que, para a justiça que aplica a lei, realmente,

houve um avanço, pois agora é possível se fazer uma análise mais detalhada das pessoas ou

mesmo casais que querem adotar. Enquanto para aquele que passa pelo processo de adoção, a

mesma precisa desburocratizar-se, tornando mais rápido e menos desgastante o processo. O

conhecimento exclusivo da lei não nos isenta dos transtornos, às vezes, ocasionados pela falta

de estrutura de determinados órgãos quando precisamos de seus serviços. No caso da Dra.

Lúcia, ela passou por momentos em que pensou em desistir do processo por não aguentar

mais tanta demora na conclusão do processo. Durante anos, a mesma sonhava em adotar, mas

as dificuldades impostas causaram o desejo de desistir. Os nossos legisladores elaboram leis

que teoricamente resolvem os problemas, mas a falta de estrutura acaba por dificultar a

execução do mesmo na prática.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com advento da Constituição Federal de 1988, muita coisa mudou dentro do

ordenamento jurídico nacional.

O Principio da dignidade humana é eleito como o “carro chefe” dentro de nosso

ordenamento, direcionando o foco de atuação da nossa legislação. Como defendem alguns

juristas, a Carta Magna tomou uma postura antropocêntrica de valorização do homem como

indivíduo e a sua individualidade.

Esse Princípio, ao valorizar a dignidade da pessoa humana, passa a se preocupar

com sua relação social. O homem é ser sociável, precisa viver bem entre os seus, mas, para

isso ocorrer, precisa que lhe dêem condições favoráveis para o mesmo não cometer falhas,

como o abandono de seus descendentes que desamparados vivem nas ruas praticando as mais

absurdas atrocidades.

Os legisladores buscam solucionar os problemas de forma repetitiva, criando leis

e mais leis, e esquecendo que a solução problema passa por algo mais simples do que a

criação de novas leis, e sim colocar em prática as já existentes e consequentemente dando

melhores condições materiais e morais ao individuo, para que o mesmo não cometa o ato de

abandonar sua família, pois sabemos, ao longo de décadas e mais décadas, que o problema

central está em resgatar não somente a dignidade do homem na sua individualidade e sim do

mesmo como integrante de uma família.

Nossa sociedade deve dedicar-se ao resgate social da família, buscando o respeito

entre pais e filhos e trazendo de volta o amor e a vontade de viver de muitas pessoas que, por

passarem por privações, às vezes, cometem atos impensados contra a própria vida e de outros.

Finalizando este trabalho, vejo que a solução para os problemas da humanidade

remete, em primeiro plano, ao resgate da entidade familiar, a base de tudo. Para isso, nossos

governantes devem preocupar-se em possibilitar melhores condições de vida para todos. Essas

melhores condições devem partir da questão educacional que deve ser estendida a todos os

membros da família, não como obrigação, mas como ato prazeroso que busque um

crescimento intelectual.

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Com pais alfabetizados e não mais alienados e cientes de seus atos, teremos mais

possibilidade de diminuir ou mesmo acabar com o abandono de crianças, e consequentemente

com a marginalidade fruto desse desequilíbrio social e econômico que perpassa dentro da

desestruturação da entidade familiar.

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ANEXOS

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ANEXO 1

ENTREVISTA COM O DR. SUENON BASTOS

Dados do entrevistado: O Desembargador Francisco Suenon Bastos Mota, que, durante 19

anos de trabalho dedicados à 2ª. Vara da Infância e Juventude em Fortaleza, concedeu mais de

mil adoções de crianças, principalmente para casais brasileiros. O mesmo responde algumas

questões sobre adoção e emite sua opinião sobre a nova Lei 12.010/ 09.

P1. Durante quantos anos o Senhor dedicou-se ao Juizado?

R. Atuei durante 19 anos na 2ª Vara em Fortaleza, e tivemos a grata satisfação de juntamente

com os outros colegas de outras capitais trabalhar implementando o ECA, que é o Estatuto da

Criança e do Adolescente.

P2. Que fato pode ser considerado como mais marcante durante o período que o Senhor

atuou no juizado?

R. Todos os fatos foram marcantes, mas um dos que mais me chamou atenção foi um casal de

Goiás que estava cadastrado e veio ao Ceará para adotar uma criança negra de 5 a 6 anos, pois

existe uma grande dificuldade de encontrar um lar ou uma família substituta para essas

crianças.

P3. Como o senhor define adoção?

R. Adoção é um ato de amor, é um ato em que um casal adotante por força da lei se

transforma em pai e mãe da criança adotante e então ela passará a ter todo direito de filho

biológico.

P4. O que mudou com a nova lei de adoção?

R. Na prática, foi motivar, limitar o tempo em que a criança ou um adolescente podem passar

internos em um abrigo, tanto que a lei estabeleceu um tempo máximo de dois anos. E também

agilizar aqueles processos parados, além de motivar casais realmente interessados em adotar.

Então essa nova lei disciplina, regulamenta a obrigatoriedade de todo aquele que queira adotar

antecipadamente faça o cadastro no setor competente, pois só poderá adotar criança

devidamente cadastrada para adoção.

P5. Existe alguma diferença para a justiça entre pai biológico e adotivo?

R. Não, pai biológico tem direito e dever de criar, educar, manter e zelar pela saúde daquele

filho, e, da mesma forma, a criança adotada se transforma por força da lei em filho. Os

deveres e direitos dos pais tanto biológicos como adotivos são iguais, pois a adoção é

irrevogável, é como se a criança tivesse nascido daquele casal.

P6. Mesmo com a nova lei, porque existe a chamada adoção tardia?

R. Adoção tardia é aquela adoção de criança ou adolescente que já numa faixa etária mais

elevada, por exemplo, as que estão acima de 3 anos de idade.

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P7. O que é destituição do poder familiar? E quando ocorre?

R. Sempre os pais possuem na mesma igualdade obrigação legal de manter, educar, zelar pela

saúde do filho. Quando eles faltam com essas obrigações poderão ser apenados civilmente.

Além de um processo criminal a que poderão ficam sujeitos. Civilmente com a suspensão do

pátrio poder e, se essa falta for grave, poderão sofrer a destituição do poder patriarcal que é a

perda do direito de pai e mãe ter o filho junto a si para criar.

P8. O Sr já adotou alguma criança?

R. Não, eu não adotei, mesmo porque tenho três filhos e não me foi dada essa oportunidade.

Mas acredito, como juiz da infância, que já julguei mais de mil processos, e isso me faz feliz

em fazer outros casais felizes, pois naquele momento se operava um parto legal.

P9. O senhor conhece algum magistrado que adotou?

R. Sim, inclusive julguei processos de alguns colegas que adotaram, e hoje essas crianças são

adultos e viraram profissionais liberais.

P10. Quais as mudanças que a nova lei trouxe dentro das instâncias legais?

R. Primeiro só adotar quem estiver devidamente cadastrado. Porque é feito um estudo técnico

social sobre o casal que pretende adotar. A adoção é irrevogável, transmite à criança todo o

direito do casal adotante inclusive sucessório, e a mãe e o pai que permitem a adoção ou são

destituídos perdem totalmente o vinculo biológico com seus filhos. Porque adotados passam a

ser legalmente filhos do casal adotante não sendo permitida qualquer discriminação.

P11. Qual o procedimento mais seguro para adoção?

R. O mais importante é o interesse da pessoa, porque tanto o casal que é casado ou vive em

união estável ou mesmo solteiro podem adotar. O procedimento correto é a pessoa procurar o

juizado da infância para se cadastrar.

P12. Em sua opinião, os vários procedimentos dificultam a adoção ou a tornam mais

segura?

R. A tornam mais segura porque deve-se fazer um processo dentro da maior rapidez, mas o

juiz, a promotoria, advogados e aquelas pessoas que trabalham no processo não podem

atropelar as formalidades legais, correndo o risco da nulidade. Então é um ato sério que vai a

uma sentença, depois que transita e julgada, vai transformar aquela criança em filhos dos

adotantes. Por isso, têm que ser cumpridas determinadas formalidades tanto que uma criança,

para nascer, passa nove meses. O processo de adoção poderá ser feito em tempo mais curto,

mas não podemos atropelar as formalidades legais.

P13. Quando concretizada uma adoção, as crianças ainda são acompanhadas pelo juizado?

R. Sim, recebem periodicamente a visita dos profissionais da equipe multidisciplinar.

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P14. O que acontece com as crianças que completam maioridade nos abrigos?

R. Os adolescentes que completam dezoito anos nos abrigos estão sob a responsabilidade do

estado ou município e sob a supervisão, coordenação e controle judicial do juiz da infância.

Quando completam dezoito anos e não têm mais possibilidades de colocá-los em família

substituta, o Estado procura profissionalizar aquele jovem.

P15. Em sua opinião, com o advento da nova lei, houve avanço no processo de adoção?

R. Acredito que houve avanço, mas o processo precisa se ajustar à realidade de cada Estado,

pois os Estados são diferentes economicamente.

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ANEXO 2

ENTREVISTA COM A DRA. LÚCIA FALCÃO

P1. O que levou a senhora a adotar?

R. O fato de ter somente um filho de dezenove anos e me sentir solitária.

P2. A senhora tinha algum perfil de criança?

R. Não, por sermos evangélicos, pedimos a Deus apenas que fosse uma criança abençoada.

P3. Como a senhora define adoção?

R. É um ato de amor em que a pessoa transmite também carinho e dedicação para com outra

pessoa que não é seu filho biológico.

P4. Quais as dificuldades para a adoção?

R. Bem, no meu caso, tivemos que passar por todo um processo muito lento e burocrático.

P5. Quanto tempo levou o processo de adoção?

R. O nosso processo durou em torno de dois anos ou dois anos e meio.

P6. A demora e a burocracia facilitam a adoção ilegal?

R. Sim, pois a demora e a burocracia causam desestímulo muito grande, chegando a dar

vontade de procurarmos caminhos mais fáceis.

P7. A nova lei trouxe mais facilidades para a adoção?

R. Olha, mesmo sendo magistrado, não percebi nenhuma facilidade, pelo contrário, essa lei

causa descontentamento, e suas leis costumam ser cansativas.

P8. Quais os maiores medos dos pais adotivos?

R. Que a criança venha cheia de traumas e não consiga se adequar a nova família.

P9. Na realidade, quais os problemas mais comumente enfrentados pelos pais e filhos após

a adoção?

R. Seria o período de adaptação e convívio, pois estaríamos confrontando posturas diferentes.

P10. Os pais precisam contar aos filhos que eles são adotados? Quando?

R. Sim, pois senão correm o risco de enfrentar uma revolta futura da criança adotada.

P11. O que falta, em sua opinião, para a adoção deixar de ser um tabu aqui no Brasil?

R. Precisamos de mais campanhas em nível de meios de comunicação e conscientização de

valores humanos. Além de uma melhor organização das instituições que cuidam desse

processo.

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ANEXO 3

Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 12.010, DE 3 DE AGOSTO DE 2009.

Vigência

Dispõe sobre adoção; altera as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943; e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Esta Lei dispõe sobre o aperfeiçoamento da sistemática prevista para garantia do direito à convivência familiar a todas as crianças e adolescentes, na forma prevista pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente.

§ 1o A intervenção estatal, em observância ao disposto no caput do art. 226 da Constituição Federal, será prioritariamente voltada à orientação, apoio e promoção social da família natural, junto à qual a criança e o adolescente devem permanecer, ressalvada absoluta impossibilidade, demonstrada por decisão judicial fundamentada.

§ 2o Na impossibilidade de permanência na família natural, a criança e o adolescente serão colocados sob adoção, tutela ou guarda, observadas as regras e princípios contidos na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e na Constituição Federal.

Art. 2o A Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 8o .............................................................................

........................................................................................

§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal.

§ 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser também prestada a gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção.” (NR)

“Art. 13. ...........................................................................

Parágrafo único. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude.” (NR)

“Art. 19. ...........................................................................

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§ 1º Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.

§ 2o A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.

§ 3o A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei.” (NR)

“Art. 25. .........................................................................

Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.” (NR)

“Art. 28. .........................................................................

§ 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada.

§ 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência.

§ 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida.

§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais.

§ 5o A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

§ 6o Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda obrigatório:

I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal;

II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia;

III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, no caso de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso.” (NR)

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“Art. 33. ...........................................................................

.......................................................................................

§ 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público.” (NR)

“Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar.

§ 1o A inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida, nos termos desta Lei.

§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.” (NR)

“Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.

.............................................................................” (NR)

“Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.

Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la.” (NR)

“Art. 39. ...........................................................................

§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.

§ 2o É vedada a adoção por procuração.” (NR)

“Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil.

.......................................................................................

§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família.

........................................................................................

§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão.

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§ 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.

§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.” (NR)

“Art. 46. ............................................................................

§ 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo.

§ 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de convivência.

§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) dias.

§ 4o O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida.” (NR)

“Art. 47. ..........................................................................

.......................................................................................

§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência.

§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do registro.

§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome.

§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.

§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito.

§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo.” (NR)

“Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.

Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.” (NR)

“Art. 50. ...........................................................................

........................................................................................

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§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

§ 4o Sempre que possível e recomendável, a preparação referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

§ 5o Serão criados e implementados cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção.

§ 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais residentes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadastros mencionados no § 5o deste artigo.

§ 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do sistema.

§ 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo, sob pena de responsabilidade.

§ 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela manutenção e correta alimentação dos cadastros, com posterior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira.

§ 10. A adoção internacional somente será deferida se, após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude na comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo, não for encontrado interessado com residência permanente no Brasil.

§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível e recomendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em programa de acolhimento familiar.

§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério Público.

§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos termos desta Lei quando:

I - se tratar de pedido de adoção unilateral;

II - for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;

III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei.

§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, que preenche os requisitos necessários à adoção, conforme previsto nesta Lei.” (NR)

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“Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual a pessoa ou casal postulante é residente ou domiciliado fora do Brasil, conforme previsto no Artigo 2 da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, aprovada pelo Decreto Legislativo no 1, de 14 de janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 de junho de 1999.

§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando restar comprovado:

I - que a colocação em família substituta é a solução adequada ao caso concreto;

II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos cadastros mencionados no art. 50 desta Lei;

III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.

§ 2o Os brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro.

§ 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção internacional.” (NR)

“Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes adaptações:

I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual;

II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional;

III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira;

IV - o relatório será instruído com toda a documentação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência;

V - os documentos em língua estrangeira serão devidamente autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado;

VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida;

VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacional, além do preenchimento por parte dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta Lei como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano;

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VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual.

§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção internacional sejam intermediados por organismos credenciados.

§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção internacional, com posterior comunicação às Autoridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio próprio da internet.

§ 3o Somente será admissível o credenciamento de organismos que:

I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil;

II - satisfizerem as condições de integridade moral, competência profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira;

III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para atuar na área de adoção internacional;

IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade Central Federal Brasileira.

§ 4o Os organismos credenciados deverão ainda:

I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central Federal Brasileira;

II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal competente;

III - estar submetidos à supervisão das autoridades competentes do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira;

IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relatório de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia Federal;

V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado;

VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos.

§ 5o A não apresentação dos relatórios referidos no § 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar a suspensão de seu credenciamento.

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§ 6o O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção internacional terá validade de 2 (dois) anos.

§ 7o A renovação do credenciamento poderá ser concedida mediante requerimento protocolado na Autoridade Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao término do respectivo prazo de validade.

§ 8o Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu a adoção internacional, não será permitida a saída do adotando do território nacional.

§ 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade judiciária determinará a expedição de alvará com autorização de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando, obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão digital do seu polegar direito, instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado.

§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das crianças e adolescentes adotados.

§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos credenciados, que sejam considerados abusivos pela Autoridade Central Federal Brasileira e que não estejam devidamente comprovados, é causa de seu descredenciamento.

§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser representados por mais de uma entidade credenciada para atuar na cooperação em adoção internacional.

§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, podendo ser renovada.

§ 14. É vedado o contato direto de representantes de organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com dirigentes de programas de acolhimento institucional ou familiar, assim como com crianças e adolescentes em condições de serem adotados, sem a devida autorização judicial.

§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá limitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo fundamentado.” (NR)

“Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de organismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a pessoas físicas.

Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente.”

“Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção tenha sido processado em conformidade com a legislação vigente no país de residência e atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente recepcionada com o reingresso no Brasil.

§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.

§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça.”

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“Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e determinará as providências necessárias à expedição do Certificado de Naturalização Provisório.

§ 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela decisão se restar demonstrado que a adoção é manifestamente contrária à ordem pública ou não atende ao interesse superior da criança ou do adolescente.

§ 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente requerer o que for de direito para resguardar os interesses da criança ou do adolescente, comunicando-se as providências à Autoridade Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem.”

“Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional.”

“Art. 87. ..........................................................................

......................................................................................

VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes;

VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.” (NR)

“Art. 88. ...........................................................................

.......................................................................................

VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei;

VII - mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade.” (NR)

“Art. 90. ...........................................................................

.......................................................................................

IV - acolhimento institucional;

.......................................................................................

§ 1o As entidades governamentais e não governamentais deverão proceder à inscrição de seus programas, especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho

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Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.

§ 2o Os recursos destinados à implementação e manutenção dos programas relacionados neste artigo serão previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência Social, dentre outros, observando-se o princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e parágrafo único do art. 4o desta Lei.

§ 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para renovação da autorização de funcionamento:

I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem como às resoluções relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis;

II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela Justiça da Infância e da Juventude;

III - em se tratando de programas de acolhimento institucional ou familiar, serão considerados os índices de sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família substituta, conforme o caso.” (NR)

“Art. 91. .........................................................................

§ 1º Será negado o registro à entidade que:

......................................................................................

e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis.

§ 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.” (NR)

“Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os seguintes princípios:

I - preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar;

II - integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família natural ou extensa;

.......................................................................................

§ 1º O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para todos os efeitos de direito.

§ 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional remeterão à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.

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§ 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a permanente qualificação dos profissionais que atuam direta ou indiretamente em programas de acolhimento institucional e destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar.

§ 4o Salvo determinação em contrário da autoridade judiciária competente, as entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, estimularão o contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.

§ 5o As entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional somente poderão receber recursos públicos se comprovado o atendimento dos princípios, exigências e finalidades desta Lei.

§ 6o O descumprimento das disposições desta Lei pelo dirigente de entidade que desenvolva programas de acolhimento familiar ou institucional é causa de sua destituição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade administrativa, civil e criminal.” (NR)

“Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.

Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei.” (NR)

“Art. 94. .............................................................................

.........................................................................................

§ 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes deste artigo às entidades que mantêm programas de acolhimento institucional e familiar.

..............................................................................” (NR)

“Art. 97. ..........................................................................

.......................................................................................

§ 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Ministério Público ou representado perante autoridade judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou dissolução da entidade.

§ 2o As pessoas jurídicas de direito público e as organizações não governamentais responderão pelos danos que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o descumprimento dos princípios norteadores das atividades de proteção específica.” (NR)

“Art. 100. ........................................................................

Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:

I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal;

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II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são titulares;

III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades não governamentais;

IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto;

V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;

VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida;

VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente;

VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada;

IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e o adolescente;

X - prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua integração em família substituta;

XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa;

XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.” (NR)

“Art. 101. .........................................................................

.......................................................................................

VII - acolhimento institucional;

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;

IX - colocação em família substituta.

§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.

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§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.

§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros:

I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;

II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência;

III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;

IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.

§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.

§ 5o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.

§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros:

I - os resultados da avaliação interdisciplinar;

II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e

III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e fundamentada determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária.

§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido.

§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.

§ 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.

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§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou outras providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda.

§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.

§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de acolhimento.” (NR)

“Art. 102. ..........................................................................

........................................................................................

§ 3o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado procedimento específico destinado à sua averiguação, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992.

§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dispensável o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.” (NR)

“Art. 136. .........................................................................

.......................................................................................

XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.

Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família.” (NR)

“Art. 152. .....................................................................

Parágrafo único. É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade absoluta na tramitação dos processos e procedimentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências judiciais a eles referentes.” (NR)

“Art. 153. .....................................................................

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua família de origem e em outros procedimentos necessariamente contenciosos.” (NR)

“Art. 161. .....................................................................

§ 1o A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de estudo social ou perícia por equipe interprofissional ou multidisciplinar, bem como a oitiva de testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de suspensão ou

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destituição do poder familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, ou no art. 24 desta Lei.

§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei.

§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida.

§ 4o É obrigatória a oitiva dos pais sempre que esses forem identificados e estiverem em local conhecido.” (NR)

“Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias.

Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar será averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente.” (NR)

“Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado.

§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, esses serão ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por termo as declarações.

§ 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida.

§ 3o O consentimento dos titulares do poder familiar será colhido pela autoridade judiciária competente em audiência, presente o Ministério Público, garantida a livre manifestação de vontade e esgotados os esforços para manutenção da criança ou do adolescente na família natural ou extensa.

§ 4o O consentimento prestado por escrito não terá validade se não for ratificado na audiência a que se refere o § 3o deste artigo.

§ 5o O consentimento é retratável até a data da publicação da sentença constitutiva da adoção.

§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado após o nascimento da criança.

§ 7o A família substituta receberá a devida orientação por intermédio de equipe técnica interprofissional a serviço do Poder Judiciário, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.” (NR)

“Art. 167. ...................................................................

Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o adolescente será entregue ao interessado, mediante termo de responsabilidade.” (NR)

“Art. 170. ...................................................................

Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias.” (NR)

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“Seção VIII

Da Habilitação de Pretendentes à Adoção

‘Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:

I - qualificação completa;

II - dados familiares;

III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa ao período de união estável;

IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas;

V - comprovante de renda e domicílio;

VI - atestados de sanidade física e mental;

VII - certidão de antecedentes criminais;

VIII - certidão negativa de distribuição cível.’

‘Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:

I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a que se refere o art. 197-C desta Lei;

II - requerer a designação de audiência para oitiva dos postulantes em juízo e testemunhas;

III - requerer a juntada de documentos complementares e a realização de outras diligências que entender necessárias.’

‘Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei.

§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.

§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.’

‘Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das

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diligências requeridas pelo Ministério Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de instrução e julgamento.

Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.’

‘Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis.

§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa a melhor solução no interesse do adotando.

§ 2o A recusa sistemática na adoção das crianças ou adolescentes indicados importará na reavaliação da habilitação concedida.’”

“Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando.”

“Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.”

“Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de destituição de poder familiar, em face da relevância das questões, serão processados com prioridade absoluta, devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do Ministério Público.”

“Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua conclusão.

Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data do julgamento e poderá na sessão, se entender necessário, apresentar oralmente seu parecer.”

“Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a instauração de procedimento para apuração de responsabilidades se constatar o descumprimento das providências e do prazo previstos nos artigos anteriores.”

“Art. 208. ..........................................................................

........................................................................................

“IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.

...........................................................................................” (NR)

“Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento institucional ou familiar.”

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“Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para adoção:

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida no caput deste artigo.”

“Art. 260. ...........................................................................

.........................................................................................

§ 1º-A. Na definição das prioridades a serem atendidas com os recursos captados pelos Fundos Nacional, Estaduais e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, serão consideradas as disposições do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar, bem como as regras e princípios relativos à garantia do direito à convivência familiar previstos nesta Lei.

........................................................................................

§ 5o A destinação de recursos provenientes dos fundos mencionados neste artigo não desobriga os Entes Federados à previsão, no orçamento dos respectivos órgãos encarregados da execução das políticas públicas de assistência social, educação e saúde, dos recursos necessários à implementação das ações, serviços e programas de atendimento a crianças, adolescentes e famílias, em respeito ao princípio da prioridade absoluta estabelecido pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e parágrafo único do art. 4o desta Lei.” (NR)

Art. 3o A expressão “pátrio poder” contida nos arts. 21, 23, 24, no parágrafo único do art. 36, no § 1º do art. 45, no art. 49, no inciso X do caput do art. 129, nas alíneas “b” e “d” do parágrafo único do art. 148, nos arts. 155, 157, 163, 166, 169, no inciso III do caput do art. 201 e no art. 249, todos da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, bem como na Seção II do Capítulo III do Título VI da Parte Especial do mesmo Diploma Legal, fica substituída pela expressão “poder familiar”.

Art. 4o Os arts. 1.618, 1.619 e 1.734 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1.618. A adoção de crianças e adolescentes será deferida na forma prevista pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.” (NR)

“Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.” (NR)

“Art. 1.734. As crianças e os adolescentes cujos pais forem desconhecidos, falecidos ou que tiverem sido suspensos ou destituídos do poder familiar terão tutores nomeados pelo Juiz ou serão incluídos em programa de colocação familiar, na forma prevista pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.” (NR)

Art. 5o O art. 2o da Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992, fica acrescido do seguinte § 5o, renumerando-se o atual § 5o para § 6o, com a seguinte redação:

“Art. 2o .................................................

.........................................................................................

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§ 5º Nas hipóteses previstas no § 4o deste artigo, é dispensável o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.

§ 6o A iniciativa conferida ao Ministério Público não impede a quem tenha legítimo interesse de intentar investigação, visando a obter o pretendido reconhecimento da paternidade.” (NR)

Art. 6o As pessoas e casais já inscritos nos cadastros de adoção ficam obrigados a frequentar, no prazo máximo de 1 (um) ano, contado da entrada em vigor desta Lei, a preparação psicossocial e jurídica a que se referem os §§ 3o e 4o do art. 50 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, acrescidos pelo art. 2o desta Lei, sob pena de cassação de sua inscrição no cadastro.

Art. 7o Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a sua publicação.

Art. 8o Revogam-se o § 4o do art. 51 e os incisos IV, V e VI do caput do art. 198 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, bem como o parágrafo único do art. 1.618, o inciso III do caput do art. 10 e os arts. 1.620 a 1.629 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, e os §§ 1o a 3o do art. 392-A da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.

Brasília, 3 de agosto de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Tarso Genro

Celso Luiz Nunes Amorim