administração do território. a reforma necessária

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Administração do território A reforma necessária 1 O processo conduzido por António Costa é um bom exemplo e deve ser valorizado pela capacidade de diálogo pela serenidade e pelo pioneirismo que ncerra Renato Sampaio Está em debate uma proposta do gover no de reforma da administração do território que do nosso ponto de vis ta constitui uma oportunidade única de se proceder àquela que pode vir a ser a mais importante reforma estru tural no Portugal democrático saído do 25 de Abril Esta reforma é necessária e não pode deixar de ser encarada como um desa fio sério quer para o governo quer para as oposições e todos os envolvi dos autarcas e cidadãos no sentido de se aprofundar a qualidade da demo cracia e instituir patamares de uma maior eficácia da gestão e adminis tração local Uma reforma desta enver gadura e com esta dimensão exige que se estabeleça o mais amplo con senso que não se pode esgotar na esfera parlamentar mas tem de envol ver a sociedade portuguesa no seu todo de modo a garantir a sua esta bilidade legislativa sem a qual se tor na frágil O processo de reforma da administração local conduzido por António Costa em Lisboa é um bom exemplo e deve ser valorizado Tra ta se de um processo que devemos enaltecer pela capacidade de diálogo pela serenidade e pelo pioneirismo que encerra mas também pela racio nalidade que guiou todo o debate em torno do mesmo ou seja primeiro procedeu se à abordagem das ques tões do financiamento e das compe tências das freguesias e depois de consolidados estes pontos se tratou da reorganização do mapa A última grande reforma de admi nistração do território tem quase duzen tos anos As alterações não demo gráficas mas também económicas e sociais que se verificaram durante este período tornam imperioso que se pro ceda a uma profunda reforma da admi nistração do território que deve assen tar em três pilares fundamentais o reforço da autonomia local a garan tia de uma maior coesão territorial e solidariedade ea credibilização do poder local No denominado Livro Verde que ser viu ao governo para lançar as bases desta reforma e de que sobressai a abordagem muito vaga de todos os pontos são identificados três eixos de intervenção o sector empresarial local a organização do território e a gestão municipal intermunicipal e financia mento Contudo a discussão tem permane cido afunilada na fusão e na extinção de freguesias Centrou se o debate no fim da linha quando o que devíamos definir em primeiro lugar era o mode lo do poder local que queremos para Portugal e depois a malha territo rial a dimensão das autarquias quer sejam municípios quer freguesias O Livro Verde enferma ainda de um grave erro que inquina esta reforma a ausência desse eixo fundamental cha mado regionalização A regionalização não pode continuar a ser um mito constitucional por cum prir até porque é um pilar fundamen tal para a eficiência das políticas públi cas e constitui o aprofundamento de uma estratégia baseada na aplicação dos princípios da subsidiariedade da equidade territorial e da promoção conjugada da coesão e da competitivi dade das regiões Em todos os momentos da nossa his tória quando se implementaram refor mas desta natureza estas foram no sentido da centralização com divisões artificiais do território e com o propó sito de reforçar os poderes do Estado central Foi esse o alvo dos combates de Almei da Garrett à legislação de Mousinho da Silveira que passou de 796 municí pios para 351 em 1833 e de Alexandre Herculano elevado a refundador do municipalismo por se ter batido con tra a corrente centralista que na altu ra imperava nos corredores do poder Para nosso infortúnio o que esta reforma nos traz não é como se exi gia um aprofundamento da descen tralização da desconcentração e da autonomia do poder local O que esta reforma nos traz de um modo dissi mulado é um maior centralismo admi nistrativo com o reforço dos poderes do Estado central Se o governo não tiver a flexibilidade necessária para emendar o seu erro acabaremos irre mediavelmente diante de uma opor tunidade perdida Deputado do PS pelo Porto Escreve às terças feiras i 14 S/Cor 387 80000 Nacional Informação Geral Diária Página (s): Imagem: Dimensão: Temática: Periodicidade: Classe: Âmbito: Tiragem: 20122011 Administração Pública

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Está em debate uma proposta do governo de reforma da administração do território que do nosso ponto de vista constitui uma oportunidade única de se proceder àquela que pode vir a ser a mais importante reforma estrutural no Portugal democrático saído do 25 de Abril.

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Page 1: Administração do território. A reforma necessária

Administração do territórioA reforma necessária 1O processo conduzido por António Costa é um bom exemplo e deve ser valorizadopela capacidade de diálogo pela serenidade epelo pioneirismo queencerra

Renato Sampaio

Está em debate uma proposta do governo de reforma da administração doterritório que do nosso ponto de vista constitui uma oportunidade únicade se proceder àquela que pode vir aser a mais importante reforma estrutural no Portugal democrático saídodo 25 de Abril

Esta reforma é necessária e não podedeixar de ser encarada como um desafio sério quer para o governo querpara as oposições e todos os envolvidos autarcas e cidadãos no sentidode se aprofundar a qualidade da democracia e instituir patamares de umamaior eficácia da gestão e administração local Uma reforma desta envergadura e com esta dimensão exigeque se estabeleça o mais amplo consenso que não se pode esgotar naesfera parlamentar mas tem de envolver a sociedade portuguesa no seutodo de modo a garantir a sua estabilidade legislativa sem a qual se torna frágil O processo de reforma daadministração local conduzido porAntónio Costa em Lisboa é um bomexemplo e deve ser valorizado Trata se de um processo que devemosenaltecer pela capacidade de diálogopela serenidade e pelo pioneirismoque encerra mas também pela racionalidade que guiou todo o debate emtorno do mesmo ou seja primeiroprocedeu se à abordagem das questões do financiamento e das competências das freguesias e só depois deconsolidados estes pontos se tratouda reorganização do mapaA última grande reforma de admi

nistração do território tem quase duzentos anos As alterações não só demográficas mas também económicasesociais que se verificaram durante esteperíodo tornam imperioso que se proceda a uma profunda reforma da administração do território que deve assentar em três pilares fundamentais o

reforço da autonomia local a garantia de uma maior coesão territorial e

solidariedade e a credibilização dopoder localNo denominado Livro Verde que ser

viu ao governo para lançar as basesdesta reforma e de que sobressai aabordagem muito vaga de todos ospontos são identificados três eixos deintervenção o sector empresarial locala organização do território e a gestãomunicipal intermunicipal e financiamento

Contudo a discussão tem permanecido afunilada na fusão e na extinçãode freguesias Centrou se o debate nofim da linha quando o que devíamosdefinir em primeiro lugar era o modelo do poder local que queremos paraPortugal e só depois a malha territorial a dimensão das autarquias quersejam municípios quer freguesiasO Livro Verde enferma ainda de um

grave erro que inquina esta reformaa ausência desse eixo fundamental chamado regionalizaçãoA regionalização não pode continuar

a ser um mito constitucional por cumprir até porque é um pilar fundamental para a eficiência das políticas públicas e constitui o aprofundamento deuma estratégia baseada na aplicaçãodos princípios da subsidiariedade da

equidade territorial e da promoçãoconjugada da coesão e da competitividade das regiõesEm todos os momentos da nossa his

tória quando se implementaram reformas desta natureza estas foram nosentido da centralização com divisõesartificiais do território e com o propósito de reforçar os poderes do EstadocentralFoi esse o alvo dos combates de Almei

da Garrett à legislação de Mousinhoda Silveira que passou de 796 municípios para 351 em 1833 e de AlexandreHerculano elevado a refundador domunicipalismo por se ter batido contra a corrente centralista que na altura imperava nos corredores do poderPara nosso infortúnio o que esta

reforma nos traz não é como se exigia um aprofundamento da descentralização da desconcentração e daautonomia do poder local O que estareforma nos traz de um modo dissimulado é um maior centralismo administrativo com o reforço dos poderesdo Estado central Se o governo nãotiver a flexibilidade necessária paraemendar o seu erro acabaremos irremediavelmente diante de uma oportunidade perdidaDeputado do PS pelo PortoEscreve às terças feiras

i

14

S/Cor

387

80000

Nacional

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Diária

Página (s):Imagem:

Dimensão:

Temática:Periodicidade:

Classe:

Âmbito:Tiragem:20­12­2011

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