Índice de condições de vida (icv) no território da cidadania da reforma

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma Acadêmico: Leonardo Alves de Oliveira Casimiro Orientador: Dr. Olivier François Vilpoux

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A partir da importância da agricultura familiar, a pesquisa teve como objetivo principal avaliar a qualidade de vida dos moradores do território da Reforma. Foram analisados o perfil, fontes de renda, nível de formação, participação em associações. Os resultados obtidos foram comparados entre agricultores familiares, agricultores não familiares e não produtores. O levantamento das características das famílias entrevistadas foi realizado por meio de um questionário aplicado pelo MDA, com projeto financiado pelo CNPQ, junto a 250 produtores do território da reforma. Foi possível identificar um número significativo de produtores que não conseguiam obter 80% da sua renda no seu estabelecimento, havendo necessidade de complementar a renda fora. Essa necessidade teve por efeito a inclusão desses como produtores não familiares, junto com os grandes proprietários, apesar de suas características serem similares as dos pequenos produtores familiares. Apesar dos entrevistados apresentarem um ní

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Page 1: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania

da Reforma

Acadêmico: Leonardo Alves de Oliveira CasimiroOrientador: Dr. Olivier François Vilpoux

CAMPO GRANDE - MS

(Janeiro de 2012)

Page 2: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

SUMÁRIO

Page 3: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. PORCENTAGEM DA PRODUÇÃO DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS ORIUNDOS DA AGRICULTURA FAMILIAR...........................8

FIGURA 2. TERRITÓRIOS RURAIS APOIADOS PELA SDT/MDA NO BRASIL. 20

Figura 3. Territórios da Cidadania que existem no estado do Mato Grosso do Sul........23

Page 4: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

LISTA DE TABELAS

TABELA N°1: MUNICÍPIOS QUE FORMAM O TERRITÓRIO DA REFORMA E ANO DE CRIAÇÃO.......................................................................................................23

TABELA N°2: IDH-M–ÍNDICES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL É COMPOSTO PELA MÉDIA DE TRÊS ÍNDICES; LONGEVIDADE, EDUCAÇÃO E RENDA.................................................................................................24

Tabela n°3: Amostra do Território da Reforma.............................................................26

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Page 6: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

1. INTRODUÇÃO

O ritmo das mudanças nas relações sociais e de trabalho no campo transforma cada vez

mais as noções de "urbano" e "rural" em categorias simbólicas, construídas a partir de

representações sociais que, em algumas regiões, não correspondem mais a realidades

distintas cultural e socialmente. Torna-se cada vez mais difícil demarcar fronteiras entre

as cidades e os pequenos povoados a partir de uma classificação sustentada em

atividades econômicas ou mesmo em hábitos culturais.

A agricultura familiar ocupa uma posição muito importante no mundo. Com frequência

é constituída de uma população em condições precárias e uma das soluções para

resolver os problemas enfrentados é a introdução de políticas públicas.

A concepção da estratégia de desenvolvimento rural sustentável com enfoque territorial,

tendo por referência os territórios rurais como espaço de articulação e gestão de

políticas públicas, é oriunda da necessidade de se adotarem concepções inovadoras para

enfrentar problemas que atingem algumas regiões e grupos sociais. Refere-se

especificamente ao enfrentamento da pobreza e da exclusão social, à degradação

ambiental e às desigualdades regionais, sociais e econômicas que ainda atingem o meio

rural brasileiro.

Os Territórios da Cidadania têm como objetivo promover o desenvolvimento

econômico e universalizar programas básicos de cidadania por meio de uma estratégia

de desenvolvimento territorial sustentável. A participação social e a integração de ações

entre Governo Federal, estados e municípios são fundamentais para a construção dessa

estratégia (TERRITÓRIOS DA CIDADANIA, 2010).

Atualmente, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT) estão apoiando diretamente 120 territórios rurais,

que compreendem 1.833 municípios, ou 32% da superfície nacional, e onde vivem 37,4

milhões de brasileiros. Nesses territórios encontram-se 42% da demanda social do

MDA, constituída por agricultores familiares, assentados pela reforma agrária,

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Page 7: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

trabalhadores rurais que buscam acesso a terra, além de outros segmentos de populações

tradicionais que habitam os espaços rurais.

Existem quatro territórios da cidadania no estado do Mato Grosso do Sul, Da Reforma,

Grande Dourados, Cone Sul e Vale do Ivinhema. Para isso, o programa Territórios da

Cidadania está sendo administrado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial -

SDT do MDA. Para facilitar as atividades de desenvolvimento dos Territórios e apoiar

as decisões dos Colegiados, a SDT concluiu para a importância da aquisição de

conhecimento sobre as características desses espaços. Essa aquisição tornou-se condição

necessária ao estabelecimento de ações públicas e privadas voltadas ao desenvolvimento

dos territórios. Essa conclusão levou o SDT a elaborar um projeto de coleta de

informações em 37 dos Territórios nacionais. Esse projeto destina-se a coleta de

informações sobre Condições de Vida (ICV) da população rural nos Territórios

pesquisados, desenvolvimento dos projetos financiados pelo MDA desde 2003, atuação

dos representantes dos Colegiados. No Mato Grosso do Sul, o MDA contemplou dois

Territórios, o da Reforma e o da Grande Dourados.

A partir da importância da agricultura familiar e das políticas territoriais, a pesquisa tem

como objetivo principal avaliar a qualidade de vida dos moradores do território da

reforma. Além do objetivo principal, a pesquisa permitirá a realização dos objetivos

específicos seguintes no território pesquisado:

Análise do perfil familiar dos agricultores familiares;

Análise das fontes de renda dos agricultores familiares;

Análise da educação dos agricultores familiares;

Análise da participação em associações dos agricultores familiares;

Comparação dos resultados obtidos com os agricultores familiares com aqueles

obtidos para as outras categorias de pessoas.

Após a introdução é apresentado uma revisão bibliográfica abordando os temas de

agricultura familiar, ruralidade, política Territorial, capital social e cooperativismo no

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Brasil. Em seguida são analisados os resultados obtidos na pesquisa, com enfoque na

qualidade de vida dos moradores dos territórios.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capitulo aborda as informações relativas a agricultura familiar, ruralidade, política

Territorial, capital social e cooperativismo.

2.1. Agricultura FamiliarO agronegócio brasileiro representa perto de 30% do PIB nacional, sendo também

responsável por pouco mais de um terço das exportações e dos empregos nacionais. Do

total do agronegócio brasileiro, um terço provém da agricultura familiar (MDA, 2006).

2.1.1. Definição da agricultura familiarA agricultura familiar é aquela onde a administração é predominantemente familiar,

com área igual ou inferior a quatro módulos fiscais1. Segundo Guilhoto (2007), a

agricultura familiar é lembrada pela sua importância na absorção de empregos e na

produção de alimentos, de maneira especial voltada para o autoconsumo.

O conceito de agricultura familiar é relativamente recente no Brasil. Antes, falava-se em

pequena produção, pequeno agricultor, agricultura de baixa renda ou de subsistência e

até mesmo camponês. Para Denardi (2001) existe uma importância econômica social e

ambiental muito estratégica na agricultura familiar, pois sem ela o Brasil seria menos

rico, seja no aspecto cultural, natural, econômico ou social.

O agronegócio familiar ocorre em pequenas propriedades espalhadas pelo país. É

responsável por um terço da produção do campo e representa a maioria dos produtores

rurais brasileiros, sendo constituído por pequenos e médios produtores. Mais de quatro

milhões de famílias são responsáveis por dez por cento da riqueza produzida

anualmente no Brasil. Em geral, são agricultores com baixo nível de escolaridade, que

diversificam os produtos cultivados para diluir seus custos, aumentar a renda e

aproveitar a disponibilidade de mão-de-obra. A venda dos produtos é feita em lugares

próximos às propriedades e na maioria são produtos orgânicos (CEPLAC, 2007).1 O modulo fiscal é uma área referencia expressa em hectare e que varia de região a região. Ele é determinado a partir do tipo de exploração predominante, renda e conceito de agricultura familiar no município.

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Page 9: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

De acordo com Guanziroli e Cardim (2002), a agricultura familiar é a principal

fornecedora de alimentos básicos para a população brasileira, além de participar das

exportações do agronegócio. Existem diferentes tipologias para categorizar a agricultura

familiar, como as cinco categorias estabelecidas por Baiardi (1999):

Tipo A: tecnificada, com forte inserção mercantil. É predominante na região de

cerrado, geralmente ligado à produção de grãos;

Tipo B: integrada verticalmente em Complexos Agro-Industriais – aves e suínos,

por exemplo – e mais recentemente em perímetros irrigados voltados à produção

de frutas;

Tipo C: agricultura familiar tipicamente colonial – Rio Grande do Sul, Paraná,

Santa Catarina e Minas Gerais – ligada à policultura combinando lavouras,

pomares com pecuária e a criação de pequenos animais;

Tipo D: agricultura familiar semi-mercantil – predominante no Nordeste e no

Sudeste;

Tipo E: de origem semelhante ao tipo D, porém caracterizada pela

marginalização do processo econômico e pela falta de horizontes.

Na tipificação adotada por Baiardi, o fator preponderante para definir cada tipo é o

acesso ao mercado. Gasson e Errington (1993, p.18) e Bittencourt e Bianchini (1996,

p.16), adotam a seguinte definição para agricultura familiar:

“Agricultor familiar é todo aquele (a) agricultor (a) que tem na

agricultura sua principal fonte de renda (+ 80%), os membros da família vivem

na unidade produtiva, a gestão é feita pelos proprietários, os responsáveis pelo

empreendimento estão ligados entre si por laços de Parentesco, o capital

pertence à família, o trabalho é fundamentalmente familiar, é permitido o

emprego de terceiros temporariamente, quando a atividade agrícola assim

necessitar.”

Segundo Schneider (1999), além das estratégias de ocupar a mão-de-obra familiar em

atividades agrícolas e não-agrícolas, os agricultores familiares frequentemente

conciliam a mão-de-obra familiar com a contratada (temporária ou permanente) nas

atividades produtivas dentro das propriedades, em caso de carência da primeira. Essa

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contratação geralmente ocorre nos casos onde os filhos não estão em idade de participar

das atividades agrícolas, a mão-de-obra familiar já perdeu seu potencial produtivo

(predominância de idosos) e quando a propriedade pratica atividade produtiva altamente

intensiva em mão-de-obra.

Campolin (2005) define a agricultura familiar como a atividade onde a família é

proprietária dos meios de produção, ao mesmo tempo em que assume o trabalho no

estabelecimento produtivo. Para o autor, a construção da identidade do agricultor

familiar vem das relações estabelecidas no trabalho compartilhado com a família e da

integração com a natureza. Nesse tipo de atividade, o lucro não é o principal objetivo.

Ao lado das classificações acadêmicas, surge a delimitação formal do conceito de

agricultor familiar prevista na Lei 11.326, aprovada pelo Congresso Nacional e

sancionada pelo presidente da República em 24 de julho de 2006. Esta lei considera

“[...] agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no

meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos (BRASIL, 2006):

I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;

II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades

econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades

econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;

IV - “dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família”.

Tendo em conta o atendimento a esses requisitos, inclui ainda “[...] silvicultores que

cultivem florestas nativas ou exóticas e que promovam o manejo sustentável daqueles

ambientes; [...] aquicultores que explorem reservatórios hídricos com superfície total de

até 2 ha ou ocupem até 500m³ de água, quando a exploração se efetivar em tanques-

rede; [...] extrativistas pescadores que exerçam essa atividade artesanalmente no meio

rural, excluídos os garimpeiros e faiscadores” (BRASIL, 2006).

É decisiva para a formação do conceito de agricultura familiar a divulgação do estudo

realizado no âmbito de um convênio de cooperação técnica entre a Organização das

Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Instituto Nacional de

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Colonização e Reforma Agrária (INCRA). O estudo define agricultura familiar a partir

de três características centrais (INCRA/FAO, 1996: 4):

a) a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos por

indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou casamento;

b) a maior parte do trabalho é igualmente fornecida pelos membros da família;

c) a propriedade dos meios de produção pertence à família e é em seu interior que se

realiza sua transmissão em caso de falecimento ou aposentadoria dos responsáveis

pela unidade produtiva.

2.1.2. Importância da agricultura familiar

A função sociocultural atribuída à agricultura familiar significa o resgate de um modo

de vida que associa conceitos de cultura, tradição e identidade. O aumento dos

problemas enfrentados pelas populações de grandes cidades tem levado à busca de

modos de vida mais saudáveis, à valorização por alimentos produzidos sem o uso de

agrotóxicos, por produtos artesanais, com matéria prima com menor processamento

industrial, além de um crescente desejo de um maior contato com a natureza. Essa

tendência tem resultado na valorização da tradição da agricultura familiar e no

surgimento de diversas oportunidades de trabalho no meio rural (MDA, 2007).

Muitas pesquisas buscam compreender o papel exercido por esse segmento social na

estrutura político-econômica do país e sugerir formas para inserir as parcelas ainda

excluídas do processo de desenvolvimento. É nesse contexto que o termo agricultura

familiar se consolida e se difunde nos diferentes setores da sociedade. Ele é utilizado

como um guarda chuva conceitual, que abriga grande número de situações, em

contraposição à agricultura patronal, com os principais pontos de divergência

representados pelo tipo de mão-de-obra e de gestão empregadas (ALTAFIN, 2007).

Veiga et al. (2001) informam que nos sete censos agropecuários realizados no Brasil

entre 1950 e 1996, a participação dos agricultores que têm menos de 100 hectares nunca

se distanciou de 90% do total de estabelecimentos. Esses produtores sempre utilizaram

20% da área, o que indica uma permanência extremamente duradoura. Essa

permanência no cenário agrícola, apesar dos constantes desafios, mostra que esse

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Page 12: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

segmento está em constante mudança, com a existência de estratégias de sobrevivência

e reprodução que dependem do meio no qual os agricultores familiares estão inseridos.

Guanziroli e Cardim (2000), com base nos dados do Censo Agropecuário do IBGE de

1995/96, verificaram que ao calcular a Renda Total por hectare, a agricultura familiar

mostrava-se muito mais eficiente que a patronal, produzindo uma média de

R$104,00/ha/ano contra apenas R$44,00/ha/ano dos agricultores patronais. Segundo os

autores, essa constatação era referente ao rendimento do fator terra, em cujo uso os

agricultores familiares revelaram-se mais eficientes, utilizando uma proporção maior de

sua área em sistemas intensivos, tentando aproveitar ao máximo sua área total. Esse uso

mais eficiente da terra pode se explicar pelo fato desta ser um fator limitante para os

agricultores familiares. Os agricultores patronais, onde o trabalho assalariado predomina

e que são grandes empreendimentos agropecuários, trabalham com economia de escala

e utilizam práticas agrícolas padronizadas. Ao contrário dos agricultores familiares, a

terra não é um fator limitante para eles.

No Censo Agropecuário 2006, a agricultura familiar brasileira empregava quase 75% da

mão-de-obra no campo e era responsável pela segurança alimentar dos brasileiros,

produzindo 70% do feijão, 87% da mandioca, 58% do leite, 59% do plantel de suínos,

50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo consumidos no país. A cultura

com menor participação da agricultura familiar era a soja, com 16% (MDA, 2009).

Foram identificados 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar que

representavam 84,4% do total dos estabelecimentos agropecuários do Brasil (5.175.489

estabelecimentos), mas ocupavam apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área

utilizada (MDA, 2009). Apesar de ocupar apenas um quarto da área, a agricultura

familiar respondia por 38% do valor da produção, ou R$ 54,4 bilhões. Mesmo

cultivando uma região menor, a agricultura familiar possui papel relevante na segurança

alimentar do país, gerando parte dos  produtos da cesta básica consumidos pelos

brasileiros. O valor bruto da produção era de R$ 677 por hectare/ano. Outro resultado

positivo apontado pelo Censo é o número de pessoas ocupadas na agricultura: 12,3

milhões de trabalhadores no campo estavam em estabelecimentos da agricultura familiar

(74,4% do total de ocupados no campo). Ou seja, de cada dez ocupados no campo, sete

estavam nesta atividade, que empregava 15,3 pessoas por 100 hectares (MDA, 2009).

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Page 13: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Os dados da Figura 1 comprovam a importância da agricultura familiar para a

alimentação da população, e também evidenciam a forte presença desse tipo de

produtores em produções não alimentares, como o fumo, ou em produtos típicos de

exportação, como café, suínos e aves. Considera-se que a agricultura familiar participa

mais da produção nacional de alimentos, enquanto a agricultura patronal é mais focada

em produtos de exportação. No entanto, essa imagem oferece uma visão muito

simplificada da realidade nacional. A agricultura familiar também ocupa lugar de

destaque na produção de aves e suínos, grandes produtos de exportação (Figura 1).

Fonte: Guanziroli e Cardim (2002) e MDA (2010).

Figura 1. Porcentagem da produção de produtos agropecuários oriundos da agricultura familiar.

O documento “Perfil da Agricultura Familiar Brasileira”, publicado pelo MDA em 2000

revela a existência de 2,7 milhões de unidades produtivas que não geravam renda

suficiente para assegurar a subsistência digna das famílias, criando um bolsão de

pobreza. Para Guanziroli (2002) os principais problemas enfrentados pela agricultura

familiar são:

Política: Políticas públicas inadequadas, restrições aos subsídios, instituições de

assistência técnica e extensão rural que não atendem a demanda; muitos

produtores que não detém o titulo de domínio;

Educação: Dificuldades de organização e de compreensão dos problemas; falta

de capacitação gerencial e tecnológica para administrar a atividade no contexto

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Page 14: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

das recentes mudanças, geralmente devido ao baixo nível de escolaridade dos

produtores;

Investimentos: Terra insuficiente, de má qualidade em áreas marginais para a

produção, tecnologia gerada que não atende as necessidades, crédito rural

insuficiente, inadequado e burocratizado;

Mercado: Dificuldades de comercialização, falta de um mercado organizado a

nível municipal.

Para Portugal (2004) existem vários modelos de sucesso e desenvolvimento quando os

obstáculos são eliminados, mas que possuem origens comuns: organização de

produtores, qualificação de mão-de-obra, crédito-rural, produtos com valor agregado e

emprego de tecnologias adequadas. O desafio maior é organizar os sistemas de

produção a partir das tecnologias disponíveis, com o objetivo de ganhar escala e buscar

nichos de mercado, agregar valor à produção e encontrar novas alternativas para o uso

da terra.

A partir da agricultura familiar pode-se gerar um grande desenvolvimento no país,

aumentando a produção de alimentos e oferecendo empregabilidade às pessoas. Sem o

decisivo apoio das políticas públicas, essas famílias cumprirão, de forma inexorável, o

destino de crescente miséria a elas reservado pela herança histórica que ainda hoje

marca a vida do país. Criar condições para a superação da pobreza rural é um dos

maiores desafios que a sociedade brasileira terá que enfrentar com determinação nos

próximos anos (PORTUGAL, 2004).

Para a agricultura familiar se manter nas grandes cadeias de commodities, ela precisa

alcançar novos níveis de qualidade e novas escalas de produção. Caso contrário, a

agricultura patronal, mais tecnificada, deverá predominar cada vez mais, pois será a

única capaz de acompanhar as novas necessidades de produção (WILKINSON, 2008).

2.1.3. Programas de apoio da agricultura familiar

Para Fernandes (2009), o fortalecimento da agricultura familiar é possível através de

programas de incentivo que possibilitem atender as necessidades reais. O autor cita as

necessidades seguintes:

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Page 15: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Ajustar políticas públicas para atender à realidade da agricultura familiar;

Viabilizar a infraestrutura rural necessária à melhoria do desempenho produtivo

e da qualidade de vida da população rural;

Fortalecer os serviços de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar;

Elevar os níveis de profissionalização dos agricultores familiares;

Propiciar novos padrões tecnológicos e de gestão.

O Brasil dispõe de programas de incentivos financeiros aos agricultores familiares,

como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Esse

programa foi criado pelo governo federal através do Decreto Nº 1946 que, mediante

apoio técnico e financeiro, visa propiciar condições para o aumento da capacidade

produtiva, a geração de empregos e a elevação da renda dos agricultores familiares. O

PRONAF financia projetos individuais ou coletivos, que gerem renda aos agricultores

familiares e assentados da reforma agrária (MDA, 2008).

O PNATER (Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na

Agricultura Familiar): Um dos principais papéis da Assistência Técnica e Extensão

Rural - Ater é orientar os agricultores familiares, os assentados da reforma agrária,

quilombolas, pescadores artesanais, povos indígenas, extrativistas, povos da floresta,

ribeirinhos e outros beneficiários, na implementação de sistemas de produção, na gestão

de atividades produtivas e econômicas, buscando o acesso a mercados, o aumento da

renda, a criação de postos de trabalho e a melhoria da qualidade de vida das famílias de

forma sustentável, reconhecendo a pluralidade, as diferenças regionais, a diversidade

socioeconômica e ambiental existente no meio rural nos diferentes territórios (MDA,

2008).

O CEDAF-PROINF (Ação orçamentária de Apoio a Projetos de Infra-estrutura e

Serviços) disponibiliza recursos não reembolsáveis e tem como principal objetivo apoiar

projetos voltados para a dinamização das economias territoriais, para o fortalecimento

das redes sociais de cooperação e o fortalecimento da gestão social, estimulando uma

maior articulação das políticas públicas nos territórios rurais homologados pela

Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT, do Ministério de Desenvolvimento

Agrário (MDA, 2011).

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Page 16: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

O PNCF (Programa Nacional de Crédito Fundiário) foi criado para possibilitar o acesso

à terra a trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra (assalariados, diaristas,

arrendatários, parceiros, meeiros, agregados, posseiros, etc.) por meio de financiamento

para aquisição de terras e investimentos em infra-estrutura. O Programa é um

instrumento complementar e de apoio à reforma agrária, atuando em áreas não passíveis

de desapropriação por interesse social (MDA, 2008).

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), criado em 2003, constitui uma política

pública do Governo Federal onde algumas modalidades são coordenadas pela

Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Tem como objetivo garantir o

acesso a alimentos e hábitos alimentares saudáveis, visando uma maior segurança

alimentar da população. Visa também adquirir alimentos de agricultores familiares,

garantindo assim a melhoria da renda dos agricultores pela compra de seus produtos,

contribuir para formação de estoques estratégicos e permitir aos agricultores familiares

que armazenem seus produtos para que sejam comercializados a preços mais justos,

além de promover a inclusão social no campo (MDA, 2010).

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), implantado em 1955, garante,

por meio da transferência de recursos financeiros, a alimentação escolar dos alunos de

toda a educação básica (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e

educação de jovens e adultos) matriculados em escolas públicas e filantrópicas. Seu

objetivo é atender as necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanência em

sala de aula, contribuindo para o crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem e o

rendimento escolar dos estudantes, bem como promover a formação de hábitos

alimentares saudáveis. Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE (Fundo

Nacional de Desenvolvimento da Educação) no âmbito do PNAE, no mínimo 30%

devem ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura

familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os

assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e

comunidades quilombolas  (FNDE, 2009).

2.2. Ruralidade

A ruralidade é um conceito de natureza. Ela não pode ser encarada como etapa do

desenvolvimento social a ser vencida pelo avanço do progresso e da urbanização. A

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Page 17: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

agricultura, a indústria, o comércio são setores econômicos, enquanto a ruralidade é e

será cada vez mais um valor para as sociedades contemporâneas. No Brasil, as áreas

rurais recebem uma definição de caráter residual e administrativo: é rural tudo o que

escapa ao perímetro urbano de um município, conforme decreto da prefeitura

(CARNEIRO, 2008).

Para Rocha (2008), o meio rural possui quatro componentes básicos:

Um território que funciona como fonte de recursos naturais e matérias

primas, suporte de atividades econômicas;

Uma população que, com base em um certo modelo cultural, pratica

atividades muito diversas de produção;

Um conjunto de assentamentos que se relacionam entre si e com o exterior,

mediante o intercâmbio de pessoas, mercadorias e informação, através de

canais de relação;

Um conjunto de instituições públicas e privadas que articulam o

funcionamento do sistema, operando dentro de um marco jurídico

determinado.

Abramovay (2001, p.29) se refere a outro meio para se distinguir um determinado

perímetro:

“Quando se definem as áreas rurais com base em características

sociais e territoriais (como tamanho da população e sua

densidade) e não administrativas ou setoriais, o resultado é bem

diferente do quadro desolador de esvaziamento generalizado

oferecido pelo Censo Demográfico de 2000: considerando-se o

que o IBGE chama de meio rural (o rural isolado) somado às

cidades com menos de 20 mil habitantes fora das regiões

metropolitanas, aproximadamente um em cada três brasileiros

vive em regiões rurais.”

Martine e Garcia (1987), analisando os dados do Censo Demográfico de 1980,

consideram que apenas as aglomerações de pelo menos 20.000 habitantes podem ser

chamadas de cidades.

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Page 18: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

As formas existentes para se determinar um perímetro são diversas e existem muitas

duvidas sobre rural e urbano. Por exemplo, uma pequena cidade que possui um número

de habitantes determinado e os recursos necessários para que estes não sintam

necessidades, pode ser chamada de urbano, ou mesmo assim ainda é um perímetro

rural? Para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, o

uso do termo ruralidade apresenta vantagens para a operacionalização territorial, pois se

trata de uma noção de fácil compreensão. Sejam quais forem suas características, as

áreas rurais serão sempre menos densamente povoadas que as urbanas (SCHNEIDER,

2004).

Ao selecionar a densidade demográfica para classificar as comunidades, a OCDE teve

que estabelecer um critério de corte para definir e distinguir as unidades locais rurais

das urbanas. Em face da enorme dificuldade para encontrar “uma definição correta do

termo rural”, fundamentalmente porque cada país tem a sua própria definição, a OCDE

fixou o corte distintivo a partir do patamar de 150 habitantes por quilômetro quadrado.

Assim, todas as unidades locais com densidade abaixo de 150 habitantes, nos países-

membros, foram classificadas como unidades locais rurais, e as com densidade superior

a este limite como unidades locais urbanas. A exceção é o Japão, onde foram

estipulados 500 hab./km² para o corte (SCHNEIDER, 2004).

A maioria da população rural do Brasil vive nas zonas rurais dos pequenos municípios

e, pelo menos em algumas regiões, a população rural é majoritária nos municípios com

até 20 mil habitantes (em certos casos, até 50 mil habitantes). Por outro lado, as

pequenas cidades, consideradas urbanas pelo IBGE, conhecem uma experiência urbana

que é frequentemente frágil e precária. Quando se fala em processo de urbanização e

desenvolvimento urbano, a imagem que vem à mente da maioria das pessoas é a das

cidades metropolitanas. Vistas como pólos do progresso e da civilização, estes grandes

centros concentram as atividades econômicas dinâmicas e as oportunidades de acesso a

bens e serviços de toda ordem, que atraem a população dos pequenos centros e das áreas

rurais (WANDERLEY, 2002).

A existência concomitante de atividades agrícolas e não agrícolas no espaço rural é um

fenômeno que muitos autores denominam de pluriatividade. Segundo Schneider (2001,

p. 3), a pluralidade:

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Page 19: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

[...] refere-se a situações sociais em que os indivíduos que

compõem uma família em domicílio rural passam a se dedicar

ao exercício de um conjunto de atividades econômicas e

produtivas, não necessariamente ligadas à agricultura e ao

cultivo da terra, e cada vez menos executadas dentro da

unidade de produção.

Mesmo no âmbito do mercado de trabalho, as características das atividades não-

agrícolas nas áreas rurais do país demonstram que as populações rurais permanecem à

mercê de soluções imediatistas para reproduzirem-se como força de trabalho. A este

respeito, é sintomático constatar que, dentre as ocupações que mais empregam em

números absolutos no campo esteja o serviço doméstico, seguido da ocupação de

pedreiro (LAURENTI; DEL GROSSI, 2000).

2.3. Capital social e cooperativismo

Este capitulo permite a identificação do que é capital social e cooperativismo, atividades

que se utilizadas podem trazer benefícios aos produtores familiares.

2.3.1. Capital Social

Fukuyama (1996) conceitua o capital social como um conjunto de normas informais que

promovem a cooperação entre dois ou mais indivíduos. Para o autor, as normas que

constituem o capital social podem variar desde simples normas de reciprocidade entre

dois amigos até doutrinas complexas e elaboradas, como o cristianismo ou o

confucionismo. Logo, é da existência e do compartilhamento dessas normas que surgem

a confiança e as redes entre indivíduos.

As interações que ocorrem dentro de um território podem ser fontes de capital social,

capital que é a base das relações de confiança, que permitem a viabilização das

interações entre os membros do território. Para Sabourin e Teixeira (2002) os princípios

de confiança mútua permitem:

Minimizar a incerteza comportamental associada a práticas oportunistas;

Eliminar os custos contratuais vinculados à montagem de arranjos que

incorporam mecanismos defensivos de monitoração das condutas;

14

Page 20: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Otimizar a divisão do trabalho no âmbito da rede, adequando-se as escalas de

produção e evitando-se a duplicação de esforços;

Viabilizar as transferências de informações de natureza tácita.

Muls (2008) escreve que as relações familiares, de vizinhança, de amizade e

profissionais podem constituir formas latentes de capital social. Essas relações passam

por um conjunto de normas, crenças e valores sociais que são específicos daquela

sociedade e, como tal, podem ser consideradas como instituições locais.

Coleman (1988), apud Costa e Costa (2005), diferencia 4 formas de capital social:

Tipo 1: vínculos fortes, através da família, comunidade e religião. Fornece a

segurança necessária para facilitar as transações no mercado.

Tipo 2: Frequentação da mesma escola, igreja, cidade,...

Tipo 3: Mesma cultura (normas existentes).

Tipo 4: Relações recorrentes de mercado.

Segundo Lin et al. (2001), apud Albagli e Maciel (2004), o capital social propicia

benefícios como:

Maior facilidade de compartilhamento de informações e conhecimentos, bem

como custos mais baixos, devido às relações de confiança, espírito cooperativo,

referências socioculturais e objetivos comuns;

Melhor coordenação de ações e maior estabilidade organizacional, devido a

processos de tomada de decisão coletivos;

Maior conhecimento mútuo, ampliando a previsibilidade sobre o comportamento

dos agentes, reduzindo a possibilidade de comportamentos oportunistas e

propiciando maior compromisso em relação ao grupo.

Outro benefício é a redução dos custos de procura de parceiros, ao se formar alianças

com aqueles com os quais já se mantém uma relação transacional. Assim, se torna mais

fácil o relacionamento entre os elos dentro de uma cadeia produtiva, tornando-a mais

competitiva no mercado (CORREA e SILVA, 2006).

15

Page 21: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

2.3.2. Cooperativismo

O cooperativismo possui sete princípios que são as linhas orientadoras por meio das

quais as cooperativas levam os seus valores à prática. Foram aprovados e utilizados na

época em que foi fundada a primeira cooperativa do mundo, na Inglaterra, em 1844. São

eles (OCB - ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2008):

1º - Adesão voluntária e livre - as cooperativas são organizações voluntárias, abertas a

todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como

membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas.

2º - Gestão democrática - as cooperativas são organizações democráticas, controladas

pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na

tomada de decisões.

3º - Participação econômica dos membros - os membros contribuem equitativamente

para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse

capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros destinam os

excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades:

Desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da criação de

reservas, parte das quais, pelo menos será, indivisível;

Benefícios aos membros na proporção das suas transações com a cooperativa; e

Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros

4º - Autonomia e independência - as cooperativas são organizações autônomas, de

ajuda mútua, controladas pelos seus membros.

5º - Educação, formação e informação - as cooperativas promovem a educação e a

formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma

que estes possam contribuir, com eficiência, para o desenvolvimento das suas

cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de

opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.

16

Page 22: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

6º - Intercooperação - as cooperativas servem de forma mais eficaz aos seus membros

e dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das

estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.

7º - Interesse pela comunidade - as cooperativas trabalham para o desenvolvimento

sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.

Uma cooperativa é um modelo de estrutura organizacional, do qual se originam

sociedades constituídas sob a forma democrática para atingir fins específicos, ou seja,

associação de pessoas, regida por princípios de igualdade no que se refere à

propriedade, gestão e repartição de recursos (CAMARGO, 1960).

Cooperar é mais do que se organizar em cooperativas, é sobretudo um valor que se

transforma em um importante recurso para superar as dificuldades decorrentes da

insuficiência de políticas públicas, especialmente agrária e agrícola, que possibilitem ao

trabalhador rural produzir e reproduzir-se no campo (SPAROVEK, 2003).

Para Rios (1976), embora a fórmula organizacional cooperativa tenha se generalizado

no Brasil e no mundo, cada experiência torna-se específica e condicionada pelo tempo

histórico em que se desenvolve, pelo regime econômico-político, pelo estágio

tecnológico da sociedade, pela capacidade organizativa e política e pela ação concreta

dos sujeitos.

No Brasil, não é de hoje que o cooperativismo rural tem sido visto como mecanismo de

modernização da agricultura, estratégia de crescimento econômico ou instrumento de

mudança social. Para Schneider (1981), o cooperativismo rural brasileiro tem procurado

harmonizar as dimensões econômicas, sociais e culturais do processo de

desenvolvimento do país, independentemente das condições estruturais concretas às

quais ele se sobrepõe.

2.4. Territórios da Cidadania

O programa Territórios da Cidadania foi lançado em fevereiro de 2008 pelo Ministério

do Desenvolvimento Agrário. É uma iniciativa do Governo Federal para concentrar suas

17

Page 23: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

ações em regiões e sub-regiões onde os esforços realizados não são suficientes para

garantir as necessidades básicas da população (MDA, 2008).

Os objetivos principais do Programa são (TERRITÓRIOS DA CIDADANIA, 2009):

Diminuição da pobreza e a geração de trabalho e renda no meio rural;

Favorecimento do desenvolvimento econômico equilibrado dos territórios;

Melhoria da qualidade de vida e da garantia de direitos e cidadania;

Universalização dos programas básicos de cidadania por meio de táticas de

desenvolvimento territorial sustentável.

A participação social e a integração de ações entre Governo Federal, estados e

municípios é fundamental para o sucesso do programa. Para Humberto Oliveira,

secretário de Desenvolvimento Territorial do MDA no segundo mandato do Governo

Lula, o programa foi criado para combater as desigualdades entre as regiões

metropolitanas, as grandes e médias cidades e o interior do Brasil, que vivem distante

das oportunidades de desenvolvimento econômico e de acesso a políticas públicas de

qualidade (MACHADO, 2008).

O programa é resultado da soma de políticas públicas coordenadas, investimentos

financeiros e de participação popular. Como exemplo, o MDA (2006) indica que não

basta financiar a construção de um laticínio em uma região desprovida de eletricidade

suficiente para fazer funcionar os equipamentos, ou de estradas para escoar a produção,

antes, é necessário suprir a região com a eletrificação e as estradas. Por essa razão, o

programa envolve 15 Ministérios.

Existem 120 territórios da Cidadania distribuídos em todos os estados brasileiros. Esses

territórios possuem em comum os menores Índices de Desenvolvimento Humano

(IDH)2 do País. Caracterizam-se também por serem um conjunto de municípios

organizados pelo mesmo perfil, a partir de características sociais, econômicas,

ambientais e culturais, que constituem uma identidade territorial de baixo dinamismo 2 O IDH é uma medida comparativa de riqueza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros fatores para os diversos países do mundo. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população (PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 1999).

18

Page 24: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

econômico e altas taxas de pobreza. Esses territórios apresentam baixa atividade

econômica e grande concentração de agricultores familiares e assentados, beneficiários

do Programa Bolsa Família (TERRITÓRIOS DA CIDADANIA, 2010).

Fonte: MDA (2008).

19

Page 25: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Figura 2. Territórios rurais apoiados pela SDT/MDA no Brasil.

Em 2008, primeiro ano do programa territórios da Cidadania, foram beneficiados cerca

de mil municípios com 135 ações de desenvolvimento regional e de garantia de direitos

sociais. Nas 958 cidades em que o programa chegou em 2008, viviam 24 milhões de

pessoas, sendo 7,8 milhões de habitantes da área rural. Entre os beneficiários de

programas sociais do governo federal, havia 1 milhão de agricultores familiares, 319,4

mil famílias assentadas da Reforma Agrária, 2,3 milhões de famílias beneficiárias do

Bolsa Família, 350 comunidades quilombolas, 149 terras indígenas e 127,1 mil famílias

de pescadores (TERRITÓRIOS DA CIDADANIA, 2010).

A importância da agricultura familiar no Brasil e as dificuldades encontradas por esse

setor para se modernizar e adaptar-se a evolução cada vez mais rápida da economia,

justificam amplamente a criação do programa de Territórios da Cidadania. Para o MDA,

o desenvolvimento desse setor, assim como dos outros setores rurais desfavorecidos,

como quilombolas e aldeias, passa por uma ação coordenada das atividades locais.

Assim, as decisões de investimento dos recursos públicos destinados à área rural, nos

municípios de um território, passam por uma avaliação e uma seleção feita por um

Colegiado territorial, constituído de representantes de todos os municípios e oriundos,

em paridade, do setor público e da sociedade civil. Só podem ser apoiados projetos

aprovados antes pelo Colegiado. Além de uma organização participativa local, que

facilita o desenvolvimento de projetos adaptados aos territórios, o sucesso do programa

passa por uma boa articulação dentro do MDA. Para isso, o programa Territórios da

Cidadania está sendo administrado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial -

SDT do MDA (MDA, 2009).

O enfoque territorial implica no desenvolvimento endógeno e na autogestão. As regiões

mais carentes de desenvolvimento são exatamente aquelas que apresentam os mais altos

índices de analfabetismo e que sofrem, desde muito tempo, processos de exclusão

social, de migração e de desqualificação dos serviços públicos. Essas regiões estão

dentre as mais pobres do País (GARBIN e SILVA, 2006).

Para facilitar a divulgação das informações levantadas nos 37 Territórios da Cidadania o

MDA criou o Sistema de Gestão Estratégico (SGE). O SGE é uma ferramenta que a

20

Page 26: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

SDT/MDA disponibiliza para que os Colegiados Territoriais e os diferentes gestores da

Política de Desenvolvimento Territorial qualifiquem seu próprio desempenho a partir da

gestão de informações e de processos de comunicação. Por meio do SGE organiza-se e

administra-se a informação necessária aos processos de tomada de decisão no

desenvolvimento sustentável dos Territórios rurais. Sua estrutura inclui processos que

vão desde a gestão do programa, dos projetos apoiados pela secretaria até a gestão do

Colegiado Territorial, de modo a envolver todos os atores que participam da rede de

gestão social. (SGE/MDA, 2010).

O SGE é estruturado a partir dos fluxos de informações que partem e chegam aos

Territórios, vindos de entidades parceiras, organizações sociais, instituições regionais,

estaduais e federais. Esta informação é processada e recebe valor agregado por meio das

ferramentas computacionais e de comunicação regressando aos atores territoriais, de

onde se concretiza sua função de apoio à gestão, acompanhamento e controle social dos

processos da política territorial (MDA, 2010).

Território da cidadania da Reforma

No estado do Mato Grosso do Sul existem quatro territórios da cidadania, Da Reforma,

Grande Dourados, Cone Sul e Vale do Ivinhema (Figura 3).

21

Page 27: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Fonte: MDA (2009)Figura 3. Territórios da Cidadania que existem no estado do Mato Grosso do Sul.

O Território Da Reforma abrange uma área de 38.498,00 Km² e é composto por 11

municípios: Anastácio, Bela Vista, Bonito, Dois Irmãos do Buriti, Guia Lopes da

Laguna, Jardim, Maracaju, Nioaque, Terenos, Bodoquena e Sidrolândia. A população

total do território é de 230.739 habitantes, dos quais 59.653 vivem na área rural, o que

corresponde a 25,85% do total. Esse território possui 8.505 agricultores familiares,

9.019 famílias assentadas, 5 comunidades quilombolas e 6 terras indígenas. Seu IDH

médio é de 0,75 (TERRITÓRIOS DA CIDADANIA, 2010).

A tabela n°1, a seguir apresenta todos os municípios que formam o território, bem como

a distância para a capital e o seu ano de criação. Entre os Territórios da Cidadania do

Mato Grosso do Sul, o da Reforma é aquele com o maior numero de agricultores

familiares. As dificuldades de comercialização dos produtores aumentam pelo fato de

ser o território mais isolado e com maior dificuldade de escoamento de produção.

Tabela n°1: Municípios que formam o Território da Reforma e ano de criação.

Município Ano de CriaçãoDistância até

Campo Grande(Km)

Nioaque 18 de julho de 1890 177

22

Page 28: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Maracaju 07 de Julho de 1928 157Sidrolândia 11 de dezembro 1953 64Terenos 11 de dezembro de 1953 23Guia Lopes da Laguna 11de Dezembro de 1953 233Anastácio 18 de Março de 1964 128Dois Irmãos do Buriti 13 de novembro de 1.987 98Bela Vista 03 de outubro de 1908 322Bodoquena 13 de maio de 1980 253Bonito 24 de fevereiro de 1927 297Jardim 11 de dezembro de 1991 238

Fonte: SEPLANCT – MS (2005). A tabela n°2 apresenta o IDH-M dos municípios do

Território Da Reforma. O IDH-M- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal do

território é de 0,736 e está abaixo do índice estadual que é de 0,778, abaixo também ao

da capital do estado Campo Grande, que é 0, 814, mas acima da média brasileira, que é

de 0, 699. Dos três indicadores utilizados para compor o IDH-M, a renda é o indicador

que apresenta os menores valores e leva o IDH-M do território para baixo. Ao analisar

os índices de renda de cada município percebe-se que estes acompanham os índices do

território ficando abaixo dos indicadores estadual e nacional. Em todos os índices

analisados nota-se que o município de Dois Irmãos do Buriti é o que apresenta os

menores índices do território.

Tabela n°2:Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), composto pela média dos índices de Longevidade, Educação e Renda:

Município IDH-MIDH-M por componente

Longevidade

Educação Renda

Anastácio 0, 724 0,718 0,830 0,626DoisIrmãosdoBuriti 0, 686 0,668 0,803 0,688GuiaLopesdaLaguna 0, 755 0,768 0,810 0,688Maracaju 0, 781 0,792 0,859 0,692Nioaque 0, 715 0,746 0,799 0,601Sidrolândia 0, 759 0,754 0,845 0,678Terenos 0, 736 0,721 0,829 0,642Território 0, 736 0,750 0,830 0,650Estado 0, 778 0,751 0,864 0,718País 0, 766 0,727 0,849 0,723

Fonte: IBGE (2000)

Hoje o Território da Reforma tem como principal atividade econômica a bovinocultura

de corte e o cultivo de lavouras temporárias e mais recentemente, em alguns municípios

da região começaram a ser implantados projetos de assentamentos para reforma agrária

pelo INCRA e por isso o território recebeu o nome de território da Reforma.

23

Page 29: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

3. METODOLOGIA

A pesquisa começou com uma revisão bibliográfica, destinada à busca de artigos e

pesquisas relacionadas à agricultura familiar, ruralidade, Territórios da Cidadania,

capital social e cooperativismo.

Entre as informações fornecidas pelo SGE foram utilizadas especificamente aquelas

encontradas no Sistema de Informações Territoriais. Este ambiente armazena dados

relativos à situação dos territórios. Seu conteúdo é baseado em indicadores econômicos,

sociais, ambientais, institucionais, culturais e políticos que permitem a descrição das

diferentes dimensões dos Territórios. Essas informações dão suporte aos diagnósticos

territoriais em todos os níveis de gestão, desde o Territorial até o Federal. Os

indicadores e informações foram agregados em dois componentes:

Pesquisa Avançada: reúne um conjunto de indicadores estatísticos que

permitem a descrição e caracterização dos Territórios dentro de um sistema de

consulta interativa, que proporciona aos usuários as possibilidades de selecionar

os Territórios ou áreas temáticas de consulta – populacional, social, econômica,

ambiental e política institucional – como também utilizar um conjunto de

relatórios já estabelecidos no sistema.

Indicadores de Desenvolvimento: formados pelo Índice de Desenvolvimento

Sustentável dos Territórios rurais, uma medida de desenvolvimento que

considera as dimensões econômica, populacional, ambiental, institucional e

cultural e outros indicadores como Índice de Condições de Vida, Capacidades

Institucionais e de Identidade que em conjunto informa quanto a tipologia

territorial, aprofundamento das transformações institucionais e alcance das ações

executadas.

A pesquisa utilizou os resultados dos Índices de Condições de Vida. O questionário de

Índice de Condições de Vida foi aplicado a uma amostra probabilística de famílias no

Território (Tabela n°3). Seu objetivo foi de criar um indicador que permita estabelecer

24

Page 30: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

condições diferenciais quanto à qualidade de vida na percepção das famílias rurais,

particularmente de agricultores familiares.

Tabela n°3: Amostra do Território da Reforma.

As perguntas do questionário permitem coletar dados relativos ao perfil familiar, fontes

de renda, educação, participação em associações, variáveis objeto da pesquisa de

Iniciação Científica.

Análise qualitativa dos dados obtidos no questionário de Índice de Condições de Vida

(ICV).

Análise do perfil familiar dos agricultores familiares entrevistados: Origem

dos produtores, idade dos produtores, número de pessoas no domicilio.

Análise das fontes de renda dos agricultores familiares entrevistados: Perfil

da propriedade em geral, área das propriedades, mão de obra utilizada pelos

produtores familiares, cultura cultivada pelos produtores familiares.

Análise da educação dos agricultores familiares entrevistados: Um dos

fatores que podem favorecer a implantação de novas oportunidades produtivas é

o grau de escolaridade, por isso uma das variáveis mais importantes para a

caracterização do perfil do produtor familiar foi à escolaridade.

Análise da participação em associações dos agricultores familiares

entrevistados: Importância do cooperativismo, existência de dependência entre

os produtores do município, em caso de dependência, percepção desta pelos

produtores, existência de capital social e de relações de confiança entre os

produtores.

25

Page 31: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

4. RESULTADOS E ANÁLISES

Nesse capitulo são apresentados os resultados obtidos de acordo com os

questionários aplicados no projeto do CNPQ. Foram caracterizadas a idade dos

produtores, formação, renda, produção agropecuária e associativismo.

4.1.Caracterização geral das pessoas entrevistadas

Do total de 250 pessoas entrevistadas 61 % eram do sexo masculino e 39% do sexo

feminino. A maioria dos entrevistados era homem e chefe de família como observado na

Figura 4.

Figura 4. Posição familiar das pessoas entrevistadas no Território da Reforma, MS, Em

2011.

O Censo Agropecuário 2006, realizado pelo IBGE (2007), revela que 14% dos

estabelecimentos familiares do país eram dirigidos por mulheres, enquanto na

agricultura não familiar esta participação não chegava a 7 %. Entre as pessoas ocupadas

na agricultura familiar, 2/3 eram homens, mas o número de mulheres era expressivo

com 4,1 milhões de pessoas. Em média, um estabelecimento familiar no Brasil tinha

1,75 homens e 0,86 mulheres de 14 anos ou mais.

26

Page 32: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

A Figura 5 indica a distribuição dos entrevistados no Território da Reforma entre

agricultores familiares, agricultores não familiares e moradores da área rural que não

produzem. Produtores não familiares são aqueles que não se enquadraram nos requisitos

da Lei 11.326, podendo conter produtores patronais e pequenos produtores que por

algum motivo não se enquadraram em um dos requisitos da Lei.

Figura 5. Distribuição das pessoas entrevistadas no Território da Reforma, MS, em

2011.

No Mato Grosso do Sul, segundo o Censo Agropecuário 2006 (IBGE, 2007) o número

de estabelecimentos da agricultura familiar é de 41.104, o que corresponde a 63% dos

imóveis rurais do Estado. Esses estabelecimentos são responsáveis por 46% do pessoal

ocupado no meio rural, ou 97.431 pessoas. Há 30 milhões de brasileiros que vivem no

meio rural. Se constituísse um país, seria o quadragésimo mais populoso do mundo e o

terceiro da América do Sul, atrás do Brasil e da Argentina. No meio rural brasileiro um

terço das pessoas economicamente ativas esta ocupada em atividades não agrícolas

(IBGE, 2007).

27

Page 33: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Entre os Territórios da Cidadania do Mato Grosso do Sul, o território da reforma é

aquele com o maior numero de agricultores familiares (Tabela 4).

Territórios

Agricultores

Familiares Pescadores Quilombos Indígenas

Cone Sul 4,172 312 0 9

Vale do Ivinhema 6,906 190 0 1

Da Reforma 8,505 564 5 6

Grande

Dourados

7,337 405 2 8

Tabela n°4: Número de agricultores familiares nos territórios da cidadania do Mato

Grosso do Sul.

Fonte: MDA (2010)

28

Page 34: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

A maioria das famílias entrevistadas no território era composta por 3 ou 4 pessoas

(Figura 6). De acordo com os dados existentes em nível nacional, o tamanho médio das

famílias diminuiu entre 1995 e 2005, de 3,9 e 3,4 componentes (IBGE, 2006).

Figura 6. Numero de pessoas que faziam parte da família e moravam nos

estabelecimentos entrevistados, no Território da Reforma, MS, em 2011.

4.2 Idade das pessoas entrevistadas no Território da Reforma.

A maioria dos entrevistados tinha entre 25 e 44 anos, idade onde a mão-de-obra pode

ser considerada como a mais ativa. Por outro, lado observam-se poucas pessoas abaixo

de 24 anos de idade. Algumas das explicações possíveis são a busca dos jovens pelo

ensino superior na área urbana e o desinteresse dos jovens pelas atividades agrícolas. A

maioria dos filhos de produtores no meio rural não quer seguir a profissão do pai e

busca oportunidades na cidade.

29

Page 35: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Figura 7. Idade das pessoas entrevistadas no Território da Reforma, MS, em 2011.

A partir da Figura 8 nota-se um baixo numero de jovens na área rural para todas as

categorias de pessoas entrevistadas. Esse resultado pode justificar-se pelo fato dos

jovens que não produzem no campo ou não conseguem sua subsistência no

estabelecimento buscar oportunidades fora do estabelecimento em busca de uma renda

melhor.

A proporção de produtores familiares acima de 60 anos é superior às outras duas

categorias. Nessa faixa etária, o potencial de produção diminui e parte dessas pessoas

são aposentados que permaneceram no campo.

Outra observação importante é a pequena proporção de produtores familiares em

relação às outras duas categorias na faixa etária de 25 a 44 anos, faixa etária em que a

capacidade de trabalho é maior. Essa situação é preocupante e não favorece o

desenvolvimento dessa atividade.

30

Page 36: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Figura 8. Idade das pessoas entrevistadas no Território da Reforma, MS, em 2011,

divididos em categorias.

A sucessão na agricultura familiar não acontece mais de forma natural, ou espontânea.

Está se tornando cada vez mais a “última opção”, um fardo para os jovens (FERRARI et

al., 2004). Spanevello (2008) questiona a importância das condições econômicas e

sociais necessárias para os jovens se tornarem dispostos à sucessão. Alguns autores

indicam que os filhos de agricultores capitalizados ou consolidados têm mais chances de

ficar no campo por que não sofrem o mesmo desgaste que os agricultores familiares em

capitalização ou descapitalizados. No entanto, outros autores indicam que o nível

econômico não é determinante para decidir se o jovem vai ficar ou não. Essa posição vai

de acordo com o exemplo apresentado por Abramovay et. al. (1998), onde em áreas de

agricultores capitalizados os jovens saem por que possuem maior contato com a área

urbana, seja para estudar ou para lazer. Já em áreas com agricultores familiares

descapitalizados, os jovens saem por razões mais tradicionais como a busca de uma

alternativa de renda, trabalho assalariado, seguido ou não do abandono dos estudos

(BUAINAIN et al., 2003).

Filhos de agricultores capitalizados podem aderir ao trabalho dos pais pela atual

condição de vida que desfrutam. Essa decisão funciona como uma projeção do que

possivelmente apresenta uma opção de futuro. Já os filhos de agricultores

descapitalizados não vêm outra saída a não ser o trabalho no campo, escolha em função

da falta de opção (SILVESTRO et al., 2001).

31

Page 37: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Os não produtores e produtores não familiares na faixa etária acima de 60 anos foram

encontrados em menor numero que produtores familiares nessa idade. Apesar do mundo

rural poder servir de lugar de moradia para pessoas idosas, os resultados indicam uma

realidade diferente no território pesquisado. Os idosos que não produzem preferem sair

do campo. Entre os motivos que podem explicar essa situação, é possível citar a

comodidade e o conforto no meio urbano, assim como a maior facilidade de acesso a

saúde, aspecto importante para idosos, que precisam de maiores cuidados.

A comunidade rural aparece como abandonada pelos jovens, cada vez mais velho e com

predominância de pessoas do sexo masculino. A agricultura familiar no território da

Reforma esta ocupada por pessoas mais velhas. Em nível brasileiro, na agricultura

familiar pessoas com 10 anos ou mais de experiência representam 62% dos produtores.

Os estabelecimentos dirigidos por pessoas com menos de 5 anos de experiência

representam apenas 20% da agricultura familiar.

Os dados da Figura 8 parecem indicar que a agricultura não familiar é mais atrativa para

os jovens, principalmente nos estabelecimentos patronais, podendo se justificar pelo

fato de serem produtores capitalizados, despertando o interesse dos filhos em dar

continuidade no empreendimento, o que pode explicar a predominância de pessoas de

25 a 44 anos. Uma outra explicação é que na agricultura não familiar foram incluídos

muitos produtores com situação similar aos produtores familiares, mas com atividades

fora de suas terras, em função das necessidades de complemento de renda. No caso das

pessoas mais velhas, elas conseguiram aposentadoria, o que diminui as necessidades de

buscar uma renda complementar fora do campo. Como a aposentadoria não é

considerada na percentagem de renda para classificação do agricultor familiar, ao

contrario dos outros tipos de renda, pessoas mais velhas foram consideradas como

produtores familiares e não as mais jovens.

4.3 Formação

Nesse Item foram avaliados vários pontos em relação ao nível de formação e educação

dos entrevistados, um dos fatores que pode favorecer a implantação de novas

oportunidades produtivas.

32

Page 38: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

De acordo com relatório da UNESCO (órgão das Nações Unidas para educação, ciência

e cultura) (2010), a educação ajuda a combater a pobreza e capacita as pessoas com o

conhecimento, habilidades e a confiança que precisam para construir um futuro melhor.

Um ano extra de escolaridade aumenta a renda individual em até 15% e aumenta a

média anual do PIB nacional em 0,37%. Para efeitos comparativos, nos Estados Unidos

esse percentual é de 10%. Para o nível superior, esse prêmio é ainda maior no Brasil

chegando a 18,7 % em média de incremento da renda individual para cada ano de

estudo. (SCHAEFFER, 2012)

Conforme Schultz (1975), pessoas com maior nível educacional conseguem lidar de

uma maneira melhor com os mais diferentes tipos de mudanças, como modificações no

ambiente econômico decorrentes, por exemplo, de uma crise.

A principal causa da desigualdade brasileira é a má distribuição de renda, o que influi

diretamente no crescimento do mercado interno e na formação da cidadania. Por essa

razão a desigualdade tem sido uma das causas da evasão escolar, pois o jovem é

induzido a ingressar no mercado de trabalho para contribuir para a renda familiar. (A.T.

RIZZI, 2009).

Entre os 11 milhões de pessoas da agricultura familiar, existem pouco mais de 4

milhões de pessoas de 14 anos ou mais que declararam não saber ler e escrever. (IBGE,

2009).

Em relação ao nível de escolaridade dos entrevistados dentro do território da Reforma,

foi perguntado se todos os membros da família maiores de 15 eram alfabetizados, 85%

dos maiores de 15 anos responderam que sim, são alfabetizados.

Quando se comparam os produtores familiares e os não familiares (Figura 9), os não

familiares são mais alfabetizados. Vários fatores permitem entender esse resultado,

como a condição financeira, geralmente melhor nos agricultores não familiares,

principalmente patronais, que para os produtores familiares.

Os produtores patronais na maioria das vezes possuem renda suficiente para pagar

funcionários, o que diminui a necessidade da ajuda dos filhos nas atividades

agropecuárias do estabelecimento, sobrando mais tempo para educação. Os produtores

33

Page 39: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

familiares necessitam da mão-de-obra dos filhos, obrigando estes a deixar de lado a

educação para focar-se nas atividades agrícolas. A educação dos filhos dos produtores

deve ser considerada muito importante, pois filhos com um nível de escolaridade

melhor que a dos pais poderão atingir situações melhores, e no caso de produtores

agrícolas, adotarem tecnologias mais avançadas.

Figura 9. Percentagem de membros da família maior de 15 anos alfabetizados no

território da Reforma, MS em 2011.

Dos 250 estabelecimentos entrevistados, 91% dos adolescentes em idade escolar

estavam matriculados. Entre os produtores familiares essa porcentagem era ainda maior,

com 96% (Figura 10). Esse resultado pode se justificar pela exigência do governo que

obriga todas as crianças e adolescentes em idade escolar estarem regularmente

matriculados, requisito para participar e receber o beneficio do programa bolsa-família.

A porcentagem dos produtores não familiares é um pouco menor, com 90%. Motivo que

também explica isso é que nos não familiares têm produtores mais pobres que nos

familiares, aqueles que necessitam trabalhar fora para complementar a renda, e por isso

são considerados não familiares.

A presença de escolas de ensino fundamental e médio em boa parte das localidades

onde foram realizadas as entrevistas pode explicar a alta taxa de escolaridade dos

34

Page 40: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

jovens. Muitos adolescentes já passaram o nível de escolaridade dos pais, que na

maioria não completaram o ensino fundamental.

Figura 10. Adolescentes com idade escolar, matriculados entre os entrevistados no

Território da Reforma, MS em 2011.

Entre os produtores familiares entrevistados, 79% não possuíam o ensino fundamental

completo, contra 77% dos produtores não familiares (Figura 11). Essas percentagens

são muito altas, mas no passado a importância dos estudos e a facilidade em estudar

eram bem diferentes. O pai queria que o filho ajudasse nas atividades do campo, sem

preocupação com os estudos. Os produtores do território da Reforma têm um nível de

formação e escolaridade baixo, mas esse nível esta melhorando entre os jovens, com a

grande maioria alfabetizada e regularmente matriculada.

Produtores com maior nível de escolaridade conseguem alcançar combinações mais

eficientes de insumo e produto. Levando isso em consideração, Welch (1978) definiu

que o tamanho ideal da produção esta diretamente relacionado ao nível de educação.

Produtores rurais com maior nível de escolaridade possuem conhecimentos mais

apurados, em comparação aos demais, que podem ser utilizados na administração de

empreendimentos maiores.

35

Page 41: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Hoje, a percepção da importância de um bom nível de escolaridade é muito maior do

que no passado. A educação é um fator de grande importância, pois permite as pessoas

adotar tecnologias mais modernas e complexas e atingir melhores níveis de produção e

renda.

Figura 11. Adultos com o ensino fundamental completo, entrevistados no Território da Reforma, MS, em 2011.

Apesar do nível baixo de escolaridade, 47% das pessoas entrevistadas responderam que

consideravam o nível de escolaridade dos membros de suas famílias como bom (Figura

12). Esse resultado pode-se justificar pela falta de visão critica e o fato do nível de

escolaridade das pessoas entrevistadas ser baixo, o que impede que elas tenham uma

visão clara de sua situação e aumenta a dificuldade de compreender a importância da

educação.

36

Page 42: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Figura 12. Percepção das pessoas entrevistadas sobre a escolaridade dos membros das famílias no Território da Reforma, MS, em 2011.

Nos últimos anos, a educação do campo tem conquistado lugar na agenda política das

instâncias Municipal, Estadual e Federal. Fruto das demandas dos movimentos e

organizações sociais dos trabalhadores rurais, a educação do campo expressa uma nova

concepção quanto ao campo, o camponês ou o trabalhador rural, fortalecendo o caráter

de classe nas lutas em torno da educação. A educação no campo valoriza os

conhecimentos das práticas sociais dos camponeses e enfatiza o campo como lugar de

trabalho, moradia, lazer, sociabilidade, identidade, enfim, como lugar da construção de

novas possibilidades de reprodução social e de desenvolvimento sustentável. (SOUZA,

M.A. 2006). 

É possível afirmar que a educação do campo se fortalece por meio de uma rede social,

composta pelos sujeitos coletivos que trabalham com a educação do campo e que dela

se aproximam. Nessa rede é possível encontrar ONGs, universidades, secretarias

estaduais e municipais de Educação, movimentos sindicais, movimentos e organizações

sociais, centros familiares de Formação de Alternância. (SOUZA, M.A. 2006). 

Embora a concepção de educação do campo se fortaleceu nos últimos anos, a situação

pedagógica e de infraestrutura nas escolas públicas ainda é bastante precária. Por um

lado, em muitos estados as escolas passaram por um processo de nucleação, de política

municipal e/ou estadual de fechamento de escolas e abertura ou fortalecimento de

37

Page 43: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

escolas localizadas numa área central, entre bairros ou vilas rurais. Dessa forma, muitos

alunos passaram a percorrer uma distância maior entre a moradia e a escola, tendo que

ficar horas no transporte escolar. No que tange à prática pedagógica, a situação também

é precária. Os professores nem sempre têm formação escolar superior para atuar no

magistério e poucos têm acesso a bibliotecas ou materiais didáticos para desenvolver

um trabalho pedagógico que vá ao encontro da educação do campo. São problemas que

estão na pauta de reivindicações dos movimentos e organizações sociais do campo.

(SOUZA, M.A. 2006). 

4.4 Renda

Para Muller (2007), o agricultor familiar não pratica sua atividade interessado em

atingir uma taxa de lucro, contentando-se com uma renda que possibilite a reprodução

de sua unidade familiar. O autor afirma que este fato atribui à agricultura familiar uma

superioridade competitiva sobre a agricultura patronal.

Os dados do IBGE de 2000 (2000) apontam um número de 32.177 domicílios no

território. Este número representa 5,6% do total dos domicílios do estado. Do total de

domicílios do território, 29% encontram-se em situação de pobreza3, contra 21,8% no

estado. Todos os municípios do território da Reforma apresentam índice pior que a

média estadual, com índices que variam de 24,5% em Maracaju até 38,5% em Guia

Lopes (MDA, 2006).

O município de Maracaju é responsável por 38% da renda mensal gerada no território,

seguido por Sidrolândia, onde este índice é de 31%. A renda total mensal gerada pelos

municípios que formam o Território da Reforma corresponde a 3% da renda total gerada

no estado. Nos outros municípios a geração de renda varia de 7% em Dois Irmãos do

Buriti, até 22% em Anastácio (MDA, 2006).

Os municípios de Maracaju e Sidrolândia se destacam com índices de renda mais

elevados, seja em renda per capta, em renda total ou na renda obtida a partir da

produção animal e vegetal. O município de Maracaju tem uma economia forte calcada

na produção de grãos e na bovinocultura de corte e conta com algumas agroindústrias 3 Os domicílios em situação de pobreza são aqueles com saneamento inadequado e cujos responsáveis

têm renda de até um Salário Mínimo por mês e frequentaram escola por menos de quatro anos.

38

Page 44: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

instaladas. O município de Sidrolândia faz divisa com Campo Grande, capital do estado

que é o maior centro consumidor (MDA, 2006).

A partir da Figura 13 é possível perceber que 41% dos entrevistados do território da

Reforma consideraram como regular sua renda familiar, 38% como boa e 21% muito

boa. Esses resultados indicam certa satisfação com a renda da família, apesar dos

resultados negativos em comparação com outras regiões do estado.

Figura 13. Percepção da situação de renda das famílias entrevistadas no Território da

Reforma, MS, em 2011.

O Território da Reforma tem como principal atividade econômica a bovinocultura de

corte e o cultivo de lavouras temporárias, como soja e milho, o que confirma as

informações da Figura 14, onde 29% dos entrevistados afirmaram serem pouco variadas

às fontes de renda, tendo a atividade agropecuária como fonte principal.

39

Page 45: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Figura 14. Percepção da variação das fontes de renda das pessoas entrevistadas no

Território da Reforma, MS, em 2011.

O Território da Reforma ocupa uma área de 2.057.934 hectares, que corresponde a 6,7%

da área do Estado. As atividades que ocupam maior área no território são a pecuária,

com 79%, seguida das lavouras temporárias, com 14,3%, ou seja um total de 93,3% da

área do território. Se somado o valor correspondente à área utilizada pela produção

mista, ou seja de lavouras temporárias e pecuária, o índice de utilização da terra atinge o

valor de 99,2% da área produtiva do território. Estes dados mostram a importância

dessas atividades para a economia do território. A maioria da estrutura de produção,

transformação e comercialização esta estabelecida para atender essas atividades. As

lavouras permanentes ocupam uma parte irrisória do território, com somente 0,1% das

áreas produtivas e a silvicultura 0,2% (MDA, 2006).

Os municípios que têm os maiores índices de geração de renda, Maracaju e Sidrolândia,

são os que têm mais trabalhadores nas empresas formais, e apresentam índices mais

elevados de trabalhadores nos estabelecimentos rurais, 17% e 16% respectivamente.

Terenos é o município que apresenta a maior porcentagem de trabalhadores em

estabelecimentos rurais, com 25% (MDA, 2006).

40

Page 46: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

A figura 15 indica que 97% dos produtores familiares conseguem se manter com

produção agropecuária própria, enquanto que 60% dos produtores não familiares

entrevistados buscam complementar sua renda com trabalhos agropecuários para

terceiros.

Um dos motivos que pode explicar a alta porcentagem de produtores não familiares no

trabalho para terceiros é o fato da má classificação do agricultor familiar. Um dos

requisitos da lei é que 80% da renda seja oriunda do próprio estabelecimento, o que

significa, para um pequeno produtor que não consegue sua subsistência no próprio

estabelecimento e busca por outra fonte de renda, de ser classificado como produtor não

familiar.

Muitos entrevistados diversificam suas fontes de renda e trabalham em seu

estabelecimento e complementam sua renda fora. Assim, apesar de pequenos

produtores, não podem ser considerados produtores familiares pelo fato de não atender a

um dos requisitos da lei, fato que permite questionar a adequação da classificação.

Figura 15. Renda provinda de atividades agrícolas das pessoas entrevistadas no

Território da Reforma, MS, em 2011.

41

Page 47: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

A Figura 16 evidencia a participação dos entrevistados em programas do Governo,

como financiamento de custeio, investimento e comercialização. A participação foi

maior para os agricultores familiares, com 40%. Pouco mais de 40% dos entrevistados

afirmaram que as condições para participar desses programas eram muito complicadas,

devido ao processo burocrático.

O acesso ao crédito financeiro necessita a elaboração de um projeto, com documentação

da propriedade legalizada, onde muitos não têm a escritura da terra. A burocracia junta

com o tempo necessário para o deslocamento até a cidade são alguns dos problemas que

levam muitos produtores a desistirem de participar desses programas.

A participação dos produtores familiares é maior, o que pode se explicar pelos

numerosos programas específicos para agricultura familiar, como PRONAF, PAA,

PNAE.

Figura 16. Participação das pessoas entrevistadas em programas do Governo, dentro do

Território da Reforma, MS, em 2011.

42

Page 48: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

No Brasil, mais de 1,7 milhões de produtores familiares declararam ter recebido outra

receita além daquela obtida no estabelecimento, especialmente as advindas de

aposentadorias ou pensões (65%) e salários com atividade fora do estabelecimento

(24%). O valor médio anual da renda foi de R$ 4,5 mil para os agricultores familiares,

fortemente influenciado pelas aposentadorias e pensões, com valor médio mensal de R$

475,27. Mais de R$ 5,5 bilhões chegaram aos produtores familiares por meio de

aposentadorias, pensões e programas especiais dos governos em 2006 (MDA 2006).

Nota-se que no território a realidade não é muito diferente, 27% dos produtores

familiares entrevistados têm renda provinda de aposentadorias e programas do governo.

Figura 17. Origem da renda, provinda de atividades não agrícolas das pessoas

entrevistadas no Território da Reforma, MS, em 2011.

4.5 Produção Agropecuária

Cerca de 1/3 do agronegócio brasileiro é atribuído à produção agropecuária realizada

pelos agricultores familiares, com taxas de crescimento igual ao do segmento patronal.

O Sul do Brasil é a região que mais sobressai na produção familiar. Em 2004, o PIB do

agronegócio familiar nacional atingiu R$ 181 bilhões, dos quais cerca de 44%, ou R$ 80

43

Page 49: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

bilhões, estavam concentrados na região Sul. O segmento familiar é também importante

no Nordeste e no Sudeste. Por outro lado, a região Centro-Oeste é ocupada a mais de

80% pelo agronegócio ligado à atividade patronal.

A quase totalidade dos produtores familiares entrevistados no território da Reforma, ou

94%, produz para duas finalidades, consumo e venda (Figura 18). Os produtores

conseguem atender a subsistência do domicilio com a produção, como no caso do

milho, usado como alimento para vários animais, como suínos, bovinos e aves, e na

comercialização, como fonte de renda, ou o leite, usado para a alimentação da família e

a comercialização.

No caso dos produtores não familiares, 49% utilizam a produção para consumo e venda,

mas 30% produzem apenas para a comercialização, característica de produtores não

familiares, especificamente patronal, baseadas em grandes propriedades, voltadas para

exportação e com o uso de tecnologias de ponta.

Figura 18. Finalidade da produção dos produtores entrevistados no Território da

Reforma, MS, em 2011.

44

Page 50: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

A Figura 19 indica que 50% dos entrevistados responderam que as condições de acesso

aos mercados eram boas e 14% ótimas. Existe um grande número de propriedades da

agricultura familiar que estão integradas no sistema de produção do território através de

sistemas de integração de cadeias produtivas. A suinocultura e a criação e abate de aves

são as que mais utilizam a estrutura da agricultura familiar para se abastecer. (MDA,

2006)

Os produtos da agricultura familiar abastecem principalmente os mercados locais e o

excedente é comercializado principalmente na capital do estado, que recebe

hortifrutigranjeiros e outros produtos. Os produtos oriundos da agricultura familiar no

território sofrem pouca transformação e quando isso acontece, geralmente não é feita

por indústrias controladas pelos produtores. Em consequência, estes não têm acesso a

um preço diferenciado pelos produtos comercializados, ficando apenas na categoria de

produtor, sem poder tomar decisão sobre o que acontece com seus produtos após a saída

da propriedade.

Em sua maioria, as indústrias instaladas no território estão voltadas para as áreas de

esmagamento de soja, açúcar e álcool, criação e abate de aves, frigoríficos e laticínios.

O sistema de transformação existente atende principalmente a bovinocultura de corte, a

produção de lavouras temporárias e as cadeias integradas de aves e suínos. A oferta de

matéria prima que compõe a fabricação de ração fez com que indústrias de

processamento de suínos e aves viessem se instalar na região, principalmente em

Sidrolândia. Outro fator que facilitou a vinda de agroindústrias para a região é a

concentração de mão-de-obra mais barata que nos estados do sul, de onde geralmente

vêm as grandes indústrias.

45

Page 51: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Figura 19. Percepção dos entrevistados quanto às condições de acesso aos mercados no

Território da Reforma, MS, em 2011.

Apesar das dificuldades de comercialização dos produtores do território da reforma,

pelo fato de ser o território mais isolado e com maior dificuldade de escoamento de

produção, 75% dos entrevistados responderam que a venda de seus produtos era boa,

mostrando muita satisfação. Alguns municípios fazem fronteira ou estão bem próximo a

capital do estado, o que facilita a comercialização e pode justificar essa grande

satisfação. Municípios mais distantes deste grande centro têm, em sua maioria, como

atividade principal a bovinocultura de corte. As estruturas montadas para atender a

produção da agricultura familiar naqueles municípios não atende a todos e a presença do

“atravessador” ainda é grande na comercialização dos produtos. Mesmo se não pague

sempre o preço justo, o atravessador compra a produção, garantindo a venda dos

produtos, outro motivo que pode explicar a alta satisfação das pessoas entrevistadas.

O produtor familiar do território aponta a existência forte da figura do atravessador, que

geralmente compra os produtos diretamente nas propriedades rurais. Existem

experiências isoladas no território de produtores que conseguem comercializar

diretamente para o consumidor final, através da venda de porta em porta. Porém, esta

46

Page 52: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

iniciativa não pode ser copiada ou duplicada por outros produtores que estão em

municípios mais distantes dos grandes centros.

4.6 Associativismo

Pequenos produtores podem se beneficiar de economia de escala quando colaboram

entre si. Apesar desse beneficio é importante lembrar que a eficácia das organizações de

produtores é muitas vezes limitada por restrições legais, baixa capacidade de

administração e dificuldade do estado em reconhecer os pequenos produtores como

parceiros. (VILPOUX, 2011).

No mundo, a maioria das organizações de pequenos produtores não funciona

satisfatoriamente, muitas vezes devido ao fato dos contratos serem mais comuns com

grandes do que com pequenos produtores, pois esses últimos preferem arranjos

informais, onde a existência previa de capital social representa papel relevante. Os

pequenos produtores dificilmente participam de relações contratuais, preferindo o

mercado local, ou seja, um mercado pontual, sem compromissos entre vendedores e

compradores. (VILPOUX, 2011).

Uma característica da agricultura familiar no território é a falta de organização entre os

produtores. Predomina a visão individualista onde cada produtor procura o melhor

comprador e preço para seus produtos. Na Figura 20, 78% dos produtores familiares

afirmaram nunca ter vendido seus produtos para cooperativas ou associações, enquanto

89% dos produtores não familiares disseram o mesmo.

No caso dos produtores familiares, uma das explicações possíveis é a forte presença de

atravessadores. Outra característica observada é o pouco conhecimento do agricultor

familiar sobre o que acontece com seu produto após a venda. Uma justificativa utilizada

para vender ao atravessador é que este garante a compra de seu produto, mesmo

pagando um preço baixo.

Em relação aos produtores não familiares, principalmente patronais, a produção é

voltada para economia de escala e com volumes maiores de produtos. Nesse caso, as

próprias empresas entram em contato com o produtor, garantindo a compra da

produção, reduzindo o interesse do produtor na venda por meio de atravessadores,

cooperativas ou associações.

47

Page 53: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Algumas associações existentes no território, como a Associação Buritiense de

Criadores de Frango Caipira, comercializam a produção através de venda direta aos

consumidores ou a grandes redes de supermercados de Campo Grande, principal destino

dos produtos vindos da propriedade da agricultura familiar do território, principalmente

daqueles municípios que estão mais próximos a capital.

Figura 20. Venda dos produtos dos entrevistados por meio de cooperativas ou

associações no Território da Reforma, MS, em 2011.

Na pergunta sobre a atuação das instituições e organizações no território (Figura 21),

76% responderam que era de regular a ótima. Apesar da baixa participação, o agricultor

familiar possui uma boa imagem de instituições e organizações no território. O fato dos

produtores familiares atuarem de maneira isolada, não terem um espaço comum para a

tomada de decisões em associações e muitas vezes nem saber da existência de

organizações a sua volta, podem ter sido alguns dos motivos que influenciaram nesse

resultado.

Os assentamentos estão na origem de várias organizações no território, que começaram

a surgir desde os acampamentos. Praticamente todos os assentamentos têm sua

associação e em alguns é comum a existência de várias com o mesmo propósito.

48

Page 54: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

Interesses políticos e a falta de diálogo no sentido de se ter um objetivo comum, é o que

geralmente motiva o surgimento de tantas associações. O agricultor familiar procura se

organizar conforme seus interesses, porém o interesse econômico é o que mais têm

motivado a associação entre eles. Quando a atividade econômica que motivou a criação

da entidade não corresponde às expectativas para a qual foi criada, a tendência é que

aconteça um esvaziamento na participação dos seus membros.

Figura 21. Percepção das pessoas entrevistadas sobre a atuação de instituições e

organizações no Território da Reforma, MS, em 2011

A cooperação entre os produtores é muito limitada e se reduz a participação em

associações que possuem papel limitado e na organização de festas. Essa fragilidade

pode explicar parte das dificuldades de organização dos produtores.

.

49

Page 55: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

5. Considerações finais

Na pesquisa realizada foi possível observar que embora a agricultura familiar esteja

inserida nas definições do que é um agricultor familiar, tanto no estado do Mato Grosso

do Sul como no Brasil há universo profundo e heterogêneo da agricultura familiar, o

qual inclui desde famílias que tem as condições mínimas de subsistência até famílias

com melhores dotações de recursos, acesso a tecnologia, organização, dentre outros.

Nesse aspecto é necessário reconhecer as diferenças dos agricultores familiares, e tratá-

los como de fato o são, ou seja, distintos entre si, não redutíveis a uma única forma

simplesmente por utilizarem predominantemente o trabalho familiar. E de modo geral,

os resultados da pesquisa mostram que é necessário mais políticas voltadas à agricultura

familiar no Brasil visando dar mais condições a essa categoria para desenvolverem suas

atividades e trazerem melhores resultados econômicos e sociais para o país.

Da mesma forma em Mato Grosso do Sul, devido sua importância estratégica no papel

social e na geração de riqueza da própria economia do Estado, a agricultura familiar

carece de muita mais atenção por parte do Governo e das empresas, pois ao comparar o

grau de desenvolvimento da agricultura familiar com a patronal no Território da

Reforma, mesmo sob adversidades enfrentadas pelos agricultores familiares, como os

problemas de terras e capital, dificuldades no financiamento, baixo acesso à tecnologia e

fragilidade da assistência técnica, o peso da agricultura familiar na geração de renda e

emprego no estado é representativo e não perdeu sua força nos últimos anos. Dessa

forma, apesar das transformações e exigências de um mercado cada vez mais

competitivo, a agricultura familiar consegue sobreviver e responder, de diferentes

formas, a essas perspectivas.

A pesquisa identificou que muitos entrevistados diversificam suas fontes de renda,

trabalham em seu estabelecimento e complementam sua renda fora. Assim, apesar de

pequenos produtores, não podem ser considerados produtores familiares pelo fato de

não atender a um dos requisitos da lei, fato que permite questionar a adequação da

classificação. Um dos requisitos da lei para ser considerado um produtor familiar é que

80% da renda seja oriunda do próprio estabelecimento, o que não permite a

classificação de um pequeno produtor que não consegue sua subsistência no próprio

50

Page 56: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

estabelecimento e busca por outra fonte de renda, de ser classificado como produtor

familiar.

Observa-se que há uma evasão dos jovens do campo incentivada pela falta de

oportunidades, a comunidade rural aparece abandonada pelos jovens. O fato de o

território apresentar uma grande quantidade de pessoas acima dos 40 anos e que não

conseguem sua própria subsistência, faz com que muitos produtores têm renda provinda

de aposentadorias e programas do governo.

Uma característica da agricultura no território é a visão individualista onde cada

produtor procura o melhor comprador e preço para seus produtos, apesar de participar

de uma associação, possui o seu espaço próprio, transformando sua produção em

empreendimento isolado.

O nível de escolaridade das pessoas entrevistadas no território é baixo, o que às vezes

impede uma visão mais clara de sua situação, aumentando a dificuldade de compreender

a importância da educação, mas fica evidente o aumento da percepção da geração atual

sobre a importância da educação das gerações futuras.

Conteúdo

ÍNDICE DE CONDIÇÕES DE VIDA (ICV) NO TERRITÓRIO DA CIDADANIA DA REFORMA........................................................................................................................................................... 1

CAMPO GRANDE - MS......................................................................................................................... 1

SUMÁRIO......................................................................................................................................... 2

LISTA DE FIGURAS........................................................................................................................ 3

LISTA DE TABELAS........................................................................................................................ 4

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 1

TERRITÓRIO DA CIDADANIA DA REFORMA........................................................................................21

3. METODOLOGIA........................................................................................................................ 23

NOS ÚLTIMOS ANOS, A EDUCAÇÃO DO CAMPO TEM CONQUISTADO LUGAR NA AGENDA POLÍTICA DAS INSTÂNCIAS MUNICIPAL, ESTADUAL E FEDERAL. FRUTO DAS DEMANDAS DOS MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DOS TRABALHADORES RURAIS, A EDUCAÇÃO DO CAMPO EXPRESSA UMA NOVA CONCEPÇÃO QUANTO AO CAMPO, O CAMPONÊS OU O TRABALHADOR RURAL, FORTALECENDO O CARÁTER DE CLASSE NAS LUTAS EM TORNO DA EDUCAÇÃO. A EDUCAÇÃO NO CAMPO VALORIZA OS CONHECIMENTOS DAS PRÁTICAS SOCIAIS DOS CAMPONESES E ENFATIZA O CAMPO COMO LUGAR DE TRABALHO, MORADIA, LAZER, SOCIABILIDADE, IDENTIDADE, ENFIM, COMO LUGAR DA CONSTRUÇÃO DE NOVAS POSSIBILIDADES DE REPRODUÇÃO SOCIAL E DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. (SOUZA, M.A. 2006)...........................................................................................37

51

Page 57: Índice de Condições de Vida (ICV) no Território da Cidadania da Reforma

EMBORA A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO SE FORTALECEU NOS ÚLTIMOS ANOS, A SITUAÇÃO PEDAGÓGICA E DE INFRAESTRUTURA NAS ESCOLAS PÚBLICAS AINDA É BASTANTE PRECÁRIA. POR UM LADO, EM MUITOS ESTADOS AS ESCOLAS PASSARAM POR UM PROCESSO DE NUCLEAÇÃO, DE POLÍTICA MUNICIPAL E/OU ESTADUAL DE FECHAMENTO DE ESCOLAS E ABERTURA OU FORTALECIMENTO DE ESCOLAS LOCALIZADAS NUMA ÁREA CENTRAL, ENTRE BAIRROS OU VILAS RURAIS. DESSA FORMA, MUITOS ALUNOS PASSARAM A PERCORRER UMA DISTÂNCIA MAIOR ENTRE A MORADIA E A ESCOLA, TENDO QUE FICAR HORAS NO TRANSPORTE ESCOLAR. NO QUE TANGE À PRÁTICA PEDAGÓGICA, A SITUAÇÃO TAMBÉM É PRECÁRIA. OS PROFESSORES NEM SEMPRE TÊM FORMAÇÃO ESCOLAR SUPERIOR PARA ATUAR NO MAGISTÉRIO E POUCOS TÊM ACESSO A BIBLIOTECAS OU MATERIAIS DIDÁTICOS PARA DESENVOLVER UM TRABALHO PEDAGÓGICO QUE VÁ AO ENCONTRO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO. SÃO PROBLEMAS QUE ESTÃO NA PAUTA DE REIVINDICAÇÕES DOS MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DO CAMPO. (SOUZA, M.A. 2006)........................................................................................................................ 37

A FIGURA 16 EVIDENCIA A PARTICIPAÇÃO DOS ENTREVISTADOS EM PROGRAMAS DO GOVERNO, COMO FINANCIAMENTO DE CUSTEIO, INVESTIMENTO E COMERCIALIZAÇÃO. A PARTICIPAÇÃO FOI MAIOR PARA OS AGRICULTORES FAMILIARES, COM 40%. POUCO MAIS DE 40% DOS ENTREVISTADOS AFIRMARAM QUE AS CONDIÇÕES PARA PARTICIPAR DESSES PROGRAMAS ERAM MUITO COMPLICADAS, DEVIDO AO PROCESSO BUROCRÁTICO....................................................42

O ACESSO AO CRÉDITO FINANCEIRO NECESSITA A ELABORAÇÃO DE UM PROJETO, COM DOCUMENTAÇÃO DA PROPRIEDADE LEGALIZADA, ONDE MUITOS NÃO TÊM A ESCRITURA DA TERRA. A BUROCRACIA JUNTA COM O TEMPO NECESSÁRIO PARA O DESLOCAMENTO ATÉ A CIDADE SÃO ALGUNS DOS PROBLEMAS QUE LEVAM MUITOS PRODUTORES A DESISTIREM DE PARTICIPAR DESSES PROGRAMAS.............................42

A PARTICIPAÇÃO DOS PRODUTORES FAMILIARES É MAIOR, O QUE PODE SE EXPLICAR PELOS NUMEROSOS PROGRAMAS ESPECÍFICOS PARA AGRICULTURA FAMILIAR, COMO PRONAF, PAA, PNAE..................................................................................42

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................51

IBGE CENSO AGROPECUÁRIO - AGRICULTURA FAMILIAR 2006, DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.IBGE.GOV.BR/HOME/PRESIDENCIA/NOTICIAS/NOTICIA_VISUALIZA.PHP?ID_NOTICIA=1466&ID_PAGINA=1.............................................................................................................................................................53RIZZI, Aldair. A importância da educação no Brasil.. 2009. Disponível em: http://www.parana-online.com.br/colunistas/201/73275/................................................................................55

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVAY, R.; SILVESTRO, M. L.; CORTINA, N.; BALDISSERA, I. T.,

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