adiÇÃo de Água em raÇÕes para suÍnos em crescimento … · 10 tabela 2 – coeficientes de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
ADIÇÃO DE ÁGUA EM RAÇÕES PARA SUÍNOS EM CRESCIMENTO E
TERMINAÇÃO
Autor: Leonardo Atta Farias
Orientador: Prof. Romão da Cunha Nunes
Goiânia
2010
LEONARDO ATTA FARIAS
ADIÇÃO DE ÁGUA EM RAÇÕES PARA SUÍNOS EM CRESCIMENTO E
TERMINAÇÃO
Tese apresentada para obtenção
do Grau de Doutor em Ciência
Animal junto à Escola de
Veterinária da Universidade
Federal de Goiás
Área de Concentração:
Produção Animal
Orientador:
Prof. Dr. Romão da Cunha Nunes
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. José Henrique Stringhini
Prof. Dr. Paulo César Silva
Goiânia
2010
ii
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
GPT/BC/UFG
F224a
Farias, Leonardo Atta.
Adição de água em rações para suínos em crescimento e
terminação [manuscrito] / Leonardo Atta Farias. - 2010.
67 f. : figs, tabs.
Orientador: Prof. Dr. Romão da Cunha Nunes.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás,
Escola de Veterinária, 2010.
Bibliografia.
1. Rações – Goiás (Estado) 2. Suínos I.Título.
CDU: 636.4(817.3)
iii
LEONARDO ATTA FARIAS
Tese defendida e aprovada em 21/05/2010 pela Banca Examinadora
constituída pelos professores:
iv
Aos meus pais, Reis e Conceição, e aos meus irmãos,
Marcello, Carolinne e Roberta, pelo amor, carinho, incentivo.
Fundamentais na minha vida.
A João Carlos Cardoso da Silva, colega na Pós -
graduação e um grande amigo e companheiro que fiz em
Goiânia. Muito triste ficamos com sua partida, mas o céu
muito feliz com a sua chegada.
Dedico este trabalho
v
Agradecimentos
Primeiramente a Deus por atender aos meus chamados e
permitir minhas a realizações.
Agradeço ao meu Orientador, professor Romão da Cunha
Nunes, por todo o apoio. Sempre serei grato pelos
ensinamentos, lições de vida, liderança, amizade, respeito
e credibilidade. Obrigado por me receber de braços abertos
e pela confiança depositada em mim.
Ao Professor José Henrique Stringhini, além de meu Co-
orientador, mais um amigo de quem eu possa me orgulhar.
Obrigado pela confiança, paciência, ensinamentos e idéias.
Também tenho um grande afeto pelo Professor Eurípedes
Laurindo Lopes, outro amigo que, junto aos Professores
Romão e Henrique, muito colaborou com minha formação.
Obrigado pelos ensinamentos, idéias oportunidades e
confiança.
Ao Professor Jurij Sobestiansky, agradeço todo o apoio
por ele dado, idéias, ensinamentos e oportunidades.
À Professora Alessandra Mascarenhas, agradeço toda a
colaboração, idéias e ensinamentos.
Em nome do Professor Paulo César Silva e Aldi
Fernandes, o meu muito obrigado para todos os professores
do programa, por todas as contribuições para a minha
formação.
Agradeço ao CNPq e a ABRAVES / GO, pela bolsa de
incentivo ao Doutorado e pelo patrocínio dos experimentos.
Agradeço, também, ao Professor Marcos Barcelos Café que
sempre atendeu as minhas solicitações quanto aos problemas
técnicos relacionados aos experimentos conduzidos.
À Juliana Luís e Silva, Laudicéia Oliveira da Rocha e
Cláudia, colegas de Curso e amigas, obrigado pela grandiosa
amizade, cumplicidade e empenho em todos os
vi
trabalhos.Obrigado, também, ao Paulo Ricardo Leite,
Fernanda, Janaína Santos, Anderson Mori, Raquel Oliveira e
a todos os outros amigos.
À Professora Maira Auxiliadora, que nos recebeu de
braços abertos para a condução de algumas atividades e que
nos contagiava com simpatia e bom astral. Aproveito para
mencionar a Eliete Sousa e a Gracinda Calaça, que muito
ajudaram nas atividades do Laboratório.
Ao Éder Fernandes, que sempre me atendeu e me ajudou no
Laboratório de Nutrição Animal.
À Professora Maria Clorinda Fioravantti, Gerson Luís,
Hélio Carvalho e Tiago Cortes, obrigado pelo apreço e
paciência.
Aos Professores João Batista Lopes e Luis Gustavo
Corbellini, avaliadores da Banca avaliadora, obrigado pelas
sugestões e colaborações para o manuscrito final.
À Universidade Federal do Piauí e EMBRAPA Meio Norte,
Instituições que permitiram a realização de algumas
análises laboratoriais.
Não posso deixar de mencionar o Tayrone Prado, a
Dayenne Araújo, a Lidiane Batista, a Rebeka Costa, Bárbara
Mota, Flávia Jesus, Thamara Almeida e Fernando Correia,
alunos de graduação preciosos, e que muito contribuíram com
a condução dos trabalhos.
Agradeço também ao Seu Francisco e Seu Antônio Idalino,
que muito me ajudaram nos experimentos.
Enfim, a todos que me acolheram no âmbito da Escola de
Veterinária e a todos que de alguma forma contribuíram para
esta realização, o meu...
...muito obrigado!
vii
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS................................................................................... ix
LISTA DE FIGURAS.................................................................................... xi
RESUMO .................................................................................................... xii
ABSTRACT................................................................................................. xiii
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS............................................. 01
REFERÊNCIAS........................................................................................... 04
CAPÍTULO 2 – ADIÇÃO DE ÁGUA EM RAÇÕES PARA SUÍNOS EM CRESCIMENTO ......................................................................................... 06
RESUMO..................................................................................................... 06
ABSTRACT.................................................................................................. 07
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 08
2 MATERIAL E MÉTODOS......................................................................... 09
2.1 Local e período...................................................................................... 09
2.2 Ensaio de metabolismo.......................................................................... 09
2.3 Ensaio de desempenho......................................................................... 11
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 13
4 CONCLUSÕES......................................................................................... 18
REFERÊNCIAS........................................................................................... 19
CAPÍTULO 3 – ADIÇÃO DE ÁGUA EM RAÇÕES PARA SUÍNOS EM TERMINAÇÃO............................................................................................. 21
RESUMO..................................................................................................... 21
ABSTRACT.................................................................................................. 22
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 23
2 MATERIAL E MÉTODOS......................................................................... 25
2.1 Local e período...................................................................................... 25
2.2 Ensaio de metabolismo.......................................................................... 25
2.3 Ensaio de desempenho......................................................................... 27
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 29
4 CONCLUSÕES......................................................................................... 35
REFERÊNCIAS........................................................................................... 36
CAPÍTULO 4 – PROLIFERAÇÃO DE FUNGOS EM DIETAS LÍQUIDAS PARA SUÍNOS NA FASE DE TERMINAÇÃO............................................ 38
RESUMO..................................................................................................... 38
ABSTRACT.................................................................................................. 39
viii
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 40
2 MATERIAL E MÉTODOS......................................................................... 42
2.1 Local e período...................................................................................... 42
2.2 Procedimento Técnico........................................................................... 42
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 45
4 CONCLUSÕES......................................................................................... 50
REFERÊNCIAS........................................................................................... 51
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................... 53
ix
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 2
TABELA 1 – Composição centesimal e conteúdo nutricional da ração....... 10
TABELA 2 – Coeficientes de digestibilidade da matéria seca, da proteína bruta, da energia bruta, do extrato etéreo e coeficientes de metabolização da energia bruta, coeficiente de disponibilidade do cálcio e do fósforo de rações contendo diferentes níveis de água adicionados em suínos na fase de crescimento.............................................................. 13
TABELA 3 – Nitrogênio retido, energia digestível e energia metabolizável de rações contendo diferentes níveis de água adicionados em suínos na fase de crescimento..................................................................................... 15
TABELA 4 – Água de bebida, umidade das fezes, nitrogênio fecal e fósforo fecal em suínos na fase de crescimento recebendo rações contendo diferentes níveis de água adicionados em suínos na fase de crescimento.................................................................................................. 16
TABELA 5 – Desempenho de suínos na fase de crescimento alimentados com rações contendo diferentes níveis de água adicionados.................................................................................................. 17
CAPÍTULO 3
TABELA 1 – Composição centesimal e conteúdo nutricional da ração....... 26
TABELA 2 – Coeficientes de digestibilidade da matéria seca, proteína bruta, energia bruta, extrato etéreo, coeficiente de metabolizabilidade da energia bruta, coeficiente de disponibilidade do cálcio e do fósforo de rações contendo diferentes níveis de água adicionados em suínos na fase de terminação...................................................................................... 30
TABELA 3 – Nitrogênio retido, energia digestível e energia metabolizável de rações contendo diferentes níveis de água adicionados em suínos na fase de terminação................................................................................................... 31
TABELA 4 – Água de bebida, umidade das fezes, nitrogênio fecal, cálcio fecal e fósforo fecal em suínos na fase de terminação em função de rações contendo diferentes níveis de água adicionados em suínos na fase de terminação...................................................................................... 32
TABELA 5 – Desempenho de suínos na fase de terminação alimentados com rações contendo diferentes níveis de água adicionados.................................................................................................. 33
TABELA 6 – Rendimento de carcaça, comprimento de carcaça e espessura de toucinho de suínos na fase de terminação, alimentados com rações contendo diferentes níveis de água adicionados.................................................................................................. 34
x
CAPÍTULO 4
TABELA 1 – Composição centesimal e conteúdo nutricional das rações.......................................................................................................... 43
TABELA 2 – Valores médios, em logaritmo, de UFC / g de ração para suínos na fase de terminação, sem e com antifúngico, segundo diferentes diluições com água e em diferentes tempos de armazenamento, e variáveis estatísticos referentes às rações sem e com antifúngico.................................................................................................... 45
xi
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 4
FIGURA 1 - UFC fúngicas, em logaritmo, em ração sem antifúngico com igual adição de água, para suínos na fase de terminação, segundo o tempo de armazenamento .......................................................................... 47
FIGURA 2 - UFC fúngicas, em logaritmo, em ração sem antifúngico com o dobro de adição, para suínos na fase de terminação, segundo o tempo de armazenamento..................................................................................... 47
FIGURA 3 – UFC fúngicas, em logaritmo, em ração com antifúngico com o dobro de adição, para suínos na fase de terminação, segundo o tempo de armazenamento...................................................................................... 48
xii
ADIÇÃO DE ÁGUA EM RAÇÕES PARA SUÍNOS EM CRESCIMENTO E
TERMINAÇÃO
Autor: Leonardo Atta Farias
Orientador: Professor Romão da Cunha Nunes
RESUMO
Foram realizados três experimentos, sendo o primeiro e o segundo conduzidos
para avaliar os efeitos da adição de água em rações fareladas na
digestibilidade de nutrientes e energia, no desempenho, na ingestão de água e
na qualidade dos dejetos em suínos na fase de crescimento e terminação
(realizou-se a avaliação de características de carcaça), respectivamente, e, por
fim, um último experimento objetivando avaliar a proliferação de fungos em
dietas de suínos em terminação com diferentes graus de adição de água e em
diferentes tempos de armazenagem. As variáveis analisadas nos dois primeiros
experimentos foram coeficientes de digestibilidade e de metabolização de
nutrientes e energia, o balanço do nitrogênio, os teores de umidade, nitrogênio
e fósforo fecais, variáveis de desempenho. Para o segundo experimento foi
avaliado também características de carcaça, após o abate. No terceiro
experimento, foi avaliado o número de unidades formadoras de colônias
fúngicas nas dietas com e sem o uso de antifúngico e em diferentes tempos de
armazenagem. A adição de água em rações de suínos na fase de crescimento
e terminação não influencia a digestibilidade aparente dos nutrientes da dieta,
nem o desempenho dos animas quando o arraçoamento é realizado duas
vezes ao dia. Ocorre diminuição da ingestão de água de bebida, redução na
excreção de fósforo e não influencia na composição da carcaça. A adição de
água nas dietas de suínos na fase de terminação incrementa a produção de
fungos. Com o passar do tempo de armazenagem há o aumento da produção
dos fungos.
PALAVRAS – CHAVE: dietas, digestibilidade, desempenho, fermentação,
ração
xiii
ADDITION OF WATER TO FEED FOR SWINES AT GROWING AND
FINISHING PHASES
Author: Leonardo Atta Farias
Guiding: Professor Romão da Cunha Nunes
ABSTRACT
In this research, three experiments were conducted. The first and the second
ones were conducted to evaluate the effects of adding water to mash rations on
nutrient digestibility, energy performance, water intake and excrement quality of
pigs at the growing and finishing phases(the evaluation of carcass traits was
performed), respectively. Finally, a last experiment was carried out to evaluate
the proliferation of fungi in the diets of finishing pigs with different levels of water
addition and at different storage times. The variables analyzed in the first two
experiments were nutrients and energy digestibility and metabolism, nitrogen
balance, moisture rate, fecal nitrogen and phosphorus, and performance
variables. For the second trial, the carcass traits were also evaluated after
slaughtering. In the third experiment, the number of fungal colony-forming units
in the diets was evaluated with and without the use of antifungal and at different
storage times. The addition of water to pig diets at growing-finishing phases
does not influence the apparent nutrient digestibility, or the performance of the
animals when they are fed twice a day. There is a reduction of fresh water
intake, and of phosphorus excretion. Carcass composition was not affected.
The addition of water to the diets of pigs in the finishing phase increases the
production of fungi over storage time.
Keywords: diets, digestibility, fermentation, performance, ration
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS
A alimentação dos animais chega a atingir, segundo YAGÜE (2007), 65 a
67 % do custo total de produção, e com base neste dado, várias pesquisas
vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de minimiza-los, visando melhorar a
viabilidade econômica do sistema de produção, principalmente o de suínos.
Nesse sentido, tem-se a alternativa do sistema de alimentação líquida
que, de acordo com PENZ JÚNIOR & LÜDKE (1996), é caracterizado pela
diluição de ingredientes sólidos em componentes líquidos, que podem ser a
água, o soro de leite, os resíduos da indústria do álcool de cereais, da indústria
de cervejaria, da industrialização da soja, da cana ou de outros alimentos. Os
autores afirmam que a utilização de alimentos úmidos como milho, seja colhido
úmido ou preparado na forma de silagem, outros grãos preparados dessa
forma ou polpas de tubérculos ou resíduos da transformação de alimentos para
consumo humano também podem ser classificados como componente líquido.
De acordo com TRIGUEROS (1996) e TORRALLARDONA (2003), a
alimentação líquida tem sido utilizada na Europa, principalmente na Inglaterra
Dinamarca e Espanha, para suínos nas fases de crescimento e engorda, pela
melhoria de índices de desempenho e saúde intestinal, quando comparados
com animais que ingerem ração seca.
SHURSON (2009) relata que a crescente popularidade da utilização de
sistemas de alimentação líquida na América do Norte vem sendo direcionada
pelos preços extremamente elevados dos alimentos sólidos convencionais,
aumento na disponibilidade e baixo custo de sub-produtos líquidos da produção
de biocombustíveis. Os sistemas de alimentação líquida proporcionam
inúmeras vantagens no desempenho, saúde e bem estar animal em
comparação com os sistemas de fornecimento de alimentos sólidos.
Dentre os benefícios desse sistema de alimentação incluem-se a
utilização de subprodutos da indústria de alimentos, efeitos positivos sobre a
microbiota gastrintestinal do animal pelo favorecimento de microrganismos
simbióticos, uma alternativa para se elevar o consumo de ração na fase inicial
e melhoria do desempenho, com reflexos no ganho de peso e conversão
alimentar, além do conforto ambiental provocado pela redução do pó (JENSEN
& MIKKELSEN, 1998; SCHOLTEN et al., 2002; CANIBE & JENSEN, 2003).
2
LANGE et al. (2006) destacam, ainda, vantagens potenciais de alimentação
líquida sobre o arraçoamento tradicional, como a melhora da saúde intestinal, a
utilização de co-produtos de baixo custo da indústria de alimentos e de álcool e
flexibilidade e facilidade do arraçoamento.
A respeito da saúde intestinal, esse sistema de alimentação pode reduzir
no ambiente a proliferação e excreção de bactérias patogênicas como Yersinia
spp., Salmonella spp. e Escherichia coli, refletindo na redução da
administração de medicamentos para os animais (BEAL et al., 2002; BRAUN &
LANGE, 2004; FARZAN et al., 2006).
Outras vantagens do sistema de alimentação de suínos com dietas
líquidas são descritas na literatura, destacando-se a secagem reduzida de
alguns ingredientes da ração, o que reduz as perdas de colheita e de
armazenamento; facilidade no arraçoamento duas ou três vezes ao dia;
diminuição do custo da ração com emprego de subprodutos da indústria de
transformação de alimentos; promoção de condições mais apropriadas para o
uso de probióticos e ou a ação das enzimas nas dietas, além da possibilidade
de diminuição da poluição ambiental causada pelos suínos, pois esse sistema
inclui a utilização mais adequada dos nutrientes pelos animais, reduzindo o
volume de dejetos (PENZ JÚNIOR & LÜDKE, 1996; BROOKS et al., 2003).
No entanto, algumas dificuldades existem no uso do sistema de
alimentação líquida, tais como: mecanização e automatização da alimentação,
dificuldade de compatibilizar a técnica da alimentação líquida com as reais
necessidades nutricionais dos suínos; encontrar a diluição ideal, que depende
dos ingredientes utilizados e da participação de cada um deles nas dietas. Em
relação aos minerais com granulometria muito grossa e com solubilização
lenta, há possibilidade da decantação precoce, podendo causar desequilíbrio
na composição da dieta e, conseqüente, redução no ganho de peso. LIZARDO
(2003) relata que o sistema de alimentação líquida requer investimento
significativo de instalação e operação, e exige mão de obra especializada.
De acordo com CANIBE & JENSEN (2003), existem dois tipos de
alimentação líquida para suínos. Os autores consideram a alimentação não
fermentada como a mistura de alimento seco com líquido, imediatamente antes
do fornecimento para o animal e a fermentada, como uma mistura de alimento
3
seco com líquido armazenada em ambiente controlado por determinado
período antes do fornecimento para o animal.
A esse respeito LAWLOR et al. (2002), citam vantagens da alimentação
líquida fermentada sobre a não fermentada, justificando que o efeito da
fermentação leve da dieta é benéfico ao animal, em função do equilíbrio entre o
pH da dieta e do ambiente intestinal em função dos altos níveis de bactérias
lácticas, leveduras e ácido láctico produzidos.
Segundo LONGLAND (1991) e JENSEN & MIKKELSEN (1998), alimentos
líquidos fermentados e acidificados oferecerem vantagens para o desempenho
de suínos, pelo fato do pH da dieta ser geralmente de 4,0 a 4,5, o que ajudará
a controlar a população de microrganismos nocivos e a promover a digestão de
proteínas no estômago.
O emprego de alimentação líquida ainda depende de alguns estudos para
confirmar a sua viabilidade. Porém, quando existem situações de
disponibilidade de grãos úmidos, de resíduos da alimentação, de resíduos
líquidos de laticínios, cervejaria, este procedimento pode ser apropriado. Daí a
necessidade do conhecimento do comportamento dos nutrientes de uma ração
seca umedecida com a água, pois, de posse desse saber, o pesquisador terá
subsídios reais sobre digestibilidade dos nutrientes de uma dieta líquida, em
que o diluente possa constituir uma fonte energética, protéica, mineral ou
vitamínica.
Diante do que foi exposto, este trabalho foi conduzido com o objetivo de
avaliar, em suínos nas fases de crescimento e terminação alimentados com
rações com diferentes graus de adição de água, a digestibilidade da energia e
nutrientes das rações, o desempenho, o consumo de água de bebida dos
animais e a composição dos dejetos dos animais, as características de carcaça
de suínos na fase de terminação e o desenvolvimento de fungos em diferentes
tempos de armazenagem.
4
REFERÊNCIAS
1. BEAL, J.D.; NIVEN, S.J.; CAMPBELL, A.; BROOKS, P.H. et al. The effect of temperature on the growth and persistence of Salmonella in fermented liquid pig feed. International Journal of Food Microbiology, v. 79, n. 1-2, p. 99-104, 2002.
2. BRAUN, K.; LANGE, K. Liquid swine feed ingredients: Nutritional quality and contaminants. In: ANAC Eastern Nutrition Conference, 2004, Ottawa. Anais… Ottawa, 2004.
3. BROOKS, P.H.; BEAL, J.D.; NIVEN, S. Liquid feeding of pigs. I. Potential for reducing environmental impact and for improving productivity. Animal Science Papers and Reports, v.21, suppl., p.1-7, 2003.
4. CANIBE, N.; JENSEN, B.B. Fermented and nonfermented liquid feed to growing pigs: Effect on aspects of gastrointestinal ecology and growth performance. Journal of Animal Science, v.81, p.2019-2031, 2003.
5. FARZAN, A.; FRIENDSHIP, R.M.; DEWEY, C.E.; WARRINER, K.; POPPE, C.; KLOTINS, K. et al. Prevalence of Salmonella spp. on Canadian pig farms using liquid or dry-feeding. Preventive Veterinary Medicine, v. 73, n. 3, p. 241-254, 2006.
6. JENSEN, B.B.; MIKKELSEN, L.L. Feeding liquid diets to pigs. In: GARNSWORTHY, P.C.; WISEMAN, J. Recent advances in animal nutrition. Nottingham: Univ. Press Nottingham, U.K., 1998. p.107-126.
7. LANGE, C.F.M.; ZHU, C.H.; NIVEN, S.; COLUMBUS, D.; WOODS, D. Swine liquid feeding: Nutritional Considerations. In: WESTERN NUTRITION CONFERENCE, 2006, Winnipeg. Anais… Winnipeg, 2006.
8. LAWLOR, P. G.; LYNCH, P.B.; GARDINER, G.E.; Caffrey, P.J.; O’Doherty, J.V. Effect of liquid feeding weaned pigs on growth performance to harvest. Journal of Animal Science, v.80, p.1725-1735, 2002.
9. LIZARDO, R.R.G. Alimentación líquida del ganado porcino. In: JORNADAS DE ALIMENTACIÓN LÍQUIDA DEL GANADO PORCINO. Anais...Tarragona, p. 19-29, 2003.
10. LONGLAND, A. C. Digestive enzyme activities in pigs and poultry. In: FULLER, M.F. (Ed.) In vitro digestion for pigs and poultry. Wallingford: CAB, 1991.
11. NOGUEIRA, E.T.; TEIXEIRA, A.O.; PUPA, J.M.R.; LOPES, D.C. Manejo nutricional e alimentação de suínos nas fases de recria e terminação. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE SUÍNOS - ABRAVES, 10, 2001, Porto Alegre. Anais… Porto Alegre: ABRAVES, 2001.
12. PENZ JÚNIOR, A. M.; LÜDKE, J.V.; Alimentação líquida para suínos em crescimento e terminação. In: II SUINOTEC – CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SUÍNOS. Anais...ITAL, Campinas-SP, p. 123-146. 1996.
5
13. SCHOLTEN, R.H.; PEET-SCHWERING, C.M.C.; HARTOG, L.A., BALK, M.; SCHRAMA, J.W.; VERSTEGEN, M.W. et al. Fermented wheat in liquid diets: effects on gastrointestial characteristics in weanling piglets. Journal Animal Science, v. 80, p. 1179–1186, 2002.
14. SHURSON, J. What we know about feeding liquid by-products to pigs. Sheffield: The pig site, 2009. Disponível em http://w ww.thepigsite.com/articles/2627/what-we-know-about-feeding-liquid-byproducts-to-pigs. Acesso em: 15 / 01/ 2010.
15. TORRALLARDONA, D. Reducción del impacto medioambiental asociado a la porcinocultura mediante la alimentación líquida. In: JORNADAS DE ALIMENTACIÓN LÍQUIDA DEL GANADO PORCINO. Anais...Tarragona, p. 57-67, 2003.
16. TRIGUEROS, R.O. Factibilidad del uso de raciones liquidas y pastosas em alimentacion de cerdos en etapa de engorde-acabado. Agronomia Mesoamericana, v. 7 n. 2 p. 69-72, 1996.
17. YAGÜE, A.P. Alimentación líquida aplicada en ganado porcino. Madri: Eumedia, n. 197, 2007. Disponível em: <http://www.eumedia.es/use r/articulo.php?id=390> Acesso em: 18/02/2010.
6
CAPÍTULO 2 – ADIÇÃO DE ÁGUA EM RAÇÕES PARA SUÍNOS EM
CRESCIMENTO
RESUMO
Para avaliação dos efeitos da adição de água em rações fareladas sobre a
digestibilidade de nutrientes e energia, desempenho, ingestão de água e
qualidade dos dejetos em suínos na fase de crescimento, foram utilizados 12
suínos machos castrados, híbridos comerciais com peso inicial de 44,0 ± 3,1
kg, para o um ensaio de digestibilidade, distribuídos em delineamento em
blocos ao acaso, baseado no peso dos animais, e 18 suínos machos
castrados, híbridos comerciais e 18 fêmeas híbridas comerciais com peso
inicial de 33,0 ± 3,5 kg, para o ensaio de desempenho, distribuídos em
delineamento inteiramente casualizado. Foi formulada uma ração para atender
as exigências dos animais a qual consistiu no tratamento um, o tratamento dois
e três consistiram da mesma ração, com a adição da mesma proporção de
água e com o dobro de água, respectivamente, sendo a unidade proporcional
utilizada o quilograma. Não houve diferença estatística entre os tratamentos
para os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca, energia bruta,
extrato etéreo, cálcio e fósforo, para as variáveis de desempenho e umidade,
nitrogênio e fósforo fecal. Em termo absolutos a redução da ingestão de água
de bebida de animais que recebem dieta líquida é de 17,81 % e a excreção de
fósforo fica reduzida em 15,4 %. A adição de água em rações de suínos na
fase de crescimento não influencia a digestibilidade aparente dos nutrientes da
dieta, nem o desempenho dos animas quando o arraçoamento é realizado
duas vezes ao dia. Ocorre diminuição da ingestão de água de bebida, o que
leva a um menor desperdício e redução a excreção de fósforo, podendo refletir
de forma positiva no volume e poder poluente dos dejetos, no ambiente.
Palavras-chave: água, dejetos, desempenho, digestibilidade, ração
7
CHAPTER 2 – ADDITION OF WATER TO RATIONS FOR PIGS AT THE
GROWING PHASE
ABSTRACT
In order to evaluate the effects of adding water to mash diets on nutrients and
energy digestibility, ,performance, water intake and quality of pig excrement at
the growing phase, 12 commercial barrows with initial weight of 44.0 ± 3.1 kg
were used. For the digestibility trial, the animals were distributed into a
randomized block design based on their weight. For the performance test, 18
barrows and 18 hybrid commercial females with initial weight of 33.0 ± 3.5 kg
were distributed into a completely randomized design. Treatment one consisted
of a diet formulated to meet the animals´ requirement . Treatments two and
three consisted of the same diet with the addition of the same proportion of
water and with the addition of the double of water, respectively, and the
proportional unit used was kg. There was no statistical difference among
treatments for the coefficients of dry matter digestibility, gross energy, ether
extract, calcium and phosphorus, and for the variables of performance,
moisture, and fecal nitrogen and phosphorus. In absolute terms, the reduction
of fresh water intake and of phosphorus excretion for animals receiving liquid
diet is 17.81 % and 15.40 %, respectively. The addition of water to pig diets at
growing phase does not influence the nutrients digestibility and the performance
of the animals when they are fed twice a day. It also reduces fresh water intake,
avoiding waste, and reduces the phosphorus excretion, reflecting positively on
the excrements volume and polluting power.
Keywords: digestibility, performance, ration, waste, water
8
1 INTRODUÇÃO
Um importante objetivo na suinocultura atual é minimizar os custos com a
alimentação dos animais, visando melhorar a viabilidade econômica final.
Nesse sentido, o sistema de alimentação líquida se constitui uma alternativa, e
os benefícios incluem a utilização de subprodutos da indústria de alimentos,
efeitos positivos sobre a microbiota gastrintestinal do animal, possibilidade de
se elevar o consumo de ração em períodos quentes melhorando o
desempenho, diminuição do desperdício de ração pela redução do pó com
reflexos na conversão alimentar e conforto animal (BERTOL & BRITO, 1995;
JENSEN & MIKKELSEN, 1998)
No entanto, existem alguns problemas no uso do sistema de alimentação
líquida, tais como a mecanização e a automatização do sistema, além de
dificuldades de compatibilizar a técnica da alimentação líquida com as reais
necessidades nutricionais dos suínos, encontrar a diluição ideal, que depende
dos ingredientes utilizados e da participação de cada um deles nas dietas e
possibilidade da ocorrência processos fermentativos (BROOKS et al., 2003).
De acordo com PENZ JÚNIOR & LÜDKE (1996), o sistema de
alimentação líquida é caracterizado pela diluição de ingredientes sólidos em
componentes líquidos como a água, o soro de leite, resíduos tanto da indústria
do álcool de cereais quanto da indústria de cervejaria, além da industrialização
da soja, da cana ou de outros alimentos. O emprego de alimentação líquida
ainda requer estudos para confirmar sua viabilidade. O conhecimento da
cinética dos nutrientes de uma ração seca umedecida com água possibilitará
ao pesquisador ter à disposição subsídios reais sobre a digestibilidade dos
nutrientes de uma dieta líquida em que o diluente possa constituir uma fonte
energética, protéica, mineral ou vitamínica.
Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar os efeitos da adição
de água em rações fareladas sobre a digestibilidade de nutrientes e energia,
bem como sobre o desempenho, a ingestão de água e a qualidade dos dejetos
em suínos na fase de crescimento.
9
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Local e período
Realizaram-se dois experimentos com suínos na fase de crescimento, um
de digestibilidade e outro de desempenho, desenvolvidos no Setor de
Suinocultura e as análises laboratoriais no Laboratório de Nutrição Animal do
Departamento de Produção Animal da Escola de Veterinária da Universidade
Federal de Goiás, nos meses de Novembro e Dezembro de 2008.
2.2 Ensaio de metabolismo
Utilizaram-se doze suínos, machos, castrados híbridos comerciais, com
peso inicial de 44,0 ± 3,1 kg, distribuídos em delineamento em blocos ao
acaso, com base no peso dos animais, com três tratamentos (níveis de água
adicionados na ração) e quatro repetições, totalizando doze unidades
experimentais. As unidades experimentais consistiram de um animal alojado
em gaiola metabólica do tipo PEKAS (1968), posicionadas em galpão de
alvenaria com cortinas e forro isotérmico.
Formulou-se uma ração farelada para atender às exigências dos animais,
conforme a categoria e de acordo com ROSTAGNO et al. (2005) e EMBRAPA
(1991), a qual consistiu no tratamento I. Os tratamento II e III consistiram dessa
mesma ração, sendo umedecida com a adição de água na mesma proporção e
com o dobro, respectivamente. A unidade proporcional utilizada foi o
quilograma. A composição centesimal, nutricional, e a energia da ração estão
apresentadas na Tabela 1.
10
TABELA 1 - Composição centesimal e conteúdo nutricional da ração
Ingrediente Composição centesimal (%)
Milho 72,13
Farelo de soja 23,97
Suplemento mineral e vitamínico1 0,45
L – lisina HCL 0,20
DL – metionina 0,03
Calcário 0,38
Fosfato bicálcico 1,65
Sal comum 0,41
Óleo vegetal 0,78
Total 100,00
Conteúdo nutricional calculado2
Energia metabolizável (kcal/kg) 3.230,00
Proteína bruta (%) 16,82
Lisina (%) 0,895
Metionina (%) 0,269
Cálcio (%) 0,631
Fósforo disponível (%) 0,332
Sódio (%) 0,180 1Quantidades por quilograma do produto: vitamina A 720.000 UI; vitamina D3 146.250 UI; vitamina E 3.037,50 mg; vitamina K3 225,00 mg; vitamina B1 112,50 mg; vitamina B2 630 mg; vitamina B6 135 mg; vitamina B12 2.362,50 mcg; niacina 3.600 mg; ácido fólico 56,25 mg; ácido pantotênico 2.100 mg; selênio 67,50 mg; bacitracina de zinco 7.500 mg; monóxido de manganês 27.000 mg; óxido de zinco 144.000 mg; sulfato de cobre 14.400 mg; sulfato de ferro 99.000 mg; iodato de cálcio 540 mg; 2base na matéria seca.
O experimento teve duração de quinze dias, sendo oito dias destinados à
adaptação dos animais às gaiolas e às dietas experimentais, e sete, destinados
ao período de coleta das fezes e de urina.
Realizou-se o arraçoamento duas vezes por dia, às sete horas, pela
manhã, e às 17 horas, no período da tarde. O fornecimento de ração durante o
período de coleta foi definido nos oito dias iniciais do experimento e tomou por
base o peso metabólico individual de cada animal (kg0,75). Adicionava-se água
à ração para cada refeição, respeitando-se a proporção nos tratamentos III e
11
III, com posterior homogeneização e fornecimento aos animais, com a água de
bebida à vontade, imediatamente, após o consumo do alimento. Assim, a água
era pesada para cálculo de consumo de água de bebida. As quantidades de
ração e de água fornecidos foram sistematicamente registradas em fichas de
controle individual.
Procedeu-se à coleta total das fezes diariamente, as quais eram retiradas,
pesadas, ensacadas, registradas e armazenadas em sacos plásticos
identificados, e congeladas. Coletava-se a urina diariamente em recipientes
plásticos com 20 ml de HCl (1:1), para evitar perda de nitrogênio e proliferação
bacteriana. As amostras eram então pesadas, registradas e homogeneizadas,
sendo retirada uma porção de 200 mL, para armazenamento sob
congelamento.
Após o período de coleta, as fezes foram descongeladas,
homogeneizadas, retirando-se uma porção de 20 % para secagem a 55 °C em
estufa de ventilação forçada por 72 horas. Procedeu-se ao descongelamento
da urina e sua homogeneização, filtragem e acondicionamento sob
refrigeração.
Realizaram-se as análises laboratoriais de cálcio e de fósforo da ração e
das fezes, bem como da matéria seca, do nitrogênio, e da energia da ração,
fezes e urina, segundo recomendações de SILVA & QUEIROZ (2002).
As quantidades de alimento fornecido, fezes e urina excretados, além dos
valores das análises laboratoriais, foram utilizados nos cálculos dos
coeficientes de digestibilidade e de metabolização dos nutrientes e da energia
descritos por SAKOMURA & ROSTAGNO (2007) e de acordo com a seguinte
fórmula: CDA = [(NI – NF) / NI] x 100; onde: CDA é o coeficiente de
digestibilidade aparente, NI é o nutriente ou energia ingeridos e NF é o
nutriente ou a energia fecal. As variáveis utilizadas para avaliar a qualidade dos
dejetos foram os teores de umidade das fezes, de nitrogênio total e de fósforo
presente nas fezes dos animais.
2.3 Ensaio de desempenho
Utilizaram-se dezoito suínos, machos, castrados, híbridos comerciais, e
dezoito fêmeas, híbridas comerciais, com peso inicial de 33,0 ± 3,5 kg,
12
distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos
(similar ao ensaio de metabolismo - níveis de água adicionados na ração) e
seis repetições, totalizando 18 unidades experimentais.
As unidades experimentais consistiram em um animal macho e uma
fêmea, alojados em baia com piso compacto e sob cobertura, dotadas de
comedouro de alvenaria e bebedouro do tipo chupeta.
Instalaram-se no galpão termo-higrômetros de mínima e de máxima, para
aferição da temperatura e da umidade interna do galpão, uma vez ao dia,
durante todo o período experimental. O sensor de captação de umidade e
temperatura foi nivelado à mesma altura dos animais em estação.
Procedeu-se ao arraçoamento duas vezes ao dia, às sete e às 17 horas,
fornecendo-se sempre quantidades suficientes para saciar os animais,
tomando-se por base as sobras nos comedouros. A ração para cada unidade
experimental era pesada em recipientes plásticos, adicionava-se água, sempre
respeitando-se a proporção nos tratamentos II e III, com posterior
homogeneização e fornecimento aos animais. Foi aplicado um programa de
biossegurança, baseado em limpeza, desinfecção, vazio sanitário e imunização
dos animais segundo recomendações de SOBESTIANSKY (2002).
Submeteram-se as sobras à perda de água em estufa de circulação forçada a
55 °C por 72 horas, para precisar a quantidade de ração seca não consumida
pelos animais.
As variáveis avaliadas no experimento foram o consumo de ração, obtido
pela soma da oferta diária de ração diminuído das sobras, o ganho de peso,
obtido pela pesagem dos animais a cada quinze dias, e a conversão alimentar,
por meio da relação consumo de ração e ganho de peso. O término do
experimento ocorreu 41 dias após o alojamento.
Os resultados de digestibilidade, de ingestão de água de bebida, de
qualidade dos dejetos e de desempenho foram submetidos à análise de
variância para a comparação de médias pelo teste Student Newman Keuls
(SAS, 2000).
13
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A temperatura e a umidade mínima e máxima durante o ensaio de
metabolismo e de desempenho foram, respectivamente, de 21,6 ± 0,9 °C e
29,2 ± 1,2 °C, 54,9 ± 5,8 % e 90,8 ± 2,3 %, 21,8 ± 0,7 °C e 30,3 ± 0,8 °C, 55,3 ±
4,9 % e 90,3 ± 3,4 %. Segundo SAMPAIO et al. (2004), a zona de conforto
térmico de animais na fase de crescimento está compreendida entre 16 e 18
ºC, faixa de temperatura ambiente aquém dos intervalos de temperatura
observados durante a pesquisa, intervalos, esses, que podem provocar nos
animais estresse calórico.
A adição de água à ração farelada não implicou em melhoria da
digestibilidade e metabolização das rações (Tabela 2).
TABELA 2 – Coeficientes de digestibilidade da matéria seca, da proteína bruta,
da energia bruta, do extrato etéreo e coeficientes de
metabolização da energia bruta, coeficiente de disponibilidade do
cálcio e do fósforo de rações contendo diferentes níveis de água
adicionados em suínos na fase de crescimento
Variável1 % Tratamentos
Significância2 CV
% I II III
Matéria seca3 87,92 86,63 88,72 0,2080 2,03
Proteína bruta3 88,83 85,01 89,12 0,1656 2,76
Energia bruta3 87,14 85,57 87,89 0,1707 2,13
Energia bruta4 81,54 82,23 84,20 0,1441 2,02
Extrato etéreo3 80,46 72,87 78,70 0,1581 5,45
Cálcio5 67,44 63,99 70,36 0,2733 4,92
Fósforo5 62,21 59,56 64,14 0,0914 4,84 1Base na matéria seca; 2não houve diferença estatística (p > 0,05); 3coeficiente de digestibilidade; 4coeficiente de metabolização; 5coeficiente de disponibilidade
Os resultados podem estar relacionados ao fato de se ter trabalhado com
dietas do tipo não fermentadas. A esse respeito LAWLOR et al. (2002) citaram
que o efeito da fermentação leve da dieta é benéfico ao animal, em função do
equilíbrio entre o pH da dieta e do ambiente intestinal com altos níveis de
14
bactérias lácticas, leveduras e ácido láctico produzidos. Foi destacado, ainda,
pelos autores, que em virtude das dietas experimentais serem do tipo não
fermentadas, elas não proporcionaram um ambiente ótimo para a ação de
enzimas pancreáticas e intestinais, além de não terem diminuído os níveis de
enterobactérias, que podem minimizar os efeitos de competição.
No entanto, SQUIRE et al. (2005), ao estudarem a digestibilidade da
energia bruta, da proteína bruta e do extrato etéreo de dietas líquidas
fermentadas e não fermentadas para suínos em crescimento, encontraram os
coeficientes de digestibilidade da energia bruta e da proteína bruta mais altos
para dietas não fermentadas, quando comparado as dietas fermentadas. Os
resultados observados no presente estudo não estão de acordo com esses
autores, que encontraram valores de 73,2 %, 82,5 % e 85,4 % para os
coeficientes de digestibilidade da proteína bruta, da energia bruta e do extrato
estéreo de dietas líquidas não fermentadas para suínos em crescimento,
respectivamente.
No entanto, algumas variáveis da TABELA 2, a exemplo dos coeficientes
de disponibilidade do fósforo e da metabolização da energia bruta, obteve-se
diferenças significativas entre, pelo menos, os tratamentos I e III, a 10 e 15 %
de significância, respectivamente. Diferenças estas, indicando melhores
valores para o tratamento III.
Apesar de não ter havido diferença estatística para as variáveis de
nitrogênio retido, energia digestível e energia metabolizável (Tabela 3),
verificou-se que a adição de água na ração na proporção 2:1 aumentou os
valores da energia metabolizável da dieta em 3,90 %, representando 150 kcal
de incremento por quilograma de ração seca em termos absolutos. Isso se
apresenta como vantagem, em virtude do alto número de animais com os quais
se trabalha na suinocultura.
15
TABELA 3 – Nitrogênio retido, energia digestível e energia metabolizável de
rações contendo diferentes níveis de água adicionados em suínos
na fase de crescimento
Variável1 Tratamentos
Significância2 CV % I II III
Nitrogênio retido (g/dia) 19,00 16,36 18,68 0,8870 2,13
Energia digestível (kcal/kg) 3881 3812 3915 0,2727 36,10
Energia metabolizável (kcal/kg) 3687 3663 3837 0,1354 38,90 1Base na matéria seca; 2Não houve diferença estatística (p > 0,05)
Não ocorreu diferença estatística significativa para as variáveis água
ingerida de bebida, umidade das fezes, nitrogênio fecal e fósforo fecal em
suínos na fase de crescimento em função de rações contendo diferentes níveis
de água adicionados (Tabela 4). No entanto, observou-se que os animais que
receberam dieta líquida apresentaram redução de ingestão de água de bebida
em até 0,57 kg, quando comparados com animais que receberam dietas sem
adição de água. Essa redução de 17,81 % certamente está relacionada ao fato
de parte da exigência diária de água ser suprida pela água adicionada às
dietas, o que faz com que o animal utilize menos o bebedouro. Esse fato é
corroborado por MURPHY & LANGE (2004) que citam que, como os animais,
recebem parte de suas exigências da água adicionada à ração, estes tendem a
reduzir o consumo de água pelos bebedouros, diminuindo o desperdício no
momento da ingestão, com reflexos no volume dos dejetos.
Pode ser observado, em valores absolutos, que animais tratados com
ração farelada seca excretaram até 0,48 g a mais de fósforo, quando
comparados com animais que receberam alimentação líquida, representando
aumento na excreção do mineral de até 15,4 %. Em relação a esse parâmetro,
reafirma-se a vantagem do sistema de alimentação líquida para o meio
ambiente, uma vez que há redução de fósforo fecal.
16
TABELA 4 – Água ingerida de bebida, umidade das fezes, nitrogênio fecal e
fósforo fecal em suínos na fase de crescimento recebendo rações
contendo diferentes níveis de água adicionados em suínos na
fase de crescimento
Variável1 Tratamentos
Significância2 CV
% I II III
Água ingerida de bebida (kg / kg
de matéria seca ingerida) 3,20 2,63 2,72 0,5861 18,88
Umidade das fezes (%) 64,13 62,97 63,84 0,7814 2,65
Nitrogênio fecal (g / dia) 2,79 2,88 2,51 0,3757 12,93
Fósforo fecal (g / dia) 3,11 3,09 2,63 0,2034 12,65 1Base na matéria seca; 2não houve diferença estatística significativa (p > 0,05)
As variáveis de desempenho não diferiram estatisticamente entre os
tratamentos (Tabela 5). Os resultados são semelhantes aos relatados por
CANIBE & JENSEN (2003), que não observaram efeito para ganho de peso
(961 e 965 g/dia, respectivamente) e conversão alimentar (2,14 e 2,22,
respectivamente), de animais alimentados com ração seca e líquida não
fermentada, mas diferiram para o consumo de ração (2.060 g e 2.140 g/dia,
respectivamente). Porém, diferente dos resultados desta pesquisa, SQUIRE et
al. (2005) relataram valores de 1.620 e 1.490 g/dia, 952 e 858 g/dia, e 1,70 e
1,73, respectivamente, para consumo de ração, ganho de peso e conversão
alimentar de animais alimentados com ração seca e líquida não fermentada,
com diferença estatística para consumo de ração e ganho de peso. Ressalva-
se, porém, que SQUIRE et al. (2005) trabalharam com animais cujo peso
médio inicial era 23,4 kg, até 48,8 kg, enquanto nesta pesquisa, as faixas de
peso utilizadas eram 33 kg e 60 kg, respectivamente, para peso inicial e peso
final, com piora dos parâmetros de desempenho, em função da idade.
17
TABELA 5 – Desempenho de suínos na fase de crescimento alimentados com
rações contendo diferentes níveis de água adicionados
Variável Tratamentos
Significância1 CV % I II III
Consumo de ração (g / dia) 2248 2366 2233 0,5182 8,46
Ganho de peso (g / dia) 985 1003 992 0,9588 10,54
Conversão alimentar 2,30 2,36 2,25 0,6750 7,96 1Não houve diferença estatística significativa (p > 0,05)
Foi constatado na ocasião do experimento que, após a oferta de ração, os
animais consumiam praticamente a totalidade do ofertado num período inferior
a trinta minutos. Isso provavelmente aumentou os movimentos peristálticos,
acarretando aumento na taxa de passagem do alimento, desfavorecendo o
melhor aproveitamento dos nutrientes das dietas umedecidas.
NOGUEIRA et al. (2001) relatam que o efeito da hidratação gera
condições mais adequadas ao processo de digestão do suíno, principalmente
quando há tempo suficiente para que o processo se desenvolva de forma
efetiva. Isso porque cada ingrediente tem cinética de hidratação específica, o
que não ocorreu neste experimento pelo fato do arraçoamento ter sido
imediatamente após a mistura da água à ração farelada, influenciando os
resultados encontrados. Portanto, o ponto que pode auxiliar no processo de
avaliação do sistema de alimentação liquida a base de água deve passar pela
utilização de programas alimentares com mais de dois horários ou momentos
de fornecimento do alimento.
18
4 CONCLUSÕES
A adição de água em rações de suínos na fase de crescimento não
influencia a digestibilidade aparente dos nutrientes da dieta, nem o
desempenho dos animas quando o arraçoamento é realizado duas vezes ao
dia. Ocorre diminuição da ingestão de água de bebida, o que leva a um menor
desperdício quando os animais vão ao bebedouro e redução na excreção de
fósforo, podendo refletir de forma positiva no volume e poder poluente dos
dejetos.
19
REFERÊNCIAS
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2. BROOKS, P.H.; BEAL, J.D.; NIVEN, S. Liquid feeding of pigs. I. Potential for reducing environmental impact and for improving productivity. Animal Science Papers and Reports, v.21, suppl., p.1-7, 2003.
3. CANIBE, N.; JENSEN, B.B. Fermented and nonfermented liquid feed to growing pigs: Effect on aspects of gastrointestinal ecology and growth performance. Journal of Animal Science, v.81, p.2019-2031, 2003.
4. EMPRESA BRASILEIRA DE PEQUISA E AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Tabela de composição química e valores energéticos de alimentos para suínos e aves. 3.ed. Concórdia: EMBRAPA - CNPSA, 1991. 97p.
5. JENSEN, B.B.; MIKKELSEN, L.L. Feeding liquid diets to pigs. In: GARNSWORTHY, P.C.; WISEMAN, J. Recent advances in animal nutrition. Nottingham: Univ. Press Nottingham, U.K., 1998. p.107-126.
6. LAWLOR, P. G.; LYNCH, P.B.; GARDINER, G.E.; CAFFREY, P.J.; O’DOHERTY, J.V. Effect of liquid feeding weaned pigs on growth performance to harvest. Journal of Animal Science, v.80, p.1725-1735, 2002.
7. MURPHY, J.; LANGE, J. Nutritional strategies to minimize nutrient output. In: BUILDING BLOCKS FOR THE FUTURE, 2004, Londres. Anais… Londres: Swine Conference, 2004. p.57.
8. NOGUEIRA, E.T.; TEIXEIRA, A. O.; PUPA, J.M.T.; LOPES, D.C. [2001]. Manejo nutricional e alimentação nas fases de recria e terminação de suínos. Diponível em: <http://www.cnpsa.embrapa.br/abraves-sc/memorias.html>. Acesso em 09/02/2010.
9. PEKAS, J.C. Versatible swine laboratory apparatus for physiologic and metabolic studies. Journal of Animal Science, v.27, n.5, p.1303-1309, 1968.
10. PENZ JÚNIOR, A. M.; LÜDKE, J.V. Alimentação líquida para suínos em crescimento e terminação. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SUÍNOS, 2, 1996, Campinas. Anais... Campinas: SUINOTEC, 1996. p. 123.
11. ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T..; DONZELE, J.L.; GOMES, P.C.; OLIVEIRA, R.F.; LOPES, D.C.; FERREIRA, A.S.; BARRETO, S.L.T. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa: UFV - DZO, 2005. 186 p.
12. SAKOMURA, N.K.; ROSTAGNO, H.S. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos. Jaboticabal: Funep, 2007, 283p.
20
13. SAMPAIO, C.A.P.; CRISTANI, J.; DUBIELA, J.A.; BOFF, C.E.; OLIVEIRA, M.A. Avaliação do ambiente térmico em instalação para crescimento e terminação de suínos utilizando os índices de conforto térmico nas condições tropicais. Ciência Rural, v.34, n.3, 2004.
14. SAS INSTITUTE. SAS user's guide: statistical analysis system, Release 8.0. Cary, NC, 2000. 544 p.
15. SILVA, D.J., QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3. ed.Viçosa: MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002. 165 p.
16. SOBESTIANSKY, J. Sistema Intensivo de Produção de Suínos. Programa de Biossegurança. Goiânia: Pfizer, 2002.
17. SQUIRE, J.M.; ZHU, C.L.; JEAUROND, E.A.; LANGE, C.F.M. Condensed corn distillers’ solubles in swine liquid feeding: growth performance and carcass quality. Journal of Animal Science, v.83, p.165, 2005.
21
CAPÍTULO 3 – ADIÇÃO DE ÁGUA EM RAÇÕES PARA SUÍNOS EM
TERMINAÇÃO
RESUMO
Para avaliar os efeitos da adição de água em rações fareladas sobre a
digestibilidade de nutrientes e energia, o desempenho, a ingestão de água, a
qualidade dos dejetos e as características de carcaça, em suínos na fase de
terminação, foram utilizados doze suínos machos, castrados, híbridos
comerciais, com peso inicial de 64,0 ± 4,8 kg, para o um ensaio de
digestibilidade, distribuídos em delineamento em blocos ao acaso, com base no
peso dos animais. Dezoito suínos machos, castrados, híbridos comerciais e
dezoito fêmeas, híbridas comerciais, com peso inicial de 60,0 ± 3,6 kg, foram
utilizados no ensaio de desempenho, distribuídos em delineamento
inteiramente casualizado. Formulou-se uma ração para atender às exigências
dos animais, a qual consistiu no tratamento I. O tratamento II e III consistiram
da mesma ração, com a adição de igual proporção e com o dobro de água,
respectivamente, utilizando como unidade o quilograma. Não houve diferença
estatística entre os tratamentos para os coeficientes de digestibilidade aparente
da matéria seca, energia bruta, extrato etéreo, cálcio e fósforo, para as
variáveis de desempenho, umidade, nitrogênio e fósforo fecal e características
de carcaça. A redução da ingestão de água de bebida de animais que recebem
dieta líquida é de 27,97 %. A adição de água em rações de suínos na fase de
terminação não influencia a digestibilidade aparente dos nutrientes da dieta,
nem o desempenho dos animais, quando o arraçoamento é realizado duas
vezes ao dia. Além disso, não influencia na composição da carcaça, porém
diminui a ingestão de água de bebida, levando a um menor desperdício quando
os animais vão ao bebedouro e reduz a excreção de fósforo, podendo refletir,
de forma positiva, no volume e no poder poluente dos dejetos.
Palavras-chave: Água, dejetos, desempenho, ração
22
CHAPTER 3 – ADDITION OF WATER IN RATIONS FOR PIGS IN FINISHING
PHASE
ABSTRACT
To evaluate the effects of adding water to mash rations on nutrients and energy
digestibility , water intake, excrement quality and carcass traits in pigs at the
finishing phase, twelve commercial hybrid barrows with an initial weight of 64.0
± 4.8 kg were used for the digestibility trial, and distributed into randomized
blocks, based on the animals´ weight. Eighteen barrows and eighteen hybrid
females, with an initial weight of 60.0 ± 3.6 kg, were used for the performance
test, and distributed into a completely random design. Treatment one consisted
of a diet formulated to meet the animals´ requirement. Treatments two and
three consisted of the same diet with the addition of the same proportion of
water and with the addition of the double of water, respectively, and the
proportional unit used was kg. There was no statistical difference among
treatments for the coefficients of apparent dry matter digestibility, gross energy,
ether extract, calcium and phosphorus, and for the variables of performance,
moisture, fecal nitrogen and phosphorus and carcass characteristics. There was
a reduction of 27.97%of fresh water intake for animals receiving liquid diet .
The addition of water to the diet of pigs at the finishing phase does not influence
apparent nutrient digestibility, or animal performance when they are fed twice
a day. Moreover, it does not influence the carcass composition, but decreases
the fresh water intake, lessening the waste when the animals go to water
cooler, and it reduces phosphorus excretion, reflecting positively on the volume
and polluting power of the excrements.
Keywords: Feed, performance, waste, water
23
1 INTRODUÇÃO
A nutrição é um dos pilares que sustenta a produção de suínos, seja por
garantir produto final de boa qualidade, seja por desempenhar importante papel
no controle da poluição ambiental proveniente da redução dos nutrientes nos
dejetos. Além disso, por se tratar de um item de grande impacto no custo da
produção, várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de
minimizar os custos representados com a alimentação dos animais, visando
melhorar a viabilidade econômica final.
Nesse sentido, tem-se a alternativa do sistema de alimentação líquida,
que, de acordo com PENZ JÚNIOR & LÜDKE (1996), é caracterizado pela
diluição de ingredientes sólidos em componentes líquidos, como a água, o soro
de leite e os resíduos tanto da indústria do álcool de cereais quanto da indústria
de cervejaria, da industrialização da soja, da cana ou de outros alimentos.
Várias vantagens são atribuídas a esse sistema, como uma alternativa
para a elevação do consumo de ração em períodos quentes, melhorando o
desempenho, a diminuição do desperdício de ração pela redução do pó com
reflexos positivos na conversão alimentar e no conforto animal (BERTOL &
BRITO, 1995; JENSEN & MIKKELSEN, 1998). Destacam-se, também, a
redução dos custos com a alimentação com o emprego de subprodutos da
indústria de transformação de alimentos, promoção de condições mais
apropriadas, por conta de uma melhor solubilização, para o uso de probióticos
e/ou a ação das enzimas nas dietas. Além da possibilidade de diminuição da
poluição ambiental causada pelos suínos, uma vez que esse sistema inclui a
utilização mais adequada dos nutrientes pelos animais, reduzindo o volume de
dejetos (PENZ JÚNIOR. & LÜDKE, 1996; BROOKS et al., 2003).
BEAL et al. (2002) e FARZAN et al. (2006) citam que esse tipo de
alimentação reduz a prevalência de Salmonella sp. no trato gastrintestinal dos
animais por ocasião da redução do pH do trato gastrointestinal, minimizando os
riscos de salmonelose, estendendo vantagens à aspectos sanitários.
Outro fator de importância sobre o fornecimento de dietas líquidas para
suínos se refere à melhor qualidade da carcaça que os animais podem vir a
produzir, o que está diretamente relacionado a condições de estresse. De
acordo com NOGUEIRA et al. (2001), o calor é um agente estressor para
24
suínos, porque provoca maior síntese e secreção de esteroides e
corticosteroides que afetam o estado imunitário, resultando em menor
resistência às infecções e aumentando o catabolismo. Além disso, interfere na
síntese e composição de tecidos, exercendo influência na qualidade da
carcaça. Nesse sentido, o fornecimento de dietas líquidas pode melhorar a
qualidade da carcaça, por reduzir a sensação de calor e pelo fato de a água
estar associada ao mecanismo de termorregulação.
O emprego de alimentação líquida ainda depende de estudos para
confirmar a sua viabilidade. Daí a necessidade do conhecimento da cinética
dos nutrientes de uma ração seca umedecida com a água, uma vez que de
posse desse saber, o pesquisador terá à sua disposição subsídios reais sobre
a digestibilidade dos nutrientes de uma dieta líquida em que o diluente possa
constituir uma fonte energética, proteica, mineral ou vitamínica.
Este trabalho foi realizado com o objetivo de se avaliar os efeitos da
adição de água em rações fareladas sobre a digestibilidade de nutrientes e
energia, o desempenho, a ingestão de água, a qualidade dos dejetos e as
características de carcaça em suínos na fase de terminação.
25
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Local e período
Realizaram-se dois experimentos com suínos na fase de terminação, um
de digestibilidade e outro de desempenho, desenvolvidos no Setor de
Suinocultura e as análises laboratoriais Laboratório de Nutrição Animal do
Departamento de Produção Animal da Escola de Veterinária da Universidade
Federal de Goiás, nos meses de Janeiro e Fevereiro do ano de 2009.
2.2 Ensaio de metabolismo
Utilizaram-se doze suínos, machos, castrados híbridos comerciais, com
peso inicial de 64,0 ± 4,8 kg, distribuídos em delineamento em blocos ao
acaso, com base no peso dos animais, com três tratamentos (níveis de água
adicionados na ração) e quatro repetições, totalizando doze unidades
experimentais. As unidades experimentais consistiram de um animal alojado
em gaiola metabólica do tipo PEKAS (1968), posicionadas em galpão de
alvenaria com cortinas e forro isotérmico.
Formulou-se uma ração farelada para atender às exigências dos animais,
conforme a categoria e de acordo com ROSTAGNO et al. (2005) e EMBRAPA
(1991), a qual consistiu no tratamento I. Os tratamentos II e III consistiram
dessa mesma ração, com a adição de água na mesma proporção e com o
dobro de água, respectivamente. A unidade utilizada foi o quilograma. A
composição centesimal, nutricional, e a energia da ração estão apresentadas
na Tabela 1.
26
TABELA 1 - Composição centesimal e conteúdo nutricional da ração
Ingrediente Composição centesimal (%)
Milho 79,99
Farelo de soja 17,42
Suplemento mineral e vitamínico1 0,30
L – lisina HCL 0,11
Calcário 0,39
Fosfato bicálcico 1,09
Sal comum 0,35
Óleo vegetal 0,35
Total 100,00
Conteúdo nutricional calculado2
Energia metabolizável (kcal/kg) 3.250,00
Proteína bruta (%) 14,50
Lisina (%) 0,679
Metionina (%) 0,211
Cálcio (%) 0,484
Fósforo disponível (%) 0,248
Sódio (%) 0,160 1Quantidades por quilograma do produto: vitamina A 840.000 UI; vitamina D3 180.000 UI; vitamina E 3.300 mg; vitamina K3 240,00 mg; vitamina B1 135 mg; vitamina B2 660 mg; vitamina B6 135 mg; vitamina B12 2.700 mcg; niacina 4.200 mg; ácido fólico 75 mg; ácido pantotênico 2.100 mg; manganês 4.500 mg; zinco 24.000 mg; ferro 16.250 mg; cobre 2.394 mg; iodo 90 mg; selênio 90 mg; antioxidante 235,87 mg; promotor de crescimento 30.316 mg; monóxido de manganês 27.000 mg; óxido de zinco 144.000 mg; sulfato de cobre 14.400 mg; sulfato de ferro 99.000 mg; iodato de cálcio 540 mg de iodo; 2base na matéria seca.
O experimento teve duração de quinze dias, sendo oito dias destinados à
adaptação dos animais às gaiolas e às dietas experimentais, e sete destinados
ao período de coleta das fezes e de urina.
Em todo o período experimental, realizou-se o arraçoamento duas vezes
por dia, às sete horas, pela manhã, e às 17 horas, no período da tarde. O
fornecimento de ração durante o período de coleta de material foi definido nos
oito dias iniciais do experimento e tomou por base o peso metabólico individual
de cada animal (kg0,75). Adicionava-se água à ração para cada refeição,
27
respeitando-se a proporção nos tratamentos II e III, com posterior
homogeneização e fornecimento aos animais, fornecendo-se água de bebida à
vontade imediatamente após o consumo do alimento. No entanto, esta era
pesada, para cálculo de consumo de água de bebida. As quantidades de ração
e de água fornecidos foram sistematicamente registradas em fichas de controle
individual.
Procedeu-se a coleta total das fezes diariamente, as quais eram retiradas,
pesadas, ensacadas, registradas e armazenadas em sacos plásticos
identificados e congeladas. Coletava-se a urina diariamente em recipientes
plásticos com 20 ml de HCl (1:1), para evitar perda de nitrogênio e proliferação
bacteriana. As amostras eram então pesadas, registradas e homogeneizadas,
sendo retirada uma porção de 200 mL, para armazenamento sob
congelamento. Após o período de coleta, as fezes foram descongeladas,
homogeneizadas, retirando-se uma porção de 20 % para secagem a 55 °C em
estufa de ventilação forçada por 72 horas. Procedeu-se ao descongelamento
da urina e sua homogeneização, filtragem e acondicionamento sob
refrigeração.
Realizaram-se as análises laboratoriais de cálcio e de fósforo da ração e
das fezes, bem como da matéria seca, do nitrogênio, e da energia da ração,
fezes e urina segundo recomendações de SILVA & QUEIROZ (2002).
As quantidades de alimento fornecido, fezes e urina excretados, além dos
valores das análises laboratoriais, foram utilizados nos cálculos dos
coeficientes de digestibilidade e de metabolização dos nutrientes e da energia
descritos por SAKOMURA & ROSTAGNO (2007) e de acordo com a seguinte
fórmula: CDA = [(NI – NF) / NI] x 100; onde: CDA é o coeficiente de
digestibilidade aparente, NI é o nutriente ou energia ingeridos e NF é o
nutriente ou energia fecais. As variáveis utilizadas para avaliar a qualidade dos
dejetos foram os teores de umidade das fezes, de nitrogênio total e de fósforo
presente nas fezes dos animais.
2.3 Ensaio de desempenho
Utilizaram-se dezoito suínos, machos, castrados, híbridos comerciais, e
dezoito fêmeas, híbridas comerciais, com peso inicial de 60 ± 3,6 kg,
28
distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos
(similares ao do ensaio de metabolismo - níveis de água adicionados na ração)
e seis repetições, totalizando 18 unidades experimentais.
As unidades experimentais consistiram de um animal macho e uma
fêmea, alojados em baia com piso compacto e sob cobertura, dotadas de
comedouro de alvenaria e bebedouro do tipo chupeta.
Instalaram-se no galpão termo-higrômetros de mínima e máxima, para
aferição da temperatura e da umidade interna do galpão, uma vez ao dia,
durante todo o período experimental. O sensor de captação de umidade e
temperatura foi nivelado à mesma altura dos animais em estação.
Procedeu-se ao arraçoamento duas vezes ao dia, às sete e às 17 horas,
fornecendo-se sempre quantidades suficientes para saciar os animais,
tomando-se por base as sobras nos comedouros. A ração para cada unidade
experimental era pesada em recipientes plásticos, adicionava-se água, sempre
respeitando-se a proporção nos tratamentos II e III, com posterior
homogeneização e fornecimento aos animais. Foi aplicado um programa de
biossegurança, baseado em limpeza, desinfecção, vazio sanitário e imunização
dos animais, segundo recomendações de SOBESTIANSKY (2002). As sobras
das rações umedecidas foram desidratadas em estufa de circulação forçada a
55 °C por 72 horas, para definir a quantidade de ração seca não consumida
pelos animais.
As variáveis avaliadas no experimento foram o consumo de ração, obtido
pela soma da oferta diária de ração diminuído das sobras, o ganho de peso,
obtido pela pesagem dos animais a cada quinze dias, e a conversão alimentar,
por meio da relação consumo de ração e ganho de peso.
O término do experimento ocorreu quando a média do peso dos animais
de cada unidade experimental atingiu a faixa dos 100 kg de peso vivo, ocasião
em que os animais foram abatidos para avaliação de carcaça quanto as
variáveis de rendimento de carcaça, comprimento de carcaça e espessura de
toucinho, seguindo recomendações de BRIDI & SILVA (2006) e ABCS (1973).
Os resultados de digestibilidade, de ingestão de água de bebida, de
qualidade dos dejetos e de desempenho foram submetidos à análise de
variância para a comparação de médias, pelo teste Student Newman Keuls
(SNK) (SAS, 2000).
29
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A temperatura e a umidade mínima e máxima durante o ensaio de
metabolismo e de desempenho foram, respectivamente, de 22,3 ± 0,6 °C e
31,1 ± 1,1 °C, 59,9 ± 5,4 % e 93,1 ± 2,9 %, 22,1 ± 0,8 °C e 30,6 ± 0,7 °C, 58,0 ±
3,3 % e 93,2 ± 3,1 %. Segundo SAMPAIO et al. (2004), a zona de conforto
térmico de animais na fase de terminação está compreendida entre 12 e 18 ºC,
faixa de temperatura ambiente aquém dos intervalos de temperatura
observados durante a pesquisa, intervalos, esses, que podem provocar nos
animais estresse calórico.
As médias dos coeficientes de digestibilidade dos nutrientes e da energia
dos tratamentos para suínos na fase de terminação estão apresentadas na
Tabela 2.
Constatou-se que a adição de água nas proporções testadas não
interferiu (p > 0,05) nas variáveis do ensaio de metabolismo. Na literatura
relatos a respeito da digestibilidade de nutrientes de dietas liquidas em suínos
na fase de terminação são ainda bastante escassos. O fato de não ter havido
efeito da adição de água nas rações para leitões, nesta fase, sobre a
digestibilidade de nutrientes e da energia, pode estar relacionado à dieta
servida aos animais, que é do tipo não fermentada. Segundo CANIBE &
JENSEN (2003), a alimentação líquida não fermentada é a ração misturada
com ingredientes líquidos imediatamente antes do fornecimento para o animal,
e a fermentada é uma mistura de alimento seco com líquido armazenada em
ambiente controlado por determinado período antes do fornecimento para o
animal. De acordo com LAWLOR et al. (2002), o efeito da fermentação leve da
dieta é benéfico ao animal, por promover o equilíbrio entre o pH da dieta e do
ambiente intestinal, em função dos altos níveis de bactérias lácticas, leveduras
e ácido láctico produzidos. Os autores ralaram ainda que como as dietas
experimentais são do tipo não fermentada, elas não proporcionaram ambiente
ótimo para a ação de enzimas pancreáticas e intestinais, além de não terem
diminuído os níveis de enterobactérias, minimizando os efeitos de competição.
30
TABELA 2 – Coeficientes de digestibilidade da matéria seca, proteína bruta,
energia bruta, extrato etéreo, coeficiente de metabolizabilidade
da energia bruta, coeficiente de disponibilidade do cálcio e do
fósforo de rações contendo diferentes níveis de água
adicionados em suínos na fase de terminação
Variável1 % Tratamentos
Significância2 CV
% I II III
Matéria seca 90,08 90,62 90,83 0,6153 2,54
Proteína bruta 87,25 89,53 89,47 0,5630 3,98
Energia bruta 88,55 90,62 88,95 0,3377 2,59
Energia bruta3 87,05 89,68 87,89 0,3884 2,62
Extrato etéreo 83,60 86,75 83,78 0,5350 6,72
Cálcio4 70,16 74,61 71,77 0,8949 7,03
Fósforo4 68,70 68,42 70,47 0,8782 10,33 1Base na matéria seca; 2não houve diferença estatística significativa (p > 0,05); 3coeficiente de metabolizabilidade; 4coeficiente de disponibilidade
As médias dos valores de nitrogênio retido, da energia digestível e da
energia metabolizável dos tratamentos em suínos em terminação estão
apresentadas na Tabela 3. Embora não tenha havido diferença estatística entre
os tratamentos pode-se observar que os valores absolutos do tratamento I são
inferiores quando comparados aos valores em que houve a adição de água na
ração. De acordo com os resultados, com a adição de água nas rações, os
suínos reteram 3,8 g a mais de nitrogênio por dia no organismo do animal,
representando um acréscimo diário de 10,8 %. Isso também ocorre para as
energias digestível e metabolizável, em que houve um acréscimo de até 100 e
116 kcal/kg, respectivamente, nas rações umedecidas quando comparadas
com a ração farelada.
31
TABELA 3 – Nitrogênio retido, energia digestível e energia metabolizável de
rações contendo diferentes níveis de água adicionados em suínos
na fase de terminação
Variável1 Tratamentos
Significância2 CV % I II III
Nitrogênio retido (g/dia) 31,24 35,04 33,10 0,3358 9,99
Energia digestível (kcal/kg) 3897 3997 3923 0,4138 2,59
Energia metabolizável (kcal/kg) 3839 3955 3876 0,2272 2,19 1Base na matéria seca; 2não houve diferença estatística significativa (p > 0,05)
As variáveis de água ingerida de bebida e da qualidade dos dejetos de
suínos na fase de terminação, alimentados com diferentes conteúdos de água
adicionados à ração estão apresentadas na Tabela 4.
Observou-se diferença estatística para a variável de água ingerida de
bebida, levando a crer que animais que recebem dieta líquida reduzem a
ingestão de água de bebida em até 0,87 kg, quando comparados com animais
do tratamento I. Essa redução de 27,97 %, certamente, está relacionada ao
fato de parte da exigência diária de água, ser suprida pela água adicionada às
dietas, levando o animal a freqüentar menos o bebedouro, o que pode ser
considerado vantajoso para o sistema de alimentação líquida. MURPHY &
LANGE (2004) relatam que, com o uso da alimentação líquida, os animais, por
receberem parte de suas exigências da água adicionada à ração, tendem a
reduzir o consumo de água pelos bebedouros, diminuindo o desperdício no
momento da ingestão, com reflexos na redução do volume dos dejetos.
Observou-se uma tendência de redução dos teores de nitrogênio fecal
dos animais que receberam os tratamentos hidratados. Esta redução chega a
1,25 g por dia, representando em torno de 20,83 %. Este resultado, certamente
está relacionado ao melhor aproveitamento da proteína bruta por parte dos
animais que consumiram as rações líquidas, levando a crer que houve efeito
positivo na hidratação das rações.
32
TABELA 4 – Água ingerida de bebida, umidade das fezes, nitrogênio fecal,
cálcio fecal e fósforo fecal em suínos na fase de terminação em
função de rações contendo diferentes níveis de água adicionados
em suínos na fase de terminação
Variável1 Tratamentos
Significância2 CV % I II III
Água de bebida (kg / kg
de matéria seca
ingerida)
3,11a 3,31a 2,24b 0,0474 14,47
Umidade das fezes (%) 64,88 62,22 63,79 0,3876 2,68
Nitrogênio fecal (g / dia) 6,00 5,50 4,75 0,4821 25,56
Fósforo fecal (g / dia) 4,78 5,10 5,16 0,6950 13,12 1Base na matéria seca; 2médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste SNK (p > 0,05)
As variáveis de desempenho de suínos na fase de terminação
alimentados com diferentes conteúdos de água adicionados à ração estão
apresentadas na Tabela 5.
Não se constatou diferença estatística significativa entre os tratamentos.
Os resultados encontrados não estão de acordo com os valores relatados por
NIVEN et al. (2006) que trabalharam com alimentação líquida para suínos na
fase de terminação, utilizando como diluente água extraída do milho por
maceração (em torno de 2.293 g, 899 g e 2,55, respectivamente, para consumo
de ração, ganho de peso e conversão alimentar). Esses resultados certamente
estão relacionados ao fato de ter sido utilizada como diluente, a água extraída
do milho por maceração, que é mais nutritiva, quando comparada com água de
bebida.
33
TABELA 5 – Desempenho de suínos na fase de terminação alimentados com
rações contendo diferentes níveis de água adicionados
Variável1 Tratamentos
Significância2 CV % I II III
Consumo de ração (g / dia) 3075 3052 3081 0,9877 9,63
Ganho de peso (g / dia) 999 1067 1001 0,5775 11,17
Conversão alimentar 3,07 2,89 3,09 0,4931 9,25 1Base na matéria seca; 2Não houve diferença estatística significativa (p > 0,05)
Constatou-se, na ocasião do experimento, que após a oferta de ração os
animais consumiam praticamente a totalidade do que foi oferecido num período
inferior a trinta minutos. Isso, provavelmente, aumentou os movimentos
peristálticos, acarretando alta na taxa de passagem do alimento, o que
desfavoreceu um melhor aproveitamento dos nutrientes das dietas
umedecidas.
NOGUEIRA et al. (2001) citam que o efeito da hidratação gera condições
mais adequadas ao processo de digestão do suíno, principalmente quando há
tempo suficiente para que o processo se desenvolva de forma efetiva. Isso
porque cada ingrediente tem cinética de hidratação específica, o que não
ocorreu no experimento, pois o arraçoamento era realizado, imediatamente
após a mistura da água à ração farelada, fato que pode ter influenciado os
resultados encontrados.
Não foi observada diferença estatística para as variáveis de rendimento
de carcaça, comprimento de carcaça e espessura de toucinho em função da
água adicionada às dietas (Tabela 6), de modo que os valores para a variável
rendimento de carcaça estão em concordância com os relatados por NIVEN et
al. (2006).
34
TABELA 6 – Rendimento de carcaça, comprimento de carcaça e espessura de
toucinho de suínos na fase de terminação, alimentados com
rações contendo diferentes níveis de água adicionados
Variável Tratamentos
Significância1 CV % I II III
Rendimento de Carcaça (%) 77,45 75,44 75,65 0,3752 3,47
Comprimento de carcaça (cm) 97,67 93,00 96,67 0,2021 3,79
Espessura de toucinho 12 (cm) 4,25 4,21 3,78 0,2657 12,88
Espessura de toucinho 23 (cm) 2,59 2,93 2,31 0,3611 27,72
Espessura de toucinho 34 (cm) 2,58 2,50 2,20 0,6803 32,35
Espessura de toucinho médio 3,14 3,21 2,76 0,3772 18,88 1Não houve diferença estatística significativa (p > 0,05); 1altura da primeira
costela; 2altura da última costela; 3altura da última vértebra lombar.
35
4 CONCLUSÕES
A adição de água em rações de suínos na fase de terminação não
influenca a digestibilidade aparente dos nutrientes da dieta, nem o
desempenho dos animas, quando o arraçoamento é realizado duas vezes ao
dia. Além disso, não influencia na composição da carcaça, porém, diminui a
ingestão de água de bebida, levando a um menor desperdício quando os
animais vão ao bebedouro e reduz a excreção de nitrogênio, podendo refletir,
de forma positiva, no menor volume excretado e no poder poluente dos dejetos.
36
REFERÊNCIAS
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37
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16. ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T..; DONZELE, J.L.; GOMES, P.C.; OLIVEIRA, R.F.; LOPES, D.C.; FERREIRA, A.S.;BARRETO, S.L.T. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa: UFV - DZO, 2005. 186 p.
17. SAKOMURA, N.K.; ROSTAGNO, H.S. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos. Jaboticabal: Funep, 2007, 283p.
18. SAMPAIO, C.A.P.; CRISTANI, J.; DUBIELA, J.A.; BOFF, C.E.; OLIVEIRA, M.A. Avaliação do ambiente térmico em instalação para crescimento e terminação de suínos utilizando os índices de conforto térmico nas condições tropicais. Ciência Rural, v.34, n.3, 2004.
19. SAS INSTITUTE. SAS user's guide: statistical analysis system, Release 8.0. Cary, NC, 2000. 544 p.
20. SILVA, D.J., QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3. ed.Viçosa: MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002. 165 p.
21. SOBESTIANSKY, J. Sistema Intensivo de Produção de Suínos. Programa de Biossegurança. Goiânia: Pfizer, 2002.
38
CAPÍTULO 4 – PROLIFERAÇÃO DE FUNGOS EM RAÇÕES COM NÍVEIS
CRESCENTES DE ADIÇÃO DE ÁGUA PARA SUÍNOS
RESUMO
Com o objetivo de avaliar a proliferação de fungos em dietas de suínos na fase
de terminação com diferentes níveis de adição de água no momento da
diluição, doze, vinte e quatro e trinta e seis horas após, formulou-se duas
rações, uma sem e outra com antifúngico para formar seis tratamentos, dos
quais o I, II e o III referem-se à ração sem o antifúngico, seca, com a adição de
igual e do dobro de adição de água, respectivamente, e o IV, V e o VI, à ração
com o antifúngico, seca, com a adição de igual e do dobro de adição de água,
respectivamente. Realizaram-se amostragens nos tempos descritos para o
plaqueamento das amostras em meio Ágar Dicloran Rosa de Bengala
Clorafenicol, as quais foram acondicionadas em estufa esterilizada à
temperatura ambiente, e após 72 horas de incubação procedeu-se a contagem
das colônias fúngicas, sendo a variável em análise. O número de colônias
fúngicas aumentou de forma linear com o passar do tempo de armazenamento
nas rações sem antifúngicos. A presença de antifúngico nas dietas hidratadas
limitou e diminuiu de forma linear a proliferação de fungos com o decorrer do
tempo de armazenagem. A adição de água nas dietas de suínos na fase de
terminação aumenta a produção de fungos. Com o passar do tempo de
armazenamento há um aumento da produção dos fungos, havendo a
necessidade da adição antifúngicos nas rações para suínos na fase de
terminação.
Palavras-chave: antifúngico, contaminação, fase de terminação
39
CHAPTER 4 – PROLIFERATION OF FUNGI IN DIETS WITH INCREASING
LEVELS ADDITION OF WATER FOR PIGS
ABSTRACT
In order to assess the proliferation of fungi in diets of pigs at the finishing phase
with different levels of water addition two diets were formulated, one with and
one without antifungal. In treatments I, II and III consisted of dry ration, ration
with the same proportion of water, and ration with the double of water,
respectively, there was no antifungal addition. To treatments IV, V and VI, which
consisted of dry ration, ration with the same proportion of water, and ration with
the double of water, respectively, , antifungal was added. Sampling was carried
out at 12, 24 and 36 hours for the samples plating on mycological Dichloran
Rose Bengal chloramphenicol agar. Samples were placed in sterile hothouses
at room temperature. After 72 hours of incubation, the counting of fungal
colonies was performed. The number of fungal colonies increased linearly over
storage time in the diets without antifungal agents. The presence of antifungal in
hydrated diets limited and decreased linearly the growth of fungi over storage
time. The addition of water to the diets of pigs at the finishing phase increases
the production of fungi. Over storage time the production of fungi is increased;
therefore, the addition of antifungal to diets for pigs at finishing phase is
necessary.
Key Words: antifungal, contamination, finishing phase
40
1 INTRODUÇÃO
O sistema de alimentação líquida, de acordo com PENZ JÚNIOR &
LÜDKE (1996), é caracterizado pela diluição de ingredientes sólidos em
componentes líquidos como a água, o soro de leite, resíduos tanto da indústria
do álcool de cereais quanto da indústria de cervejaria, além da industrialização
da soja, da cana ou de outros alimentos. Os benefícios desse sistema de
alimentação incluem a utilização de subprodutos da indústria de alimentos,
efeitos positivos sobre a microbiota gastrintestinal do animal, uma alternativa
para se elevar o consumo de ração em períodos quentes melhorando o
desempenho, diminuição do desperdício de ração pela redução do pó com
reflexos na conversão alimentar e conforto animal (BERTOL & BRITO, 1995;
JENSEN & MIKKELSEN, 1998)
O uso da alimentação líquida no Brasil ainda não é muito utilizado, e
alguns fatores contribuem tais como o custo elevado dos equipamentos, o
ajuste das exigências nutricionais com o consumo de ração, o que muitas
vezes requer a adoção de sistemas de alimentação restritos, a decantação e
mistura inadequada dos ingredientes devido às diferenças de densidade dos
produtos e, dentre outros, problemas sanitários nos animais relativos à
produção e proliferação de microrganismos.
A esse respeito, SCUDAMORE et al. (1997) citaram que ambientes com
umidade e temperatura elevados propicia o desenvolvimento de fungos, e o
crescimento deste microrganismo reduz o valor nutricional e a digestibilidade
do alimento, além de ocasionar danos diretos à saúde dos animais por conta
de micotoxicose, que pode se apresentar de forma aguda, subaguda ou, mais
comumente, crônica.
O processo de contaminação pelos fungos em sementes e grãos começa
ainda no campo, durante a fase de desenvolvimento e maturação dos grãos.
Os fungos proliferam-se bem em cereais como o amendoim, milho, trigo,
cevada, sorgo e arroz, onde geralmente encontram um substrato altamente
nutritivo para o seu desenvolvimento, de maneira que o processo de
proliferação pode ocorrer também nas etapas de colheita, transporte,
processamento ou armazenamento dos grãos, daí a importância do processo
41
de secagem dos grãos, para reduzir os níveis de contaminação (LAZZARI,
1997; DILKIN, 2002).
Os fungos presentes em sementes armazenadas estão divididos em dois
grupos: de campo e de armazenamento. Dentre os fungos de campo os mais
freqüentes são Fusarium moniliforme, Bipolaris maydis, Cephalosporium spp.,
Curvularia spp., Rhizoctonia spp., entre outros. Em relação aos fungos de
armazenamento, os gêneros mais freqüentes são o Aspergillus spp. e o
Penicillium spp., responsáveis por danos às sementes e grãos de várias
espécies durante o armazenamento (GOULART & FIALHO, 1999; PÁDUA &
VIEIRA, 2001). Ademais, alguns fungos podem produzir metabólitos
secundários denominados de micotoxinas, com potencial de toxicoses ao
homem e aos animais, depois de ingeridos (KAWASHIMA et al., 2002).
Os problemas sanitários por contaminação fúngica em sistemas de
produção de suínos que utilizam a alimentação líquida estão, principalmente,
relacionados aos focos de infecção nos tubos de condução do alimento do
tanque de armazenamento até os comedouros dos animais. Daí a importância
da limpeza adequada não só na tubulação como em todos os equipamentos
envolvidos no processo. NOGUEIRA et al. (2001) citaram que a utilização de
dietas líquidas exigem dois fatores importantes: mecanização e automatização
da distribuição do alimento, para economizar mão de obra e aperfeiçoar o
arraçoamento. Portanto, existe a necessidade de rigor na execução da limpeza
e desinfecção das instalações e equipamentos da dieta líquida, devido o alto
risco de fermentação e putrefação de restos alimentares que ficam nas
instalações e nos equipamentos.
Em razão das restritas informações a respeito da contaminação por
fungos em rações líquidas de suínos, objetivou-se com esse estudo avaliar a
proliferação de bolores e leveduras em dietas de suínos na fase de terminação
com e sem antifúngicos, com diferentes níveis de adição de água e em
diferentes tempos de armazenagem.
42
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Local e período
O experimento foi desenvolvido no Setor de Suinocultura e no Laboratório
de Microbiologia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás,
no mês de Março de 2008.
2.2 Procedimento Técnico
Formulou-se duas rações para atender às exigências de suínos na fase
de terminação de acordo com ROSTAGNO et al. (2005) e EMBRAPA (1991),
uma sem antifúngico (1) e outra com antifúngico (2), apresentadas na Tabela 1.
43
TABELA 1 - Composição centesimal e conteúdo nutricional das rações
Ingrediente Composição centesimal (%)
Sem antifúngico Com antifúngico
Milho 72,01 72,01
Farelo de soja 23,98 23,98
Suplemento mineral e vitamínico1 0,30 0,30
L – lisina HCl 0,20 0,20
BL – Metionina 0,03 0,03
Calcário 0,40 0,40
Fosfato bicálcico 1,64 1,64
Sal comum 0,41 0,41
Óleo vegetal 0,73 0,73
Antifúngico2 - 0,20
Inerte 0,30 0,10
Total 100,00 100,00
Conteúdo nutricional calculado3
Energia metabolizável (kcal/kg) 3230 3230
Proteína bruta (%) 16,82 16,82
Lisina (%) 0,89 0,89
Metionina (%) 0,27 0,27
Cálcio (%) 0,63 0,63
Fósforo disponível (%) 0,33 0,33
Sódio (%) 0,18 0,18 1Quantidades por quilograma do produto: vitamina A 840.000 UI; vitamina D3 180.000 UI; vitamina E 3.300 mg; vitamina K3 240,00 mg; vitamina B1 135 mg; vitamina B2 660 mg; vitamina B6 135 mg; vitamina B12 2.700 mcg; niacina 4.200 mg; ácido fólico 75 mg; ácido pantotênico 2.100 mg; manganês 4.500 mg; zinco 24.000 mg; ferro 16.250 mg; cobre 2.394 mg; iodo 90 mg; selênio 90 mg; antioxidante 235,87 mg; promotor de crescimento 30.316 mg; monóxido de manganês 27.000 mg; óxido de zinco 144.000 mg; sulfato de cobre 14.400 mg; sulfato de ferro 99.000 mg; iodato de cálcio 540 mg de iodo; 2base de propionato de cálcio 98 %; 3base na matéria seca.
44
Reservaram-se dois quilogramas de cada ração em doze baldes plásticos
com tampa. Destinaram-se dois baldes para ração seca, dois para ração com a
adição de igual proporção de água e dois com a adição do dobro de água,
totalizando seis tratamentos com duas repetições para cada um, perfazendo
um total de doze unidades experimentais. Os tratamentos I, II e III, referem-se
à ração sem o antifúngico seca, com a adição de igual e do dobro em
proporção de água, respectivamente e os tratamentos IV, V e VI, referem-se à
ração com o antifúngico seca, com a adição de igual e do dobro em proporção
de água, respectivamente.
Para todos os tratamentos foram realizadas amostragem no momento da
mistura da água com ração, 12, 24 e 36 horas, de modo que as amostras foram
acondicionadas em sacos plásticos identificados e levadas imediatamente ao
laboratório, onde permaneceram até o processamento.
Para o plaqueamento das amostras em superfície adotou-se o
procedimento descrito em BRASIL (2003) com modificações, utilizando-se 25 g
de cada amostra diluída em 225 mL de solução salina peptonada a 1 %
(diluição 1:10), com posterior diluição 1:1000. De cada uma das diluições,
semeou-se alíquotas de 0,1 mL em placas de Petri, contendo o meio de cultura
Ágar Dicloran Rosa de Bengala Cloranfenicol (DRBC), em triplicata. Com o
auxílio da alça de Drigalsky o inoculo foi espalhado cuidadosamente por toda a
superfície do meio. As placas foram acondicionadas em estufa esterilizada à
temperatura ambiente (26 ºC ± 2 °C), e após 72 horas procedeu-se a contagem
das colônias (UFC) dentro do intervalo de precisão e repetibilidade de 10 –
200.
Os resultados foram submetidos à análise de variância para a
comparação de médias, pelo teste Student Newman Keuls e análise de
regressão relacionando os tratamentos com os diferentes tempos de
armazenagem (SAS, 2000).
45
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As unidades formadoras de colônias fúngicas nas rações estudadas estão
apresentadas na Tabela 2, expressas pela média das duas diluições (1:10 e
1:1000).
TABELA 2 – Valores médios, em logaritmo, de UFC / g de ração para suínos
na fase de terminação, sem e com antifúngico, segundo diferentes diluições
com água e em diferentes tempos de armazenamento, e variáveis estatísticos
referentes às rações sem e com antifúngico
Trat Tempo
Média 0 12 24 36
I 2,77a 2,40a 2,21b 3,02ab 2,60
II1 2,42a 3,61a 5,00a 5,63a 4,17
III2 2,50a 2,38a 3,24b 3,71ab 2,96
IV 2,56a 2,68a 2,01b 2,85ab 2,53
V 2,78a 2,23a 3,19b 3,09ab 2,82
VI1 2,71a 2,48a 2,04b 1,78b 2,25
Média 2,62 2,63 2,95 3,35
CV (%) 17,98
Médias seguidas de mesma letra na mesma coluna não diferem estatisticamente (p > 0,01); 1 Efeito Linear (p < 0,01); 2 Efeito Linear (p < 0,07)
Pode-se observar na TABELA 2 a presença de UFC fúngicas em todas as
rações analisadas, independentemente da adição de água e do tempo de
armazenagem. Estes resultados estão de acordo com LAZZARI (1997) e
DILKIN (2002), os quais citaram que a contaminação por fungos na matéria
prima das rações ocorre ainda no campo, bem como durante a armazenagem
dos grãos e por ocasião da mistura dos ingredientes da ração. A esse respeito
PINTO & PASTORE (1995) apontaram uma série de problemas que devem ser
considerados numa fábrica de rações, dentre os quais destacam-se o excesso
de umidade, presença de altos teores de grãos quebrados, ardidos e podres,
presença de sementes de plantas invasoras da cultura e presença de material
estranho e mofado. Assim, se boa parte desses problemas forem minimizados,
46
haverá diminuição do número de fungos nas rações depois de prontas, o que
poderá refletir de forma positiva após a adição da água nas dietas fareladas.
A adição de água nas dietas não influenciou a proliferação de fungos na
ocasião da adição de água às dietas (Tempo 0). Doze horas (Tempo 12) após,
continuou não haver diferença entre os tratamentos, independentemente do
grau de diluição e da presença ou ausência do antifúngico.
Passadas 24 e 36 horas após a adição de água os resultados foram
estatisticamente diferente entre alguns tratamentos. O fato de não ter havido
diferença entre os tratamentos I e IV em todos os tempos de amostragem era
esperado, independentemente da ausência ou presença do antifúngico, em
razão de ambos serem rações secas.
Observou-se no tempo 24 que o tratamento II diferiu dos demais, fato que
pode estar relacionado à ausência do antifúngico e a um ambiente propício
para a multiplicação do microrganismo. No tempo 36 observou-se diferença
estatística entre os tratamentos II e VI, fato que deve estar relacionado a
ausência e presença do antifúngico respectivamente.
Quando relacionou os tratamentos com os diferentes tempos de
armazenagem observou-se efeito linear para os tratamentos II, III e VI. Para os
tratamentos II e III o efeito foi crescente (y=0,0918x+2,512, r² = 0,9799 e
y=0,0374x+2,284, r² = 0,8479, respectivamente), em que as unidades
formadoras de colônias aumentaram com o decorrer do tempo (FIGURAS 1 e
2). Ao contrário do que ocorreu com o tratamento VI, em que o efeito foi
decrescente (y=-0,0269x+2,737, r² = 0,9852), em que as unidades formadoras de
colônias diminuíram com o decorrer das horas (FIGURA 3).
47
FIGURA 1 - UFC fúngicas, em logaritmo, em ração sem antifúngico com igual adição de água, para suínos na fase de terminação, segundo o tempo de armazenamento.
FIGURA 2 - UFC fúngicas, em logaritmo, em ração sem antifúngico com o dobro de adição de, para suínos na fase de terminação, segundo o tempo de armazenamento.
48
FIGURA 3 - UFC fúngicas, em logaritmo, em ração com antifúngico com o dobro de adição de, para suínos na fase de terminação, segundo o tempo de armazenamento.
Os efeitos lineares crescentes nos tratamentos II e III são em razão do
ambiente adequando para a proliferação dos fungos, alta umidade, e da
ausência do antifúngico que não limitou a multiplicação dos microrganismos, o
que não ocorreu nos tratamentos e V e VI, que apesar de conterem as mesmas
proporções de água quando comparados com os tratamentos II e III
(respectivamente), limitou a multiplicação dos fungos e até mesmo reduziu a
população inicial, como pode ser observado no tratamento VI.
GRIGOLETTI (2007) relata, em sua revisão, que em virtude da
necessidade de adquirir nutrientes para sobreviver, os fungos extraem dos
grãos ou rações, principalmente a gordura ou extrato etéreo. Uma vez que esta
porção apresenta níveis elevados de energia, empobrecem o conteúdo
energético dos alimentos. Além deste prejuízo, o autor destacou que a
produção de micotoxinas por parte dos fungos, ocasiona intoxicações nos
animais que a ingerem, e estes podem atingir o homem que consome a carne
contendo estas substâncias. Estas razões sugerem a adição de antifúngicos
nas dietas de suínos, a fim de minimizar a multiplicação dos fungos, com
efeitos positivos tanto para o conteúdo nutricional das rações, como para a
redução das micotoxinas. A exemplo tem-se as ocratoxinas, toxinas
49
nefrotóxicas, produzidas por fungos dos gêneros Aspergillus spp. e Penicillium
spp., descritas como causadoras de problemas com piora do desempenho
produtivo e supressão da resposta imune em suínos (LIPPOLD et al., 1992 e
HARVEY et al., 1992), e a zearalenona, produzidas por fungos do gênero
Fusarium spp., responsável pelo hiperestrogenismo em suínos são (LAZZARI,
1997).
Todas as medidas empregadas para diminuir a manifestação fúngica:
como alta umidade (65 a 70%) durante a armazenagem, presença de insetos
nas culturas de grãos, má conservação de grãos, temperatura entre outras,
evitam problemas com micotoxinas e perdas nutricionais nos grãos
(GRIGOLETTI, 2007).
Segundo PENZ JÚNIOR. et al. (1993), a utilização de ácidos orgânicos
parece inibir o desenvolvimento de fungos e potencializar a disponibilidade de
nutrientes de matérias primas e rações. De acordo com SANTURIO (1995), os
ácidos fracos com baixo potencial de ionização são potentes inibidores do
transporte de aminoácidos por parte da célula fúngica, pela ionização interna
do citoplasma e acidificação do conteúdo celular, impedindo a sobrevivência do
microorganismo, controlando a multiplicação destes agentes. KRABBE et al.
(1995) citam experimento realizado com milho armazenado em nível de 14 e
18% de umidade utilizando 0,5% de ácido propiônico, onde foi observado efeito
positivo no controle do desenvolvimento de fungos após 62 dias de
armazenagem, e as testemunhas contaminadas, tiveram redução em seus
níveis de extrato etéreo.
50
4 CONCLUSÕES
A adição de água nas dietas de suínos na fase de terminação aumenta a
produção de fungos. Com o passar do tempo de armazenagem da adição de
água há um aumento da produção dos fungos, havendo, desta forma, a
necessidade da adição de antifúngicos nas rações para suínos na fase de
terminação.
51
REFERÊNCIAS
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52
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17. PINTO, J. H. E.; PSTORE, S. Controle de qualidade matéria prima. In: Simpósio Goiano de Avicultura, 1995, Goiânia. Anais…, Goiânia, 1995, p. 11-22.
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19. SANTURIO, J. M. Antifungicos e adsorventes de aflatoxinas em grãos: Quando usá-los? In: Simpósio Internacional sobre Micotoxinas e Micotoxicoses em aves, 1995, Curitiba. Anais..., Campinas:Facta, 1995, p. 97-108.
20. SAS INSTITUTE. SAS user's guide: statistical analysis system, Release 8.0. Cary, NC, 2000. 544 p.
21. SCUDAMORE, K.A.; HETMANSKI, M.T.; NAWAZ, S.; Naylor, J.; RAINBIRD, S. Determination of mycotoxins in pet foods sold for domestic pets and wild birds using linked-column immunoassay clean-up and HPLC. Food Addit. Contam., 14 (2), 175-186, 1997.
53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alguns dos resultados obtidos nos três experimentos estão de acordo
com as informações da literatura pesquisada. No entanto, outras respostas
encontradas não condizem com o que já foi publicado.
Em relação ao primeiro e segundo experimentos, o fato dos animais
consumirem praticamente a totalidade do que foi oferecido em um curto,
provavelmente comprometeu os resultados de desempenho, pelo aumento dos
movimentos peristálticos, acarretando alta na taxa de passagem do alimento, o
que desfavoreceu um melhor aproveitamento dos nutrientes das dietas
umedecidas.
A respeito disto, em granjas comerciais que utilizam o sistema
automatizado de alimentação líquida para suínos, a frequência diária de
arraçoamento é de até oito vezes e em porções menores, permitindo melhor
aproveitamento dos nutrientes por parte dos animais.
Para pesquisas futuras, sugere-se o aumento na freqüência diária do
arraçoamento animal, podendo refletir em melhores índices de desempenho e
responder a informações descritas na literatura. Sugere-se também que o
consumo de bebida da água seja avaliado nos ensaios de desempenho, em
razão dos animais consumirem ração à vontade, o que não ocorre nos ensaios
de digestibilidade, onde os animais recebem ração com base no peso
metabólico.
Em relação ao terceiro experimento sugere-se a realização das
amostragens dentro das primeiras 12 horas após a adição da água nas rações,
pelo fato de em granjas comerciais as dietas sempre são fornecidas aos
animais em um período inferior a 12 horas pós-adição de água.
Seja para sistemas de produção de suínos pequenos ou grandes, desde
que o arraçoamento seja automatizado, indica-se a aplicação deste tipo de
alimentação pelo fato da redução do desperdício de ração farelada,
possibilidade da utilização de subprodutos industriais como alimento com
conseqüente redução dos custos, principalmente nos períodos de entressafra
de milho e farelo de soja e, finalmente, pela possibilidade da redução do
volume de dejetos.
54
No entanto, a alimentação liquida para suínos em crescimento e
terminação ainda é um processo novo no Brasil e que demanda pesquisa e
ajuste. Seus benefícios em curto prazo com a implantação de sistemas
adaptados a realidade brasileira devem trazer grandes benefícios no futuro, e
com o barateamento dessa tecnologia, seu acesso tende a ser ampliado e seus
benefícios estendidos a um maior número de produtores no país.